Estorias do vo jaco

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Estórias do"vô jacó"

Contos de momentos especiais que não voltam mais.
Geraldo Magela Batista
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Estórias do “Vô Jacó”
Tem noites que sinto a presença de meu avô em
meus sonhos. É algo estranho, surreal e bizarro, pois é
um sonho dentro de um sonho. Sonho que estou
sonhando e sinto a leveza do vento matinal em meu
corpo quando ando em sua direção e nossas
gargalhadas se fundem no alvorecer de um novo dia.
Mas a intensa alegria ao ouvir sua voz e sentir o
calor do seu abraço é substituída pela frustração ao
despertar do sonho no sonho. A angústia ainda é maior ao acordar
definitivamente e constatar que não passou de uma ilusão. Sinto um tremor
em meu interior. Creio que é um misto de raiva e perda. Perda de um farol
que iluminava meu horizonte e era sempre um porto seguro para este
errante navegante. Mas o seu dia chegou. Extinguiu-se o que parecia
inextinguível, apagou-se uma força da natureza. Tal qual o mitológico Atlas
cansado de suportar o peso do mundo fraquejou e por ele foi esmagado.
José Jacob era querido de todos. Uma pessoa excepcional que
adorava aprontar peraltices e contar estórias de fantasmas e almas
penadas com muita disposição.
Apesar da tristeza trago guardado, com riquezas de detalhes, todas
suas brincadeiras e estórias. As narrações eram povoadas de bravatas e,
tal qual Hércules em os doze trabalhos, conseguia solucionar ou sair bem
em todas elas.
Sobrou para meu bisavô
Era noite alta nas terras de Francisco Jacob, lá belas bandas do
Ribeirão Sacramento, o silêncio na mata nativa só era rompido pelo barulho
das rãs e das aves de habito noturno. Na sede da fazenda ouviam-se vozes
de conversas animadas entre aos membros da família e de pessoas dos
arredores que vinham comprar rapaduras, moerem o milho ou
simplesmente jogar conversa fora.
A prosa estava boa, mas tinham que descansar para a labuta do dia
seguinte no roçado. Despindo-se as pessoas tomaram o rumo de suas
casas e meus bisavôs fecharam as janelas e portas retirando-se para o
quarto. Dona Tomazia deitou preocupada, pois a muita não via seu jovem
filho José. Seu marido a acalmou dizendoque ele já estava crescido e sabia
se cuidar.
Um grupo de pessoas seguia para casa, com a luz do luar a iluminar
o caminho, quando inesperadamente os galhos das plantas começaram a
balançar ruidosamente e eles viram um vulto branco passear
garbosamente nas copas altaneiras das árvores. Desesperados
desembestaram a correr de volta para a fazenda rezando o Pai Nosso e a
Ave Maria. Meus bisavôs foram acordados e informados da aparição do
vulto misterioso sobre as copas das árvores.
Francisco Jacob, católico convicto, armou-se da santa cruz e de um
terço sagradoe pediu para indicar o lugar da estranha aparição, pois deseja
requerer perdão para a possível alma. Receosos, mas vendo a coragem
estampada em sua fisionomia, acabaram por ir juntos.
Chegando ao local o fenômeno se repetiu e ao meio do bailar das
árvores o vulto branco executou o seu assustador passeio. Francisco
Jacob imediatamente sacou a cruz e o terço e tentou iniciar a sua reza.
Inexplicavelmente a voz sumiu e da oração de requerimento só conseguiu
balbuciar: - Reque... Reque... Reque...
Mas um lampejo de razão dominou seu ser ao lembrar que seu filho
José há muito não era visto e exclamou: - Isto é coisa do Zé Jacob.
Acertou na mosca. Ao fundo de um declive relvado balançado um
pedaço de corda, que abraçava vários galhos de árvores de bom porte,
estava o endiabrado jovem a morrer de rir do susto daqueles que tentava
ultrapassar aquele caminho.
O vulto branco nada mais era do que um lençol colocado na mais alta
copa que agitava ao balançar das árvores devido o repuxo da corda entre
seus frondosos galhos.
Dizia ele que teve que passar um bom tempo longe da visão do seu
pai para evitar um juramentado corretivo.
Caveira de Cabaça
Havia na estrada que ligava a fazenda até a casa de meu avô uma
porteira localizada após uma ponte sobre um riacho de águas límpidas. Ela
estava situada após a entrada para a propriedade da viúva de um falecido
tio de minha mãe de nome Geraldo (hoje é de propriedade dos herdeiros
do tio Altivo). Esta porteira ficou gravada em minha mente devido aos
sustos causados aqueles que transitavam por aqueles caminhos nas
noites cobertas de estrelas cintilantes.
Durante o dia acompanhava meu avô no preparo de uma cabaça para
o espetáculo assustador a ser armado na velha porteira. Com maestria fazia
as aberturas correspondentes a boca, olhos e nariz e prepara a vela a ser
acesa dentro da máscara.
À noite seguíamos todos para a sede da propriedade para uma boa
prosa familiar e as rezas comuns a uma devota família católica. Por volta
das nove horas, após tomarmos um reforçado café acompanhandode broa
de milho, estávamos prontos para voltar. Nestes momentos o meu avô José
Jacob desaparecia e tínhamos de esperar um bom tempo pelo seu retorno.
A desculpa normal era de uma boa dor de barriga.
Todos seguiam pelo velho caminho conversando animadamente e
meu avô assobiava tranquilamente uma velha canção sertaneja
acompanhada por um coro de grilos. Antes mesmo de chegar a pequena
ponte já era possível visualizar um rosto iluminado sobre a porteira.
Minha Avó Isaura, que morria de medo dos habitantes do além,
arrepiava todo o corpo e lançava mão do Pai Nosso, da Ave Maria, Salve
Rainha e outras rezasna tentativa de fazer desaparecer a cabaça iluminada.
Mas de nada adiantava e meu avô, num ato de bravura e coragem, avançava
pela ponte em direção à porteira e conseguia dar cabo a assombração.
Retornava dizendo que já era possível passar com segurança. Com o rosto
cansado e parecendo pálido afirmava ainda sentir o hálito gelado e o cheiro
de morte do ser do outro mundo. Lembro-me perfeitamente que o resto do
caminho era percorrido ao som de novas orações comandadas pela Dona
Isaura e seguidas fervorosamente pelo meu avô.
Hoje nossas velhas fazendas estão se transformando em hotéis e
pousadas e já não mais existem o choro dos escravos e o barulho de
correntes sendo arrastadas. Os Fantasmas perderam sua força e acabaram
desaparecendo na velocidade dos carros e motocicletas. Morreram ao ter
suas longas vestes brancas rasgadas pelas antenas de televisão e
telefones celulares, linhas de transmissão elétrica e arranha-céus.
Hoje podemos a qualquer hora da noite atravessar velhos cemitérios
sem o menor perigo. Na verdade quando digo “podemos”, quero dizer
“vocês podem”.
Caixão amigo
Minha avó Isaura gostava muito de pão e era comum, ao fim da tarde,
meu avô ir até a cidade para adquirir esta dadiva feita de trigo na padaria
do Sr. Eloi.
Ele sempre retornava à noite e contava a estória de um caixão que o
perseguia até atravessar um córrego situado antes da casa do tio Joaquim
Jacob. A alma que habitava o dito caixão sempre retornava ao chegar neste
ponto.
Segundo ele após deixar a rua coberta de poeira e trocar uma boa
prosa com um velho ferreiro que possuía uma pequena forja para moldar o
ferro subia a estrada de chão batido pitando tranquilamente o seu cigarro
de palha.
Ao sentir uma calma quase irreal dominar a noite desviava
furtivamente seu olhar em direção da colina do velho cemitério. Era batata!
Ele sempre avistava um velho caixão negro e dourado que deslizava
velozmente pela Rua do Passa Mão, velejava ás águas da represa da Usina
Hidrelétrica e posicionava-se ao seu lado.
Suas pernas pesavam e se entorpeciam e um grande desejo de
descanso inundava o seu corpo. Contudo, sabia que não podia parar. Uma
voz em seu interior bradava ferozmente: - Caminhe! Caminhe!
Procurando não dar bola ao objeto, que mansamente flutuava ao seu
lado, descia a estrada nua sem compreender os objetivos da alma que
habitava aquela nobre mortalha. Por que afinal ele teimosamente o
perseguia?
Inexplicavelmente e para sua grande surpresa nunca atravessava o
velho córrego responsável pelo abastecimento do liquido da vida para a
propriedade de seu velho pai. Neste ponto suspirava de prazer e de alivio
ao ver o caixão dar meio volta e retornar a sua fúnebre morada.
Chegando a casa, com a maior cara lavada e sempre com um sorriso
maroto, contava tudo para a minha avó Isaura que acabava por passar uma
noite de pesadelos com caixões e almas de outro mundo.
Eu nunca entendi qual o objetivo do meu avô em delimitar o córrego
para o passeio do folgado caixão. Talvez para florear a sua estória, pois
com certeza não era para reduzir o medo de minha nobre avó.

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Estorias do vo jaco

  • 1. Contos de momentos especiais que não voltam mais. Geraldo Magela Batista Visite o Site: www.geraldofadipa.comunidades.net Estórias do “Vô Jacó” Tem noites que sinto a presença de meu avô em meus sonhos. É algo estranho, surreal e bizarro, pois é um sonho dentro de um sonho. Sonho que estou sonhando e sinto a leveza do vento matinal em meu corpo quando ando em sua direção e nossas gargalhadas se fundem no alvorecer de um novo dia. Mas a intensa alegria ao ouvir sua voz e sentir o calor do seu abraço é substituída pela frustração ao despertar do sonho no sonho. A angústia ainda é maior ao acordar definitivamente e constatar que não passou de uma ilusão. Sinto um tremor em meu interior. Creio que é um misto de raiva e perda. Perda de um farol que iluminava meu horizonte e era sempre um porto seguro para este errante navegante. Mas o seu dia chegou. Extinguiu-se o que parecia inextinguível, apagou-se uma força da natureza. Tal qual o mitológico Atlas cansado de suportar o peso do mundo fraquejou e por ele foi esmagado. José Jacob era querido de todos. Uma pessoa excepcional que adorava aprontar peraltices e contar estórias de fantasmas e almas penadas com muita disposição. Apesar da tristeza trago guardado, com riquezas de detalhes, todas suas brincadeiras e estórias. As narrações eram povoadas de bravatas e, tal qual Hércules em os doze trabalhos, conseguia solucionar ou sair bem em todas elas. Sobrou para meu bisavô Era noite alta nas terras de Francisco Jacob, lá belas bandas do Ribeirão Sacramento, o silêncio na mata nativa só era rompido pelo barulho das rãs e das aves de habito noturno. Na sede da fazenda ouviam-se vozes de conversas animadas entre aos membros da família e de pessoas dos arredores que vinham comprar rapaduras, moerem o milho ou simplesmente jogar conversa fora.
  • 2. A prosa estava boa, mas tinham que descansar para a labuta do dia seguinte no roçado. Despindo-se as pessoas tomaram o rumo de suas casas e meus bisavôs fecharam as janelas e portas retirando-se para o quarto. Dona Tomazia deitou preocupada, pois a muita não via seu jovem filho José. Seu marido a acalmou dizendoque ele já estava crescido e sabia se cuidar. Um grupo de pessoas seguia para casa, com a luz do luar a iluminar o caminho, quando inesperadamente os galhos das plantas começaram a balançar ruidosamente e eles viram um vulto branco passear garbosamente nas copas altaneiras das árvores. Desesperados desembestaram a correr de volta para a fazenda rezando o Pai Nosso e a Ave Maria. Meus bisavôs foram acordados e informados da aparição do vulto misterioso sobre as copas das árvores. Francisco Jacob, católico convicto, armou-se da santa cruz e de um terço sagradoe pediu para indicar o lugar da estranha aparição, pois deseja requerer perdão para a possível alma. Receosos, mas vendo a coragem estampada em sua fisionomia, acabaram por ir juntos. Chegando ao local o fenômeno se repetiu e ao meio do bailar das árvores o vulto branco executou o seu assustador passeio. Francisco Jacob imediatamente sacou a cruz e o terço e tentou iniciar a sua reza. Inexplicavelmente a voz sumiu e da oração de requerimento só conseguiu balbuciar: - Reque... Reque... Reque... Mas um lampejo de razão dominou seu ser ao lembrar que seu filho José há muito não era visto e exclamou: - Isto é coisa do Zé Jacob. Acertou na mosca. Ao fundo de um declive relvado balançado um pedaço de corda, que abraçava vários galhos de árvores de bom porte, estava o endiabrado jovem a morrer de rir do susto daqueles que tentava ultrapassar aquele caminho. O vulto branco nada mais era do que um lençol colocado na mais alta copa que agitava ao balançar das árvores devido o repuxo da corda entre seus frondosos galhos. Dizia ele que teve que passar um bom tempo longe da visão do seu pai para evitar um juramentado corretivo. Caveira de Cabaça Havia na estrada que ligava a fazenda até a casa de meu avô uma porteira localizada após uma ponte sobre um riacho de águas límpidas. Ela estava situada após a entrada para a propriedade da viúva de um falecido tio de minha mãe de nome Geraldo (hoje é de propriedade dos herdeiros do tio Altivo). Esta porteira ficou gravada em minha mente devido aos
  • 3. sustos causados aqueles que transitavam por aqueles caminhos nas noites cobertas de estrelas cintilantes. Durante o dia acompanhava meu avô no preparo de uma cabaça para o espetáculo assustador a ser armado na velha porteira. Com maestria fazia as aberturas correspondentes a boca, olhos e nariz e prepara a vela a ser acesa dentro da máscara. À noite seguíamos todos para a sede da propriedade para uma boa prosa familiar e as rezas comuns a uma devota família católica. Por volta das nove horas, após tomarmos um reforçado café acompanhandode broa de milho, estávamos prontos para voltar. Nestes momentos o meu avô José Jacob desaparecia e tínhamos de esperar um bom tempo pelo seu retorno. A desculpa normal era de uma boa dor de barriga. Todos seguiam pelo velho caminho conversando animadamente e meu avô assobiava tranquilamente uma velha canção sertaneja acompanhada por um coro de grilos. Antes mesmo de chegar a pequena ponte já era possível visualizar um rosto iluminado sobre a porteira. Minha Avó Isaura, que morria de medo dos habitantes do além, arrepiava todo o corpo e lançava mão do Pai Nosso, da Ave Maria, Salve Rainha e outras rezasna tentativa de fazer desaparecer a cabaça iluminada. Mas de nada adiantava e meu avô, num ato de bravura e coragem, avançava pela ponte em direção à porteira e conseguia dar cabo a assombração. Retornava dizendo que já era possível passar com segurança. Com o rosto cansado e parecendo pálido afirmava ainda sentir o hálito gelado e o cheiro de morte do ser do outro mundo. Lembro-me perfeitamente que o resto do caminho era percorrido ao som de novas orações comandadas pela Dona Isaura e seguidas fervorosamente pelo meu avô. Hoje nossas velhas fazendas estão se transformando em hotéis e pousadas e já não mais existem o choro dos escravos e o barulho de correntes sendo arrastadas. Os Fantasmas perderam sua força e acabaram desaparecendo na velocidade dos carros e motocicletas. Morreram ao ter suas longas vestes brancas rasgadas pelas antenas de televisão e telefones celulares, linhas de transmissão elétrica e arranha-céus. Hoje podemos a qualquer hora da noite atravessar velhos cemitérios sem o menor perigo. Na verdade quando digo “podemos”, quero dizer “vocês podem”. Caixão amigo Minha avó Isaura gostava muito de pão e era comum, ao fim da tarde, meu avô ir até a cidade para adquirir esta dadiva feita de trigo na padaria do Sr. Eloi.
  • 4. Ele sempre retornava à noite e contava a estória de um caixão que o perseguia até atravessar um córrego situado antes da casa do tio Joaquim Jacob. A alma que habitava o dito caixão sempre retornava ao chegar neste ponto. Segundo ele após deixar a rua coberta de poeira e trocar uma boa prosa com um velho ferreiro que possuía uma pequena forja para moldar o ferro subia a estrada de chão batido pitando tranquilamente o seu cigarro de palha. Ao sentir uma calma quase irreal dominar a noite desviava furtivamente seu olhar em direção da colina do velho cemitério. Era batata! Ele sempre avistava um velho caixão negro e dourado que deslizava velozmente pela Rua do Passa Mão, velejava ás águas da represa da Usina Hidrelétrica e posicionava-se ao seu lado. Suas pernas pesavam e se entorpeciam e um grande desejo de descanso inundava o seu corpo. Contudo, sabia que não podia parar. Uma voz em seu interior bradava ferozmente: - Caminhe! Caminhe! Procurando não dar bola ao objeto, que mansamente flutuava ao seu lado, descia a estrada nua sem compreender os objetivos da alma que habitava aquela nobre mortalha. Por que afinal ele teimosamente o perseguia? Inexplicavelmente e para sua grande surpresa nunca atravessava o velho córrego responsável pelo abastecimento do liquido da vida para a propriedade de seu velho pai. Neste ponto suspirava de prazer e de alivio ao ver o caixão dar meio volta e retornar a sua fúnebre morada. Chegando a casa, com a maior cara lavada e sempre com um sorriso maroto, contava tudo para a minha avó Isaura que acabava por passar uma noite de pesadelos com caixões e almas de outro mundo. Eu nunca entendi qual o objetivo do meu avô em delimitar o córrego para o passeio do folgado caixão. Talvez para florear a sua estória, pois com certeza não era para reduzir o medo de minha nobre avó.