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Geraldo Magela Batista
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Família Batista.
Meus pais, Vicente e Geralda, iniciaram
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contar os doces, chicletes e balas que discretamente eram distribuídos
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Nas várias casas em que morávamos, pois meus pais eram iguais
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vez por semana. Os móveis eram arrastados dos seus lugares e grossas
palhas de aço raspavam o chão. Depois varriam a poeira, passavam um
pano úmido, secavam e passavam cera Parquetina. Tinha o escovão, um
instrumento antediluviano, pesado, com um cabo de madeira e uma base
com escova de pêlos grossos, que dava lustro ao assoalho, que ficava
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novelas no Rádio. Uma delas era o Jerônimo - O herói do sertão e tinha um
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Tostão, Natal, Evaldo e Hilton Oliveira. Havia
até um verso que dizia “rápido e Rasteiro
como a linha do Cruzeiro”. Subia em uma
cadeira e ficava com o ouvido junto ao rádio
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equipe estrelada nos gramados de Minas
Gerais.
Lembro-me de vários quintais das casas em que morávamos. Alguns
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com espigas, eu e minha irmã Lúcia brincávamos de fazer cabanas.
Amassávamos todos os pés de milho que estava no meio para fazer o chão,
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transformar em teto. Imagina a confusão que originava estas quebras de
pés de milho e sempre no fim acabava apanhando.
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paus colocados entre as paredes e nos muro nas cerca e nas árvores.
Depois pegávamos colchas e cobertores e cobríamos a armação feita pelos
paus. Pela utilização dos cobertores acabava também apanhando. Aliás
estava sempre apanhando.
Eu me lembro de um pé de bucha, essas de metros, ao pé da cerca
de um de nossos vizinhos. Uma vez quando ela estava seca cismei de
colocar fogo e minha mãe brigou muito e falava enraivecida: - Isso daí é pra
tomar banho!
Em um desses quintais, se não engano o da Rua São José, era sem
sobra de duvidas uma cidade das almas, pois minha mãe dizia que elas
tomavam conta de tudo e por isso não se preocupava com possíveis
ladrões. O interessante é que em minha imaginação elas apareciam das
mais diversas formas. Era uma sombra que passava numa esquina de
parede, o vento a balançar uma árvore levemente ou um barulho qualquer.
As almas tinham uma agilidade rara. Durante o dia não era possível
vê-las, apenas senti-las. Mas com a chegada da noite elas se expressavam
materialmente. Podiam materializar-se na conformação física de um gato
preto, com os olhos a soltar luminosidade de fogo, que passeava pelos
telhados ou na forma de um vulto rápido que se deslocava pelas paredes
ou pelo terreiro. O prestígio das almas era enorme e na escuridão reinava
com seus poderes imperiais.
Meus pais Vicente e Geralda
Para piorar o mundo da fantasia
infantil havia os gatos mortais, não os da
alma, bastantes barulhentos durante a noite.
Realizavam correrias medonhas, afastavam
telhas, brigavam por amor e faziam miados
infernais. Minha mãe afirmava que sua
população estava quase igual à de gente.
Esses barulhos noturnos impunham respeito
e quando não conseguia dormir ficava
preocupado com a rumorosa batalha dos
gatos, imaginando serem almas penadas. O
quente da estória é que diziam que as almas
apenas impunham medo e que na verdade
estavam ali para nos proteger.
Ainda criança presencie a visita do
anjo da morte. Em um parto confuso meu
irmão teve poucos minutos de vida e veio a
falecer. Creio que sua morte foi estúpida e
pode ser explicado pela falta de recursos da pequena Bom Jesus e da
medicina dos anos sessenta.
A presença do caixão branco na copa foi motivo de terror nos dias
seguintes e de sonhos que até hoje não pude entender. Nos sonhos havia
ruídos horríveis que vinham de todos os lugares; Ruídos que lembravam o
lamento dos mortos, ou do que tivesse restado de suas almas no inferno.
Quando acordava suspirava e procurava não lembrar-se dos detalhes, mas
em outras noites o sonho se repetia.
Muito tempo se passou. Muitos morreram e outros tantos nasceram
pelo mundo. O sol gigantesco continua a iluminar e aquecer os dias e lua
iluminando as noites e madrugadas e inspirando os filósofos que procuram
entender o decurso do tempo. Mas o certo que depois que mudamos para
Caratinga não retornei ao túmulo de meu irmão. Acredito que nem meus
pais sabem mais seu local correto.
Certa vez ao pular muro para atingir o quintal, recheado de amoras e
pitangas, de um vizinho a sola de meus pés foi cortado por um caco de
vidro. O desespero foi enorme ao contemplar a velha sandália toda
inundada de sangue. Senti muito medo e não sabia para onde ir. Fiquei
parado aturando minha dor e chorando. Sentia uma tontura, algo como uma
vertigem, e tive de concentrar-se, piscando algumas vezes para
desmanchar o torpor. Tinha medo de cair e não confiava por inteiro em
seus músculos, mesmo com o ato quase heroico de levantar e com os
olhos solicitar socorro. O caco de vidro encontrava-se preso entre a carne
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retirado e depois dar alguns pontos emendando os dois lados da pele.
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Familia batista

  • 1. Contos de momentos especiais que não voltam mais. Geraldo Magela Batista Visite o Site: www.geraldofadipa.comunidades.net Família Batista. Meus pais, Vicente e Geralda, iniciaram a vida bem cedo e tiveram o primeiro filho em abril de 1959 e no ano seguinte uma linda menina que deram o nome de Lúcia. Inicialmente tínhamos uma condição até razoável e morávamos nas terras do meu avô paterno. Do trabalho da terra meu pai partiu para a cidade e logo em seguida adquiriu uma Rural e com ela realizava uma linha alternativa, à Viação São Dimas, de Bom Jesus a Caratinga. Com a venda da Rural, juntamente com linha alternativa, ele adquiriu um Jeep e continuava a levar a vida. Em uma negociata mal realizada não recebeu os recursos da venda deste veículo. Soma-se a este fato a venda de um imóvel situado na Rua São José cujos recursos também desapareceram. Com a venda do referido imóvel fomos morar na rua de baixo, próximo à venda dos Angolas, em um imóvel de propriedade do Sr. José Lucas que era casado com a irmã de minha avó Isaura. Devo destacar, neste período, a imagem de uma pessoa que permanece intacta em minha memória, a Zilda Angola. Zilda era uma mulher de fibra e raça que batalhava firme por trás do balcão da venda da família e sempre tinha um sorriso e palavras carinhosas para aquela criança. Sem contar os doces, chicletes e balas que discretamente eram distribuídos para aquele menino que morava na casa em frente. Nas várias casas em que morávamos, pois meus pais eram iguais ciganos, havia os assoalhos de tábua corrida para serem encerado uma vez por semana. Os móveis eram arrastados dos seus lugares e grossas palhas de aço raspavam o chão. Depois varriam a poeira, passavam um pano úmido, secavam e passavam cera Parquetina. Tinha o escovão, um instrumento antediluviano, pesado, com um cabo de madeira e uma base com escova de pêlos grossos, que dava lustro ao assoalho, que ficava brilhando igual a um espelho. Em cima de um guarda-louça, cheio de coisas bonitas, havia um rádio. Ah, o rádio, acho que era Phillips, junto ao qual minha mãe ouvia novelas enquanto prepara almoço e a noite ouvia o Repórter. Havia várias Meus pais Vicente e Geralda
  • 2. novelas no Rádio. Uma delas era o Jerônimo - O herói do sertão e tinha um personagem interessante chamado Moleque saci. Foi neste rádio que ouvia os jogos do Cruzeiro pelas ondas das emissoras da capital chamada Guarani e Inconfidência. Era só alegria com o show de Dirceu Lopes, Tostão, Natal, Evaldo e Hilton Oliveira. Havia até um verso que dizia “rápido e Rasteiro como a linha do Cruzeiro”. Subia em uma cadeira e ficava com o ouvido junto ao rádio para apreciar a sinfonia executada pela equipe estrelada nos gramados de Minas Gerais. Lembro-me de vários quintais das casas em que morávamos. Alguns tinham horta com um monte de canteiros de alface, couve e almeirão e em outros meu pai plantava milho. Lembro-me que quando o pé já estava alto com espigas, eu e minha irmã Lúcia brincávamos de fazer cabanas. Amassávamos todos os pés de milho que estava no meio para fazer o chão, os das laterais transformavam em parede e eram dobrados para se transformar em teto. Imagina a confusão que originava estas quebras de pés de milho e sempre no fim acabava apanhando. Outra forma de fazer as cabanas eram a utilizando uns pedaços de paus colocados entre as paredes e nos muro nas cerca e nas árvores. Depois pegávamos colchas e cobertores e cobríamos a armação feita pelos paus. Pela utilização dos cobertores acabava também apanhando. Aliás estava sempre apanhando. Eu me lembro de um pé de bucha, essas de metros, ao pé da cerca de um de nossos vizinhos. Uma vez quando ela estava seca cismei de colocar fogo e minha mãe brigou muito e falava enraivecida: - Isso daí é pra tomar banho! Em um desses quintais, se não engano o da Rua São José, era sem sobra de duvidas uma cidade das almas, pois minha mãe dizia que elas tomavam conta de tudo e por isso não se preocupava com possíveis ladrões. O interessante é que em minha imaginação elas apareciam das mais diversas formas. Era uma sombra que passava numa esquina de parede, o vento a balançar uma árvore levemente ou um barulho qualquer. As almas tinham uma agilidade rara. Durante o dia não era possível vê-las, apenas senti-las. Mas com a chegada da noite elas se expressavam materialmente. Podiam materializar-se na conformação física de um gato preto, com os olhos a soltar luminosidade de fogo, que passeava pelos telhados ou na forma de um vulto rápido que se deslocava pelas paredes ou pelo terreiro. O prestígio das almas era enorme e na escuridão reinava com seus poderes imperiais. Meus pais Vicente e Geralda
  • 3. Para piorar o mundo da fantasia infantil havia os gatos mortais, não os da alma, bastantes barulhentos durante a noite. Realizavam correrias medonhas, afastavam telhas, brigavam por amor e faziam miados infernais. Minha mãe afirmava que sua população estava quase igual à de gente. Esses barulhos noturnos impunham respeito e quando não conseguia dormir ficava preocupado com a rumorosa batalha dos gatos, imaginando serem almas penadas. O quente da estória é que diziam que as almas apenas impunham medo e que na verdade estavam ali para nos proteger. Ainda criança presencie a visita do anjo da morte. Em um parto confuso meu irmão teve poucos minutos de vida e veio a falecer. Creio que sua morte foi estúpida e pode ser explicado pela falta de recursos da pequena Bom Jesus e da medicina dos anos sessenta. A presença do caixão branco na copa foi motivo de terror nos dias seguintes e de sonhos que até hoje não pude entender. Nos sonhos havia ruídos horríveis que vinham de todos os lugares; Ruídos que lembravam o lamento dos mortos, ou do que tivesse restado de suas almas no inferno. Quando acordava suspirava e procurava não lembrar-se dos detalhes, mas em outras noites o sonho se repetia. Muito tempo se passou. Muitos morreram e outros tantos nasceram pelo mundo. O sol gigantesco continua a iluminar e aquecer os dias e lua iluminando as noites e madrugadas e inspirando os filósofos que procuram entender o decurso do tempo. Mas o certo que depois que mudamos para Caratinga não retornei ao túmulo de meu irmão. Acredito que nem meus pais sabem mais seu local correto. Certa vez ao pular muro para atingir o quintal, recheado de amoras e pitangas, de um vizinho a sola de meus pés foi cortado por um caco de vidro. O desespero foi enorme ao contemplar a velha sandália toda inundada de sangue. Senti muito medo e não sabia para onde ir. Fiquei parado aturando minha dor e chorando. Sentia uma tontura, algo como uma vertigem, e tive de concentrar-se, piscando algumas vezes para desmanchar o torpor. Tinha medo de cair e não confiava por inteiro em seus músculos, mesmo com o ato quase heroico de levantar e com os olhos solicitar socorro. O caco de vidro encontrava-se preso entre a carne e foi necessário ser encaminhado para a farmácia do Sr. Emílio para ser retirado e depois dar alguns pontos emendando os dois lados da pele. Eram outros tempos. Tempos de felicidade e de amor. Tempos que vale a pena recordar. Tempos felizes. Eu com minha irmã Lúcia