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SURIPANTA NAS NOITES DAS BRUXAS
Forjas e fornos pendurados em alambiques expalhavam se pelos telhados fluídos de
gotas mornas de chuva e embaciadas janelas de pranto reluziam os sonhos de novos e
velhos nas catadupas ventanias daquele cercado longe dos prazeres mundanos
desoladores e á muito reprimidos por aquele bolor e esquecido lugar outrora esquecido
no mapa.”Nino” um gato de riste negro e branco na pêlugem, eriçado nas tábuas
adormecia de dia ao sol, e de noite pulava de telhado em telhado ao céu de linho de
algodão, como o unico senhor reinante e sem medo, por tão humecido e triste pernoitado
sítio nas abóboras e confins mel e azedas rotinas que suprimiam os destinos mais
depressivos dos mineirais de barro e insívida dos insectos colados às teias de aranhas e
ao odor dos sprays dos insolventes matam tudo, tragados das drogarias e mercearias e
dos fundos dos quartos e cortinas rotas e lagares de ervas dos vasos misturados com a
ferrugem das manilhas das portas que roiam aos sons aspéros de lixadeiras e obuses
espetos de arrepiar a espinha dos mais desejados e macios machos e fêmeas que
parasitavam pelas sombrias casas. A noite luzia de cores.Cinzentos melões e azulados
corvos eram o tom mais vago nas horas solitárias. Podemos correr campos mas nunca
sabemos onde acaba o ínicio e este conto é parecido; a leveza do ser é melindre e acaba
deitado por sedativos ou um café, chás ou ainda o cansaço não tomou conta da almofada
e os lençois de seda não trairam o desejado camaféu das longas esperas e dos doces
sonhos. No fundo somos vias láteas com um rasto que nos deixam sempre de fora, algo
que nunca compadecemos ou que nos falta;o combustível essencial á vida, os sonhos, os
agitados andares, as paisagens coloridas ou cinzentas, o inesperado, o que nunca
pensamos, o que está para além de; esse além de, que nos motiva a não seguirmos
destinos volúveis, porque há o medo e o saber nunca do que se espera na seguinte
paragem, numa estrada sem um fim á vista e assim cremos no infinito. Mas vivemos
suplantados com muito lixo á volta; uma poeira que nos cruza e nos desgasta a energia; e
assim os fracassos diluem se porque os fracos retornam á base, e ser forte numa batalha
onde se desnundam os dissabores de um coquetail de multíplos sabores e cores
misturados com azedíumes líquidos fazem nos ter cautelas; porquê cautelas?, se o
infinito se encarrega de eliminar os dejetos; preocupamo nos demais com o tudo que nos
rodeia; é esse o desperdíçio; leviantarmos o pensamento para novas e uteís rotas do
destino sem olharmos para trás; era assim que “Nino “ o gato ao trepar os telhados
esguiava se dos fracos e dos temores. A evolução. A teoria era despresível mas era a mais
dedutível; das patas ás mãos; enquanto patas as criaturas eram escravas da mobilidade;
eram ageís mas não moldavam o mundo, a natureza; com as mãos tudo mudou; com as
mãos construiu se o pensamento, embora nem sempre correto; destruiu se a paridade das
patas,da escravatura da mobilidade sem o construir; mas construiu e ficaram de novo
presos à escravatura do pensamento; alguns, nem todos; a maioria; os absoletos; como
tudo; o lixo; porque a verdadeira liberdade; está no livre pensamento; e assim seguia o “
Nino”, não o furacão , o gato do nosso conto; nas alturas dos telhados sem fobias porque
os gatos existem sem fobias. E foi solidão. E da carne se fez o mundo mesmo sabendo
que a carne, virasse bife um dia ou dejeto nas catacumbas de um vale seco dentro da
terra. Era uma vez um não digo; um “Nino o gato dos telhados frescos e sombreados de
noite que galgava pelas luas fíadas de linho de algodão em sonhos. Todo o mundo é
encoberto mas em cada casa há um crime. Folheados de gemidos e freios de silêncio
corriam pelas arestas dos cantos dos vasos das plantas yuccas naquela varanda. Aoende
matam as saudades e gnomos e bruxas viajam nas cordas da lua e onde a suripanta dos
cãnticos de acetim e rogos de louvores vêm dos lados de um novelo; um doce de algodão
nas bocas de cola de doces-algodão, os sonhos de todos.
O vendedor de doce-algodão. Vendia doces os sonhos. Quantos doces algodão, doces de
sonhos? Uma a uma, a lua gastava se de frieza. Pesadelos. Leites estragados. Uma broa
de mel pelo chão desfeita de lágrimas, limava o desejo da fome.”Nino impaciente não
descia do telhado. Atirei o pau ao gato mas o gato não pariu, não diria Dona Chica a
vitimada saloia das musicas; mas o gato pariu e partiu o galho, feriu a virtude e sentiu na
pele a agonia da noite; suripanta pelas vozes das feras ocultas que debilitavam os frescos
das flores que murchavam ao ouvir a folia dos patinhos que em fila foram nadar e não
voltaram e o sossego dos trivais gansos que quebraram a rotina da alvorada; enfim, o
nefasto arrepio das colheitas, dos caracois e os lenços de chuva, eram o apanágio do
infesto lugar dos telhados naquele enredo onde o “Nino sarapanteava a dança dos bicos
de pés de um balé farrapado e sortudo e nem aos imaginários de Landet, Canziani,
Didelot, Perrot, Saint-Léon e Petipa criador das obras Quebra-Nozes se atreviam a fazer
melhor em balé no palco, mesmo no intrépido e fossem ao som de Tchaikovski; “Nino e
os gatos nasciam bailarinos. Mas uma nova esperança desbotava de alegria, se no prato
da enfermaria houvesse o cheiro das sardinhas assadas.”Nino lambia o pêlo depois da
refeição e estendia se no suor do telhado macio do calor de um cometa ao longe a dar
esquivas de esplendor cruzado. Era o sino da solidão. Era o sino da podridão. Não sei
soletrar as palavras deste conto, mas o vazio de um conto é uma inconstância deveras
como a fome; de espinhas no prato e a preguiça de mastigar.” Nino esperneava se
sádico.Um som de uma avionete não lhe faziam cariçias nos ouvidos, se as avionetes
fossem uns insectos grandes; mas o olfato enganava-o; a unica fraqueza dos gatos, o
cheiro; às vezes nem o bacon por perto leviano detecta mas quando o olfato a peixe é
mais forte, o derrete de beiços todo o manjar.
Os gatos risurados e negros escondem segredos insóluveis draconianos e versáteis nas
suas emuladas emoções, sondam as vastas energias de um lar vazio; não planejam, não
pedem, rastejam moribundos nas tórridas fantasias. Dir se ia, astutos, aborrecidos
e uns vagos espiões inconcertados: houveram uns longíquos napoleonicos temores por
eles por descobrirem com ténue assuidade muito vulgo as suas intenções. Antes de um
aconchego ou uma porta se abra; uns já logram saber que o dono haja arremaçado antes a
chave da fechadura ou a campainha tocar, lívidos à casa, cansados ou aliviados
ao cubiclo das moradas, das serranas, arranha céus ou ao prédio. O“Nino miava. Lendas
de presságios. Lendas ocultas. Lendas diabólicas. Lendas do inédito e da inércia.
Suripanta nas noites das bruxas. Telhados de vidros embaciados. O Sol punha se à
torrente do renascer a um novo frete e algazarra agitada de um novo ciclo de vida.
Quando se acorda, sabe se que se está vivo: O medo de um dia não nascer? Opina se.
Orvalha se a astronomia e secumbidos na estrebática e lenta observação das estrelas; são
meteoricos peritos das constelações: O “Nino era amenista. Mas este conto seria um tanto
lúdico, se não vertiginasse as mestrias e proezas felinas.São as companhias mais voláteis
das avózinhas, dos mais novos e os idolátras dos escritores. O "Nino era poeta. Não
entendia os poemas, mas orgia poesia. Se uma dama mesmo que estranha se estende se
numa cama, sabia que era o sinónimo de carência e não do Amor. Se o Amor era uma
dama; para ele era dor. Num jogo de damas não sabia qual era a cor. Não havia vencedor.
Não entendia os gemidos, não entendia a letra, e se a dama o deixa se deitado na cama,
era o espetador sem poesia; mas se ralha se, era a odiosa bruxaria. Compaixivos. Os gatos
nunca se dão por vencidos. O " Nino era um santo. Esqueçem hoje o que estragaram
amanha, e o ontem é passado. E assim chegamos ao fim deste conto, que muito fica por
dizer, mas são uma alegórica "Revelação a meu ver. Amemos o " Nino: Amemos os
gatos.
CARLOS A.C. LIBERAL
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  • 1. SURIPANTA NAS NOITES DAS BRUXAS Forjas e fornos pendurados em alambiques expalhavam se pelos telhados fluídos de gotas mornas de chuva e embaciadas janelas de pranto reluziam os sonhos de novos e velhos nas catadupas ventanias daquele cercado longe dos prazeres mundanos desoladores e á muito reprimidos por aquele bolor e esquecido lugar outrora esquecido no mapa.”Nino” um gato de riste negro e branco na pêlugem, eriçado nas tábuas adormecia de dia ao sol, e de noite pulava de telhado em telhado ao céu de linho de algodão, como o unico senhor reinante e sem medo, por tão humecido e triste pernoitado sítio nas abóboras e confins mel e azedas rotinas que suprimiam os destinos mais depressivos dos mineirais de barro e insívida dos insectos colados às teias de aranhas e ao odor dos sprays dos insolventes matam tudo, tragados das drogarias e mercearias e dos fundos dos quartos e cortinas rotas e lagares de ervas dos vasos misturados com a ferrugem das manilhas das portas que roiam aos sons aspéros de lixadeiras e obuses espetos de arrepiar a espinha dos mais desejados e macios machos e fêmeas que parasitavam pelas sombrias casas. A noite luzia de cores.Cinzentos melões e azulados
  • 2. corvos eram o tom mais vago nas horas solitárias. Podemos correr campos mas nunca sabemos onde acaba o ínicio e este conto é parecido; a leveza do ser é melindre e acaba deitado por sedativos ou um café, chás ou ainda o cansaço não tomou conta da almofada e os lençois de seda não trairam o desejado camaféu das longas esperas e dos doces sonhos. No fundo somos vias láteas com um rasto que nos deixam sempre de fora, algo que nunca compadecemos ou que nos falta;o combustível essencial á vida, os sonhos, os agitados andares, as paisagens coloridas ou cinzentas, o inesperado, o que nunca pensamos, o que está para além de; esse além de, que nos motiva a não seguirmos destinos volúveis, porque há o medo e o saber nunca do que se espera na seguinte paragem, numa estrada sem um fim á vista e assim cremos no infinito. Mas vivemos suplantados com muito lixo á volta; uma poeira que nos cruza e nos desgasta a energia; e assim os fracassos diluem se porque os fracos retornam á base, e ser forte numa batalha onde se desnundam os dissabores de um coquetail de multíplos sabores e cores misturados com azedíumes líquidos fazem nos ter cautelas; porquê cautelas?, se o infinito se encarrega de eliminar os dejetos; preocupamo nos demais com o tudo que nos rodeia; é esse o desperdíçio; leviantarmos o pensamento para novas e uteís rotas do destino sem olharmos para trás; era assim que “Nino “ o gato ao trepar os telhados esguiava se dos fracos e dos temores. A evolução. A teoria era despresível mas era a mais dedutível; das patas ás mãos; enquanto patas as criaturas eram escravas da mobilidade; eram ageís mas não moldavam o mundo, a natureza; com as mãos tudo mudou; com as mãos construiu se o pensamento, embora nem sempre correto; destruiu se a paridade das patas,da escravatura da mobilidade sem o construir; mas construiu e ficaram de novo presos à escravatura do pensamento; alguns, nem todos; a maioria; os absoletos; como tudo; o lixo; porque a verdadeira liberdade; está no livre pensamento; e assim seguia o “ Nino”, não o furacão , o gato do nosso conto; nas alturas dos telhados sem fobias porque os gatos existem sem fobias. E foi solidão. E da carne se fez o mundo mesmo sabendo que a carne, virasse bife um dia ou dejeto nas catacumbas de um vale seco dentro da terra. Era uma vez um não digo; um “Nino o gato dos telhados frescos e sombreados de noite que galgava pelas luas fíadas de linho de algodão em sonhos. Todo o mundo é encoberto mas em cada casa há um crime. Folheados de gemidos e freios de silêncio corriam pelas arestas dos cantos dos vasos das plantas yuccas naquela varanda. Aoende matam as saudades e gnomos e bruxas viajam nas cordas da lua e onde a suripanta dos cãnticos de acetim e rogos de louvores vêm dos lados de um novelo; um doce de algodão nas bocas de cola de doces-algodão, os sonhos de todos. O vendedor de doce-algodão. Vendia doces os sonhos. Quantos doces algodão, doces de sonhos? Uma a uma, a lua gastava se de frieza. Pesadelos. Leites estragados. Uma broa de mel pelo chão desfeita de lágrimas, limava o desejo da fome.”Nino impaciente não descia do telhado. Atirei o pau ao gato mas o gato não pariu, não diria Dona Chica a vitimada saloia das musicas; mas o gato pariu e partiu o galho, feriu a virtude e sentiu na pele a agonia da noite; suripanta pelas vozes das feras ocultas que debilitavam os frescos das flores que murchavam ao ouvir a folia dos patinhos que em fila foram nadar e não
  • 3. voltaram e o sossego dos trivais gansos que quebraram a rotina da alvorada; enfim, o nefasto arrepio das colheitas, dos caracois e os lenços de chuva, eram o apanágio do infesto lugar dos telhados naquele enredo onde o “Nino sarapanteava a dança dos bicos de pés de um balé farrapado e sortudo e nem aos imaginários de Landet, Canziani, Didelot, Perrot, Saint-Léon e Petipa criador das obras Quebra-Nozes se atreviam a fazer melhor em balé no palco, mesmo no intrépido e fossem ao som de Tchaikovski; “Nino e os gatos nasciam bailarinos. Mas uma nova esperança desbotava de alegria, se no prato da enfermaria houvesse o cheiro das sardinhas assadas.”Nino lambia o pêlo depois da refeição e estendia se no suor do telhado macio do calor de um cometa ao longe a dar esquivas de esplendor cruzado. Era o sino da solidão. Era o sino da podridão. Não sei soletrar as palavras deste conto, mas o vazio de um conto é uma inconstância deveras como a fome; de espinhas no prato e a preguiça de mastigar.” Nino esperneava se sádico.Um som de uma avionete não lhe faziam cariçias nos ouvidos, se as avionetes fossem uns insectos grandes; mas o olfato enganava-o; a unica fraqueza dos gatos, o cheiro; às vezes nem o bacon por perto leviano detecta mas quando o olfato a peixe é mais forte, o derrete de beiços todo o manjar. Os gatos risurados e negros escondem segredos insóluveis draconianos e versáteis nas suas emuladas emoções, sondam as vastas energias de um lar vazio; não planejam, não pedem, rastejam moribundos nas tórridas fantasias. Dir se ia, astutos, aborrecidos e uns vagos espiões inconcertados: houveram uns longíquos napoleonicos temores por eles por descobrirem com ténue assuidade muito vulgo as suas intenções. Antes de um aconchego ou uma porta se abra; uns já logram saber que o dono haja arremaçado antes a chave da fechadura ou a campainha tocar, lívidos à casa, cansados ou aliviados ao cubiclo das moradas, das serranas, arranha céus ou ao prédio. O“Nino miava. Lendas de presságios. Lendas ocultas. Lendas diabólicas. Lendas do inédito e da inércia. Suripanta nas noites das bruxas. Telhados de vidros embaciados. O Sol punha se à torrente do renascer a um novo frete e algazarra agitada de um novo ciclo de vida. Quando se acorda, sabe se que se está vivo: O medo de um dia não nascer? Opina se. Orvalha se a astronomia e secumbidos na estrebática e lenta observação das estrelas; são meteoricos peritos das constelações: O “Nino era amenista. Mas este conto seria um tanto lúdico, se não vertiginasse as mestrias e proezas felinas.São as companhias mais voláteis das avózinhas, dos mais novos e os idolátras dos escritores. O "Nino era poeta. Não entendia os poemas, mas orgia poesia. Se uma dama mesmo que estranha se estende se numa cama, sabia que era o sinónimo de carência e não do Amor. Se o Amor era uma dama; para ele era dor. Num jogo de damas não sabia qual era a cor. Não havia vencedor. Não entendia os gemidos, não entendia a letra, e se a dama o deixa se deitado na cama, era o espetador sem poesia; mas se ralha se, era a odiosa bruxaria. Compaixivos. Os gatos nunca se dão por vencidos. O " Nino era um santo. Esqueçem hoje o que estragaram amanha, e o ontem é passado. E assim chegamos ao fim deste conto, que muito fica por dizer, mas são uma alegórica "Revelação a meu ver. Amemos o " Nino: Amemos os gatos.