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. Maias simplificado

Professora em Escola Secundária da Ramada
9 de May de 2014
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. Maias simplificado

  1. Os Maias Episódios da vida romântica
  2. Título e Subtítulo
  3. • N’ Os Maias a intriga principal surge entrelaçada com a crónica de costumes (constituindo uma crítica à sociedade da época), algo que se reflete no título e subtítulo da obra. O título, informa-nos que a obra vai tratar da história de uma família – Os Maias O subtítulo propõe – Episódios da Vida Romântica – que vão servir de pretexto para a comédia de costumes.
  4. O Título N’Os Maias, Eça de Queirós propõe a história duma família lisboeta, representante da alta burguesia, apresentada em três gerações sucessivas: 1.ª geração– Caetano da Maia que representa o português antigo; apoiante do absolutismo em decadência; – Afonso da Maia que lutou contra o absolutismo e pela implantação do liberalismo; 2.ª geração– Pedro da Maia que representa as crises do liberalismo e a mentalidade frustrada dum romantismo que começa a apreciar-se na falência e na catástrofe; 3.ª geração- Carlos da Maia que representa a decadência do liberalismo e a Regeneração, mostrando os ambientes e os hábitos de uma sociedade em crise cultural, social e política.
  5. O Subtítulo A par da história da família dos Maias surgem vários episódios que retratam a sociedade burguesa lisboeta dos finais do século XIX. Eça de Queirós dá uma visão crítica ao mundo social e político dessa sociedade, apresentando os seus costumes, vícios, virtudes..., representada por personagens que tipificam um vício, grupo e/ou profissão. O subtítulo propõe – Episódios da Vida Romântica – que vão servir de pretexto para a comédia de costumes.
  6. O Subtítulo A visão crítica do mundo social e político dessa sociedade, surge sobretudo nos seguintes episódios: - O jantar no Hotel Central; - O jantar dos Gouvarinhos; - O episódio dos jornais (A Corneta do Diabo e A Tarde); - A corrida de cavalos; - O sarau da Trindade; - O passeio Final. Os episódios que criticam o mundo social e político da sociedade lisboeta da época: - Crónica de costumes
  7. Os Maias - Enredo
  8. Estrutura da obra
  9. A introdução corresponde à apresentação de Afonso da Maia, permitindo situar no tempo e no espaço o início da ação. O desenvolvimento, que, depois de apresentar o passado de Afonso, Pedro e Carlos da Maia, revela os principais acontecimentos. • Estrutura da obra A obra apresenta, como qualquer narrativa: uma introdução um desenvolvimento e um desenlace O desenlace dá-se com a viagem de Carlos, após a morte do avô, e o seu regresso a Lisboa.
  10. Os Maias - Intriga
  11. Intriga principal e secundária apresenta a história da família dos Maias nas suas várias gerações:  Intriga principal – 3.ª geração;  Intriga secundária – 1.ª e 2.ª gerações.
  12. Síntese Os Maias conta a história da família dos Maias nas suas várias gerações: Caetano, Afonso, Pedro e Carlos. A última tem mais relevo, daí constituir a intriga principal. Esta abrange os amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda da Maia. A intriga principal é precedida de uma intriga secundária. Esta é constituída pelo o casamento e separação de Pedro da Maia e Maria Monforte. Recuando um pouco mais no tempo, há referências ao casamento de Afonso da Maia, ao nascimento de Pedro e à sua educação e à morte de Eduarda Runa, esposa de Afonso.
  13. A Intriga A intriga principal abrange os amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda da Maia. A intriga secundária é constituída pelo o casamento e separação de Pedro da Maia e Maria Monforte. Recuando um pouco mais no tempo, há referências ao casamento de Afonso da Maia, ao nascimento de Pedro e à sua educação e à morte de Eduarda Runa, esposa de Afonso. Termina por um epílogo, visita de Carlos e Ega a Lisboa, dez anos após a morte de Afonso da Maia e a separação de Carlos e Maria Monforte. • A intriga principal é precedida de uma intriga secundária. • A última geração – a de Carlos – tem mais relevo, daí constituir a intriga principal.
  14. • As Ações Secundárias Surgem ainda outras ações secundárias. Ações secundárias: • os amores adúlteros de Carlos com a Gouvarinho; • o amor entre Ega e Raquel Cohen; • a pulhice de Dâmaso Salcede, reveladora de degradação moral, do jogo de influências políticas, de corrupção, ignorância e hipocrisia; • a educação tradicionalista de Eusebiozinho em contraste com a educação britânica moderna de Carlos. • As ações secundárias ajudam a compreender a intriga principal e contribuem para a crítica social.
  15. INTRIGA SECUNDÁRIA INTRIGA SECUNDÁRIA ► Pedro vê Maria Monforte (cf. pág. 22). ► Pedro namora Maria Monforte (cf. pág. 26). ► Pedro casa com Maria Monforte (cf. pág. 30). ► Maria Monforte foge com Tancredo, o napolitano (cf. pág. 44). ► Pedro suicida-se (cf. pág. 52). ►Carlos vê Maria Eduarda (cf. pág. 156). ►Carlos visita Rosa (cf. pág. 257). ►Carlos conhece Maria Eduarda (cf. pág. 348). ►Carlos declara-se a Maria Eduarda (cf. pág. 409). ►Consumação do incesto (cf. pág. 438). ► Encontro de Maria Eduarda com Guimarães (cf. pág. 537). ►Revelações de Guimarães a Ega (cf. pág. 615). ► Revelações de Ega a Carlos(cf. pág. 640). ►Revelações de Carlos a Afonso (cf. pág. 644). ►Incesto consciente (cf. pág. 658). ►Encontro de Carlos com Afonso (cf. pág. 667). ►Morte de Afonso (cf. pág. 668). ►Revelações a Maria Eduarda (cf. pág. 683). ►Partida de Maria Eduarda (cf. pág. 687). ►Partida de Carlos e de Ega (cf. pág. 688). ►Regresso de Ega (cf. pág. 689) e de Carlos (cf. pág. 690). Intriga principal e intriga secundária
  16. Estrutura do Romance Ação aberta e ação fechada
  17. Ação aberta e ação fechada A obra Os Maias apresenta uma ação fechada relativamente à intriga principal, ou seja, a relação incestuosa entre Carlos da Maia e Maria Eduarda, pois o destino final destas personagens é revelado: a separação de Carlos da Maia e Maria Eduarda. A ação é aberta em relação à crónica de costumes, pois Eça de Queirós não aponta a solução definitiva para o destino das personagens que participam na crónica de costumes.
  18. • A obra apresenta uma ação fechada relativamente à intriga principal, ou seja, a relação incestuosa entre Carlos da Maia e Maria Eduarda, pois o destino final destas personagens é revelado. A ação fecha-se com a separação de Carlos da Maia e Maria Eduarda: esta parte para Paris e Carlos viaja pela Europa durante dez anos. É de salientar, o desencanto e ceticismo final de Carlos, assumindo o seu falhanço na vida. Contudo, no final da obra, mantém o gosto de viver, correndo para saborear «o prato de paio com ervilhas», deixando em aberto o seu futuro. Aponta assim para abertura da ação pois não apresenta uma solução definitiva para o destino da personagem. A ação n’Os Maias
  19. • A ação é aberta em relação à crónica de costumes, pois Eça de Queirós dá uma visão crítica ao mundo social e político da sociedade burguesa lisboeta dos finais do século XIX, apontando os seus defeitos, vícios, costumes, virtudes… A ação n’Os Maias A ação é aberta visto que Eça de Queirós não aponta a solução definitiva para o destino das personagens que participam na crónica de costumes tipificando um vício, grupo e/ou profissão.
  20. Ação trágica
  21. N’ Os Maias estão patentes algumas características da tragédia clássica: hybris, peripécia, destino, clímax, agnórise, pathos, catástrofe e a catarse. Da ação trágica fazem ainda os presságios ou indícios: referências, afirmações ou acontecimentos que contribuem para a atmosfera trágica, prevendo um fatalidade inevitável.
  22. • A ação d’ Os Maias apresenta algumas características da tragédia clássica, as quais estão patentes em algumas situações… Destaquemos as seguintes: Hybris Peripécia Destino Clímax Agnórise Pathos Catástrofe Cartarse O clímax é atingido na consumação do incesto. O reconhecimento/agnórise da identidade de Maria Eduarda como irmã de Carlos da Maia. O sofrimento/pathos provocado pela descoberta da identidade de Maria Eduarda. A cartarse dá-se no último encontro de Carlos com o avô e na separação dos dois amantes: Carlos viaja pela Europa e Maria Eduarda parte para Paris. A catástrofe, originada pelo reconhecimento do grau de parentesco entre Carlos e Maria Eduarda. O hybris (desafio) de Pedro quando casa com Maria Monforte, contra a vontade do pai, Afonso da Maia, e de Carlos que desafia os valores morais da sociedade, quando concretiza a relação amorosa com Maria Eduarda, pois julgava-a casada. A peripécia, ou seja, a mudança súbita de situação: as casuais revelações de Guimarães a Ega, preparadas pelo seu encontro com Maria Eduarda, mudando assim a relação entre Carlos e Maria Eduarda. O destino, corporizado por Guimarães, mensageiro do grau de parentesco entre Carlos e Maria Eduarda.
  23. N’Os Maias, as características da tragédia clássica estão patentes em algumas situações. Repara neste quadro que estabelece uma relação entre essas situações e as características da tragédia clássica que lhe estão subjacentes. Hybris Peripécia Destino Climax Agnórise Pathos Catástrofe Catarse Casamento de Pedro e Maria Monforte X Relação de Carlos com Maria Eduarda X Mudança súbita de situação X Revelação do grau de parentesco de Carlos e Maria Eduarda X Consumação do incesto X Resulta da revelação da identidade de Maria Eduarda (irmã de Carlos) X Sofrimento provocado pela descoberta da identidade de Maria Eduarda X Originada pelo reconhecimento do grau de parentesco entre Carlos e Maria Eduarda X Último encontro de Carlos com o avô X Separação dos dois amantes X
  24. Exemplos mais significativos de Presságios: – Momento em que Afonso da Maia vê Maria Monforte pela primeira vez: «Afonso […] olhava cabisbaixo aquela sombrinha escarlate que agora se inclinava sobre Pedro, quase o escondia, parecia envolvê-lo todo – como uma larga mancha de sangue alastrando a caleche sob o verde triste das ramas.»; – A mudança para o Ramalhete para que Carlos aí se instalasse. Esse, fechado há anos, segundo Vilaça «aludia […] a uma lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete. O sr. Afonso da Maia riu de agouros e lendas… Pois fatais foram!»; – As semelhanças fisionómicas que Maria Eduarda apontou entre Carlos e a sua mãe: «- Sabes tu com quem te pareces às vezes?... É extraordinário, mas é verdade. Pareces-te com a minha mãe! […] - Tens razão – disse ela – que a mamã era formosa… Pois é verdade, há um não sei quê na testa, no nariz… Mas sobretudo certos jeitos, uma maneira de sorrir… Outra maneira que tu tens de ficar assim um pouco vago, esquecido… Tenho pensado nisto muitas vezes…»; – A decoração da Toca que perturba Maria Eduarda, pressentindo que o seu futuro «seria confuso e escuro» como o aspeto desta. • Da acção trágica fazem ainda os presságios ou indícios: referências, afirmações ou acontecimentos que contribuem para a atmosfera trágica, prevendo um fatalidade inevitável.
  25. Os Maias - Crónica de costumes
  26. Os Maias é um romance constituído por episódios que retratam a sociedade burguesa lisboeta dos finais do século XIX. Estes constituem a crónica de costumes através da qual Eça de Queirós nos dá uma visão crítica ao mundo social e político dessa sociedade, apresentando os seus costumes, vícios, virtudes...
  27. O espaço social n’Os Maias é constituído por estes episódios que retratam a sociedade burguesa lisboeta dos finais do século XIX. O jantar no Hotel Central Estes episódios constituem a crónica de costumes através da qual Eça de Queirós nos dá uma visão crítica ao mundo social e político dessa sociedade, apresentando os seus costumes, vícios, virtudes... Vejamos esses episódios: As corridas no hipódromo O jantar dos Gouvarinhos O Sarau da Trindade O episódio jornal A Tarde O passeio final de Carlos e Ega
  28. Jantar no Hotel Central [Cap. VI] Críticas À literatura; Às Finanças À História À mentalida de retrógrada Carlos em Sintra [Cap. VII] Críticas A busca (frustrada) da felicidade As corridas no hipódromo [Cap. X] Críticas À imitação do estrangeir o; Ao provincian ismo; Ao mau gosto Jantar dos Gouvarinho [Cap. XII] Críticas À sociedade lisboeta em geral; À mediocrid ade mental; À ignorância Os Jornais [Cap. XV] Críticas Ao jornalismo parcial e corrupto; À política O sarau no Teatro da Trindade [Cap. XVI] Críticas À oratória bajuladora e banal; À literatura; À permanên cia dos valores do ultrarroma ntismo Passeio final de Carlos e Ega [Cap. XVIII] Críticas À estagnaçã o de Portugal; À falta de originalida de; À incapacida de de evoluir
  29. Espaço Físico
  30. Espaços Exteriores e Interiores É importante distinguir espaço físico exterior de cenários interiores. Os principais espaços geográficos são os de Coimbra, Lisboa e Santa Olávia Os principais espaços interiores são o Ramalhete, a Toca, a Vila Balzac, o quarto do Hotel Central e o consultório de Carlos.
  31. Os cenários interiores complementam a história relativamente a aspetos relevantes O espaço geográfico relaciona- se com o percurso do protagonista ao longo da ação e é motivo de representação de atributos inerentes ao espaço social N’ Os Maias distinguem-se dois tipos de espaço físico: o geográfico ou exterior os cenários interiores Espaços Exteriores e Interiores
  32. É o espaço onde decorre a vida estudantil de Carlos, onde vive as suas primeiras aventuras amorosas, onde se dedicou à literatura e à arte e concluiu o seu curso de Medicina. A sua existência surge marcada pela boémia, pelo diletantismo e pelo Romantismo. É o espaço privilegiado para a visão crítica da vida política e económica do país, da literatura e do jornalismo, ou seja, dos estratos dominantes da sociedade portuguesa. Neste espaço surgem vários microespaços que permitem a caracterização das personagens, das situações e do espaço social que as envolve. É o solar da família dos Maias, situa-se em Resende, na margem do rio Douro. Simboliza a vida e a regeneração, pois é o local de purificação de Afonso da Maia, opondo-se ao espaço citadino degradado. Por outro lado, é o espaço onde Carlos é educado por um preceptor inglês, recebendo uma educação britânica. Os principais espaços geográficos são: Coimbra LisboaSanta Olávia
  33. É por isso que alguns objetos e pormenores da decoração assumem particular importância, pois evocam, indiciam, o desenrolar da intriga: A cena em que Carlos beija a condessa de Gouvarinho junto do «busto em barro do conde» Gouvarinho; O quarto em casa de Miss Jones, onde Carlos e a condessa se encontram: «um nicho de Bíblias»; as paredes «forradas de cartonagens impressas em letras de cor irradiando versículos duros da Bíblia, ásperos conselhos de moral, gritos de salmos, ameaças insolentes de Inferno…»; A ornamentação espampanante de Dâmaso contrasta ironicamente com a falta de moral desta personagem. Os micro espaços físicos têm uma conexão metonímica com as personagens Maria Eduarda, Carlos da Maia e João da Ega, pois delas dependem; acentuam as suas características psicológicas, sociais e culturais, contribuindo para a intriga trágica. Micro Espaços
  34. Espaços Exteriores e Interiores Os principais espaços interiores são: O Ramalhete O Ramalhete surge como o cenário que acompanha o evoluir da intriga. Este surge na obra repartido em três fases: a instalação de Carlos no Ramalhete, os dois anos que viveu em Lisboa e o seu reencontro com este espaço em 1887. A Vila Balzac É a casa de João da Ega em Lisboa. O nome escolhido remete para as características temperamentais de Ega: a tendência para a criação literária e a personalidade contraditória, pois escolhe Balzac, um escritor realista como padroeiro, sendo ele um adepto do Realismo e do Naturalismo. No entanto, preconiza reações e comportamentos eivados de Romantismo. A Toca É o recanto idílico nos Olivais, onde Maria Eduarda e Carlos trocam juras de amor e onde surgem objetos que apontam para a tragédia que o atingirá através do incesto. O quarto do Hotel Central e a casa na Rua de S. Francisco O quarto do Hotel Central e a casa na Rua de S. Francisco constituem cenários que envolvem Maria Eduarda, daí que Carlos os observe, assim como os objetos que os constituem, tentando adivinhar a personalidade de Maria Eduarda.
  35. •A instalação no Ramalhete Representa a projeção da personalidade de Carlos. Este contrata um decorador inglês para o decorar, confirmando, assim, a educação que recebeu. Deste modo, sob a influência de Carlos, o Ramalhete transformar-se-á num espaço «de luxo inteligente e sóbrio». Não obstante, os pormenores decorativos com nuances exóticas e o excesso de objetos de arte suscitam algumas dúvidas sobre a vida futura de Carlos, remetendo para o dandismo: Vilaça face ao aspeto dos quartos, «os recostados acolchoados, a seda que forrava as paredes», afirma «que aquilo não eram aposentos de médico – mas de dançarina!».
  36. •Os dois anos em que viveu em Lisboa Nesta segunda fase, o Ramalhete acompanha o evoluir da intriga e constitui um espaço de crónica de costumes, apresentando-se com um local de «luxo maciço e sóbrio» e confortável «a luz (…) coada, caindo sobre os damascos vermelhos das paredes, dos assentos, fazia um adoce refracção cor-de-rosa.», ou seja, um espaço propício à tranquilidade e à felicidade. Contudo, «uma venerável cadeira de braços, cuja tapeçaria mostrava ainda as armas dos Maias no desmaio da trama de seda» pressagia algo de trágico, através dos cuidados decorativos exagerados de Carlos com o avô. O reencontro de Carlos com este espaço é marcado pela decadência: o desconforto e o abandono, imbuído de uma atmosfera de morte e sofrimento: «Em cima, porém, a antecâmara entristecia, toda despida, sem um móvel, sem um estofo, mostrando a cal lasca dos muros. (…) Depois, no amplo corredor, sem tapete, os seus passos soavam como um claustro abandonado»; «Carlos pôs também o chapéu: e desceram pelas escadas forradas de veludo cor de cereja, onde ainda pendia, com um ar de ferrugem, umas panóplia de velhas armas. Depois na rua Carlos parou, deu um longo olhar ao sombrio casarão, (…) mudo, para sempre desabitado, cobrindo-se já de tons de ruína». O «ar de ferrugem» simboliza da decadência de um poder e de um prestígio perdidos, «os tons de ruína» que predominavam antes das reformas do Ramalhete, instalaram-se nesta fase para sempre.
  37. •O reencontro com o Ramalhete em 1887 Na primeira e última fase, o Ramalhete denota tristeza e abandono. No jardim destacam-se três símbolos do amor puro e imortal: o cipreste e o cedro, unidos, inseparáveis pela união das raízes que resistem a tudo, envolvidos num amor puro e eterno. Este amor não é o de Carlos e Maria Eduarda pois este é impuro, mas sim a amizade de Carlos e Ega, pura e eterna. Surge ainda a Vénus Citereia, ligada à sedução e volúpia. Deusa do amor, desejo e prazer, metonimicamente, surge ligada às três fases do Ramalhete: na primeira, relaciona-se com a morte de Pedro da Maia «… uma estátua de Vénus Citereia enegrecendo a um canto…»; na segunda, a estátua aparece restaurada, cheia de esplendor, simbolizando o renascer, uma nova vida, sem deixar de indiciar algo trágico, na última fase, esta estátua, símbolo do Amor e do Feminino, surge «… coberta de ferrugem verde, de humidade», ou seja, preconizando Maria Eduarda, o seu amor, destrói a harmonia da família dos Maias.
  38. •A Vila Balzac A própria decoração da Vila Balzac constitui o prolongamento das concepções de Ega, que afirma que «o móvel deve estar em harmonia com a ideia e o sentir do homem que o usa!»; logo a exuberância afectiva e erótica de Ega reflecte-se neste espaço: o leito «enchia, esmagava tudo»; a predominância do encarnado, o «fundo vermelho», o «felpo escarlate», a «seda da Índia avermelhada», sugerindo também o satanismo manifestado muitas vezes por esta personagem. Por outro lado, o espelho à cabeceira acentua o temperamento exibicionista e narcisista e contrasta com o «aparato de tabernáculo», vincando novamente o comportamento contraditório de Ega.
  39. •A Toca Este espaço surge envolto de exotismo, excentricidade e anormalidade. Esta última destaca-se pelos seguintes objectos: «o armário da Renascença» com os seus dois faunos, simboliza a atracção carnal; «a taça de faiança» com o seu «renque de negros ciprestes» e o «ídolo japonês», «representação transparente de tudo quanto é sórdido e anormal no incesto». Este espaço, como o próprio nome indica, é a habitação de alguns animais. À semelhança de alguns animais, Carlos e Maria Eduarda têm o seu lugar, o seu canto de união. Por outro lado, as cores predominantes são o amarelo e o dourado, cores que representam a luxúria, as sensações fortes e proibidas (o incesto).
  40. •O quarto do Hotel Central No quarto do Hotel Central, quando Carlos visita Rosa destaca uma atmosfera de intimidade e de ligeira sensualidade: «delicado alvejar de roupa branca, todo um luxo secreto e raro de rendas e baptistes»; «um sofá onde ficara estendido, com as duas mangas abertas, à maneira de dois braços que se oferecem, o casaco de veludo lavrado de Génova». Todavia, há objectos que causam estranheza a Carlos, indiciando a irregularidade da relação entre este e Maria Eduarda: o «Manual de Interpretação dos Sonhos»; «uma enorme caixa de pó de arroz, toda de prata dourada…» e «uma jóia exagerada de coccote».
  41. •A casa na Rua de S. Francisco A casa na Rua de S. Francisco, segundo Carlos, projecta o temperamento de Maria Eduarda: «e em tudo havia a ordem clara que tão bem condizia com o seu puro perfil». Carlos é atraído pela decoração, pois Maria Eduarda tenta atenuar o desconforto deste espaço com os seus «retoques de conforto e de gosto»: as cortinas novas, o pequeno contador árabe, um cesto de porcelana duas taças japonesas. Esta atitude de dissimulação, ocultação representa também a relação irregular destas duas personagens, o engano em se estão envolvendo.
  42. Espaço Psicológico
  43. O espaço psicológico é um espaço subjetivo, porque está relacionada com as vivências íntimas das personagens. N’Os Maias, este espaço surge, sobretudo, em função da personagem central da obra, Carlos da Maia, ocupando também João da Ega, um lugar de destaque
  44. O espaço psicológico é um espaço subjetivo, porque está relacionado com as vivências íntimas das personagens; é constituído pelo conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens. N’Os Maias, este espaço surge, sobretudo, em função da personagem central da obra, Carlos da Maia, ocupando também João da Ega, um lugar de destaque neste espaço. Este vai-se intensificando à medida que a intriga se desenvolve, até ao desenlace, pois à medida que essa aumenta, crescem também os conflitos e as preocupações das personagens que a vivenciam. Situações em que o espaço psicológico aparece na obra Ega, companheiro e amigo de Carlos, partilhando os seus sentimentos, surge em destaque no espaço psicológico quando, depois das revelações de Guimarães, resistindo à verdade dos factos, desacredita nas suas convicções e quando reflete acerca da sua própria capacidade de resistência face à prática do incesto consciente.
  45. O espaço psicológico aparece na obra através das seguintes situações:  O sonho de Carlos, após a primeira visão de Maria Eduarda em frente ao Hotel central, evocando-a como uma deusa;  A imaginação de Carlos relativamente às formas do corpo de Maria Eduarda, aquando da ida a Sintra;  A memória, quando Carlos é visto como o herdeiro de uma certa evolução familiar projectada no presente da história, confirmando, assim, a centralidade de Carlos, pois é em função deste que é evocado o passado da família dos Maias: as recordações do passado familiar de Carlos, numa noite de boémia com Ega; a recordação de Carlos do avô «vivo e forte, cachimbando ao canto do fogão, regando pela manhã as roseiras» defronte do seu cadáver. A recordação coincide com os momentos fulcrais da intriga, porque as personagens estão dominadas pela emoção. O espaço psicológico no seu auge Situações em que o espaço psicológico aparece na obra
  46. As situações em que o espaço psicológico se encontra no auge são: quando Carlos dominado pela dúvida, pela falta de autoconfiança, perturbado, reflete acerca do rumo a seguir com Maria Eduarda; quando Carlos, após as revelações da identidade de Maria Eduarda, pensa em romper com ela, preparando-se para tal evento; quando pretende revelar a Maria Eduarda a sua verdadeira identidade e reflete acerca das consequências do incesto.
  47. Tempo
  48. Tempo da História O tempo da história é definido por datas ou pelo decurso e duração dos acontecimentos; corresponde ao tempo em que decorre a ação. N’Os Maias conta- se a história da família dos Maias nas suas várias gerações: Caetano, Afonso, Pedro e Carlos. 1800 1820 a 1822 1830 / 43 / 58 / 70 1875 a 1877 1887 Nascimento de Afonso Juventude, Exílio e Casamento de Afonso da Maia Regresso de Carlos da Maia da viagem •Relação de Carlos da Maia com Maria Eduarda; Morte de Afonso da Maia; Segunda viagem de Carlos da Maia. •Referências ao Ramalhete; •Juventude e amores de Pedro da Maia; •Nascimento de Carlos e de Maria Eduarda; •Fuga de Maria Monforte; •Suicídio de Pedro da Maia; •Educação de Carlos da Maia em Coimbra; •Primeira viagem de Carlos.
  49. Tempo psicológico O tempo filtrado pelas vivências subjetivas das personagens e que n’Os Maias temos acesso ao tempo psicológico através das personagens, sobretudo de Carlos e de Ega, e nos momentos em que a intriga se aproxima do desenlace.  A noite em que Pedro da Maia se apercebeu do desaparecimento de Maria Monforte, comunicando esta situação ao pai;  Quando Carlos reflecte acerca do passado dos pais;  As horas passadas no consultório, que Carlos considera monótonas e «estúpidas»;  Quando Carlos recorda o primeiro beijo que a condessa de Gouvarinho lhe dera;  No último capítulo, em que Carlos e Ega visitam o Ramalhete, contemplando-o e reflectindo sobre o passado e o presente, recordando com emoção e nostalgia o tempo aí passado.
  50. Perspetiva Narrativa
  51.  O ponto de vista ou perspetiva narrativa corresponde à adoção de uma determinada posição por parte do narrador para contar a história e que n’Os Maias a perspetiva narrativa utiliza: • a focalização omnisciente em que o narrador se coloca, em relação à história, numa posição de transcendência, ou seja, dispõe de todas as informações sobre a história, caracterizando exaustivamente as personagens e os espaços; • a focalização interna em que o narrador conta a história de acordo com o conhecimento de uma personagem integrada na história.  N’Os Maias o ponto de vista das personagens predomina, sobretudo através das personagens Carlos e João da Ega. Sendo Carlos da Maia a personagem central do romance, faculta o seu ponto de vista pessoal, representando, simultaneamente, o universo sociocultural d’Os Maias e complementando a caracterização de outras personagens da intriga.
  52. N’Os Maias a perspetiva narrativa utiliza: • a focalização omnisciente em que o narrador que se coloca, em relação à história, numa posição de transcendência, ou seja, dispõe de todas as informações sobre a história, caracterizando exaustivamente as personagens e os espaços; • a focalização interna em que o narrador conta a história de acordo com o conhecimento de uma personagem integrada na história. O ponto de vista ou perspetiva narrativa corresponde à adoção de uma determinada posição por parte do narrador para contar a história.
  53. Os capítulos iniciais d’Os Maias em que se refere a juventude de Afonso da Maia, a educação e as paixões de Pedro e a formação de Carlos em Coimbra, surgem perspectivados pela focalização omnisciente, assim como quando o narrador descreve com pormenores a renovação do Ramalhete. Daí o ritmo acelerado utilizado pelo narrador, pois são seleccionados os eventos mais relevantes no presente da história (1875), relacionados com a vida de Carlos e Afonso da Maia em Lisboa. A omnisciência do narrador surge com a função de caracterizar as personagens fundamentais para o desenrolar da intriga. Por exemplo: quando se caracteriza Pedro da Maia, evidenciando a sua educação, o seu temperamento, hereditariedade e o meio, (caracterização naturalista) focam-se os elementos que levarão à destruição desta personagem; a omnisciência em relação a Dâmaso Salcede surge para evidenciar os vícios (defeitos sociais e morais); relativamente a Eusebiozinho denuncia a educação decadente que desembocará no comportamento adulto da personagem. A focalização omnisciente surge ainda para denunciar o comportamento diletante de Carlos, influenciado pelo meio de Lisboa.
  54. N’Os Maias o ponto de vista das personagens predomina. É a partir do capítulo IV que a focalização interna se impõe através de Carlos da Maia e de João da Ega. Esta inicia-se já no capítulo III, quando Vilaça reencontra Afonso e Carlos da Maia, em Santa Olávia, fornecendo a sua visão subjectiva e parcial da educação de Carlos. O narrador faculta apenas a informação que a visão de Vilaça permite. É sobretudo através de Carlos da Maia que surge a focalização interna. Sendo esta a personagem central do romance, faculta o seu ponto de vista pessoal, representando, simultaneamente, o universo sociocultural d’Os Maias e complementando a caracterização de outras personagens da intriga. Isto acontece, sobretudo, em relação a Afonso da Maia e a João da Ega. Carlos fornece uma imagem de solidez e de coerência relativamente ao seu avô. No que concerne a João da Ega, Carlos confirma a exuberância de atitudes e as suas opiniões escandalosas, deduzidas na visita de Ega a Carlos, no consultório, e pormenores decorativos e de vestuário da Vila Balzac. Maria Eduarda Crónica de costumes Estados de Alma
  55. É sobretudo em relação a Maria Eduarda que o ponto de vista de Carlos mais se evidencia, pois nada se sabe sobre esta personagem. Como tal, Carlos apenas pode transmitir a imagem física, captada na condição de desconhecido, pela qual é seduzido. O ponto de vista de Carlos surge ainda nos episódios que constituem a crónica de costumes. Estes espaços sociais ficam submetidos à sua visão crítica. Deste modo, Carlos torna-se veículo de acesso à crónica de costumes. João da Ega desempenha um papel crucial, completando a visão crítica de Carlos em relação ao espaço social, sobretudo nos episódios do Jornal A Tarde e do sarau da Trindade. Neste último, é a sua atenção crítica que comanda a representação narrativa A focalização interna de Carlos incide sobre os seus próprios estados de alma, em que este reflete acerca das suas dúvidas, hesitações e tormentos. Maria Eduarda Crónica de costumes Estados de Alma
  56. Focalização omnisciente Narrador  a reconstrução do Ramalhete;  a caracterização de Afonso da Maia;  os estudos de Carlos em Coimbra;  o retrato de Ega;  a descrição de Eusebiozinho;  o retrato de Dâmaso. Focalização interna Vilaça  a educação de Carlos. Carlos  a descrição de Maria Eduarda;  os episódios da crónica de costumes;  os seus estados de alma. Ega  os episódios do Jornal A Tarde e do sarau da Trindade;  a sua própria consciência.
  57. Personagens
  58. Personagens de ambiente e personagens da intriga N’ Os Maias surgem dois tipos de personagens: as personagens de ambiente e as personagens da intriga. As personagens de ambiente existem em função da crítica social. Movimentam-se em espaços sociais constituindo, através dos temas e das ideias que revelam em diálogos, os episódios da crónica de costumes. As personagens da intriga estão na origem ou contribuem para a concretização do incesto entre Carlos e Maria Eduarda.
  59. N’ Os Maias surgem dois tipos de personagens: as personagens de ambiente as personagens da intrigae As personagens da intriga são aquelas que estão na origem ou que contribuem para a concretização do incesto entre Carlos e Maria Eduarda. Estas personagens, embora algumas possam potencialmente ser um pouco modeladas, como Carlos da Maia e João da Ega, revelando alguma densidade psicológica, são personagens planas, dado que são personagens estáticas, incapazes de surpreender pelas suas atitudes e comportamentos. As personagens-tipo existem em função da crítica social. Movimentam-se em espaços sociais constituindo, através dos temas e das ideias que revelam em diálogos, os episódios da crónica de costumes. Estas personagens são ainda, dada a função que assumem de crítica social, designadas de personagens de ambiente ou da comédia. Estas personagens-tipo são também personagens planas pois apenas existem com o intuito de crítica social, evidenciando passividade pois não alteram o seu comportamento, nem evoluem psicologicamente. São personagens sem densidade psicológica, sem vida interior.
  60. Personagens de ambiente: Dâmaso Salcede Eusebiozinho Tomás de Alencar Craft Cohen Raquel Cohen Conde Gouvarinho Condessa Gouvarinho Sousa Neto Palma Cavalão Steinbroken Castro Gomes Guimarães Cruges Vilaça (Pai e Filho) Taveira
  61. Realismo e Naturalismo n’ Os Maias
  62. Os Maias é considerado um romance realista-naturalista pois retrata espaços sociais da alta burguesia portuguesa dos finais do séc. XIX, construindo uma crónica social, cultural e política da sociedade da época.
  63. Os Maias é considerado um romance realista- naturalista pois retrata espaços sociais da alta burguesia dos finais do séc. XIX, fazendo um verdadeiro fresco caricatural da sociedade da época, sob uma abordagem científica. Pintura Realista The Gleaners – Jean Francois MilletAbordagem científica A abordagem científica de Os Maias traduz-se na observação objectiva e minuciosa da realidade, ou seja, dos espaços onde decorre a acção, e na análise das circunstâncias sociais que envolvem as personagens, condicionando o seu comportamento. (clique para fechar) Eça de Queirós elabora, aparentemente, a história de uma família, mas, constrói, sobretudo, uma crónica social, cultural e política, através da qual conhecemos o espaço social da época em que a obra foi produzida, ou seja, da sociedade da alta burguesia portuguesa do século XIX. Por isso, se diz que a obra Os Maias é um romance realista-naturalista
  64. Pintura Realista The Gleaners – Jean Francois Millet Para compreenderes melhor a classificação de romance realista- naturalista, é importante distinguir as correntes literárias subjacentes: Os termos Realismo e Naturalismo surgem muitas vezes associados: há quem considere o Naturalismo como o prolongamento do Realismo e quem diga que o Naturalismo é um Realismo exacerbado. Realismo Naturalismo
  65. Eça de Queirós, na 4.ª Conferência do Casino Lisbonense, a respeito do Realismo diz: «É a negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, do enfático e do piegas. É a abolição da retórica considerada arte de promover a emoção, usando da inchação do período, da epilepsia da palavra, da congestão dos tropos. É a análise com o fito na verdade absoluta. Por outro lado, o realismo é uma reação contra o romantismo: o romantismo era a apoteose do sentimento; o realismo é a anatomia do carácter, é a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houver de mau na nossa sociedade.» Reconstituição de António Salgado Júnior, Histórias das Conferências do Casino, Lisboa 1930, páginas 55-56. O Realismo é uma corrente estética e literária que surge como reação ao idealismo e subjetivismo românticos. Procura a conformação com a realidade e, por isso, as suas características estão ligadas ao momento histórico em que surgiu, refletindo essa época, ou seja, representando o mundo exterior de forma fidedigna. O Realismo preocupa-se com a verdade dos factos, com a realidade concreta, vista de forma objetiva, explicando os comportamentos das personagens, voltada para a análise das condições políticas, económicas e sociais. Vê a definição de Realismo dada pelo próprio Eça de Queirós.
  66. O Naturalismo é uma conceção filosófica que considera a realidade como a única realidade existente, aceitando apenas o que pode ser explicado através das ciências naturais. Analisa o comportamento das personagens tendo em conta as circunstâncias sociais que as condicionam, ou seja, a obra naturalista procura explicar as personagens através da análise aos antecedentes familiares, aos problemas e/ou doenças hereditárias, à sua educação e à sua posição económica, tendo em conta o meio social em que se inserem. Ver personagens que corporizam a estética naturalista : • Carlos da Maia • Maria Eduarda • Maria Monforte • Pedro da Maia
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