O documento discute as diferenças entre liderança e comando. A liderança requer alto desenvolvimento intelectual e a habilidade de considerar diferentes perspectivas, enquanto o comando se concentra em resultados e diretrizes. A liderança é mais importante em países como o Brasil, onde empreendedores precisam superar falta de recursos e obstáculos.
Conferência SC 24 | Omnichannel: uma cultura ou apenas um recurso comercial?
Liderança x Comando e o papel do desenvolvimento intelectual
1. Liderança, comando e escolha intelectual
Em países como o Brasil, em que
iniciativas são altamente dependentes
das habilidades dos empreendedores
em superar a falta de recursos
disponíveis e conviver com alta
incidência de obstáculos, a liderança é
escolha e desafio, talvez aquele mais
prontamente acessível para uma
carreira de sucesso por ser o
desenvolvimento intelectual
potencialidade de todo ser humano. Ovídio Mendes - CEO da metodologia.inf.br,
Advogado e Professor Universitário
Em uma canção conhecida no cenário internacional e denominada "Nevermind", o
autor Leonardo Cohen canta: "Our law of peace / Which understands / A husband
leads / A wife commands". Seu sentido em português é "Nossas normas sociais /
entendem / Um marido lidera / Uma esposa comanda".
Talvez reflexivamente você tenha discordado do posicionamento com o seguinte
questionando "Por que o homem lidera? Por que não a mulher?" e julgado o autor
tendencioso.
2. Mas calma! "Marido" e "Esposa" são arquétipos, ou modelos de comportamentos
que se encontram profundamente arraigados na cultura. Por representarem
modelos comportamentais, não apresentam conotação com gênero. Embora em
português a palavra "marido" seja masculina e "esposa" feminina, esta é uma
questão de estrutura da linguagem pois, como pode ser percebido, no verso em
sua versão original existe uma única preposição ligada às duas palavras e é
neutra (A husband / A wife).
Independente de questões culturais, o interesse aqui é nas características dos
arquétipos, quais sejam a liderança e o comando com previsibilidade nos
resultados. Essas características adquirem sentido e riqueza extraordinárias no
mundo contemporâneo, como discutiremos a seguir.
Para entendermos objetivamente a diferença conceitual entre liderança e
comando, imaginemos o seguinte cenário: João e Maria desenvolvem atividades
conjuntas na mesma empresa e têm prazos precisos para as entregas. Os traços
psicológicos de João focam a ação, o movimento, o "fazer". Já Maria prioriza o
domínio das particularidades que, bem planejadas, permitem o melhor dos
resultados para suas execuções. Ela é uma teórica e perfeccionista. Ambos
possuem senso de responsabilidade e procuram atender as expectativas do
cliente, mas entram em atrito frequentemente devido às suas concepções
divergentes sobre o "certo".
O chefe de ambos é uma pessoa pragmática: entende que prazos devem ser
cumpridos e que questões subjetivas, como os traços psicológicos de João e
Maria, ou características gerais e estáveis da personalidade que guiam
sistematicamente os comportamentos, não podem interferir na qualidade e no
cronograma de trabalho.
Este chefe comanda, mas não lidera. Comanda porque emite diretrizes e foca os
resultados, sem preocupação pela otimização na utilização dos talentos que tem
a seu dispor. Fosse ele um líder, valorizaria e saberia como harmonizar as
3. características pessoais de João e Maria. Incentivaria a harmonização das
características individuais com as responsabilidades profissionais e concentraria
o planejamento minucioso sob responsabilidade de Maria e a execução do
planejado sob responsabilidade de João, mas com um elemento adicional: João,
pela verificação empírica, apontaria possíveis falhas no planejamento de Maria e
esta, pela validação regular, identificaria possíveis falhas na implementação do
trabalho de João, evitando eventuais retrabalhos.
O chefe é um conteúdo para o arquétipo com característica de comando. As
habilidades do chefe podem ser estimuladas e racionalmente treinadas para
desenvolvimento, pois existem regras e sequencias claras que conduzem à sua
implementação com sucesso. As abordagens atuais sobre governança
corporativa, como COBIT, CMMI, ITIL, ISO e PMBOK são, essencialmente, modelos
de comando. Suas regras objetivam resultados precisos, embora requeiram algo
que o arquétipo não menciona, que são ambientes estáveis e disponibilidades de
recursos. Mas o quê importa aqui é a ideia geral, abstrata.
O líder possui os atributos de comando, mas alia a estes uma escolha pessoal
essencial, que é o altíssimo nível de desenvolvimento intelectual, ou cognitivo.
Líderes percebem claramente que o desenvolvimento da inteligência pode ser
estimulado, mas depende primordialmente da dedicação, esforço e visão de
mundo pessoal. Ser líder é uma escolha em que o aprendizado não é concebido
como relação dual entre sujeito e conhecimento; pelo contrário, é um processo
de transformação em que o sujeito "luta" com o conhecimento para deste
apropriar-se pela transformação de suas estruturas neurológicas e internalizá-lo
como Saber. Ao transformar o conhecimento em saber, o sujeito modifica seus
traços psicológicos e reinventa-se enquanto pessoa. O Conhecimento é
significado; o Saber é sentido.
Existe um outro elemento de natureza social que integra a personalidade de um
líder. Ele não analisa contextos unicamente por seu ponto de vista particular. Ele
desenvolve constantemente a habilidade de focar cenários pelas crenças
4. daqueles que estão com eles envolvidos na atividade profissional, pois sabe que,
nesse cenário, a experiência é, necessariamente, de natureza coletiva. Este
comportamento é tão importante que, diferentemente do Brasil, muitos países
incluem o serviço voluntário nos currículos educacionais com o objetivo de
compartilhamento de percepções sociais.
Exemplos atuais de líderes podem ser encontrados no mundo dos negócios, em
muitas empresas de influência global. São pessoas que, por suas concepções de
mundo, não se intimidaram com desafios e construíram organizações com sólidas
reputações.
Também encontramos organizações que, com eficientes modelos de comandos e
em ambientes propícios, se desenvolveram e são economicamente eficientes.
Qual, então, a diferença entre uma empresa que repousa na liderança e outra
que repousa na efetividade do comando? Fundamentalmente, a abundância dos
recursos disponíveis e na "amigabilidade" do ambiente para o
empreendedorismo.
Em países como o Brasil, em que iniciativas são altamente dependentes das
habilidades dos empreendedores em superar a falta de recursos disponíveis e
conviver com alta incidência de obstáculos, a liderança é escolha e desafio,
talvez aquele mais prontamente acessível para uma carreira de sucesso por ser
o desenvolvimento intelectual potencialidade de todo ser humano. No ambiente
educacional, deveria ser elevada à condição de recurso humano imprescindível à
geração de oportunidades que alterem os rumos de situações julgadas
insuficientes para o bem estar social. Pense nisso e, talvez, você venha a tomar a
decisão de reinventar-se como líder.