O documento descreve a evolução da escultura portuguesa desde o século XVII até ao final do século XIX, destacando vários escultores como Frei Cipriano da Cruz, Machado de Castro, Soares dos Reis e Teixeira Lopes. A escultura evolui do barroco ao neoclassicismo e naturalismo, com influências estrangeiras mas também o desenvolvimento de uma escola portuguesa.
2. Manuel de Sousa nasceu em Braga entre 1645
e 1650. Por volta dos 30 anos ingressou no
mosteiro de Tibães, a casa mãe dos
beneditinos, adoptando o nome de Frei
Cipriano da Cruz.
Frei Cipriano da Cruz Sousa produziu em
Coimbra muitas obras de Santos,
nomeadamente para a igreja do Colégio de S.
Bento, destruída em 1932.
Além do trabalho escultórico, merece
destaque a policromia e as decorações em
relevo, o que obriga a repartir a autoria entre
o escultor e o policromador.
Pietá
Madeira de castanho
Manuel da Costa Pereira (pintor)
1684 – 1691
Originalmente da igreja de S. Bento,
MNMC
3. Olhos amendoados, pálpebras pesadas olhando
para baixo, sobrancelhas altas e simétricas, lábios
pequenos e um tufo de cabelo na testa.
O corpo é coberto e as partes deixadas à vista são
tratadas muito sumariamente.
O pregueado cai verticalmente. As mangas (3)
deixam ver os botões dos punhos, caem em V e,
por fim, desabam longamente.
S. Bento
Madeira de castanho
Manuel Ferreira (pintor)
1684 – 1691
Originalmente da igreja de S. Bento,
Actualmente, na igreja de Nossa Senhora do Carmo; Coimbra
4. O tema da Sagrada Família é
antigo, embora reforçado pela
Contra-Reforma e com grande
popularidade no séc. XVIII.
Esta é uma das últimas obras
do artista e uma das mais
conhecidas.
A policromia é original. Morreu
em Tibães em 1716.
Sagrada Família
(pintor desconhecido)
1704 – 1707
Igreja de do Mosteiro de Tibães; Braga
5. A escultura seiscentista, além da madeira, elegeu o barro.
Os barristas de Alcobaça representaram o auge desta corrente.
Frei Cipriano distinguiu-se igualmente no trabalho do barro, o que
levou os monges de Cister a aliciá-lo para Alcobaça onde, além do
mais, abunda a matéria-prima de qualidade.
Não é possível destacar nenhum artista, apesar dos esforços em
individualizar um tal Frei Pedro que, afinal, nunca terá existido.
A imagem mostra uma Virgem de um retábulo que foi
desmantelado quando do restauro da abadia.
6. Retábulo da morte de S. Bernardo, a
obra mais significativa da escola de
Alcobaça.
7. Em Arouca, prossegue na época joanina
uma tradição escultórica provincial, muito
marcada pelo gosto popular e que elege o
calcário de Ançã como matéria-prima.
Os temas são os Santos cistercienses e
beneditinos.
Jacinto Vieria
Santa Gertrudes
c. 1725
Arouca
8. Na igreja de S. Paulo, em Braga,
pertencente aos Jesuítas, encontramos um
conjunto de estátuas representando os
evangelistas.
O autor é desconhecido, mas o enorme
dinamismo das vestes e dos cabelos,
tecnicamente muito bem tratados, revela
um artista de excelente capacidade,
influenciado pela moda berninesca.
9. Claude Laprade (1682 – 1738) foi um
escultor francês que deixou obra
marcante no nosso país a partir dos finais
do séc. XVII e ao longo do reinado de D.
João V.
Introduziu os modelos do barroco italiano
e francês, iniciando uma nova fase na
escultura portuguesa.
Este túmulo, na igreja de N.ª Sr.ª da
Penha de França, em Ílhavo, mostra uma
concepção triunfal da morte.
Túmulo do bispo de Miranda D. Manuel de Moura Manuel
Capela de Nossa Senhora da Penha de França; Ílhavo
10. No interior da galeria da Via Latina,
em Coimbra, foi colocada uma
composição de Laprade executada
em 1701-1702.
Dois atlantes suportam o frontão,
enquadrando uma imagem do rei D.
José I, aplicada posteriormente.
11. A partir de 1732, chega a Mafra, proveniente de Itália, a primeira remessa de estátuas de
vulto destinadas ao convento joanino. Assim se inaugura um longo processo entre o
encomendador português, que definiu todo o plano iconográfico, e os fornecedores
italianos.
12. Uma das exigências prendia-se com o rigor iconográfico, pedindo-se que os atributos estivessem
conforme a ortodoxia.
13. Os trabalhos deviam ser em
pedra de mármore perfeito de
Carrara e sem qualquer
douramento.
14. Camilo Rusconi, o mais famoso escultor italiano daquele tempo, faleceu em 1728, pelo que o
nome que mais se destacou de entre os jovens escultores que satisfizeram a encomenda foi
Carlo Monaldi (1683 – 1760)
15. Outros nomes merecem referência:,
ocupando-se boa parte dos escultores
romanos:
Agostino Cornnacchini (1685 – 1754);
Giovanni Batista Maini (1690 – 1752);
Filippo della Valle (1698 – 1768);
Pietro Bacci (1690 – 1773);
Bernardino Ludovisi (1693 – 1749);
Giuseppe Lironi (1698 – 1749) e
Agostino Corsini (1688 – 1757)
16. Apesar disso, assegura-se uma
unidade artística:
O cânone e as proporções são
constantes;
utilização de um único bloco
de mármore branco e sem veios;
uma pose estável, os gestos e
o rosto teatralmente tratados;
o tratamento das vestes, como
que batidas por um vento suave;
a importância dos objectos
iconográficos.
17. As dezenas de estátuas constituem um percurso ilustrado de devoção para os crentes
que culmina na capela-mor com um Cristo crucificado, ladeado por dois anjos, da
autoria de Francesco Maria Schiafino.
18. Alexandre Giusti ( 1715 – 1799 ) foi o
mais famoso dos escultores estrangeiros
a trabalhar em Portugal.
Esteve ao serviço de D. João V, de quem
lavrou este excelente busto.
A partir de 1750, destacou-se nos
estaleiros de Mafra, onde iniciara uma
importante escola de escultura.
19. Giusti formou discípulos portugueses que, no entanto, não merecem destaque. Excepção para
Joaquim Machado de Castro (1731- 1822) que trabalha em Mafra entre 1756 e 1771. Da sua
autoria é a escultura da basílica da Estrela, a última grande iniciativa barroca. Na verdade,
Machado de Castro é já um escultor neoclássico.
20. A escultura neoclássica portuguesa é muito pobre, como
pode ver-se por esta estátua de glorificação a D. Maria I,
hoje em Queluz.
Deve-se a João José de Aguiar (1769 — 1841), que
estudara com Antonio Canova, a encomenda de Pina
Manique.
21. O núcleo da Ajuda constitui o mais importante centro da escultura neoclássica. O
programa escultórico do palácio foi atribuído a Machado de Castro.
22. Machado de Castro
esculpiu 3 estátuas do
total de 25: a
Generosidade, o
Conselho e a Gratidão.
A escultura neoclássica é
académica e prefere os
temas alegóricos e
moralizantes.
Utiliza poses de grande
teatralidade e destaca-se
a inexpressividade dos
rostos.
23. Faustino José Rodrigues, o
discípulo predilecto de
Machado de Castro, assinou
esta alegoria que intitulou
Amor da Pátria (à dir.) , além
do Amor da Virtude (à esq.) e a
Intrepidez.
A escultura neoclássica prefere
a pedra ao barro e à madeira,
bem como abdica da cor.
24. Joaquim José Barros Laborão
sucederá a Giusti na direcção da
escola de Mafra. Na Ajuda, assina
uma série de trabalhos: a
Honestidade, o Decoro, a Diligência e
o Desejo.
Joaquim José de Barros Laborão
A Honestidade
25. Manuel Joaquim Barros Laborão é filho de José
Joaquim e assina duas estátuas: a Inocência e a
Humanidade, que se vê na figura ao lado.
Reflecte um estilo mais elegante que tenta romper
com o «monótono purismo neoclássico»
26. João José de Aguiar
também trabalhou na
Ajuda, mas a sua obra mais
notável, e o melhor
trabalho da escultura
neoclássica, é a estátua de
D. João VI que fez em 1823
para o Hospital da Marinha.
27. João José Joaquim de Sousa Alão
foi um dos raros escultores
portuenses neoclássicos. As
estátuas da fachada da igreja da
Ordem Terceira de S. Francisco
são o seu melhor trabalho,
embora atestem quanto o granito
Humildade se desadequa a esta estética do Inocência
movimento.
28. António Soares dos Reis (1847 –
1889) foi o grande renovador da
escultura portuguesa e o maior
escultor nacional da segunda
metade do século XIX.
29. O Desterrado (1872; MNSR) é
a sua obra mais importante.
Foi produzida em Roma,
enquanto bolseiro do Estado.
A herança clássica é valorizada,
mas adere a uma poética nova
já simbolista na sua melancolia
decadentista.
30. O material é o mármore de Carrara. O corpo é tratado com um
virtusosimo que se torna quase exibicionista no entrelaçar dos
dedos.
31. Retrato de uma Nação decadente ou auto-retrato do autor
que se suicidaria em 1889, nas vésperas do Ultimatum?
36. Simões de Almeida (1844 – 1926) esculpiu este D. Sebastião
como rei-menino, colocando em causa o problema da
educação do rei pelos Jesuítas em relação com o desastre
de Alcácer-Quibir.
O olhar reflexivo da criança torna-se uma prenúncio da
decadência nacional, fazendo desta obra um dos
exemplares mais significativos da escultura portuguesa da
segunda metade do séc. XIX.
Simões de Almeida
D. Sebastião
1877
Museu do Chiado
40. António Teixeira Lopes (1866 – 1942) foi
discípulo de Soares dos Reis e um dos mais
importantes escultores naturalistas.
A sua obra mais famosa é A Viúva. O título
torna-se fundamental para a leitura da obra.
A questão social desperta um
sentimentalismo que sensibiliza o público
burguês.
Teixeira Lopes
A Viúva
1893
Museu do Chiado
42. A escultura original era em mármore. No entanto, actos de vandalismo determinaram a sua recolha e substituição por uma
cópia em bronze.
Teixeira Lopes
Eça de Queirós
Lisboa
1903
Sobre a nudez forte da Verdade, o manto diáfano da fantasia.
46. Bibliografia:
- ANACLETO, Regina: História da Arte em Portugal; vol. 10: «Neoclassicismo e Romantismo»;
Lisboa; Publicações Alfa; 1986. A escultura (pp. 43 – 51).
- LE GAC, Agnès e ALCOFORADO, Ana: Frei Cipriano da Cruz em Coimbra; Coimbra; s/ed. ; 2003.
- MOURA, Carlos: Uma poética da refulgência, a escultura e a talha dourada; in «História da
Arte em Portugal»; volume 8; Lisboa; Publicações Alfa; 1986; pp. 87 – 119.
- CASTRO, Laura e SILVA, Raquel Henriques da: História da Arte Portuguesa. Época
Contemporânea; Lisboa; Universidade Aberta; 1997; pp. 27-29 e 85-87. Raquel Henriques da
Silva assina igualmente o capítulo sobre a escultura neste período em estudo na História da Arte
Portuguesa dirigida por Paulo Pereira (Lisboa; Círculo de Leitores; 3º volume; 1995), entre as
páginas 349 e 351.
- FRANÇA, José Augusto: A Arte em Portugal no século XIX; Venda Nova; Bertand; 3ª edição;
1990; volume I (; pp. 53, 108 e 452) e volume II (pp. 214-226).
- PEREIRA, José Fernandes: O Barroco do Século XVIII. A Escultura; História da Arte Portuguesa
dirigida por Paulo Pereira (Lisboa; Círculo de Leitores; 3º volume; 1995); pp. 86 – 105. Este
mesmo autor é o responsável pelo 12º volume da colecção Arte Portuguesa, dirigida por Dalila
Rodrigues (Lisboa; Fubu Editores; 2009), tratando da escultura a partir da página 85.
- PEREIRA, José Fernandes: A escultura de Mafra; Lisboa; IPPAR; 2003.