Este documento discute métodos alternativos para o controle de pragas na agricultura comparados com o uso de pesticidas. Aborda práticas culturais como rotação de culturas e policultura, além do uso de engenharia genética para aumentar a resistência de plantas. Também descreve técnicas de controle biológico como a liberação de inimigos naturais e uso de feromônios e hormônias para regular populações de pragas.
1. Problemática do Uso de Biocidas e de Métodos
Alternativos no Controlo de Pragas
Nuno Ribeiro, nº26
Adelaide Mendes, nº20
Inês Pereira, nº23
Biologia12º
2016/2017
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Resumo
A humanidade depende, essencialmente, de três atividades para a sua alimentação:
a agricultura, a pecuária e a pesca.
Desde meados do século XX, tem-se verificado um grande aumento na produção de
alimentos.
A evolução da agricultura tradicional de subsistência para a agricultura intensiva foi
acompanhada pelo aumento da incidência de diversas pragas. A agricultura intensiva é
caracterizada por agrossistemas monoculturais de grandes dimensões.
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Introdução
De toda a produção agrícola mundial, cerca de 25% é afetada por pragas. Qualquer
espécie indesejável para o ser humano, seja por competição alimentar, por danos
causados em bens ou propriedades, por transmissão de doenças, entre outras, é
considerada uma praga. O controlo de pragas é, assim, necessário para reduzir estes
efeitos tão nefastos.
A evolução da agricultura tradicional de subsistência para a agricultura intensiva
foi acompanhada do aumento da incidência de diversas pragas. Em ecossistemas
naturais e agrossistemas de policultura, a população de espécies consideradas como
pragas têm inimigos naturais, como os predadores, os parasitas e os organismos
patogénicos que irão controlar as suas populações. Pelo contrário, em agrossistemas
de monocultura, nos quais se usam elevadas quantidades de produtos químicos para
controlar as pragas, os agentes biocidas ou pesticidas, o que causa desequilíbrios nas
interações naturais entre organismos.
Fig.1- Praga de caracóis
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfc0wAF/mollusca-engenharia-florestal
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Pesticidas ou Agentes Biocidas
Os pesticidas ou agentes biocidas são utilizados para garantir boas produções
agrícolas. Recorre-se ao seu uso para combater espécies nocivas ou funcionam como
reguladores do crescimento.
Tipos de Pesticidas
Inseticidas – matam os insetos
Herbicidas – matam as plantas infestantes
Raticidas – matam os roedores
Fungicidas – matam os fungos
Caracterização de um Pesticidas
Espectro de ação- é a quantidade de espécies para os quais é tóxico. Os pesticidas
de largo espectro são tóxicos para várias espécies, enquanto os pesticidas específicos
só são eficazes num número restrito de espécies.
Persistência - corresponde ao período de tempo durante o qual o pesticida
permanece ativo no ambiente. Por exemplo, um pesticida apresenta baixa persistência
se permanecer ativo durante horas, dias ou semanas e apresenta elevada persistência
se permanecer ativo durante anos.
Vantagens dos Pesticidas
Aumentam a produtividade agrícola.
Previnem a morte de milhões de pessoas ao controlar o mosquito causador de
certas doenças, como por exemplo, a malária, a febre-amarela entre outras.
Permitem salvar muitas culturas agrícolas, que sem estes produtos seriam
destruídas por pragas.
Fig.2- Tipos de pesticidas
http://quimicamphigiene.com/es/raticidas
http://ludilimpeza.com.br/produtos.php?categx=119
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Diminuem a erosão dos solos e o trabalho dos agricultores, já que não há
necessidade de remover as ervas daninhas.
Os custos dos pesticidas são compensados pelos produtos obtidos.
Os novos pesticidas, que são derivados de plantas, atuam rapidamente, são mais
eficazes e seguros tanto para o ambiente como para os agricultores e
utilizadores.
Diminui os preços para o utilizador, uma vez que reduz o prejuízo das pragas.
Desvantagens
Apesar das suas vantagens, não podemos esquecer que o seu uso indiscriminado
ou incorreto tem consequências nefastas. Vejamos, então algumas
consequências.
a) Os pesticidas aceleram o desenvolvimento de resistência genética aos
pesticidas: os insetos têm um ciclo reprodutor rápido, como tal, em pouco
tempo conseguem desenvolver imunidade aos pesticidas por seleção natural
direcionada. Deste modo, só os insetos mais resistentes sobrevivem ao pesticida,
reproduzindo-se e dando origem a uma descendência resistente, que irão
sobreviver e posteriormente reproduzir-se, transmitindo à descendência o gene
da resistência do inseticida, logo a aplicação do mesmo inseticida será menos
eficaz e a frequência de insetos resistente na população aumentará. Também os
microrganismos fitopatogénicos, as plantas infestantes e outras pragas
desenvolvem resistência genética, mas mais lentamente.
Fig.3-Resistência ao pesticida
http://greenspaceforeverybody.blogspot.pt/
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b) Pesticidas de largo espectro matam não só as pragas como também os seus
predadores naturais:
Esta perturbação é muito evidente em pragas de insetos. A eliminação
involuntária dos seus predadores naturais pode causar um recrudescimento
ainda maior da espécie que se estava a tentar controlar.
c) Bioacumulação
Consiste na absorção e no armazenamento das moléculas do pesticida em
tecidos ou órgãos numa concentração elevada.
d) Bioampliação
Consiste no aumento da concentração do pesticida, de nível trófico para nível
trófico, ao longo das cadeias alimentares.
e) Além de tudo isto, os pesticidas causam poluição, desequilíbrios nos
ecossistemas e constituem uma ameaça à saúde.
Fig.4-Bioacumulação e Bioampliação
https://biologiaesl.wordpress.com/2013/05/17/bioampliacao-e-bioacumulacao/
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Práticas alternativas para o controlo de pragas
As desvantagens do uso dos pesticidas levaram à necessidade de alternativas para o
controlo de pragas. Estes métodos passam por uma aplicação conjugada de várias
técnicas que se baseiam na preservação do equilíbrio biológico e ecológico e que,
simultaneamente, permitem uma boa produção das culturas e impedem o
aparecimento de doenças.
Uso de práticas culturais alternativas
As práticas agrícolas que podem ajudar a combater as pragas incluem:
A rotação anual do tipo de cultura efetuadas num campo.
O recurso à policultura em detrimento da monocultura.
A realização das culturas em locais onde não existam as suas principais pragas.
O ajuste dos ciclos das culturas para que as principais pragas morram de fome ou
sejam comidas pelos seus predadores naturais.
O plantio de culturas marginais para atrair as pragas para fora da cultura
principal.
O plantio de sebes em redor das culturas, de forma a fornecer habitats para os
inimigos naturais das pragas.
À partida, o uso destas práticas alternativas não irá perturbar a vida selvagem
Fig.5 – Alimentos tóxicos
http://www.gb7saude.com.br/blog/toxicos/pesticidas-e-agrotoxicos/
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Recurso à engenharia genética para aumentar a resistência das plantas às pragas
A aplicação da tecnologia do ADN recombinante às plantas permite obter
variedades transgénicas resistentes a insetos, vírus, fungos e bactérias. Do mesmo
modo, é possível aumentar a resistência das plantas aos herbicidas, de forma a poder
aplicá-los de forma mais segura para as culturas.
Resistência a insetos
A procura de inseticidas biológicos com baixo impacto ambiental levou à descoberta
das toxinas produzidas por várias subespécies e estirpes de Bacillus thurigiensis. Já há
várias décadas que este inseticida natural tem sido utilizado para pulverizar plantas.
No entanto, esta forma de aplicação não é eficaz se o inseto atacar as raízes ou os
tecidos internos da planta. Desta forma, a partir de 1994, começaram a ser aprovadas
no mercado as plantas Bt, isto é, plantas transformadas com genes para a produção de
toxinas de Bacillus thurigiensis. As plantas Bt são resistentes ao ataque de certos
insetos.
Resistência a fungos e bactérias
Os fungos e as bactérias causam grandes prejuízos nas culturas agrícolas. Os produtos
químicos utilizados para combater estas pragas são, geralmente, persistentes no meio
ambiente e muito prejudiciais à saúde humana. Estão em desenvolvimento vários
métodos de transformação de plantas no sentido de as tornar resistentes a fungos e
bactérias. No caso dos fungos, as plantas são transformadas com genes PR
(pathogenesis related). As proteínas PR incluem quitinases (são enzimas que degradam
a quitina das paredes celulares das células dos fungos) e são sintetizadas pelas plantas
em resposta à invasão de micróbios. No caso das bactérias, as plantas são
transformadas com o gene lisozima do fago T4 (enzima que hidrolisa a parede
bacteriana provocando a lise da bactéria).
Resistência a herbicidas
O crescimento de plantas infestantes provoca reduções da produção de culturas
agrícolas na ordem dos 10%, apesar da aplicação de herbicidas que, por vezes,
também são tóxicos para as plantas de cultivo. A criação de plantas resistentes a
herbicidas permite o controlo de infestantes durante todo ciclo cultural.
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Resistência a vírus
Não existe um tratamento químico eficiente para os vírus que atacam as plantas. A
ocorrência de fenómenos de proteção cruzada (em que uma planta infetada com uma
estirpe de vírus pouco virulenta se torna resistente à infeção por outra estirpes mais
virulentas) levou ao desenvolvimento de plantas transgénicas resistentes ao vírus
mosaico do tabaco. Estas plantas são portadoras do gene que codifica a expressão de
uma proteína da cápsula viral, que atua como antigénio, permitindo à planta tornar-se
imune à infeção do vírus do mosaico do tabaco.
Controlo biológico de pragas
Os predadores naturais das pragas, bem como os seus parasitas e agentes patogénicos
podem ser utilizados para regular as suas populações. Este tipo de controlo, para além
de não causar resistência genética, tem a vantagem de ser seletivo e não tóxico para as
outras espécies. No entanto, os agentes biológicos de controlo de pragas nem sempre
são fáceis de produzir em grandes quantidades. Para além disso, têm uma ação mais
lenta do que os pesticidas. Se não forem corretamente utilizados, podem tornar-se
eles próprios umas pragas.
Esterilização de insetos
Machos de insetos criados em laboratorial são esterilizados e posteriormente
libertados numa área infestada de forma a acasalarem com as fêmeas lá existentes,
sem que se produza descendência
Uso de feromonas
As feromonas são substâncias químicas produzidas pelos animais para atraírem um
parceiro sexual. Podem ser utilizados para atrair as pragas para armadilhas ou para
atrair os seus predadores naturais. Estas substâncias são específicas, e não causam, à
partida, resistência genética e são inofensivas para outras espécies. As feromonas
apresentam algumas vantagens, tais como: são inócuas para o ser humano, respeitam
o equilíbrio ecológico e os alimentos não são afetados, uma vez que não incorporam
agentes tóxicos.
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Uso de hormonas
Os insetos têm ciclos reprodutores regulados por controlo hormonal. O crescimento, o
desenvolvimento e a reprodução estão dependentes da presença de hormonas juvenis
e hormonas de muda em diferentes estádios do ciclo de vida. Esta presença é
determinada geneticamente. A aplicação de hormonas sintéticas na altura adequada
pode alterar o ciclo dos insetos, ajudando a controlar as suas populações. As hormonas
têm a mesma vantagem das feromonas. No entanto, as hormonas podem afetar as
populações de outras espécies, incluindo os predadores naturais da praga que
tentamos combater.
Proteção integrada de culturas
Um número crescente de cientistas e agricultores acreditam que a solução reside num
controlo integrado de pragas, segundo o qual, cada cultura agrícola e respetivas pragas
são avaliadas como fazendo parte de um sistema ecológico. Perante esta avaliação, é
estabelecido um programa de controlo, que inclui diversos métodos, aplicados na
sequência e na altura corretas, com o objetivo de reduzir as pragas a um nível
económico de ataque. Experiências realizadas em diversos países, tais como China,
Indonésia, Bangladesh, Filipinas, Austrália, Estados Unidos, México e Brasil,
demonstraram que um adequado controlo integrado de pragas pode reduzir os custos
de controlo de pragas em 50% a 90%, ao mesmo tempo que aumenta a produtividade
das colheitas e retarda a resistência genética das pragas.
Fig.6 - Nos insetos, são libertadas na altura do
acasalamento para atrair o parceiro
https://www.surmagico.cl/feromonas_en_insectos.htm
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PROBLEMAS LIGADOS ÀS PRÁTICAS ALTERNATIVAS PARA O CONTROLO DAS PRAGAS
Luta Biológica
Dificuldade na escolha do melhor inimigo natural e a sua produção em larga
escala;
Maior lentidão na obtenção dos resultados pretendidos face aos pesticidas;
Risco de crescimento dos inimigos naturais, chegando ao ponto de se tornarem
numa nova praga.
Esterilização de insetos
Aplicação reduzida a algumas espécies;
Constitui um método dispendioso;
Exige uma grande quantidade de machos estéreis, uma vez que para ser eficaz
deve ser aplicado durante muito tempo e continuadamente.
Uso de feromonas
Têm uma ação muito específica;
O processo de identificação, o isolamento e a produção da feromona é um
método bastante dispendioso.
Engenharia Genética
A transferência de genes estranhos pode causar desequilíbrios nos ecossistemas;
Perda de controlo dos genes por possibilidade de cruzamentos indesejados.
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O DDT
Como seguimento aos sais orgânicos, que eram demasiado tóxicos, surge em 1941 o
DDT, diclorodifeniltricloroetano, considerado um dos mais importantes pesticidas da
história devido ao seu impacto ambiental, na agricultura e na saúde humana.
O DDT foi usado largamente durante e após a Segunda Guerra Mundial para o
combate aos mosquitos provocadores da malária e do tifo. Apesar de barato e
altamente eficiente a curto prazo ele apresenta efeitos prejudiciais à saúde humana,
como por exemplo, causa cancro no ser humano. Devido a este fator, o DDT foi banido
em alguns países. Este acumula-se na cadeia alimentar, pois os animais são
contaminados, por este, e, posteriormente, os predadores destes últimos ao
alimentarem-se dos mesmos também irão absorver o DDT. O acumulo de DDT na
cadeia alimentar causa uma mortalidade maior do que o habitual nos predadores
naturais das pragas, tornando questionável a utilidade do inseticida a longo prazo, uma
vez que pode levar ao descontrolo dos insetos. Além disso, o acúmulo da substância
em peixes pode contaminar os seres humanos.
Fig.7-DDT na cadeia alimentar
https://pt.slideshare.net/ritarainho/controlo-de-pragas
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Conclusão
O tema dos pesticidas mostrou-se muito amplo e é muito importante do ponto de
vista ecológico. Neste trabalho, constatamos que se está a criar uma
consciencialização dos efeitos dos produtos químicos, que são aplicados aos alimentos
na natureza e, mais recentemente, sobre os efeitos dos mesmos na raça humana.
Existem, então, dois lados a serem considerados. O crescimento rápido da população
exige uma maior produção de alimentos, o que faz dos pesticidas artigos de
necessidade primária para obter maiores rendimentos na agricultura. Mas, por outro
lado, o uso destes produtos químicos causa uma série de problemas não só na
natureza como na saúde humana.
Ficou evidente que a educação dos produtores se torna muito importante, como
medida contra as consequências mais graves decorrentes do uso desses produtos
químicos. Logicamente, cada cidadão deve ter cuidado na escolha dos alimentos.