PowerPoint sobre o Auto da Barca do Inferno (1517) é a primeira peça de uma trilogia, da autoria de Gil Vicente, a que se seguem o Auto da Barca do Purgatório (1518) e o Auto da Barca da Glória (1519) – a “Trilogia das Barcas”. Foi representada na câmara da rainha Dona Leonor – que se encontrava doente – ao seu filho, o rei D. Manuel I. As almas são representadas por passageiros que chegam ao cais onde se encontram as barcas. Aí, submetem-se ao julgamento do Anjo e do Diabo, que decidem sobre a sua condenação ou salvação.
Através deste dispositivo alegórico, Gil Vicente concretiza a sua intenção crítica, veiculando valores morais e religiosos. Em muitas das peças vicentinas, nomeadamente no Auto da Barca do Inferno, essa intenção crítica baseia-se na máxima latina Ridendo castigat mores, que significa a rir se castigam os costumes.
9º ano
ensino básico
2. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
A obra
O Auto da Barca do Inferno (1517) é a primeira peça de uma trilogia,
da autoria de Gil Vicente, a que se seguem o Auto da Barca do
Purgatório (1518) e o Auto da Barca da Glória (1519) – a “Trilogia das
Barcas”. Foi representada na câmara da rainha Dona Leonor – que se
encontrava doente – ao seu filho, o rei D. Manuel I.
3. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
Na Idade Média, a palavra «auto» designava uma peça de teatro
de caráter religioso.
Auto
Estas peças de Gil Vicente designam-se «autos de moralidade»
[do lat. moralitate-, de more-, costume], porque integram um tipo
de teatro religioso que recorre à alegoria para transmitir uma
mensagem, a qual visa a alteração de costumes, ou seja, dos
comportamentos dos indivíduos.
4. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
A alegoria consiste na representação de uma realidade abstrata
(o Bem, o Mal, a Justiça, a Vaidade…) através de uma realidade
concreta. O Auto da Barca do Inferno é uma peça alegórica, na
qual se representa a transição entre a vida e a morte como a
travessia de um rio, em duas barcas comandadas por duas
personagens alegóricas:
Alegoria
• a do Anjo (representante do Bem, arrais do Paraíso);
• e a do Diabo (representante do Mal, arrais do Inferno).
5. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
As almas são representadas por passageiros
que chegam ao cais onde se encontram as
barcas. Aí, submetem-se ao julgamento do Anjo
e do Diabo, que decidem sobre a sua
condenação ou salvação.
Através deste dispositivo alegórico, Gil Vicente
concretiza a sua intenção crítica, veiculando
valores morais e religiosos.
Crítica de costumes
6. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
Em muitas das peças vicentinas, nomeadamente no Auto
da Barca do Inferno, essa intenção crítica baseia-se na
máxima latina Ridendo castigat mores, que significa a rir
se castigam os costumes.
Ridendo castigat mores
Deste modo, através do recurso ao cómico, o autor
denuncia os erros e os vícios do seu tempo, visando a
moralização da sociedade.
7. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
No Auto da Barca do Inferno, encontramos três tipos de cómico:
Tipos de cómico
Cómico de situação – ocorre quando são apresentadas
situações que geram o riso.
Exemplo: o Frade entra a cantar e a dançar, trazendo uma jovem
pela mão.
Cómico de linguagem – ocorre quando a linguagem de
uma ou várias personagens provoca(m) o riso, seja pelo
conteúdo (palavrões, jogos de palavras…) ou pela forma.
Exemplo: o Parvo dirige-se ao Diabo, usando insultos e expressões
ofensivas e recorrendo a vocábulos relacionados com excrementos.
Cómico de caráter – a forma de ser da personagem
desperta o riso.
Exemplo: Brísida Vaz, a alcoviteira, acredita que a sua profissão
serve a Igreja e os seus representantes, pelo que só pode estar
santificada.
8. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
Gil Vicente recorre também a personagens-tipo para moralizar a
sociedade. Estas personagens representam uma classe, uma
profissão ou um estrato social e não um indivíduo.
Personagens-tipo
No Auto da Barca do Inferno, as personagens (à exceção do Parvo)
trazem consigo um (ou mais) objeto(s) – símbolo(s) cénico(s) –
que representa(m) as suas ações em vida. Assim, o espectador
identifica a personagem, o coletivo que representa e o motivo da
sua condenação ou salvação.
9. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
O Fidalgo representa os vícios e os pecados da nobreza.
O Fidalgo
O manto que enverga e a cadeira de espaldas são símbolos do seu estatuto social, do luxo e dos
privilégios que lhe são inerentes. Já o pajem, que carrega a cadeira, simboliza a tirania de que o povo é
vítima. Assim, serão estes os motivos da sua condenação ao Inferno.
10. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
O Onzeneiro, um membro da burguesia, representa aqueles que,
sem escrúpulos, enriqueciam, praticando a usura. Aproveitavam-se
das pessoas necessitadas que, sem outra alternativa, recorriam a
empréstimos, cobrando-lhes juros elevadíssimos (a onzena, um juro
de 11%).
O Onzeneiro
O bolsão que traz consigo simboliza a ganância e o apego
desmesurado ao dinheiro, pecados que o condenam ao Inferno.
11. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
O Parvo caracteriza-se pela ingenuidade e pela simplicidade,
representando os pobres de espírito. Desempenha uma função
essencialmente lúdica, comentando os pecados de outras
personagens que chegam ao cais e, deste modo, acrescentando
cómico às cenas seguintes.
O Parvo
Não traz quaisquer adereços.
12. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
O Sapateiro representa a classe dos artesãos e a sua
desonestidade, denunciando aqueles que exploram o povo com
o seu ofício. Além disso, expõe a falsa religiosidade, ou seja, a
crença de que basta frequentar a igreja e praticar os seus rituais
para garantir um lugar no Paraíso, argumentos usados pelo
Sapateiro em sua defesa.
O Sapateiro
O avental e as formas simbolizam o ofício de sapateiro e os
pecados associados a este mester, visto que foram usados para
explorar os clientes.
13. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
O Frade representa o clero, simbolizado pelo hábito que veste,
expondo os seus comportamentos imorais e devassos.
O Frade
Comporta-se como um membro da nobreza quando canta, dança
e esgrima, ignorando os seus deveres de homem da Igreja,
principalmente o voto de celibato, cuja quebra é simbolizada pela
Moça Florença. Assim, a espada, o broquel e o casco remetem
para a dimensão mundana da personagem, que contrasta com
as regras da religião, a dimensão espiritual que representa.
14. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
Brísida Vaz, a Alcoviteira, representa a classe das casamenteiras, mulheres
que se dedicavam a arranjar casamentos para jovens desfavorecidas e à
exploração da prostituição. Como estas mulheres frequentemente prestavam
serviços aos membros do clero, esta personagem contribui também para alargar a
crítica já anteriormente realizada a esta classe.
Brísida Vaz, a Alcoviteira
Os símbolos cénicos que traz consigo estão ligados à prostituição,
atividade a que também se associam o roubo aos clientes, o
logro e a feitiçaria. Na sua casa movediça, encontram-se 600
virgos postiços, 3 arcas de feitiços, 3 armários de mentir, 5 cofres
de enleios, furtos, joias, guarda-roupa, além das raparigas que
vendia.
15. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
O Judeu representa a mentalidade antissemita que caracterizava o século XVI,
ou seja, o modo como a sociedade da época via os judeus. Através desta
personagem, Gil Vicente denuncia o fanatismo religioso deste grupo, que, apesar
de tentar integrar-se, desrespeitava os rituais cristãos, recusando-se a abandonar
a sua fé. Além disso, censura o seu apego ao dinheiro, evidente na sua tentativa
de suborno do Diabo.
O Judeu
O Judeu traz consigo um bode, símbolo da religião judaica, que recusa
abandonar. No ritual Yom Kippur («Dia da Expiação») era sacrificado um bode (o
bode expiatório).
16. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
O Corregedor e o Procurador representam o aparelho judicial,
ou seja, o modo como os seus funcionários aplicavam a Justiça.
Gil Vicente denuncia a corrupção e a parcialidade desta aplicação,
revelando práticas de suborno e roubo. Além disso, a falsa
religiosidade destas figuras da magistratura é também criticada.
O Corregedor e o Procurador
Os símbolos cénicos são os processos e a vara do Corregedor e
os livros jurídicos do Procurador. Estes instrumentos deveriam
estar ao serviço de uma aplicação justa da lei, mas asseguravam
apenas o caráter corrupto e influenciável dessa aplicação.
17. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
O Enforcado representa aqueles que cometeram crimes e foram
condenados. Além disso, denuncia o modo como pessoas como
Garcia Moniz, detentoras de algum poder, manipulam pessoas
influenciáveis.
O Enforcado
O baraço que traz ao pescoço simboliza os crimes cometidos e a
sua condenação por enforcamento.
18. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
Os Cavaleiros, que encerram a peça, representam os cavaleiros
das Cruzadas. A Cruz de Cristo, a espada e o escudo, que
trazem consigo, simbolizam a luta pela expansão da fé cristã, que
será o motivo da sua entrada direta na barca do Anjo, para, de
seguida, irem para o Paraíso.
Os Cavaleiros
19. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
Tal como acontecia no teatro medieval, o Auto da Barca do Inferno não está organizado em atos e cenas.
A peça apresenta uma estrutura processional (relativo a procissão), ou seja, as personagens sucedem-se,
uma após outra, no cais onde estão ancoradas as duas barcas.
Estrutura interna
20. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
Esta peça não tem uma ação única, com princípio, meio e fim, estruturando-se antes num conjunto de
quadros.
Em cada um, figuram uma personagem principal (ou duas, no caso do Corregedor e do Procurador) e as
figuras alegóricas, o Diabo e o Anjo.
Estrutura interna
21. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
A maioria dos quadros (à exceção do Judeu, do Enforcado e dos Cavaleiros)
apresenta uma estrutura interna que corresponde ao percurso cénico da personagem:
Estrutura interna
• apresentação e identificação da personagem;
• diálogo da personagem com o Diabo e com o Anjo;
• sentença proferida pelo Anjo ou pelo Diabo.
22. Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
O Auto da Barca do Inferno está escrito em verso.
Estrutura externa
As estrofes são, geralmente, oitavas.
Esquema rimático ABBAACCA: rima interpolada e emparelhada.
Fid. Esta barca onde vai ora, A
que assi está percebida? B
Dia. Vai pera a ilha perdida B
E há-de partir logo ess’ora. A
Fid. Pera lá vai a senhora? A
Dia. Senhor, a vosso serviço. C
Fid. Parece-me isso cortiço. C
Dia. Porque a vedes lá de fora. A
Auto da Barca do Inferno, vv. 25-32
Métrica: predomínio da redondilha maior (versos de sete sílabas métricas):
Pa/re/ce/-me i/sso/ cor/ti/ço
1 2 3 4 5 6 7
23. Consolida
1. Completa o texto usando as palavras e expressões abaixo apresentadas.
A ação do Auto da Barca do Inferno, de ________, decorre num ____, junto a um rio, no qual se
encontram ____ barcas: a que tem como _____ o ____, que irá para o _______, e a do _____ do
_________, o destino que todos querem evitar. É a este cenário que irão chegando as _____ para
serem submetidas a um _________.
Todas as personagens são _____________. Representam classes ou grupos sociais e profissionais do
Portugal _________. Trazem consigo _______ cénicos que representam os seus _______, como no
caso de Brísida Vaz, ou as suas ______, como acontece com os Cavaleiros.
Através destas personagens, o _____ pretende denunciar e corrigir os ______ da sociedade, seguindo
o lema latino _________________ (A rir se castigam os costumes).
SOLUÇÃO
Gil Vicente cais
duas arrais Anjo Paraíso arrais
Inferno almas
julgamento
personagens-tipo
quinhentista símbolos pecados
virtudes
autor vícios
Ridendo castigat mores
Paraíso; símbolos; pecados; Anjo; autor; personagens-tipo; almas; julgamento; cais; arrais (2); duas;
Inferno; vícios; virtudes; Gil Vicente; Ridendo castigat mores; quinhentista
24. Consolida
2. Preenche a coluna B com os tipos de cómico exemplificados na coluna A, de acordo com a legenda.
COLUNA B
Tipos de cómico
SOLUÇÃO
COLUNA A
Exemplos
A convicção do Fidalgo de que pode manter os privilégios que tivera em vida.
As expressões obscenas e ofensivas dirigidas pelo Parvo ao Diabo.
A entrada do Frade a cantar e a dançar com a Moça Florença pela mão.
O uso da expressão «Santo sapateiro honrado!» usada pelo Diabo.
A autocaracterização de Brísida Vaz: «Santa Úrsula nom converteo/tantas cachopas
como eu […]».
A reação do Diabo quando os Cavaleiros passam pela sua barca sem pararem.
1
3
2
3
1
2
Legenda: 1. Cómico de caráter | 2. Cómico de situação | 3. Cómico de linguagem
25. Consolida
3. Estabelece a correspondência correta entre as duas colunas.
SOLUÇÃO
COLUNA A
Exemplos
a. Diabo: Vai pera a ilha perdida […].
b. Fidalgo: Parece-me isso cortiço…
c. Diabo: Ora mui muito me espanto/não vos livrar o dinheiro!
d. Diabo: Calaste dous mil enganos.
e. Anjo: Ó onzena, com és feia […]!
f. Frade: …comungado? E tu morreste excomungado.
g. Brísida Vaz: Três almários de mentir/e cinco cofres de enleos, /e alguns furtos alheos,/assi
em jóias de vestir[…].
h. Corregedor: E vós… tornar a tecer e a urdir outra meada.
COLUNA B
Recursos expressivos
1. Enumeração
2. Hipérbole
3. Antítese
4. Eufemismo
5. Metáfora
6. Comparação
7. Ironia
8. Apóstrofe
a. 4; b. 6; c. 7; d. 2 ; e. 8 ; f. 3 ; g. 1 ; h. 5 ;