1) Existem várias tentativas de definir "arte", mas não há consenso. Definições tradicionais focam na representação, expressão ou forma, porém obras modernas questionam essas abordagens.
2) Teorias céticas argumentam que "arte" é um conceito aberto e indefinível, influenciado por fatores sociais e de poder.
3) Atualmente privilegiam-se definições funcionalistas, baseadas na função estética, ou institucionais, que enfatizam o papel das instituições no reconhecimento do status
1. História do Conceito
de Arte
DFCH466: Estética e Linguagem
Prof. Cristiano Canguçu
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
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2. A palavra “arte”
A maior dificuldade não é identificar exemplos de “arte”
(isso pode ser apontado), mas chegar a um consenso sobre
o a própria definição da expressão “arte”.
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3. A palavra “arte”
Dilema da aplicabilidade: a expressão “arte” é histórica,
um conceito guarda-chuva que deriva da ideia medieval
das “belas artes” (belas habilidades)
– em oposição às “artes liberais”, “artes matemáticas”,
“artes mecânicas”, “artes marciais”;
Exemplos de belas-artes: pintura, escultura, dança, música,
arquitetura, teatro, literatura... e o cinema.
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4. A palavra “arte”
É o renascimento (e principalmente, o romantismo, na
“querela dos antigos contra os modernos”) que consolida a
noção de “arte” como um conceito abstrato...
...que não apenas designa as várias formas de fazer
artístico como supõe uma natureza intrínseca – descritiva
e normativa – de todos esses fenômenos.
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5. A palavra “arte”
Embora tenham existido reações, como o movimento
inglês das “artes e ofícios” (arts & crafts) do século 19, que
criticavam essa distinção, tal conceito normativo ainda é a
nossa ideia predominante de “arte”.
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6. “Arte” – etimologia
lat. ars, artis: “maneira de ser ou de agir, habilidade
natural ou adquirida, arte, conhecimento técnico”.
Algumas palavras derivadas: arteiro, artesão, artesanato,
artifício, artífice, artista.
Equivalente ao termo grego techné (técnica).
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7. Verbete “arte” (Houaiss)
• Habilidade ou disposição dirigida para a execução de
uma finalidade prática ou teórica, realizada de forma
consciente, controlada e racional;
• Conjunto de meios e procedimentos através dos quais é
possível a obtenção de finalidades práticas ou a
produção de objetos; técnica;
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8. Verbete “arte” (Houaiss)
• Derivação: por extensão de sentido: acervo de normas e
conhecimentos indispensáveis ao exercício correto de
uma atividade, ofício ou profissão Ex.: a aprendizagem e
o ensino de uma a.;
• Derivação: por metonímia. ofício, profissão, esp. quando
se trata de trabalho manual. Ex.: a. da ourivesaria.
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9. Verbete “arte” (Houaiss)
• perfeição, esmero técnico na elaboração (p.opos. à
espontaneidade natural); requinte. Ex.: um jardim sem
arte.;
• capacidade especial; aptidão, jeito, dom Ex.: dominava a
arte de aquietar as crianças;
• produção consciente de obras, formas ou objetos voltada
para a concretização de um ideal de beleza e harmonia
ou para a expressão da subjetividade humana. Exs.: arte
literária, arte da pintura, arte cinematográfica. 9
11. 1. Definições funcionalistas
tradicionais
As definições tradicionais consideram que as formas
artísticas são caracterizadas por uma única propriedade,
especificamente o cumprimento de determinada função.
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12. 1. Definições funcionalistas
tradicionais
Uma crítica contemporânea é a de que essas definições
podem informar sobre elementos necessários, porém não
suficientes para designar o caráter artístico:
– Há muitas coisas não-artísticas no mundo que
representam, expressam, ou constituem uma forma.
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13. 1.1. Arte como representação
Platão (A República): pinturas, músicas e dramas são
mimeses (imitações/representações) do mundo natural.
Esse mundo, por sua vez, é uma imitação das formas
ideais.
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14. 1.1. Arte como representação
Aristóteles (Arte Poética): peças teatrais são produções
(poiésis) que imitam pessoas em ações com início, meio e
fim.
Essas representações são melhores quando produzem os
sentimentos apropriados para, assim, purgá-los (catarse).
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15. 1.1. Arte como representação
Charles Batteaux: todas as artes reduzidas ao mesmo
princípio (a representação do mundo) -> momento-chave
da transição da idéia de “belas artes” para a noção de
“arte”.
Criticado pelo teórico Gottlob Ephraim Lessing, que
defendeu o conceito de que cada arte tem um princípio
próprio (no Laocoonte), embora todos sejam de algum
modo representativos.
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16. 1.1. Arte como representação
Kant: as artes são representações do mundo, dividindo-se
em “arte agradável” (cujo fim é provocar prazer através de
meras sensações) e em “bela-arte”, quando o prazer
acompanha uma forma de reflexão.
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17. 1.2. Arte como expressão
Os exemplos mais comuns para sustentar essa teoria são
as artes abstratas e, especialmente, a música instrumental.
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18. 1.2. Arte como expressão
Jean-Baptiste du Bos:
a razão é inadequada para compreender a arte, que deve
ser compreendida com o sentimento.
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19. 1.2. Arte como expressão
Johann Wolfgang von Goethe:
“a individualidade da expressão é o princípio e o fim de
toda arte”.
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20. 1.2. Arte como expressão
Leon Tolstoy (O que é arte?):
“a arte começa quando alguém, com o intuito de se unir a
outro ou a outros num mesmo sentimento, expressa esse
sentimento através de certas indicações externas”.
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21. 1.2. Arte como expressão
Benedetto Croce (Breviário de estética):
Toda arte é expressão de uma intuição comum e universal
ao ser humano.
A arte não deve se reduzir a um cálculo racional nem a
sentimentos banais.
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22. 1.2. Arte como expressão
R.G. Collingwood:
a arte é uma expressão imaginativa das emoções,
distinguindo-se do ofício (craft) pela sua produção
desinteressada, sem projeto prévio e sem função prática.
As emoções verdadeiramente artísticas seriam aquelas que
são clarificadas e particularizadas pela obra de arte, nunca
emoções genéricas.
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23. 1.3. Arte como forma
Clive Bell:
A arte é definida pela existência de “forma significante”, um
arranjo artístico particular que produz uma “emoção estética”
(diferente das emoções comuns).
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24. 1.3. Arte como forma
Roger Fry:
A forma artística nos liberta da cadeia de causas e
consequências da vida comum...
...permitindo-nos uma percepção mais nítida da própria
existência e uma clareza maior em relação aos nossos
sentidos e sentimentos.
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25. 1.3. Arte como forma
Vitor Chklosvky:
A forma artística é aquela que produz “estranhamento”
(desfamiliarização) frente a um objeto conhecido...
...no lugar da reação mais comum de “reconhecimento”.
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26. 2. Arte moderna e ceticismo
A arte conceitual de vanguarda traz um grande impacto na
noção de arte, distanciando-a da ideia de “belas artes”.
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27. 2. Arte moderna e ceticismo
Os ready-mades de Marcel Duchamp (urinol, uma pá,
engradados);
as caixas de flanelas Brillo de Andy Warhol;
a “música” 4’33” de John Cage;
as instalações e as “interferências ambientais” de coletivos e
artistas contemporâneos...
...simplesmente não podiam ser explicadas pelas definições
tradicionais de arte.
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28. 2.1. Definições céticas
Influência da ideia de “semelhança de família” de Ludwig
Wittgenstein (1953) para explicar termos como “jogo”:
Basquetebol e xadrez não possuem características em
comum, mas são aproximados por uma série de
semelhanças de família entre esses e outros jogos.
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29. 2.1. Definições céticas
Inspirado em Wittgenstein, Morris Weitz (1956) considera
que o conceito de “arte” é um conceito aberto, indefinível,
que pode ser expandido sempre que um novo caso o exigir.
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30. 2.1. Definições céticas
Terry Eagleton, em “A ideologia do estético” (1990):
Termos como “arte” e “estética” representam uma visão
ideológica de mundo, que considerariam como verdade
abstrata aquilo que não passa de um fenômeno sócio-
histórico.
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31. 2.1. Definições céticas
Pierre Bourdieu, sociólogo, em “A Distinção”:
Relações de poder são tão ou mais importantes nas definições
de arte e disputas de gosto que características intrínsecas da
obra de arte.
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32. 3. Definições contemporâneas
O período pós-romântico produziu duas principais
correntes na teoria da arte:
as que privilegiam definições funcionalistas (i.e., baseadas
na função cumprida pela arte);
e definições institucionais (que enfatizam o papel de
instituições sociais).
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33. 3.1. Definições funcionalistas
modernas
As definições funcionalistas consideram “arte” como tudo aquilo
que cumpre uma determinada função.
A principal candidata é a função estética (produzir sensações ou
experiências estéticas).
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34. 3.1. Definições funcionalistas
modernas
Monroe Beardsley (Aesthetics, 1950):
Arte é aquilo capaz de produzir uma experiência estética...
...desde que essa experiência seja determinada pelo
objeto da percepção;
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35. 3.1. Definições funcionalistas
modernas
Deleuze (Introdução à Filosofia)
Há três atividades do espírito criadoras:
a filosofia cria conceitos;
a ciência cria funções em um plano de referência;
a arte cria perceptos e afetos;
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36. 3.1. Definições funcionalistas
modernas
Jerome Stolnitz:
consideramos arte aquilo que produz uma experiência
estética...
...mas a causa de tal experiência não é o objeto, mas uma
atitude estética do apreciador.
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37. 3.2. Definições institucionais
Arthur Danto, filósofo e crítico de arte:
Há um “mundo da arte” (artworld), uma “atmosfera”
teórica compartilhada por artistas, críticos, professores e
pesquisadores.
As obras e os atos considerados artísticos seriam aqueles
cuja produção e interpretação precisaria dessa atmosfera.
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38. 3.2. Definições institucionais
Pierre Bourdieu, em “As Regras da Arte”:
O mundo artístico se estrutura enquanto “campo”, i.e.,
• uma organização com suas próprias regras e práticas
(habitus) e uma ideologia própria (ilusio);
• que a tornam avessa às influências dos poderes
econômico e político.
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39. 3.2. Definições institucionais
George Dickie:
O que torna algo artístico não são os atributos da obra;
E sim os atos sociais de proclamar e de reconhecer que
determinado produto (ou ato, performance) é artístico;
A partir de regras partilhadas por uma comunidade de
artistas e de intérpretes.
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40. 3.2. Definições institucionais
Crítica de Richard Wollheim a Dickie:
Se os membros do “mundo da arte” têm razões para
conferir ou não o status de arte a artefatos humanos...
...são essas razões que nos interessam, não as regras
sociais.
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41. Bibliografia
ADAJIAN, Thomas. The Definition of Art. The Stanford
Encyclopedia of Philosophy, 2012. Disponível em:
<http://plato.stanford.edu/archives/win2012/entries/art-
definition/>.
CARROLL, Noël. Filosofia da arte. Lisboa: Texto & Grafia, 2010.
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