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Classificação da obra: poesia, “romances” (textos poéticos medievais).
“Fala inicial” sucedida de 85 romances, organizados em 5 partes, cada uma com um
“Cenário”.
Contexto histórico-cultural: séc. XVIII, Minas Gerais.
Linguagem: mescla o erudito com a expressão espontânea.
Comentários
Na Idade Média, “romance” era o nome que se atribuía a uma obra poética de caráter
narrativo. Uma reunião de romances formava um “romanceiro”. O Romanceiro da
Inconfidência narra a história da Conjuração Mineira, movimento revoltoso de 1789
promovido por colonos brasileiros que pretendiam tornar a região de Vila Rica (Minas
Gerais) independente do domínio português. O sucesso poderia levar à utilização da
riqueza produzida pelo ouro na própria região, acabando com a sangria monetária
promovida pelos interesses metropolitanos.
Em uma “Fala inicial”, o eu lírico, assumindo a primeira pessoa, manifesta a sensação
imperativa de tornar pública a revolta que toma conta da colônia, o que funciona como
justificativa para a própria obra. A partir daí, a história narrada é dividida em “Cenários”,
obedecendo à ordem cronológica dos acontecimentos.
Assim, o primeiro Cenário enquadra o desenrolar da febre do ouro na região: a busca
enlouquecida pelo metal, a crescente intervenção das autoridades, a consequente luta dos
colonos contra o poder instituído (como a Revolução de 1720, liderada por Felipe dos
Santos), a prática do contrabando e, por fim, a presença ativa dos escravos na mineração.
A atuação dos cativos acabou por gerar a lenda do Chico-Rei, lendário ex-escravo que,
enriquecido, dedicava-se a comprar a liberdade de outros, e a de Chica da Silva, a sedutora
namorada de um rico minerador. Essa primeira parte da narrativa se encerra com o
nascimento de Tiradentes (1746).
O segundo Cenário é a cidade de Vila Rica. Esta parte retrata a vida local: a bucólica e
pacífica poesia dos árcades convive com o crescimento do espírito de rebelião, que
envolve um número cada vez maior de colonos. Surge o herói Tiradentes, o “animoso
alferes”, e, ao mesmo tempo, aquele que viria a ser o traidor, Joaquim Silvério dos Reis.
Espalha-se o terror, com a prisão dos envolvidos.
Uma “Fala aos pusilânimes” serve como página de acusação aos traidores de todos os
tempos e trata da consequência das prisões: a morte suspeita do inconfidente e poeta
Claudio Manuel da Costa, os padecimentos de Tomás Antônio Gonzaga, autor dos versos
de Marília de Dirceu e o abandono a que é relegado Tiradentes, que acaba por assumir a
culpa solitariamente.
O Cenário seguinte mostra os desdobramentos da Inconfidência para seus participantes,
destacando a relação de Gonzaga com Maria Joaquina, a Marília de seus poemas: ele se
casa no exílio africano, enquanto ela sofre em terras brasileiras.
O último Cenário relata as atitudes das autoridades portuguesas responsáveis pela punição
dos revoltosos. Narra-se aqui ainda a morte de Marília. A obra termina com uma
homenagem aos rebeldes (“Fala aos inconfidentes mortos”).
Estrutura
Nessa obra de Cecília Meireles, há 85 romances, além de outros poemas, como os que
retratam os cenários. Em sua composição, é utilizada principalmente a medida velha, ou
seja, o redondilho menor, verso de cinco sílabas poéticas (pentassílabo) e,
predominantemente, o redondilho maior, verso de sete sílabas (heptassílabo), como
ocorre na “Fala Inicial”:
Não posso mover meus passos
por esse atroz labirinto
de esquecimento e cegueira
em que amores e ódios vão:
(…)
No entanto, deve-se observar que, por ser uma autora moderna, Cecília não se prende
totalmente a esse modelo. Vale-se, também, de versos mais curtos, de quatro sílabas
(como em “Fala aos Inconfidentes Mortos”), e os mais longos, como os decassílabos em
“Cenário”.
Quanto às rimas, a autora utiliza as chamadas imperfeitas (terminações de versos
semelhantes), como se pode observar no Romance XIII:
Eis que chega ao Serro Frio,
à terra dos diamantes,
o Conde de Valadares,
fidalgo de nome e sangue,
José Luís de Meneses
de Castelo Branco e Abranches.
Ordens traz do grão Ministro
de perseguir João Fernandes.
(…)
A escritora faz uso, ainda, de rimas perfeitas (terminação em sons vocálicos e
consonantais idênticos), tal como no Romance VI:
Já se preparam as festas
para os famosos noivados
que entre Portugal e Espanha
breve serão celebrados.
Ai, quantas cartas e acordos
redigidos e assinados!
(…)
Os romances
Fruto de longa pesquisa histórica, Romanceiro da Inconfidência é, para muitos, a
principal obra de Cecília Meireles. Nesse livro, por meio de uma hábil síntese entre o
dramático, o épico e o lírico, há um retrato da sociedade de Minas Gerais do século XVIII,
principalmente dos personagens envolvidos na Inconfidência Mineira, abortada pela
traição de Joaquim Silvério dos Reis, o que culminou na execução de Tiradentes.
Tematicamente, pode-se localizar a ambientação da narrativa nos primeiros 19 romances.
A descoberta do ouro, o início de uma nova configuração social com a chegada dos
mineradores e toda a estrutura formada para atendê-los, os costumes, os “causos”, como
o da donzela morta por uma punhalada desferida pelo próprio pai (Romance IV), ou os
cantos dos escravos nas catas (VII), o folclore, a história do contratador João Fernandes
e de sua amante Chica da Silva, e o alerta sobre a traição do Conde de Valadares (XIII a
XIX). A ênfase recai na cobiça do ouro, que torna as pessoas inescrupulosas.
Vila Rica é o “país das Arcádias”, numa alusão direta ao neoclassicismo brasileiro, com
seus principais poetas e suas pastoras: Glauceste Satúrnio e Nise, Dirceu e Marília. No
belo Romance XXI, as primeiras ideias de liberdade começam a circular.
A partir do Romance XXIV, a insatisfação, a revolta contra a corte portuguesa é
explicitada com a confecção de uma bandeira (“Libertas quae sera tamen”). Do XXVII
ao XLVII, há a atuação do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que
procurava atrair mais gente para a conspiração, em longas cavalgadas pela estrada que
levava ao Rio. Contudo, os planos são abortados antes de ser efetivamente colocados em
prática por causa dos delatores, principalmente Joaquim Silvério dos Reis (XXVIII).
Segue-se uma devassa completa, prisões, confisco de bens, falsos testemunhos, a morte
de Cláudio Manuel da Costa, o Glauceste Satúrnio, sob condições misteriosas (XLIX), a
execução de Tiradentes, antecipada na fala do carcereiro (LII) e explicitada nos romances
LVI a LXIII.
Após um período como magistrado, Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu, é também preso,
julgado e condenado ao exílio em Moçambique (LIV e LV). Lá, longe de sua ex-noiva e
agora inconsolada Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a Marília (LXXIII), casa-se com
Juliana de Mascarenhas (LXXI).
Os romances finais falam do poeta Alvarenga Peixoto, sua esposa, Bárbara Eliodora, e
sua filha, Maria Ifigênia (LXXV a LXXX); o retrato de Marília idosa; lamentos pela
calamidade mineira; e a loucura e morte de D. Maria I (LXXXII e LXXXIII). A obra é
concluída com a “Fala aos Inconfidentes Mortos”.
Um dos romances mais significativos, o XXIV, relaciona o ato da confecção da bandeira
dos inconfidentes com todo o movimento que eles preparavam em Ouro Preto.
Contexto histórico
“Romanceiro da Inconfidência” caracteriza-se como uma obra lírica, de reflexão, mas
com um contexto épico, narrativo, firmemente calcado na história. Em 1789, inspirados
pelas ideias iluministas europeias e pela independência dos Estados Unidos, alguns
homens tentam organizar um movimento para libertar a colônia brasileira de sua
metrópole portuguesa.
Uma pesada carga tributária sobre o ouro extraído das Minas Gerais deixava os que
viviam dessa renda cada vez mais descontentes. Assim, donos de minas, profissionais
liberais – entre os quais alguns poetas árcades – e outros começaram a conspirar contra
Portugal. Contudo, o movimento é delatado e os envolvidos, presos. Alguns são
condenados ao exílio, e o único a ser executado, na forca, é Tiradentes, em 21 de abril de
1792.
Gênese em Ouro Preto
Nessa obra, Cecília Meireles utiliza-se, pela primeira vez, da temática social, de interesse
histórico e nacional, enfatizando a luta pela liberdade. Sem aprofundadas reflexões
filosóficas, mas com muita sensibilidade, a autora dá uma visão mais humana dos
protagonistas daquele que foi o primeiro grande movimento de emancipação do Brasil: a
Inconfidência Mineira.
Como se trata de um fato histórico, e dos mais importantes, a autora tem o cuidado de não
se limitar a relatá-lo em versos, mas procura recriá-lo por meio da imaginação.
A gênese da obra ocorreu, de acordo com depoimento da escritora, quando foi pela
primeira vez à cidade de Ouro Preto (ex-Vila Rica), local onde se organizou o movimento
de Tiradentes e seus companheiros.
Cecília afirmou: “Todo o presente emudeceu, como plateia humilde, e os antigos atores
tomaram suas posições no palco. Vim com o modesto propósito jornalístico de descrever
as comemorações de uma Semana Santa; porém os homens de outrora misturaram-se às
figuras eternas dos andores; (…) na procissão dos vivos caminhava uma procissão de
fantasmas (…). Era, na verdade, a última Semana Santa dos inconfidentes: a do ano de
1789”.
1. Ambiente e Contexto (romances I-XXIII)
Caracterização do boom minerador, seu papel social e histórico, suas figuras humanas e
sociais, suas crenças e expectativas.
Elementos ligados à tradição lendária (o caçador que se embrenha na mata, o caso da
donzela assassinada pelo próprio pai, o cantar do negro nas catas, a que se podem associar
os romances Do Chico-Rei e o De Vira-e-Sai) ou à tradição histórica (a troca dos o fim
de Ouro Podre, o requesto promovido pelo ouvidor Bacelar, a provocante história de
Chica da Silva, amante de João Fernandes, a cobiça do conde de Valadares, que desgraçou
a ambos, o adensar-se da ambição de posse e das ideias de libertação, mais pronunciado
nos três últimos romances desta primeira parte.
De qualquer forma, toda esta primeira parte está governada por um princípio de
reorganização lendária e folclórica da realidade histórica, com intensa participação da
atmosfera de estribilho popular (dialogismo, provérbios, exclamações) e sugestão de coral
trágico a que já fizemos referência.
2. Articulação e fracasso (romances XXI V-XL VH)
Começa propriamente a articulação do movimento rebelde contra a opressão lusitana:
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
uns sugerem, uns recusam,
uns ouvem, uns aconselham.
Se a derrama for lançada,
há levante com certeza.
Corre-se por essas ruas?
Corta-se alguma cabeça?
Do cimo de alguma escada,
profere-se alguma arenga?
Que bandeira se desdobra?
Com que figura ou legenda?
Coisas da maçonaria,
do Paganismo ou da Igreja?
A Santíssima Trindade?
Um gênio a quebrar algemas?
(Romance XXIV ou “Da Bandeira da Inconfidência”.)
O clima de terror começa com a chegada de uma carta misteriosa e ameaçadora:
Veio uma carta de longe.
O que dizia não sei.
Há calúnias, há suspeitas...
(Vede as janelas fechadas!
Confabulam! Querem Rei!)
(Romance XXV ou “Do Aviso Anônimo”.)
Não obstante, toma vulto a agitação preparatória do movimento, a fermentação das ideias
liberais, a atividade incansável de Tiradentes, a carta-denúncia de Joaquim Silvério, e a
repressão do governo central, com a prisão dos principais envolvidos. Poetização da
figura de Tiradentes (a fala dos velhos, a ironia dos tropeiros, a predição do cigano, o
mistério dos seguidores encapuzados, as testemunhas, os delatores — estes últimos são
especialmente focalizados pela indignação do poeta).
3. Morte de Cláudio e Tiradentes (romances XLVIII-LXIV)
As circunstâncias misteriosas em que se deu a morte de Cláudio Manuel da Costa servem
de substância para a divagação de Cecilia Meireles. A morte de Tiradentes, por sua vez,
é antecipada nas palavras do carcereiro. Focaliza-se também a Tomás Antônio Gonzaga,
suas angústias e expectativas de prisioneiro, seus sonhos, suas fracassadas tentativas de
se libertar por meios judiciários. Essa parte culmina com o momento verdadeiramente
trágico de Tiradentes: seus passos de condenado rumando à forca, a indiferença ou o
contentamento de uma parte da população, etc.
4. A infelicidade de Gonzaga e de Alvarenga Peixoto (romances LXV-LXXX)
Esta parte se abre com um panorama do ambiente em que Gonzaga vivera e se tornara
magistrado e poeta de prestígio. Depois, vem caindo sobre ele a ironia trágica,
representada nas murmurações e desconfianças, na precipitação do desterro (degredo para
África), e, portanto, na perda daquela Marília bela que ele cantara como Dirceu
apaixonado.
Há também uma oposição amarga entre o retrato de Marília e o de Juliana de Mascarenhas
(esta última conquistará o coração do poeta, já em seu desterro de Moçambique). Há o
inconformismo de Marília, que ficará solteira até o final de sua vida. Há também um
verdadeiro ciclo da vida do poeta Alvarenga Peixoto.
Sua mulher, Bárbara Heliodora, é focalizada em grande momento lírico de Cecília
Meireles. Há também a bela filha de Alvarenga, Maria Ifigênia ("a princesa do Brasil"),
que vem a morrer. A imagem final é a da octogenária Marília, indo a caminho da paróquia
de Antônio Dias.
5. Conclusão e D. Maria I (romances LXXXI-LXXXV mais a “Fala aos
Inconfidentes Mortos”).
É o fechamento do Romanceiro da Inconfidência, com alguns poemas de lamento e
dramaticidade, reflexão dolorida sobre o conjunto da tragédia mineira. Esta parte é curta
e peremptória. D. Maria I é vista vinte anos depois, já no Brasil. Sua loucura galopante
contempla agora o que ela mesma havia feito com poetas, soldados, doutores. Os
remorsos a levam à morte. O livro se encerra com a “Fala aos Inconfidentes Mortos”:
Grosso cascalho
da humana vida...
Negros orgulhos,
ingênua audácia,
e fingimentos
e covardias
(e covardias!)
vão dando voltas
no imenso tempo,
— à água implacável
do tempo imenso,
rodando soltos,
com sua rude
miséria exposta...
Parada noite,
suspensa em bruma:
não, não se avistam
os fundos leitos...
Mas no horizonte
do que é memória
da eternidade,
referve o embate
de antigas horas,
de antigos fatos,
de homens antigos.
E aqui ficamos
todos contritos,
a ouvir na névoa
o desconforme,
submerso curso
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Quais os que tombam,
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Romanceiro da Inconfidência - análise.pdf

  • 1. Classificação da obra: poesia, “romances” (textos poéticos medievais). “Fala inicial” sucedida de 85 romances, organizados em 5 partes, cada uma com um “Cenário”. Contexto histórico-cultural: séc. XVIII, Minas Gerais. Linguagem: mescla o erudito com a expressão espontânea. Comentários Na Idade Média, “romance” era o nome que se atribuía a uma obra poética de caráter narrativo. Uma reunião de romances formava um “romanceiro”. O Romanceiro da Inconfidência narra a história da Conjuração Mineira, movimento revoltoso de 1789 promovido por colonos brasileiros que pretendiam tornar a região de Vila Rica (Minas Gerais) independente do domínio português. O sucesso poderia levar à utilização da riqueza produzida pelo ouro na própria região, acabando com a sangria monetária promovida pelos interesses metropolitanos. Em uma “Fala inicial”, o eu lírico, assumindo a primeira pessoa, manifesta a sensação imperativa de tornar pública a revolta que toma conta da colônia, o que funciona como justificativa para a própria obra. A partir daí, a história narrada é dividida em “Cenários”, obedecendo à ordem cronológica dos acontecimentos. Assim, o primeiro Cenário enquadra o desenrolar da febre do ouro na região: a busca enlouquecida pelo metal, a crescente intervenção das autoridades, a consequente luta dos colonos contra o poder instituído (como a Revolução de 1720, liderada por Felipe dos Santos), a prática do contrabando e, por fim, a presença ativa dos escravos na mineração. A atuação dos cativos acabou por gerar a lenda do Chico-Rei, lendário ex-escravo que, enriquecido, dedicava-se a comprar a liberdade de outros, e a de Chica da Silva, a sedutora namorada de um rico minerador. Essa primeira parte da narrativa se encerra com o nascimento de Tiradentes (1746). O segundo Cenário é a cidade de Vila Rica. Esta parte retrata a vida local: a bucólica e pacífica poesia dos árcades convive com o crescimento do espírito de rebelião, que envolve um número cada vez maior de colonos. Surge o herói Tiradentes, o “animoso alferes”, e, ao mesmo tempo, aquele que viria a ser o traidor, Joaquim Silvério dos Reis. Espalha-se o terror, com a prisão dos envolvidos. Uma “Fala aos pusilânimes” serve como página de acusação aos traidores de todos os tempos e trata da consequência das prisões: a morte suspeita do inconfidente e poeta Claudio Manuel da Costa, os padecimentos de Tomás Antônio Gonzaga, autor dos versos de Marília de Dirceu e o abandono a que é relegado Tiradentes, que acaba por assumir a culpa solitariamente. O Cenário seguinte mostra os desdobramentos da Inconfidência para seus participantes, destacando a relação de Gonzaga com Maria Joaquina, a Marília de seus poemas: ele se casa no exílio africano, enquanto ela sofre em terras brasileiras. O último Cenário relata as atitudes das autoridades portuguesas responsáveis pela punição dos revoltosos. Narra-se aqui ainda a morte de Marília. A obra termina com uma homenagem aos rebeldes (“Fala aos inconfidentes mortos”). Estrutura
  • 2. Nessa obra de Cecília Meireles, há 85 romances, além de outros poemas, como os que retratam os cenários. Em sua composição, é utilizada principalmente a medida velha, ou seja, o redondilho menor, verso de cinco sílabas poéticas (pentassílabo) e, predominantemente, o redondilho maior, verso de sete sílabas (heptassílabo), como ocorre na “Fala Inicial”: Não posso mover meus passos por esse atroz labirinto de esquecimento e cegueira em que amores e ódios vão: (…) No entanto, deve-se observar que, por ser uma autora moderna, Cecília não se prende totalmente a esse modelo. Vale-se, também, de versos mais curtos, de quatro sílabas (como em “Fala aos Inconfidentes Mortos”), e os mais longos, como os decassílabos em “Cenário”. Quanto às rimas, a autora utiliza as chamadas imperfeitas (terminações de versos semelhantes), como se pode observar no Romance XIII: Eis que chega ao Serro Frio, à terra dos diamantes, o Conde de Valadares, fidalgo de nome e sangue, José Luís de Meneses de Castelo Branco e Abranches. Ordens traz do grão Ministro de perseguir João Fernandes. (…) A escritora faz uso, ainda, de rimas perfeitas (terminação em sons vocálicos e consonantais idênticos), tal como no Romance VI: Já se preparam as festas para os famosos noivados que entre Portugal e Espanha breve serão celebrados. Ai, quantas cartas e acordos redigidos e assinados! (…) Os romances Fruto de longa pesquisa histórica, Romanceiro da Inconfidência é, para muitos, a principal obra de Cecília Meireles. Nesse livro, por meio de uma hábil síntese entre o dramático, o épico e o lírico, há um retrato da sociedade de Minas Gerais do século XVIII, principalmente dos personagens envolvidos na Inconfidência Mineira, abortada pela traição de Joaquim Silvério dos Reis, o que culminou na execução de Tiradentes.
  • 3. Tematicamente, pode-se localizar a ambientação da narrativa nos primeiros 19 romances. A descoberta do ouro, o início de uma nova configuração social com a chegada dos mineradores e toda a estrutura formada para atendê-los, os costumes, os “causos”, como o da donzela morta por uma punhalada desferida pelo próprio pai (Romance IV), ou os cantos dos escravos nas catas (VII), o folclore, a história do contratador João Fernandes e de sua amante Chica da Silva, e o alerta sobre a traição do Conde de Valadares (XIII a XIX). A ênfase recai na cobiça do ouro, que torna as pessoas inescrupulosas. Vila Rica é o “país das Arcádias”, numa alusão direta ao neoclassicismo brasileiro, com seus principais poetas e suas pastoras: Glauceste Satúrnio e Nise, Dirceu e Marília. No belo Romance XXI, as primeiras ideias de liberdade começam a circular. A partir do Romance XXIV, a insatisfação, a revolta contra a corte portuguesa é explicitada com a confecção de uma bandeira (“Libertas quae sera tamen”). Do XXVII ao XLVII, há a atuação do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que procurava atrair mais gente para a conspiração, em longas cavalgadas pela estrada que levava ao Rio. Contudo, os planos são abortados antes de ser efetivamente colocados em prática por causa dos delatores, principalmente Joaquim Silvério dos Reis (XXVIII). Segue-se uma devassa completa, prisões, confisco de bens, falsos testemunhos, a morte de Cláudio Manuel da Costa, o Glauceste Satúrnio, sob condições misteriosas (XLIX), a execução de Tiradentes, antecipada na fala do carcereiro (LII) e explicitada nos romances LVI a LXIII. Após um período como magistrado, Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu, é também preso, julgado e condenado ao exílio em Moçambique (LIV e LV). Lá, longe de sua ex-noiva e agora inconsolada Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a Marília (LXXIII), casa-se com Juliana de Mascarenhas (LXXI). Os romances finais falam do poeta Alvarenga Peixoto, sua esposa, Bárbara Eliodora, e sua filha, Maria Ifigênia (LXXV a LXXX); o retrato de Marília idosa; lamentos pela calamidade mineira; e a loucura e morte de D. Maria I (LXXXII e LXXXIII). A obra é concluída com a “Fala aos Inconfidentes Mortos”. Um dos romances mais significativos, o XXIV, relaciona o ato da confecção da bandeira dos inconfidentes com todo o movimento que eles preparavam em Ouro Preto. Contexto histórico “Romanceiro da Inconfidência” caracteriza-se como uma obra lírica, de reflexão, mas com um contexto épico, narrativo, firmemente calcado na história. Em 1789, inspirados pelas ideias iluministas europeias e pela independência dos Estados Unidos, alguns homens tentam organizar um movimento para libertar a colônia brasileira de sua metrópole portuguesa. Uma pesada carga tributária sobre o ouro extraído das Minas Gerais deixava os que viviam dessa renda cada vez mais descontentes. Assim, donos de minas, profissionais liberais – entre os quais alguns poetas árcades – e outros começaram a conspirar contra Portugal. Contudo, o movimento é delatado e os envolvidos, presos. Alguns são condenados ao exílio, e o único a ser executado, na forca, é Tiradentes, em 21 de abril de 1792. Gênese em Ouro Preto
  • 4. Nessa obra, Cecília Meireles utiliza-se, pela primeira vez, da temática social, de interesse histórico e nacional, enfatizando a luta pela liberdade. Sem aprofundadas reflexões filosóficas, mas com muita sensibilidade, a autora dá uma visão mais humana dos protagonistas daquele que foi o primeiro grande movimento de emancipação do Brasil: a Inconfidência Mineira. Como se trata de um fato histórico, e dos mais importantes, a autora tem o cuidado de não se limitar a relatá-lo em versos, mas procura recriá-lo por meio da imaginação. A gênese da obra ocorreu, de acordo com depoimento da escritora, quando foi pela primeira vez à cidade de Ouro Preto (ex-Vila Rica), local onde se organizou o movimento de Tiradentes e seus companheiros. Cecília afirmou: “Todo o presente emudeceu, como plateia humilde, e os antigos atores tomaram suas posições no palco. Vim com o modesto propósito jornalístico de descrever as comemorações de uma Semana Santa; porém os homens de outrora misturaram-se às figuras eternas dos andores; (…) na procissão dos vivos caminhava uma procissão de fantasmas (…). Era, na verdade, a última Semana Santa dos inconfidentes: a do ano de 1789”. 1. Ambiente e Contexto (romances I-XXIII) Caracterização do boom minerador, seu papel social e histórico, suas figuras humanas e sociais, suas crenças e expectativas. Elementos ligados à tradição lendária (o caçador que se embrenha na mata, o caso da donzela assassinada pelo próprio pai, o cantar do negro nas catas, a que se podem associar os romances Do Chico-Rei e o De Vira-e-Sai) ou à tradição histórica (a troca dos o fim de Ouro Podre, o requesto promovido pelo ouvidor Bacelar, a provocante história de Chica da Silva, amante de João Fernandes, a cobiça do conde de Valadares, que desgraçou a ambos, o adensar-se da ambição de posse e das ideias de libertação, mais pronunciado nos três últimos romances desta primeira parte. De qualquer forma, toda esta primeira parte está governada por um princípio de reorganização lendária e folclórica da realidade histórica, com intensa participação da atmosfera de estribilho popular (dialogismo, provérbios, exclamações) e sugestão de coral trágico a que já fizemos referência. 2. Articulação e fracasso (romances XXI V-XL VH) Começa propriamente a articulação do movimento rebelde contra a opressão lusitana: Atrás de portas fechadas, à luz de velas acesas, uns sugerem, uns recusam, uns ouvem, uns aconselham. Se a derrama for lançada, há levante com certeza. Corre-se por essas ruas? Corta-se alguma cabeça? Do cimo de alguma escada, profere-se alguma arenga? Que bandeira se desdobra? Com que figura ou legenda? Coisas da maçonaria,
  • 5. do Paganismo ou da Igreja? A Santíssima Trindade? Um gênio a quebrar algemas? (Romance XXIV ou “Da Bandeira da Inconfidência”.) O clima de terror começa com a chegada de uma carta misteriosa e ameaçadora: Veio uma carta de longe. O que dizia não sei. Há calúnias, há suspeitas... (Vede as janelas fechadas! Confabulam! Querem Rei!) (Romance XXV ou “Do Aviso Anônimo”.) Não obstante, toma vulto a agitação preparatória do movimento, a fermentação das ideias liberais, a atividade incansável de Tiradentes, a carta-denúncia de Joaquim Silvério, e a repressão do governo central, com a prisão dos principais envolvidos. Poetização da figura de Tiradentes (a fala dos velhos, a ironia dos tropeiros, a predição do cigano, o mistério dos seguidores encapuzados, as testemunhas, os delatores — estes últimos são especialmente focalizados pela indignação do poeta). 3. Morte de Cláudio e Tiradentes (romances XLVIII-LXIV) As circunstâncias misteriosas em que se deu a morte de Cláudio Manuel da Costa servem de substância para a divagação de Cecilia Meireles. A morte de Tiradentes, por sua vez, é antecipada nas palavras do carcereiro. Focaliza-se também a Tomás Antônio Gonzaga, suas angústias e expectativas de prisioneiro, seus sonhos, suas fracassadas tentativas de se libertar por meios judiciários. Essa parte culmina com o momento verdadeiramente trágico de Tiradentes: seus passos de condenado rumando à forca, a indiferença ou o contentamento de uma parte da população, etc. 4. A infelicidade de Gonzaga e de Alvarenga Peixoto (romances LXV-LXXX) Esta parte se abre com um panorama do ambiente em que Gonzaga vivera e se tornara magistrado e poeta de prestígio. Depois, vem caindo sobre ele a ironia trágica, representada nas murmurações e desconfianças, na precipitação do desterro (degredo para África), e, portanto, na perda daquela Marília bela que ele cantara como Dirceu apaixonado. Há também uma oposição amarga entre o retrato de Marília e o de Juliana de Mascarenhas (esta última conquistará o coração do poeta, já em seu desterro de Moçambique). Há o inconformismo de Marília, que ficará solteira até o final de sua vida. Há também um verdadeiro ciclo da vida do poeta Alvarenga Peixoto. Sua mulher, Bárbara Heliodora, é focalizada em grande momento lírico de Cecília Meireles. Há também a bela filha de Alvarenga, Maria Ifigênia ("a princesa do Brasil"), que vem a morrer. A imagem final é a da octogenária Marília, indo a caminho da paróquia de Antônio Dias. 5. Conclusão e D. Maria I (romances LXXXI-LXXXV mais a “Fala aos Inconfidentes Mortos”). É o fechamento do Romanceiro da Inconfidência, com alguns poemas de lamento e dramaticidade, reflexão dolorida sobre o conjunto da tragédia mineira. Esta parte é curta e peremptória. D. Maria I é vista vinte anos depois, já no Brasil. Sua loucura galopante
  • 6. contempla agora o que ela mesma havia feito com poetas, soldados, doutores. Os remorsos a levam à morte. O livro se encerra com a “Fala aos Inconfidentes Mortos”: Grosso cascalho da humana vida... Negros orgulhos, ingênua audácia, e fingimentos e covardias (e covardias!) vão dando voltas no imenso tempo, — à água implacável do tempo imenso, rodando soltos, com sua rude miséria exposta... Parada noite, suspensa em bruma: não, não se avistam os fundos leitos... Mas no horizonte do que é memória da eternidade, referve o embate de antigas horas, de antigos fatos, de homens antigos. E aqui ficamos todos contritos, a ouvir na névoa o desconforme, submerso curso dessa torrente do purgatório... Quais os que tombam, em crimes exaustos, quais os que sobem, purificados?