As três teorias sobre a natureza da arte discutidas no documento são: (1) A Arte como imitação, onde uma obra é arte se imitar algo; (2) A Arte como expressão, onde uma obra é arte se expressar sentimentos e emoções; (3) A Arte como forma significante, onde uma obra é arte se provocar emoções estéticas nas pessoas. Cada teoria apresenta vantagens e objeções discutidas no texto.
1. O QUE É A ARTE?O QUE É A ARTE?
Três teorias sobre a naturezaTrês teorias sobre a natureza
da Arte.da Arte.
2. 1ª Teoria: A Arte como imitação.1ª Teoria: A Arte como imitação.
3. Uma obra é arte se, e só se, é produzida peloUma obra é arte se, e só se, é produzida pelo
homem e imita algo.homem e imita algo.
VantagensVantagens
Adequa-se ao facto incontestável de muitas pinturas,Adequa-se ao facto incontestável de muitas pinturas,
esculturas e outras obras de arte.esculturas e outras obras de arte.
Oferece um critério de classificação das obras de arteOferece um critério de classificação das obras de arte
bastante rigoroso, o que nos permite distinguir com algumabastante rigoroso, o que nos permite distinguir com alguma
facilidade uma obra de arte.facilidade uma obra de arte.
Oferece um critério de valoração das obras de arte .UmaOferece um critério de valoração das obras de arte .Uma
obra de arte seria tão boa quanto mais se conseguisseobra de arte seria tão boa quanto mais se conseguisse
aproximar do objecto imitado.aproximar do objecto imitado.
Um aspecto geral desta teoria mostra-nos que é uma teoriaUm aspecto geral desta teoria mostra-nos que é uma teoria
centrada nos objectos imitados. Ela exprime-secentrada nos objectos imitados. Ela exprime-se
frequentemente através de frases comofrequentemente através de frases como
«este filme é excelente, pois é um retrato fiel da sociedade«este filme é excelente, pois é um retrato fiel da sociedade
americana nos anos 60», ou comoamericana nos anos 60», ou como
«este quadro é tão bom que mal conseguimos distinguir«este quadro é tão bom que mal conseguimos distinguir
aquilo que o artista pintou do modelo utilizado».aquilo que o artista pintou do modelo utilizado».
4. Arte com 30.000 anos.Arte com 30.000 anos.
Testemunho e Domínio.Testemunho e Domínio.
5. VantagensVantagens
Oferece um critério para distinguir aOferece um critério para distinguir a
boa da má arte.boa da má arte.
Será boa a arte que imita naSerá boa a arte que imita na
perfeição o objecto representado ouperfeição o objecto representado ou
o modelo original, e má a que nãoo modelo original, e má a que não
oferece esse efeito.oferece esse efeito.
Permite catalogar e compreenderPermite catalogar e compreender
muitas obras de Arte, da pintura àmuitas obras de Arte, da pintura à
música.música.
6. Objecções à teoria da arte comoObjecções à teoria da arte como
imitação:imitação:
O que imita estaO que imita esta
obra?obra?
Ou uma obra deOu uma obra de
John Cage que é sóJohn Cage que é só
silêncio?silêncio?
Este conceito deEste conceito de
imitação deixa deimitação deixa de
fora muitas obrasfora muitas obras
que os críticos e oque os críticos e o
público considerampúblico consideram
arte.arte.
7. Para contrariar esta objecção substitui-se imitaçãoPara contrariar esta objecção substitui-se imitação
por representaçãopor representação
Assim já podemosAssim já podemos
dizer que na 9ªdizer que na 9ª
sinfonia desinfonia de
Beethoven osBeethoven os
primeiros acordesprimeiros acordes
representam asrepresentam as
pancadas dapancadas da
morte.morte.
Mas o queMas o que
representa esterepresenta este
quadro de Pollock?quadro de Pollock?
8. Objecção 2: como saber se aObjecção 2: como saber se a
representação é boa?representação é boa?
Há certas obrasHá certas obras
que surgem frutoque surgem fruto
da imaginação eda imaginação e
que não podemosque não podemos
saber se são fiéissaber se são fiéis
ao modelo porqueao modelo porque
não conhecemos onão conhecemos o
modelo.modelo.
Exemplo: O jardimExemplo: O jardim
das delícias dedas delícias de
BoshBosh
9. Um conceito mais lato:Um conceito mais lato:
representação simbólicarepresentação simbólica
10. 2ª Teoria: A Arte como Expressão2ª Teoria: A Arte como Expressão
Insatisfeitos com a teoria daInsatisfeitos com a teoria da
arte como imitação (ouarte como imitação (ou
representação), muitosrepresentação), muitos
filósofos e artistas românticosfilósofos e artistas românticos
do século XIX propuseramdo século XIX propuseram
uma definição de arte queuma definição de arte que
procurava libertar-se dasprocurava libertar-se das
limitações da teoria anterior,limitações da teoria anterior,
ao mesmo tempo queao mesmo tempo que
deslocava para o artista, oudeslocava para o artista, ou
criador, a chave dacriador, a chave da
compreensão da arte. Trata-compreensão da arte. Trata-
se da teoria da arte comose da teoria da arte como
expressão. Teoria que, aindaexpressão. Teoria que, ainda
hoje, uma enorme quantidadehoje, uma enorme quantidade
de pessoas aceita semde pessoas aceita sem
questionar. Segundo a teoriaquestionar. Segundo a teoria
da expressãoda expressão
11. Tese: Uma obra só é Arte seTese: Uma obra só é Arte se
exprimir sentimentos e emoçõesexprimir sentimentos e emoções
São muitos eSão muitos e
eloquentes oseloquentes os
testemunhos detestemunhos de
artistas queartistas que
reconhecem areconhecem a
importância deimportância de
certas emoçõescertas emoções
sem as quais assem as quais as
suas obras nãosuas obras não
teriam certamenteteriam certamente
existidoexistido
12. 3 critérios de avaliação3 critérios de avaliação
Sinceridade e autenticidadeSinceridade e autenticidade
Individualidade do sentimentoIndividualidade do sentimento
Clareza com que o sentimento éClareza com que o sentimento é
transmitido.transmitido.
13. Tipos de juízos que identificamTipos de juízos que identificam
esta forma de considerar a Arte:esta forma de considerar a Arte:
Uma teoria como esta manifesta-seUma teoria como esta manifesta-se
frequentemente em juízos comofrequentemente em juízos como
«Este é um livro exemplar em que o«Este é um livro exemplar em que o
autor nos transmite o seu desesperoautor nos transmite o seu desespero
perante uma vida sem sentido»perante uma vida sem sentido» ouou
comocomo
«O autor do filme filma«O autor do filme filma
magistralmente os seus própriosmagistralmente os seus próprios
traumas e obsessões».traumas e obsessões».
17. Vantagens:Vantagens:
Mais uma vez oferece umMais uma vez oferece um
critério valorativo: umacritério valorativo: uma
obra é tanto melhorobra é tanto melhor
quanto melhor conseguirquanto melhor conseguir
exprimir os sentimentos doexprimir os sentimentos do
artista que a criou.artista que a criou.
Se a obra exprimeSe a obra exprime
sentimentos e emoçõessentimentos e emoções
autênticasautênticas
então é uma verdadeiraentão é uma verdadeira
obra de arte.obra de arte.
Laura Knight, CiganosLaura Knight, Ciganos
19. Objecções:Objecções:
Podemos dizer que osPodemos dizer que os
quadros dequadros de Yves KleinYves Klein,,
MondrianMondrian ou deou de VasarelyVasarely??
Expressam as emoções doExpressam as emoções do
autor?O grande compositor doautor?O grande compositor do
nosso século, Richardnosso século, Richard
Strauss, autor de váriosStrauss, autor de vários
poemas sinfónicos, como opoemas sinfónicos, como o
célebre Assim Falavacélebre Assim Falava
Zaratustra, esclarecia que asZaratustra, esclarecia que as
suas obras eram fruto de umsuas obras eram fruto de um
trabalho paciente e minuciosotrabalho paciente e minucioso
no sentido de as aperfeiçoar,no sentido de as aperfeiçoar,
eliminando desse modo oseliminando desse modo os
defeitos inerentes a qualquerdefeitos inerentes a qualquer
produto emocional.produto emocional.
20. Objecção 2Objecção 2
Sobre o critério de valoração. ComoSobre o critério de valoração. Como
podemos nós saber se uma determinadapodemos nós saber se uma determinada
obra exprime correctamente as emoçõesobra exprime correctamente as emoções
do artista que a criou, quando o artista jádo artista que a criou, quando o artista já
morreu há séculos?morreu há séculos?
21. 3ª Teoria: A Arte como Forma3ª Teoria: A Arte como Forma
Significante:Significante:
Tese: Uma obra é Arte se provoca nasTese: Uma obra é Arte se provoca nas
pessoas emoções estéticas.pessoas emoções estéticas.
22. A Forma significanteA Forma significante
Mas se essa emoçãoMas se essa emoção
peculiar chamada «emoçãopeculiar chamada «emoção
estética» é provocadaestética» é provocada
pelas obras de arte, e sópelas obras de arte, e só
por elas, então tem depor elas, então tem de
haver alguma propriedadehaver alguma propriedade
também ela peculiar atambém ela peculiar a
todas as obras de arte,todas as obras de arte,
que seja capaz de provocarque seja capaz de provocar
tal emoção nas pessoas.tal emoção nas pessoas.
Mas essa característicaMas essa característica
existe mesmo? Clive Bellexiste mesmo? Clive Bell
responde que sim e dizresponde que sim e diz
que é aque é a formaforma
significantesignificante..
23. Juízos que identificam esta teoria:Juízos que identificam esta teoria:
““Este quadro é umaEste quadro é uma
verdadeira obra-primaverdadeira obra-prima
devido à excepcionaldevido à excepcional
harmonia das cores eharmonia das cores e
ao equilíbrio daao equilíbrio da
composiçãocomposição”, ou como”, ou como
““Aquele livro éAquele livro é
excelente porque estáexcelente porque está
muito bem escrito emuito bem escrito e
apresenta umaapresenta uma
história bemhistória bem
construída apoiada emconstruída apoiada em
personagenspersonagens
convincentes”convincentes”
24. Vantagens:Vantagens:
Vantagem: podeVantagem: pode
incluir todo o tipo deincluir todo o tipo de
obras de arte. Desdeobras de arte. Desde
que provoqueque provoque
emoções estéticasemoções estéticas
qualquer objecto équalquer objecto é
uma obra de arte,uma obra de arte,
ficando assimficando assim
ultrapassado oultrapassado o
carácter restritivo dascarácter restritivo das
teorias anteriores.teorias anteriores.
Tracey Emin, my bedTracey Emin, my bed
25. Objecções:Objecções:
Em primeiro lugar,Em primeiro lugar,
podemos mostrar quepodemos mostrar que
algumas pessoas nãoalgumas pessoas não
sentem qualquer tiposentem qualquer tipo
de emoção perantede emoção perante
certas obras que sãocertas obras que são
consideradas arte.consideradas arte.
Quer dizer que essasQuer dizer que essas
obras podem ser arteobras podem ser arte
para uns e não o serpara uns e não o ser
para outros?para outros?
27. Objecção 2Objecção 2
Se a forma significante é a propriedadeSe a forma significante é a propriedade
que provoca em nós emoções estéticas,que provoca em nós emoções estéticas,
depois de dizer que as emoções estéticasdepois de dizer que as emoções estéticas
são provocadas pela forma significante ésão provocadas pela forma significante é
umauma falácia de circularidade.falácia de circularidade.
28. Teoria institucionalTeoria institucional
Dickie define aDickie define a
obra de arte comoobra de arte como
um artefacto queum artefacto que
possui umpossui um
conjunto deconjunto de
aspetos que lheaspetos que lhe
conferem oconferem o statusstatus
de candidato àde candidato à
apreciação dasapreciação das
pessoas dapessoas da
instituição doinstituição do
mundo da arte.mundo da arte.
29. É arte quando um entendidoÉ arte quando um entendido
assim o dizassim o diz
A importância desta frase pode ser ilustrada pela
obra de Alfred Wallis8
. Wallis era um marinheiro
que nada entendia de arte e que aos 70 anos, após
a morte da esposa, decidiu pintar barcos na
madeira para afugentar a solidão. Casualmente,
dois pintores de passagem pelo lugar gostaram de
suas telas e o descobriram como artista. Como
resultado as obras de Wallis podem ser hoje vistas
em vários museus ingleses. Como disse um crítico,
Wallis tornou-se um artista sem sequer saber que
era.
30. Teoria histórica da arteTeoria histórica da arte
(I) X é uma obra de arte = df X é um objeto(I) X é uma obra de arte = df X é um objeto
acerca do qual uma pessoa ou pessoas,acerca do qual uma pessoa ou pessoas,
possuindo a propriedade apropriada sobre X, têmpossuindo a propriedade apropriada sobre X, têm
a intenção não-passageira de que este sejaa intenção não-passageira de que este seja
perspetivado-como-uma-obra-de-arte, i.e.,perspetivado-como-uma-obra-de-arte, i.e.,
perspetivado de qualquer modo (ou modos) comoperspetivado de qualquer modo (ou modos) como
foram ou são perspetivadas corretamente (ouforam ou são perspetivadas corretamente (ou
padronizadamente) obras de arte anteriores.»padronizadamente) obras de arte anteriores.»
(Levinson, 1979, p. 236)(Levinson, 1979, p. 236)
32. Outra perspetiva histórica: asOutra perspetiva histórica: as
narrativasnarrativas
À luz da sua perspetiva, o que asÀ luz da sua perspetiva, o que as
une são narrativas com poderune são narrativas com poder
explicativo que traçam um percursoexplicativo que traçam um percurso
inteligível entre obras de arte incon-inteligível entre obras de arte incon-
testáveis de um passado mais outestáveis de um passado mais ou
menos remoto e acontecimentosmenos remoto e acontecimentos
artísticos que lhe sucedem no tempo.artísticos que lhe sucedem no tempo.