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DEDICATÓRIA
“Miguel, em todo o lado!”
E à minha filha Sara
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Fevereiro 09, 2008
Miguel
És um poema impossível de escrever,
porque és, sempre foste mais que um sentimento grafado,
como caberia o teu olhar num papel.
És, não podemos esquecer,
uma pessoa estimável, com esse grande fundo da simpatia,
que perdurará
para sempre, mais além das limitadas sensações da pele,
estás guardado no nosso infinito interior.
do teu pai
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Agosto 29, 2005
O cavalo tinha tudo para ser verde
O cavalo tinha tudo para ser verde. Preferiu
as águas, fazer um grande castelo com a areia dos seus poemas.
Por fim descansou na beira do caminho. O Sol ao longe tingia-se de vermelho.
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Outubro 12, 2005
Pintassilgo
Já se levanta a manhã, um pintassigo pintassilga
a difusa neblina.
Que melhor segredo para contar aos outros.
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Setembro 19, 2006
Pintura em Auto-retrato
Faria um traço,
uma boca com um fim.
Um silêncio com a dor em aberto.
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Setembro 14, 2005
Senhora das almas
Senhora das almas, vê este barco com cuidado,
tem uma dor profunda, tem a inocência aberta.
Reza como eu, como uma pedra fria.
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Setembro 06, 2005
Olha aquele branco
Olha aquele branco, aquela cor sem vazio,
aquele peixe formidável que engole toda a água.
As nuvens, as chaminés, as casas prometem a serenidade.
Aquele balão subindo pode ser todo o ser.
O rio rindo com os seixos rolando, podem dizer todo o dia.
Olha o deserto saindo da enciclopédia pedindo amor.
Podem as cataratas dizer a voz por detrás?
Toda a gente subindo a calçada querem dizer basta.
Qualquer criança escrevendo poesia num soluço chorando,
procura a mãe.
Eu não posso mais filho. Todo o céu não será demais para nós.
Amo-te.
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Novembro 28, 2006
Adeus Cesariny sem ponto de exclamação
Que diabo chegou o ponto final
daquela Pena Capital,
de existir em pastelaria.
Que se abra a estrada em liberdade
livre se ame amando ar.
A flor na gaveta dos Prazeres.
Se fique guardando
na tropelia do dizer,
a voz soando vibre.
O epitáfio anónimo
do individuo universal.
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Novembro 1, 2006
O mundo perdido de Ísis
Nesta noite quebrada,
um saxofone em solilóquio proclama,
a dor, no beco escuro do coito interrompido.
Cleópatra em cabelo escarlate dói-se,
na espiral da pista de dança,
um mundo perdido na face obscura da lua,
Alexandria, babel de cultura rompe-se
num Tom Waits extrovertido, mãe!
É de néon o falcão que voa albino,
faz-se de grito Ísis na mulher deitada,
na vítima refugiada, na prostituta mais puta,
na dona de casa. Cleópatra,
dança ainda mais louca, enxuta,
desvingada da sua mais louca inconquista,
do macho no seu seio, no mundo
perdido outrora a seus pés,
mais um chuto, na veia,
Ísis não conhece outra presa,
um saxofone fala com ela.
A dor cresce em império
em sexo si maior.
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Setembro 1, 2006
Pão
Olha a fome na tua bica,
no teu comércio do trabalho,
nas promessas de utopia.
Hoje, o teu voto na urna devia ser pão.
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Setembro 22, ,2006
Irei ao Hades
Eu irei ao Hades buscar-te,
preso a mim pela boca,
pelo sonho que me fizeste
parir nos meus passos.
Irei trocar-te pelas minhas palavras,
por essa noite escura,
ficarás cá em nome brilhando,
que é muito mais que as estrelas
que se reflectem nos meus olhos,
por seres mais em saudade,
que o brilho aparente da luz.
Irei ao Hades jurar-te que Zeus
se arrependerá da ambição
de reinar um mundo
onde o teu olhar não verá.
Irei ao Hades resgatar-te
em todos os poemas que foste,
para que Gaia te faça cá em energia tão pura,
e se faça de novo a fresca manhã.
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Setembro 19, 2006
Paris em todo o lado
Paris em todo o lado, em toda a cabeça,
no meu corpo. Não me sai de cá.
Ficou fazendo Folies Bergéres na minha imaginação.
Paris, em todo o lado, roendo a corda da Europa fria,
da megera verdade cristã. Paris rota exacerbando
toda a arte, bebendo todas as palavras do silêncio. E o nada
mortal cavado em Paris em todo o lado.
Em todo o lado Paris! É urgente descongelar o meu ordenado,
fazer promessa na minha felicidade, fazer fé no descalço.
Paris cheia de tão grávida já, em todo lado,
fecundando as ruas desertas, todos os poemas ainda malditos.
Nas livrarias, nos urinóis, nas escolas, nas esperanças espavidas
neste deserto de ideias.
Paris, é preciso que Paris se apresente na tropa, no palácio de Belém, nos
reformatórios,
nas adegas húmidas do vinho do Porto, é preciso que este Paris que está na
minha cabeça passe para outra cabeça,
se faça uma cirurgia estética nos poemas rarefeitos, que se humilhe a
humildade, pois, porque eu quero que Paris
derreta todo o Oceano entre Brasil e Angola, que Espanha engula Espanha e
se faça o Poema político eterno.
Se faça de novo Paris, dos escombros de Paris, se abra o Sena no meu Liz. Se
faça a guerra civil das rosas.
Se faça o Caos na Esperança. Este Paris não é o que vocês pensam, vai muito
além, é uma dor muito fina de amor,
é um rio contínuo de casas e mogadouros recentemente descobertos na minha
memória. É uma dor tão grande como Paris,
que ainda não entrou na minha caixa do correio, de tão longe está nesse céu
impossível de definir.
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Tantas casas do Alentejo. Tantos fontanários das Beiras, tantos risos, tantas
vontades simples às 8 horas da manhã.
Esse Paris impossível de definir, é preciso que esteja em todo o lado Paris que
me entre das orelhas para dentro e para fora,
Paris das bicas, das conversas e dos abraços. Paris das verticais e das
oblíquas, Paris sempre Paris.
Não pisem Paris, esse é o meu testamento, diz que temos de olhar por nós e
olhar de frente os outros, diz abraços,
diz celebrações, diz continuidade, diz amizade.
Valerá a pena Paris estar de todo o lado, debaixo e de cima, espreitando o
sexo, bebendo os verbos e as palavras, fazendo árvores
de laços?
Este Paris de bola preta no meu ouvido, que não quer ouvir ninguém dizer
hipocrisia, nem bem-haja, nem porra nem merda.
Este nenhure de poesia que se instalou como Paris tão elegante capaz de dizer
caramba a quem passa, este silêncio de consentimento,
este resmungar cabisbaixo. Paris não levará a mal eu dizer que há fome na
minha cidade, nem dizer que o Benfica ganhou. Eu sei , Paris é só um poema,
Sim, não, não é uma anedota, é um ponto de exclamação, é um rato
rinoceronte que se satisfaz ao sol da manhã, que ouve a lua roçando a minha
pestana, que adormece em qualquer palavra. Não, Paris não está a arder, não
é preciso sangue, não é preciso qualquer chama nesta paixão que consome.
Paris será sempre Paris,
Talvez não seja preciso ler mais, o que eu disser está dito e redito na Bíblia, no
Origem das espécies, no D. Quixote de La Mancha, Na interpretação dos
sonhos, no Capital, Na Ilíada e na Odisseia, Nos princípios da Física de
Newton, podia-me contar Einstein, ou Galileu, mas assim fica mais fácil,
destruindo palavras do meu corpo,
Reinventando outro hidromel dos Deuses, sentado à beira desta Paris
adormecida, fazendo-se passar por única verdade, elevando o verbo à
magnitude do sentimento.
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Outubro 19, 2006
Ode à minha máquina de lavar louça
Cantem os deuses nesta hora tão branca,
desta “ex machina” implacável,
ai sucinta tragédia não seria,
ver estas medusas, gorduras,
dominarem o planeta, minha cozinha.
Qual titã providenciou esta bela invenção,
Prometeu por certo saiu do penhasco,
matou esses abutres de Zeus, esse
que pelo seus tamanhos pecados
também soltou da pandora tamanhos micróbios.
Oh! Prometeu que nos destes
esse também formidável “fogo”“Zanussi” e “AEG”,
pudera também Cristo, que tanto te copiou,
pudesse fazer essa parábola:
Limpeza e lavagem a 60º,
reerguendo o morto do Sepulcro,
eu,
que não era mais que um súbdito
desse imundo Hades.
Ai Antígona, do meu corpo imundo,
manda-me também uma máquina,
para me banhar em autómato,
mesmo que a lei de Creonte não o permita,
está em jogo mais que Tróia,
este mundo.
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Setembro 6, 2006
Visita
Deixa-me ter uma lágrima sempre nos olhos por ti.
Deixa-me sempre esta saudade dolente na voz. Divide connosco o teu sorriso.
Precisamos de ti, sempre aqui,
nas palavras à frente doutras palavras, nas nossas emoções.
Não faremos segredo de ti nas tuas visitas. Beberemos juntos um café.
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Março 6, 2008
Ainda
Ainda cresces por entre os meus dedos,
por entre os ramos das minhas palavras,
nas linhas de luz dos meus olhos,
ainda voas nas asas das bocas dos teus amigos.
Nada há de eterno na Natureza,
mas a experiência do sentimento
é o mais idelével composto da combustão.
E eu juro-te que o planeta arderá.
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Setembro 30, 2006
Mãe
Tão pouco mãe, tão pouco terra e tanto mulher,
falo daqueles olhos maiores, que não são palavra, que são quentes,
daquele ventre tão grande como um verbo, tão pouco serpente, tão grande
como uma dor, aquele sentimento em corpo que faz ser mais que qualquer
outra gente.
Não, não me atrevo a chamar-lhe mãe, é tão pouco todo o céu que já pude ver.
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Janeiro 29, 2008
Carta sem endereço
Não ficava bem comigo senão te dissesse,
digo-te o que já sabes,
que te amo,
da maneira mais simples que se pode amar,
com esse verbo na boca, olhando-te partir.
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Setembro 1, 2006
Pintura em auto-retrato II
Manchando, sujando,
fazendo errado, ao contrário.
Descobrindo a cara num carvão húmido,
abrindo os olhos em giz branco.
Invertendo a luz eléctrica,
em rio por todo o caminho
tudo pintado de preto. Fresco.
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Janeiro 27, 2008
Sobre poesia
Tenho
na minha vida um bilião de coisas mais importantes que a poesia.
E das coisas que não tenho?
Como as poderia alcançar sem ela?
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Julho 25, 2006
“Papetimameli”,
“Papetimameli”,
em palavra de palhaço,
é sinónimo de riso
por ser tão engraçada
e não pretender dizer nada.
“Papetimameli”, por acaso,
uma coisa, de rir,
no mundo do nada,
neste deserto onde se tem que
pagar a água.
“Papetimameli”,sai da boca
como verbo,
que quer fazer rir
a palavra bem educada.
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“Papetimameli” tão louca que
não dói nada,
vem deste coração magoado,
de onde rir é nascer água.
“Papetimameli”
palavra para ficar aí,
na boca na alma,
que este mundo é tão triste
e um sorriso vale bem mais que nada
“papetimameli”, use por favor,
vai ver que não dói nada.
palavra de palhaço.
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Fevereiro 21, 2006
Pássaro preto
Doer-me-às sempre. Em qualquer pálpebra.
Em qualquer palavra, em toda a sede, em todo o meu amor que fizer.
Serás, assim tão pouco meu, tu tanta falta serás sempre.
Agora, no Verão que aí vem,
haverá sempre um pássaro preto voando esplêndido
no azul do céu.
Será fácil amar-te assim muito.
Mas será tanta pena ser esse voo no alto do céu,
onde não posso chegar..
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Julho 13, 2006
A casa abandonada
Pequenas coisas são pequenas coisas,
simples, emprestadas, dadas noutros tempos, agora tão precisas,
a casa abandonada.
O oiro doutro tempo levado pelo vento,
não pára a árvore envelhecida.
Não sei de nada.
Fez-se assim a minha cara, pálida.
A mina procurada, palavra desejada.
Não há, gastou-se levada no ar,
por outra janela estragada.
As flores, as rosas, os cravos na nova jarra,
não choram outro tempo, mas não são nada.
As chaves partidas. As rugas enlutadas.
As novas luvas na mesa.
Outras conversas, fazem agora rezas,
as frases desencontradas, neste tempo de nada.
O pátio partido, o jardim começado,
o novo inquilino, inclinado.
Precisava agora daquela varanda, o lago espelhado,
reflectindo a luz coada pela língua
construída pelo bairro. Não tenho agora,
a solidão na casa. Por essa casa já não há nada,
que foi oiro que reflectia, vivia,
foi vereda, agora só vala. Um país comprometido.
O muro sem telha.
A voz humana deslavada, na nova casa. Lua,
o que tenho no vidro dos olhos dela,
essa filha que agora vive tão infinito
como a casa abandonada.
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Os retratos guardados nessa outra casa.
Esse cipreste verde, agudo.
Tão grave o meu uivo, um lar sem lar, alugado.
Por entre este vento, na fresta deste frio,
caminho, como o coelho, branco. Da neve
já deitada. Olho o campo, aberto.
A mãe não esquecida o meu irmão-filho,
tão exausta a memória. O portão de verdete pintado.
Faz-se Shalom no Leste. Na nova casa,
faz-se um chá quente. Na nossa conversa na cidade,
não se sabe o que se soube. O velho agora não presta.
Toda molhada esta dor recente,
não encontro nova luz no novo belo,
um soberbo pinheiro,
que se ergue como uma asa,
tudo cheira a novo dinheiro,
não tem os ratos sábios dela.
A longa triste e inútil agora,
a casa por todos abandonada.
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Novembro 6, 2006
Ilha
Já conheço toda a ilha,
estou por toda a parte,
não me repito,
sou apenas a ilha.
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Setembro 12, 2006
a noite de Setembro
Se faça a vida como esta noite de Setembro,
curta, muito fresca e plena.
No pleito de um verbo e mais que isso
fecunda como o sol na lua aberta.
A vida, essa íris rica num olho cheio,
que nós em palpebra guardamos como relicário.
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Fevereiro 3, 2008
Os lenços das palavras
À noite recolhem-se os lenços das palavras,
dobram-se em dois, guardam-se com cuidado,
como corações completos.
No leito estamos nada.
As novas palavras tecem outros lenços nos sonhos.
Ao olharmos a manhã, já estamos cobertos
de verbos,
de nada, daí a pouco já somos autênticos.
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Outubro 6, 2006
A noite, tão clara na razão
A noite, tão clara na razão,
a lua tão sol no poema,
a voz tão prenhe na boca.
E os cavalos no galope da madrugada
erguem cíclopes a pradaria...
já a cotovia prepara o canto,
ainda se fazem as adivinhações do novo dia,
que a batalhe se prepare das mãos brancas,
e a guerra seja a alma,
que os cavalos já galopam a pradaria.
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Dezembro 16, 2006
Este Inverno
Começa agora a fazer frio,
a árvore outrora verde está crua, sem cor.
As minhas mãos, castanhas, da terra, lavrar
de onde arde a minha memória,
como na chama que escava a lareira.
E o Inverno. De dentro, da vida.
De ti, tenho-te de palavras,
maiores saudades que das imagens.
De ti, que me empurra no frio, no aço
das cores, no nenhure do verbo.
Mas estás mais forte, maior,
como mais filho, mais amor,
e eu mais longe a ouvir.
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Fevereiro 24, 2007
Quase morto por promessa
Quase morto por promessa,
a jura tatuada em palavra
de ser feliz.
Porque a vida não interessa,
verdadeiramente não presta,
decompor juros, cautelas, forrar paredes
no corpo de lógica e croquis
e esse amor que andar por aí,
sai levado na palavra
entre o corpo e a terra
ou no epitáfio da pedra.
Quase morto em promessa
não me resta outro cair.
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Novembro 6, 2007
Quase felicidade
Um sono profundo, uma pétala branca
no sonho.
Todas as tentativas vãs.
Uma pétala branca voando.
Copérnico estudando a equação astrofísica:
A felicidade rodando,
no carrossel da solidão.
Universo querido.
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Fevereiro 8, 2007
Sem pressa
Não se anda depressa, não se olha,
não se abre a carta, todos fazemos devagar,
sem pressa, a nossa morte com vagar.
Esse infinito olhar, esse hálito de respirar,
como poderia ser de outra maneira
o nosso ostentado caminhar
cada passo, cada vírgula, o nosso irónico gozo
de desfrutar.
Tanta chuva caída em palavras, tanto aço em verdades
tanta carícia no amor,
do que ficar, ficará gravado no tempo,
como desespero do pleito
desta ogiva que me cresce no peito,
existência, que um dia na pedra um deus gravará.
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Setembro 20, 2007
Equinócio
Isto espalha-se pelo corpo,
pelos olhos pelos dedos,
nas estrelas nos deuses,
esta vontade,
toda a saudade,
como a luz na Terra,
quando a sombra na lua,
faz a eclipse da palavra nua.
Isto ergue-se fala mais, vê,
e consome-se num crescendo arrebatador,
anti-matéria, nuclear,
mais que a ideia da existência,
depois do amor,
completamente verdade.
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Março 21, 2007
Primavera
Onde está a semente desta Primavera,
onde nasce o rio da memória,
o fim do fim, ou outro início?
Ficarei aqui no teu colo,
fazer tempo na tua terra,
que cresças no meu tempo,
não te esquecerei nos olhos,
como uma árvore ávida de céu,
cuidando, florirei.
Não recordarei a tua ausência,
Primavera no Inverno,
só para saberes, que somos os mesmos.
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Maio 2, 2007
A última utopia
Deitar ao mar a última palavra,
para que os peixes também saibam
que o mar também teve outro lugar,
entre o corpo e a alma,
nos naufrágios e achados
de homem a compreender.
Nada mais restará à última palavra
que esse vital sermão aos peixes,
talvez seja a sua hora.
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Junho 23, 2007
23 de Junho
É difícil falar do Sol, talvez tu saibas o verbo,
Sou um ignorante da saudade,
só sei falar no Presente,
do Verão que tu abriste neste planeta
cinzento.
23 de Junho de 1988 gravado no meu coração,
Que fique na eternidade do poema o meu testemunho,
A tua vertical obediência à luz,
A vida que se escapa nos meus dedos,
O teu punho fechado latente. Mais que Verão,
Todo o tudo para sempre!
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Agosto 22, 2006
Mataram-te, não morreste
Mataram-te, não morreste.
Nas últimas contas, não conta para nada.
Mas que se saiba da tua inocência. Agora.
Para que conste do teu poema presente. Mil a zero em glória, na comparação
com o assassino
O Epitáfio, que seja.
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Julho 18, 2007
Moeda
É impossível que esta moeda seja uma moeda.
Pela luz que reflecte, o seu verbo.
Do seu peso uma existência.
A dança do seu rodopio na mesa plana,
a minha vida brilhando numa lágrima pingada.
O seu som ensurdecedor da volúpia do movimento,
os actos que me queimam,
esta moeda da minha vida trocada,
não sairá do meu bolso das certezas,
a minha prova
no deve e haver da memória,
Faz-se em dinheiro a tristeza
eu e a quase aurora.
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Julho 17, 2006
Um dia para ti
Um dia,
que se faça só para ti,
que se forje um verbo, assim tão branco como uma flor.
Porque essa noite não é tua, esse negro não é a tua vontade
e pelo claro se pode comungar a tua verdade.
E só essa justiça te posso fazer aqui.
para sempre palavra branca que já és.
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Setembro 23, 2007
Homenagem a “Bip” (Marcel Marceau)
Numa palavra, o silêncio,
um gesto que emana do poema,
um coração voador que queria ser uma flor.
Estou a ver o lago da paz, no passo elegante do mimo,
uma árvore verde no ramo de uma luva branca,
a montanha prometida no riso branco.
Bip, nome de som, palavra tanta.
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Junho 12, 2007
Aprender a falar
Começar por qualquer lado,
pela aba de uma palavra,
pelo seu sabor, mais que a semântica,
como se aprende a ler e a falar,
pelo gosto de sonhar.
Qualquer palavra com a mãe como paladar.
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Outubro 9, 2007
Esse Portugal que vem com o Outono
Essa casa amarelecida, hospedeira de palavras
autênticas: colorau, aluvião,
simpatia ou festança.
Esse Portugal que vem com o Outono,
essa praia de mantas de pêlo branco,
uvas e vindimas de sacríficios.
Desse vinho que cai das faces solidário
ou brutal como um trombose de bonomia.
Esse Portugal que vem segredando árvore e céu,
que me faz o olhar como uma janela em vitral.
Esse, vem agora de botins, preparando o Inverno,
o meu e o dos meus compatriotas dos cinquentas,
fazendo da sementeira um provérbio, qualquer coisa
como “pouco e pouco nem sempre é muito”
Este Portugal que nos deixa água na boca,
um pátio, pouco mais que um quintal, um amigo
num quintal, Portugal mesmo só sempre amizade,
talvez pelo sol macio ou sombra pouco oblíqua
que nos ajuda a vertical.
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Vem Portugal por esse Outono, por entre os pára-brisas,
descascado em romãs, mesmo sem mãe, país macho,
onde é possível regar dinheiro com palavras,
mesmo com os filhos da puta dos capitalistas,
que esses são apenas gente do império,
não precisam de Camões
nem Gil Vicente, nem dos corações.
Este espaço, este silêncio, este segredo, este jantar de carinho,
foi-me ensinado, às vezes chamavam-lhe vida outra vezes grande nação,
Mas eu sou pela palavra original, sou pelo sentimento sinónimo, lá na memória,
Aqui por entre as folhas castanhas,
portugal.
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Junho 22, 2007
Saída
Saíste daqui
por uma porta que desconheço,
se calhar a casa que habito
ainda é a tua casa.
Que tanta coisa faz este Arquitecto.
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Novembro 14, 2007
Árvore
Tão forte esta árvore
que abraço todos os dias ao amanhecer.
Tão forte, mais que uma ideia ou um sonho,
uma árvore que eu admiro e os outros não vêem,
uma árvore de amor persistente,
que não caduca o sentimento.
Tão forte, mais forte que eu.
Eu, que não vejo a morte.
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Setembro 17, 2007
Os sobreviventes
Como numa corrida, quase no fim, cansados.
Quase como na vida, sobreviventes.
Já sem roupas ou palavras, já sem medo,
sem dó, sem orgulho. Como dejectos, sobreviventes.
Sobre a vida, sob a morte, desprovidos de medo, corajosos.
Como uma revoada de pássaros das praças, já gastos como
as pedras da calçada. Envergonhados, mitigados dos que foram.
Sobreviventes, esfarrapados, entrapados em saudade,
emulados em bandeiras, violados.
Os olhos vítreos de lágrimas,
De novo o dia, uma pulsão tão insonora com uma lente,
para ver verdade em vida, como uma morte vencida.
Sobreviventes.
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Novembro 13, 2007
A fuga das palavras
Há dias que as palavras descansam,
lavam-se de significados talvez
em ruas desertas que descansam de multidões.
Ou desaparecem por segredo,
num convénio de exactidões depois de exauridas
de perversões, de incorrecções de destemperamentos.
Talvez não gostem do uso gratuito, da verborreia, da verve aldrabada,
talvez se cansem dos cansados,
dos sujeitos predicados, dos nomes adjectivados.
Todas elas devem regularmente visitar,
a matriz, o grande lago gelado,
o cristal adverbial,
do Verbo,
alto altente, mago do mistério.
Há também dias como hoje
como se o sangue fosse espada
que retracta a palavra.
Ou vão para os anjos
que as usam nos perdões e desculpas ilimitadas.
As palavras, talvez apenas tenham personalidade sensível
e fujam deste assassínio em massa,
ou percebam o seu efeito limitado
que o que está a dar é ter muito dinheiro,
o mesmo com que se compra o dicionário.
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Dezembro 30, 2007
Ano novo
Ano a estrear, branco,
completamente direito, capaz.
Tempo, futuro aberto.
Estaleiro de novidade.
Que se abra também o peito,
com este limpo fermento à felicidade.
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Janeiro 31, 2008
Quase a dormir
Que falta faz a quem vai dormir
um sonho para adormecer...
cá vou eu, escravo,
para o quarto com uma palavra atrás.
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Janeiro 18, 2008
A fabricação de um poema
Quando escrevo um poema
fecho a janela.
O ar que entrou antes da janela fechada,
é o pólen do poema,
eu sou a abelha fechada,
que passou o dia inteiro numa palavra.
Na colmeia de janela fechada, penso,
fumo um cigarro,
mesmo que o não fume, penso.
faço mel,
abro a janela, para sair o fumo,
mesmo que não fume um cigarro.
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Novembro 17, 2007
Vida nocturna das árvores
Imagino a vida nocturna das árvores,
que saem como aves das raízes,
voando almas, libertando-se da matéria.
multiplicando deuses, exalando sonhos.
Voam livres de um canto contido,
do que vêem do que ouvem do que sentem,
dum saber infinito da espera, da testemunha.
Ou não sentem? Ou não vêem, ou não ouvem?
E o seu voo nocturno é uma metáfora
de um lamento,
como eu no sofrimento.
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Dezembro 23, 2007
Ausência
Imagina um pedido sem boca,
a promessa sem verbo,
o sonhador sem sono.
Como o nada sem fundo,
só imaginando, o resto é dor.
55|
Dezembro 28, 2007
Do luto eterno
Nada se abre,
parece tudo opaco
e fechado.
Parece tudo noite,
das noites brancas sem luz,
como o sonho fosse pedra.
O não haver é água,
um mar indefinido
e frio.
Mas há melodia,
uma melopeia de dores,
que encanta a vida,
desaba-se.
Só a memória arde
na saudade,
e sobe-se o íngreme da felicidade,
como um monte sem cume.
|56
Janeiro 14, 2008
Por causa da chuva
Ainda não falámos da chuva,
da falta que nos faz,
de nos mudar o olhar,
de nos fazer sérios com o mundo,
da falta que faz, à agricultura, ao pão
que comemos todos juntos.
A falta que nos faz, como reticências
de um queixume, de como poderia ser
se o que deve vir, viesse.
A chuva,a água que nos falta,
que é o corpo que procura as palavras,
o corpo, ouves-me, o nosso corpo também é conversa.
57|
Janeiro 24, 2008
A flor desejada
Esta flor diurna
veio comigo para casa
depois do anoitecer,
disse-me que mesmo desejada,
preferiu a minha solidão,
talvez pela timidez ser tão terna.
|58
Outubro 3, 2007
em alma
É como um comboio pesado,
batendo as mandíbulas no tempo,
fazendo sola do corpo.
Andamos quilómetros perdidos,
à procura de um resto,
de uma pista branca,
mas não há mais do que silêncio.
Assim, mesmo o nada seria completo.
59|
Dezembro 5, 2007
Lua
Lá fora está a lua,
por detrás da janela.
O silêncio lá fora é diferente do de cá.
Na rua
o silêncio tem a lua.
|60
Janeiro 16, 2008
Ilusão
É um crime escever-te estas palavras,
parece que morres outra vez.
Se eu as apagar também morrerás em mim.
A solução
é dizer-tas para dentro,
para que não saias daqui,
a ilusão, única sobrevivente
de nós.
61|
Fevereiro 5, 2008
Todo o amor num quarto de hora de qualquer tarde
Amei, como sempre soubesse num quarto de hora.
Os beijos sobem mais. Para quê a memória.
A tarde a toda a hora, essa pele, a minha hormona.
deixo ir a mão tão longínqua como uma estrada,
tão bom saber nada, amar como amei num quarto de hora.
|62
Janeiro 1, 2008
poema
Vem como a noite,
fechando a luz,
insinua-se como uma mulher,
exalando mistério.
Executa como um relógio,
pontual.
Veste-se da mais implacável traição,
a morte.
Conheço-te os passos, o teu odor de Inverno,
a tua fome de existência,
infeliz, nunca saberás este poema
que se faz da incerteza,
da nobreza do amor,
da vontade do sal e do vento na cara.
Não sentirás nunca
esta palavra na boca
Será essa Matemática tão boa?
63|
Janeiro 31, 2008
Amizade
Ao grupo da Casa das Rosas de S. Paulo
A amizade é quase uma pedra preciosa,
tem luz, reluz, rara e valiosa,
tem tudo para ser preciosa,
só lhe falta a sílica de pedra.
Não pesa.
|64
Junho 2, 2006
Vou semear um morangueiro
Verei o céu, colherei o sémen da palavra,
respeitarei o vento, farei à terra uma homenagem,
procurarei a hora da madrugada. Sonharei como o morangueiro,
naquela alvorada doer-me-à o peito, pela semente
que sairá de mim pelo canto.
No poema, que me habitará eterno no Inverno,
desejarei ávidamente o fruto,
No Verão, voltará um doce vento,
que se fará do Inferno dentro,
ecoará da minha hibernação um grito estupendo,
do morangueiro explodirá um inequívoco morango.
65|
Fevereiro 8, 2008
Aurora
Preciso te dizer
que a minha aurora já não é a mesma.
Continua bela, num esplendor soberbo,
o tempo, nessa altura faz-se sublime de espaço.
mas há uma interferência,
a tua ausência
que se faz em mim distância.
Não te escrevas aurora, prefiro a dor severa.
|66
2001
Ao Miguel e à Sara (os meus dois filhos)
Os três formávamos um triângulo
naquele instantâneo,
batidos pelo sol, zurzidos pelo vento
alguém riu (na face isósceles do retrato)
e todos amámos
Nós os três
ficámos família
sempre!
67|

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  • 3. 3| Fevereiro 09, 2008 Miguel És um poema impossível de escrever, porque és, sempre foste mais que um sentimento grafado, como caberia o teu olhar num papel. És, não podemos esquecer, uma pessoa estimável, com esse grande fundo da simpatia, que perdurará para sempre, mais além das limitadas sensações da pele, estás guardado no nosso infinito interior. do teu pai
  • 4. |4 Agosto 29, 2005 O cavalo tinha tudo para ser verde O cavalo tinha tudo para ser verde. Preferiu as águas, fazer um grande castelo com a areia dos seus poemas. Por fim descansou na beira do caminho. O Sol ao longe tingia-se de vermelho.
  • 5. 5| Outubro 12, 2005 Pintassilgo Já se levanta a manhã, um pintassigo pintassilga a difusa neblina. Que melhor segredo para contar aos outros.
  • 6. |6 Setembro 19, 2006 Pintura em Auto-retrato Faria um traço, uma boca com um fim. Um silêncio com a dor em aberto.
  • 7. 7| Setembro 14, 2005 Senhora das almas Senhora das almas, vê este barco com cuidado, tem uma dor profunda, tem a inocência aberta. Reza como eu, como uma pedra fria.
  • 8. |8 Setembro 06, 2005 Olha aquele branco Olha aquele branco, aquela cor sem vazio, aquele peixe formidável que engole toda a água. As nuvens, as chaminés, as casas prometem a serenidade. Aquele balão subindo pode ser todo o ser. O rio rindo com os seixos rolando, podem dizer todo o dia. Olha o deserto saindo da enciclopédia pedindo amor. Podem as cataratas dizer a voz por detrás? Toda a gente subindo a calçada querem dizer basta. Qualquer criança escrevendo poesia num soluço chorando, procura a mãe. Eu não posso mais filho. Todo o céu não será demais para nós. Amo-te.
  • 9. 9| Novembro 28, 2006 Adeus Cesariny sem ponto de exclamação Que diabo chegou o ponto final daquela Pena Capital, de existir em pastelaria. Que se abra a estrada em liberdade livre se ame amando ar. A flor na gaveta dos Prazeres. Se fique guardando na tropelia do dizer, a voz soando vibre. O epitáfio anónimo do individuo universal.
  • 10. |10 Novembro 1, 2006 O mundo perdido de Ísis Nesta noite quebrada, um saxofone em solilóquio proclama, a dor, no beco escuro do coito interrompido. Cleópatra em cabelo escarlate dói-se, na espiral da pista de dança, um mundo perdido na face obscura da lua, Alexandria, babel de cultura rompe-se num Tom Waits extrovertido, mãe! É de néon o falcão que voa albino, faz-se de grito Ísis na mulher deitada, na vítima refugiada, na prostituta mais puta, na dona de casa. Cleópatra, dança ainda mais louca, enxuta, desvingada da sua mais louca inconquista, do macho no seu seio, no mundo perdido outrora a seus pés, mais um chuto, na veia, Ísis não conhece outra presa, um saxofone fala com ela. A dor cresce em império em sexo si maior.
  • 11. 11| Setembro 1, 2006 Pão Olha a fome na tua bica, no teu comércio do trabalho, nas promessas de utopia. Hoje, o teu voto na urna devia ser pão.
  • 12. |12 Setembro 22, ,2006 Irei ao Hades Eu irei ao Hades buscar-te, preso a mim pela boca, pelo sonho que me fizeste parir nos meus passos. Irei trocar-te pelas minhas palavras, por essa noite escura, ficarás cá em nome brilhando, que é muito mais que as estrelas que se reflectem nos meus olhos, por seres mais em saudade, que o brilho aparente da luz. Irei ao Hades jurar-te que Zeus se arrependerá da ambição de reinar um mundo onde o teu olhar não verá. Irei ao Hades resgatar-te em todos os poemas que foste, para que Gaia te faça cá em energia tão pura, e se faça de novo a fresca manhã.
  • 13. 13| Setembro 19, 2006 Paris em todo o lado Paris em todo o lado, em toda a cabeça, no meu corpo. Não me sai de cá. Ficou fazendo Folies Bergéres na minha imaginação. Paris, em todo o lado, roendo a corda da Europa fria, da megera verdade cristã. Paris rota exacerbando toda a arte, bebendo todas as palavras do silêncio. E o nada mortal cavado em Paris em todo o lado. Em todo o lado Paris! É urgente descongelar o meu ordenado, fazer promessa na minha felicidade, fazer fé no descalço. Paris cheia de tão grávida já, em todo lado, fecundando as ruas desertas, todos os poemas ainda malditos. Nas livrarias, nos urinóis, nas escolas, nas esperanças espavidas neste deserto de ideias. Paris, é preciso que Paris se apresente na tropa, no palácio de Belém, nos reformatórios, nas adegas húmidas do vinho do Porto, é preciso que este Paris que está na minha cabeça passe para outra cabeça, se faça uma cirurgia estética nos poemas rarefeitos, que se humilhe a humildade, pois, porque eu quero que Paris derreta todo o Oceano entre Brasil e Angola, que Espanha engula Espanha e se faça o Poema político eterno. Se faça de novo Paris, dos escombros de Paris, se abra o Sena no meu Liz. Se faça a guerra civil das rosas. Se faça o Caos na Esperança. Este Paris não é o que vocês pensam, vai muito além, é uma dor muito fina de amor, é um rio contínuo de casas e mogadouros recentemente descobertos na minha memória. É uma dor tão grande como Paris, que ainda não entrou na minha caixa do correio, de tão longe está nesse céu impossível de definir.
  • 14. |14 Tantas casas do Alentejo. Tantos fontanários das Beiras, tantos risos, tantas vontades simples às 8 horas da manhã. Esse Paris impossível de definir, é preciso que esteja em todo o lado Paris que me entre das orelhas para dentro e para fora, Paris das bicas, das conversas e dos abraços. Paris das verticais e das oblíquas, Paris sempre Paris. Não pisem Paris, esse é o meu testamento, diz que temos de olhar por nós e olhar de frente os outros, diz abraços, diz celebrações, diz continuidade, diz amizade. Valerá a pena Paris estar de todo o lado, debaixo e de cima, espreitando o sexo, bebendo os verbos e as palavras, fazendo árvores de laços? Este Paris de bola preta no meu ouvido, que não quer ouvir ninguém dizer hipocrisia, nem bem-haja, nem porra nem merda. Este nenhure de poesia que se instalou como Paris tão elegante capaz de dizer caramba a quem passa, este silêncio de consentimento, este resmungar cabisbaixo. Paris não levará a mal eu dizer que há fome na minha cidade, nem dizer que o Benfica ganhou. Eu sei , Paris é só um poema, Sim, não, não é uma anedota, é um ponto de exclamação, é um rato rinoceronte que se satisfaz ao sol da manhã, que ouve a lua roçando a minha pestana, que adormece em qualquer palavra. Não, Paris não está a arder, não é preciso sangue, não é preciso qualquer chama nesta paixão que consome. Paris será sempre Paris, Talvez não seja preciso ler mais, o que eu disser está dito e redito na Bíblia, no Origem das espécies, no D. Quixote de La Mancha, Na interpretação dos sonhos, no Capital, Na Ilíada e na Odisseia, Nos princípios da Física de Newton, podia-me contar Einstein, ou Galileu, mas assim fica mais fácil, destruindo palavras do meu corpo, Reinventando outro hidromel dos Deuses, sentado à beira desta Paris adormecida, fazendo-se passar por única verdade, elevando o verbo à magnitude do sentimento.
  • 15. 15| Outubro 19, 2006 Ode à minha máquina de lavar louça Cantem os deuses nesta hora tão branca, desta “ex machina” implacável, ai sucinta tragédia não seria, ver estas medusas, gorduras, dominarem o planeta, minha cozinha. Qual titã providenciou esta bela invenção, Prometeu por certo saiu do penhasco, matou esses abutres de Zeus, esse que pelo seus tamanhos pecados também soltou da pandora tamanhos micróbios. Oh! Prometeu que nos destes esse também formidável “fogo”“Zanussi” e “AEG”, pudera também Cristo, que tanto te copiou, pudesse fazer essa parábola: Limpeza e lavagem a 60º, reerguendo o morto do Sepulcro, eu, que não era mais que um súbdito desse imundo Hades. Ai Antígona, do meu corpo imundo, manda-me também uma máquina, para me banhar em autómato, mesmo que a lei de Creonte não o permita, está em jogo mais que Tróia, este mundo.
  • 16. |16 Setembro 6, 2006 Visita Deixa-me ter uma lágrima sempre nos olhos por ti. Deixa-me sempre esta saudade dolente na voz. Divide connosco o teu sorriso. Precisamos de ti, sempre aqui, nas palavras à frente doutras palavras, nas nossas emoções. Não faremos segredo de ti nas tuas visitas. Beberemos juntos um café.
  • 17. 17| Março 6, 2008 Ainda Ainda cresces por entre os meus dedos, por entre os ramos das minhas palavras, nas linhas de luz dos meus olhos, ainda voas nas asas das bocas dos teus amigos. Nada há de eterno na Natureza, mas a experiência do sentimento é o mais idelével composto da combustão. E eu juro-te que o planeta arderá.
  • 18. |18 Setembro 30, 2006 Mãe Tão pouco mãe, tão pouco terra e tanto mulher, falo daqueles olhos maiores, que não são palavra, que são quentes, daquele ventre tão grande como um verbo, tão pouco serpente, tão grande como uma dor, aquele sentimento em corpo que faz ser mais que qualquer outra gente. Não, não me atrevo a chamar-lhe mãe, é tão pouco todo o céu que já pude ver.
  • 19. 19| Janeiro 29, 2008 Carta sem endereço Não ficava bem comigo senão te dissesse, digo-te o que já sabes, que te amo, da maneira mais simples que se pode amar, com esse verbo na boca, olhando-te partir.
  • 20. |20 Setembro 1, 2006 Pintura em auto-retrato II Manchando, sujando, fazendo errado, ao contrário. Descobrindo a cara num carvão húmido, abrindo os olhos em giz branco. Invertendo a luz eléctrica, em rio por todo o caminho tudo pintado de preto. Fresco.
  • 21. 21| Janeiro 27, 2008 Sobre poesia Tenho na minha vida um bilião de coisas mais importantes que a poesia. E das coisas que não tenho? Como as poderia alcançar sem ela?
  • 22. |22 Julho 25, 2006 “Papetimameli”, “Papetimameli”, em palavra de palhaço, é sinónimo de riso por ser tão engraçada e não pretender dizer nada. “Papetimameli”, por acaso, uma coisa, de rir, no mundo do nada, neste deserto onde se tem que pagar a água. “Papetimameli”,sai da boca como verbo, que quer fazer rir a palavra bem educada.
  • 23. 23| “Papetimameli” tão louca que não dói nada, vem deste coração magoado, de onde rir é nascer água. “Papetimameli” palavra para ficar aí, na boca na alma, que este mundo é tão triste e um sorriso vale bem mais que nada “papetimameli”, use por favor, vai ver que não dói nada. palavra de palhaço.
  • 24. |24 Fevereiro 21, 2006 Pássaro preto Doer-me-às sempre. Em qualquer pálpebra. Em qualquer palavra, em toda a sede, em todo o meu amor que fizer. Serás, assim tão pouco meu, tu tanta falta serás sempre. Agora, no Verão que aí vem, haverá sempre um pássaro preto voando esplêndido no azul do céu. Será fácil amar-te assim muito. Mas será tanta pena ser esse voo no alto do céu, onde não posso chegar..
  • 25. 25| Julho 13, 2006 A casa abandonada Pequenas coisas são pequenas coisas, simples, emprestadas, dadas noutros tempos, agora tão precisas, a casa abandonada. O oiro doutro tempo levado pelo vento, não pára a árvore envelhecida. Não sei de nada. Fez-se assim a minha cara, pálida. A mina procurada, palavra desejada. Não há, gastou-se levada no ar, por outra janela estragada. As flores, as rosas, os cravos na nova jarra, não choram outro tempo, mas não são nada. As chaves partidas. As rugas enlutadas. As novas luvas na mesa. Outras conversas, fazem agora rezas, as frases desencontradas, neste tempo de nada. O pátio partido, o jardim começado, o novo inquilino, inclinado. Precisava agora daquela varanda, o lago espelhado, reflectindo a luz coada pela língua construída pelo bairro. Não tenho agora, a solidão na casa. Por essa casa já não há nada, que foi oiro que reflectia, vivia, foi vereda, agora só vala. Um país comprometido. O muro sem telha. A voz humana deslavada, na nova casa. Lua, o que tenho no vidro dos olhos dela, essa filha que agora vive tão infinito como a casa abandonada.
  • 26. |26 Os retratos guardados nessa outra casa. Esse cipreste verde, agudo. Tão grave o meu uivo, um lar sem lar, alugado. Por entre este vento, na fresta deste frio, caminho, como o coelho, branco. Da neve já deitada. Olho o campo, aberto. A mãe não esquecida o meu irmão-filho, tão exausta a memória. O portão de verdete pintado. Faz-se Shalom no Leste. Na nova casa, faz-se um chá quente. Na nossa conversa na cidade, não se sabe o que se soube. O velho agora não presta. Toda molhada esta dor recente, não encontro nova luz no novo belo, um soberbo pinheiro, que se ergue como uma asa, tudo cheira a novo dinheiro, não tem os ratos sábios dela. A longa triste e inútil agora, a casa por todos abandonada.
  • 27. 27| Novembro 6, 2006 Ilha Já conheço toda a ilha, estou por toda a parte, não me repito, sou apenas a ilha.
  • 28. |28 Setembro 12, 2006 a noite de Setembro Se faça a vida como esta noite de Setembro, curta, muito fresca e plena. No pleito de um verbo e mais que isso fecunda como o sol na lua aberta. A vida, essa íris rica num olho cheio, que nós em palpebra guardamos como relicário.
  • 29. 29| Fevereiro 3, 2008 Os lenços das palavras À noite recolhem-se os lenços das palavras, dobram-se em dois, guardam-se com cuidado, como corações completos. No leito estamos nada. As novas palavras tecem outros lenços nos sonhos. Ao olharmos a manhã, já estamos cobertos de verbos, de nada, daí a pouco já somos autênticos.
  • 30. |30 Outubro 6, 2006 A noite, tão clara na razão A noite, tão clara na razão, a lua tão sol no poema, a voz tão prenhe na boca. E os cavalos no galope da madrugada erguem cíclopes a pradaria... já a cotovia prepara o canto, ainda se fazem as adivinhações do novo dia, que a batalhe se prepare das mãos brancas, e a guerra seja a alma, que os cavalos já galopam a pradaria.
  • 31. 31| Dezembro 16, 2006 Este Inverno Começa agora a fazer frio, a árvore outrora verde está crua, sem cor. As minhas mãos, castanhas, da terra, lavrar de onde arde a minha memória, como na chama que escava a lareira. E o Inverno. De dentro, da vida. De ti, tenho-te de palavras, maiores saudades que das imagens. De ti, que me empurra no frio, no aço das cores, no nenhure do verbo. Mas estás mais forte, maior, como mais filho, mais amor, e eu mais longe a ouvir.
  • 32. |32 Fevereiro 24, 2007 Quase morto por promessa Quase morto por promessa, a jura tatuada em palavra de ser feliz. Porque a vida não interessa, verdadeiramente não presta, decompor juros, cautelas, forrar paredes no corpo de lógica e croquis e esse amor que andar por aí, sai levado na palavra entre o corpo e a terra ou no epitáfio da pedra. Quase morto em promessa não me resta outro cair.
  • 33. 33| Novembro 6, 2007 Quase felicidade Um sono profundo, uma pétala branca no sonho. Todas as tentativas vãs. Uma pétala branca voando. Copérnico estudando a equação astrofísica: A felicidade rodando, no carrossel da solidão. Universo querido.
  • 34. |34 Fevereiro 8, 2007 Sem pressa Não se anda depressa, não se olha, não se abre a carta, todos fazemos devagar, sem pressa, a nossa morte com vagar. Esse infinito olhar, esse hálito de respirar, como poderia ser de outra maneira o nosso ostentado caminhar cada passo, cada vírgula, o nosso irónico gozo de desfrutar. Tanta chuva caída em palavras, tanto aço em verdades tanta carícia no amor, do que ficar, ficará gravado no tempo, como desespero do pleito desta ogiva que me cresce no peito, existência, que um dia na pedra um deus gravará.
  • 35. 35| Setembro 20, 2007 Equinócio Isto espalha-se pelo corpo, pelos olhos pelos dedos, nas estrelas nos deuses, esta vontade, toda a saudade, como a luz na Terra, quando a sombra na lua, faz a eclipse da palavra nua. Isto ergue-se fala mais, vê, e consome-se num crescendo arrebatador, anti-matéria, nuclear, mais que a ideia da existência, depois do amor, completamente verdade.
  • 36. |36 Março 21, 2007 Primavera Onde está a semente desta Primavera, onde nasce o rio da memória, o fim do fim, ou outro início? Ficarei aqui no teu colo, fazer tempo na tua terra, que cresças no meu tempo, não te esquecerei nos olhos, como uma árvore ávida de céu, cuidando, florirei. Não recordarei a tua ausência, Primavera no Inverno, só para saberes, que somos os mesmos.
  • 37. 37| Maio 2, 2007 A última utopia Deitar ao mar a última palavra, para que os peixes também saibam que o mar também teve outro lugar, entre o corpo e a alma, nos naufrágios e achados de homem a compreender. Nada mais restará à última palavra que esse vital sermão aos peixes, talvez seja a sua hora.
  • 38. |38 Junho 23, 2007 23 de Junho É difícil falar do Sol, talvez tu saibas o verbo, Sou um ignorante da saudade, só sei falar no Presente, do Verão que tu abriste neste planeta cinzento. 23 de Junho de 1988 gravado no meu coração, Que fique na eternidade do poema o meu testemunho, A tua vertical obediência à luz, A vida que se escapa nos meus dedos, O teu punho fechado latente. Mais que Verão, Todo o tudo para sempre!
  • 39. 39| Agosto 22, 2006 Mataram-te, não morreste Mataram-te, não morreste. Nas últimas contas, não conta para nada. Mas que se saiba da tua inocência. Agora. Para que conste do teu poema presente. Mil a zero em glória, na comparação com o assassino O Epitáfio, que seja.
  • 40. |40 Julho 18, 2007 Moeda É impossível que esta moeda seja uma moeda. Pela luz que reflecte, o seu verbo. Do seu peso uma existência. A dança do seu rodopio na mesa plana, a minha vida brilhando numa lágrima pingada. O seu som ensurdecedor da volúpia do movimento, os actos que me queimam, esta moeda da minha vida trocada, não sairá do meu bolso das certezas, a minha prova no deve e haver da memória, Faz-se em dinheiro a tristeza eu e a quase aurora.
  • 41. 41| Julho 17, 2006 Um dia para ti Um dia, que se faça só para ti, que se forje um verbo, assim tão branco como uma flor. Porque essa noite não é tua, esse negro não é a tua vontade e pelo claro se pode comungar a tua verdade. E só essa justiça te posso fazer aqui. para sempre palavra branca que já és.
  • 42. |42 Setembro 23, 2007 Homenagem a “Bip” (Marcel Marceau) Numa palavra, o silêncio, um gesto que emana do poema, um coração voador que queria ser uma flor. Estou a ver o lago da paz, no passo elegante do mimo, uma árvore verde no ramo de uma luva branca, a montanha prometida no riso branco. Bip, nome de som, palavra tanta.
  • 43. 43| Junho 12, 2007 Aprender a falar Começar por qualquer lado, pela aba de uma palavra, pelo seu sabor, mais que a semântica, como se aprende a ler e a falar, pelo gosto de sonhar. Qualquer palavra com a mãe como paladar.
  • 44. |44 Outubro 9, 2007 Esse Portugal que vem com o Outono Essa casa amarelecida, hospedeira de palavras autênticas: colorau, aluvião, simpatia ou festança. Esse Portugal que vem com o Outono, essa praia de mantas de pêlo branco, uvas e vindimas de sacríficios. Desse vinho que cai das faces solidário ou brutal como um trombose de bonomia. Esse Portugal que vem segredando árvore e céu, que me faz o olhar como uma janela em vitral. Esse, vem agora de botins, preparando o Inverno, o meu e o dos meus compatriotas dos cinquentas, fazendo da sementeira um provérbio, qualquer coisa como “pouco e pouco nem sempre é muito” Este Portugal que nos deixa água na boca, um pátio, pouco mais que um quintal, um amigo num quintal, Portugal mesmo só sempre amizade, talvez pelo sol macio ou sombra pouco oblíqua que nos ajuda a vertical.
  • 45. 45| Vem Portugal por esse Outono, por entre os pára-brisas, descascado em romãs, mesmo sem mãe, país macho, onde é possível regar dinheiro com palavras, mesmo com os filhos da puta dos capitalistas, que esses são apenas gente do império, não precisam de Camões nem Gil Vicente, nem dos corações. Este espaço, este silêncio, este segredo, este jantar de carinho, foi-me ensinado, às vezes chamavam-lhe vida outra vezes grande nação, Mas eu sou pela palavra original, sou pelo sentimento sinónimo, lá na memória, Aqui por entre as folhas castanhas, portugal.
  • 46. |46 Junho 22, 2007 Saída Saíste daqui por uma porta que desconheço, se calhar a casa que habito ainda é a tua casa. Que tanta coisa faz este Arquitecto.
  • 47. 47| Novembro 14, 2007 Árvore Tão forte esta árvore que abraço todos os dias ao amanhecer. Tão forte, mais que uma ideia ou um sonho, uma árvore que eu admiro e os outros não vêem, uma árvore de amor persistente, que não caduca o sentimento. Tão forte, mais forte que eu. Eu, que não vejo a morte.
  • 48. |48 Setembro 17, 2007 Os sobreviventes Como numa corrida, quase no fim, cansados. Quase como na vida, sobreviventes. Já sem roupas ou palavras, já sem medo, sem dó, sem orgulho. Como dejectos, sobreviventes. Sobre a vida, sob a morte, desprovidos de medo, corajosos. Como uma revoada de pássaros das praças, já gastos como as pedras da calçada. Envergonhados, mitigados dos que foram. Sobreviventes, esfarrapados, entrapados em saudade, emulados em bandeiras, violados. Os olhos vítreos de lágrimas, De novo o dia, uma pulsão tão insonora com uma lente, para ver verdade em vida, como uma morte vencida. Sobreviventes.
  • 49. 49| Novembro 13, 2007 A fuga das palavras Há dias que as palavras descansam, lavam-se de significados talvez em ruas desertas que descansam de multidões. Ou desaparecem por segredo, num convénio de exactidões depois de exauridas de perversões, de incorrecções de destemperamentos. Talvez não gostem do uso gratuito, da verborreia, da verve aldrabada, talvez se cansem dos cansados, dos sujeitos predicados, dos nomes adjectivados. Todas elas devem regularmente visitar, a matriz, o grande lago gelado, o cristal adverbial, do Verbo, alto altente, mago do mistério. Há também dias como hoje como se o sangue fosse espada que retracta a palavra. Ou vão para os anjos que as usam nos perdões e desculpas ilimitadas. As palavras, talvez apenas tenham personalidade sensível e fujam deste assassínio em massa, ou percebam o seu efeito limitado que o que está a dar é ter muito dinheiro, o mesmo com que se compra o dicionário.
  • 50. |50 Dezembro 30, 2007 Ano novo Ano a estrear, branco, completamente direito, capaz. Tempo, futuro aberto. Estaleiro de novidade. Que se abra também o peito, com este limpo fermento à felicidade.
  • 51. 51| Janeiro 31, 2008 Quase a dormir Que falta faz a quem vai dormir um sonho para adormecer... cá vou eu, escravo, para o quarto com uma palavra atrás.
  • 52. |52 Janeiro 18, 2008 A fabricação de um poema Quando escrevo um poema fecho a janela. O ar que entrou antes da janela fechada, é o pólen do poema, eu sou a abelha fechada, que passou o dia inteiro numa palavra. Na colmeia de janela fechada, penso, fumo um cigarro, mesmo que o não fume, penso. faço mel, abro a janela, para sair o fumo, mesmo que não fume um cigarro.
  • 53. 53| Novembro 17, 2007 Vida nocturna das árvores Imagino a vida nocturna das árvores, que saem como aves das raízes, voando almas, libertando-se da matéria. multiplicando deuses, exalando sonhos. Voam livres de um canto contido, do que vêem do que ouvem do que sentem, dum saber infinito da espera, da testemunha. Ou não sentem? Ou não vêem, ou não ouvem? E o seu voo nocturno é uma metáfora de um lamento, como eu no sofrimento.
  • 54. |54 Dezembro 23, 2007 Ausência Imagina um pedido sem boca, a promessa sem verbo, o sonhador sem sono. Como o nada sem fundo, só imaginando, o resto é dor.
  • 55. 55| Dezembro 28, 2007 Do luto eterno Nada se abre, parece tudo opaco e fechado. Parece tudo noite, das noites brancas sem luz, como o sonho fosse pedra. O não haver é água, um mar indefinido e frio. Mas há melodia, uma melopeia de dores, que encanta a vida, desaba-se. Só a memória arde na saudade, e sobe-se o íngreme da felicidade, como um monte sem cume.
  • 56. |56 Janeiro 14, 2008 Por causa da chuva Ainda não falámos da chuva, da falta que nos faz, de nos mudar o olhar, de nos fazer sérios com o mundo, da falta que faz, à agricultura, ao pão que comemos todos juntos. A falta que nos faz, como reticências de um queixume, de como poderia ser se o que deve vir, viesse. A chuva,a água que nos falta, que é o corpo que procura as palavras, o corpo, ouves-me, o nosso corpo também é conversa.
  • 57. 57| Janeiro 24, 2008 A flor desejada Esta flor diurna veio comigo para casa depois do anoitecer, disse-me que mesmo desejada, preferiu a minha solidão, talvez pela timidez ser tão terna.
  • 58. |58 Outubro 3, 2007 em alma É como um comboio pesado, batendo as mandíbulas no tempo, fazendo sola do corpo. Andamos quilómetros perdidos, à procura de um resto, de uma pista branca, mas não há mais do que silêncio. Assim, mesmo o nada seria completo.
  • 59. 59| Dezembro 5, 2007 Lua Lá fora está a lua, por detrás da janela. O silêncio lá fora é diferente do de cá. Na rua o silêncio tem a lua.
  • 60. |60 Janeiro 16, 2008 Ilusão É um crime escever-te estas palavras, parece que morres outra vez. Se eu as apagar também morrerás em mim. A solução é dizer-tas para dentro, para que não saias daqui, a ilusão, única sobrevivente de nós.
  • 61. 61| Fevereiro 5, 2008 Todo o amor num quarto de hora de qualquer tarde Amei, como sempre soubesse num quarto de hora. Os beijos sobem mais. Para quê a memória. A tarde a toda a hora, essa pele, a minha hormona. deixo ir a mão tão longínqua como uma estrada, tão bom saber nada, amar como amei num quarto de hora.
  • 62. |62 Janeiro 1, 2008 poema Vem como a noite, fechando a luz, insinua-se como uma mulher, exalando mistério. Executa como um relógio, pontual. Veste-se da mais implacável traição, a morte. Conheço-te os passos, o teu odor de Inverno, a tua fome de existência, infeliz, nunca saberás este poema que se faz da incerteza, da nobreza do amor, da vontade do sal e do vento na cara. Não sentirás nunca esta palavra na boca Será essa Matemática tão boa?
  • 63. 63| Janeiro 31, 2008 Amizade Ao grupo da Casa das Rosas de S. Paulo A amizade é quase uma pedra preciosa, tem luz, reluz, rara e valiosa, tem tudo para ser preciosa, só lhe falta a sílica de pedra. Não pesa.
  • 64. |64 Junho 2, 2006 Vou semear um morangueiro Verei o céu, colherei o sémen da palavra, respeitarei o vento, farei à terra uma homenagem, procurarei a hora da madrugada. Sonharei como o morangueiro, naquela alvorada doer-me-à o peito, pela semente que sairá de mim pelo canto. No poema, que me habitará eterno no Inverno, desejarei ávidamente o fruto, No Verão, voltará um doce vento, que se fará do Inferno dentro, ecoará da minha hibernação um grito estupendo, do morangueiro explodirá um inequívoco morango.
  • 65. 65| Fevereiro 8, 2008 Aurora Preciso te dizer que a minha aurora já não é a mesma. Continua bela, num esplendor soberbo, o tempo, nessa altura faz-se sublime de espaço. mas há uma interferência, a tua ausência que se faz em mim distância. Não te escrevas aurora, prefiro a dor severa.
  • 66. |66 2001 Ao Miguel e à Sara (os meus dois filhos) Os três formávamos um triângulo naquele instantâneo, batidos pelo sol, zurzidos pelo vento alguém riu (na face isósceles do retrato) e todos amámos Nós os três ficámos família sempre!
  • 67. 67|