O documento resume respostas de Marcos Veiga, especialista em mastite bovina, a 10 perguntas sobre controle e prevenção da doença. Ele discute questões como a contagem de células somáticas ideal, produtos para pré e pós-dipping, causas de mastite em novilhas e estratégias para S. aureus. Veiga também fala sobre tempo de ação da ocitocina e riscos de sobreordenha.
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A mastite continua sendo uma das doenças que mais causam prejuízos
para a pecuária leiteira em nível mundial. Não é sem razão que esta doença
é uma das mais pesquisadas e tem recebido grande atenção da pesquisa e
da busca por soluções.
Para auxiliar aqueles que têm dúvidas no momento de definir os melhores
métodos de controle e prevenção da mastite bovina, selecionamos algumas
perguntas respondidas por Marcos Veiga, professor da FMVZ-USP e um dos
maiores especialistas no assunto.
Marcos Veiga médico veterinário, mestre em Nutrição
Animal pela FMVZ-USP e doutor em Ciência dos Alimentos
pela Universidade de São Paulo. Desde 2001, é Professor
Associado 3 do Departamento de Nutrição e Produção
Animal da FMVZ-USP e bolsista de Produtividade em
Pesquisa - CNPq PQ 2, desde março/2010. Foi Presidente
do Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite (CBQL) de
2009 a 2011. Atua na área de Medicina Veterinária, com
ênfase em Qualidade do Leite, Controle de Mastite e
Nutrição de vaca leiteira.
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1. Estive em um evento da área e o palestrante comentou que o animal deve
ter uma quantidade mínima de células somáticas para manter uma resposta
primária frente à invasão de algum micro-organismo, e a quantidade
relatada foi de aproximadamente 75 mil células/ml. Em outra situação, outro
profissional afirmou que não há a necessidade de uma quantidade mínima
de células, podendo inclusive ser uma quantidade muita baixa e, o que
importa, é a capacidade da vaca em responder de forma rápida e eficiente
frente à invasão do micro-organismo. Diante dos relatos desses dois
profissionais da área, qual seria o de melhor fundamento?
Marcos Veiga- “Este é um tema
bastante debatido e, realmente,
existem opiniões diferentes sobre
este assunto. Em termos de estudos
científico, eu não conheço nenhum
estudo que determina que a CCS
mínima da vaca é 75 mil cel/ml. Isto
me parece mais um chute do que
uma informação científica. Em 2012, no encontro anual do Conselho
Nacional de Mastite dos EUA este tema foi debatido e o pesquisador Dr.
Larry Fox, deixou claro que o que importa do ponto de vista da capacidade
de resposta da vaca não é a contagem de células somáticas em si, mas sim,
a capacidade de migração de células de defesa para a glândula mamária
quando existe um desafio. Sendo assim, é possível vacas com CCS muito
baixas, mas, que se estiverem com o sistema imune de forma adequada, vão
responder quando houver um desafio. ”
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2. Marcos, me recordo que li em um material anos atrás que ao fazer o teste
de CMT no rebanho poderíamos avaliar os resultados por meio do percentual
de quartos positivos ao teste. Se não estiver enganado tinha os seguintes
valores: abaixo de 5% de quartos positivos o nível é bom, de 5 a 15%
intermediário, acima de 15% indesejável. Seria mesmo esta relação e ainda
se pratica este parâmetro? Ainda sobre a CMT, no material cita a realização
do teste 4 dias pós-parto para avaliar a cura na secagem. Em outa parte fala
de CCS mais alta neste pós-parto com redução de 8 a 14 dias. Fazendo o
teste então com 4 dias poderia haver alguma interferência resultando em
falso positivo?
Marcos Veiga- “Quando se usa o
CMT, eu recomendo que seja feito o
cálculo com base na vaca, ou seja,
qual a porcentagem de vacas com
pelo menos um quarto com CMT
acima de uma cruz (+). Neste caso, a
minha recomendação é usar a meta
de ter menos de 15% de vacas com
CMT positivo.
Sobre o momento de fazer o CMT pós-parto, existem estudos que
recomendam a realização acima de 45 dias pós-parto. Mesmo usando o
CMT neste período, existe uma boa % de acerto, pois o CMT uma cruz (+) na
média identifica vacas com >500.000 cel/ml. Ou seja, o CMT é muito bom
para identificar vacas com alta CCS, mas não tem boa precisão para
identificar vacas com CCS abaixo de 500.000 cel/ml. Sendo assim, as vacas
com CMT +, mesmo na primeira semana após o parto, têm uma alta chance
(>75%) de ter uma infecção intramamária.”
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3. Prezado Marcos Veiga, gostaria de saber qual é o melhor produto para
pré-dipping: iodo, clorexidina ou ácido lático? E também qual é o melhor para
o pós-dipping?
4. Sei que não é o foco do curso a mastite em novilhas, porém, esse
problema vem se tornando frequente. Quais são os principais motivos dessa
ocorrência? E quais são as medidas de controle e estratégias a se tomar
nestes casos tanto para mastite contagiosa quanto para a mastite
ambiental?
Marcos Veiga- “A escolha do pré e pós-dipping depende basicamente do que
o produtor tem de maior prioridade. Basicamente, o produto mais barato
seria o cloro. No entanto, o uso do cloro requer a necessidade de diluição na
fazenda (pode ocorrer problema de água contaminada e de erro de diluição)
e seria necessário usar luvas, pois alguns ordenhares podem ter problema
de reação (alergia) ao cloro. Por outro lado, pode ser sim uma opção, mas
precisa de cuidados para evitar erros de uso.
Outra opção mais segura seria os produtos à base de iodo, que já são
prontos para o uso, mas de forma geral são mais caros do que o os produtos
à base de cloro. Na minha opinião, todos estes produtos apresentados
podem ser boas opções para pré-dipping e pós-dipping, mas atualmente o
produto mais usado é o iodo, por ser um produto muito estável e bastante
seguro. ”
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Marcos Veiga- “A ocorrência de mastite em novilhas (mesmo antes do parto)
é bastante comum e em algumas fazendas. Os estudos sobre as possíveis
origens da mastite em novilhas indicam que as possíveis fontes de
transmissão destes casos são: 1) mamada cruzada entre bezerras durante o
aleitamento (com o uso de leite de descarte ou com o uso de leite sem
pasteurizar), 2) transmissão por picada de mosca na extremidade do teto ou
por lesões ou ferimentos na extremidade dos tetos. Dentre as medidas de
controle e prevenção, pode-se citar: a) evitar que as bezerras tenham
contato entre si durante o aleitamento, b) pasteurizar o leite para
aleitamento, c) controle de moscas e melhorias de higiene e do ambiente das
bezerras.
Se houver uma prevalência de novilhas com alta CCS (acima de 20%),
pode-se fazer o tratamento de vaca seca para novilhas, sendo recomendado
a aplicação de uma bisnaga por teto aos 60 dias da data prevista do parto.
Outra alternativa seria o uso de uma bisnaga para tratamento durante a
lactação aos 14 dias antes do parto (quando já passou o período
recomendado de uso do tratamento de vaca seca). O tratamento tem uma
alta eficácia e poderia ser uma alternativa para fazendas com problemas de
mastite em novilhas.”
Marcos Veiga- “A mastite causada por S. aureus é do tipo contagiosa, o que
significa que a transmissão ocorre de vaca para vaca durante a ordenha.
Sendo assim, uma forma de evitar a transmissão seria pela linha de ordenha
(ordenhar por último ou de forma separada em conjunto de ordenha
separado) as vacas positivas para S. aureus. Não necessita de uma
separação física em outro retiro, mas sim uma linha de ordenha para
5. Gostaria de saber se procede a informação que um médico veterinário
passou para mim com relação às vacas infectadas por S.aureus (colocar em
itálico todos os S.aureus ). Medida urgente: ordenhar os animais em um
retiro separado dos animais não infectados e providenciar o descarte dos
mesmos, pois não há tratamento eficaz no controle desse agente.
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ordenhar as vacas sadias antes das vacas doentes.
Isso significa que é necessário que seja feita a cultura de todas as vacas,
com pelo menos 3 coletas por vaca, para ter certeza de que uma vaca é
realmente negativa. Este procedimento somente deve ser adotado para
rebanhos que têm como objetivo um controle mais rígido de S. aureus ou em
razão de uma elevada prevalência deste agente.
Em relação ao tratamento, é uma simplificação muito grande dizer que
mastite causada por S. aureus não tem cura. Na verdade, seria mais correto
dizer que este tipo de mastite tem uma taxa de cura menor, o que significa
que as terapias mais convencionais têm cura baixa. Fizemos estudo com
tratamento de S. aureus com terapia combinada (intramamario por 5 dias +
injetável a base de enrofloxacina por 3 dias) e a taxa de cura foi de 70% para
mastite subclínica em vacas com mastite crônica. Outra opção é aguardar a
secagem e realizar a terapia da vaca seca associada com tratamento
injetável no momento da secagem. A minha recomendação para descarte
seria somente para vacas com histórico de mastite crônica (mais de 23
casos clínicos.”
6. Professor Marcos, normalmente, qual o tempo de funcionamento, ou
melhor, qual o tempo de permanência na liberação de ocitocina na vaca
durante a ordenha?
Marcos Veiga- “O tempo de vida médio da ocitocina é de 34 minutos. Ou
seja, depois que atinge um pico de concentração, a ocitocina é degradada
pela metade a cada 3 minutos. Geralmente, o tempo de ação da ocitocina é
de 56 minutos durante a ordenha.
Sendo assim, o tempo ideal de colocação das teteiras é recomendado de 60
a 90 segundos depois do início da estimulação dos tetos. Quando este
tempo é maior do que 3 minutos, existe prejuízo na ordenha”.
8. 7. Sabemos que o vácuo é
importante na prevenção da
mastite, e quanto às
teteiras? Instalei algumas
teteiras triangulares
ventiladas na ordenha e
elas são muito boas, pois
não deixam o peito da vaca
molhado de leite após a
ordenha. Elas tiram muito
rápido o leite e não temos
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extratores. Esse tempo que fica ordenhando a vaca sem leite propicia o
aumento da mastite?
Marcos Veiga- “Um dos riscos de ter lesão de extremidade dos tetos
(hiperqueratose) é a sobreordenha. Ou seja, o equipamento estar
ordenhando a vaca sem fluxo de leite. Sendo assim, o recomendado é que
depois que termine o fluxo de leite, o vácuo seja desligado e o conjunto de
teteiras retirado. Em média a ordenha de uma vaca demora de 4 a 6 minutos,
mas se a vaca tiver uma produção menor ou estiver em final de lactação
pode ser mais rápido ainda.
Atualmente, a recomendação de leite que sobra após a ordenha é de cerca
de 400 ml por vaca. Ou seja, depois da ordenha não há a necessidade de
tentar retirar até a última gota, pois nesse caso vai ocorrer a sobreordenha.
Em sistemas de ordenha sem extrator automático, os ordenhadores devem
ser treinados para evitar a sobreordenha.”
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8. Caro Marcos, os antibióticos IMMs combinados com anti-inflamatórios
são muito difundidos entre os produtores. Ao meu ver os ATBs empregados
nestas formulações, geralmente neomicina e bacitracina, não possuem boa
eficiência. Contudo o ordenhador relata a cura, que novamente na minha
visão, é devido ao efeito do anti-inflamatório empregado e não a cura
microbiológica em si. Com isto gostaria de saber: qual a eficiência destes
ATBs, a base de neomicina e bactracina, em formulações IMMs? E se minha
percepção está correta em relação à estas apresentações.
Marcos Veiga- “As formulações de uso intramamário para tratamento de
mastite têm duas linhas bem distintas, sendo que uma tem a inclusão de
anti-inflamatórios corticoides+antibiótico e outra somente antibiótico. Não
conheço estudos que compararam a mesma formulação com e sem
anti-inflamatório e, portanto, posso responder com base na minha opinião.
A argumentação das empresas que usam produtos com anti-inflamatório é
que esta formulação aumenta/acelera a redução dos sintomas clínicos,
enquanto que as empresas que não tem anti-inflamatório indicam que pode
ocorrer mascaramento pela cura clínica, mas sem cura microbiológica.
Como não temos estudos sobre isso, fica a critério de quem indica o
tratamento.
Pessoalmente, eu acho que o uso de produtos com anti-inflamatório na
formulação tem efeito positivo em mastite grau 2 (moderada), na qual existe
um inchaço do úbere, o que pode sim contribuir para redução do inchaço. Na
mastite grau 1 (leve), a presença do anti-inflamatório não faz muita
diferença no resultado, pois não tem inchaço no úbere. Deve-se destacar
que o que determina a cura microbiológica é a ação do antibiótico em
conjunto com a ação do sistema imune da vaca. Como o anti-inflamatório
dos produtos intramamários esta em baixa dosagem, não teria o efeito de
depressão do sistema imune de forma sistêmica.
Não temos muitos estudos sobre a eficácia dos produtos comerciais
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disponíveis no Brasil. Acho isso uma deficiência e as empresas deveriam
dedicar recursos para desenvolver estudos com uma boa base científica.
Outro ponto que considero importante é que a percepção da cura da mastite
normalmente é somente visual, por parte do produtor, ou seja, considera-se
que curou quando os sintomas desaparecem (cura clínica), no entanto, se a
mastite voltar no mesmo quarto em até 14 dias após o término do
tratamento, temos uma falha de tratamento e não uma cura clínica. O melhor
seria ter os dados de cura microbiológica, mas em razão do custo e da
dificuldade de coleta de amostras (14 e 21 dias depois do tratamento), ela
somente é feita em estudos científicos.”
9. Qual a melhor hora para secar uma vaca? Quais critérios devemos
selecionar?
Marcos Veiga- “Acho que a resposta para sua questão depende do sistema
de produção e do objetivo do produtor. Eu colocaria alguns comentários
sobre estas situações:
1) O sistema de secagem mais tradicional é com 60 dias antes da data
prevista do parto. Desta forma, o critério é basicamente o período de
gestação da vaca.
2) Alguns rebanhos podem fazer este período mais curto, até 45 dias antes
da data do parto. Esta seria uma forma de aproveitar mais duas semanas de
lactação da vaca, buscando otimizar a produção de leite. Este tipo de manejo
somente tem vantagem se as vacas estiverem com alta produção para
justificar a permanência no lote de lactação.
3) É possível antecipar a secagem das vacas (período secos mais longos),
quando a vaca tem baixa produção, alta CCS e já se encontra prenha. Este
seria um manejo para tentar aumentar a taxa de cura e reduzir a % de vacas
com CCS alta, mas deve ser feito somente em parte das vacas com estas
características e quando não compensa fazer o tratamento na secagem.
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10. Caro professor Marcos, tenho praticado secagem intermitente em meu
rebanho de ovinos. Com o material do curso, achei mais prática a secagem
abrupta, pois consome menos mão de obra e, se entendi direito, o aumento
da pressão interna do úbere inibe a produção do leite. Gostaria de sua
opinião: qual o melhor método?
Marcos Veiga- “Interrupção das ordenhas na secagem abrupta ou a redução
da frequência de ordenhas na secagem intermitente reduz o estímulo para a
produção de hormônios galactopoiéticos, que mantêm a produção de leite
(os dois hormônios principais são prolactina e somatotropina).
Sendo assim, mesmo após a interrupção das ordenha, a vaca produz leite
por 23 dias, mas em razão do aumento da pressão intramamária e do menor
estímulo hormonal, após 34 dias inicia-se a reabsorção do volume de leite
da glândula.
Na minha opinião, os dois tipos de secagem podem funcionar, mas a
secagem intermitente dá mais trabalho, pois envolve a mudança de
frequência de ordenhas e a separação da vaca. Acho que o conceito deve
ser o mesmo para as ovelhas.”
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Para saber mais sobre este tema que é fundamental para a pecuária leiteira,
participe do curso online “Aumente o lucro pelo controle e prevenção da
mastite bovina” com o professor Marcos Veiga.
http://www.educapoint.com.br/curso/mastite/
Além de acessar um material completo e atualizado durante todo o período
do curso, os alunos poderão enviar suas dúvidas para serem respondidas
pelo professor.