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FATOS ANTECEDENTES À REFORMA PROTESTANTE
Introdução
A Reforma é um dos pontos mais importantes a serem estudados na história da Igreja. Ela marca um
momento crítico na Igreja Católica onde o clero deveria decidir se reformaria de vez a Igreja ou se
conformaria com sua péssima situação espiritual como estava. A Reforma serve como um ponto de
marcação para a renovação de um cristianismo centrado no ensino de Cristo e sob seu Senhorio; longe das
muitas heresias e desvios da Igreja Católica.
1. Fatos que Contribuíram Contra a Igreja Católica Romana
Ao se estudar a Reforma Protestante devemos levar em consideração o que estava acontecendo na
sociedade daquela época. Era uma época turbulenta e com iminência de várias mudanças, às quais em
conjunto levaram à Reforma. O fato de crermos que Deus estava soberanamente controlando todos os
acontecimentos não implica dizer que devo pensar que todos os fatos foram somente guiados por interesses
religiosos e espirituais. Ignorar os demais fatos ocorridos antes da Reforma não faz de nós protestantes mais
espirituais; bem como negar a importância das questões espirituais da Reforma não é uma interpretação
sadia dos fatos, como o faz alguns historiadores. Devemos ser prudentes ao interpretar a História para não
sermos nem ingênuos, nem racionalistas:
É claro que de acordo com os pressupostos históricos que o historiador vier aplicar na
interpretação da reforma, irá determinar a sua causa. Assim, temos várias correntes e escolas
pelas quais os historiadores farão sua análise crítica da reforma de maneira puramente
racionalista secular, tais como aquelas que só vêem as causas da reforma nos fatores político-
sociais, outros no fator da economia e outros ainda vêem a reforma puramente como
produto do intelectualismo. Entretanto, uma cosmovisão puramente racionalista tende a
distorcer a definição e dar razões incompletas e deficientes à verdadeira origem da reforma.
Ora, se analisarmos o assunto somente sob a ótica religiosa, ignorando a corroboração de
todos esses fatores seculares e o impacto que tiveram sobre o movimento reformista é tão
errado quanto analisar a reforma sem levar em conta a sua principal causa, qual seja, a
religiosa.
1
Variados são os fatores que estavam “minando” a autoridade e o poder da Igreja Romana nesta
época. Alguns destes fatores eram oriundos das próprias atitudes errôneas da Igreja Católica em relação à
espiritualidade e ao povo. Contudo, concomitantemente a estes, também surgiram fatores externos que
colaboraram para que a Reforma chegasse com a grande força com a qual ela chegou.
1.1- Declínio Moral do Clero
Um dos fatores que alimentou os ânimos do povo contra a Igreja Católica era vida desmoralizada de
seus clérigos. Como sabemos, a vida dos sacerdotes no período da Igreja Medieval foi marcada por
imoralidade, corrupção, desrespeito a Deus, e desconsideração pelo povo massacrado pelas injustiças
sociais. No período que antecedeu a Reforma Protestante, a situação não havia melhorado. Ao invés de ser
um “braço forte” ao povo, um exemplo de santidade de vida; os sacerdotes embrenharam-se em caminhos
nada puros. É sabido, por exemplo, que dentre o clero “muitos sacerdotes tomaram concubinas ou se
perderam em casos de amor ilícito com mulheres de suas congregações. Alguns tiveram que enfrentar o
1
MARTINEZ, João Flávio, http://www.cacp.org.br/estudos/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=870&menu=7&submenu=3
Acessado em 08 de fevereiro de 2012 21:07hs.
problema de cuidar dos filhos nascidos dessas uniões e davam mais atenção a eles que a suas tarefas
clericais. Outros especialmente durante a Renascença, gozavam uma vida de luxúria.”2
1.2- A Ocorrência do Cativeiro Babilônico e do Grande Cisma
A vida desregrada e corrupta não atingiu somente os sacerdotes, pois até mesmo o papado estava
sujeito a desvios de conduta crassos. Foi o caso, por exemplo, dos dois eventos conhecidos como o Cativeiro
Babilônico e o Grande Cisma. Por causa destes eventos o papa também perde a consideração e o crédito que
possuía por parte do povo. Mas em que consistiram estes eventos? O que aconteceu neste período da Igreja
Católica. É o que veremos abaixo na explicação:
Clemente V, um francês escolhido papa pelos cardeais em 1305, era fraco e de moral
duvidosa. Influenciado pelo rei francês, mudou o papado, de Roma para Avignon, no sul da
França, em 1309. Aos olhos do povo da Europa, isto colocava o papa sob controle francês,
embora Avignon não fosse tecnicamente território francês. Com exceção de um período entre
1367 e 1370, a residência papal continuou sendo Avignon até 1377, com domínio absoluto
dos reis franceses. A piedosa mística, Santa Catarina de Siena, pressionou bastante a Gregório
XI para voltar a Roma, restaurar a ordem lá e reconquistar o prestígio do papado como uma
autoridade internacional independente. Em 1377, ele voltou e pôs fim ao Cativeiro
Babilônico. Quando Gregório XI morreu, no ano seguinte, os cardeais, dominados por uma
maioria francesa, foram obrigados pelo povo de Roma, que não queria perder o papado
novamente, a eleger o homem que tomaria o nome de Urbano VI. A falta de tato de Urbano
para com os cardeais tornou-os seus inimigos e eles elegeram Clemente VII como papa.
Clemente mudou imediatamente a capital para a Avignon pela segunda vez. E os dois, eleitos
pelo mesmo colégio de cardeais, alegavam ser o papa legítimo e o autêntico sucessor de São
Pedro. Isto levou o povo da Europa a decidir a que papa prestaria obediência.
3
Como podemos observar, mesmo entre aqueles que deveriam ser irrepreensíveis, que no caso aqui
seriam os dois papas eleitos, poderia se perceber a luta pelo poder. Em meio a tudo isto, ficava marcado
ainda mais que a autoridade e a moral papal já não eram as mesmas de anos anteriores. Tal desmoralização
colaborava paulatinamente para uma futura rebelião contra tal abuso e deturpação de poder eclesiástico.
1.3- A Presença dos Impostos Papais
Além da vida imoral e corrupta dos clérigos e do papa, devido ao Grande Cisma, “os impostos papais
para sustentar duas cortes papais tornaram-se uma carga pesada para o povo da Europa.”4
Ora, durante esta
época estava surgindo mudanças econômicas e sociais. E muitos que eram pobres anteriormente estavam
aumentando seu poder aquisitivo e mudando de classe social. Estes eram os formadores da classe média.
Assim, além de olhar com maus olhos a vida moral do clero da Igreja Católica, viam com maus olhos o ter que
desembolsar dinheiro para encher os cofres da referida Igreja:
Os novos e poderosos soberanos dos estados nacionais e a forte classe média que os
sustentavam sentiram o desvio de reservas do tesouro nacional para o tesouro papal. Isto foi
verdade especialmente com relação aos reis da Inglaterra e da França. Durante o longo
período do Cativeiro, no século XIV, os ingleses abominaram ter que pagar um dinheiro que
por certo ia para a França inimiga, uma vez que a residência do papa se localizava em
território dominado pelo rei francês.
5
2
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: uma história da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 199.
3
Ibid., p 201.
4
Ibid., p 201.
5
Ibid., p 201.
1.4 – A Incapacidade dos Concílios Reformadores
O último fator que contribuiu para enfraquecer o poder da Igreja Católica foi a tentativa frustrada de
reformá-la por meio de Concílios reformadores. Estes Concílios foram o Concílio de Pisa (1409), o Concílio de
Constança (1414-1418), o Concílio de Basiléia (1431-1449) e o Concílio de Ferrara-Florença (1438-1449). Era
uma tentativa de reestruturar o poder da Igreja e seu prestígio diante de todos. Resolver todos estes
problemas que estavam ocorrendo em seu meio. Todavia, a Igreja se mostrou muito mais que doente.; ela
estava na verdade moribunda. Observemos por exemplo o que aconteceu no Concílio reformista de
Constança:
O Concílio era constituído por um grupo de homens aos quais não faltavam habilidade,
inteligência e interesse. Enfim, estavam ali os melhores homens que era possível reunir
naquela época. Estavam também ali, muito bem representados, tanto a igreja como os
poderes civis, quer pessoalmente, quer por meio de embaixadores. Sem dúvida, a maioria dos
seus membros estava firmemente determinada a conseguir as reformas tão necessárias. Eram
poderosamente apoiados pela presença pessoal do imperador Sigismundo, que era ardoroso
defensor da tese reformista. Não obstante haver muita discussão sobre a reforma, o concílio,
depois de três anos de procrastinação, nada conseguiu. Os políticos representantes do papa
fizeram um astuto jogo de oposição sistemática a qualquer modificação que se chocasse com
seus altos interesses pessoais. Zelos nacionalistas dividiram os reformadores. Mas a causa real
do fracasso é que não havia entre eles bastante caráter, firmeza de propósitos, entusiasmo
moral para atingirem seu objetivo.
6
Evidentemente que, de acordo com os planos soberanos de Deus, estava chegando o momento de a
Igreja Católica receber um golpe mortal para resolver aquela situação desastrosa em que ela se encontrava.
Pois, por mais que os homens tenham tentado solucionar o problema, eles não conseguiram curar o mal que
nela se instalara:
O que verificamos de tudo isto, e que muitos homens ilustres de então já sabiam, é que não
era possível surgir dentro da igreja papal qualquer reforma cuja ação fosse iniciada por esta
organização mesma. A força do mal nela existente não podia ser destruída por ela mesma, a
despeito de toda a indignação e protesto da opinião pública da Europa. A reforma só poderia
vir por meio de uma revolução que desfizesse aquela organização.
7
Em resumo, “o insucesso na garantia de reformas efetivas lançou por terra a última oportunidade de
reforma interna da Igreja Católica Romana através das obras dos místicos, dos reformadores ou dos
concílios. A partir de então, a Reforma protestante se tornou inevitável.”8
2. Situação da Igreja no Período Anterior à Reforma
Obviamente que em meio a todos estes fatores a situação da Igreja Católica Romana diante do povo,
e de alguns católicos de pensamento reformista, não poderia ser a mesma. Sendo assim, o resultado foi cada
vez mais desfavorável a Ela. Os anseios por uma reforma na Igreja se tornavam cada vez mais presentes e
insistentes:
A degradação do papado com o Cativeiro Babilônico e com o Cisma, as explorações e
extorsões feitas pelos papas e sua intromissão em todos os negócios da igreja em toda parte,
os vícios, as ambições desmedidas, a incompetência e negligência do clero, a queda geral da
disciplina, a administração entregue às mãos dos bispos fracos e corruptos – todas essas
coisas causavam tristeza e revolta generalizadas, bem com protestos e pedidos insistentes
6
NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 151.
7
Ibid., p 151, 152.
8
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: uma história da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 210.
para que se banissem da igreja tantos males e tanta vergonha. Assim falavam muitos homens
da alta hierarquia clerical, inclusive vários bispos e cardeais. Estadistas e reis insistam em que
se fizesse alguma coisa.
9
E ainda:
[...] outros fatores contribuíram para o anticlericalismo da Europa Católica Romana. Foram
eles: A ênfase na fé ortodoxa mais do que na boa conduta, a absorção da religião pelo ritual, a
ociosidade e a esterilidade espiritual dos monges, a exploração da credulidade popular
através da venda de indulgências, do suposto poder miraculoso das relíquias, do abuso da
excomunhão, da censura pelo clero às publicações, a crueldade da inquisição, o desvios de
recursos destinados às cruzadas, e mais a afirmação de que um clero corrompido era o único
ministrador de todos os sacramentos, com exceção do batismo. Este conjunto de fatores
promoveu um total descrédito na liderança da Igreja. O título de clérigo, padre ou monge era
um termo de insulto pesado.
10
3. Fatos que Contribuíram para a Reforma
Como havíamos dito anteriormente, juntamente com o mau comportamento da Igreja Católica,
aconteceram fatores de ordem externa que colaboraram para uma reforma iminente. É o que passaremos a
abordar de agora em diante.
3.1- O Surgimento de Mudanças Econômicas
O primeiro fator, que colaborou para as mudanças do mundo pré-reforma, foi as mudanças ocorridas
no campo da economia. Um povo antes fraco economicamente, pode agora lutar por mudanças em sua
realidade social e religiosa. Era a classe média que surgia devido a mudanças nas fontes de renda:
Durante a Idade Média, a economia dos países da Europa baseava-se na agricultura, sendo
que fazia do solo a base da riqueza. Por volta de 1500, o ressurgimento das cidades, a
abertura de novos mercados e a descoberta de fontes de matéria-prima nas recentes terras
descobertas inauguraram uma era de comércio, em que a classe média mercantil tomou a
frente da nobreza feudal na liderança da sociedade... Surgiu, então, uma economia em que o
dinheiro era importante. À classe média capitalista emergente não interessava o envio de
suas riquezas à igreja universal sob a liderança do papa em Roma. Pelo menos no norte da
Europa, esta reação influenciou a Reforma.
11
3.2- O Nascimento das Nações-Estados
O segundo acontecimento que podemos nos referir que foi contrário ao poder da Igreja Católica foi o
nascimento das nações-estados. Este constituiu em um fator político muito importante para as mudanças
que estavam para ocorrer no mundo de então.
As perspectivas mudaram também no campo político. O conceito medieval de um estado
universal estava dando lugar ao novo conceito de nação-estado. Os estados, a partir do
declínio da Idade Média, começaram a se organizar em bases nacionais. Estas nações-estados,
com poder central e com governos fortes, servidas por uma força militar e civil, eram
nacionalistas, opondo-se ao domínio de um governo religioso universal. Alguns daqueles
estavam interessados em apoiar a Reforma a fim de poderem controlar mais efetivamente as
9
NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 150.
10
Fonte: http://www.e-cgadb.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=11:principios-teologicos-da-reforma-
protestante&catid=2:artigos&Itemid=9 Acessado em 08 de fevereiro de 2012, às 21:04hs.
11
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: uma história da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 222.
igrejas nacionais. A unidade política do mundo medieval foi substituída pelas nações-estados,
todas empenhadas em sua independência e soberania.
12
Estas nações-estados estavam se formando fundamentadas em condições econômicas e militares
que conseguiram alcançar devido ao surgimento das classes média em união aos reis. A oposição à Igreja
Católica, que antes era impossível de se executar, agora estava se tornando uma realidade:
Um fator político desempenhou um papel importante no declínio da influência papal na
Europa: foi o surgimento de estados nacionais que se opunham a idéia de uma soberania
universal, intrínseca às noções de Santo Império Romano e Igreja Católica Romana. O rei e a
classe média agiram juntos: o rei com seu exército nacional deu garantias a que a classe
média executasse seus negócios com segurança; a classe média, em troca, deu dinheiro para
que o rei mantivesse o Estado. O resultado foram nações-estados fortes e centralizadas o
bastante para desafiar as palavras do papa e tentar sujeitar a Igreja aos interesses nacionais
na Boêmia, França e Inglaterra.
13
E mais:
O surgimento da nação-estado significou uma oposição à Igreja Católica Romana
especialmente na França e na Inglaterra, onde os monarcas e as poderosas classes médias se
mostraram insatisfeitas com o envio de dinheiro do tesouro estatal ou de seus próprios bolsos
para o tesouro papal. A classe nobre ressentiu-se do controle de tanta terra pela Igreja de
Roma. Os reis não estavam satisfeitos com a soberania dividida que levava seus súditos a
prestar obediência tanto ao papa como a eles... Esta tendência à recusa da interferência
eclesiástica nos negócios do Estado foi uma força externa que favoreceu o trabalho dos
Reformadores quando eles entraram em cena. Note-se também que os soberanos da Europa
jamais teriam conseguido vencer o papado se não tivessem o apoio da rica classe média
formada pelo comércio emergente fomentado pelo renascimento das cidades e pela
renovação do comércio a partir de 1200. Os comerciantes da cidade e os ricos proprietários
de terras, ambos membros da classe média, sustentaram os monarcas em sua oposição ao
controle papal de suas regiões. A soberania descansava mais sobre os governantes das
nações-estado que sobre o papa.
14
3.3- A Aparição do Misticismo
Em meio a estas mudanças, houve um movimento que também colaborou com a reforma futura.
Este movimento é denominado de “Misticismo”. Este movimento surgiu, evidentemente, dentro da Igreja
Católica, aspirando um contato mais efetivo e íntimo com Deus:
O movimento místico, a forma clássica de piedade católica, decorreu de uma reação contra o
ritual sacerdotal formal e mecânico e contra o escolasticismo árido da Igreja de seu tempo.
Refletiu a tendência constante para o aspecto subjetivo do cristianismo que sempre se
manifesta quando se acentua demais os atos externos de adoração cristã. Neste sentido, o
misticismo pode ser visto como antecipador do toque mais pessoal da religião que seria uma
das características fundamentais da Reforma.
15
Apesar de não ser uma reforma na forma de governo da Igreja Católica, e nem ter alcançado
resultados transformadores ante aquela situação deprimente da Igreja, este movimento levou muitos a
buscar um melhor contato com as coisas relacionadas ao Ser divino. O movimento em si não foi programado
pela Igreja Católica, nem era um movimento oficial dela, mas surgiu naturalmente como resultado da
situação espiritual que se passava naquela época:
12
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: uma história da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 222.
13
Ibid., p 202.
14
Ibid., p 218, 219.
15
Ibid., p 204.
A volta do misticismo em momentos em que a Igreja descamba para o formalismo
testemunha o desejo do coração humano de entrar em contato direto com Deus no ato do
culto, ao invés de participar passivamente de atos de culto friamente formais celebrados pelo
sacerdote. O místico deseja um contato direto com Deus pela intuição imediata ou pela
contemplação... é a apreensão imediata de Deus numa forma extra-racional em que o místico
espera por Ele numa atitude receptiva e passiva.
16
3.4- A Renascença
Origem e características
Durante esta época surgiu um movimento que influenciou muitíssimo o mundo da época. Este
movimento ficou conhecido na história como “Renascença” ou “Renascimento”. A Renascença teve início na
Itália no século XIV, mas esteve presente em outros países da Europa no período entre 1350 e 1650. Ela
“marca a transição da era medieval para o mundo moderno”.17
Podemos definir a Renascença nos seguintes
termos:
A Renascença pode ser definida como aquele período de reorientação cultural em que os
homens trocaram a compreensão corporativa, religiosa e medieval da vida por uma visão
individualista, secular e moderna... A concepção teocêntrica medieval do mundo, em que
Deus era a medida de todas as coisas, foi substituída por uma interpretação antropocêntrica
da vida, em que o homem se tornava a medida de todas as coisas. Deu-se mais importância à
glória do homem do que à glória de Deus.
18
Como qualquer tipo de movimento ou mudança cultural, a Renascença trouxe consigo suas
características, as quais passamos enumerar suscintamente:
1-Certos personagens do começo da Renascença na Itália estavam interessados na cultura clássica ou
humanística da Grécia e de Roma. Este interesse pela literatura clássica substituiu o interesse pela teologia;
2-Os eruditos e artistas renascentistas inclinavam-se por uma visão individualista da vida (o resultado foi
a secularização);
3-Os homens da Renascença amavam a beleza na natureza e no homem. Na realidade, eles cultuavam a
beleza;
4-O interesse por esta vida e o gozo dela recebeu a primazia sobre a preocupação para com a vida futura.
Os dogmas da Igreja eram aceitos e os ritos de cultos eram praticados, mas havia um divórcio entre a vida
religiosa do homem e sua vida diária;
5-Além do desenvolvimento do interesse humano em si mesmo como um indivíduo com mente e
espírito, a Renascença resultou também no desenvolvimento de um conhecimento mais amplo do universo
físico do homem. A partir de então, o homem começou a se interessar também pelo seu ambiente, pelo que
estudos científicos e geográficos levaram a um novo mundo de ciências e um conhecimento cada vez mais
enciclopédico sobre a grandeza do mundo.19
Causa de sua existência
Que houve mudanças extraordinárias em diversas áreas do saber humano desde este período não
dúvida. Mas o que teria acontecido? Que fato gerou tamanhas mudanças em uma sociedade onde o
conhecimento era privilégio somente para uns poucos? Além disto, o pouco conhecimento que as pessoas
possuíam era “controlado” pelas ameaças da Igreja Católica, que condenava qualquer conhecimento
contrário aos seus dogmas.
16
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: uma história da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 202.
17
Ibid., p 211.
18
Ibid., p 211, 212.
19
Ibid., p 212-216.
Mesmo a Igreja Católica não prevendo os resultados disto, o fato é que houve o contato com
determinados conhecimentos que trouxeram à mente de muitos homens medievais possibilidades de
mudanças para suas vidas tanto no aspecto pessoal quanto no aspecto social:
Uma das causas principais de todo este despertar foi que ele pôs a mente da Europa em
contato com a cultura e a civilização da Grécia e de Roma, elementos esses que a Idade
Média desconheceu. Isto aconteceu principalmente em virtude do novo conhecimento do
grego que, por séculos, era uma língua desconhecida na Europa. Assim, todo o maravilhoso
mundo do pensamento clássico, da literatura e da arte, foi repentinamente descoberto.
Diante deles os homens se deslumbraram e foram despertados para grandes
empreendimentos.
20
Resultados na sociedade
Devido ao fato de os homens terem descoberto um mundo novo de conhecimento antes
desconhecido, vários foram os resultados na sociedade. Pode-se dizer que “todas as faculdades da natureza
humana foram maravilhosamente despertadas e todas as atividades humanas apresentaram extraordinário
progresso. A mente humana fez novas e esplêndidas conquistas em todas as direções.”21
Influência para a Reforma Protestante
Como era de se esperar, a influências da nova maneira de pensar não foi sentida somente por
mentes que se secularizaram como resultado. Outros humanistas ao invés de desprezarem a religião usaram
da influência da Renascença para benefício de sua vida religiosa:
Apesar da maioria da população ser controlada pela Igreja Romana, um grupo pensante
questionava as incoerências doutrinárias e morais ensinadas pela Igreja Romana. O espírito
pesquisador levou os humanistas a procurarem esclarecimento, não apenas nas respostas
prontas da tradição católica, mas a retornarem ad fontes. O estudo dos textos clássicos
impulsionaram estes pesquisadores a redescobrirem os antigos filósofos, os Pais da Igreja,
mas principalmente, o estudo das Escrituras a partir dos originais hebraico e grego.
22
E não somente influenciou na vida de pessoas que viveram antes do advento da Reforma. A
influência se deu também no pensamento dos próprios reformadores:
As transformações intelectuais provocadas pelo Renascimento, ao norte e ao sul dos Alpes,
criaram um clima intelectual que favoreceu o desenvolvimento do protestantismo. O
interesse pela volta às fontes do passado levou os humanistas cristãos do norte ao estudo da
Bíblia nas línguas originais. Deste modo, as diferenças entre a Igreja do Novo Testamento e a
Igreja Católica Romana tornaram-se claras, para prejuízo da organização eclesiástica,
medieval e papista. A ênfase renascentista no indivíduo foi um fator preponderante no
desenvolvimento do ensino protestante de que a salvação era uma questão pessoal, a ser
resolvida pelo indivíduo em íntima relação com seu Deus, sem a interferência de um
sacerdote como mediador humano. O espírito crítico do Renascimento foi usado pelos
reformadores para justificar sua crítica à hierarquia e aos sacramentos, mediante comparação
com as Escrituras. Embora o Renascimento na Itália tivesse contornos humanistas e pagãos,
as tendências que gerou foram assumidas no norte da Europa pelos humanistas e
reformadores cristãos e por eles usadas para justificar o estudo da Bíblia no original como
documento básico da fé cristã.
23
20
NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 152, 153.
21
Ibid., p 152.
22
TOKASHIKI, Ewerton B.. Comemorando a Reforma. Fonte:
<http://doutrinacalvinista.blogspot.com/search/label/Hist%C3%B3ria%20da%20Igreja>. Acessado em 09.08.2008.
23
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: uma história da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 223.

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Fatos antecedentes à reforma protestante

  • 1. FATOS ANTECEDENTES À REFORMA PROTESTANTE Introdução A Reforma é um dos pontos mais importantes a serem estudados na história da Igreja. Ela marca um momento crítico na Igreja Católica onde o clero deveria decidir se reformaria de vez a Igreja ou se conformaria com sua péssima situação espiritual como estava. A Reforma serve como um ponto de marcação para a renovação de um cristianismo centrado no ensino de Cristo e sob seu Senhorio; longe das muitas heresias e desvios da Igreja Católica. 1. Fatos que Contribuíram Contra a Igreja Católica Romana Ao se estudar a Reforma Protestante devemos levar em consideração o que estava acontecendo na sociedade daquela época. Era uma época turbulenta e com iminência de várias mudanças, às quais em conjunto levaram à Reforma. O fato de crermos que Deus estava soberanamente controlando todos os acontecimentos não implica dizer que devo pensar que todos os fatos foram somente guiados por interesses religiosos e espirituais. Ignorar os demais fatos ocorridos antes da Reforma não faz de nós protestantes mais espirituais; bem como negar a importância das questões espirituais da Reforma não é uma interpretação sadia dos fatos, como o faz alguns historiadores. Devemos ser prudentes ao interpretar a História para não sermos nem ingênuos, nem racionalistas: É claro que de acordo com os pressupostos históricos que o historiador vier aplicar na interpretação da reforma, irá determinar a sua causa. Assim, temos várias correntes e escolas pelas quais os historiadores farão sua análise crítica da reforma de maneira puramente racionalista secular, tais como aquelas que só vêem as causas da reforma nos fatores político- sociais, outros no fator da economia e outros ainda vêem a reforma puramente como produto do intelectualismo. Entretanto, uma cosmovisão puramente racionalista tende a distorcer a definição e dar razões incompletas e deficientes à verdadeira origem da reforma. Ora, se analisarmos o assunto somente sob a ótica religiosa, ignorando a corroboração de todos esses fatores seculares e o impacto que tiveram sobre o movimento reformista é tão errado quanto analisar a reforma sem levar em conta a sua principal causa, qual seja, a religiosa. 1 Variados são os fatores que estavam “minando” a autoridade e o poder da Igreja Romana nesta época. Alguns destes fatores eram oriundos das próprias atitudes errôneas da Igreja Católica em relação à espiritualidade e ao povo. Contudo, concomitantemente a estes, também surgiram fatores externos que colaboraram para que a Reforma chegasse com a grande força com a qual ela chegou. 1.1- Declínio Moral do Clero Um dos fatores que alimentou os ânimos do povo contra a Igreja Católica era vida desmoralizada de seus clérigos. Como sabemos, a vida dos sacerdotes no período da Igreja Medieval foi marcada por imoralidade, corrupção, desrespeito a Deus, e desconsideração pelo povo massacrado pelas injustiças sociais. No período que antecedeu a Reforma Protestante, a situação não havia melhorado. Ao invés de ser um “braço forte” ao povo, um exemplo de santidade de vida; os sacerdotes embrenharam-se em caminhos nada puros. É sabido, por exemplo, que dentre o clero “muitos sacerdotes tomaram concubinas ou se perderam em casos de amor ilícito com mulheres de suas congregações. Alguns tiveram que enfrentar o 1 MARTINEZ, João Flávio, http://www.cacp.org.br/estudos/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=870&menu=7&submenu=3 Acessado em 08 de fevereiro de 2012 21:07hs.
  • 2. problema de cuidar dos filhos nascidos dessas uniões e davam mais atenção a eles que a suas tarefas clericais. Outros especialmente durante a Renascença, gozavam uma vida de luxúria.”2 1.2- A Ocorrência do Cativeiro Babilônico e do Grande Cisma A vida desregrada e corrupta não atingiu somente os sacerdotes, pois até mesmo o papado estava sujeito a desvios de conduta crassos. Foi o caso, por exemplo, dos dois eventos conhecidos como o Cativeiro Babilônico e o Grande Cisma. Por causa destes eventos o papa também perde a consideração e o crédito que possuía por parte do povo. Mas em que consistiram estes eventos? O que aconteceu neste período da Igreja Católica. É o que veremos abaixo na explicação: Clemente V, um francês escolhido papa pelos cardeais em 1305, era fraco e de moral duvidosa. Influenciado pelo rei francês, mudou o papado, de Roma para Avignon, no sul da França, em 1309. Aos olhos do povo da Europa, isto colocava o papa sob controle francês, embora Avignon não fosse tecnicamente território francês. Com exceção de um período entre 1367 e 1370, a residência papal continuou sendo Avignon até 1377, com domínio absoluto dos reis franceses. A piedosa mística, Santa Catarina de Siena, pressionou bastante a Gregório XI para voltar a Roma, restaurar a ordem lá e reconquistar o prestígio do papado como uma autoridade internacional independente. Em 1377, ele voltou e pôs fim ao Cativeiro Babilônico. Quando Gregório XI morreu, no ano seguinte, os cardeais, dominados por uma maioria francesa, foram obrigados pelo povo de Roma, que não queria perder o papado novamente, a eleger o homem que tomaria o nome de Urbano VI. A falta de tato de Urbano para com os cardeais tornou-os seus inimigos e eles elegeram Clemente VII como papa. Clemente mudou imediatamente a capital para a Avignon pela segunda vez. E os dois, eleitos pelo mesmo colégio de cardeais, alegavam ser o papa legítimo e o autêntico sucessor de São Pedro. Isto levou o povo da Europa a decidir a que papa prestaria obediência. 3 Como podemos observar, mesmo entre aqueles que deveriam ser irrepreensíveis, que no caso aqui seriam os dois papas eleitos, poderia se perceber a luta pelo poder. Em meio a tudo isto, ficava marcado ainda mais que a autoridade e a moral papal já não eram as mesmas de anos anteriores. Tal desmoralização colaborava paulatinamente para uma futura rebelião contra tal abuso e deturpação de poder eclesiástico. 1.3- A Presença dos Impostos Papais Além da vida imoral e corrupta dos clérigos e do papa, devido ao Grande Cisma, “os impostos papais para sustentar duas cortes papais tornaram-se uma carga pesada para o povo da Europa.”4 Ora, durante esta época estava surgindo mudanças econômicas e sociais. E muitos que eram pobres anteriormente estavam aumentando seu poder aquisitivo e mudando de classe social. Estes eram os formadores da classe média. Assim, além de olhar com maus olhos a vida moral do clero da Igreja Católica, viam com maus olhos o ter que desembolsar dinheiro para encher os cofres da referida Igreja: Os novos e poderosos soberanos dos estados nacionais e a forte classe média que os sustentavam sentiram o desvio de reservas do tesouro nacional para o tesouro papal. Isto foi verdade especialmente com relação aos reis da Inglaterra e da França. Durante o longo período do Cativeiro, no século XIV, os ingleses abominaram ter que pagar um dinheiro que por certo ia para a França inimiga, uma vez que a residência do papa se localizava em território dominado pelo rei francês. 5 2 CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: uma história da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 199. 3 Ibid., p 201. 4 Ibid., p 201. 5 Ibid., p 201.
  • 3. 1.4 – A Incapacidade dos Concílios Reformadores O último fator que contribuiu para enfraquecer o poder da Igreja Católica foi a tentativa frustrada de reformá-la por meio de Concílios reformadores. Estes Concílios foram o Concílio de Pisa (1409), o Concílio de Constança (1414-1418), o Concílio de Basiléia (1431-1449) e o Concílio de Ferrara-Florença (1438-1449). Era uma tentativa de reestruturar o poder da Igreja e seu prestígio diante de todos. Resolver todos estes problemas que estavam ocorrendo em seu meio. Todavia, a Igreja se mostrou muito mais que doente.; ela estava na verdade moribunda. Observemos por exemplo o que aconteceu no Concílio reformista de Constança: O Concílio era constituído por um grupo de homens aos quais não faltavam habilidade, inteligência e interesse. Enfim, estavam ali os melhores homens que era possível reunir naquela época. Estavam também ali, muito bem representados, tanto a igreja como os poderes civis, quer pessoalmente, quer por meio de embaixadores. Sem dúvida, a maioria dos seus membros estava firmemente determinada a conseguir as reformas tão necessárias. Eram poderosamente apoiados pela presença pessoal do imperador Sigismundo, que era ardoroso defensor da tese reformista. Não obstante haver muita discussão sobre a reforma, o concílio, depois de três anos de procrastinação, nada conseguiu. Os políticos representantes do papa fizeram um astuto jogo de oposição sistemática a qualquer modificação que se chocasse com seus altos interesses pessoais. Zelos nacionalistas dividiram os reformadores. Mas a causa real do fracasso é que não havia entre eles bastante caráter, firmeza de propósitos, entusiasmo moral para atingirem seu objetivo. 6 Evidentemente que, de acordo com os planos soberanos de Deus, estava chegando o momento de a Igreja Católica receber um golpe mortal para resolver aquela situação desastrosa em que ela se encontrava. Pois, por mais que os homens tenham tentado solucionar o problema, eles não conseguiram curar o mal que nela se instalara: O que verificamos de tudo isto, e que muitos homens ilustres de então já sabiam, é que não era possível surgir dentro da igreja papal qualquer reforma cuja ação fosse iniciada por esta organização mesma. A força do mal nela existente não podia ser destruída por ela mesma, a despeito de toda a indignação e protesto da opinião pública da Europa. A reforma só poderia vir por meio de uma revolução que desfizesse aquela organização. 7 Em resumo, “o insucesso na garantia de reformas efetivas lançou por terra a última oportunidade de reforma interna da Igreja Católica Romana através das obras dos místicos, dos reformadores ou dos concílios. A partir de então, a Reforma protestante se tornou inevitável.”8 2. Situação da Igreja no Período Anterior à Reforma Obviamente que em meio a todos estes fatores a situação da Igreja Católica Romana diante do povo, e de alguns católicos de pensamento reformista, não poderia ser a mesma. Sendo assim, o resultado foi cada vez mais desfavorável a Ela. Os anseios por uma reforma na Igreja se tornavam cada vez mais presentes e insistentes: A degradação do papado com o Cativeiro Babilônico e com o Cisma, as explorações e extorsões feitas pelos papas e sua intromissão em todos os negócios da igreja em toda parte, os vícios, as ambições desmedidas, a incompetência e negligência do clero, a queda geral da disciplina, a administração entregue às mãos dos bispos fracos e corruptos – todas essas coisas causavam tristeza e revolta generalizadas, bem com protestos e pedidos insistentes 6 NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 151. 7 Ibid., p 151, 152. 8 CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: uma história da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 210.
  • 4. para que se banissem da igreja tantos males e tanta vergonha. Assim falavam muitos homens da alta hierarquia clerical, inclusive vários bispos e cardeais. Estadistas e reis insistam em que se fizesse alguma coisa. 9 E ainda: [...] outros fatores contribuíram para o anticlericalismo da Europa Católica Romana. Foram eles: A ênfase na fé ortodoxa mais do que na boa conduta, a absorção da religião pelo ritual, a ociosidade e a esterilidade espiritual dos monges, a exploração da credulidade popular através da venda de indulgências, do suposto poder miraculoso das relíquias, do abuso da excomunhão, da censura pelo clero às publicações, a crueldade da inquisição, o desvios de recursos destinados às cruzadas, e mais a afirmação de que um clero corrompido era o único ministrador de todos os sacramentos, com exceção do batismo. Este conjunto de fatores promoveu um total descrédito na liderança da Igreja. O título de clérigo, padre ou monge era um termo de insulto pesado. 10 3. Fatos que Contribuíram para a Reforma Como havíamos dito anteriormente, juntamente com o mau comportamento da Igreja Católica, aconteceram fatores de ordem externa que colaboraram para uma reforma iminente. É o que passaremos a abordar de agora em diante. 3.1- O Surgimento de Mudanças Econômicas O primeiro fator, que colaborou para as mudanças do mundo pré-reforma, foi as mudanças ocorridas no campo da economia. Um povo antes fraco economicamente, pode agora lutar por mudanças em sua realidade social e religiosa. Era a classe média que surgia devido a mudanças nas fontes de renda: Durante a Idade Média, a economia dos países da Europa baseava-se na agricultura, sendo que fazia do solo a base da riqueza. Por volta de 1500, o ressurgimento das cidades, a abertura de novos mercados e a descoberta de fontes de matéria-prima nas recentes terras descobertas inauguraram uma era de comércio, em que a classe média mercantil tomou a frente da nobreza feudal na liderança da sociedade... Surgiu, então, uma economia em que o dinheiro era importante. À classe média capitalista emergente não interessava o envio de suas riquezas à igreja universal sob a liderança do papa em Roma. Pelo menos no norte da Europa, esta reação influenciou a Reforma. 11 3.2- O Nascimento das Nações-Estados O segundo acontecimento que podemos nos referir que foi contrário ao poder da Igreja Católica foi o nascimento das nações-estados. Este constituiu em um fator político muito importante para as mudanças que estavam para ocorrer no mundo de então. As perspectivas mudaram também no campo político. O conceito medieval de um estado universal estava dando lugar ao novo conceito de nação-estado. Os estados, a partir do declínio da Idade Média, começaram a se organizar em bases nacionais. Estas nações-estados, com poder central e com governos fortes, servidas por uma força militar e civil, eram nacionalistas, opondo-se ao domínio de um governo religioso universal. Alguns daqueles estavam interessados em apoiar a Reforma a fim de poderem controlar mais efetivamente as 9 NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 150. 10 Fonte: http://www.e-cgadb.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=11:principios-teologicos-da-reforma- protestante&catid=2:artigos&Itemid=9 Acessado em 08 de fevereiro de 2012, às 21:04hs. 11 CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: uma história da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 222.
  • 5. igrejas nacionais. A unidade política do mundo medieval foi substituída pelas nações-estados, todas empenhadas em sua independência e soberania. 12 Estas nações-estados estavam se formando fundamentadas em condições econômicas e militares que conseguiram alcançar devido ao surgimento das classes média em união aos reis. A oposição à Igreja Católica, que antes era impossível de se executar, agora estava se tornando uma realidade: Um fator político desempenhou um papel importante no declínio da influência papal na Europa: foi o surgimento de estados nacionais que se opunham a idéia de uma soberania universal, intrínseca às noções de Santo Império Romano e Igreja Católica Romana. O rei e a classe média agiram juntos: o rei com seu exército nacional deu garantias a que a classe média executasse seus negócios com segurança; a classe média, em troca, deu dinheiro para que o rei mantivesse o Estado. O resultado foram nações-estados fortes e centralizadas o bastante para desafiar as palavras do papa e tentar sujeitar a Igreja aos interesses nacionais na Boêmia, França e Inglaterra. 13 E mais: O surgimento da nação-estado significou uma oposição à Igreja Católica Romana especialmente na França e na Inglaterra, onde os monarcas e as poderosas classes médias se mostraram insatisfeitas com o envio de dinheiro do tesouro estatal ou de seus próprios bolsos para o tesouro papal. A classe nobre ressentiu-se do controle de tanta terra pela Igreja de Roma. Os reis não estavam satisfeitos com a soberania dividida que levava seus súditos a prestar obediência tanto ao papa como a eles... Esta tendência à recusa da interferência eclesiástica nos negócios do Estado foi uma força externa que favoreceu o trabalho dos Reformadores quando eles entraram em cena. Note-se também que os soberanos da Europa jamais teriam conseguido vencer o papado se não tivessem o apoio da rica classe média formada pelo comércio emergente fomentado pelo renascimento das cidades e pela renovação do comércio a partir de 1200. Os comerciantes da cidade e os ricos proprietários de terras, ambos membros da classe média, sustentaram os monarcas em sua oposição ao controle papal de suas regiões. A soberania descansava mais sobre os governantes das nações-estado que sobre o papa. 14 3.3- A Aparição do Misticismo Em meio a estas mudanças, houve um movimento que também colaborou com a reforma futura. Este movimento é denominado de “Misticismo”. Este movimento surgiu, evidentemente, dentro da Igreja Católica, aspirando um contato mais efetivo e íntimo com Deus: O movimento místico, a forma clássica de piedade católica, decorreu de uma reação contra o ritual sacerdotal formal e mecânico e contra o escolasticismo árido da Igreja de seu tempo. Refletiu a tendência constante para o aspecto subjetivo do cristianismo que sempre se manifesta quando se acentua demais os atos externos de adoração cristã. Neste sentido, o misticismo pode ser visto como antecipador do toque mais pessoal da religião que seria uma das características fundamentais da Reforma. 15 Apesar de não ser uma reforma na forma de governo da Igreja Católica, e nem ter alcançado resultados transformadores ante aquela situação deprimente da Igreja, este movimento levou muitos a buscar um melhor contato com as coisas relacionadas ao Ser divino. O movimento em si não foi programado pela Igreja Católica, nem era um movimento oficial dela, mas surgiu naturalmente como resultado da situação espiritual que se passava naquela época: 12 CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: uma história da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 222. 13 Ibid., p 202. 14 Ibid., p 218, 219. 15 Ibid., p 204.
  • 6. A volta do misticismo em momentos em que a Igreja descamba para o formalismo testemunha o desejo do coração humano de entrar em contato direto com Deus no ato do culto, ao invés de participar passivamente de atos de culto friamente formais celebrados pelo sacerdote. O místico deseja um contato direto com Deus pela intuição imediata ou pela contemplação... é a apreensão imediata de Deus numa forma extra-racional em que o místico espera por Ele numa atitude receptiva e passiva. 16 3.4- A Renascença Origem e características Durante esta época surgiu um movimento que influenciou muitíssimo o mundo da época. Este movimento ficou conhecido na história como “Renascença” ou “Renascimento”. A Renascença teve início na Itália no século XIV, mas esteve presente em outros países da Europa no período entre 1350 e 1650. Ela “marca a transição da era medieval para o mundo moderno”.17 Podemos definir a Renascença nos seguintes termos: A Renascença pode ser definida como aquele período de reorientação cultural em que os homens trocaram a compreensão corporativa, religiosa e medieval da vida por uma visão individualista, secular e moderna... A concepção teocêntrica medieval do mundo, em que Deus era a medida de todas as coisas, foi substituída por uma interpretação antropocêntrica da vida, em que o homem se tornava a medida de todas as coisas. Deu-se mais importância à glória do homem do que à glória de Deus. 18 Como qualquer tipo de movimento ou mudança cultural, a Renascença trouxe consigo suas características, as quais passamos enumerar suscintamente: 1-Certos personagens do começo da Renascença na Itália estavam interessados na cultura clássica ou humanística da Grécia e de Roma. Este interesse pela literatura clássica substituiu o interesse pela teologia; 2-Os eruditos e artistas renascentistas inclinavam-se por uma visão individualista da vida (o resultado foi a secularização); 3-Os homens da Renascença amavam a beleza na natureza e no homem. Na realidade, eles cultuavam a beleza; 4-O interesse por esta vida e o gozo dela recebeu a primazia sobre a preocupação para com a vida futura. Os dogmas da Igreja eram aceitos e os ritos de cultos eram praticados, mas havia um divórcio entre a vida religiosa do homem e sua vida diária; 5-Além do desenvolvimento do interesse humano em si mesmo como um indivíduo com mente e espírito, a Renascença resultou também no desenvolvimento de um conhecimento mais amplo do universo físico do homem. A partir de então, o homem começou a se interessar também pelo seu ambiente, pelo que estudos científicos e geográficos levaram a um novo mundo de ciências e um conhecimento cada vez mais enciclopédico sobre a grandeza do mundo.19 Causa de sua existência Que houve mudanças extraordinárias em diversas áreas do saber humano desde este período não dúvida. Mas o que teria acontecido? Que fato gerou tamanhas mudanças em uma sociedade onde o conhecimento era privilégio somente para uns poucos? Além disto, o pouco conhecimento que as pessoas possuíam era “controlado” pelas ameaças da Igreja Católica, que condenava qualquer conhecimento contrário aos seus dogmas. 16 CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: uma história da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 202. 17 Ibid., p 211. 18 Ibid., p 211, 212. 19 Ibid., p 212-216.
  • 7. Mesmo a Igreja Católica não prevendo os resultados disto, o fato é que houve o contato com determinados conhecimentos que trouxeram à mente de muitos homens medievais possibilidades de mudanças para suas vidas tanto no aspecto pessoal quanto no aspecto social: Uma das causas principais de todo este despertar foi que ele pôs a mente da Europa em contato com a cultura e a civilização da Grécia e de Roma, elementos esses que a Idade Média desconheceu. Isto aconteceu principalmente em virtude do novo conhecimento do grego que, por séculos, era uma língua desconhecida na Europa. Assim, todo o maravilhoso mundo do pensamento clássico, da literatura e da arte, foi repentinamente descoberto. Diante deles os homens se deslumbraram e foram despertados para grandes empreendimentos. 20 Resultados na sociedade Devido ao fato de os homens terem descoberto um mundo novo de conhecimento antes desconhecido, vários foram os resultados na sociedade. Pode-se dizer que “todas as faculdades da natureza humana foram maravilhosamente despertadas e todas as atividades humanas apresentaram extraordinário progresso. A mente humana fez novas e esplêndidas conquistas em todas as direções.”21 Influência para a Reforma Protestante Como era de se esperar, a influências da nova maneira de pensar não foi sentida somente por mentes que se secularizaram como resultado. Outros humanistas ao invés de desprezarem a religião usaram da influência da Renascença para benefício de sua vida religiosa: Apesar da maioria da população ser controlada pela Igreja Romana, um grupo pensante questionava as incoerências doutrinárias e morais ensinadas pela Igreja Romana. O espírito pesquisador levou os humanistas a procurarem esclarecimento, não apenas nas respostas prontas da tradição católica, mas a retornarem ad fontes. O estudo dos textos clássicos impulsionaram estes pesquisadores a redescobrirem os antigos filósofos, os Pais da Igreja, mas principalmente, o estudo das Escrituras a partir dos originais hebraico e grego. 22 E não somente influenciou na vida de pessoas que viveram antes do advento da Reforma. A influência se deu também no pensamento dos próprios reformadores: As transformações intelectuais provocadas pelo Renascimento, ao norte e ao sul dos Alpes, criaram um clima intelectual que favoreceu o desenvolvimento do protestantismo. O interesse pela volta às fontes do passado levou os humanistas cristãos do norte ao estudo da Bíblia nas línguas originais. Deste modo, as diferenças entre a Igreja do Novo Testamento e a Igreja Católica Romana tornaram-se claras, para prejuízo da organização eclesiástica, medieval e papista. A ênfase renascentista no indivíduo foi um fator preponderante no desenvolvimento do ensino protestante de que a salvação era uma questão pessoal, a ser resolvida pelo indivíduo em íntima relação com seu Deus, sem a interferência de um sacerdote como mediador humano. O espírito crítico do Renascimento foi usado pelos reformadores para justificar sua crítica à hierarquia e aos sacramentos, mediante comparação com as Escrituras. Embora o Renascimento na Itália tivesse contornos humanistas e pagãos, as tendências que gerou foram assumidas no norte da Europa pelos humanistas e reformadores cristãos e por eles usadas para justificar o estudo da Bíblia no original como documento básico da fé cristã. 23 20 NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 152, 153. 21 Ibid., p 152. 22 TOKASHIKI, Ewerton B.. Comemorando a Reforma. Fonte: <http://doutrinacalvinista.blogspot.com/search/label/Hist%C3%B3ria%20da%20Igreja>. Acessado em 09.08.2008. 23 CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: uma história da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 223.