O documento descreve a estrutura e temática do Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente. A peça apresenta onze personagens-tipo que se submetem ao julgamento do Anjo e do Diabo para determinar se embarcam na Barca do Inferno ou da Glória. Cada personagem passa por uma exposição, interrogatório e sentença que a condena ao Inferno. A estrutura interna consiste em mini-acções para cada personagem em vez de uma trama contínua.
1. Ano Lectivo:
2009/2010
AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PIAS
Escola Básica Integrada com Jardim de Infância de Pias 9º Ano
Língua Portuguesa
Auto da Barca do Inferno – Temática e Estrutura 6 Janeiro 2010
Nome: ____________________________
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A mentalidade medieval, votada à religiosidade, acreditava que, após a morte, as almas
eram julgadas e conduzidas ao Inferno ou ao Paraíso, em função das acções que haviam
praticado. Esta crença liga se com a religião cristã e mantém a sua actualidade.
liga-se
O Auto da Barca do Inferno (1517) faz parte de uma trilogia de autos, designada Auto das
Barcas, em que também se integram Barca do Purgatório e Barca da Glória Foi representado
, Glória.
em 1518, perante a Rainha Dona Leonor, viúva de D. João II e protectora de Gil Vicente.
AUTO Termo que no século XVI (nomeadamente na edição do teatro vicentino) se aplicava
a peças de teatro ao gosto tradicional. Os assuntos podiam ser religiosos ou profanos, sérios ou
cómicos. Os autos, ao mesmo tempo que divertiam, moralizavam pela sátira de c costumes e
inculcavam de modo vivo e acessível as verdades da fé. (…)
in Dicionário de Literatura 1ª edição (1969)
Literatura,
Liv. Figueirinhas, Porto
TEMÁTICA DA PEÇA
Ancorados no rio da Morte, junto à praia do Purgatório, estão duas barcas: a do Inferno e a da Glória,
guardadas pelos respectivos arrais, o Diabo e o Anjo. As barcas são uma alegoria ao Bem e ao Mal
Mal.
Neste cenário alegórico, desfila um conjunto de personagens: os viajantes, ou seja, as almas. Todas
desejam naturalmente embarcar na barca da Glória, que as conduzirá ao Paraíso, mas, submetidas a
barca
julgamento, o seu destino é, regra geral, a barca do Inferno.
ESTRUTURA DA PEÇA
A. ESTRUTURA EXTERNA O Auto da Barca do
Inferno não apresenta
O Auto da Barca do Inferno foi composto por Gil Vicente sem qualquer divisão em
qualquer divisão externa, como aliás era próprio do teatro medieval. (…) actos ou cenas.
Convém frisar que, nesta obra, não há propriamente uma acção PERSONAGENS-TIPO
PERSONAGENS
encadeada, evolutiva e dinâmica que obrigue as personagens a entrar e Os tipos sociais não
representam seres individuais,
a sair do palco amiudadas vezes. Mais que a uma acção dramática,
mas instituições, classes ou
assistimos a um desfile de tipos que se sucedem no cais, sujeitam às
sujeitam-se grupos sociais; assim, as
críticas do Diabo e do Anjo e, por fim, acabam por embarcar na barca personagens exibem
que lhes está destinada. (…) características próprias do
Mário Fiúza, Auto da Barca do Inferno, Porto Editora grupo que pretendem
representar e que, para serem
bem perceptíveis, são
frequentemente exageradas,
exageradas
dando origem às caricaturas.
Auto da Barca do Inferno – Ficha Informativa n.º 2
2. B. ESTRUTURA INTERNA
O Auto da Barca do Inferno não é composto por uma acção única, ESTRUTURA INTERNA
mas por um conjunto de mini-acções paralelas, cada uma delas girando
em torno de um ou mais protagonistas. Oito destas mini-acções são
• Conjunto de mini-acções,
formadas pelas três partes clássicas: a exposição, o conflito e o correspondendo cada uma à
desenlace. A maior parte das vezes, a exposição e o conflito personagem, viajante ou alma
apresentam-se interligados: a primeira consta de uma breve que se apresenta para
apresentação da personagem e o segundo de um duplo interrogatório, embarcar.
feito pelo Diabo e pelo Anjo. O desenlace é constituído pela sentença
•A cada personagem
proferida pela Anjo ou pelo Diabo, que condena as almas recém- corresponde:
falecidas a entrarem na barca do Inferno, prelúdio da sua condenação -exposição (apresentação da
eterna. personagem);
Cada mini-acção funciona semelhantemente a um tribunal: temos, -conflito (interrogatório);
-desenlace (sentença).
todavia, de reconhecer que há um, dois ou três advogados de acusação,
mas nenhum de defesa: é o réu que tem de defender a sua causa. Trata- • A maior parte das vezes a
se, pois, de um tribunal rigoroso em que os réus têm poucas ou exposição e o conflito
nenhumas possibilidades de defesa. apresentam-se interligados.
Mário Fiúza, Auto da Barca do Inferno, Porto Editora
Consulta o teu manual e indica as onze personagens-tipo que se apresentam no cais, submetendo-
se ao julgamento do Anjo e do Diabo.
1. Fidalgo
2. Onzeneiro
3. Joane, o Parvo
4. Sapateiro
5. Frade
6. Alcoviteira
7. Judeu
8. Corregedor
9. Procurador
10. Enforcado
11. Quatro Cavaleiros
in Rafaela Moura e M. Amélia Osório, Leituras & Companhia 9, Editorial O Livro (adaptação)
Auto da Barca do Inferno – Ficha Informativa n.º 2