2. E o jardim tinha flores
De que não me sei lembrar...
N ão sei, ama, onde era,
Flores de tantas cores...
Penso e fico a chorar...
(Filha, os sonhos são dores...).
Nunca o saberei...
Sei que era Primavera Qualquer dia viria
E o jardim do rei... Qualquer coisa a fazer
(Filha, quem o soubera!...). Toda aquela alegria
Mais alegria nascer
Que azul tão azul tinha (Filha, o resto é morrer...).
Ali o azul do céu!
Se eu não era a rainha, Conta-me contos, ama...
Porque era tudo meu? Todos os contos são
(Filha, quem o adivinha?). Esse dia, e jardim e a dama
Que eu fui nessa solidão...
3. Temáticas : Dor de pensar (‘’penso e fico a chorar’’) e Nostalgia da infância perdida ;
Narrativa de um sonho , expressa num dialogo entre o sujeito poético e a
‘ama’;
• Tempo : Primavera
•Espaço : ‘jardim do rei’ que ‘’azul tão azul tinha’’
com ‘’flores de tantas cores...’’
•Personagens : o sujeito poético como rainha no
seu sonho
Transfiguração do sonho para o Formalmente :
real criado pelo desejo de fugir 4 quintilhas e uma quadra
aos limites impostos pelo Rima cruzada, e uso de
versos soltos ( parentéticos)
‘’eu’’, substituindo a realidade Redondilha menor
pelo sonho , pelo desejo do intercalada com versos
distante do imaginado hexassilábicos
4. Não sei Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
quantas almas Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
tenho A
‘’Não sei quantas almas tenho.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Cada momento mudei. B Não sei sentir-me onde estou.
Continuamente me estranho. A
Nunca me vi nem acabei. B Por isso, alheio, vou lendo
De tanto ser, só tenho alma. Como páginas, meu ser.
Quem tem alma não tem calma. O que segue não prevendo,
Quem vê é só o que vê, Metáfora:
O que passou a esquecer.
Quem sente não é quem é, assemelha-
Noto à margem do que li
-se a um
O que julguei que senti.
livro
Releio e digo: "Fui eu ?"
Anafóra : acentua a sua própria
condição ‘’quem tem alma não Deus sabe, porque o escreveu. ’’
tem calma’’ , presente a
dicotomia pensar/sentir
5. Temática : a dor de pensar e fragmentação do ‘’eu’’
Caracteriza-se como
‘’diverso’’ -reforçando a
multiplicidade -’’móbil’’ – ser
móvel capaz de se dividir- e
‘’só’’ – ‘’alheio’’
‘’Alheio’’ a todas as suas
Acto constante da múltiplas
despersonalização, deixa-o personalidades´, como se
resumido a sua alma e ‘sem fosse um espectador da
calma’ , entregue a angústia sua própria vida , cujo
e inquietação que sofre passado é apagado e
futuro incerto
QUEM
sou eu
?
6.
7. Só cumprindo o
Nota: nosso dever é
que
alcançaremos a
No manuscrito original Pessoa
liberdade !
escreve debaixo do titulo do
poema: "(Falta uma citação de
Séneca)".
Séneca foi um filósofo do Séc.
I, um estóico preocupado com a Todo o poema é
ética. Dizia Séneca que o uma Ironia
cumprimento do dever era um
serviço à humanidade. Para ele o
Crítica ao povo português , que espera por um
destino estava predestinado, o
Salvador ;
homem pode apenas aceitá-lo ou
Enumeração : ‘’Crianças/ Flores, música (…)’’
rejeitá-lo, mas apenas a aceitação
O poema finda com uma crítica social aos poderosos ;
lhe pode trazer a liberdade. Eis o
Formalmente , apresenta irregularidade métrica :
estoicismo na sua essência.
Presença da quadra, do terceto e de oitavas ;
Eis o filtro que se deverá usar na
Rima cruzada , rima emparelhada e versos soltos;
leitura do poema "Liberdade": o
Quanto à métrica : há versos
estoicismo de Séneca.
octossilábicos, tetrassilábicos e trissilábicos ;
8. O menino da sua
mãe…
No plaino abandonado Caiu-lhe da algibeira
Que a morna brisa aquece, A cigarreira breve.
De balas trespassado- Dera-lhe a mãe. Está inteira
Duas, de lado a lado-, E boa a cigarreira.
Jaz morto, e arrefece. Ele é que já não serve.
Raia-lhe a farda o sangue. De outra algibeira, alada
De braços estendidos, Ponta a roçar o solo,
Alvo, louro, exangue, A brancura embainhada
Fita com olhar langue De um lenço… deu-lho a criada
E cego os céus perdidos. Velha que o trouxe ao colo.
Tão jovem! Que jovem era! Lá longe, em casa, há a prece:
(agora que idade tem?) “Que volte cedo, e bem!”
Filho unico, a mãe lhe dera (Malhas que o Império tece!)
Um nome e o mantivera: Jaz morto e apodrece
«O menino de sua mãe.» O menino da sua mãe
9. Temática : Nostalgia da infância perdida
Todo o poema é
uma grande
metáfora
•A morte do jovem soldado ainda menino da sua mãe
representa a impossibilidade do sujeito poético poder
regressar à sua infância para junto da sua mãe, que ficou
irremediavelmente para trás ;
•Ao longo do poema é traçado um quadro
Formalmente : dramático, que ‘jaz e apodrece’ num plaino abandonado
Uso da quintilha ; ;
Rima interpolada •Uso da hipálage : ‘’ a cigarreira breve’’ = Breve foi a
intercalada com rima vida do rapaz ;
emparelhada e versos •‘’A brancura embainhada/ de um lenço …’’ representa a
soltos ; inocência e pureza do jovem soldado ;
Métrica hexassilábica ; • O poema finda com o cenário da mãe em casa que
espera ansiosamente pelo retorno da sua ‘’criança’’ ;