Uma pesquisa classificou os consumidores brasileiros em quatro perfis: racionais (31%), moderados (25%), imprudentes (17%) e apáticos (27%). Os racionais planejam as compras e pagam em dia, enquanto os imprudentes compram por impulso e ficam inadimplentes. A maioria dos consumidores apresenta características de mais de um perfil.
1. Quase um terço dos consumidores ouvidos em
pesquisa é racional na hora das compras, diz SPC
Estudo classifica consumidores em quatro perfis diferentes e estima que 44,8 mi
brasileiros são controlados e cautelosos e 23,3 mi são imediatistas e imprudentes
Uma pesquisa encomendada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e
pelo portal Meu Bolso Feliz junto a 1245 pessoas de todo o país procurou
identificar e entender o perfil comportamental dos consumidores brasileiros
frente às compras, ao planejamento financeiro e à situação de endividamento.
O estudo estima que quase um terço (31%) dos consumidores entrevistados é
racional, planeja antes de gastar, paga as contas em dia e segue os limites do
próprio orçamento.
Os entrevistados foram classificados em quatro tipos diferentes: imprudentes,
racionais, moderados e apáticos. Para construção desses perfis apontados na
pesquisa, os entrevistados responderam uma extensa bateria de perguntas
relacionadas a temas como consumo, contas e dívidas, planejamento
orçamentário e futuro financeiro.
IMPRUDENTES: CONSUMO, LOGO EXISTO
A maior parte desses consumidores imprudentes veio da chamada nova classe
média brasileira. Levando em conta os estudos e as bases de dados aos quais o
SPC Brasil tem acesso, estima-se que este grupo represente 17% da
população economicamente ativa ou 23,3 milhões de consumidores. No
passado, consumir para este grupo estava relacionado à sobrevivência. Mas
com o aumento da renda e com o maior acesso ao crédito, eles encontraram
justamente no consumo um meio de reafirmar sua nova condição social. De
acordo com o estudo, os imprudentes têm comportamento voltado para a
cultura do excesso e valorizam produtos de grife para reivindicar seu novo
lugar na sociedade a partir da exibição e da ostentação. Para eles é importante
ser reconhecido e valorizado por todos que estão ao seu redor.
Por outro lado, esses consumidores são impulsivos, imediatistas, não se
preocupam com o futuro e não têm o hábito de planejar e nem de poupar, o
que segundo os especialistas do SPC Brasil, pode acarretar sérias
consequências na vida financeira. A pesquisa mostra que 51% dos
consumidores dessa categoria estão com o nome sujo simplesmente por
não terem o hábito de planejar o próprio orçamento.
“Essas pessoas parcelam
as compras ao máximo para adquirir novos produtos e deixam até de pagar
uma conta para poderem comprar ainda mais. Como também tendem a pensar
principalmente no curto prazo, não se organizam para pagar as dívidas, não
2. honram os compromissos e acabam ficando inadimplentes”, explica Marcela
Kawauti, economista do SPC Brasil.
RACIONAIS: PLANEJO, LOGO TEREI
No pólo oposto aos imprudentes, os racionais não são movidos pelo
consumismo e buscam sempre a melhor opção entre custo e benefício. Para
este tipo de consumidor, o valor simbólico dos produtos está em segundo plano
e a funcionalidade e o preço são os quesitos mais importantes. Só compram
algo se o item for útil e necessário. “Por serem pacientes e estarem aptos a
pensar mais no futuro, os racionais costumam economizar e poupar para
realizar metas mais desafiadoras, como comprar um automóvel, a casa própria
ou fazer uma viagem”, explica a economista.
De acordo com o estudo, eles representam a maior parte da população
economicamente ativa: 31% ou 44,8 milhões de consumidores. Os
consumidores racionais sabem onde querem chegar. Controlam os próprios
impulsos, planejam as compras, preferem pagar a vista, pesquisa preços e
consideram o nome limpo um bem precioso. Na visão do educador financeiro do
SPC Brasil, José Vignoli, para esses consumidores, “cada compra é um processo
decisório lógico, que respeita o próprio orçamento e as consequências de curto,
médio e principalmente as de longo prazo”.
Apesar do cuidado com que conduzem a vida financeira, os racionais não estão
completamente livres dos problemas com dinheiro, já que 26% que estão
adimplentes dentro deste grupo admitem já ter ficado com o nome
sujo. Mas existe uma diferença importante em relação aos imprudentes: o
maior motivo para acumular débitos é a perda do emprego, segundo afirmam
25% dos entrevistados classificados como racionais e que têm dívidas em
atraso.
MODERADOS: NEM TÃO RELAPSOS E NEM TÃO RÍGIDOS
Este grupo representa um quarto (25%) dos consumidores ou 35,9
milhões de pessoas. De acordo com o estudo, os moderados adotam um
planejamento financeiro como os consumidores racionais, mas de vez em
quando as tentações fazem com que eles não consigam segui-lo à risca o
tempo todo. “Isso ajuda a explicar o fato de que 40% dos moderados sem
dívidas em atraso admitem já ter ficado com o nome sujo”, disse Kawauti.
De acordo com a pesquisa, a maior parte deste grupo é composta por pessoas
predominantemente jovens, que vêem no consumo uma forma de expressão,
de se auto afirmarem e de serem admiradas por outras pessoas. “Essas
características aparentemente opostas não são incoerentes. Na verdade, são
complementares e demonstram que os equívocos dos moderados em relação ao
dinheiro não os deixem perigo constante. São escapadas ocasionais que os
3. fazem comprar mais do que precisam e que resultam de apelos da propaganda,
aos quais todos estão sujeitos, mas que não fazem perder o controle das
contas”, explica José Vignoli.
O estudo mostra que, entre os adimplentes, a maior parte (68%) afirma que
prefere pagar suas contas à vista. Para o educador, apesar de terem um lado
impulsivo, adotam estratégias eficazes para evitar o endividamento.
APÁTICOS: NÃO ESTOU INTERESSADO EM SER DIFERENTE
Para estes consumidores, consumir é mais uma atividade normal em meio a
tantas outras do cotidiano, não sentem prazer ou emoção com a experiência do
consumo e não ligam para marcas. Eles representam 27% dos
consumidores ou 27,3 milhões de pessoas. Segundo a pesquisa, eles não
entendem o consumo como forma de expressão da personalidade, nem
enxergam alegria extrema no ato de comprar. “Esse grupo não acredita, por
exemplo, que roupas e outros produtos possam tornar alguém especial ou
traduzir, essencialmente, quem essa pessoa é”, explica Kawauti. Se por um
lado não são consumistas como os imprudentes, também não se mostram tão
focados no futuro, porque não demonstram desejo e disciplina suficientes para
fazer seu dinheiro render mais como os racionais.
De acordo com a pesquisa, além de evitarem compras por impulso, eles evitam
dívidas, preferem pagar à vista, valorizam ter um nome limpo e acreditam que
honrar os compromissos assumidos é muito importante.
Essas preocupações,
na avaliação dos especialistas, indicam que os apáticos tendem a evitar
chateações relacionadas ao dinheiro. No entanto, ao mesmo tempo, não se
trata de um comportamento guiado pela busca de grandes melhorias da vida
financeira como costuma acontecer com os consumidores racionais.
Os consumidores com este perfil não têm o hábito de fazer dívidas, mas isso
não significa que estejam imunes à negativação: 38% dos apáticos adimplentes
admitem que já ficaram com o nome sujo. Entre os apáticos inadimplentes, o
maior motivo é a falta de planejamento financeiro motivo por 39% dos
entrevistados.
Coexistência de perfis
Os pesquisadores alertam, no entanto, que as características de uns
consumidores muitas vezes confundem-se com as de outros, fazendo com que
seja possível que muitas pessoas possam apresentar, ao mesmo tempo,
comportamentos de dois ou mais perfis. “Mas observando os hábitos de compra
e as atitudes diante do próprio orçamento, é razoável dizer que, em qualquer
consumidor, vai prevalecer como característica mais forte um dos quatro perfis
traçados na pesquisa”, explica José Vignoli.
4. A pesquisa também mostra que ao comparar esses quatro tipos de
consumidores, observa-se que há muito mais similaridades do que diferenças
comportamentais entre os consumidores adimplentes e inadimplentes. “A maior
diferença está na intensidade com que cada grupo vivencia suas experiências
de consumo. O consumidor pode apresentar um comportamento impulsivo para
comprar sapatos, mas um comportamento racional para planejar as férias, por
exemplo. Mas Kawauti explica que ao analisar todas as esferas do consumo e a
maneira de lidar com o próprio orçamento, o estudo consegue identificar e
extrair a característica mais predominante nos entrevistados.
O perfil racional, segundo os dados do estudo, se sobrepõe entre os
entrevistados e supera o perfil imprudente na proporção de praticamente dois
pra um, mostrando que a maior parte das pessoas tende a evitar atitudes
inconsequentes em relação às próprias finanças. “Mesmo assim, a
representatividade dos imprudentes é significativa e demonstra que a
inadimplência e o superendividamento são problemas graves, não apenas para
milhões de consumidores, mas também para a economia do país”, explica
Kawauti.
Metodologia
A amostra do estudo foi composta por consumidores das 27 capitais brasileiras,
com mais de 18 anos, de ambos os sexos, pertencentes a todas as classes
sociais e divididos em dois grandes grupos: 639 pessoas adimplentes e 606
pessoas inadimplentes. O critério utilizado para definir quem está no grupo do
adimplente e do inadimplente foi ter, ou não, conta vencida há mais de 90 dias.
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Baixe a pesquisa completa em:
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