Este documento é um diário escrito na perspectiva de Leon Leyson, um menino judeu de 9 anos que vive na aldeia polaca de Narewka nos anos 1930. No diário, Leon descreve seu dia brincando com seus irmãos no rio e esperando ansiosamente pela mudança para Cracóvia para viver com seu pai.
1. ESCREVE UMA PÁGINA DO DIÁRIO, ASSUMINDO-TE COMO LEON LEYSON, AOS 9 ANOS, NA SUA ALDEIA, NOS
ANOS 30.
Narewka, 8 de julho de 1938
Querido diário
Hoje, aqui em Narewka, eseve um dia de verão. Sabes que na Polónia costuma estar
imenso frio, por isso eu e os meus irmãos, Hershel, Tsalig, Pesza e David aproveitámos
para ir brincar para o rio.
O pai ainda não chegou à vila e a mãe vai trabalhar de manhã cedo para nos conseguir
sustentar. Então, para não a preocupar, pedi ao Hershel para que deixasse um bilhete em
cima da mesa da cozinha, a avisar que estaríamos no rio a 10 minutos de casa, para ela ver
quando chegasse.
O Hershel é o meu irmão mais velho, e visto que o meu pai não trabalha cá em
Narewka, e a minha mãe está sempre ocupada, é ele que nos ajuda sempre no que é
preciso. Foi ele que me ajudou a montar o primeiro pião, a andar de bicicleta e é ele que
continua a fazer os curativos das minhas feridas no joelho.
Hoje, quando regressámos do rio, a mamã tinha preparado uma sopa quente para nos
aquecermos e para no final nos deitarmos, pois já se fazia tarde.
Mais um dia passado com os meus irmãos e com a minha mãe, à espera que o meu pai
volte a escrever para nos informar do dia em que nos mudaremos com ele para Cracóvia.
Leon Leyson
Ana Flor
2. Narewka, 12 de novembro de 1938
Querido diário,
Como hoje era sábado, não tive de estudar e só cheguei agora em casa.
Logo pela manhã, os meus melhores amigos e vizinhos, vieram a minha casa
chamar-me para ir ao rio, mas a minha mãe ainda pensa que sou muito pequeno para sair,
por isso pediu que Hershel, meu irmão mais velho, nos acompanhasse.
Convidámos também os nossos outros irmãos Tsalig e David, que também quiseram ir.
Já a minha única irmã Pesza, não pôde, pois a nossa mãe prefere que ela fique em casa
para lhe fazer companhia e aprender os trabalhos domésticos.
Antes de sair, fizemos uma cesta com alguns brinquedos: cordas para pular, bolinhas e
alguns carrinhos de madeira que o nosso pai nos deu. Além disso, a mãe preparou uma
cesta com comidas e toalhas para passarmos o dia.
Este rio fica na minha aldeia, Narewka, a cerca de 10 minutos a pé, da minha casa.
Quando lá chegámos eram umas 11 horas. Começámos por tomar banho no rio, logo
depois estendemos as toalhas e almoçámos o que a nossa mãe preparou. Não era muito,
neste tempo difícil, mas estávamos felizes!
Depois, passámos o resto da tarde à beira do rio a brincar com os nossos brinquedos e
a criar jogos. Pulámos a corda juntos, fizemos brincadeiras com os nossos carrinhos,
jogámos a berlinde e fizemos outros jogos como a apanhada e as escondidas.
Quando vimos que já estava a escurecer, juntámos as nossas coisas e voltámos para
casa. Logo que nos viu, a mãe mandou-nos tomar banho, pois o jantar já estava quase
pronto. Eu fui o primeiro a terminar e vim logo para o quarto para contar-te como foi o
meu dia preferido da semana, e que agora é ainda mais especial, já que pode ser o último
que passo com os meus amigos da aldeia, antes de irmos para Cracóvia, para nos
encontrarmos com o nosso pai.
Enfim, estou muito cansado e feliz, amanhã volto com mais registos do meu dia.
Boa noite, amigo diário.
Leon
Ana Luíza
3. Narewka, 5 de abril de 1930
Querido Diário,
Hoje ganhei ao meu irmão Hershel numa corrida que fizemos à beira do rio. Foi muito
divertido e fiquei muito feliz, pois foi a primeira vez que o consegui vencer.
Depois de descansarmos um pouco, deitados na relva macia, à sombra de uma árvore,
a olharmos para o magnífico céu azul, fomos comprar pão, tal como a nossa mãe pediu, à
padaria habitual, onde encontramos um dos meus melhores amigos. Neste momento,
todos os encontros com os meus amigos, sejam estes inesperados ou marcados, são
motivo de grande alegria e animação. Muito em breve deixarei de os ver, pois irei partir
com a minha família para Cracóvia. Obviamente, estou feliz com isto, tenho a certeza que
será bom sair desta pequena aldeia e também tenho muitas saudades do meu pai. Além
disso, viver numa cidade deve ser uma aventura incrível e eu estou ansioso por embarcar
nela. A minha mãe diz que na cidade teremos mais oportunidades de ter uma vida melhor,
mais digna e abundante. Isso realmente faz com que a minha vontade de ir aumente.
Por outro lado, tenho um pouco de receio do que possa acontecer, por exemplo, será
que irei conseguir fazer amigos, será que irão querer brincar comigo, será que iremos
realmente conseguir ter mais dinheiro e condições das que temos agora? Sinceramente
não sei. Mas também não me quero preocupar com isso.
Por agora, quero apenas aproveitar o pouco tempo que me resta aqui, na minha aldeia,
com as pessoas que mais gosto e, depois, quando chegar a hora de ir para Cracóvia, ir
confiante de que a partir dali tudo irá ser muito melhor, tal como a minha mãe diz, diária e
repetidamente, para nos animar e tranquilizar.
Às vezes, acho que ela diz isso para se tentar convencer a ela própria.
Boa noite
Leon
Ana Sofia Gonçalves
4. Narewka, 15 de agosto de 1938
Querido diário
Há 3 dias recebemos uma carta que o meu pai enviou à minha mãe. A carta dizia que
eu, a minha mãe e os meus irmãos partiríamos para Cracóvia, a “cidade dos sonhos”, para
vivermos com ele. Ele diz que lá teremos condições de vida melhores, poderemos fazer
mais brincadeiras, ter amigos novos e estudar numa nova escola. Estou ansioso, os velhos
da aldeia dizem que Cracóvia é uma cidade muito bonita, que parece vinda dos sonhos e a
minha mãe diz que em menos de dois meses iremos para lá.
Por agora, permaneço na minha aldeia com o resto da família. A minha mãe continua
atarefada com a casa. Felizmente, os meus irmãos mais velhos podem ajudar com as
tarefas mais pesadas e eu com pequenas coisas. Apesar disso, a nossa mãe deixa-nos sair
para brincar com as outras crianças. A minha irmã Pesza brinca com outras meninas com
algumas bonecas de trapos, fazem coroas de flores e trançam os cabelos. Já eu e os meus
irmãos mais velhos subimos às árvores, nadámos no rio e jogámos à apanhada com outros
meninos que apesar de não serem judeus como nós, nos tratam bem e sem distinções.
Quando fica tarde, os mais velhos vigiam-nos até à minha mãe nos chamar para voltar
para casa.
Infelizmente, terei de deixar os meus amigos para trás, juntamente com os campos da
minha aldeia, mas vou lembrar-me deles para sempre, apesar de começar “uma vida
nova” como Hersel, meu irmão mais velho, costuma dizer.
Até amanhã.
Leon
Carolina Freitas
5. Narewka, 15 de agosto de 1938
Querido diário,
Hoje estive a pensar. A pensar no quão pequena é a minha aldeia. Pelo menos era o
que dizia o meu pai antes de partir para a cidade. Na verdade, não sei se a minha aldeia é
pequena ou grande, pois nunca estive noutro sítio se não aqui. Os meus antepassados
estão em Narewka há mais de duas gerações e eu gosto de aqui viver. Gosto de passar os
dias a brincar com os meus irmãos. As engenhocas de Tsalig fascinam-se! O David, como
de costume, passa a vida a provocar-me com as suas partidas. Enquanto eu quase choro
de frustração, ele ri-se à gargalhada. Apesar de tudo, continuámos a ser os melhores
amigos. Uma das minhas partes favoritas nesta aldeia é, sem dúvida, o rio. Nunca me vou
cansar de subir às árvores com os meus amigos e irmãos e executar mergulhos perfeitos
(sem a minha mãe saber) até ao pôr do sol.
Isto tudo para te dizer que ouvi a minha mãe sussurrar às amigas que, provavelmente,
iríamos viver com o meu pai para Cracóvia. E, por muito mais que haja uma parte de mim
com o mínimo de curiosidade em saber como é viver noutro lugar, há outra que vai ter
imensas saudades deste sítio e dos meus amigos. Pelo menos os meus irmãos vêm
comigo. Talvez isto seja para o melhor.
Acredito que tudo se irá resolver.
Leon
Carolina Silva
6. Narewka, 15 de setembro de 1930
Querido Diário,
Na noite anterior, não consegui dormir, pois fiquei a pensar no que fazer neste dia tão
importante.
Logo pela manhã, senti o cheiro de pão fresco e descobri que a minha mãe preparava
um almoço especial para mim! Depois de comermos tudo, fui brincar no jardim com
Hershel e Tsalig. Corremos, cantámos e subimos até ao topo das árvores!
Tudo parecia bem, até que, ao entardecer, o David quis-se juntar a nós e, ao correr,
tropeçou num galho e caiu numa pequena poça que se formou perto do rio. A mãe ficou
muito chateada e disse que devíamos ter cuidado com o nosso pequeno irmão. Fiquei um
pouco irritado, pois ele é que veio atrás de nós e não podia, porque só os mais crescidos
podem brincar no jardim!
No final, nem tudo foi mau, tive a sorte de ouvir uma história antes de deitar e receber
um abraço da mãe. Agora estou aqui deitado, pronto para dormir e desejar que, amanhã,
seja o meu aniversário outra vez.
Adeus, querido diário, volto amanhã!
Leon
Inês Carvalho
7. Narewka,20 de julho de 1931
Querido diário
Hoje foi um dia diferente. Ao contrário dos outros, eu e os meus irmãos, além de irmos
brincar para as margens do rio, inventámos uma série de jogos diferentes e mais
divertidos. Descobrimos que as rochas, por exemplo, são mais interessantes do que
aparentam, cheias de cristais e brilhantes; também subimos à árvore mais alta que alguma
vez vimos na aldeia e ficámos a observar o quão tudo é tão pequenino de longe, mas
enorme de perto! As árvores parecem tão pequenas que aposto que as conseguiria subir
todas.
O bom de ter muitos irmãos é que tenho sempre companhia e, assim, já não brinco
sozinho. Quando o Hershel não quer brincar, o Tsaug ou o David hão de querer. Se eles
não quiserem a Peza quer sempre, ela é a melhor companheira e alinha sempre nas
minhas brincadeiras, apesar de ser muito melhor que ela nos jogos.
Amanhã quero-me divertir ainda mais nesta aldeia maravilhosa que muito me dá e
muito me diverte e espero aprender mais coisas novas.
Leon
Luísa Sampaio
8. Narewka,25 de outubro de 1935
Querido diário,
Hoje decidi acordar bem cedo para poder passar o dia todo a brincar no rio com os
meus irmãos. Fui para a cozinha ainda com o pijama vestido, vi a minha mãe a preparar o
pequeno-almoço enquanto os meus irmãos já estavam todos acordados e sentados na
mesa para comer.
Quando acabámos, pedimos logo à mãe para irmos para o rio e ela deixou dizendo
apenas que tínhamos de voltar a tempo para o almoço. Então, fomos buscar a roupa que
usávamos para nadar e fomos a correr para lá, enquanto fazíamos uma corrida para ver
quem chegava primeiro.
Foi mesmo divertido! Como não estava lá ninguém, pudemos fazer todas as
brincadeiras que queríamos porque tínhamos o rio só para nós. Voltámos para casa e a
mãe disse para irmos um por um tomar banho e tínhamos que ser bem rápidos porque o
almoço estava quase pronto e, por acaso, era a minha comida preferida!
Depois do almoço, a mãe já não nos deixou ir de novo para o rio porque disse que
estava muito frio, então tivemos de ficar em casa. Eu e o David ficámos a brincar com os
nossos piões novos enquanto a Pesza, o Hershel e o Tsaling aproveitaram para irem lá
para fora lançar um papagaio porque estava vento.
A tarde também foi muito divertida e, à hora do jantar, já estávamos cansados. Quando
acabamos de jantar, que era sopa e eu não gosto lá muito, fomos todos lavar os dentes e
como já era tarde e estávamos realmente cansados decidimos ir dormir. Mas eu não
consigo dormir enquanto a mãe não me vier dar um beijinho de boa noite. Todas as
noites, ela vem-me desejar boa noite, sempre em primeiro lugar, para eu conseguir
adormecer logo. Gostei muito deste dia e espero que a mãe nos deixe ir outra vez para o
rio amanhã e que não faça sopa de novo!
Leon
Mariana Pereira
9. Narewka, 5 de janeiro de 1938
Olá!
Mais um dia, querido diário, estou aqui eu, o Leon! Acredito que o dia de hoje foi muito
bom. Diverti-me bastante com os meus amigos e com os meus irmãos, David e Hershel.
Primeiro, fomos pular à corda, e eu acabei por cair. Magoou-me um pouco, mas agora
estou bem. Depois, fomos ao rio jogar algumas pedras e, no final, acabámos por entrar na
água e brincámos a tarde toda.
Bom, tenho que aproveitar esses últimos dias aqui em Narewka, pois a minha família e
eu iremos para Cracóvia. Apesar de me sentir um pouco triste, em deixar a aldeia onde
moro desde sempre, e onde viveram todos os meus antepassados, a ansiedade da
mudança acaba por superar os sentimentos ruins.
Soube que lá, em Cracóvia, há um belo castelo e monumentos muito bonitos. Acredito
também que as pessoas que lá vivem devem ser incrivelmente simpáticas. Fico muito
contente só de imaginar! Papai já está lá, e eu, os meus irmãos e a minha mãe só estamos
à espera do momento certo para irmos.
Vai ser uma aventura fantástica!
Até amanhã.
Leon
Sophia Barreto
10. Narewka, 15 de setembro de 1938
Querido diário
Hoje, foi sem dúvida um dia muito preenchido. De manhã, fui brincar com o Hershel
para o rio perto de nossa casa e fizemos muitas corridas entre umas casas e outras. É claro
que o Hershel, deixou-me ganhar, a maior parte das vezes, mas sinto que uma vez eu
ganhei justamente, porque ele já estava cansado, por isso senti-me vitorioso.
Já durante a tarde fomos novamente à floresta, mas desta vez com a mãe e o resto dos
irmãos e enquanto brincávamos, lá ajudávamos a mãe a apanhar lenha para ela rachar
para puder aquecer a casa, pois o meu pai está fora e ela precisa da nossa ajuda. Para ser
sincero estava realmente preocupado por não ver o pai há algum tempo e nem eu nem os
meus irmãos sabíamos o porquê de ele não vir a casa, porém agora já estou muito feliz,
pois enquanto estávamos à mesa iluminados pela única vela que nos resta e quase gasta,
a comer a típica sopa com os legumes que a mãe apanha na nossa horta e recebemos uma
ótima notícia dada por ela, algo que nos deixou a todos boquiabertos. Vamos viver para
Cracóvia, onde está agora o meu pai com um novo trabalho, que incrível!
Uma cidade tão grande e bonita, estou muito entusiasmado, porém com algumas
dúvidas, porque tenho receio de não poder brincar num rio com o Hershel, o Tsalig, a
Pesza e o David e fazer muitas corridas vendo a natureza e a serenidade como a da nossa
aldeia. Penso que será um pouco diferente devido a toda aquela dimensão, apesar disso
espero mesmo que tenhamos sítios magníficos para apreciar aquela cidade tão bela e
para brincarmos, acho que a partir de agora tudo será mágico.
A viagem está para breve, para a nossa família se voltar a reunir, mas desta vez de uma
forma muito melhor, talvez consigamos aquecer melhor a casa e quem sabe começarmos
a usar lanternas. Penso que será melhor para a minha mãe conseguir coser as nossas
meias sem picar os dedos. Vamos conhecer um novo mundo. E aqui estás tu, meu querido
diário, para me acompanhares em todos os momentos.
Vou contar-te sempre todas as novidades!
Leon
Beatriz Fernandes