4. Kasimir Malevich
Quadrado Branco sobre Fundo Branco
1918
The Museum of Modern Art, New York
Marcel Duchamp
L.H.O.O.Q.; 1919
Readymade de «Box in a Valise»
The Philadelphia Museum of Art
5. «A verdade está na ideia, não
na coisa, já que a coisa,
imperfeita concretização da
ideia, se encontra a um grau
de distância da verdade, da
qual é uma mera imitação.
Portanto, a arte, imitando a
coisa, encontra-se a dois
graus de distância da verdade
e é a imitação de uma
imitação. »
Platão
427 a. C. - 347 a. C. Giovanni Lombardo: A Estética da Antiguidade Clássica; Lisboa; Editorial
Estampa; 2003; p. 72
6. Embora a questão acerca da natureza da arte remonte aos tempos de Platão, é na
segunda metade do século XX que a questão se torna acutilante.
7. Até então, todos sabiam distinguir
um objecto comum de uma obra de
arte, porque estas exibiam um
conjunto de propriedades de forma
e conteúdo que as tornavam
reconhecíveis.
Rembrandt
Descida da Cruz
1633
8. A arte abstracta, por exemplo, não seria admissível como arte.
Piet Mondrian
Composição nº 8
1939 - 1942
9. A modernidade questionou o
conceito de obra de arte e
desafiou a crítica a fixar os
limites que distinguem um
objecto artístico de um
objecto vulgar.
Marcel Duchamp
A Fonte
1917
10. O crítico de arte Harold Rosenberg usou a expressão objecto
ansioso (The Anxious Object, 1964) para designar estes objectos que
exigem uma classificação que os integre ou exclua do conceito de
obra de arte.
Constantin Brancusi
Bird in Space
1923 - 1940
15. Agnolo Bronzino
Eleanora di Toledo e Ferdinando de Medici
c. 1545
Galleria degli Uffizi, Florença
Piero Manzoni
Merda d'artista nº. 066, 1961
16. Alexander Calder
1898 - 1976
Yellow Among Reds (mobile)
1966
Catálogo da Kool-Roomz
US$ 90 em
www.koolroomz.net
17. Clive Bell (1881- 1964) publicou em 1914 uma obra
intitulada Art, em que desenvolvia as suas teorias
procurando captar a essência da arte.
Tem de haver uma qualidade sem a qual não pode haver
obra de arte. Possuindo-a, ainda que em grau mínimo,
nenhuma obra é completamente desprovida de valor. Que
qualidade é esta? (…) Parece-me que há uma única resposta
possível: a forma significante. (…) Uma particular
combinação de linhas e cores, certas formas e relações entre
formas [que] despertam as nossas emoções estéticas.
Citado em Carmo d’Orey: O Que É a Arte? A Perspectiva Analítica; Lisboa; Dinalivro; 2007; p. 30
Esta definição permite defender uma teoria do belo e traçar uma linha separadora entre arte
e não-arte. Ao defender que toda a arte, de todas as épocas tem um denominador comum –
a forma significante -, os objectos que a não possuem não são arte.
18. A arte, como a lógica do conceito evidencia, não tem um conjunto de
propriedades necessárias e suficientes; é por isso que uma teoria da
arte é logicamente impossível, e não apenas factualmente difícil de
constituir. A teoria estética tenta definir o que não pode ser definido na
acepção exigida.
(…) a teoria estética é uma tentativa logicamente vã de definir o que
não pode ser definido (…)
O problema com que devemos começar não é “O que é a arte?”, mas
“Que tipo de conceito é a arte”?
Morris Weitz (1916 – 1981)
19. Outros autores, como George Dickie, desenvolvem
teorias institucionais, destacando as qualidades não
observáveis nas obras de arte.
«A tese central (…) é a de que tal como as pessoas e
os objectos podem adquirir determinados estatutos,
George Dickie
por exemplo, professor jubilado ou monumento
n. 1926
nacional, apenas porque existem instituições capazes
de os outorgar, também os objectos podem adquirir
o estatuto de obra de arte, no âmbito da instituição
mundo-da-arte.
Carmo d’Orey: Ob. Cit.; p. 20
20. Em 1958, num congresso de filosofia
realizado em Veneza, Umberto Eco
apresenta pela primeira vez os
pressupostos para a sua concepção de
obra aberta:
O desenvolvimento da sensibilidade
contemporânea acentuou (…) a pouco e
pouco, a aspiração a um tipo de obra de
arte que, cada vez mais consciente das
várias perspectivas de «leitura», se
apresenta como estímulo para uma livre
interpretação orientada apenas nos seus
traços essenciais.
Umberto Eco no quadro da sensibilidade corrente, esta
n. 1932 tendência para a abertura da obra é
acompanhada por uma evolução análoga
da lógica e das ciências que substituíram
os modos unívocos pelos modos
plurivalentes.
O Problema da Obra Aberta; in «A Definição da Arte»; Lisboa; Edições 70; 2006; pp. 153 – 159
21. Em 1978, Nelson Goodman publica um livro intitulado Ways of
Worldmaking, onde explicita as teorias que já vinha ensaindo
desde há alguns anos:
A literatura da estética está atafulhada com tentativas
desesperadas para responder à questão «O que é arte?» Esta
questão, muitas vezes irremediavelmente confundida com a
questão «O que é boa arte?» (…) O que distingue aquilo que é
daquilo que não é uma obra de arte? O facto de um artista lhe
chamar uma obra de arte? O facto de estar exposto num
museu ou numa galeria? Nenhuma destas respostas faz Nelson Goodman
prevalecer qualquer convicção. (1906-1998)
Como observei no início, parte da dificuldade reside em perguntar a questão errada - em
não conseguir reconhecer que uma coisa pode funcionar como obra de arte em certos
momentos e não noutros. Nos casos cruciais, a verdadeira questão não é «Quais os
objectos que são (permanentemente) obras de arte?» mas «Quando é que um objecto é
uma obra de arte?» - ou mais brevemente, como no meu título, «Quando é arte?».
A minha resposta é que exactamente como um objecto pode ser um símbolo - por
exemplo, uma amostra - em certos momentos e em certas circunstâncias e não noutras,
assim um objecto pode ser uma obra de arte em certos momentos e não noutros. Na
realidade, exactamente por funcionar, e enquanto funcionar, de determinado modo
como um símbolo, um objecto torna-se uma obra de arte.
Modos de Fazer Mundos; Porto; Edições ASA; 1995; pp. 103
22. Bibliografia comentada: como obra de consulta imprescindível deve indicar-se a recente
colectânea editada pela Dinalivro sob a orientação de Carmo d’Orey (O Que É a Arte? A
Perspectiva Analítica; Lisboa; 2007), a mais importante estudiosa portuguesa desta
temática e que redige uma esclarecedora introdução antes de apresentar uma colectânea
de textos de Clive Bell, Morris Weitz , George Dickie ou Nelson Goodman, entre outros.
Todavia, a obra fundamental da autora é a sua tese de doutoramento, editada pela
Fundação Calouste Gulbenkian, (A Exemplificação na Arte. Um Estudo sobre Nelson
Goodman; Lisboa; Fundação Calouste Gulbenkian / Fundação para a Ciência e a
Tecnologia / Ministério da Ciência e Tecnologia; 1999) essencial para os que desejarem
aprofundar o tema, nomeadamente o capítulo III. Nelson Goodman, cujas teses originais
e estimulantes propiciam uma leitura agradável, tem dois livros editados no nosso país:
Modos de Fazer Mundos; Porto; Edições ASA; 1995 e Linguagens da Arte. Uma Abordagem
a uma Teoria dos Símbolos; Lisboa; Gradiva; 2006. O texto citado de Umberto Eco foi
republicado numa compilação recente: O Problema da Obra Aberta; in «A Definição da
Arte»; Lisboa; Edições 70; 2006; pp. 153 – 159. Útil é o pequeno livro, já clássico, de
Alexandre Melo: Arte; Lisboa; Quimera; 3ª edição; 2001. De entre os muitos ensaios
clássicos acerca desta questão da estética e da definição da obra de arte, uma leitura de
alguns excertos do ensaio de Martin Heidegger pode ajudar a esclarecer alguns tópicos
da questão, nomeadamente no que respeita à natureza simbólica do objecto artístico (A
Origem da Obra de Arte, Lisboa; Edições 70, 1989). O último título saído no mercado
nacional é da autoria de um conhecido autor e prova que o assunto continua a suscitar
interesse. Trata-se da excelente síntese de Nigel Warburton: O Que É Arte?; Lisboa;
Bizâncio; 2007.