1. Memória ao Conservatório Real
Lida em conferência em 6 de Maio de 1843 no Conservatório Real
(Trata-se de um texto teorizador que acompanha a peça e da qual é anúncio,
justificação e interpretação.
A história de Frei luís de Sousa, legada pela tradição, contém toda a simplicidade
de uma história trágica antiga, com a vantagem de ser atravessada pela
sensibilidade da esperança cristã. Ali não há desespero pagão.
Paralelo entre as personagens de FLS e algumas personagens mitológicas –
Prometeu, Édipo, Jocasta, para evidenciar a superioridade das personagens
portuguesas.)
1. as situações das nossas tradições são adequadas à tragédia antiga;
2. “Frei Luís de Sousa” tem a simplicidade de uma fábula trágica antiga;
3. o Cristianismo enche de esperança a alma dos heróis;
4. o desespero é substituído pelo amor de Deus;
5. “Frei Luís de Sousa” é uma verdadeira tragédia;
6. é um drama pela forma, uma tragédia pela índole;
7. extrema simplicidade;
8. não há violência;
9. há piedade e terror;
10. o drama é a expressão literária da variedade actual;
11. assunto da nossa história;
12. Teatro ambulante de actores castelhanos na Póvoa do Varzim;
13. a narrativa do Padre Frei António da Encarnação;
14. o drama: “O Cativo de Fez”;
15. Garrett: poeta e não historiador;
16. não segue toda a verdade histórica;
17. estudou todas as fontes históricas de Frei Luís de Sousa;
18. história e verosimilhança;
19. elogio do Conservatório Real de Lisboa;
20. missão do filósofo, do político e do escritor;
21. a época actual é a época do drama e do romance;
22. a tragédia de Catão;
23. o poema “Dona Branca”;
24. o poema “Camões”;
25. o poema “Adozinda”;
26. este é um século democrático;
27. acabaram os mecenas;
28. o povo quer verdade e aplaude;
29. “Um auto de Gil Vicente” mereceu aplausos;
30. elogio do Conservatório Real de Lisboa;
31. oferta de “Frei Luís de Sousa” ao Conservatório Real de Lisboa;
32. despedida de Garrett.
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2. O Drama romântico
Foi doutrinado por Victor Hugo, o grande mestre do romantismo francês.
Segundo Victor Hugo, o drama corresponde à valorização do Homem
como joguete não do Destino, mas das suas próprias paixões.
Pretende ser uma aproximação da realidade e dessa maneira ele
preconiza a mistura do sublime e do grotesco, visto que é assim que a vida
real é feita.
A linguagem tem de corresponder à realidade e é em prosa. O coro
desaparece.
“Frei Luís de Sousa” é um drama histórico ou político para uns, tragédia
existencial ou psicanalítica para outros.
(Também pode ser o drama da absurda esperança sebastianista ou a sua
negação.
O Sebastianismo reside não apenas na crença de que, ao voltar, o rei, O
“Encoberto”, conduzirá Portugal a uma época de brilho; também se infiltram
nele concepções messiânicas mais antigas e relativas ao fim próximo do
mundo. Com D. Sebastião começará uma nova época mundial do direito e
da grandeza, que será a última no plano divino da salvação dos homens.)
Motivos que levaram Garrett a escrever a obra:
• a sua própria história – a filha ilegítima;
• razões políticas – a crise em Portugal em 1843 ( a ditadura de Costa
Cabral e a degeneração dos ideias liberais).
A esperança na ressurreição de Portugal está simbolizada no
sebastianismo de Telmo e na atitude revolucionária de Manuel de Sousa.
Tragédia Clássica: estrutura e elementos
A tragédia clássica é o mais nobre dos géneros para os gregos e consta de
cinco partes: o prólogo (1º acto), os episódios (2º, 3º, 4º actos) e o êxodo
(5º acto); o protagonista é geralmente uma pessoa de estirpe elevada, justa
e sem culpa que, apesar disso, percorre o caminho árduo da desdita,
embora tenha anteriormente conhecido a felicidade; existe uma
personagem colectiva (Coro) com a função de prever e comentar o
desenrolar dos acontecimentos, manifestando a voz do bom-senso perante
a exaltação das personagens; o assunto é geralmente de cariz político e
social, ou relativo a uma situação insólita; a linguagem da tragédia é em
verso e respeita a lei das três unidades (espaço, tempo e acção), não
havendo, mudança de cenário, ocupando a acção o máximo de 24 horas e
centrando-se num único problema. A tragédia clássica tem o fulcro da
acção num conflito (Ágon) que leva as personagens a interrogarem-se
sobre a sua existência e o destino (Anankê), fazendo com que o indivíduo
lance um desafio (Hybris) às autoridades, aos deuses, às leis da natureza
ou à ordem. Como reacção, surge a punição, o castigo – a Némesis divina,
que tem como consequência o sofrimento das personagens (Pathos). Os
acontecimentos desenrolam-se segundo os actos das personagens; o
conflito do protagonista adensa-se e avoluma-se (Clímax) e, por vezes, os
acontecimentos precipitam a acção no seu curso através de alterações
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3. (Peripécia) que acabam por inverter o rumo dos acontecimentos em sentido
inesperado, dando lugar ao desenlace fatal (Catástrofe). Um
reconhecimento (Anagnórise) é que muitas vezes desencadeia esta
mudança brusca. A catástrofe deve ser sugerida desde o início pois é o
resultado da luta entre a Hybris e o Destino cruel e inevitável. Estes
acontecimentos e este conflito criam no espectador uma tensão, uma
curiosidade e expectativas tais, levando-o a participar dos sentimentos e
apreensões das personagens (Catarse) como forma de purificar as paixões
dos espectadores, semelhantes às do protagonista, através de uma acção
geradora de compaixão e temor.
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