1. Hugo Münsterberg
DFCH 456 – Teorias do Cinema e do Audiovisual I
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Prof. Cristiano Canguçu 1
2. Hugo Münsterberg (1863-1916)
Foi um dos primeiros teóricos do cinema: Münsterberg ainda
chamava os filmes de "fotopeças".
Psicólogo alemão da corrente fisiológico-experimental do fim do
século XXI, fundada por Wilhelm Wundt.
Simetria corpo-mente: para Wundt, todos os processos físicos
teriam um processo mental paralelo.
Tal corrente se opunha à psicanálise e à psicologia da Gestalt.
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3. Hugo Münsterberg (1863-1916)
Foi convidado por William James a lecionar em Harvard.
Foi um pioneiro em psicologia aplicada a técnicas forenses (análise
de testemunhas e de júris) e trabalhistas (taylorismo, testes de
admissão).
Morreu em 1916, pouco após publicar o tratado The Photoplay.
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4. A estética de Münsterberg
Proposição de uma teoria psicológica do “espectador ativo”,
décadas antes da Estética da Recepção.
Como em todas as artes, o filme não existiria senão na mente do
espectador, que confere sentido às imagens e sons exibidos diante
de si.
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5. A estética de Münsterberg
A principal distinção do cinema é que, para Münsterberg, os
processos mentais do ser humano seriam a própria matéria-
prima da arte cinematográfica, enquanto a música seria a arte
do ouvido e a pintura, a arte do olho, o cinema seria a arte da
mente.
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6. Fenômeno-phi
Discutiu o movimento aparente das imagens cinematográficas:
por que enxergamos as sequências de 16-24 imagens
fotográficas por segundo como um movimento contínuo?
Critica a explicação baseada na “persistência retiniana”:
As imagens ficariam gravadas na retina por décimos de segundo.
Ainda hoje, há teóricos que a consideram um importante
componente da ilusão de movimento no cinema e no audiovisual.
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7. Fenômeno-phi
Defendeu outra explicação, recorrendo ao fenômeno-Phi:
O movimento aparente seria provocado por um fenômeno mental
(e não óptico) que confere movimento a linhas e formas em
posições sequenciais diferentes.
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8. A atenção
Münsterberg defende uma ideia que só foi retomada no campo
do cinema nos anos 1980, pelos teóricos cognitivistas: a de que
a percepção é composta por uma série de atividades mentais.
As cenas que assistimos “devem ter significado, receber subsídios
da imaginação, despertar vestígios de experiências anteriores,
mobilizar sentimentos e emoções, atiçar a sugestionabilidade, gerar
ideias e pensamentos, aliar-se mentalmente à continuidade da
trama e conduzir permanentemente a atenção para um elemento
importante e essencial – a ação”.
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9. A atenção
Percepção visual vs. percepção sonora das línguas escritas:
Não conseguimos não dar sentido aos sons dos nossos idiomas
maternos, mas não conseguimos fazê-lo com as línguas exóticas.
Ou seja, o sentido vem da mente, não do som. Assim também o são
as imagens cinematográficas.
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10. A atenção
Dois tipos de atenção: a voluntária e a involuntária.
Atenção voluntária: temos um objetivo (ex: descobrir qual o truque
das cartas, procurar alguém conhecido, contar passes) ao qual
subordinamos as impressões sensíveis.
Atenção involuntária: as impressões e impõem aos nossos sentidos
e demandam nossa atenção (onça pulando em nossa frente,
letreiros de shopping center chamando atenção).
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11. A atenção
Nas artes, embora existam casos de atenção voluntária, é a
atenção involuntária que é agenciada artisticamente pelos
realizadores (a percepção do espectador responderia aos
estímulos por eles organizados).
Assim, o cinema seria a "arte mental" por excelência.
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12. A atenção
Meios de agenciar a atenção involuntária:
Herdados do teatro: a gestualidade dos atores, a cenografia e
figurino [intrínsecos], o som ao vivo e os letreiros [extrínsecos].
Recursos propriamente do cinema: a possibilidade de enquadrar a
cena em um plano tem as vantagens de 1) oferecer a mesma visão
a todos os espectadores, independente de onde sentem; e 2) de
explorar técnicas de composição propriamente ditas.
O recurso de atenção mais importante seria o close-up, um
verdadeiro análogo ao próprio processo mental da atenção: não
somente vemos mais detalhes do objeto de nossa atenção, mas
deixamos de perceber todo o resto em volta.
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13. A memória e a imaginação
O flashback e o flashforward seriam análogos à memória e à
imaginação, mostrando o que aconteceu e o que pode
acontecer.
O cinema poderia mostrar o passado como aconteceu, ou as
lembranças específicas de determinado personagem, ou mesmo
delírios ou fantasias dos personagens.
Com a montagem alternada, seria possível mostrar não só o antes e
o depois, mas os eventos simultâneos.
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14. A memória e a imaginação
Funcionariam por associação de ideias, livres da linearidade do
tempo do mundo real.
“O cinema, ao invés de obedecer as leis do mundo exterior,
obedece as da mente”
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15. A memória e a imaginação
Outro processo mental considerado importante por
Münsterberg é a sugestão.
Assistir a uma representação dramática é estar sujeito à sugestão
de que se está assistindo à própria vida.
Nisso, o cinema seria muito mais persuasivo que o teatro.
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16. As emoções
Como o cinema consegue exprimir sentimentos?
O principal recurso emocional é a atuação – mesmo o cinema mudo
mantém as possibilidades gestuais.
O close-up as acentua sem recorrer ao exagero farsesco.
Vantagens em relação ao teatro:
Permitir escolher a melhor performance e descartar as outras;
Recorrer a tipos em vez de atores profissionais para papéis
específicos.
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17. As emoções
Outros elementos que exprimem emoção:
Roupas, música, ambiente, cenário, iluminação e, distintamente,
técnicas de montagem e efeitos visuais cinematográficos.
Esses têm sido usados principalmente para projetar no filme
emoções convergentes entre espectador e personagem (medo,
satisfação, melancolia), mas poderiam ser mais aproveitados para
exprimir emoções divergentes (escárnio, suspense).
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18. As emoções
Münsterberg sugere que o cinema explore mais as belezas
plásticas das técnicas cinematográficas que não têm correlato
no mundo.
Essas técnicas poderiam produzir sensações no público, as quais,
por sua vez facilitariam a produção de emoções.
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19. Conclusão
The Photoplay responde à acusação de automatismo deste
modo:
1. Embora fotográfico, o meio fílmico poderia reconstruir
imaginativamente aquilo que era gravado;
2. O modo cinematográfico de reimaginar a realidade seria
distinto do modo teatral;
3. Nessa transformação seriam implementados “objetivos
universais da arte”, como explorar a individualidade humana
e a beleza desinteressada dos objetos da realidade.
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20. Conclusão
O filósofo da arte Noël Carroll lembra que Münsterberg foi um
dos primeiros teóricos do cinema a argumentar a favor da
analogia entre o cinema e a mente humana.
A mesma analogia foi defendida pelas teorias psicanalíticas, sob
premissas diferentes – em vez de processos mentais racionais,
compara-se o cinema com sonhos e com regressões inconscientes.
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21. Bibliografia
ANDREW, J. Dudley. Hugo Münsterberg. in: As principais teorias
do cinema: uma introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.
CARROLL, Noël. Film/Mind Analogies: The Case of Hugo
Münsterberg. The Journal of Aesthetics and Art Criticism, v.46,
n.4, p.489-499, 1988.
MÜNSTERBERG, Hugo. A atenção. in: XAVIER, Ismail (Org.). A
experiência do cinema. 4.ed. Rio de Janeiro: Graal/Embrafilme,
2008.
______. A memória e a imaginação. in: Ibid.
______. As emoções. in: Ibid.
STAM, Robert. A teoria da primeira época do cinema mudo. in:
Introdução à teoria do cinema. Campinas: Papirus, 2003. 21