SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 28
Eugénio de Andrade Nasceu a 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, Fundão.  Morreu no Porto a 13 de Junho de 2005.
  Passamos pelas coisas sem as ver, gastos, como animais envelhecidos: se alguém chama por nós não respondemos, se alguém nos pede amor não estremecemos, como frutos de sombra sem sabor, vamos caindo ao chão, apodrecidos.
É urgente o amor.É urgente um barco no mar.É urgente destruir certas palavras,ódio, solidão e crueldade,alguns lamentos,muitas espadas.É urgente inventar alegria,multiplicar os beijos, as searas,é urgente descobrir rosas e riose manhãs claras.Cai o silêncio nos ombros e a luzimpura, até doer.É urgente o amor, é urgentepermanecer.
Diz homem, diz criança, diz estrela.Repete as sílabasonde a luz é feliz e se demora.Volta a dizer: homem, mulher, criança.Onde a beleza é mais nova.
É na escura folhagem do sonoque brilhaa pele molhada,a difícil floração da língua. Eugénio de Andrade
Entre os teus lábiosé que a loucura acode,desce à garganta,invade a água.No teu peitoé que o pólen do fogose junta à nascente,alastra na sombra.Nos teus flancosé que a fonte começaa ser rio de abelhas,rumor de tigre.Da cintura aos joelhosé que a areia queima,o sol é secreto,cego o silêncio.Deita-te comigo.Ilumina meus vidros.Entre lábios e lábiostoda a música é minha.
Procura a maravilha.Onde um beijo sabea barcos e bruma.No brilho redondoe jovem dos joelhos.Na noite inclinadade melancolia.Procura.Procura a maravilha. Eugénio de Andrade
    A boca,onde o fogode um verãomuito antigocintila,a boca espera(que pode uma bocaesperarsenão outra boca?)espera o ardordo ventopara ser ave,e cantar.
Colhetodo o oiro do diana haste mais altada melancolia. Eugénio de Andrade
Ainda sabemos cantar,só a nossa voz é que mudou:somos agora mais lentos,mais amargos,e um novo gesto é igual ao que passou.Um verso já não é a maravilha,um corpo já não é a plenitude.
   Nunca o verão se demoraraassim nos lábiose na água- como podíamos morrer,tão próximose nus e inocentes? Eugénio de Andrade
    Devias estar aqui rente aos meus lábiospara dividir contigo esta amargurados meus dias partidos um a um- Eu vi a terra limpa no teu rosto,Só no teu rosto e nunca em mais nenhum
De palavra em palavraa noite sobeaos ramos mais altose canta Eugénio de Andrade
Foi para ti que criei as rosas.Foi para ti que lhes dei perfume.Para ti rasguei ribeirose dei ás romãs a cor do lume.
  Húmido de beijos e de lágrimas,ardor da terra com sabor a mar,o teu corpo perdia-se no meu.(Vontade de ser barco ou de cantar.) Eugénio de Andrade
  Sê paciente; esperaque a palavra amadureçae se desprenda como um frutoao passar o vento que a mereça.
  Hoje roubei todas as rosas dos jardinse cheguei ao pé de ti de mãos vazias. Eugénio de Andrade
  Eram de longe.Do mar traziamo que é do mar: doçurae ardor nos olhos fatigados.
   Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!E eu acreditava.Acreditava,porque ao teu ladotodas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos.Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.Era no tempo em que os meus olhoseram os tais peixes verdes.Hoje são apenas os meus olhos.É pouco, mas é verdade:uns olhos como todos os outros.
                               Os amantes sem dinheiro I Tinham o rosto aberto a quem passava.     Tinham lendas e mitos e frio no coração.           Tinham jardins onde a lua passeava de mãos    dadas com a água e um anjo de pedra por irmão
Os amantes sem dinheiro II Tinham como toda a gente o milagre de cada dia escorrendo pelos telhados; e olhos de oiro onde ardiam os sonhos mais tresmalhados.
Os amantes sem dinheiro III  Tinham fome e sede como os bichos, e silêncio à roda dos seus passos. Mas a cada gesto que faziam um pássaro nascia dos seus dedos e deslumbrado penetrava nos espaços.
Adeus  I Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mãos à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Adeus  II Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar. Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. E eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Adeus III Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário, era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco mas é verdade, uns olhos como todos os outros.
Adeus  IV Já gastámos as palavras.Quando agora digo: meu amor...,já não se passa absolutamente nada.E no entanto, antes das palavras gastas tenho a certeza de que todas as coisas estremeciamsó de murmurar o teu nomeno silêncio do meu  coração.
Adeus  V  Não temos já nada para dar.Dentro de tinão há nada que me peça água.O passado é inútil como um trapo.E já te disse: as palavras estão gastas.Adeus
Eugénio de Andrade

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Fernando pessoa ortónimo e heterónimos
Fernando pessoa ortónimo e heterónimos Fernando pessoa ortónimo e heterónimos
Fernando pessoa ortónimo e heterónimos Ricardo Amaral
 
A Evolução do Ramalhete - Os Maias
A Evolução do Ramalhete - Os MaiasA Evolução do Ramalhete - Os Maias
A Evolução do Ramalhete - Os Maiasmauro dinis
 
Os Maias - a ação & titulo e subtítulo
Os Maias - a ação & titulo e subtítuloOs Maias - a ação & titulo e subtítulo
Os Maias - a ação & titulo e subtítuloDaniela Filipa Sousa
 
Eugenio de andrade
Eugenio de andradeEugenio de andrade
Eugenio de andradeliofer21
 
"Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade""Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade"MiguelavRodrigues
 
Análise ela canta pobre ceifeira alunos
Análise ela canta pobre ceifeira   alunosAnálise ela canta pobre ceifeira   alunos
Análise ela canta pobre ceifeira alunosPaulo Portelada
 
Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lurdes Augusto
 
Poema Liberdade, de Fernando Pessoa
Poema Liberdade, de Fernando PessoaPoema Liberdade, de Fernando Pessoa
Poema Liberdade, de Fernando PessoaDina Baptista
 
Portugues 12 provas_modelo
Portugues 12 provas_modeloPortugues 12 provas_modelo
Portugues 12 provas_modeloSniaGonalves45
 
13407362-As-palavras-Eugenio-de-Andrade.docx
13407362-As-palavras-Eugenio-de-Andrade.docx13407362-As-palavras-Eugenio-de-Andrade.docx
13407362-As-palavras-Eugenio-de-Andrade.docxsilviaelisabete
 
Análise de poemas de Fernando Pessoa
Análise de poemas de Fernando PessoaAnálise de poemas de Fernando Pessoa
Análise de poemas de Fernando PessoaMargarida Rodrigues
 
Luís Vaz de Camões - Vida e obra
Luís Vaz de Camões - Vida e obraLuís Vaz de Camões - Vida e obra
Luís Vaz de Camões - Vida e obramariacosta
 
Ficha verificação leitura memorial
Ficha verificação leitura memorialFicha verificação leitura memorial
Ficha verificação leitura memorialFernanda Pereira
 

Mais procurados (20)

Fernando pessoa ortónimo e heterónimos
Fernando pessoa ortónimo e heterónimos Fernando pessoa ortónimo e heterónimos
Fernando pessoa ortónimo e heterónimos
 
A Evolução do Ramalhete - Os Maias
A Evolução do Ramalhete - Os MaiasA Evolução do Ramalhete - Os Maias
A Evolução do Ramalhete - Os Maias
 
Livro do desassossego power point
Livro do desassossego power pointLivro do desassossego power point
Livro do desassossego power point
 
Os Maias - a ação & titulo e subtítulo
Os Maias - a ação & titulo e subtítuloOs Maias - a ação & titulo e subtítulo
Os Maias - a ação & titulo e subtítulo
 
Ano da morte
Ano da morteAno da morte
Ano da morte
 
Endechas a bárbara
Endechas a bárbaraEndechas a bárbara
Endechas a bárbara
 
Eugenio de andrade
Eugenio de andradeEugenio de andrade
Eugenio de andrade
 
"Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade""Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade"
 
Análise ela canta pobre ceifeira alunos
Análise ela canta pobre ceifeira   alunosAnálise ela canta pobre ceifeira   alunos
Análise ela canta pobre ceifeira alunos
 
Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões Lírica de Luís de Camões
Lírica de Luís de Camões
 
Impressionismo
ImpressionismoImpressionismo
Impressionismo
 
Poema Liberdade, de Fernando Pessoa
Poema Liberdade, de Fernando PessoaPoema Liberdade, de Fernando Pessoa
Poema Liberdade, de Fernando Pessoa
 
Portugues 12 provas_modelo
Portugues 12 provas_modeloPortugues 12 provas_modelo
Portugues 12 provas_modelo
 
Amor de perdição
Amor de perdiçãoAmor de perdição
Amor de perdição
 
Luis de camões 1
Luis de camões 1Luis de camões 1
Luis de camões 1
 
13407362-As-palavras-Eugenio-de-Andrade.docx
13407362-As-palavras-Eugenio-de-Andrade.docx13407362-As-palavras-Eugenio-de-Andrade.docx
13407362-As-palavras-Eugenio-de-Andrade.docx
 
Análise de poemas de Fernando Pessoa
Análise de poemas de Fernando PessoaAnálise de poemas de Fernando Pessoa
Análise de poemas de Fernando Pessoa
 
Teste lirica-camoniana
Teste lirica-camonianaTeste lirica-camoniana
Teste lirica-camoniana
 
Luís Vaz de Camões - Vida e obra
Luís Vaz de Camões - Vida e obraLuís Vaz de Camões - Vida e obra
Luís Vaz de Camões - Vida e obra
 
Ficha verificação leitura memorial
Ficha verificação leitura memorialFicha verificação leitura memorial
Ficha verificação leitura memorial
 

Destaque

Poemas de eugénio de andrade
Poemas de eugénio de andradePoemas de eugénio de andrade
Poemas de eugénio de andradeAnaGomes40
 
Eugénio de Andrade e Augusto de Campos
Eugénio de Andrade e Augusto de CamposEugénio de Andrade e Augusto de Campos
Eugénio de Andrade e Augusto de CamposRosário Cunha
 
Eugénio de Andrade, Mário de Sá Carneiro
Eugénio de Andrade, Mário de Sá CarneiroEugénio de Andrade, Mário de Sá Carneiro
Eugénio de Andrade, Mário de Sá CarneiroRosário Cunha
 
Eugenio De Andrade
Eugenio De AndradeEugenio De Andrade
Eugenio De Andradekally
 
Poetas do séc.xx Sophia de Mello Breyner
Poetas do séc.xx  Sophia de Mello BreynerPoetas do séc.xx  Sophia de Mello Breyner
Poetas do séc.xx Sophia de Mello BreynerRosário Cunha
 
Semana da Poesia em Miranda do Corvo
Semana da Poesia  em Miranda do CorvoSemana da Poesia  em Miranda do Corvo
Semana da Poesia em Miranda do Corvocriscouceiro
 
Eugenio Andrade 4
Eugenio Andrade 4Eugenio Andrade 4
Eugenio Andrade 4Helena
 
Polacos Famosos
Polacos FamososPolacos Famosos
Polacos Famososelcedin
 
"Frutos", Eugénio de Andrade
"Frutos", Eugénio de Andrade"Frutos", Eugénio de Andrade
"Frutos", Eugénio de Andradeelcedin
 
Genêros literários
Genêros literáriosGenêros literários
Genêros literáriosAntonio Gomes
 
Generos literarios 1
Generos literarios 1Generos literarios 1
Generos literarios 1juliolimampu
 
Os gêneros literários
Os gêneros literáriosOs gêneros literários
Os gêneros literáriosEvilane Alves
 

Destaque (20)

Poemas de eugénio de andrade
Poemas de eugénio de andradePoemas de eugénio de andrade
Poemas de eugénio de andrade
 
Eugénio de Andrade e Augusto de Campos
Eugénio de Andrade e Augusto de CamposEugénio de Andrade e Augusto de Campos
Eugénio de Andrade e Augusto de Campos
 
Eugénio de Andrade, Mário de Sá Carneiro
Eugénio de Andrade, Mário de Sá CarneiroEugénio de Andrade, Mário de Sá Carneiro
Eugénio de Andrade, Mário de Sá Carneiro
 
Eugenio De Andrade
Eugenio De AndradeEugenio De Andrade
Eugenio De Andrade
 
Eugénio de Andrade
Eugénio de AndradeEugénio de Andrade
Eugénio de Andrade
 
Poetas do séc.xx Sophia de Mello Breyner
Poetas do séc.xx  Sophia de Mello BreynerPoetas do séc.xx  Sophia de Mello Breyner
Poetas do séc.xx Sophia de Mello Breyner
 
Semana da Poesia em Miranda do Corvo
Semana da Poesia  em Miranda do CorvoSemana da Poesia  em Miranda do Corvo
Semana da Poesia em Miranda do Corvo
 
Eugenio andrade (1)
Eugenio andrade (1)Eugenio andrade (1)
Eugenio andrade (1)
 
Eugenio Andrade 4
Eugenio Andrade 4Eugenio Andrade 4
Eugenio Andrade 4
 
Eugenio de andrade
Eugenio de andradeEugenio de andrade
Eugenio de andrade
 
Polacos Famosos
Polacos FamososPolacos Famosos
Polacos Famosos
 
"Frutos", Eugénio de Andrade
"Frutos", Eugénio de Andrade"Frutos", Eugénio de Andrade
"Frutos", Eugénio de Andrade
 
Genêros literários
Genêros literáriosGenêros literários
Genêros literários
 
Generos literarios 1
Generos literarios 1Generos literarios 1
Generos literarios 1
 
Gêneros literários
Gêneros literáriosGêneros literários
Gêneros literários
 
Análise Estética
Análise EstéticaAnálise Estética
Análise Estética
 
Recursos estilísticos
Recursos estilísticosRecursos estilísticos
Recursos estilísticos
 
Gêneros literários
Gêneros literáriosGêneros literários
Gêneros literários
 
Os gêneros literários
Os gêneros literáriosOs gêneros literários
Os gêneros literários
 
Gêneros literários
Gêneros literários   Gêneros literários
Gêneros literários
 

Semelhante a O poeta da saudade Eugénio de Andrade

Eugenio Andrade
Eugenio AndradeEugenio Andrade
Eugenio Andradefrutinha
 
Eugenio andrade 1
Eugenio andrade 1Eugenio andrade 1
Eugenio andrade 1carlos2627
 
Caderno digital de Literatura
Caderno digital de LiteraturaCaderno digital de Literatura
Caderno digital de Literaturadavidaaduarte
 
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em portuguêsUm coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em portuguêsLeonor Costa
 
Poemas Ilustrados
Poemas IlustradosPoemas Ilustrados
Poemas Ilustradosvales
 
Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010Gisele Santos
 
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperadaPablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperadaCarlos Elson Cunha
 
Semana da leitura power point
Semana da leitura power pointSemana da leitura power point
Semana da leitura power pointCélia Almeida
 
Semana da leitura power point
Semana da leitura power pointSemana da leitura power point
Semana da leitura power pointCélia Almeida
 
Poemas del -portugal
Poemas   del -portugalPoemas   del -portugal
Poemas del -portugalMaria Paredes
 

Semelhante a O poeta da saudade Eugénio de Andrade (20)

Eugenio Andrade
Eugenio AndradeEugenio Andrade
Eugenio Andrade
 
Eugenio andrade 4
Eugenio andrade 4Eugenio andrade 4
Eugenio andrade 4
 
Eugenio andrade 4
Eugenio andrade 4Eugenio andrade 4
Eugenio andrade 4
 
Eugenio andrade 1
Eugenio andrade 1Eugenio andrade 1
Eugenio andrade 1
 
Eugenio de Andrade
Eugenio de AndradeEugenio de Andrade
Eugenio de Andrade
 
Caderno digital de Literatura
Caderno digital de LiteraturaCaderno digital de Literatura
Caderno digital de Literatura
 
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em portuguêsUm coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
 
Eugénio de andrade
Eugénio de andradeEugénio de andrade
Eugénio de andrade
 
Poema da semana
Poema da semanaPoema da semana
Poema da semana
 
Poema da semana
Poema da semanaPoema da semana
Poema da semana
 
Poemas Ilustrados
Poemas IlustradosPoemas Ilustrados
Poemas Ilustrados
 
Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010
 
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperadaPablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
 
Ler o mar
Ler o marLer o mar
Ler o mar
 
Poemas dia s. valentim
Poemas dia s. valentimPoemas dia s. valentim
Poemas dia s. valentim
 
Semana da leitura power point
Semana da leitura power pointSemana da leitura power point
Semana da leitura power point
 
Semana da leitura power point
Semana da leitura power pointSemana da leitura power point
Semana da leitura power point
 
Poesias 7
Poesias 7Poesias 7
Poesias 7
 
Poemas de vários autores
Poemas de vários autoresPoemas de vários autores
Poemas de vários autores
 
Poemas del -portugal
Poemas   del -portugalPoemas   del -portugal
Poemas del -portugal
 

Mais de davidaaduarte

Problemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologia
Problemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologiaProblemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologia
Problemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologiadavidaaduarte
 
Problemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologia
Problemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologiaProblemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologia
Problemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologiadavidaaduarte
 
Psicologia: a cultura
Psicologia: a culturaPsicologia: a cultura
Psicologia: a culturadavidaaduarte
 
Psicologia: cérebro
Psicologia: cérebroPsicologia: cérebro
Psicologia: cérebrodavidaaduarte
 
CREATIVE GRAMMAR WORKSHOP
CREATIVE GRAMMAR WORKSHOPCREATIVE GRAMMAR WORKSHOP
CREATIVE GRAMMAR WORKSHOPdavidaaduarte
 

Mais de davidaaduarte (15)

Rui Belo
Rui BeloRui Belo
Rui Belo
 
Problemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologia
Problemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologiaProblemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologia
Problemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologia
 
Problemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologia
Problemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologiaProblemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologia
Problemas e conceitos teóricos estruturadores de psicologia
 
Psicologia: a cultura
Psicologia: a culturaPsicologia: a cultura
Psicologia: a cultura
 
Psicologia: cérebro
Psicologia: cérebroPsicologia: cérebro
Psicologia: cérebro
 
Tema 1 genética
Tema 1   genéticaTema 1   genética
Tema 1 genética
 
CREATIVE GRAMMAR WORKSHOP
CREATIVE GRAMMAR WORKSHOPCREATIVE GRAMMAR WORKSHOP
CREATIVE GRAMMAR WORKSHOP
 
Filipa Duarte
Filipa Duarte Filipa Duarte
Filipa Duarte
 
Oficinas de escrita
Oficinas de escritaOficinas de escrita
Oficinas de escrita
 
René magritte
René magritteRené magritte
René magritte
 
René Magritte
René MagritteRené Magritte
René Magritte
 
Natércia Freire
Natércia FreireNatércia Freire
Natércia Freire
 
António Nobre
António NobreAntónio Nobre
António Nobre
 
Oficinas de escrita
Oficinas de escritaOficinas de escrita
Oficinas de escrita
 
Poesia Chinesa
Poesia  ChinesaPoesia  Chinesa
Poesia Chinesa
 

Último

Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfEmanuel Pio
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdfAna Lemos
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFtimaMoreira35
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxMauricioOliveira258223
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESEduardaReis50
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médiorosenilrucks
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdfLeloIurk1
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfLeloIurk1
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....LuizHenriquedeAlmeid6
 

Último (20)

Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
 

O poeta da saudade Eugénio de Andrade

  • 1. Eugénio de Andrade Nasceu a 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, Fundão. Morreu no Porto a 13 de Junho de 2005.
  • 2. Passamos pelas coisas sem as ver, gastos, como animais envelhecidos: se alguém chama por nós não respondemos, se alguém nos pede amor não estremecemos, como frutos de sombra sem sabor, vamos caindo ao chão, apodrecidos.
  • 3. É urgente o amor.É urgente um barco no mar.É urgente destruir certas palavras,ódio, solidão e crueldade,alguns lamentos,muitas espadas.É urgente inventar alegria,multiplicar os beijos, as searas,é urgente descobrir rosas e riose manhãs claras.Cai o silêncio nos ombros e a luzimpura, até doer.É urgente o amor, é urgentepermanecer.
  • 4. Diz homem, diz criança, diz estrela.Repete as sílabasonde a luz é feliz e se demora.Volta a dizer: homem, mulher, criança.Onde a beleza é mais nova.
  • 5. É na escura folhagem do sonoque brilhaa pele molhada,a difícil floração da língua. Eugénio de Andrade
  • 6. Entre os teus lábiosé que a loucura acode,desce à garganta,invade a água.No teu peitoé que o pólen do fogose junta à nascente,alastra na sombra.Nos teus flancosé que a fonte começaa ser rio de abelhas,rumor de tigre.Da cintura aos joelhosé que a areia queima,o sol é secreto,cego o silêncio.Deita-te comigo.Ilumina meus vidros.Entre lábios e lábiostoda a música é minha.
  • 7. Procura a maravilha.Onde um beijo sabea barcos e bruma.No brilho redondoe jovem dos joelhos.Na noite inclinadade melancolia.Procura.Procura a maravilha. Eugénio de Andrade
  • 8. A boca,onde o fogode um verãomuito antigocintila,a boca espera(que pode uma bocaesperarsenão outra boca?)espera o ardordo ventopara ser ave,e cantar.
  • 9. Colhetodo o oiro do diana haste mais altada melancolia. Eugénio de Andrade
  • 10. Ainda sabemos cantar,só a nossa voz é que mudou:somos agora mais lentos,mais amargos,e um novo gesto é igual ao que passou.Um verso já não é a maravilha,um corpo já não é a plenitude.
  • 11. Nunca o verão se demoraraassim nos lábiose na água- como podíamos morrer,tão próximose nus e inocentes? Eugénio de Andrade
  • 12. Devias estar aqui rente aos meus lábiospara dividir contigo esta amargurados meus dias partidos um a um- Eu vi a terra limpa no teu rosto,Só no teu rosto e nunca em mais nenhum
  • 13. De palavra em palavraa noite sobeaos ramos mais altose canta Eugénio de Andrade
  • 14. Foi para ti que criei as rosas.Foi para ti que lhes dei perfume.Para ti rasguei ribeirose dei ás romãs a cor do lume.
  • 15. Húmido de beijos e de lágrimas,ardor da terra com sabor a mar,o teu corpo perdia-se no meu.(Vontade de ser barco ou de cantar.) Eugénio de Andrade
  • 16. paciente; esperaque a palavra amadureçae se desprenda como um frutoao passar o vento que a mereça.
  • 17. Hoje roubei todas as rosas dos jardinse cheguei ao pé de ti de mãos vazias. Eugénio de Andrade
  • 18. Eram de longe.Do mar traziamo que é do mar: doçurae ardor nos olhos fatigados.
  • 19. Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!E eu acreditava.Acreditava,porque ao teu ladotodas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos.Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.Era no tempo em que os meus olhoseram os tais peixes verdes.Hoje são apenas os meus olhos.É pouco, mas é verdade:uns olhos como todos os outros.
  • 20. Os amantes sem dinheiro I Tinham o rosto aberto a quem passava. Tinham lendas e mitos e frio no coração. Tinham jardins onde a lua passeava de mãos dadas com a água e um anjo de pedra por irmão
  • 21. Os amantes sem dinheiro II Tinham como toda a gente o milagre de cada dia escorrendo pelos telhados; e olhos de oiro onde ardiam os sonhos mais tresmalhados.
  • 22. Os amantes sem dinheiro III Tinham fome e sede como os bichos, e silêncio à roda dos seus passos. Mas a cada gesto que faziam um pássaro nascia dos seus dedos e deslumbrado penetrava nos espaços.
  • 23. Adeus I Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mãos à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
  • 24. Adeus II Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar. Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. E eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
  • 25. Adeus III Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário, era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco mas é verdade, uns olhos como todos os outros.
  • 26. Adeus IV Já gastámos as palavras.Quando agora digo: meu amor...,já não se passa absolutamente nada.E no entanto, antes das palavras gastas tenho a certeza de que todas as coisas estremeciamsó de murmurar o teu nomeno silêncio do meu coração.
  • 27. Adeus V Não temos já nada para dar.Dentro de tinão há nada que me peça água.O passado é inútil como um trapo.E já te disse: as palavras estão gastas.Adeus