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À terra
Também eu quero abrir-te e semear
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Anda tudo a lavrar,
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E são horas de eu pôr a germinar
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Legado
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Poemas de Miguel Torga

  • 1. À terra Também eu quero abrir-te e semear Um grão de poesia no teu seio! Anda tudo a lavrar, A abrir leques de sonho e de centeio, E são horas de eu pôr a germinar A semente dos versos que granjeio. Na seara madura de amanhã, Sem fronteiras nem dono, Há-de existir a praga da milhã, A volúpia do sono Da papoila vermelha e temporã, E o alegre abandono De uma cigarra vã. Mas das asas que agite, O poema que cante Será graça e limite Do pendão que levante A fé que a tua força ressuscite! Casou-nos Deus, o mito! E cada imagem que me vem, É um gomo teu, ou um grito Que eu apenas repito Na melodia que o poema tem. Terra, minha aliada Na criação! Seja funda a vessada, Seja à tona do chão, Nada fecundas, nada, Que eu não fermente também de inspiração. Odes, 1946
  • 2. Coimbra, 15 de Maio de 1944 Legado A quem vier um dia, curioso De conhecer uma novela triste, Contai-lhe a minha história verdadeira. Dizei-lhe onde nasci, onde morri, O que vi, E como só fui carne passageira. Podeis também mostrar-lhe estes meus versos E o caminho do jugo onde passei A cantá-los, rebelde e apaixonado… Mas guardai o segredo do meu pó Onde podre e desfeito vivo só, Da própria consciência abandonado. Diário III, 1946
  • 3. Coimbra, 5 de Março de 1973 Relato Foi longo o meu caminho de poeta, Com versos de agonia demorada. A vida imaginada Paralela À outra, acontecida. E ambas a enfunar a mesma vela Já sem rumo à partida. Os áugures previam, Os mapas ensinavam, A bússola apontava… Mas faltava-me a fé das almas confiadas. Teimoso, repetia A pergunta inquieta que fazia Ao vazio das horas navegadas. Que certa direcção Dar ao timão Numa viagem sem qualquer sentido? O mar diariamente enfurecido, O céu diariamente enevoado, E o barco fatalmente conduzido A um cais de morte sempre adivinhado… Diário XI, 1973