O documento discute características do estilo barroco, como o dualismo, o fusionismo e o pessimismo. Apresenta exemplos de obras de arte barrocas de El Greco que ilustram essas características, além de religiosidade conflituosa e atitude lúdica. Também discute poetas como Gregório de Matos e características da poesia barroca no Brasil colonial.
3. El Greco - Cristo na Cruz Adorado
pelos Doadores, 1585-90, Louvre, Paris
Contexto Histórico
(séc.XVII)
Absolutismo e Mercantilismo
(Renascimento)
X
Contrarreforma e Santa Inquisição
(Medievalismo)
Consequência:
O ser humano em conflito
(Antropocentrismo X Teocentrismo)
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Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme, e inteiro.
Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai manso Cordeiro.
Mui grande é vosso amor, e meu delito,
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.
Esta razão me obriga a confiar,
Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.
(Gregório de Matos)
5. El Greco - Abertura do Quinto Selo do Apocalipse,
1608-14, Metropolitan of Art, New York
Características
• O dualismo
(antíteses)
• O fusionismo
(paradoxos e
oxímoros)
• O pessimismo
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6. Harmen Steenwick - As Vaidades da Vida Humana,
1645, National Gallery, London
Efemeridade
Nasce o sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em triste sombras morre e formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém, se acaba o sol, por que Nascia?
Se é tão formosa a luz, porque não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no sol, e na luz falte a firmeza
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se a tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
e tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
(Gregório de Matos) rafabebum.blogspot.com
8. El Greco - Abertura do Quinto Selo do Apocalipse,
1608-14, Metropolitan of Art, New York
Características
• O dualismo
• O fusionismo
• O pessimismo
• O feísmo
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9. Faltavam só o fel e o vinagre
para o complemento dos tormentos
da Paixão do Senhor; porque todos
os outros membros, todas as outras
potências e sentidos tinham
padecido seu tormento particular, só
o sentido do gosto não. A cabeça
estava atormentada com a coroa;
as mãos e os pés com os cravos; os
ombros com a cruz; as costas com
os açoites; os cabelos arrancados;
a pele estava esfolada; as veias
rasgadas; os nervos estirados; os
ossos desconjuntados; o sangue
derramado (...).
(Padre Antônio Vieira)
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11. El Greco - Abertura do Quinto Selo do Apocalipse,
1608-14, Metropolitan of Art, New York
Características
• O dualismo
• O fusionismo
• O pessimismo
• O feísmo
• A religiosidade
conflituosa
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13. Cultismo ou Gongorismo
- Jogo de palavras
- Abuso no emprego de figuras de
linguagem
- Uso de sensações (sentidos humanos)
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14. Cultismo ou Gongorismo
A serpe, que adornando várias cores,
Com passos mais oblíquos, que serenos
Entre belos jardins, prados amenos,
É maio errante de torcidas flores.
Se quer matar da sede os desfavores,
Os cristais bebe coa peçonha menos,
Por que não morra cos mortais venenos,
Se acaso gosta dos vitais licores.
Assim também meu coração queixoso,
Na sede ardente do feliz cuidado
Bebe cos olhos teu cristal fermoso;
Pois para não morrer no gosto amado,
Depõe logo o tormento venenoso,
Se acaso gosta o cristalino agrado.
(Manuel Botelho de Oliveira)
El Greco - O enterro do Conde de Orgaz,1586,
Igreja de São Tomé, Toledo, Espanha.
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15. Conceptismo ou Quevedismo
- Jogo de ideias
- Intelectualismo
- Convencer
- Economia de palavras e imagens
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16. Conceptismo ou Quevedismo
Aspectos Intelectuais
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço que lhe acharam, sendo parte,
Nos diz as partes todas deste todo.
(Gregório de Matos Guerra)
Aleijadinho – Davi, Congonhas - MG
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17. Barroco em Portugal (1580-1756)
• cartas
• profecias
• sermões
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Padre Antônio Vieira
Obra:
18. Barroco em Portugal (1580-1756)
• Português acadêmico
• Estilo circular
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Padre Antônio Vieira
Características:
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Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois
o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na
terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas
quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo
tantos nela que têm ofício de sal, qual será ou qual pode ser a causa
desta corrupção? Ou é por que o sal não salga, ou porque a terra se
não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não
pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar,
e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não
querem receber; ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem
uma cousa e fazem outra, ou porque a terra se não deixa salgar, e os
ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que
dizem: ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si, e
não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em
vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto
verdade? Ainda mal. (...)
20. Barroco em Portugal (1580-1756)
• Português acadêmico
• Estilo circular
• Argumentação lógica
(preferência pelo Conceptismo)
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Padre Antônio Vieira
Características:
21. • Da sexagésima: contra o estilo cultista (dos
dominicanos)
• Santo Antônio aos Peixes: alegoria dos peixes
grandes (homens poderosos) a devorar os
peixinhos (pessoas humildes)
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Principais sermões:
23. • Da sexagésima: contra o estilo cultista
• Santo Antônio aos Peixes: alegoria dos peixes
grandes (homens poderosos) a devorar os
peixinhos (pessoas humildes)
• Da primeira Dominga da Quaresma: crítica à
escravidão do nativo (índio)
• Do Rosário: crítica à escravidão do africano
• Do Bom Ladrão: crítica à corrupção dos
políticos
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Principais sermões:
24. Barroco no Brasil (1601-1768)
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Gregório de Matos
a) Poesia lírica
(essencialmente cultista)
‒ amorosa:
sentimento espiritual X carnal
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Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?
Quem vira uma tal flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que por bela, e por galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
Ângela, do latim, significa “anjo” Anjo Custódio: anjo da guarda
26. Barroco no Brasil (1601-1768)
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Gregório de Matos
a) Poesia lírica
(essencialmente cultista)
‒ sacra (exceção, é
normalmente conceptista):
pecado X perdão
27. Barroco no Brasil (1601-1768)
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Gregório de Matos
a) Poesia lírica
(essencialmente cultista)
‒ reflexivo-filosófica:
tematiza a transitoriedade
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Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
Adônis
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De dois ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder.
b) Poesia satírica (cultista)
Senhor Antão de Sousa de Meneses,
Quem sobe a alto lugar, que não merece,
Homem sobe, asno vai, burro parece,
Que o subir é desgraça muitas vezes.
Gregório de Matos
‒ crítica a toda a sociedade
‒ vocabulário obsceno
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Brás pastor inda donzelo,
querendo descabaçar-se,
viu Betica a recrear-se
vinda ao prado de amarelo:
e tendo duro o pinguelo,
foi lho metendo já nu,
fossando como Tatu:
gritou Brites, inda bem,
que tudo sofre, quem tem
rachadura junto ao cu.
Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber,
Se no nome que me dais,
Meteis a flor que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor.
31. El Greco - Abertura do Quinto Selo do Apocalipse,
1608-14, Metropolitan of Art, New York
Características
• O dualismo
• O fusionismo
• O pessimismo
• O feísmo
• A religiosidade
conflituosa
• Atitude lúdica
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A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, pra chamar-me.
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
(Gregório de Matos)
33. Ornamentação exagerada
(exagero no uso das figuras de linguagem)
Ardor em firme coração nascido!
Pranto por belos olhos derramado!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Rio de neve em fogo convertido!
Tu, que em um peito abrasas escondido,
Tu, que em um rosto corres desatado,
Quando fogo, em cristais aprisionado,
Quando cristal, em chamas derretido.
Se és fogo, como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai! que andou Amor em ti prudente.
Pois para temperar a tirania,
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.
(Gregório de Matos Guerra) Giovanni Lorenzo Bernini – O Êxtase de Santa Teresa,
1647-52, Cappella
Cornaro Santa Maria della Victoria, Roma
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34. Quiasmo.
“Quando fogo em cristais aprisionado,
Quando cristal em chamas derretido.”
Hipérbato.
“Ardor em firme coração nascido”
Metáfora.
“És neve”
“És fogo”
Anáfora.
“Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;”
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35. Oposições:
Antítese.
Ardor (fogo) х Pranto ( lágrimas, líquido)
Paradoxo.
“Incêndio em mares de água disfarçado”
“Rio de neve em fogo convertido”
Oxímoro.
“neve ardente”
“chama fria”
Caravaggio - A Ceia em Emaús,1601, National
Gallery, London
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36. Disseminação e Recolha
É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.
É planta, que de abril favorecida,
Por mares de soberba desatada,
Florida galeota empavesada,
Sulca ufana, navega destemida.
É nau enfim, que em breve ligeireza,
Com presunção de Fênix generosa,
Galhardias apresta, alentos preza:
Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa
De que importa, se aguarda sem defesa
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa.
(Gregório de Matos Guerra)
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