Genética e hereditariedade na psicologia: os agentes responsáveis
1. Psicologia B – 12º
Apontamentos
Escola Secundária de Tondela
2. APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA:
A psicologia estuda o comportamento. Também estuda o comportamento animal,
mas a sua análise tem-se centrado sobretudo no comportamento humano e nos
processos mentais respectivos.
Muitos dos estudos são feitos com animais para, depois, se saber o que poderá
acontecer com as pessoas em contextos semelhantes. Por exemplo, a fome
permanente dos ratos com lesões cerebrais do hipotálamo permite prever o
comportamento de pessoas com o mesmo tipo de problema.
O programa de psicologia está dividido em 2 partes:
A primeira, “A ENTRADA NA VIDA”, permite compreender porque somos
semelhantes e/ou diferentes dos outros animais e das outras pessoas –
começando pelas origens biológicas e passando pelas influências do meio
até este momento.
A segunda, “A PROCURA DA MENTE”, começa por apresentar diferentes ideias
sobre psicologia e termina com as áreas de investigação e de trabalho da
psicologia em Portugal.
A Entrada na Vida
Tema 1: Antes de Mim
Genética – Cérebro – Cultura
O tema 1 tem três partes:
A primeira – GENÉTICA – recua à origem biológica, o ponto de partida da vida
de cada um, e pode ser exemplificada numa série de questões:
1. A habilidade do Ronaldo em futebol ou a aselhice do Tomás
em Matemática serão uma consequência genética?
2. E os genes serão culpados pela agressividade do Álvaro ou
pela indolência da Dina?
3. Ou seja, qual a importância real da genética e da influência
do meio no comportamento e nas capacidades individuais?
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Psico B Tema 1 - Genética - 2 -
3. 4. Se eu demonstrar que a inteligência prática é determinada
geneticamente, valerá a pena perder toda a minha paciência a
ensinar alguém a ser um bom estudante?
A segunda parte aborda aquele que será o maior enigma do corpo
humano: o CÉREBRO.
A ele deve-se o que aprendo, o que penso ou sinto em relação a mim ou
aos outros. Faço-
-me pessoa e deixo de ser simples animal, só depois de um cérebro filmar o
que se passa ao meu redor, modificando-me assim.
A terceira parte não podia deixar de lado a dimensão que nos torna menos
animais ou, pelo menos, animais muito diferentes dos outros, que nos
passa de homens a humanos: a CULTURA. O homem, como os outros
animais, interage com o meio e é dele que retira referências e modelos de
comportamento. Não é preciso imaginar o que seriam as capacidades de
cada um sem o contacto sociocultural adequado: infelizmente, há
bastantes casos de crianças crescidas em contextos não adequados
humanamente. Limito-me a apresentar-te, a seguir, o caso da vizinha
Tábua:
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Psico B Tema 1 - Genética - 3 -
4. “Crianças Selvagens”
“Isabel é o único caso português conhecido. Nasceu em 1970, na vila de Tábua. Viveu oito anos numa
capoeira, enquanto a mãe trabalhava no campo. Quando foi encontrada, apresentava características
reveladoras da influência do meio:
Características físicas:
Posição labial e dentição formada como se fosse um bico.
Olhos rasgados em sentido descendente.
Posição dos braços idêntica à das asas das galinhas.
Calos nas palmas das mãos reveladores da sua forma de estar ou andar.
A nível comportamental:
Atitudes agressivas, com tendência para destruir tudo.
Mexe os braços como se fossem asas de galinha e guincha.
Come os seus próprios cabelos.
Defeca em qualquer parte.
Ingere as próprias fezes.
Isabel foi internada em Lisboa e, 18 anos depois, (1998) apresenta as seguintes características:
Desenvolvimento físico abaixo do normal.
Dificuldade em andar em pisos irregulares.
Interacção social e de grupo, através de comunicação rudimentar.
Estas crianças, que nunca recuperam dos danos, são a prova de que há um animal a que se dá o nome de
homem, mas não há uma condição humana geneticamente preestabelecida. Geneticamente possuímos
características que nos dão forma ao corpo, mas não à inteligência ou ao sentimento.
Estas crianças nem sequer nos reconhecem como semelhantes.
Genética
1. AGENTES RESPONSÁVEIS PELA TRANSMISSÃO GENÉTICA :
Caracterizar os agentes responsáveis pelas características genéticas:
Definir genética e hereditariedade.
Identificar os agentes responsáveis pela transmissão genética: células germinais,
ovo, cromossomas, genes.
Distinguir gémeos verdadeiros e gémeos falsos.
Explicar em que consiste o genoma humano.
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Psico B Tema 1 - Genética - 4 -
5. a) Se recriar o ponto de partida que deu origem à minha pessoa, encontro, como
causa imediata, uma célula fecundada. Esta célula contém um universo de
informações biológicas dos ascendentes: pais, avós, … No entanto, o que sou
agora é igualmente o resultado da interacção com o meio e do que fui fazendo,
do estilo de vida que escolhi ou que as circunstâncias me levaram a escolher.
Assim, certas doenças que posso vir a ter, resultam da herança biológica que me
foi transmitida; outras, devem-se sobretudo ao modo de vida.
b) Genética: (à letra, estudo dos genes) é a ciência que estuda a hereditariedade.
c) Genética do comportamento é a parte da psicologia que procura estudar a
influência da hereditariedade no comportamento.
d) A hereditariedade designa, então, a totalidade das características biológicas
(físicas, fisiológicas ou comportamentais) transmitidas de pais para filhos.
e) Aplicado à psicologia, o estudo da genética e hereditariedade procura, então,
lançar luz sobre as bases do comportamento e sobre a importância dos
fundamentos biológicos e genéticos na aquisição de características que, à
primeira vista, podem parecer construídas no convívio social: características
emotivas, sentimentais e intelectuais.
f) O processo das nossas origens – Deve-se aos seguintes agentes responsáveis:
1º. Células germinais. (vídeo) Têm também o nome de células reprodutoras
ou gâmetas. As células germinais masculinas têm o nome de
espermatozóides e, as femininas, óvulos.
2º. O ovo: - Da fusão espermatozóide+óvulo resulta uma célula fecundada – o
ovo ou zigoto – que potencia um novo ser vivo.
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Psico B Tema 1 - Genética - 5 -
6. 3º. A célula inicial fecundada vai-se multiplicando sucessivamente até dela se
formar um organismo completo.
4º. Os cromossomas: são estruturas microscópicas, em filamento, do núcleo
das células. São os cromossomas que contêm os genes. O núcleo das
células do ser humano contém 23 pares de cromossomas.
No entanto, as células sexuais [espermatozóides ou óvulos] não têm
pares. Este processo, semelhante ao dos outros animais, vai permitir que
cada novo ser mantenha sempre o mesmo número de pares de
cromossomas dos seus antepassados.
O número de cromossomas varia com as espécies. Mas não é
propriamente o número de cromossomas que determina as diferenças
biológicas. O caracol e a salamandra, apesar de terem 12 pares de
cromossomas, são animais muito diferentes: são os genes que determinam
a diferença.
5º. Os genes: (à letra, gene é aquilo que dá origem a…) – são as unidades
básicas, elementares, das características biológicas de cada organismo.
Cada gene é uma espécie de força controladora do organismo resultante
do cruzamento dum lado masculino e de um feminino. A possibilidade de
combinações genéticas é de tal modo infinda que torna improvável a
existência de dois indivíduos iguais, excepto na situação dos gémeos
verdadeiros: os gémeos verdadeiros e os gémeos falsos (pág.22).
6º. Gémeos verdadeiros e os gémeos falsos – O processo de multiplicação
celular está sujeito a mil e um acidentes de percurso. Um deles relaciona-
se com a possibilidade de as células se separarem em dois ou mais grupos.
As células separadas continuam a multiplicar-se autonomamente dando
origem, por hipótese, a duas ou três crianças.
Convencionou-se chamar a estas crianças “gémeos verdadeiros” porque
têm a mesma origem: provêm da mesma célula inicial fecundada:
ovo/zigoto. Por esta razão dá-se-lhes também o nome de monozigóticos.
O património hereditário/genético destas crianças é, na origem, idêntico.
Contrariamente, os gémeos falsos (ou heterozigóticos) provêm de células
fecundadas iniciais diferentes, uma vez que há a possibilidade de haver
mais de um óvulo. Como tal, o património hereditário dos gémeos falsos,
o seu código genético, é diferente, podendo, por isso, uma criança ser do
sexo masculino e a outra do sexo feminino.
Resumindo: Gémeos verdadeiros ou monizigóticos – provêm de uma
célula inicial fecundada; caracterizam-se pela igualdade biológica e
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7. genética iniciais. Gémeos falsos ou heterozigóticos – provêm de células
iniciais fecundadas distintas; características biológicas e genéticas iniciais
diferentes.
Para os gémeos serem verdadeiros é condição necessária
que sejam do mesmo sexo. Mas não é condição suficiente:
os gémeos falsos também podem ser do mesmo sexo, assim
como podem ser muito semelhantes.
Os gémeos verdadeiros têm uma origem comum: o mesmo
ovo inicial. Daí que o seu desenvolvimento no ventre
materno, contrariamente ao dos gémeos falsos, se processe
na mesma placenta.
Sem saber este pormenor, não posso afirmar
7º. O genoma humano: diz respeitoos bebés da gravura são gémeos
que ao conjunto das informações hereditárias
próprias do ser humano verdadeiros ou falsos.
e que estão contidas nos cromossomas.
Conseguir ler estas informações é conseguir dar conta do código genético,
uma espécie de chave que permitirá abrir as portas dos segredos da vida.
A investigação actual procura decifrar estes segredos para atacar certas
doenças: saber, por exemplo, quais os genes responsáveis pelo
aparecimento de diversos tipos de cancro…
Genoma Humano
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8. QUESTÕES
É o código genético humano, o conjunto dos genes humanos. O genoma humano
O que é o
distribui-se por 23 pares de cromossomas e é formado por 6.000 milhões de peças.
genoma
O seu conhecimento completo, poderá beneficiar os seus 6.000 milhões de
humano?
habitantes do nosso planeta.
A utilidade mais imediata é a de conhecer as causas da maioria das doenças e curar
Para que serve? muitas delas, assim como prever a sua ocorrência em certas pessoas.
Actualmente já existem meios para detectar se uma pessoa está predispostas a
Quando sofrer de certos cancros ou se um embrião herdou determinadas enfermidades
teremos estes graves. Os principais benefícios destas investigações só chegarão quando forem
benefícios? descobertas as funções de cada gene humano.
É o processo que permite determinar a ordem exacta dos três mil milhões de pares
O que é a de bases químicas que constituem o ADN. Esta sequenciação é o ponto de partida
sequenciação para a tarefa de identificar os cerca de 30 mil genes, e perceber como eles se
do ADN? codificam e como ocorre a regulação entre eles.
Os riscos mais imediatos referem-se tanto ao uso científico como à sua aplicação na
sociedade. Os primeiros a beneficiar serão os países ricos, e neles os mais ricos. As
grandes empresas de engenharia genética e de farmácia não deixarão de explorar
Quais são os este novo filão para acumularem lucros. Mas não só. É provável que as empresas,
riscos? venham a implantar mecanismos de discriminação dos seus trabalhadores em
função do seu material genético. As companhias de seguros a exigirem análises
deste tipo, antes de fazerem qualquer seguro.
É provável que esta alteração seja possível num futuro mais ou menos próximo. As
Poder-se-á
modificações dos genes dos óvulos ou espermatozóides, implicam, todavia,
mudar os genes
alterações na própria constituição da espécie humana.
de uma pessoa?
Quanto tempo Hoje em dia, um novo gene (com cerca de 12 mil bases) tem a sua sequência
leva a decifrada em um minuto. Há três anos eram necessários 20 minutos. Há 20 anos era
descodificar um tarefa para um ano. Este avanço deve-se sobretudo ao emprego dos computadores.
gene?
A diferença do código genético do homem para o de seu parente mais próximo, o
Qual a
chimpanzé, é de apenas 1,5%. Por isso, os cientistas procuram descobrir quais as
diferença
pequenas sequências de DNA que nos fazem ser humanos. Os seis biliões de
genética entre
habitantes do planeta dividem 99,9% de seu genoma. Apenas cerca de 0,1% varia de
dois seres
uma pessoa para outra em função da combinação dos genes dos pais.
humanos?
Quantas letras Há cerca de três biliões de letras químicas no genoma. Se este livro fosse lido ao
químicas estão ritmo de uma palavra por segundo, durante oito horas por dia e em todos os dias da
inscritas no semana, seria preciso um século para que a leitura fosse concluída. O genoma
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9. genoma? humano tem o tamanho de 800 Bíblias. Digitalizado, cabe, todavia, num simples
DVD.
Qual o
comprimento Se todo o DNA de uma pessoa fosse esticado, seria possível fazer uma viagem de ida
do genoma e volta ao Sol 600 vezes.
humano?
2. INFLUÊNCIAS GENÉTICAS E EPIGENÉTICAS NO COMPORTAMENTO:
Explicar as influências genéticas e epigenéticas no comportamento:
Mostrar o papel dos cromossomas e dos genes no processo de transmissão genética.
Distinguir hereditariedade individual de hereditariedade específica.
Esclarecer os conceitos de gene dominante e de gene recessivo.
Concretizar a transmissão das características biológicas resultantes destes genes.
Distinguir genótipo de fenótipo.
Esclarecer os conceitos preformismo e epigénese.
Distinguir os conceitos de variação e de mutação genéticas.
Indicar factores ambientais que interferem no desenvolvimento (em meio pré ou pós-natal).
Clarificar o papel da influência genética e epigenética na construção da inteligência humana.
Explicar em que consiste a clonagem.
a) Cada espécie animal tem características orgânicas próprias, assim como há
diferenças nos indivíduos da mesma espécie.
A hereditariedade específica refere-se ao conjunto de características
biológicas comuns aos indivíduos de uma espécie e que a tornam única.
A hereditariedade individual refere-se ao conjunto de características
biológicas herdadas por cada indivíduo e que o diferenciam dos outros
indivíduos da mesma espécie.
b) Mendel (vídeo) (monge austríaco do séc. XIX) foi o primeiro investigador a procurar
interpretar o modo de transmissão das características genéticas. A partir do
estudo das ervilhas de jardim conclui que:
1º. A transmissão de caracteres hereditários obedece a leis determinadas, não
depende de acasos.
2º. Há caracteres que se impõem. Outros, embora fazendo parte do património
hereditário, não se manifestam junto a um dominante (genes recessivos).
Genes dominantes: - São os genes que dão origem às características
biológicas. Sabemos que tais características se ordenam dois a dois, um
lado da parte paterna e o outro da parte materna. Quando uma
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10. característica prevalece sempre em relação a outra, dizemos que ela é
dominante.
Genes recessivos: - Quando uma característica genética só se manifesta
quando não está na presença de um gene dominante, dizemos que o gene
que a origina é recessivo.
3º. As características manifestas numa geração podem não se manifestar na
geração seguinte.
1º - Os olhos azuis resultam de genes recessivos. Mas não posso concluir daqui que os
meus pais tinham olhos azuis ou qual seria a sua cor dos olhos. Contudo já posso
concluir que os dois tinham de ser portadores dessa característica. Assim como posso
concluir que não posso ser portador da característica dominante de olhos castanhos.
2º - O conjunto das características genéticas dos pais é diferente do conjunto de
características genéticas dos filhos. Diríamos que cada filho recombina metade dos
dados genéticos do pai com metade dos dados da mãe. Ou seja, cada célula germinal
(com 23 cromossomas) contém metade da informação das outras células (com 23 pares
- 46 cromossomas).
3º - Para uma determinada característica passar de pais a filhos é, então, necessário uma
das seguintes condições:
Que ela seja dominante e esteja presente na célula germinal de pelo menos um dos
progenitores.
Que ela, sendo recessiva, esteja presente nas células germinais de ambos os
progenitores.
c) Genótipo e Fenótipo:
1º. Genótipo: conjunto de genes que constituem o património hereditário. Os caracteres,
como acabou de ser dito, podem manifestar-se ou não.
2º. Fenótipo: conjunto de características manifestas (físicas ou comportamentais)
resultantes da interacção genótipo-meio.
1º -Como sabes, muitas das possíveis características genéticas de que somos portadores passam
despercebidas por estarem associadas a genes recessivos. O genótipo é constituído por todas
elas: as determinadas por genes dominantes e as relacionadas com genes recessivos. Uma
característica genética que não se manifeste em mim pode ser transmitida ao meu filho.
Exemplificando, os pais não têm cabelo louro, mas o filho pode tê-lo.
2º - As características do fenótipo são diferentes do genótipo. Sabes, por exemplo, que os mineiros
contraem a silicose.* Este problema passa definitivamente a integrar uma característica do
organismo, sem no entanto ter qualquer impacto a nível do genótipo.
3º - Muitas das características do fenótipo são biologicamente determinadas (caso da cor dos
olhos), mas muitas outras são adquiridas na interacção com o meio, nomeadamente as
características intelectuais.
*A silicose é a formação permanente de tecido cicatricial nos pulmões causada pela inalação de pó de sílica
(quartzo)
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11. d) Preformismo e Epigénese:
1º. Qual a importância dos caracteres hereditários sobre as características individuais? Será
o comportamento humano o resultado último de influências genéticas, no plano
biológico, afectivo ou intelectual; ou, pelo contrário, as características intelectuais,
afectivas e psicológicas em geral são uma construção resultante de vivências, de
contactos com o meio? Têm sido defendidas duas teses distintas:
O preformismo acentua a importância da hereditariedade no desenvolvimento: cada
um será aquilo que estiver pré-determinado no código genético. Exemplificando,
assegura-se que a emoção é algo geneticamente pré-inscrito pois os membros da
família “X” são todos de lágrima fácil.
A epigénese defende que a construção do indivíduo obedece a uma interacção de
aspectos genéticos com a acção do meio. Exemplificando, demonstra-se a validade
desta tese quando apresento casos de gente muito sensível que se tornou fria depois
de experiências traumatizantes.
2º. Variação e mutação genéticas: - Os organismos interagem com o meio arranjando
processos de adaptação contínua. A incapacidade de adaptação pode originar ou o seu
colapso ou alterações no seu equilíbrio. No entanto, os processos de adaptação humana
fazem-se valer frequentemente da tentativa de alteração das condições desse mesmo
meio.
A variação genética relaciona-se com as alterações do indivíduo resultantes da
interacção com o meio e que não afectam o código genético (integram, por isso, o seu
fenótipo).
A mutação genética consiste na modificação da informação genética, sendo
transmissível a gerações futuras (ou seja, a mutação altera o genótipo).
1º -A possibilidade de ocorrerem mutações genéticas abrange todo o ciclo de vida. Porém, é
durante a gestação, sobretudo nos primeiros meses, que essa probabilidade é maior.
2º - A ocorrência de uma mutação não é necessariamente visível. Muitas delas passam
despercebidas, seja porque não integram o fenótipo (não se manifestam) seja porque,
sendo recessivas, dificilmente encontrarão condições para se virem a manifestar num
possível descendente (seria necessário um parceiro com o mesmo tipo de anomalia).
3º - Condições adversas do meio (como radiações, interferência de agentes tóxicos)
potenciam a multiplicação de mutações genéticas.
3º. Ambiente e Desenvolvimento Epigenético (desenvolvimento decorrente da interacção
organismo-meio) – A acção do meio é condição indispensável ao desenvolvimento.
Podemos distinguir duas fases: o desenvolvimento que vai da formação ao nascimento –
desenvolvimento em meio intra-uterino / pré-natal e o desenvolvimento posterior, em
meio extra-uterino / meio pós-natal. Precisamente porque a acção do meio é
fundamental na formação orgânica e psicológica de cada nova criança, vamos centrar-
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12. nos em alguns cuidados a observar em pessoas, assim como serão apresentadas algumas
consequências dramáticas dos desequilíbrios ambientais.
Desenvolvimento em meio pré-natal: diz respeito à vida que se vai formando
no ventre materno. O feto em formação é particularmente sensível a alterações do
meio com que interage através de um intermediário que é a mãe. Sintetizam-se os
cuidados básicos a salvaguardar pelos pais e, em particular, pela (futura) grávida:
1º. Planeamento – Um filho começa a ser pensado a dois. Projectos a dois reforçam
laços afectivos. A par deste aspecto psicológico, há um outro dado não menos
importante: a prevenção contra certas doenças ou uma gravidez de risco. Uma
gravidez planeada passa pela adopção de cuidados médicos prévios.
2º. Alimentação e higiene – A alimentação tem de ser equilibrada (diversificada, sem
excessos, nomeadamente de açúcar, de gorduras, farináceos ou fritos). Observar
hábitos higiénicos de rotina com especial cuidado para a lavagem das mãos e dos
dentes.
3º. Produtos tóxicos (medicamentos, drogas, tabaco, álcool…) ou radioactivos – A
ingestão de produtos nocivos ou a exposição a meios radioactivos levai ao
aparecimento de malformações (resultantes de mutações) ou à morte do feto.
4º. O equilíbrio emocional e orgânico – um estilo de vida sem stress, descanso q.b. e
sem esforços físicos exagerados são elementos desejáveis.
“A Gravidez”
Já pensaste nas alterações resultantes de uma gravidez? Ora imagina:
Implicações físicas e fisiológicas:
Aos 9 meses o peso de uma grávida aumentou 12 a 15 quilos (peso do bebé 3,5kg,
placenta e líquido amniótico 1,5kg, retenção de líquidos e gordura armazenada 7 a
10kg). Imagina-te a carregar um peso destes um só dia! Seis meses após o parto, o
peso tende a ficar restabelecido, desde que o estilo de vida facilite a recuperação.
As pernas e o corpo incham.
A estrutura da bacia alarga.
Os seios e as aréolas aumentam de tamanho.
Possibilidade de cansaço, enjoo, azia, gengivite, hemorróidas, varizes, infecções
urinárias, sensação de bexiga apertada…
Alteração do ritmo cardíaco.
Implicações psicológicas:
Mudanças de humor, hipersensibilidade, irritação.
Crises de ansiedade.
Alterações na atracção sexual.
Apetites compulsivos.
Estas alterações são desencadeadas por um conjunto de hormonas que, coordenadas a partir do
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13. cérebro, levam o organismo a adaptar-se ao desenvolvimento de uma nova vida.
Como se detecta a gravidez em fase inicial? As farmácias vendem dispositivos para o efeito que têm
um grau de fiabilidade elevado. Estes dispositivos são úteis nas situações de atrasos do
aparecimento do período.
A gravidez ectópica: complicação orgânica caracterizada pelo desenvolvimento do feto fora do
útero.
Gravidez psicogénica: doença do foro psicológico que leva a mulher a acreditar que está grávida
desenvolvendo inclusivamente sintomas específicos como aparecimento de enjoos, barriga inchada,
ausência de período (amenorreia). Este tipo de problema indicia um distúrbio resultante, por
exemplo, de um forte desejo de ser mãe ou de aspectos ligados à menopausa.
Aborto: ocorre sobretudo nos três primeiros meses de gestação por razões várias: genética
(resultantes de anomalias cromossómicas), orgânicas (problemas hormonais ou do útero…) ou
psicológicas (choque emocional) … O corrimento sanguíneo numa situação de gravidez exige
vigilância médica imediata.
Alguns exemplos da influência do meio no desenvolvimento pré-natal:
Rubéola: infecçãoviral que ocorre geralmente em crianças entre os 6 e os 12 anos. Provoca rubor e
alguma febre, passando frequentemente despercebida. Se ocorrer nos quatro primeiros meses de
gravidez pode levar ao aborto ou a doenças congénitas graves: surdez, paralisia cerebral, cegueira,
cardiopatias. A vacina contra a rubéola é contemplada em Portugal pleno sistema nacional de
saúde].
DESASTRES ECOLÓGICOS COM IMPLICAÇÕES GENÉTICAS:
DESASTRE DE SEVESO ou Acidente de Seveso (Norte da Itália, 10 de Julho de 1976): - Uma fábrica lança
para a atmosfera uma dioxina (fungicida e herbicida). Devido à contaminação, 3000 animais
morreram e outros 70000 foram mortos para evitar a entrada da dioxina na cadeia alimentar. As
pessoas grávidas tiveram de abortar.
A TRAGÉDIA DE BHOPAL (vídeo) (Índia): Madrugada de 03 de Dezembro de 1984, 40 toneladas de
pesticidas da empresa norte-americana Union Carbide são lançadas na atmosfera. É o pior desastre
industrial ocorrido até hoje. Mais de 500 mil pessoas foram afectadas e pelo menos 27 mil
morreram. A Union Carbide negou-se a fornecer informações sobre a natureza dos contaminantes,
e, como consequência, os médicos não tiveram condições de tratar adequadamente os indivíduos
expostos. Cerca de 150 mil pessoas ainda sofrem com os efeitos do acidente e aproximadamente
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14. 50 mil pessoas estão incapacitadas para o trabalho. As crianças que nascem na região também
apresentam problemas de saúde. A fábrica da Union Carbide permanece abandonada desde a
explosão e os resíduos perigosos e materiais contaminados ainda estão espalhados pela área,
contaminando o ambiente.
Até hoje ninguém assumiu a culpa do desastre. A empresa começou por acusar um suposto
movimento terrorista indiano, mais tarde, quando a história se tornou insustentável, acusou um
empregado de sabotagem. O processo arrastou-se por longos anos até que um tribunal dos EUA
decretasse que a sabotagem tinha sido o factor que levou ao desastre. Estranhamente a empresa
nunca aceitou que o julgamento fosse feito na Índia. O responsável pela fábrica continua fugido nos
EUA e os pedidos de extradição para a Índia têm sido sistematicamente recusados.
CHERNOBYL, Ucrânia, 26 de Abril de 1986: - A explosão de um reactor nuclear libertou material
radioactivo equivalente a 200 bombas de Hiroshima e Nagasaki.
"O fogo da explosão durou oito dias e foi o principal responsável pela gravidade do desastre de
Chernobyl".
O material radioactivo afectou sobretudo a Bielorrússia, Rússia e Ucrânia, mas, entre as regiões
afectadas, estão 80% do território da Áustria e da Suíça, 44% da Alemanha e 34% do Reino Unido,
assim como Finlândia, Suécia, Itália e outras.
Na fauna e flora de vários países regista-se, ainda hoje, uma contaminação dez vezes superior ao
que é permitido pela UE em alimentos.
Os cientistas britânicos estimam que nos próximos dez anos "Chernobyl causará de 30.000 a 60.000
mortes. Mas a Greenpeace, afirma que o número de mortos pode chegar a quase 100 mil pessoas.
O Mar de Aral (vídeo): - Em 1960, cobria 68 000 km². Actualmente, perdeu 60% da sua superfície e
prevê-se mesmo o seu desaparecimento total. A diminuição do volume de água no Mar de Aral é
considerada um dos maiores desastres ambientais e humanos da história. O desvio da água dos
dois rios do Aral, feito pela União Soviética, com propósitos de irrigação de culturas do
Uzbequistão, e do Cazaquistão, em pleno deserto está na origem deste desastre. O volume médio
da água dos rios passou de 60 km³, na década de 1950, para 1,3 km³ em 1986.
Por ano proporcionava 40 mil toneladas de pesca. A intervenção humana afectou mais de 1 milhão
de pessoas. O litoral recuou mais de 80 km. Em 1990 mais de 90% das terras húmidas ao redor da
região secaram.
Entretanto, a seca da água levou à concentração de substâncias tóxicas no solo, nomeadamente as
provenientes dos grandes barcos de mercadorias ou dos pesqueiros, que têm levado ao
aparecimento de malformações orgânicas congénitas.
Desenvolvimento em meio pós-natal: diz respeito ao desenvolvimento a partir
do nascimento. As condições higiénicas, alimentares e ambientais são elementos
centrais no desenvolvimento.
1º. Higiene – Após o nascimento, o bebé é particularmente vulnerável a elementos
patogénicos, uma vez que ainda não possui defesas naturais fortalecidas. Daí
ser mais vulnerável a contrair otites, dores de garganta, diarreias do que
crianças crescidas.
Percebe-se porque é que o nascimento dos dentes, por exemplo, é
acompanhado de complicações várias. Estas devem-se a dois factores
fundamentais: as defesas da criança são fracas e a tendência das crianças para
meter tudo à boca, nomeadamente as mãos que estão em contacto com o meio
contaminado.
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15. 2º. Alimentação – Se é certo que as carências alimentares levam, por exemplo, à
cegueira, ao raquitismo, a abundância alimentar leva à obesidade e potencia
problemas de ordem vária: diabetes, colesterol, problemas cardio-
respiratórios... Só o genótipo não basta para explicar a constituição física de
cada um. [Gravura pág. 34]. A alimentação do recém-
-nascido pelo leite materno tem uma importância acrescida, seja como
elemento que permite ao organismo criar defesas naturais, seja como forma de
fortalecer laços afectivos do bebé com a mãe.
3º. Ambiente social: - É mais fácil e evidente estabelecer uma relação entre
características físicas e a influência do meio do que entre características
psicológicas e a influência social. No entanto, verifica-se, por exemplo, que há
tendencialmente um maior rendimento escolar em meios estimulantes e
economicamente desenvolvidos. Um meio caracterizado pela agressividade
leva as pessoas a serem agressivas: não significa que todas o sejam. Por outro
lado, o acompanhamento afectivo adequado por parte dos pais é elemento
decisivo na construção da socialização do bebé. Os muitos estudos em
psicologia são unânimes numa coisa: um défice no desenvolvimento afectivo da
primeira infância repercute-se negativamente através de atitudes agressivas e
de dificuldades de saber interagir em grupo.
Será a inteligência humana uma construção social? - Esta questão não é
pacífica, sobretudo quando há uma oposição entre os que privilegiam a
importância da influência social e os que acentuam a importância das
potencialidades inatas dadas pelo património hereditário.
1º. Inteligência animal ≠ da inteligência humana. (doc.) Há uma série de estudos
com animais que procura salientar a importância da componente genética na
aprendizagem. No entanto a inteligência humana manifesta-se por capacidades
bem mais complexas do que a interiorização de simples movimentos ou
reacções orgânicas. Logo, o desenvolvimento intelectual não é o mesmo que a
construção de movimentos ou de respostas orgânicas dos animais.
2º. Meios ricos ≠ meios pobres. Muitos estudos acentuam a importância do meio
social na construção das competências humanas, estabelecendo, por vezes,
uma relação de causalidade entre o bem-estar económico e o quociente de
inteligência (QI). Traduzindo isto por outras palavras, filhos de famílias com
um nível económico estável tendem a ser mais inteligentes que os filhos de
famílias com dificuldades económicas.
Será isto verdade? Há quem defenda que não se pode estabelecer um paralelo
entre uma coisa e outra: uma coisa é certa, as possibilidades de acesso à
informação e à aprendizagem são mais facilitadas em agregados familiares com
possibilidades económicas.
3º. Linhagens e gémeos monozigóticos. São conhecidas famílias em que há a
propensão para determinadas capacidades: o compositor clássico Bach
pertence a uma família de pessoas dotadas para a música. Mas será a aptidão
musical o reflexo do “gene da música” ou, pelo contrário, a influência dos mais
velhos da família motivou os mais novos?
Os gémeos monozigóticos têm sido apresentados como prova da influência do
meio. Sabe-se que o genótipo destes gémeos é igual. Ora, se a aprendizagem e a
inteligência fossem determinadas pelos genes, então estes gémeos teriam as
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16. mesmas tendências e as mesmas capacidades o que não acontece
necessariamente sobretudo em gémeos verdadeiros que acabaram por ser
criados, por força das circunstâncias em contextos sociais diferentes.
Concluindo: - Por trás das características e do comportamento de cada um, há
um suporte genético e um outro relativo a influências ambientais cuja
importância é difícil de definir. Assim como não é possível imaginar pão-de-ló
só com farinha ou só com ovos, de igual modo não se pode explicar a
inteligência humana sem a interferência conjugada da componente genética e a
componente ambiental.
4º. A clonagem – A clonagem relaciona-se com um processo biológico que se traduz na
duplicação de uma cópia inicial. Neste contexto, os gémeos verdadeiros são clones.
A clonagem é um fenómeno presente na multiplicação de seres unicelulares: uma célula
inicial dá origem a duas (geneticamente iguais à primeira); duas dão origem a quatro e
assim sucessivamente.
A este processo natural, a ciência tem procurado acrescentar processos de clonagem
induzida, artificial, que podemos classificar em reprodutiva, embrionária e terapêutica.
Clonagem reprodutiva – Procura criar novos seres vivos, cópias de um modelo inicial,
partindo da fecundação. Um dos sonhos dos adeptos da clonagem reprodutiva é fazer
perdurar as espécies em vias de extinção ou, mesmo, já extintas.
Clonagem embrionária – Tem a finalidade de duplicar, triplicar, etc. células já fecundadas
(embriões).
Três porcos clonados. No dia 15 de Janeiro de 2008 a autoridade de segurança
alimentar dos EUA aprovou a utilização de carne e leite de animais clonados .
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17. Clonagem terapêutica – Contrariamente às anteriores, procura criar células (e não novos
seres vivos) com intuitos terapêuticos.
Clonagem, prós e contras (vídeo):
Os Prós da clonagem:
- Seria possível tratar vítimas de ataques cardíacos através da clonagem
das suas células saudáveis do coração, e injectando-as nas áreas do
coração que foram danificadas.
- Casos de infertilidade. Com a clonagem, os casais inférteis poderiam ter
filhos.
- Problemas no fígado e nos rins. Poderá ser possível clonar fígados
humanos para transplante dos mesmos;
- A Leucemia. Este espera-se ser um dos primeiros benefícios a vir desta
tecnologia;
- As espécies em vias de extinção poderiam ser salvas - com a pesquisa que
conduz à clonagem humana nós aperfeiçoaremos a tecnologia para clonar
animais, e assim nós poderíamos para sempre preservar a espécie posta
em perigo, incluindo seres humanos.
Os Contras da Clonagem:
- Os poucos clones que sobrevivem ao processo costumam não ter vida
longa ou saudável. Normalmente têm problemas com órgãos tais como o
coração, têm um sistema imunitário debilitado e morrem pouco após o
nascimento. É quase certo que o mesmo venha o ocorrer com os primeiros
clones humanos.
- A possibilidade de comprometer a individualidade;
- A perda de variabilidade genética;
- Envelhecimento precoce;
- Grande número de anomalias;
- Lesões hepáticas, tumores, baixa imunidade;
- Um mercado negro de fetos pode surgir, de dadores "desejáveis" que
queiram clonar-se a eles próprios, como estrelas de cinema, atletas entre
outros;
- A tecnologia não está ainda bem desenvolvida, tendo uma baixa taxa de
fertilidade (para clonar a Dolly foram precisos 277 ovos, 30 começaram a
dividir-se, 9 induziram a gravidez e apenas 1 sobreviveu);
- Os clones poderão ser alvo de discriminação por parte da sociedade;
- Os clones poderão estar sujeitos a problemas psicológicos
desconhecidos, com impacto na família e na sociedade.
- Esta temática da clonagem poderá contribuir, de certa forma, para o
aumento da população mundial, o que significa que, se a clonagem
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18. começar a ser realizada, os recursos naturais poderão começar a esgotar-
se ainda mais rapidamente, pois as pessoas serão em maior número e os
recursos manter-se-ão ou diminuirão de quantidade.
- Empresas oportunistas a utilizar a técnica para outros fins que não o
avanço da ciência e benefício da humanidade;
- O mau uso da clonagem de bebés, a fim de lucrar;
- Várias pessoas, em todo mundo, anunciaram a sua intenção de clonar um
bebé, o desejo de fama sobrepõe-se à análise das consequências que delas
possam resultar;
- Quando a possibilidade de duplicar seres humanos foi anunciada, muitos
temeram que vilões da nossa história fossem trazidos de volta à vida. Mas,
a não ser que acreditemos que o mal está presente no gene de uma
pessoa, isto não é um motivo de preocupação. A clonagem apenas duplica
o corpo, não necessariamente o carácter ou personalidade de uma pessoa.
A mesma pessoa não voltaria ao mundo, e sim alguém fisicamente
idêntico seria criado.
- Sendo uma questão recente relativamente à qual se levantam muitas interrogações
e receios, a clonagem levanta um conjunto de aspectos de natureza mais ética e
filosófica do que puramente psicológica. Apontam-se alguns dados com reflexo no
domínio psicológico:
Medo de ficar doente do coração, dos rins, de Alzheimer, de Parkinson; medo de
envelhecer; desespero por ficar paraplégico ou tetraplégico… Estes receios podem
ter um fim à vista com os avanços da clonagem terapêutica.
Abuso de processos experimentais, sem regras, conducentes à criação de problemas
com impacto emocional e psicológico e as crises de identidade são, de momento, um
factor de peso.
3. O ser humano: complexidade e inacabamento biológico:
Analisar a relação entre a complexidade do ser humano e o seu inacabamento biológico:
Distinguir filogénese de ontogénese.
Esclarecer os conceitos programa aberto e programa fechado.
Relacionar o comportamento humano com estes conceitos.
Relacionar os conceitos prematuridade e neotenia.
Clarificar o conceito de inacabamento humano.
a) O comportamento humano é o mais complexo de todos os animais e, por isso,
o mais inteligente e o mais imprevisível. No entanto, biologicamente, o ser
humano começa por ser o mais indefeso e inacabado dos animais. Entre o
passado (seja da humanidade seja do indivíduo) houve um longo processo de
construção que levou ao que cada um é agora.
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19. b) Filogénese: - tema da biologia que procura interpretar a evolução das
espécies. No caso do Homem, procura determinar, por exemplo, as
transformações anatómicas e cerebrais que, ao longo, de dezenas de milhares
de anos originaram o Homem actual. Numa perspectiva filogenética:
1º. Há traços distintivos nas diferentes espécies que permitem adaptações
diferenciadas ao meio natural.
2º. A capacidade de adaptação aos desafios e às alterações do meio natural
ditam a sobrevivência das espécies: processo de selecção natural.
3º. A selecção natural é a mola impulsionadora da evolução e faz com que
só os mais aptos sobrevivam. A sobrevivência depende também da
transmissão às gerações vindouras das capacidades adaptativas. As
mutações genéticas, ao longo da história evolutiva, traduziram-se no
aparecimento de novas espécies e de novas aptidões.
4º. No que se refere ao processo de hominização (evolução da espécie
humana), o Homem deve a sua sobrevivência às aptidões mentais que
compensaram com eficácia o défice de capacidades naturais que se
encontram nos outros seres vivos.
5º. A construção das capacidades mentais resultou da ampliação do volume
cerebral que, por seu lado, foi possível porque o homem se tornou
bípede (o bipedismo libertou as mãos, as mãos libertas permitiram a
manipulação dos objectos, a manipulação dos objectos obrigou o cérebro
a adaptar-se a novas capacidades).
c)Ontogénese: - procura interpretar o desenvolvimento individual. No caso do
Homem, centra-se nas transformações que o acompanham desde a origem até
à morte. Cada criança nasce com um conjunto de respostas reflexas mínimas,
quando comparadas às dos animais, e gradualmente constrói um universo
mental e intelectual complexo (uma criança de dois anos exibe capacidades
que em nenhum outro animal se vêem). A psicologia do desenvolvimento tem-
se interessado sobretudo pelo período de vida que vai do nascimento até à
idade adulta (fim da adolescência). Salientam-se os seguintes psicólogos:
1º. Piaget (vídeo): demonstrou que a criança não é um adulto em miniatura e
que, por isso, além de saber menos, tem uma forma de sentir e de pensar
diferente da dos adultos.
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20. 2º. Freud, (vídeo) pai da psicanálise, salienta a importância que a sexualidade
tem, desde o nascimento, na manifestação ou resolução de conflitos, de
tensões e de problemas psicossomáticos.
3º. Erikson (vídeo) divide a vida (do nascimento à velhice) em oito fases e
apresenta um conjunto de características para cada.
4º. Em todos os autores salienta-se que o desenvolvimento não se manifesta só
por transformações físicas ou fisiológicas, mas também por transformações
psicológicas. O desenvolvimento psicológico ou intelectual processa-se por
etapas etárias, com características próprias de cada uma, e de forma igual
em todos os indivíduos. O comportamento presente é influenciado pelo
passado.
d) Programa fechado e programa aberto: - Somos seres vivos em permanente contacto
com o meio e com os outros. Esta interacção com o meio é decisiva para o
desenvolvimento seja da espécie (numa perspectiva filogenética) seja do
indivíduo (numa perspectiva ontogenética). Esta interacção caracteriza-se,
pelo lado do meio, por um conjunto determinado de desafios e, pelo lado do
ser vivo, por um conjunto de capacidades determinadas que permitem a
adaptação.
e) O etologista Konrad Lorenz, (vídeo) e (documento) socorre-se dos
conceitos de programa aberto e programa fechado para explicar o
comportamento adaptativo do mundo animal:
1º. Programa fechado: - É próprio de animais cujo comportamento é
predefinido hereditariamente. As respostas ao meio são ditadas por
mecanismos inatos (tal como defende o preformismo): traduzem-se por
comportamentos rígidos, fixos. [O ouriço cacheiro pára nas estradas
porque está assim programado: parar na eminência do perigo é a sua
defesa - que lhe é fatal no caso das estradas.]
2º. Programa aberto: - É típico de animais cujo comportamento resulta da
interacção dos desafios do meio com as capacidades genéticas e os
aspectos resultantes da aprendizagem: comportamentos flexíveis,
criativos. [As diversas formas de comportamento e de comunicação
humana são flexíveis. Veja-se a facilidade com que mudam as técnicas de
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21. construção ou se alteram hábitos de convívio. O que era o homem antes
da TV ou antes da Internet ou antes do telemóvel?!].
f) Prematuridade e neotenia:
1º. Prematuridade: - A prematuridade e inacabamento são características
humanas. De facto, após o nascimento há um desenvolvimento
acentuado do sistema nervoso central. Somos incapazes de nos
deslocarmos e alimentarmos autonomamente. A infância e dependência
dos adultos são intermináveis.
2º. Neotenia: - Designa a manutenção de características juvenis na idade
adulta. A neotenia caracteriza-se por: um processo de desenvolvimento
lento; uma necessidade de aprendizagem contínua; o carácter inacabado
do homem.
Os humanos, por exemplo, amadurecem sexualmente cerca de cinco anos
depois dos chimpanzés, e nossos dentes nascem mais tarde. Mudanças nas
etapas do desenvolvimento são alguns dos mecanismos mais eficientes que
a evolução pode utilizar para remodelar organismos, com poucas
ocorrências moleculares.
Contrariamente à maioria dos animais o inacabamento permite progredir,
arranjar novos modos de enfrentar a natureza. Ao carácter fixo do instinto
animal o Homem sobrepõe a plasticidade mental dada no contexto de uma
cultura e influência social.
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