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Contos de momentos especiais que não voltam mais.
Geraldo Magela Batista
Visite o Site: www.geraldofadipa.comunidades.net
As Terras de Francisco Jacob
Um sol indiferente sempre brilhava na
extensão infinita do céu das terras de Francisco
Lopes Jacob (meu bisavô) situada no município
de Bom Jesus do Galho. Flores silvestres cobriam
a longa extensão de terras em movimentos
ondulante de amarelo e branco, dançando sobre
as colinas baixas e irregulares.
A estrada de chão, que ligava a cidade ao distrito de Quartel do
Sacramento, com seu amarelado piso fofo originado da camada de poeira
grossa, era o percurso obrigatório para quem desejasse chegar à fazenda,
e em seguida a morada simples dos meus avós maternos, o Sr. José Lopes
Jacob, mais conhecido como Zé Jacó e a Sra. Isaura Alvarenga Jacob. Ele
natural destas terras a margem do Ribeirão Sacramento e ela de Rio
Piracicaba, cidade próxima da Companhia Belgo Mineira.
Francisco Jacob era o clã da família, com sua determinação e
trabalho construiu uma enorme propriedade. Recordo sua imagem, já
cansada pelo passar do tempo, sentado próximo à janela da cozinha que
dava para o lado do engenho. Seus olhos observava o vento que tocava o
capim verde em crescimento, curvando seus talos altos e criando um brilho
em tons de esmeralda e turquesa sob um céu de safira. Acho que sentia
uma ponta de orgulho ao observar esta terra crivada de flores selvagens
espalhada em horizonte sem limites e julgavam cumpridas finalmente as
promessas de redenção que haviam atraído seus antepassados da distante
Alemanha.
Era casado com a “vó Tomazia”. Mulher maravilhosa que sempre
emanou muito amor para o seu bisneto, filho da única neta viva do
casamento do seu filho José Jacob.
Lembro-me de um fato engraçado ocorrido com a mesma. Vovó
Tomazia fazia um café praticamente sem doce e tinha satisfação de
oferecê-lo, em uma grande caneca esmaltada, para ser degustado por este
seu bisneto. Apesar de até hoje ser um grande apreciador desta bebida,
não era de meu agrado ingeri-la sem a quantidade adequada de doce.
Assim a solução encontrada foi posicionar na janela da cozinha, que dava
para o lado dos currais, e quando recebia a tal bebida a atirava por esta
abertura retangular. Um belo dia ao executar esta tradicional manobra do
café um forte grito se fez ouvir abaixo da
janela. Era o meu bisavô que acabava de ser
atingido pelo café quente jogado fora pelas
mãos do criativo garoto.
Os homens trabalhavam nas diversas
necessidades para a manutenção da
propriedade e as mulheres auxiliavam minha
bisavó a cuidar do lar, da comida, remendo
das roupas, do asseio da casa e outras atividades que se fizesse
necessário. “Vó Tomazia” sempre passou a imagem de uma senhora alegre
e feliz. As atividades de dona de casa constituíam uma responsabilidade
encarada tranquilamente e não um fardo a ser carregado arduamente em
suas costas durante toda a existência.
A propriedade era uma autêntica fazenda mineira em plena atividade
e possuía, além da casa principal, um engenho real, um moinho d’água,
currais, pastos e uma mata, que era chamada de capoeirão. Da janela, da
casa principal, podíamos contemplar a estrada de terra, o Ribeirão
Sacramento, os tons do azul do céu e os mais variados verdes da natureza,
sem contar a sinfonia executados pelos mais diversos pássaros e animais
que ali habitavam.
Do lado esquerdo da casa principal estava localizando o imponente
engenho. Uma alta e espaçosa construção, cujo teto era coberto com telhas
assentadas sobre tirantes de madeira de lei. Encontrava-se em um desnível
do terreno, que meu bisavô sabiamente aproveitou. Possuía então dois
compartimentos, um situado na parte superior e outra na sua parte inferior.
Para mover a gigantesca roda, que iria gerar a força responsável
pelos movimentos da moenda, era utilizada água desviada do Ribeirão
Sacramento. A captação iniciava-se nas terras ocupadas, na época, pelo
tio Joaquim Jacob. Através de um córrego ela era direcionada até a
fazenda. Esta mesma água era também utilizada no moinho, que existia ao
lado do engenho.
A grande roda e a moenda encontravam-se na parte superior. O
movimento iniciava-se com a água que caia com força sobre as cavidades
existentes na enorme roda e de imediato passava a girar um espigão de
madeira e ferro que se encontrava ligado à moenda. Então se colocava
feixe de cana, que imediatamente eram espremidos entre os eixos. O caldo
da cana saia na parte de baixo e era desviado para o nível inferior, onde era
depositado em um tanque horizontal de cimento, e depois para o tacho
localizado acima das fornalhas. As fornalhas eram abastecidas por lenhas
e bagaços secos que ferviam o caldo até ficar no ponto (neste estado era
chamado de melado) e então transferido para as formas de madeira, que se
encontravam próximas, para se iniciar o processo de solidificação.
Ao lado do engenho encontrava-se o moinho d’água, uma instalação
destinada à fragmentação do milho colhido pelos filhos e agregados do
meu bisavô. Era um moinho de pedra movimentado pela mesma água
destinado ao engenho. Meus olhos ficavam firmes, quase sem movimento,
observando o modo eficaz da pedra em movimento destruir o pequeno e
inofensivo grão de milho.
Na parte dos fundos da casa principal, além do terreiro, ficava um
pequeno pomar e um cercado onde eram cultivadas diversas hortaliças.
Mais tarde soube que no cercado da horta havia um açude onde se criava
peixes para o próprio consumo. Havia também plantação de café que
abastecia os moradores da propriedade. A colheita era manualmente e
depois de colhidos os grãos passam pelo sistema de lavagem seletiva e
então era espalhado para secagem em um terreiro de cimento localizado
entre a casa principal e a estrada.
Meus Bisavôs e os tios de minha mãe foram sempre carinhosos e
deles tenho belas lembranças. Se houvesse um “túnel do tempo” retornaria
ao passado para pessoalmente expressar toda a minha gratidão.

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As terras de francisco jacob

  • 1. Contos de momentos especiais que não voltam mais. Geraldo Magela Batista Visite o Site: www.geraldofadipa.comunidades.net As Terras de Francisco Jacob Um sol indiferente sempre brilhava na extensão infinita do céu das terras de Francisco Lopes Jacob (meu bisavô) situada no município de Bom Jesus do Galho. Flores silvestres cobriam a longa extensão de terras em movimentos ondulante de amarelo e branco, dançando sobre as colinas baixas e irregulares. A estrada de chão, que ligava a cidade ao distrito de Quartel do Sacramento, com seu amarelado piso fofo originado da camada de poeira grossa, era o percurso obrigatório para quem desejasse chegar à fazenda, e em seguida a morada simples dos meus avós maternos, o Sr. José Lopes Jacob, mais conhecido como Zé Jacó e a Sra. Isaura Alvarenga Jacob. Ele natural destas terras a margem do Ribeirão Sacramento e ela de Rio Piracicaba, cidade próxima da Companhia Belgo Mineira. Francisco Jacob era o clã da família, com sua determinação e trabalho construiu uma enorme propriedade. Recordo sua imagem, já cansada pelo passar do tempo, sentado próximo à janela da cozinha que dava para o lado do engenho. Seus olhos observava o vento que tocava o capim verde em crescimento, curvando seus talos altos e criando um brilho em tons de esmeralda e turquesa sob um céu de safira. Acho que sentia uma ponta de orgulho ao observar esta terra crivada de flores selvagens espalhada em horizonte sem limites e julgavam cumpridas finalmente as promessas de redenção que haviam atraído seus antepassados da distante Alemanha. Era casado com a “vó Tomazia”. Mulher maravilhosa que sempre emanou muito amor para o seu bisneto, filho da única neta viva do casamento do seu filho José Jacob. Lembro-me de um fato engraçado ocorrido com a mesma. Vovó Tomazia fazia um café praticamente sem doce e tinha satisfação de oferecê-lo, em uma grande caneca esmaltada, para ser degustado por este seu bisneto. Apesar de até hoje ser um grande apreciador desta bebida, não era de meu agrado ingeri-la sem a quantidade adequada de doce. Assim a solução encontrada foi posicionar na janela da cozinha, que dava para o lado dos currais, e quando recebia a tal bebida a atirava por esta abertura retangular. Um belo dia ao executar esta tradicional manobra do
  • 2. café um forte grito se fez ouvir abaixo da janela. Era o meu bisavô que acabava de ser atingido pelo café quente jogado fora pelas mãos do criativo garoto. Os homens trabalhavam nas diversas necessidades para a manutenção da propriedade e as mulheres auxiliavam minha bisavó a cuidar do lar, da comida, remendo das roupas, do asseio da casa e outras atividades que se fizesse necessário. “Vó Tomazia” sempre passou a imagem de uma senhora alegre e feliz. As atividades de dona de casa constituíam uma responsabilidade encarada tranquilamente e não um fardo a ser carregado arduamente em suas costas durante toda a existência. A propriedade era uma autêntica fazenda mineira em plena atividade e possuía, além da casa principal, um engenho real, um moinho d’água, currais, pastos e uma mata, que era chamada de capoeirão. Da janela, da casa principal, podíamos contemplar a estrada de terra, o Ribeirão Sacramento, os tons do azul do céu e os mais variados verdes da natureza, sem contar a sinfonia executados pelos mais diversos pássaros e animais que ali habitavam. Do lado esquerdo da casa principal estava localizando o imponente engenho. Uma alta e espaçosa construção, cujo teto era coberto com telhas assentadas sobre tirantes de madeira de lei. Encontrava-se em um desnível do terreno, que meu bisavô sabiamente aproveitou. Possuía então dois compartimentos, um situado na parte superior e outra na sua parte inferior. Para mover a gigantesca roda, que iria gerar a força responsável pelos movimentos da moenda, era utilizada água desviada do Ribeirão Sacramento. A captação iniciava-se nas terras ocupadas, na época, pelo tio Joaquim Jacob. Através de um córrego ela era direcionada até a fazenda. Esta mesma água era também utilizada no moinho, que existia ao lado do engenho. A grande roda e a moenda encontravam-se na parte superior. O movimento iniciava-se com a água que caia com força sobre as cavidades existentes na enorme roda e de imediato passava a girar um espigão de madeira e ferro que se encontrava ligado à moenda. Então se colocava feixe de cana, que imediatamente eram espremidos entre os eixos. O caldo da cana saia na parte de baixo e era desviado para o nível inferior, onde era depositado em um tanque horizontal de cimento, e depois para o tacho localizado acima das fornalhas. As fornalhas eram abastecidas por lenhas e bagaços secos que ferviam o caldo até ficar no ponto (neste estado era chamado de melado) e então transferido para as formas de madeira, que se encontravam próximas, para se iniciar o processo de solidificação.
  • 3. Ao lado do engenho encontrava-se o moinho d’água, uma instalação destinada à fragmentação do milho colhido pelos filhos e agregados do meu bisavô. Era um moinho de pedra movimentado pela mesma água destinado ao engenho. Meus olhos ficavam firmes, quase sem movimento, observando o modo eficaz da pedra em movimento destruir o pequeno e inofensivo grão de milho. Na parte dos fundos da casa principal, além do terreiro, ficava um pequeno pomar e um cercado onde eram cultivadas diversas hortaliças. Mais tarde soube que no cercado da horta havia um açude onde se criava peixes para o próprio consumo. Havia também plantação de café que abastecia os moradores da propriedade. A colheita era manualmente e depois de colhidos os grãos passam pelo sistema de lavagem seletiva e então era espalhado para secagem em um terreiro de cimento localizado entre a casa principal e a estrada. Meus Bisavôs e os tios de minha mãe foram sempre carinhosos e deles tenho belas lembranças. Se houvesse um “túnel do tempo” retornaria ao passado para pessoalmente expressar toda a minha gratidão.