2. 1. A inteligência é o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação
nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas.
Esta adaptação refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica.
Os indivíduos se desenvolvem intelectualmente a partir de exercícios e
estímulos oferecidos pelo meio que os cercam.
A inteligência pode ser exercitada, buscando um aperfeiçoamento de
potencialidades, que evolui "desde o nível mais primitivo da existência,
caracterizado por trocas bioquímicas até o nível das trocas simbólicas"
(RAMOZZI-CHIAROTTINO apud CHIABAI, 1990, p. 3).
...PIAGET...
3. 2. O comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos.
O comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo.
Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento; e logia = estudo) é
caracterizada como interacionista.
A inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto,
está relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio.
Quanto mais complexa for a interação, mais “inteligente” será o indivíduo.
As teorias permitem que os pedagogos tracem uma metodologia baseada
em suas descobertas.
4. 3. “Não existe estrutura sem gênese, nem gênese sem estrutura” (Piaget).
A estrutura de maturação do indivíduo sofre um processo genético e a gênese depende de uma estrutura
de maturação.
O indivíduo só recebe um determinado conhecimento se estiver preparado para recebê-lo. Ou seja, se
puder agir sobre o objeto de conhecimento para inseri-lo num sistema de relações.
Não existe um novo conhecimento sem que o organismo tenha já um conhecimento anterior para poder
assimilá-lo e transformá-lo.
Assimilação: incorpora a seus quadros todo o dado da experiência ou estruturação por
incorporação da realidade exterior a formas devidas à atividade do sujeito (Piaget,
1982).
Acomodação: a estrutura se modifica em função do meio, de suas variações.
A adaptação intelectual constitui-se então em um "equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador
e uma acomodação complementar" (Piaget, 1982).
Piaget situa, segundo Dolle, o problema epistemológico, o do conhecimento, ao nível de uma interação
entre o sujeito e o objeto. E "essa dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas,
empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas sem gênese, etc. ... e permite seguir fases sucessivas da
construção progressiva do conhecimento" (1974, p. 52).
5. 4. O desenvolvimento do indivíduo inicia-se no período intra-uterino e vai até aos 15 ou 16 anos.
Piaget diz que a embriologia humana evolui também após o nascimento,
criando estruturas cada vez mais complexas.
A construção da inteligência dá-se, portanto em etapas sucessivas, com
complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto Piaget chamou de
“construtivismo sequencial”.
6. ..OS PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO MOTOR, VERBAL E MENTAL..
A. Período Sensório-Motor
Do nascimento aos 2 anos, aproximadamente.
A ausência da função semiótica é a principal característica deste período.
A inteligência trabalha através das percepções (simbólico) e das ações (motor)
através dos deslocamentos do próprio corpo.
É uma inteligência iminentemente prática.
Sua linguagem vai da ecolalia (repetição de sílabas) à palavra-frase ("água"
para dizer que quer beber água) já que não representa mentalmente o objeto e as
ações.
Sua conduta social, neste período, é de isolamento e diferenciação (o mundo é
ele).
7. B. Período Simbólico
Dos 2 anos aos 4 anos, aproximadamente.
Neste período surge a função semiótica que permite o surgimento da linguagem, do desenho, da
imitação, da dramatização etc.
A partir deste período pode-se criar imagens mentais na ausência do objeto ou da ação.
É o período da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico.
Com a capacidade de formar imagens mentais pode transformar o objeto numa satisfação de seu prazer
(uma caixa de fósforo em carrinho, por exemplo). É também o período em que o indivíduo “dá alma” (animismo)
aos objetos ("o carro do papai foi 'dormir' na garagem").
A linguagem está a nível de monólogo coletivo, ou seja, todos falam ao mesmo tempo sem que respondam
as argumentações dos outros. Duas crianças “conversando” dizem frases que não têm relação com a frase que
o outro está dizendo. Sua socialização é vivida de forma isolada, mas dentro do coletivo. Não há liderança e os
pares são constantemente trocados.
8. C. Período Intuitivo
Dos 4 anos aos 7 anos, aproximadamente.
Neste período já existe um desejo de explicação dos fenômenos. É a “idade dos porquês”, pois o indivíduo
pergunta o tempo todo.
Distingue a fantasia do real, podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela.
Seu pensamento continua centrado no seu próprio ponto de vista. Já é capaz de organizar coleções e
conjuntos sem, no entanto, incluir conjuntos menores em conjuntos maiores (rosas no conjunto de flores, por
exemplo).
Quanto à linguagem não mantém uma conversação longa mas já é capaz de adaptar sua resposta às
palavras do companheiro.
Ao final deste período a criança já possui estruturas cognitivas adequadas ao processo inicial da
alfabetização.
Os Períodos Simbólico e Intuitivo são também comumente apresentados como Período Pré-Operatório.
9. D. Período Operatório Concreto
Dos 7 anos aos 11 anos, aproximadamente.
É o período em que o indivíduo consolida as conservações de número, substância, volume e peso.
Já é capaz de ordenar elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando então o
mundo de forma lógica ou operatória.
Sua organização social é a de bando, podendo participar de grupos maiores, chefiando e admitindo a
chefia. Já podem compreender regras, sendo fiéis a ela, e estabelecer compromissos.
A conversação torna-se possível (já é uma linguagem socializada), sem que, no entanto, possam discutir
diferentes pontos de vista para que cheguem a uma conclusão comum.
Quanto à linguagem, a criança já possui estruturas cognitivas adequadas ao desenvolvimento da
alfabetização e letramento.
10. E. Período Operatório Abstrato
Dos 11 anos em diante.
É o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo
ou lógico-matemático.
É quando o indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de
interesses orientados para o futuro.
É, finalmente, a “abertura para todos os possíveis”.
A partir desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que permite que a linguagem se dê em nível
de discussão para se chegar a uma conclusão.
Sua organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.
Quanto à linguagem, a criança já possui estruturas cognitivas adequadas ao aprimoramento do
letramento.
11. ..RELEVÂNCIA DO PENSAMENTO PIAGETIANO..
A importância de se definir os períodos de desenvolvimento da
inteligência reside no fato de que, em cada um, o indivíduo adquire novos
conhecimentos ou estratégias de sobrevivência, de compreensão e
interpretação da realidade.
A compreensão deste processo é fundamental para que os professores
possam também compreender com quem estão trabalhando.
A obra de Piaget não oferece uma didática sobre como desenvolver a inteligência do aluno. Ela mostra
que cada fase de desenvolvimento apresenta características e possibilidades de crescimento da maturação ou
de aquisições.
O conhecimento destas possibilidades faz com que os professores possam oferecer estímulos adequados
a um maior desenvolvimento do indivíduo na leitura, na escrita e na interpretação textual.
12. Wallon é conhecido por seu trabalho sobre a Psicologia do Desenvolvimento, de postura
interacionista, pois o homem seria formado não somente por influência fisiológica, mas também
por influência social.
Entre o indivíduo e o seu meio há uma unidade indivisível, a sociedade seria uma necessidade
orgânica que determina seu desenvolvimento e consequentemente sua inteligência (FONSECA,
2008, p. 15).
Nesse sentido, Nascimento (2004, p. 47) explica:
Tomando a dialética como fundamento epistemológico, Wallon buscou compreender o
desenvolvimento infantil por meio das relações estabelecidas entre a criança e seu ambiente,
privilegiando a pessoa em sua totalidade, nas suas expressões singulares e na relação com os outros. Dessa
maneira, não propôs um sistema linear e organizado de etapas de evolução psíquica, mas desenvolveu
sua teoria buscando compreender os objetivos da criança e os meios que ela utiliza para realizá-los,
estudando cada uma das suas manifestações no conjunto de suas possibilidades. Sua teoria expõe a
evolução psíquica passando de um campo a outro da atividade infantil, em textos entremeados por
termos médicos e neurológicos.
...WALLON...
13. Seu estudo sobre o desenvolvimento cognitivo foi centrado na psicogênese da pessoa completa, mas seu estudo
se deu a partir do desenvolvimento psíquico da criança. Entendia que a pessoa tem de ser vista na sua totalidade, por
todos os seus aspectos: o cognitivo, o afetivo e o motor, um não seria mais importante que o outro.
A cognição está alicerçada ao que ele deu o nome de campos funcionais: o movimento, a afetividade, a inteligência
e a pessoa.
a. O aspecto motor como aquele que se desenvolve primeiro e serve tanto como atividade de busca
de um objetivo como função de expressar algo em relação a outro indivíduo;
b. A afetividade atua como uma forma de mediação das relações sociais expressadas por meio das
emoções,
c. A inteligência relaciona-se diretamente com as questões da linguagem e o raciocínio simbólico, ou
seja, habilidades linguísticas e a capacidade de abstração.
d. A pessoa como o campo que coordena os demais, e responsável pelo desenvolvimento da
consciência e da identidade do eu.
Diante disso, Nascimento (2004, p.53) afirma que:
A construção da pessoa acontece na medida em que a criança, opondo-se ao outro, distancia-se do meio
onde está envolvida. A sucessão de elementos de ordem afetiva e cognitiva se alternam no processo de
desenvolvimento, sublinhando os aspectos subjetivos e objetivos na construção do “eu” e do mundo. O
recorte corporal permite uma objetivação da imagem e, portanto, a consciência de um “eu” subjetivo,
que o espelho reflete.
14. A questão da motricidade é muito forte na teoria walloniana, compreendida como um instrumento privilegiado de
comunicação da vida psíquica. A criança, que ainda não possui a linguagem verbal, exprime por meio da motricidade suas
mais diversas necessidades, traduzidas, portanto, de uma forma não verbal e com aspectos afetivos de expressão de bem
ou mal estar.
O desenvolvimento para Wallon é um processo pelo qual a pessoa passa de um estado de profundo envolvimento
com o meio e no qual não se distingue e passa a se reconhecer como diverso dele, ou seja, desenvolver é se enxergar em
oposição ao meio.
Esse desenvolvimento ocorre com a sucessão de estágios, oscilando entre a afetividade, na busca da construção do
eu, e a razão (inteligência/cognição) como forma de entender a realidade, acontecendo de forma constante, mas não de
forma linear e fixa. Wallon define o desenvolvimento como um processo descontínuo, marcado por rupturas e crises”.
O primeiro dos estágios é o impulsivo-emocional que abrange o primeiro ano de vida, quando o bebê não sabe
diferenciar o que é ele e o que é o mundo. Nesta fase, ocorre a predominância da afetividade a qual orienta suas primeiras
reações, sendo que as relações com mundo físico se dão a partir das emoções, sendo a motricidade a expressão delas,
tem-se a afetividade impulsiva, emocional, que se nutre pelo olhar, o contato físico expressando-se pelos gestos, mímicas
e posturas.
O segundo estágio do sensório-motor e projetivo que vai até os três anos de idade, onde o interesse é voltado para
a exploração sensorial e motora do mundo físico, o que está pensando projeta em atos motores, vai fazendo e pensando
ao mesmo tempo, ocorrendo o desenvolvimento da função simbólica. Assim, o cognitivo dá margem ao ato motor, a ideia
que a criança tem, ela projeta.
15. O estágio do personalismo abrange dos três aos seis anos de idade, cuja tarefa principal é a formação da
personalidade, constroem a consciência de si, por meio das interações sociais. A criança tenta se compreender e
compreender o mundo. Pode expressar o que sente porque já fala, ou seja, a afetividade incorpora os recursos
intelectuais, a chamada afetividade simbólica, se expressa por palavras, ideias.
O quarto estágio é o categorial, por volta dos seis anos de idade, o cognitivo auxilia na entrada do mundo da
alfabetização, avanços no cognitivo que dirigem o interesse das crianças pelas coisas, para o conhecimento e conquista
do mundo externo. No plano motor os gestos são mais precisos, elaborados mentalmente com previsão de etapas e
consequências.
O quinto estágio é o da Adolescência, que traz à tona questões pessoais, morais e existencial, pergunta quem sou
eu enquanto pessoa no mundo. Iniciada pela puberdade, com as mudanças hormonais. A afetividade encontra-se mais
elaborada, mais racionalizada, os sentimentos são elaborados no plano mental, com isso os jovens teorizam sobre seus
sentimentos.
...RELEVÂNCIA DO PENSAMENTO WALLONIANO....
O reconhecimento de que o ser humano possui estágios nos quais a linguagem apresenta-se de forma diversa.
O reconhecimento da importância do cognitivo para a alfabetização.
A afirmação de uma maturação quanto à compreensão da realidade.
16. Vygotsky desenvolveu a teoria sociocultural do desenvolvimento cognitivo.
A sua teoria tem raízes na teoria marxista do materialismo dialético, ou seja, que as mudanças
históricas na sociedade e a vida material produzem mudanças na natureza humana.
Vygotsky abordou o desenvolvimento cognitivo por um processo de orientação. Em vez de olhar
para o final do processo de desenvolvimento, ele debruçou-se sobre o processo em si e analisou a
participação do sujeito nas atividades sociais.
Ele propôs que o desenvolvimento não precede a socialização. Ao invés, as estruturas sociais e
as relações sociais levam ao desenvolvimento das funções mentais.
Ele acreditava que a aprendizagem na criança podia ocorrer através do jogo, da brincadeira, da
instrução formal ou do trabalho entre um aprendiz e um aprendiz mais experiente.
O processo básico pelo qual isto ocorre é a mediação (a ligação entre duas estruturas, uma social
e uma pessoalmente construída, através de instrumentos ou sinais). Quando os signos culturais vão
sendo internalizados pelo sujeito é quando os humanos adquirem a capacidade de uma ordem de
pensamento mais elevada.
...WYGOTSKY
17. ...RELEVÂNCIA DO PENSAMENTO VYGOTSKYANO....
Vygostky via o desenvolvimento cognitivo como dependendo das interações com as pessoas e
com os instrumentos do mundo da criança. Esses instrumentos são reais: canetas, papel,
computadores; ou símbolos: linguagem, sistemas matemáticos, signos.
Ele atribui à escola fundamental importância, bem como ao papel do professor no processo
ensino-aprendizagem. A intervenção deliberada por parte do professor acelera o desenvolvimento de
funções mentais.
A alfabetização de Adultos assume significativa importância, tanto pelo seu cunho político e
social, como pedagógico, garantindo condições de desenvolvimento e aprendizagem através de
interações estabelecidas entre o indivíduo e o meio físico, cultural e social. Sendo assim, o trabalho
pedagógico a ser desenvolvido na Educação de Adultos deve partir das experiências dos alunos e
considerar a aquisição e sistematização de conhecimentos.
18. REFERÊNCIAS
FONSECA, Vitor da. Aprender a Aprender: A Educabilidade Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 1998.
______. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.
NASCIMENTO, Maria Letícia B.P. A Criança Concreta, Completa e Contextualizada: a Psicologia de Henri Wallon. In:
Introdução a Psicologia da Educação: seis abordagens. Kester Carrara (Org).São Paulo: Avercamp, 2004.]
SOUZA, Rose Keila Melo de e COSTA, Keyla Soares da. O Aspecto Sócio-Afetivo no Processo ensino-aprendizagem na Visão
de Piaget, Vygotsky e Wallon. Pará, 2004. Disponível em:
http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?option=com_content&view=article&id=299:o-aspecto-socio-afetivo-no-
processo-ensino-aprendizagem-na-visao-de-piaget-vygotsky-e-wallon&catid=4:educacao&Itemid=15. Acesso em: 25 set
2009.
WALLON, H. A Evolução Psicológica da Criança. São Paulo: Edições 70, 1968.