Este documento responde perguntas frequentes sobre missões e evangelismo. Ele esclarece que: 1) esposas crentes podem compartilhar o evangelho com seus maridos, apesar de não deverem forçá-los; 2) o sucesso das conversões não determina se alguém está sendo usado por Deus; 3) a falta de prazer em evangelizar não significa falta de salvação.
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
ESCLARECIMENTO DE DÚVIDAS MISSIONÁRIAS
1. ESCLARECIMENTO DE DÚVIDAS SOBRE MISSÕES
1- Uma mulher evangélica casada com um marido ímpio nunca deve pregar o evangelho para ele (1Pe 3:1-
2)?
Se o apóstolo Pedro tivesse dito isto ele teria sido contra o próprio Cristo, o qual mandou que se
evangelizasse toda criatura (Mc 16:15). O que Pedro diz é que as esposas crentes devem prezar mais pelo
testemunho cristão, do que pelo discurso proclamador evangelístico. Contudo, havendo oportunidade de
falar do evangelho, ela poderia aproveitá-la.
2- Se ninguém nunca se converteu por meio de minha proclamação evangelística quer dizer que não estou
sendo usado por Deus? Ou que não tenho o dom de evangelismo?
Precisamos ser cuidadosos nessas afirmações. Uma coisa é dizer que Deus não quis converter ninguém
utilizando a sua proclamação evangelística, e outra é afirmar que você não está sendo usado por Ele! O
problema aqui é com o conceito do que significa “ser usado por Deus”. Se você diz que ser usado por Deus
é sinônimo de converter muita gente, esta idéia está equivocada, pois a Bíblia não diz que somos usados
por Deus ao realizar grandes obras, ou ser um canal utilizado para converter pecadores! O ensino da
Bíblia é que somos usados por Deus quando fazemos a vontade de Deus, independente do tamanho da obra
realizada. Se você é fiel proclamando o evangelho, não importa se haverá milhares de conversões, ou se
ninguém se converterá.
Quanto à questão de ter ou não o dom de evangelismo, o dom não é comprovado pelos seus
resultados, mas pela sua capacitação, sua habilidade. Por exemplo, se um pastor prega a Palavra numa
igreja, mas a congregação não muda de vida, quer dizer que este não tem o dom de pastor? Devemos ver a
habilidade com que se executa o dom e não o resultado que ele traz consigo. O exercício do dom é
responsabilidade nossa, o resultado é obra divina.
3- Quem não gosta de evangelizar é porque não é verdadeiramente salvo?
O fato de alguém ainda não ter sido alvo da Iluminação do Espírito Santo para entender que é dever dele
evangelizar, ou se alguém ainda tem o coração duro e rebelde a ponto de não ter prazer neste trabalho,
não significa necessariamente que não é um cristão autêntico. Isto é uma questão de maturidade cristã, e
não de salvação.
4- Uma igreja que não tem condições de investir em missões transculturais está em pecado?
Afirmar que uma igreja sem condições de investir em missões transculturais está em pecado é um tanto
precipitado, dependendo do que entendemos pela expressão “investir em missões transculturais”. Por
exemplo, se com esta expressão queremos dizer sustentar um trabalho transcultural, ou sustentar um
obreiro transcultural, então esta afirmação está falha visto que nem toda igreja local tem condições para
tal. Contudo, se a expressão “investir em missões transculturais” quer dizer “não pode contribuir com
nada neste sentido”, então pode haver falha de pensamento. A igreja está equivocada com respeito a
investir em missões. A igreja deve investir na obra missionária, mas a Bíblia não diz que deve ser muito ou
pouco. O pouco que uma igreja local investir em missões transculturais, é aceito por Deus tanto quanto um
grande investimento de uma igreja local mais abastada. Deus não olha o tamanho do investimento, mas o
coração da igreja ou ofertante. Ainda outra questão a se considerar é que uma igreja local pode estar
investindo em missões em sua própria cultura, por isto não significa que deve investir também,
simultaneamente, em missões transculturais. Nem toda igreja é capaz de investir em mais de um projeto
missionário.
2. 5- É errado colocar um obreiro em um trabalho missionário sem que ele tenha preparação doutrinária
formal (acadêmica)?
Dizer que é errado, é chamar de pecado o que Deus não chamou. Porém, se temos condições e
oportunidades de se colocar alguém com capacitação, então porque colocar um obreiro que não maneja
bem a Palavra (2Tm 2:15)? Isto sim seria no mínimo negligente ou irresponsável! Se Paulo prezava para
que os líderes tivessem conhecimento da Bíblia para exercerem o ministério pastoral (1Tm 3:2; Tt 1:9),
então não podemos desejar aquém disto para os missionários! Devemos procurar fazer o melhor para a
igreja. Assim, o ideal é que os obreiros tenham preparação acadêmica, mas não havendo, isto não significa
automaticamente pecado, visto que não existia formação acadêmica durante muitos anos na Igreja, e nem
por isto deixou de haver missionários para fazer a obra. Contudo, não tendo condições, ou oportunidades,
para se colocar alguém com preparação doutrinária formal, é dever dos líderes dar continuidade ao
trabalho missionário mesmo com a ausência daqueles.
6- Por que oro há tantos anos e não vi ainda a conversão da pessoa por quem peço conversão?
Esta é uma situação presente em várias famílias cristãs pelo mundo afora. O cristão precisa entender que o
fato de ele orar pela conversão de alguém não significa que esta pessoa seja uma eleita de Deus e se
converterá. A nossa oração não muda os planos de eleição e salvação que Deus já fez desde a eternidade.
É dever nosso orar, mas não é dever de Deus converter quem nós desejamos que se converta.
7- Preciso “evangelizar” meus filhos, visto que são eles já são nascidos em lar cristão?
Com toda certeza deve-se ensinar o evangelho da salvação aos filhos. O fato de serem nascidos em lar
cristão não os faz automaticamente convertidos. Como disse Jesus: “[...] o que é nascido da carne é carne”
e “[...] é necessário nascer de novo”(Jo 3:3-7). Portanto, assim como um incrédulo precisa ouvir o
evangelho para ser salvo, assim também acontece com aqueles que são filhos de pais crentes.
8- O que devo fazer, pois quando vou evangelizar “dá um branco na mente” e não consigo pensar em nada
para falar?!
Isto pode acontecer por duas razões: A falta de conhecimento bíblico, e o nervosismo na hora de falar o
evangelho. Neste caso, você deve tomar duas atitudes: A primeira é se familiarizar mais com a Bíblia a fim
de saber o conteúdo do evangelho de forma fácil e clara; e a segunda atitude é fazer do evangelismo um
exercício prático. Muitos não sabem o que dizer porque na verdade não tem o costume de evangelizar. Se
quisermos a perfeição, devemos praticar. Quanto mais evangelizarmos, mais prática teremos em fazê-lo, e
o faremos cada vez de forma melhor.
9- Por que um missionário não pode batizar e celebrar a Ceia do Senhor no seu campo de trabalho?
Na teologia reformada se entende que a Ceia do Senhor e o batismo só devem ser ministrados por ministros
do evangelho devidamente ordenados. Os sacramentos estão intimamente ligados à Palavra, e, portanto, os
pastores que são responsáveis pela pregação oficial da Palavra na igreja, é que devem ministrar os
sacramentos.
10- Até quando devo continuar evangelizando uma pessoa que não quer saber do evangelho?
Esta é uma pergunta interessante, pois os crentes acham que devem sempre pregar e insistir com
aqueles que não aceitam a mensagem do evangelho. Porém, não é bem assim que as Escrituras ensinam.
Existem aquelas pessoas que desprezam e escarnecem tanto o evangelho, que devemos ser cautelosos a fim
de não valorizar mais as pessoas do que a mensagem pregada. Vejamos o ensinamento de Jesus em (Mt
7:6):
3. Portanto, os "cães" e "porcos" com os quais estamos proibidos de partilhar as pérolas do
Evangelho não são simplesmente os incrédulos. Devem ser, antes, aqueles que tiveram
ampla oportunidade de ouvir e aceitar as boas novas, mas que determinadamente (e até
mesmo provocadoramente) as rejeitaram. "É preciso entender", escreveu Calvino com
sabedoria, "que cães e porcos são nomes que foram dados, não a toda espécie de homens
debochados, ou àqueles que são destituídos do temor de Deus e da verdadeira piedade, mas
àqueles que, através de evidências claras, manifestaram um desrespeito obstinado para com
Deus, de modo que sua condição parece ser incurável"... O fato é que persistir em oferecer o
Evangelho a essas pessoas, além de um determinado ponto, é provocar sua rejeição com
desprezo e até mesmo com blasfêmias... “Nosso testemunho cristão e pregação evangelística
não devem, portanto, ser totalmente indiscriminados. Se as pessoas tiveram muita
oportunidade de ouvir a verdade mas não a aceitaram, se elas obstinadamente voltam
suas costas a Cristo, se (em outras palavras) elas se colocam na categoria de "cães" e
"porcos”, não devemos continuar pregando-lhes indefinidamente, pois assim estaremos
amesquinhando o evangelho de Deus e permitindo que ele seja espezinhado. Pode
alguma coisa ser mais depravada do que confundir a preciosa pérola de Deus com
uma coisa sem valor e praticamente pisoteá-la na lama? Ao mesmo tempo, desistir das
pessoas é um passo muito sério. Eu me lembro de apenas uma ou duas ocasiões em minha
experiência quando senti que devia fazê-lo. Este ensinamento de Jesus é apenas para
situações excepcionais; nosso dever cristão normal é ser paciente e perseverar com as
pessoas, como Deus pacientemente perseverou conosco.1
E ainda:
[...] os discípulos de cristo não devem continuar sempre levando a mensagem do evangelho
aos que dela escarnecem. Certamente que deve-se exercer a paciência, porém deve haver
limite. Chega-se o momento quando a resistência constante ao convite da graça deve ser
punida com a retirada dos mensageiros das boas novas.2
11- Como evangelizar se nunca tenho oportunidades para fazê-lo?
Afirmar que não temos oportunidades para evangelizar é típico de dois tipos de pessoas: Aquelas que não
querem evangelizar e dão esta desculpa, e aquelas que não sabem aproveitar as oportunidades. Por que
uma coisa é certa: “Oportunidades nós temos muitas”! Nós temos que compreender que quanto mais nos
damos à obra de evangelização, mais observaremos claramente as oportunidades da fazer esta obra.
Todavia, se não somos acostumados, não teremos o costume e o discernimento para aproveitar tais
oportunidades. Aliás, deveríamos criar oportunidades, e não somente esperá-las.
12- Quem quer se preparar melhor para a obra missionária precisa fazer seminário?
O indivíduo não precisa necessariamente ingressar num Seminário. Existem hoje vários cursos médios em
teologia ou missões, os quais ajudarão os que desejam se preparar melhor. Isto digo aos que desejam
“viver do evangelho”3
sendo missionários formais. Aos demais, pode-se estudar informalmente, ou fazer
cursos mais simples em conteúdo.
13- O novo convertido pode fazer missões?
Não há nas Escrituras nenhuma ordem ou orientação quanto a isto. Entretanto, antes que o novo
convertido venha a se envolver em tal obra, é interessante que aprenda mais sobre a mensagem do
1
STOTT, John R. W. A Mensagem do Sermão do Monte. São Paulo, ABU, 1985, p 191, 192.
2
HENDRIKSEN, William. Mateus. Vol I. São Paulo, Cultura Cristã, 2001, p 507.
3
Ou seja, ser missionário contratado por uma igreja ou por uma agência missionária.
4. evangelho para que não encontre maiores dificuldades no momento de explicar a alguém a mensagem de
salvação. O indivíduo que ouve o evangelho poderá fazer perguntas que o novo convertido não saberá
responder; e assim, o ouvinte não irá dar muita atenção a alguém que nem mesmo sabe explicar o que está
proclamando. Preparar-se mais não é uma questão de mandamento bíblico, mas de sabedoria com relação
a pratica da evangelização. Há muitos crentes já antigos na igreja os quais poderão dar exemplo aos novos
convertidos sem que estes precisem se envolver em obra tão importante sem o mínimo de preparo.
14- Se não houver conversões, implica que a obra de evangelização foi falha em algum aspecto?
É verdade que se a mensagem de evangelização não for a correta, ou seja, realizada de acordo com o
conteúdo bíblico, não haverá conversões. Contudo, ainda que a mensagem de evangelização seja fiel às
Escrituras, não implica que haverá conversões indubitavelmente.
15- Como evangelizar se não sei como fazer?
Nesta situação a pessoa deve procurar aprender com crentes mais experientes e/ou com o pastor da igreja.
Ninguém nasce sabendo de tudo. Basta praticar constantemente, observando como os outros crentes fazem,
a fim de aprender o que devem e o que não devem fazer. Com o tempo, evangelizar se tornará algo fácil de
executar. Além disto, o Espírito Santo certamente lhe auxiliará neste trabalho, pois a obra missionária é
primeiramente um desejo de Deus.