• N’ Os Maias a intriga principal surge
entrelaçada com a crónica de costumes
(constituindo uma crítica à sociedade da
época), algo que se reflete no título e subtítulo
da obra.
O título, informa-nos que a obra vai tratar da
história de uma família – Os Maias
O subtítulo propõe – Episódios da Vida Romântica –
que vão servir de pretexto para a comédia de
costumes.
O Título
N’Os Maias, Eça de Queirós propõe a história duma família lisboeta, representante
da alta burguesia, apresentada em três gerações sucessivas:
1.ª geração– Caetano da Maia que representa o português antigo; apoiante do
absolutismo em decadência; – Afonso da Maia que lutou contra o absolutismo
e pela implantação do liberalismo;
2.ª geração– Pedro da Maia que representa as crises do liberalismo e a
mentalidade frustrada dum romantismo que começa a apreciar-se na falência e
na catástrofe;
3.ª geração- Carlos da Maia que representa a decadência do liberalismo e a
Regeneração, mostrando os ambientes e os hábitos de uma sociedade em crise
cultural, social e política.
O Subtítulo
A par da história da família dos Maias surgem vários episódios que retratam a
sociedade burguesa lisboeta dos finais do século XIX. Eça de Queirós dá uma
visão crítica ao mundo social e político dessa sociedade, apresentando os seus
costumes, vícios, virtudes..., representada por personagens que tipificam um
vício, grupo e/ou profissão.
O subtítulo propõe – Episódios da Vida Romântica – que vão servir de
pretexto para a comédia de costumes.
O Subtítulo
A visão crítica do mundo social e político dessa sociedade, surge sobretudo nos
seguintes episódios:
- O jantar no Hotel Central;
- O jantar dos Gouvarinhos;
- O episódio dos jornais (A Corneta do Diabo e A Tarde);
- A corrida de cavalos;
- O sarau da Trindade;
- O passeio Final.
Os episódios que criticam o mundo social e político da sociedade lisboeta da
época:
- Crónica de costumes
A introdução corresponde à apresentação de
Afonso da Maia, permitindo situar no tempo e no
espaço o início da ação.
O desenvolvimento, que, depois de apresentar o
passado de Afonso, Pedro e Carlos da Maia, revela
os principais acontecimentos.
• Estrutura da obra
A obra apresenta, como qualquer narrativa:
uma introdução
um desenvolvimento
e um desenlace O desenlace dá-se com a viagem de Carlos, após
a morte do avô, e o seu regresso a Lisboa.
Intriga principal e secundária apresenta a história da família dos
Maias nas suas várias gerações:
Intriga principal – 3.ª geração;
Intriga secundária – 1.ª e 2.ª gerações.
Síntese
Os Maias conta a história da família dos Maias nas suas várias gerações:
Caetano, Afonso, Pedro e Carlos. A última tem mais relevo, daí constituir a
intriga principal. Esta abrange os amores incestuosos de Carlos e Maria
Eduarda da Maia.
A intriga principal é precedida de uma intriga secundária. Esta é constituída
pelo o casamento e separação de Pedro da Maia e Maria Monforte. Recuando
um pouco mais no tempo, há referências ao casamento de Afonso da Maia,
ao nascimento de Pedro e à sua educação e à morte de Eduarda Runa, esposa
de Afonso.
A Intriga
A intriga principal abrange os amores
incestuosos de Carlos e Maria Eduarda da
Maia.
A intriga secundária é constituída pelo o
casamento e separação de Pedro da Maia e
Maria Monforte.
Recuando um pouco mais no tempo, há
referências ao casamento de Afonso da Maia,
ao nascimento de Pedro e à sua educação e à
morte de Eduarda Runa, esposa de Afonso.
Termina por um epílogo, visita de Carlos e Ega
a Lisboa, dez anos após a morte de Afonso da
Maia e a separação de Carlos e Maria
Monforte.
• A intriga principal é precedida de uma
intriga secundária.
• A última geração – a de Carlos – tem mais
relevo, daí constituir a intriga principal.
• As Ações Secundárias
Surgem ainda outras ações secundárias.
Ações secundárias:
• os amores adúlteros de Carlos com a
Gouvarinho;
• o amor entre Ega e Raquel Cohen;
• a pulhice de Dâmaso Salcede, reveladora
de degradação moral, do jogo de
influências políticas, de corrupção,
ignorância e hipocrisia;
• a educação tradicionalista de Eusebiozinho
em contraste com a educação britânica
moderna de Carlos.
• As ações secundárias ajudam a
compreender a intriga principal e
contribuem para a crítica social.
INTRIGA SECUNDÁRIA INTRIGA SECUNDÁRIA
► Pedro vê Maria Monforte (cf. pág. 22).
► Pedro namora Maria Monforte (cf. pág. 26).
► Pedro casa com Maria Monforte (cf. pág. 30).
► Maria Monforte foge com Tancredo, o
napolitano (cf. pág. 44).
► Pedro suicida-se (cf. pág. 52).
►Carlos vê Maria Eduarda (cf. pág. 156).
►Carlos visita Rosa (cf. pág. 257).
►Carlos conhece Maria Eduarda (cf. pág. 348).
►Carlos declara-se a Maria Eduarda (cf. pág. 409).
►Consumação do incesto (cf. pág. 438).
► Encontro de Maria Eduarda com Guimarães (cf.
pág. 537).
►Revelações de Guimarães a Ega (cf. pág. 615).
► Revelações de Ega a Carlos(cf. pág. 640).
►Revelações de Carlos a Afonso (cf. pág. 644).
►Incesto consciente (cf. pág. 658).
►Encontro de Carlos com Afonso (cf. pág. 667).
►Morte de Afonso (cf. pág. 668).
►Revelações a Maria Eduarda (cf. pág. 683).
►Partida de Maria Eduarda (cf. pág. 687).
►Partida de Carlos e de Ega (cf. pág. 688).
►Regresso de Ega (cf. pág. 689) e de Carlos (cf. pág.
690).
Intriga principal e intriga secundária
Ação aberta e ação fechada
A obra Os Maias apresenta uma ação fechada relativamente à intriga
principal, ou seja, a relação incestuosa entre Carlos da Maia e Maria
Eduarda, pois o destino final destas personagens é revelado: a separação de
Carlos da Maia e Maria Eduarda.
A ação é aberta em relação à crónica de costumes, pois Eça de Queirós não
aponta a solução definitiva para o destino das personagens que participam
na crónica de costumes.
• A obra apresenta uma ação fechada relativamente à intriga principal,
ou seja, a relação incestuosa entre Carlos da Maia e Maria Eduarda,
pois o destino final destas personagens é revelado.
A ação fecha-se com a separação de Carlos da Maia e Maria Eduarda: esta
parte para Paris e Carlos viaja pela Europa durante dez anos.
É de salientar, o desencanto e ceticismo final de Carlos, assumindo o seu
falhanço na vida. Contudo, no final da obra, mantém o gosto de viver,
correndo para saborear «o prato de paio com ervilhas», deixando em
aberto o seu futuro. Aponta assim para abertura da ação pois não
apresenta uma solução definitiva para o destino da personagem.
A ação n’Os Maias
• A ação é aberta em relação à crónica de costumes, pois Eça de
Queirós dá uma visão crítica ao mundo social e político da
sociedade burguesa lisboeta dos finais do século XIX, apontando os
seus defeitos, vícios, costumes, virtudes…
A ação n’Os Maias
A ação é aberta visto que Eça de Queirós não aponta a solução
definitiva para o destino das personagens que participam na
crónica de costumes tipificando um vício, grupo e/ou profissão.
N’ Os Maias estão patentes algumas características da tragédia
clássica: hybris, peripécia, destino, clímax, agnórise, pathos,
catástrofe e a catarse.
Da ação trágica fazem ainda os presságios ou indícios: referências,
afirmações ou acontecimentos que contribuem para a atmosfera
trágica, prevendo um fatalidade inevitável.
• A ação d’ Os Maias apresenta algumas características da tragédia clássica,
as quais estão patentes em algumas situações… Destaquemos as
seguintes:
Hybris Peripécia Destino Clímax Agnórise Pathos Catástrofe Cartarse
O clímax é atingido na consumação do incesto.
O reconhecimento/agnórise da identidade de Maria Eduarda
como irmã de Carlos da Maia.
O sofrimento/pathos provocado pela descoberta da
identidade de Maria Eduarda.
A cartarse dá-se no último encontro de Carlos com o avô e na
separação dos dois amantes: Carlos viaja pela Europa e Maria
Eduarda parte para Paris.
A catástrofe, originada pelo reconhecimento do grau de
parentesco entre Carlos e Maria Eduarda.
O hybris (desafio) de Pedro quando casa com Maria
Monforte, contra a vontade do pai, Afonso da Maia, e de
Carlos que desafia os valores morais da sociedade, quando
concretiza a relação amorosa com Maria Eduarda, pois
julgava-a casada.
A peripécia, ou seja, a mudança súbita de situação: as casuais
revelações de Guimarães a Ega, preparadas pelo seu encontro
com Maria Eduarda, mudando assim a relação entre Carlos e
Maria Eduarda.
O destino, corporizado por Guimarães, mensageiro do grau
de parentesco entre Carlos e Maria Eduarda.
N’Os Maias, as características da tragédia
clássica estão patentes em algumas situações.
Repara neste quadro que estabelece uma
relação entre essas situações e as
características da tragédia clássica que lhe
estão subjacentes.
Hybris
Peripécia
Destino
Climax
Agnórise
Pathos
Catástrofe
Catarse
Casamento de Pedro e Maria Monforte X
Relação de Carlos com Maria Eduarda X
Mudança súbita de situação X
Revelação do grau de parentesco de Carlos e
Maria Eduarda
X
Consumação do incesto X
Resulta da revelação da identidade de Maria
Eduarda (irmã de Carlos)
X
Sofrimento provocado pela descoberta da
identidade de Maria Eduarda
X
Originada pelo reconhecimento do grau de
parentesco entre Carlos e Maria Eduarda
X
Último encontro de Carlos com o avô X
Separação dos dois amantes X
Exemplos mais significativos de Presságios:
– Momento em que Afonso da Maia vê Maria Monforte pela primeira vez: «Afonso […]
olhava cabisbaixo aquela sombrinha escarlate que agora se inclinava sobre Pedro, quase o
escondia, parecia envolvê-lo todo – como uma larga mancha de sangue alastrando a
caleche sob o verde triste das ramas.»;
– A mudança para o Ramalhete para que Carlos aí se instalasse. Esse, fechado há anos,
segundo Vilaça «aludia […] a uma lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as
paredes do Ramalhete. O sr. Afonso da Maia riu de agouros e lendas… Pois fatais foram!»;
– As semelhanças fisionómicas que Maria Eduarda apontou entre Carlos e a sua mãe: «-
Sabes tu com quem te pareces às vezes?... É extraordinário, mas é verdade. Pareces-te
com a minha mãe! […] - Tens razão – disse ela – que a mamã era formosa… Pois é
verdade, há um não sei quê na testa, no nariz… Mas sobretudo certos jeitos, uma maneira
de sorrir… Outra maneira que tu tens de ficar assim um pouco vago, esquecido… Tenho
pensado nisto muitas vezes…»;
– A decoração da Toca que perturba Maria Eduarda, pressentindo que o seu futuro «seria
confuso e escuro» como o aspeto desta.
• Da acção trágica fazem ainda os presságios ou indícios: referências, afirmações ou
acontecimentos que contribuem para a atmosfera trágica, prevendo um fatalidade
inevitável.
Os Maias é um romance constituído por episódios que
retratam a sociedade burguesa lisboeta dos finais do
século XIX. Estes constituem a crónica de costumes
através da qual Eça de Queirós nos dá uma visão crítica
ao mundo social e político dessa sociedade,
apresentando os seus costumes, vícios, virtudes...
O espaço social n’Os Maias é constituído por estes episódios que retratam a sociedade
burguesa lisboeta dos finais do século XIX.
O jantar no Hotel Central
Estes episódios constituem a crónica de
costumes através da qual Eça de Queirós nos
dá uma visão crítica ao mundo social e político
dessa sociedade, apresentando os seus
costumes, vícios, virtudes...
Vejamos esses episódios:
As corridas no hipódromo
O jantar dos Gouvarinhos
O Sarau da Trindade
O episódio jornal A Tarde
O passeio final de
Carlos e Ega
Jantar no
Hotel Central
[Cap. VI]
Críticas
À
literatura;
Às
Finanças
À História
À
mentalida
de
retrógrada
Carlos em
Sintra
[Cap. VII]
Críticas
A busca
(frustrada)
da
felicidade
As corridas no
hipódromo
[Cap. X]
Críticas
À imitação
do
estrangeir
o;
Ao
provincian
ismo;
Ao mau
gosto
Jantar dos
Gouvarinho
[Cap. XII]
Críticas
À
sociedade
lisboeta
em geral;
À
mediocrid
ade
mental;
À
ignorância
Os Jornais
[Cap. XV]
Críticas
Ao
jornalismo
parcial e
corrupto;
À política
O sarau no
Teatro da
Trindade
[Cap. XVI]
Críticas
À oratória
bajuladora
e banal;
À
literatura;
À
permanên
cia dos
valores do
ultrarroma
ntismo
Passeio final
de Carlos e
Ega
[Cap. XVIII]
Críticas
À
estagnaçã
o de
Portugal;
À falta de
originalida
de;
À
incapacida
de de
evoluir
Espaços Exteriores e Interiores
É importante distinguir espaço físico exterior de cenários
interiores.
Os principais espaços geográficos são os de Coimbra, Lisboa e
Santa Olávia
Os principais espaços interiores são o Ramalhete, a Toca, a Vila
Balzac, o quarto do Hotel Central e o consultório de Carlos.
Os cenários interiores
complementam a história
relativamente a aspetos
relevantes
O espaço geográfico relaciona-
se com o percurso do
protagonista ao longo da ação e
é motivo de representação de
atributos inerentes ao espaço
social
N’ Os Maias distinguem-se dois tipos de espaço físico:
o geográfico ou exterior os cenários interiores
Espaços Exteriores e Interiores
É o espaço onde
decorre a vida
estudantil de Carlos,
onde vive as suas
primeiras aventuras
amorosas, onde se
dedicou à literatura e
à arte e concluiu o seu
curso de Medicina. A
sua existência surge
marcada pela boémia,
pelo diletantismo e
pelo Romantismo.
É o espaço privilegiado
para a visão crítica da
vida política e
económica do país, da
literatura e do
jornalismo, ou seja, dos
estratos dominantes da
sociedade portuguesa.
Neste espaço surgem
vários microespaços que
permitem a
caracterização das
personagens, das
situações e do espaço
social que as envolve.
É o solar da família dos
Maias, situa-se em
Resende, na margem do
rio Douro. Simboliza a
vida e a regeneração,
pois é o local de
purificação de Afonso da
Maia, opondo-se ao
espaço citadino
degradado. Por outro
lado, é o espaço onde
Carlos é educado por
um preceptor inglês,
recebendo uma
educação britânica.
Os principais espaços geográficos são:
Coimbra LisboaSanta Olávia
É por isso que alguns objetos e pormenores da decoração assumem
particular importância, pois evocam, indiciam, o desenrolar da intriga:
A cena em que Carlos beija a condessa de Gouvarinho junto do «busto em
barro do conde» Gouvarinho;
O quarto em casa de Miss Jones, onde Carlos e a condessa se encontram:
«um nicho de Bíblias»; as paredes «forradas de cartonagens impressas em
letras de cor irradiando versículos duros da Bíblia, ásperos conselhos de
moral, gritos de salmos, ameaças insolentes de Inferno…»;
A ornamentação espampanante de Dâmaso contrasta ironicamente com a
falta de moral desta personagem.
Os micro espaços físicos têm uma conexão metonímica com as
personagens Maria Eduarda, Carlos da Maia e João da Ega, pois delas
dependem; acentuam as suas características psicológicas, sociais e
culturais, contribuindo para a intriga trágica.
Micro Espaços
Espaços Exteriores e Interiores
Os principais espaços interiores são:
O Ramalhete
O Ramalhete surge como o cenário que acompanha o evoluir da intriga.
Este surge na obra repartido em três fases: a instalação de Carlos no
Ramalhete, os dois anos que viveu em Lisboa e o seu reencontro com este
espaço em 1887.
A Vila Balzac
É a casa de João da Ega em Lisboa. O nome escolhido remete para as
características temperamentais de Ega: a tendência para a criação literária e
a personalidade contraditória, pois escolhe Balzac, um escritor realista
como padroeiro, sendo ele um adepto do Realismo e do Naturalismo. No
entanto, preconiza reações e comportamentos eivados de Romantismo.
A Toca
É o recanto idílico nos Olivais, onde Maria Eduarda e Carlos trocam juras de
amor e onde surgem objetos que apontam para a tragédia que o atingirá
através do incesto.
O quarto do
Hotel Central e
a casa na Rua
de S. Francisco
O quarto do Hotel Central e a casa na Rua de S. Francisco constituem
cenários que envolvem Maria Eduarda, daí que Carlos os observe, assim
como os objetos que os constituem, tentando adivinhar a personalidade de
Maria Eduarda.
•A instalação no Ramalhete
Representa a projeção da personalidade de Carlos. Este contrata um
decorador inglês para o decorar, confirmando, assim, a educação que
recebeu. Deste modo, sob a influência de Carlos, o Ramalhete
transformar-se-á num espaço «de luxo inteligente e sóbrio». Não
obstante, os pormenores decorativos com nuances exóticas e o
excesso de objetos de arte suscitam algumas dúvidas sobre a vida
futura de Carlos, remetendo para o dandismo: Vilaça face ao aspeto
dos quartos, «os recostados acolchoados, a seda que forrava as
paredes», afirma «que aquilo não eram aposentos de médico – mas
de dançarina!».
•Os dois anos em que viveu em Lisboa
Nesta segunda fase, o Ramalhete acompanha o evoluir da intriga e constitui um espaço de
crónica de costumes, apresentando-se com um local de «luxo maciço e sóbrio» e
confortável «a luz (…) coada, caindo sobre os damascos vermelhos das paredes, dos
assentos, fazia um adoce refracção cor-de-rosa.», ou seja, um espaço propício à
tranquilidade e à felicidade. Contudo, «uma venerável cadeira de braços, cuja tapeçaria
mostrava ainda as armas dos Maias no desmaio da trama de seda» pressagia algo de
trágico, através dos cuidados decorativos exagerados de Carlos com o avô. O reencontro
de Carlos com este espaço é marcado pela decadência: o desconforto e o abandono,
imbuído de uma atmosfera de morte e sofrimento: «Em cima, porém, a antecâmara
entristecia, toda despida, sem um móvel, sem um estofo, mostrando a cal lasca dos
muros. (…) Depois, no amplo corredor, sem tapete, os seus passos soavam como um
claustro abandonado»; «Carlos pôs também o chapéu: e desceram pelas escadas forradas
de veludo cor de cereja, onde ainda pendia, com um ar de ferrugem, umas panóplia de
velhas armas. Depois na rua Carlos parou, deu um longo olhar ao sombrio casarão, (…)
mudo, para sempre desabitado, cobrindo-se já de tons de ruína». O «ar de ferrugem»
simboliza da decadência de um poder e de um prestígio perdidos, «os tons de ruína» que
predominavam antes das reformas do Ramalhete, instalaram-se nesta fase para sempre.
•O reencontro com o Ramalhete em 1887
Na primeira e última fase, o Ramalhete denota tristeza e abandono. No
jardim destacam-se três símbolos do amor puro e imortal: o cipreste e o
cedro, unidos, inseparáveis pela união das raízes que resistem a tudo,
envolvidos num amor puro e eterno. Este amor não é o de Carlos e Maria
Eduarda pois este é impuro, mas sim a amizade de Carlos e Ega, pura e
eterna. Surge ainda a Vénus Citereia, ligada à sedução e volúpia. Deusa do
amor, desejo e prazer, metonimicamente, surge ligada às três fases do
Ramalhete: na primeira, relaciona-se com a morte de Pedro da Maia «…
uma estátua de Vénus Citereia enegrecendo a um canto…»; na segunda, a
estátua aparece restaurada, cheia de esplendor, simbolizando o renascer,
uma nova vida, sem deixar de indiciar algo trágico, na última fase, esta
estátua, símbolo do Amor e do Feminino, surge «… coberta de ferrugem
verde, de humidade», ou seja, preconizando Maria Eduarda, o seu amor,
destrói a harmonia da família dos Maias.
•A Vila Balzac
A própria decoração da Vila Balzac constitui o prolongamento das
concepções de Ega, que afirma que «o móvel deve estar em harmonia
com a ideia e o sentir do homem que o usa!»; logo a exuberância
afectiva e erótica de Ega reflecte-se neste espaço: o leito «enchia,
esmagava tudo»; a predominância do encarnado, o «fundo vermelho»,
o «felpo escarlate», a «seda da Índia avermelhada», sugerindo também
o satanismo manifestado muitas vezes por esta personagem. Por outro
lado, o espelho à cabeceira acentua o temperamento exibicionista e
narcisista e contrasta com o «aparato de tabernáculo», vincando
novamente o comportamento contraditório de Ega.
•A Toca
Este espaço surge envolto de exotismo, excentricidade e anormalidade. Esta
última destaca-se pelos seguintes objectos: «o armário da Renascença» com
os seus dois faunos, simboliza a atracção carnal; «a taça de faiança» com o
seu «renque de negros ciprestes» e o «ídolo japonês», «representação
transparente de tudo quanto é sórdido e anormal no incesto». Este espaço,
como o próprio nome indica, é a habitação de alguns animais. À semelhança
de alguns animais, Carlos e Maria Eduarda têm o seu lugar, o seu canto de
união. Por outro lado, as cores predominantes são o amarelo e o dourado,
cores que representam a luxúria, as sensações fortes e proibidas (o incesto).
•O quarto do Hotel Central
No quarto do Hotel Central, quando Carlos visita Rosa destaca uma
atmosfera de intimidade e de ligeira sensualidade: «delicado alvejar de
roupa branca, todo um luxo secreto e raro de rendas e baptistes»; «um
sofá onde ficara estendido, com as duas mangas abertas, à maneira de
dois braços que se oferecem, o casaco de veludo lavrado de Génova».
Todavia, há objectos que causam estranheza a Carlos, indiciando a
irregularidade da relação entre este e Maria Eduarda: o «Manual de
Interpretação dos Sonhos»; «uma enorme caixa de pó de arroz, toda de
prata dourada…» e «uma jóia exagerada de coccote».
•A casa na Rua de S. Francisco
A casa na Rua de S. Francisco, segundo Carlos, projecta o temperamento de
Maria Eduarda: «e em tudo havia a ordem clara que tão bem condizia com
o seu puro perfil». Carlos é atraído pela decoração, pois Maria Eduarda
tenta atenuar o desconforto deste espaço com os seus «retoques de
conforto e de gosto»: as cortinas novas, o pequeno contador árabe, um
cesto de porcelana duas taças japonesas. Esta atitude de dissimulação,
ocultação representa também a relação irregular destas duas personagens,
o engano em se estão envolvendo.
O espaço psicológico é um espaço subjetivo, porque está
relacionada com as vivências íntimas das personagens. N’Os
Maias, este espaço surge, sobretudo, em função da
personagem central da obra, Carlos da Maia, ocupando
também João da Ega, um lugar de destaque
O espaço psicológico é um espaço subjetivo, porque está relacionado com as vivências
íntimas das personagens; é constituído pelo conjunto de elementos que traduz a
interioridade das personagens.
N’Os Maias, este espaço surge, sobretudo, em função da personagem central
da obra, Carlos da Maia, ocupando também João da Ega, um lugar de destaque
neste espaço. Este vai-se intensificando à medida que a intriga se desenvolve,
até ao desenlace, pois à medida que essa aumenta, crescem também os
conflitos e as preocupações das personagens que a vivenciam.
Situações em que o
espaço psicológico
aparece na obra
Ega, companheiro e amigo de Carlos, partilhando os
seus sentimentos, surge em destaque no espaço
psicológico quando, depois das revelações de
Guimarães, resistindo à verdade dos factos, desacredita
nas suas convicções e quando reflete acerca da sua
própria capacidade de resistência face à prática do
incesto consciente.
O espaço psicológico aparece na obra através das seguintes situações:
O sonho de Carlos, após a primeira visão de Maria Eduarda em frente ao
Hotel central, evocando-a como uma deusa;
A imaginação de Carlos relativamente às formas do corpo de Maria
Eduarda, aquando da ida a Sintra;
A memória, quando Carlos é visto como o herdeiro de uma certa evolução
familiar projectada no presente da história, confirmando, assim, a
centralidade de Carlos, pois é em função deste que é evocado o passado da
família dos Maias: as recordações do passado familiar de Carlos, numa noite
de boémia com Ega; a recordação de Carlos do avô «vivo e forte,
cachimbando ao canto do fogão, regando pela manhã as roseiras» defronte
do seu cadáver. A recordação coincide com os momentos fulcrais da intriga,
porque as personagens estão dominadas pela emoção.
O espaço
psicológico
no seu auge
Situações em que o
espaço psicológico
aparece na obra
As situações em que o espaço psicológico se encontra no auge são:
quando Carlos dominado pela dúvida, pela falta de autoconfiança,
perturbado, reflete acerca do rumo a seguir com Maria Eduarda;
quando Carlos, após as revelações da identidade de Maria Eduarda,
pensa em romper com ela, preparando-se para tal evento;
quando pretende revelar a Maria Eduarda a sua verdadeira
identidade e reflete acerca das consequências do incesto.
Tempo da História
O tempo da história é definido por datas ou pelo decurso e duração dos
acontecimentos; corresponde ao tempo em que decorre a ação. N’Os Maias conta-
se a história da família dos Maias nas suas várias gerações: Caetano, Afonso, Pedro e
Carlos.
1800 1820 a 1822 1830 / 43 / 58 / 70 1875 a 1877 1887
Nascimento
de Afonso
Juventude,
Exílio e
Casamento de
Afonso da Maia
Regresso de
Carlos da Maia
da viagem
•Relação de
Carlos da Maia
com Maria
Eduarda; Morte
de Afonso da
Maia; Segunda
viagem de Carlos
da Maia.
•Referências ao
Ramalhete;
•Juventude e amores
de Pedro da Maia;
•Nascimento de Carlos
e de Maria Eduarda;
•Fuga de Maria
Monforte;
•Suicídio de Pedro da
Maia;
•Educação de Carlos da
Maia em Coimbra;
•Primeira viagem de
Carlos.
Tempo psicológico
O tempo filtrado pelas
vivências subjetivas das
personagens e que
n’Os Maias temos
acesso ao tempo
psicológico através das
personagens,
sobretudo de Carlos e
de Ega, e nos
momentos em que a
intriga se aproxima do
desenlace.
A noite em que Pedro da Maia se apercebeu do
desaparecimento de Maria Monforte,
comunicando esta situação ao pai;
Quando Carlos reflecte acerca do passado dos
pais;
As horas passadas no consultório, que Carlos
considera monótonas e «estúpidas»;
Quando Carlos recorda o primeiro beijo que a
condessa de Gouvarinho lhe dera;
No último capítulo, em que Carlos e Ega visitam
o Ramalhete, contemplando-o e reflectindo
sobre o passado e o presente, recordando com
emoção e nostalgia o tempo aí passado.
O ponto de vista ou perspetiva narrativa corresponde à adoção de uma
determinada posição por parte do narrador para contar a história e que
n’Os Maias a perspetiva narrativa utiliza:
• a focalização omnisciente em que o narrador se coloca, em relação à
história, numa posição de transcendência, ou seja, dispõe de todas as
informações sobre a história, caracterizando exaustivamente as
personagens e os espaços;
• a focalização interna em que o narrador conta a história de acordo com
o conhecimento de uma personagem integrada na história.
N’Os Maias o ponto de vista das personagens predomina, sobretudo através
das personagens Carlos e João da Ega. Sendo Carlos da Maia a personagem
central do romance, faculta o seu ponto de vista pessoal, representando,
simultaneamente, o universo sociocultural d’Os Maias e complementando a
caracterização de outras personagens da intriga.
N’Os Maias a perspetiva narrativa utiliza:
• a focalização omnisciente em que o narrador que se coloca,
em relação à história, numa posição de transcendência, ou
seja, dispõe de todas as informações sobre a história,
caracterizando exaustivamente as personagens e os
espaços;
• a focalização interna em que o narrador conta a história de
acordo com o conhecimento de uma personagem integrada
na história.
O ponto de vista ou perspetiva narrativa corresponde à adoção de uma
determinada posição por parte do narrador para contar a história.
Os capítulos iniciais d’Os Maias em que se refere a juventude de Afonso da Maia,
a educação e as paixões de Pedro e a formação de Carlos em Coimbra, surgem
perspectivados pela focalização omnisciente, assim como quando o narrador
descreve com pormenores a renovação do Ramalhete. Daí o ritmo acelerado
utilizado pelo narrador, pois são seleccionados os eventos mais relevantes no
presente da história (1875), relacionados com a vida de Carlos e Afonso da Maia
em Lisboa.
A omnisciência do narrador surge com a função de caracterizar as personagens
fundamentais para o desenrolar da intriga. Por exemplo: quando se caracteriza
Pedro da Maia, evidenciando a sua educação, o seu temperamento,
hereditariedade e o meio, (caracterização naturalista) focam-se os elementos que
levarão à destruição desta personagem; a omnisciência em relação a Dâmaso
Salcede surge para evidenciar os vícios (defeitos sociais e morais); relativamente a
Eusebiozinho denuncia a educação decadente que desembocará no
comportamento adulto da personagem. A focalização omnisciente surge ainda
para denunciar o comportamento diletante de Carlos, influenciado pelo meio de
Lisboa.
N’Os Maias o ponto de vista das personagens predomina. É a partir
do capítulo IV que a focalização interna se impõe através de Carlos
da Maia e de João da Ega.
Esta inicia-se já no capítulo III, quando Vilaça reencontra Afonso e
Carlos da Maia, em Santa Olávia, fornecendo a sua visão subjectiva e
parcial da educação de Carlos. O narrador faculta apenas a
informação que a visão de Vilaça permite.
É sobretudo através de Carlos da Maia que surge a focalização
interna. Sendo esta a personagem central do romance, faculta o seu
ponto de vista pessoal, representando, simultaneamente, o universo
sociocultural d’Os Maias e complementando a caracterização de
outras personagens da intriga. Isto acontece, sobretudo, em relação
a Afonso da Maia e a João da Ega. Carlos fornece uma imagem de
solidez e de coerência relativamente ao seu avô. No que concerne a
João da Ega, Carlos confirma a exuberância de atitudes e as suas
opiniões escandalosas, deduzidas na visita de Ega a Carlos, no
consultório, e pormenores decorativos e de vestuário da Vila Balzac.
Maria Eduarda
Crónica de costumes
Estados de Alma
É sobretudo em relação a
Maria Eduarda que o ponto
de vista de Carlos mais se
evidencia, pois nada se sabe
sobre esta personagem.
Como tal, Carlos apenas
pode transmitir a imagem
física, captada na condição
de desconhecido, pela qual é
seduzido.
O ponto de vista de Carlos surge
ainda nos episódios que constituem
a crónica de costumes. Estes
espaços sociais ficam submetidos à
sua visão crítica. Deste modo, Carlos
torna-se veículo de acesso à crónica
de costumes.
João da Ega desempenha um papel
crucial, completando a visão crítica
de Carlos em relação ao espaço
social, sobretudo nos episódios do
Jornal A Tarde e do sarau da
Trindade. Neste último, é a sua
atenção crítica que comanda a
representação narrativa
A focalização interna
de Carlos incide sobre
os seus próprios
estados de alma, em
que este reflete acerca
das suas dúvidas,
hesitações e
tormentos.
Maria Eduarda Crónica de costumes Estados de Alma
Focalização omnisciente
Narrador
a reconstrução do Ramalhete;
a caracterização de Afonso da Maia;
os estudos de Carlos em Coimbra;
o retrato de Ega;
a descrição de Eusebiozinho;
o retrato de Dâmaso.
Focalização interna
Vilaça a educação de Carlos.
Carlos
a descrição de Maria Eduarda;
os episódios da crónica de costumes;
os seus estados de alma.
Ega
os episódios do Jornal A Tarde e do sarau da Trindade;
a sua própria consciência.
Personagens de ambiente e personagens da intriga
N’ Os Maias surgem dois tipos de personagens: as personagens de
ambiente e as personagens da intriga.
As personagens de ambiente existem em função da crítica social.
Movimentam-se em espaços sociais constituindo, através dos temas e
das ideias que revelam em diálogos, os episódios da crónica de
costumes.
As personagens da intriga estão na origem ou contribuem para a
concretização do incesto entre Carlos e Maria Eduarda.
N’ Os Maias surgem dois tipos de personagens:
as personagens de ambiente as personagens da intrigae
As personagens da intriga são aquelas que
estão na origem ou que contribuem para a
concretização do incesto entre Carlos e
Maria Eduarda.
Estas personagens, embora algumas
possam potencialmente ser um pouco
modeladas, como Carlos da Maia e João da
Ega, revelando alguma densidade
psicológica, são personagens planas, dado
que são personagens estáticas, incapazes
de surpreender pelas suas atitudes e
comportamentos.
As personagens-tipo existem em função da
crítica social. Movimentam-se em espaços
sociais constituindo, através dos temas e das
ideias que revelam em diálogos, os
episódios da crónica de costumes. Estas
personagens são ainda, dada a função que
assumem de crítica social, designadas de
personagens de ambiente ou da comédia.
Estas personagens-tipo são também
personagens planas pois apenas existem
com o intuito de crítica social, evidenciando
passividade pois não alteram o seu
comportamento, nem evoluem
psicologicamente. São personagens sem
densidade psicológica, sem vida interior.
Os Maias é considerado um romance
realista-naturalista pois retrata espaços
sociais da alta burguesia portuguesa dos
finais do séc. XIX, construindo uma crónica
social, cultural e política da sociedade da
época.
Os Maias é considerado um romance realista-
naturalista pois retrata espaços sociais da alta
burguesia dos finais do séc. XIX, fazendo um
verdadeiro fresco caricatural da sociedade da
época, sob uma abordagem científica.
Pintura Realista
The Gleaners – Jean Francois MilletAbordagem científica
A abordagem científica de Os Maias
traduz-se na observação objectiva
e minuciosa da realidade, ou seja, dos
espaços onde decorre a acção, e na
análise das circunstâncias sociais que
envolvem as personagens,
condicionando o seu comportamento.
(clique para fechar)
Eça de Queirós elabora, aparentemente, a
história de uma família, mas, constrói,
sobretudo, uma crónica social, cultural e
política, através da qual conhecemos o espaço
social da época em que a obra foi produzida, ou
seja, da sociedade da alta burguesia
portuguesa do século XIX.
Por isso, se diz que a obra Os Maias é um romance
realista-naturalista
Pintura Realista
The Gleaners – Jean Francois Millet
Para compreenderes melhor a
classificação de romance realista-
naturalista, é importante distinguir as
correntes literárias subjacentes:
Os termos Realismo e Naturalismo
surgem muitas vezes associados: há
quem considere o Naturalismo como
o prolongamento do Realismo e quem
diga que o Naturalismo é um Realismo
exacerbado.
Realismo Naturalismo
Eça de Queirós, na 4.ª Conferência do Casino
Lisbonense, a respeito do Realismo diz:
«É a negação da arte pela arte; é a proscrição do
convencional, do enfático e do piegas. É a
abolição da retórica considerada arte de
promover a emoção, usando da inchação do
período, da epilepsia da palavra, da congestão
dos tropos. É a análise com o fito na verdade
absoluta. Por outro lado, o realismo é uma reação
contra o romantismo: o romantismo era a
apoteose do sentimento; o realismo é a anatomia
do carácter, é a crítica do homem. É a arte que
nos pinta a nossos próprios olhos – para
condenar o que houver de mau na nossa
sociedade.»
Reconstituição de António Salgado Júnior,
Histórias das Conferências do Casino, Lisboa
1930, páginas 55-56.
O Realismo é uma corrente estética e literária
que surge como reação ao idealismo e
subjetivismo românticos. Procura a
conformação com a realidade e, por isso, as
suas características estão ligadas ao momento
histórico em que surgiu, refletindo essa época,
ou seja, representando o mundo exterior de
forma fidedigna.
O Realismo preocupa-se com a verdade dos
factos, com a realidade concreta, vista de forma
objetiva, explicando os comportamentos das
personagens, voltada para a análise das
condições políticas, económicas e sociais.
Vê a definição de Realismo dada pelo próprio
Eça de Queirós.
O Naturalismo é uma conceção filosófica que considera a realidade como a
única realidade existente, aceitando apenas o que pode ser explicado através
das ciências naturais. Analisa o comportamento das personagens tendo em
conta as circunstâncias sociais que as condicionam, ou seja, a obra naturalista
procura explicar as personagens através da análise aos antecedentes familiares,
aos problemas e/ou doenças hereditárias, à sua educação e à sua posição
económica, tendo em conta o meio social em que se inserem.
Ver personagens que corporizam a estética naturalista :
• Carlos da Maia
• Maria Eduarda
• Maria Monforte
• Pedro da Maia