O documento discute a fragmentação versus articulação do conhecimento no Brasil. Aponta que os problemas são enfrentados de forma reativa ao invés de proativa. Também argumenta que o modelo de aprendizagem nas escolas brasileiras encoraja a memorização em vez do desenvolvimento da capacidade de correlacionar conceitos para resolver problemas. Isso contribui para os baixos índices de alfabetismo funcional no país.
1. Articulação versus fragmentação do conhecimento
Há muito tempo parece que
renunciamos à capacidade de
enfrentar e resolver os grandes
problemas nacionais de modo
sistemático e racional.
Este artigo busca apontar algumas
razões para esse fato.
Ovídio Mendes - CEO da Metodologia.inf.br,
Advogado e Professor Universitário
O Brasil enfrenta grave crise econômica e política. Soluções são propostas,
desfeitas ou logo em seguida abandonadas. Mas raramente as causas das crises
são abordadas de modo responsável, na maioria das vezes atribuídas a "fatores
externos". Aliás, identificar as causas como "fatores externos" carrega
implicitamente o reconhecimento da inabilidade para controlar e influenciar os
fatores de risco que desequilibram a manutenção da prosperidade e bem estar
econômicos.
No Brasil, os problemas são em geral enfrentados de modo reativo. Soluções "ad
2. hoc" são propostas e, muitas vezes, com elevados custos. Houvesse
comportamento proativo, aqui entendido como capacidade na previsão e adoção
de medidas corretivas, tais situações seriam duradouramente controladas. Mas
como se desenvolve a capacidade de previsão de riscos?
Para além da adoção de tecnologias de ponta como ferramentas na solução de
problemas encontra-se um fator de baixíssimo custo, acessível por todos, mas
que exige aquilo que os inovadores norte-americanos denominam "hard work" e
que não significa apenas "trabalho duro" em uma tradução literal, mas
engajamento, controle, domínio e criatividade. Ou, de forma bastante singela,
habilidade para gerar ideias e ações articuladas.
A noção de ideias e ações logicamente articuladas não é recente. Jean Piaget,
criador da epistemologia genética, um modelo de desenvolvimento cognitivo a
que todas as pessoas estão submetidas, identifica o quarto estágio do
desenvolvimento intelectual com o surgimento da habilidade de execução mental
de operações sobre fatos e objetos voltadas para o alcance de objetivos. Ao
estabelecer que as operações são mentais, portanto sem materialidade física, e
tem por base fatos e objetos empíricos, estamos diante do desenvolvimento da
habilidade de planejamento e previsibilidade de resultados. Pela imaginação, a
experimentação e validação de diferentes possibilidades permitem a visualização
da solução mais adequada.
Oposto à articulação das ideias na solução de problemas temos o modelo de
aprendizagem fragmentado. Este é o modelo, implicitamente, adotado na maioria
das escolas brasileiras. Por ele, o aluno aprende conceitos pela memorização,
mas não desenvolve adequadamente a capacidade de correlacionar conceitos
para a solução de problemas corriqueiros no cotidiano. Piaget identificou a
memorização como estágio de desenvolvimento intelectual, em que problemas
são resolvidos somente pela reprodução de soluções passadas. No Brasil, o
Instituto Paulo Montenegro, na pesquisa e mensuração das habilidades e práticas
de leitura, escrita e cálculos aplicáveis ao cotidiano entre a população brasileira
3. na faixa de 15 a 64 anos (INAF - Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional),
aponta que aproximadamente 65% desse contingente não desenvolveu
suficientemente tais habilidades. Ou seja, memoriza conceitos, mas não sabe
contextualizá-los e aplicá-los no cotidiano de suas existências.
Uma demonstração de que predominantemente a escola brasileira incentiva a
memorização pode ser verificado nos métodos avaliativos adotados. As questões
não são interdisciplinares e muitas vezes concentram-se na definição de
conceitos sem explorarem suas aplicabilidades para além do contexto específico
em que são ministradas. Se assim não fosse, os indicadores de alfabetismo
funcional do Instituto Paulo Montenegro recém citados não retratariam uma
realidade tão desanimadora. Se inexiste correlação entre conceitos, a habilidade
de planejamento e previsibilidade de resultados inexiste; se inexiste
planejamento, a capacidade de inventar o futuro e prever riscos, necessários a
proatividade, inexiste; se inexiste proatividade, o pleno desenvolvimento
econômico e social, em contextos de competitividade econômica, inexiste; se
inexiste pleno desenvolvimento econômico e social ... permanecemos estagnados
no padrão de vida já alcançado ou retrocedemos em relação às nações mais
desenvolvidas, com crises quando a razão necessidades materiais / crescimento
econômico rompe determinados limites.
Neste ponto do texto, é esclarecedor retomarmos a ideia de "hard work" acima
exposta: seu sentido é a necessidade de compreensão do contexto competitivo
contemporâneo e aceitar que o incremento nas habilidades cognitivas não
ocorre de modo natural, como supõem muitos profissionais da educação adeptos
do "cognitivismo" inato e que, portanto, possuem responsabilidade nos
indicadores negativos da educação (os dados do MEC expressos na Avaliação
Nacional de Alfabetização 2014 indicam que 56,17% dos estudantes brasileiros no
3º ano do ensino fundamental têm baixo nível de leitura). As formas adequados
para o desenvolvimento cognitivo passam pela análise fria dos dados (e não das
crenças), com a identificação individual das inabilidades e, racionalmente, o
estabelecimento de planejamento para superar tais deficiências . É esse nosso
4. objetivo na proposta de abordagem e escrita de estudos acadêmicos conhecidos
como TCC, mas que se adequam perfeitamente no estabelecimento e
planejamento de qualquer meta que envolva habilidades intelectuais, seja a
escrita de um artigo, o delineamento de uma estratégia para recolocação
profissional ou o estabelecimento de um plano de negócios (daí o trocadilho com
a sigla TCC no website http://www.metodologia.inf.br - Trabalho de Conclusão de
Curso ou Treinamento da Cognição e Criatividade).