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Aquisição da Linguagem


            Hipóteses Construtivistas e
                  Interacionistas
(Fragmento do Manual de Linguística/Mario Eduardo Martelotta, (org.). 2 ed. – São Paulo:
                           Contexto, 2011. Vários autores)
Sumário

 Introdução


 Cognitivismo Construtivista


 O Interacionismo Social


 A visão Sociocognitivista
Introdução
 Há diferentes abordagens que tentam dar
 conta da linguagem a partir das relações
 interativas entre a criança e o ambiente,
 sendo a linguagem consequência da
 construção da inteligência em geral (hipótese
 construtivista de Piaget) ou entre a criança e
 as pessoas com ela convive (Hipóteses
 Interacionistas). Veremos, resumidamente,
 algumas dessas concepções.
Cognitivismo construtivista
 Uma abordagem bastante conhecida é a
 denonminada cognitivismo construtivista ou
 epigenético, desenvolvida pelo estudioso
 suíço Jean Piaget (1978-1990). Sua visão
 tem por base a ideia de que o
 desenvolvimento      das   estruturas     do
 conhecimento ou estruturas cognitivas é feito
 pela interação entre ambiente e organismo.
 Em outras palavras, para Piaget não existe
 uma gramática independente de outros
 domínios cognitivos.
Cognitivismo construtivista
                     (continuação)
 O aparecimento da linguagem dá-se por volta dos 18
  meses de idade, na superação do estágio que o autor
  denominou de “estágio sensório-motor”. Nesse
  momento há o desenvolvimento da função simbólica,
  por meio da qual um significante representa um objeto
  significado. Também há o desenvolvimento da
  representação, que permite que experiências sejam
  armazenadas e recuperadas. Nessa fase, a criança
  começa a se reconhecer como indivíduo, como
  senhora de seus movimentos, diferenciando-se das
  outras pessoas, ou seja, a criança faz uma oposição
  entre o “eu” e os “outros”.
Cognitivismo construtivista
                 (continuação)

 Quando a criança chega a esse estágio
 cognitivo começa o desenvolvimento da
 linguagem, a qual é entendida por Piaget
 como      um    sistema      simbólico     de
 representações.     Dessa       forma,      o
 conhecimento linguístico não seria inato, mas
 sim desenvolvido através da interação entre
 o ambiente e o organismo, sendo uma
 consequência da construção da inteligência
 em geral.
O Interacionismo Social
 Uma outra proposta não inatista é a do
 psicólogo soviético Vygotsky (1996), que
 explica o desenvolvimento da linguagem e do
 pensamento com base na interação entre os
 indivíduos. Segundo o autor, a fala e o
 pensamento      têm     origens     genéticas
 diferentes, havendo fase pré-verbal do
 pensamento, ligada à inteligência prática, e
 uma fase pré intelectual da fala, relacionada
 ao balbucio e ao choro.
O Interacionismo Social
                  (continuação)

 Aos 2 anos, a fala e o pensamento se unem,
 e a fala passa a servir ao intelecto. A criança,
 nessa idade, fala sozinha quando está
 brincando, desenhando e fazendo outras
 tarefas. Essa fala egocêntrica é, para
 Vygotsky, muito importante, pois serve de
 instrumento para a criança planejar e
 encontrar a solução de um problema.A fala
 será internalizada à medida que a linguagem
 e o pensamento são desenvolvidos.
O Interacionismo Social
                  (continuação)

 Para o Autor, é na troca comunicativa entre a
  criança e o adulto que a linguagem e o
  pensamento       são    desenvolvidos.      As
  estruturas construídas socialemnte são
  internalizadas quando a criança passa a
  controlar    o    ambiente   e    o     próprio
  comportamento. A história das relações reais
  entre a criança e as outras pessoas é
  constitutiva dos processos de internalização.
A visão Sociocognitivista

 A abordagem Sociocognitivista junta a base
 social, interacional, com a base cognitiva. A
 explicação para a Aquisição da Linguagem
 dá-se em termos funcionalistas: a aquisição
 começa quando a criança passa a entender
 que existe uma intenção no ato comunicativo
 dos adultos.
A visão Sociocognitivista
                    (continuação)

 Segundo essa visão, não faz sentido caracterizar o
  homem como detentor exclusivo da linguagem, cujas
  propriedades gerais são determinadas por aspectos
  mentais radicados na organização biológica da
  espécie. Isso porque os seis milhões de anos que
  separam os humanos dos grandes macacos
  constituem um período de tempo muito curto para que
  ocorressem os processos relativos à evolução
  biológica e seleção natural essenciais ao surgimento
  das habilidades necessárias para os humanos lidarem
  com tecnologias, formas complexas de organização
  social e comunicação.
A visão Sociocognitivista
                  (continuação)

 Nesse sentido, o conjunto de habilidades
  cognitivas que caracterizam os humanos
  modernos constitui o resultado de algum tipo
  de processo – característico unicamente da
  espécie – de transmissão cultural: uma
  espécie de evolução cultural cumulativa, que
  não envolve apenas criação, mas,
  principalmente, transmissão social.
  Os humanos, portanto, parecem ter uma
  capacidade de socializar suas habilidades
  que os outros animais não têm.
A visão Sociocognitivista
                 (continuação)

 O aprendizado cultural torna-se possóvel em
  função de uma única e especial forma de
  cognição social, que é a habilidade que os
  indivíduos possuem de compreender seus
  semelhantes como seres iguais, os quais têm
  vida mental e intencional como eles mesmos.
  Essa compreensão capacita os indivíduos a
  imaginarem-se “na pele” de outra pessoa e ,
  portanto, ela pode aprender não apenas com
  a outra pessoa, mas através da outra pessoa.
A visão Sociocognitivista
                    (continuação)
 A compreensão do outro como um ser intencional é
  crucial no aprendizado cultural humano porque os
  artefatos culturais (instrumentos) e as práticas
  sociais apontam para além de si mesmos: os
  artefatos apontam para sua função utilitária e os
  símbolos linguísticos, para a situação comunicativa.
  Portanto, para aprender socialmente o uso de um
  instrumento ou de um símbolo, a criança precisa
  compreender porque e para que as outras pessoas
  estão utilizando aquele instrumento ou aquele
  símbolo. Isso significa que elas precisam entender o
  significado intencional do uso do instrumento ou da
  prática simbólica.
A visão Sociocognitivista
                     (continuação)

 No que se refere à aquisição da linguagem, por volta
  dos 9 meses de idade, a criança, segundo essa
  proposta, desenvolve a habilidade de compreender
  outras pessoas como agente intencionais. Isso
  porque nessa fase ela começa a interagir com outras
  pessoas de vários modos. Para compreender os
  sons e os movimentos de mão feitos pelos adultos
  como algo com valor comunicativo que precisa ser
  aprendido e usado, a criança tem de entender que
  eles são motivados por um tipo especial de intenção
  chamada intenção comunicativa.
A visão Sociocognitivista
                    (continuação)

 Mas o entendimento da intenção comunicativa só
  pode ocorrer dentro de algum tipo de cena de
  atenção compartilhada, que provê a base
  sociocognitiva para esse entendimento. Essa cena
  de atenção compartilhada é fundamental quando se
  considera que a referência linguística é ,sobretudo,
  um ato social em que uma pessoa chama atenção de
  outra para algo no mundo real. Nesse sentido, a
  referência só pode ser compreendida como um tipo
  de interação social, em que a criança e o adulto
  estão com a atenção voltada para um terceiro
  elemento, por um determinado espaço de tempo.
A visão Sociocognitivista
                        (continuação)
   A cena de atenção compartilhada implica dois
    aspectos:
    1.   Por um lado, as cenas de atenção compartilhada não
         são eventos perceptuais. Elas incluem apenas uma
         parte das coisas do mundo perceptual da criança.
         Por outro lado, as cenas de atenção compartilhada
         são também eventos linguísticos, pois contêm mais
         coisas do que aquelas explicitamente indicadas por
         qualquer conjunto de símbolos linguísticos. As cenas
         de atenção compartilhada constituem algum tipo de
         meio-termo – um meio-termo essencial da realidade
         socialmente compartilhada – entre o grande mundo
         perceptual e o pequeno mundo linguístico.
A visão Sociocognitivista
                 (continuação)

1. A compreensão da criança de uma cena de
  atenção     compartilhada     inclui,  como
  elemento constituinte (integrante de cena),
  própria criança e o seu papel na interação
  conceptualizada a partir do mesmo
  perceptual externo da outra pessoa e do
  objeto. Isso significa que a criança entende
  que todos participam de um formato
  representacional comum, o que é de
  importância crucial para o processo de
  aquisição dos símbolos linguísticos.
A visão Sociocognitivista
                    (continuação)
 Para funcionar como um “formato” para a aquisição
  da linguagem, as cenas de atenção compartilhada
  têm de ser compreendidas pela criança como tendo
  funções participativas que são, em certo sentido,
  intercambiáveis. Isso permite que a criança tome a
  função do adulto e use uma nova palavra para
  direcionar a atenção dele, da mesma maneira que o
  adulto acabou de usar para direcionar a dela.
  Tomasello (1999) chama esse processo de imitação
  por reversão de papel, ou seja, aprender a expressar
  a mesma situação comunicativa (usar os mesmos
  meios comunicativos) que as outras pessoas requer
  a compreensão de que as funções participativas do
  evento comunicativo podem ser trocadas: eu faço
  por ela o que ela fez por mim.
A visão Sociocognitivista
                 conclusão
 Como podemos ver, os linguistas dão diferentes respostas às
  perguntas que abrem esse capítulo. Entretanto não
  conseguiram ainda desvendar por completo os segredos da
  aquisição da linguagem pelas crianças. A questão do inatismo
  continua sendo discutida. Há pesquisadores que defendem a
  ideia de que existe uma gramática universal no nosso código
  genético, rsponsável pelas características das línguas e pela
  aquisição da linguagem, assim como há cientistas que não
  admitem o inatismo tal como proposto por Chomsky e
  enfatizam outros pontos importantes para a quisição: (a) o
  desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem em geral; (b) a
  interação entre os indivíduos e © a percepção das intenções
  comunicativas. Caberá às próximas pesquisas validar ou refutar
  hipóteses de uma ou de outra abordagem ou ainda criar novas
  hipóteses para a questão da aquisição da linguagem.

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Aquisição da linguagem

  • 1. Aquisição da Linguagem Hipóteses Construtivistas e Interacionistas (Fragmento do Manual de Linguística/Mario Eduardo Martelotta, (org.). 2 ed. – São Paulo: Contexto, 2011. Vários autores)
  • 2. Sumário  Introdução  Cognitivismo Construtivista  O Interacionismo Social  A visão Sociocognitivista
  • 3. Introdução  Há diferentes abordagens que tentam dar conta da linguagem a partir das relações interativas entre a criança e o ambiente, sendo a linguagem consequência da construção da inteligência em geral (hipótese construtivista de Piaget) ou entre a criança e as pessoas com ela convive (Hipóteses Interacionistas). Veremos, resumidamente, algumas dessas concepções.
  • 4. Cognitivismo construtivista  Uma abordagem bastante conhecida é a denonminada cognitivismo construtivista ou epigenético, desenvolvida pelo estudioso suíço Jean Piaget (1978-1990). Sua visão tem por base a ideia de que o desenvolvimento das estruturas do conhecimento ou estruturas cognitivas é feito pela interação entre ambiente e organismo. Em outras palavras, para Piaget não existe uma gramática independente de outros domínios cognitivos.
  • 5. Cognitivismo construtivista (continuação)  O aparecimento da linguagem dá-se por volta dos 18 meses de idade, na superação do estágio que o autor denominou de “estágio sensório-motor”. Nesse momento há o desenvolvimento da função simbólica, por meio da qual um significante representa um objeto significado. Também há o desenvolvimento da representação, que permite que experiências sejam armazenadas e recuperadas. Nessa fase, a criança começa a se reconhecer como indivíduo, como senhora de seus movimentos, diferenciando-se das outras pessoas, ou seja, a criança faz uma oposição entre o “eu” e os “outros”.
  • 6. Cognitivismo construtivista (continuação)  Quando a criança chega a esse estágio cognitivo começa o desenvolvimento da linguagem, a qual é entendida por Piaget como um sistema simbólico de representações. Dessa forma, o conhecimento linguístico não seria inato, mas sim desenvolvido através da interação entre o ambiente e o organismo, sendo uma consequência da construção da inteligência em geral.
  • 7. O Interacionismo Social  Uma outra proposta não inatista é a do psicólogo soviético Vygotsky (1996), que explica o desenvolvimento da linguagem e do pensamento com base na interação entre os indivíduos. Segundo o autor, a fala e o pensamento têm origens genéticas diferentes, havendo fase pré-verbal do pensamento, ligada à inteligência prática, e uma fase pré intelectual da fala, relacionada ao balbucio e ao choro.
  • 8. O Interacionismo Social (continuação)  Aos 2 anos, a fala e o pensamento se unem, e a fala passa a servir ao intelecto. A criança, nessa idade, fala sozinha quando está brincando, desenhando e fazendo outras tarefas. Essa fala egocêntrica é, para Vygotsky, muito importante, pois serve de instrumento para a criança planejar e encontrar a solução de um problema.A fala será internalizada à medida que a linguagem e o pensamento são desenvolvidos.
  • 9. O Interacionismo Social (continuação)  Para o Autor, é na troca comunicativa entre a criança e o adulto que a linguagem e o pensamento são desenvolvidos. As estruturas construídas socialemnte são internalizadas quando a criança passa a controlar o ambiente e o próprio comportamento. A história das relações reais entre a criança e as outras pessoas é constitutiva dos processos de internalização.
  • 10. A visão Sociocognitivista  A abordagem Sociocognitivista junta a base social, interacional, com a base cognitiva. A explicação para a Aquisição da Linguagem dá-se em termos funcionalistas: a aquisição começa quando a criança passa a entender que existe uma intenção no ato comunicativo dos adultos.
  • 11. A visão Sociocognitivista (continuação)  Segundo essa visão, não faz sentido caracterizar o homem como detentor exclusivo da linguagem, cujas propriedades gerais são determinadas por aspectos mentais radicados na organização biológica da espécie. Isso porque os seis milhões de anos que separam os humanos dos grandes macacos constituem um período de tempo muito curto para que ocorressem os processos relativos à evolução biológica e seleção natural essenciais ao surgimento das habilidades necessárias para os humanos lidarem com tecnologias, formas complexas de organização social e comunicação.
  • 12. A visão Sociocognitivista (continuação)  Nesse sentido, o conjunto de habilidades cognitivas que caracterizam os humanos modernos constitui o resultado de algum tipo de processo – característico unicamente da espécie – de transmissão cultural: uma espécie de evolução cultural cumulativa, que não envolve apenas criação, mas, principalmente, transmissão social. Os humanos, portanto, parecem ter uma capacidade de socializar suas habilidades que os outros animais não têm.
  • 13. A visão Sociocognitivista (continuação)  O aprendizado cultural torna-se possóvel em função de uma única e especial forma de cognição social, que é a habilidade que os indivíduos possuem de compreender seus semelhantes como seres iguais, os quais têm vida mental e intencional como eles mesmos. Essa compreensão capacita os indivíduos a imaginarem-se “na pele” de outra pessoa e , portanto, ela pode aprender não apenas com a outra pessoa, mas através da outra pessoa.
  • 14. A visão Sociocognitivista (continuação)  A compreensão do outro como um ser intencional é crucial no aprendizado cultural humano porque os artefatos culturais (instrumentos) e as práticas sociais apontam para além de si mesmos: os artefatos apontam para sua função utilitária e os símbolos linguísticos, para a situação comunicativa. Portanto, para aprender socialmente o uso de um instrumento ou de um símbolo, a criança precisa compreender porque e para que as outras pessoas estão utilizando aquele instrumento ou aquele símbolo. Isso significa que elas precisam entender o significado intencional do uso do instrumento ou da prática simbólica.
  • 15. A visão Sociocognitivista (continuação)  No que se refere à aquisição da linguagem, por volta dos 9 meses de idade, a criança, segundo essa proposta, desenvolve a habilidade de compreender outras pessoas como agente intencionais. Isso porque nessa fase ela começa a interagir com outras pessoas de vários modos. Para compreender os sons e os movimentos de mão feitos pelos adultos como algo com valor comunicativo que precisa ser aprendido e usado, a criança tem de entender que eles são motivados por um tipo especial de intenção chamada intenção comunicativa.
  • 16. A visão Sociocognitivista (continuação)  Mas o entendimento da intenção comunicativa só pode ocorrer dentro de algum tipo de cena de atenção compartilhada, que provê a base sociocognitiva para esse entendimento. Essa cena de atenção compartilhada é fundamental quando se considera que a referência linguística é ,sobretudo, um ato social em que uma pessoa chama atenção de outra para algo no mundo real. Nesse sentido, a referência só pode ser compreendida como um tipo de interação social, em que a criança e o adulto estão com a atenção voltada para um terceiro elemento, por um determinado espaço de tempo.
  • 17. A visão Sociocognitivista (continuação)  A cena de atenção compartilhada implica dois aspectos: 1. Por um lado, as cenas de atenção compartilhada não são eventos perceptuais. Elas incluem apenas uma parte das coisas do mundo perceptual da criança. Por outro lado, as cenas de atenção compartilhada são também eventos linguísticos, pois contêm mais coisas do que aquelas explicitamente indicadas por qualquer conjunto de símbolos linguísticos. As cenas de atenção compartilhada constituem algum tipo de meio-termo – um meio-termo essencial da realidade socialmente compartilhada – entre o grande mundo perceptual e o pequeno mundo linguístico.
  • 18. A visão Sociocognitivista (continuação) 1. A compreensão da criança de uma cena de atenção compartilhada inclui, como elemento constituinte (integrante de cena), própria criança e o seu papel na interação conceptualizada a partir do mesmo perceptual externo da outra pessoa e do objeto. Isso significa que a criança entende que todos participam de um formato representacional comum, o que é de importância crucial para o processo de aquisição dos símbolos linguísticos.
  • 19. A visão Sociocognitivista (continuação)  Para funcionar como um “formato” para a aquisição da linguagem, as cenas de atenção compartilhada têm de ser compreendidas pela criança como tendo funções participativas que são, em certo sentido, intercambiáveis. Isso permite que a criança tome a função do adulto e use uma nova palavra para direcionar a atenção dele, da mesma maneira que o adulto acabou de usar para direcionar a dela. Tomasello (1999) chama esse processo de imitação por reversão de papel, ou seja, aprender a expressar a mesma situação comunicativa (usar os mesmos meios comunicativos) que as outras pessoas requer a compreensão de que as funções participativas do evento comunicativo podem ser trocadas: eu faço por ela o que ela fez por mim.
  • 20. A visão Sociocognitivista conclusão  Como podemos ver, os linguistas dão diferentes respostas às perguntas que abrem esse capítulo. Entretanto não conseguiram ainda desvendar por completo os segredos da aquisição da linguagem pelas crianças. A questão do inatismo continua sendo discutida. Há pesquisadores que defendem a ideia de que existe uma gramática universal no nosso código genético, rsponsável pelas características das línguas e pela aquisição da linguagem, assim como há cientistas que não admitem o inatismo tal como proposto por Chomsky e enfatizam outros pontos importantes para a quisição: (a) o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem em geral; (b) a interação entre os indivíduos e © a percepção das intenções comunicativas. Caberá às próximas pesquisas validar ou refutar hipóteses de uma ou de outra abordagem ou ainda criar novas hipóteses para a questão da aquisição da linguagem.