Este documento resume a primeira parte do Auto da Índia, apresentando as personagens e a situação inicial da peça. A Ama chora porque recebeu a notícia de que o marido não irá mais para a Índia como planejado, enquanto a Moça zomba dela. O documento analisa os diálogos e atitudes das personagens, revelando que a Ama na verdade não desejava a partida do marido.
2. 1. Argumento: a didascália inicial apenas
revela que se trata de uma mulher cujo marido
estava de partida para a Índia, quando vieram
dizer-lhe que ele já não partiria, tendo ela
reagido chorando. Com ela contracena a
criada.
A primeira representação aconteceu em 1509,
em Almada, perante a rainha D. Leonor.
As personagens intervenientes são cinco:
Ama, Moça, Castelhano, Lemos, Marido.
3. 2. Nesta primeira parte do auto intervêm a Ama
e a Moça.
3. A peça começa com a interjeição “Jesu!
Jesu!”. A Moça espanta-se por ver a Ama a
chorar. O facto de se espantar revela que sabe
o que a Ama quer: que o marido parta.
4. 4.1. “Por minha alma, que cuidei/ E que sempre
imaginei/ Que choráveis por nosso amo”
A criada está a fingir, porque, evidentemente,
ela não imaginava a patroa a chorar pelo
marido e, por isso mesmo, se espanta.
4.2. Profere estas palavras com ironia.
5. 5. As duas primeiras falas da Moça provocam
na patroa irritação.
5.1. A Ama chora porque receia que o marido
já não parta, como lhe disseram.
5.2. “Arreceo al de menos.” [Agasta-se-me o
coração, /que quero sair de mim.]
Esta gradação sublinha e intensifica o seu
receio de que o marido não parta.
6. 6. A Moça sai de cena e vai ver se a armada
parte ou fica.
7. Monólogo da Ama – da linha 38 à linha 47.
7.1. A Ama roga a Santo António que não lhe
traga o marido e confessa que é impossível
não estar cansada dele. Pede a Deus que
realize o seu sonho de ficar sem marido.
7. 8. “Dai-me alvíssaras, Senhora.” (l. 49)
8.1. A criada pede recompensa porque traz a
boa notícia da partida da armada que leva o
marido da patroa.
8.2. Quer alguma coisa que ele traga da
viagem. Ao fim e ao cabo, a Moça também
quer tirar algum proveito da viagem à Índia.
8. 9. “Agora há de tornar cá? / Que chegada e que
prazer!” (ll. 55-56)
9.1. Estas palavras da Ama revelam que ela
não apenas desejava que o marido partisse,
como também não quer que ele regresse.
9.2. O recurso expressivo presente no
segundo verso é a ironia.
9. 10. “Virtuosa está minha ama! / Do triste dele hei dó” (ll.
57-58)
A Moça não pretende que a patroa ouça estas
palavras. Esta fala é um aparte.
11. Sabemos que a Ama não era fiel ao marido,
mesmo antes de ele partir para a Índia porque
é ela própria que afirma “se vai ele a pescar
/Mea légua polo mar?/ Isto bem o sabes tu”,
deixando implícita a sua habitual infidelidade
nas ausências do marido mesmo para perto.
10. 12. A função desta primeira parte do Auto da
Índia corresponde à exposição, o momento
dramático inicial que introduz a ação,
apresentando a situação – o marido está de
partida para a Índia e a mulher não deseja
outra coisa nem tem a intenção de lhe ser fiel
– e apresenta a protagonista, revelando em
traços muito gerais o seu caráter – a Ama é
uma mulher jovem que quer gozar a vida e fá-
lo sem escrúpulos.
11. 1. Arcaísmos - mal estreada, demo, gamo,
anojada, desconcerto, leda, eramá, nécia.
2.1. Ama – aceção 2: a dona da casa para os
criados; senhora, patroa.
2.2. s.f. substantivo (nome) feminino; p. ext.
por extensão; p. ana. por analogia; B Brasil;
ant. antigo.
2.3. V. (a entrada do dicionário, com os vários
significados da palavra ama, mostra o seu
campo semântico).
12. 3.1. Frases exclamativas:
“Jesu! Jesu!” (admiração);
“Olhade a mal estreada!” (censura irónica);
“Como vos deixa saudosa! /Toda eu fico
amargurada!” (pesar fingido);
“Ali muitieramá!” (irritação);
“Mau pesar veja eu de ti” (praga, ameaça).
13. 3.2 Frases interrogativas retóricas:
“Eu hei de chorar por isso?” (negação com
desdém);
“Como pode vir a pelo?” (incredulidade);
“E essa cama, bem, que há?” (censura)
14. 4. “Dixeram-mo por mui certo/ Que é certo que fica
cá” (ll. 17-18)
4.1. Nestes versos, o recurso expressivo
usado é o trocadilho certo que sublinha o
receio da Ama perante a certeza de que o
marido não parte.
4.2. Classe gramatical - “mo” é a contração
dos pronomes pessoais me e o.
4.3. Funções sintáticas - Complemento
indireto: me + complemento direto: o.
15. 4.4.
Moça - “Quem diz esse desconcerto?”
Ama - Dixeram-mo por mui certo/ Que é certo que
fica cá” (ll. 16-18)
O antecedente do pronome me é eu
(subentendido); o antecedente do pronome o é
“esse desconcerto”.
16. 5. “Dai-me alvíssaras, Senhora” (l. 49)
“alvíssaras” da expressão árabe al-bixrã, que
significa boa nova.
5.1. A entrada da expressão decorre da
existência de um superstrato árabe, conjunto
de vocábulos que entraram na língua, em
virtude da ocupação árabe da península
ibérica.
5.2. Alvíssaras: recompensa dada por boas
novas, pela restituição de um objeto perdido
ou por prestação de qualquer serviço ou favor.