O Palácio da Pena em Sintra foi construído entre 1838 e 1868 sob a iniciativa do rei D. Fernando II de Portugal para servir como residência de verão da família real. Inspirado no estilo romântico, o palácio combina elementos arquitetônicos de vários períodos como o gótico, manuelino, renascentista e mourisco. Sua localização nas escarpas da serra de Sintra e a mistura eclética de estilos tornam o Palácio da Pena uma das mais emblemáticas expressões do Romantismo em
1. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
CASO PRÁTICO – MÓDULO 8
Paulo Simões Nunes
O Palácio da Pena, Sintra
2. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
Execução: entre 1838 e 1868
Arquitetura:
D. Fernando II de Portugal
Barão Ludwig von Eschwege
Patrono da obra:
D. Fernando II de Portugal
Palácio da Pena
Sintra
1. Classificação
3. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
O Romantismo
Nas primeiras décadas do século XIX o Romantismo impõe-se
em toda a Europa, como contraponto ao Racionalismo, ao
Iluminismo e ao Classicismo do século XVIII.
→ O movimento revolucionário generalizado por toda a
Europa (a Primavera das Nações).
A Liberdade Guiando o Povo, Delacroix, 1830.
O Romantismo tem como pano de fundo:
Goethe na Campagna Romana, Wilhelm
Tischbein, 1787.
→ A propagação do liberalismo e do nacionalismo.
→ O descontentamento face ao impacto da Revolução
Industrial na sociedade.
→ A defesa das tradições e da identidade de cada nação.
Apresentando-se como uma atitude, um estado de espírito,
uma forma de ser e de sentir, o Romantismo afirmou-se
como um movimento estético, político e filosófico.
Principais características: exaltação do individualismo e do
idealismo, culto do sublime e dos sentimentos exacerbados,
aproximação à Natureza e inspiração na Idade Média.
2.1 A obra no seu tempo
2. Contexto histórico-cultural
4. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
O Romantismo em Portugal
Os impulsionadores do Romantismo em Portugal foram Almeida
Garrett (1799-1854) e Alexandre Herculano (1810-1877.
Principais características do Romantismo:
Passos Manuel, Almeida Garrett,
Alexandre Herculano e José Estêvão de
Magalhães nos Passos Perdidos da
Assembleia da República,
Columbano Bordalo Pinheiro, 1926.
Seguindo a orientação romântica de culto do passado histórico e de
defesa das tradições nacionais, Almeida Garrett caracterizou o
Manuelino como um «genuíno estilo nacional», reportando-se a um
período de glória nacional: Os Descobrimentos.
Vista Tirada do Sítio da Amora, Tomás da
Anunciação, 1852.
→ Interesse pela Natureza,
pelo rústico e pelo pitoresco
→ Valorização do passado
histórico, das raízes culturais
dos costumes e das
tradições
A principal fonte de inspiração
do revivalismo na arquitetura foi
o Gótico e o estilo Manuelino.
Palácio-Hotel do Buçaco,
Luigi Manini, 1888.
2.1 A obra no seu tempo (cont.)
2. Contexto histórico-cultural
5. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
O príncipe D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota
O príncipe D. Fernando era um homem culto, um
esteta, amante da natureza e colecionador de arte.
Retrato de
D. Fernando II,
Adolphe Pincon,
c. 1870.
Originário da corte austríaca, D. Fernando era um
romântico por natureza, vindo a receber uma forte
influência do Romantismo alemão.
Retrato da Rainha
D. Maria II,
John Simpson,
c. 1837.
Em 1836 casou com D. Maria II, tornando-se rei
D. Fernando II de Portugal.
Barão Ludwig von
Eschwege (1777-1855)
Em 1838 deixou-se encantar pelo sítio
da serra de Sintra e pelas ruínas do
antigo Mosteiro Jerónimo de Nossa
Senhora da Pena, adquirindo todo o
espaço para ali erguer um palácio.
Para o empreendimento recorreu ao
contributo de Ludwig von Eschwege,
geólogo e mineralogista alemão,
amante de arte e de arquitetura,
também ele um romântico.
2.1 A obra no seu tempo (cont.)
2. Contexto histórico-cultural
6. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
Estes empreendimentos de clara
inspiração gótica respondiam ao espírito
romântico pelo seu ecletismo, exotismo,
extravagância e afirmação do
individualismo dos seus mentores.
Para a conceção do projeto D. Fernando
recorreu ao Barão von Eschwege,
homem viajado e conhecedor dos
castelos fantasiosos erguidos nas
margens do Reno, na Baviera, Alemanha.
Castelo de Neuschwanstein,
E. Riedel e G. Dollmann,
Baviera, 1869-1884.
Castelo de Hohenschwangan,
Domenico Quaglio, Baviera,
1833-1837.
Torre de Belém, Francisco Arruda e
Diogo Boitaca, Lisboa, 1514-1520.
Janela do Capítulo, Diogo de
Arruda, Convento de Cristo,
Tomar, 1510-1513.
A principal influência e fonte de
inspiração para a conceção do Palácio da
Pena foi o medievalismo nacional e, em
particular, o Manuelino.
O «estilo manuelino» correspondia a um
período de exaltação nacional expresso
na epopeia quinhentista d’Os
Descobrimentos e o que melhor
representava a História e a cultura
nacionais (valores românticos).
2.2 As fontes e influências históricas
2. Contexto histórico-cultural
7. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
O Palácio da Pena foi construído nas escarpas da
serra de Sintra, a cerca de 500 m de altitude.
Neste lugar situava-se o Convento dos Frades
Hieronimitas (eremitas de S. Jerónimo) erguido no
reinado de D. João II (r. 1481-1495), depois
reconstruído por D. Manuel I (r. 1495-1521), vindo a ser
doado à Ordem dos Monges de S. Jerónimo.
Mais tarde, o convento acabou por ser destruído pelo
terramoto de 1755, ficando em ruínas até ser
«descoberto» pelo príncipe D. Fernando.
Provavelmente, foi essa visão insólita das ruínas do
antigo convento, enquadradas nas escarpas da serra,
que arrebataram o espírito romântico do príncipe que,
logo após, decidiu erguer um palácio no local.
Em 1838 D. Fernando adquiriu todo o espaço e áreas
envolventes para construir uma «residência» de verão
para a família real, dentro do mais refinado gosto
romântico.
3. O lugar: O sítio da Pena, Sintra
8. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
A obra impõe-se tanto pelo invulgar movimento de volumes
e articulação de espaços, como pela riqueza cromática dos
revestimentos, originalidade dos detalhes e diversidade de
texturas dos materiais utilizados.
O Palácio divide-se em quatro áreas:
→ O corpo do antigo convento manuelino,
recuperado por D. Fernando, com as
ameias e a Torre do Relógio.
→ O Pátio dos Arcos em frente à Capela,
num elenco de arcos mouriscos.
→ O Palácio edificado no século XIX, com o
distinto baluarte cilíndrico e o notável
Pórtico do Tritão ladeado por duas torres
com profusa decoração a imitar corais.
→ As muralhas envolventes onde se fantasia
um castelo medieval, com as suas ameias
e merlões, torres de vigia e portões de
acesso.
Pátio dos Arcos
Pórtico do
Tritão
4. Análise formal e temática
9. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
A fachada principal
do Palácio é
revestida por
notáveis painéis de
azulejos mouriscos,
de tradição hispano-
-árabe.
Entradas no recinto do Palácio com
referências Mouriscas e Góticas. Salienta-se
o revestimento da fachada e das guaritas da
porta à esquerda, numa alusão à célebre
Casa dos Bicos, em Lisboa, século XVI.
O Claustro Manuelino
destaca-se pelo
conjunto de mosaicos
polícromos de
inspiração mudéjar.
4. Análise formal e temática
10. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
O edifício da Cozinha distingue-se pelo
seu interessante jogo de bow-windows
que marcam o ritmo da fachada.
A fachada do pátio principal é
pontuada por um equilibrado
arranjo de janelas
renascentistas e a porta com
arco mourisco.
No terraço destaca-se a forte
presença de uma guarita
neoárabe, rematando o
corpo cilíndrico no cunhal da
fachada.
4. Análise formal e temática
11. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
Referindo-se à estranha e demoníaca
figura, D. Fernando afirmou tratar-se de
um «pórtico alegórico da criação do
mundo», sintetizando simbolicamente a
teoria dos «quatro elementos».
Este é, porventura, o elemento que
melhor representa o ideário romântico do
príncipe D. Fernando: o Pórtico do
Tritão.
Surgindo sob uma bow-
-window repleta de motivos
decorativos, uma figura
híbrida (meio peixe, meio
homem) emerge de uma
concha, transformando-se
num ser monstruoso.
4. Análise formal e temática: O Pórtico do Tritão
12. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
Enquanto o Pátio dos Arcos recorre a um
traçado tipicamente de origem árabe, a
Capela evidencia uma inspiração
medieval, enquanto a Torre do Relógio
reabilita o Renascimento.
O Pátio dos Arcos, a Torre do Relógio e a
Capela, com o coruchéu revestido a
azulejos, constituem um dos conjuntos
arquitetónicos mais significativos do
Palácio.
4. Análise formal e temática: O Pátio dos Arcos
13. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
▪ De acordo com a mentalidade romântica e o
fascínio pelo exótico cultivado pelo príncipe
D. Fernando II, aqui foi utilizada uma invulgar
combinação de estilos arquitetónicos, com
evocações góticas, manuelinas,
renascentistas e mouriscas que surpreendem
o visitante a cada instante.
▪ Construído no topo das escarpas da serra de
Sintra e dominando a paisagem em toda a
sua volta, o Palácio da Pena impõe-se quer
pelo exuberante jogo de formas e espaços,
quer pela invulgar articulação de volumes.
▪ O Palácio da Pena foi classificado
Monumento Nacional em 1910 e integrado na
Paisagem Cultural de Sintra classificada pela
UNESCO como Património Mundial da
Humanidade, em 1995.
▪ Constituindo o baluarte do Romantismo
nacional, o Palácio da Pena é uma das mais
eloquentes expressões de ecletismo
iconográfico e de revivalismo arquitetónico.
5. Leitura de significados