O documento discute o conceito de jornalismo investigativo e seus principais elementos. Apresenta o caso Watergate como um exemplo emblemático do gênero, destacando a investigação feita pelos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein que levou à renúncia do presidente Nixon. Também diferencia os conceitos de jornalismo declaratório, de dossiê e investigativo.
1. CURSO DE JORNALISMO
JORNALISMO INVESTIGATIVO – PROF. EDUARDO ROCHA
PARTE I
CONCEITUAÇÃO DE JORNALISMO INVESTIGATIVO
Muito se discute sobre a conceituação desse tipo de jornalismo específico. Para alguns mais
radicais, todo o jornalismo é investigativo, e se não é investigativo não é jornalismo. No
entanto, a questão não pode ser tratada com tal maniqueísmo. Vejamos por exemplo a notícia
sobre o rendimento diário da caderneta de poupança. É uma informação de utilidade pública.
Logo, é jornalismo. No entanto, não é necessário o jornalista fazer um grande esforço de
reportagem para obter o rendimento da caderneta de poupança dia a dia. Basta consultar uma
tabela fornecida pelo Banco Central.
O Jornalismo Investigativo que vamos ver aqui é algo mais profundo, ligado com o processo de
profunda pesquisa, apuração dos fatos, cruzamento de dados. Você vai perceber que o
objetivo do jornalista investigativo é revelar algo que quer ser ocultado da sociedade. Essa é a
orientação conceitual que utilizaremos em nosso curso.
Esse tipo de jornalismo vai além. Procura sempre mais e não se contenta com o factual. É um
tipo de jornalismo importantíssimo na fiscalização da sociedade, e em muitos momentos,
indispensável para o funcionamento de uma sociedade democrática. Exemplos não nos faltam:
as matérias que divulgavam os escândalos da ditadura, com relação a tortura e corrupção; o
Caso Collor, que culminou com o pedido de impeachment contra o ex-presidente e sua
renúncia; a renúncia do presidente Nixon, no famoso Caso Watergate, e por aí vai.
Portanto, vamos utilizar uma abordagem que difere sim o jornalismo convencional do
Jornalismo Investigativo. Para o bem do próprio jornalismo.
JORNALISMO INVESTIGATIVO: ORIGENS
O jornalismo investigativo tem suas origens nos Estados Unidos, no período imediatamente
posterior ao término da II Guerra Mundial, e em especial, entre os anos de 1955 e 1974.
Os jornalistas passaram a exercer uma postura crítica em relação ao governo dos Estados
Unidos, em conseqüência da participação desastrosa dos norte-americanos na Guerra do
Vietnã (1959-1975). A imprensa, de um modo geral, passou a revelar em que condições os
soldados norte-americanos deixavam suas famílias para guerrear do outro lado do mundo
numa combate suicida.
As reportagens dessa época foram veiculadas principalmente nas revistas Life e Look.
Um fato, porém, marcou o uso da expressão “Jornalismo Investigativo”, o chamado Caso
Watergate. A celebrada investigação de Carl Bernstein e Bob Woodward, do Washington Post,
culminou com o pedido de renúncia do então presidente Richard Nixon, em 9 de agosto de
1974.
2. O Caso Watergate criou um precedente ao demonstrar a importância de alguns princípios do
jornalismo:
- não se ater a uma única fonte
- não se contentar com o jornalismo “chapa branca”
- questionar informações oficiais
O caso repercutiu no cenário mundial jornalístico, influenciando repórteres no mundo todo.
JORNALISMO INVESTIGATIVO NO BRASIL
Em primeiro lugar, devemos observar alguns antecedentes na trajetória do Jornalismo
Investigativo no Brasil:
Antecedentes:
Euclides da Cunha – Os Sertões (1902) – Guerra de Canudos (1893-1897)
Coberturas jornalísticas na II Guerra Mundial (Joel Silveira e Rubem Braga)
1972 – estoura o Caso Watergate nos EUA
(contexto brasileiro: a imprensa vive sob a dura censura do general Emílio Garrastazu Médici)
1974 – assume o poder o general Ernesto Geisel
morte do operário Manuel Fiel Filho
morte do jornalista Vladimir Herzog
aceleração do processo de abertura política (lenta, gradual e segura)
Podemos observar o marco deixado na história do jornalismo brasileiro por Euclides da Cunha
ao retratar a Guerra de Canudos, na obra Os Sertões. Não se trata evidentemente de uma obra
de Jornalismo Investigativo, já que esse termo, como visto na aula anterior, passou a ser
moldado a partir do caso Watergate. No entanto é um registro interessante de jornalismo em
profundidade feito ainda no começo do século passado.
É digna de registro também a participação dos jornalistas brasileiros durante a II Guerra
Mundial, Joel Silveira e Rubem Braga.
Em seguida, no quadro acima, é destacado o Caso Watergate, o verdadeiro marco no
Jornalismo Investigativo
O Brasil, no início dos anos 1970, vivia os anos difíceis da ditadura militar. A presidência era
ocupada pelo general Ernesto Geisel, que sucedia o general Emílio Garrastazu Médici, que
ficou conhecido pelo bordão “Brasil, ame-o, ou deixe-o”. A imprensa vivia os duros anos da
3. censura prévia, que se estendeu até o ano de 1975. Nesse período, qualquer reportagem um
pouco mais aprofundada significava perigo para o autor e o veículo que a publicasse.
Como marcas do jornalismo investigativo no país temos a célebre reportagem de Ricardo
Kotscho intitulada “Assim vivem os nossos superfuncionários”, que abalou a vida política
brasileira ao desvendar as regalias de ministros e funcionários do alto escalão do governo.
A repercussão da reportagem foi imediata, tanto que Kotscho foi aconselhado a deixar o país
por medidas de segurança.
Anos mais tarde, a imprensa brasileira voltaria a noticiar os escândalos da ditadura militar com
a reportagem “Descendo aos Porões”, de Antonio Carlos Fon, publicada na Veja, em que o
autor revelava os bastidores da tortura no país.
O jornalismo como um todo voltou a ter papel atuante principalmente no processo de
redemocratização no país, em especial, na campanha das Diretas-Já (1984), e
acentuadamente em 1992, no processo que culminou com a renúncia do presidente Collor, a
partir de uma série de denúncias efetuadas por Pedro Collor na revista Veja.
PARTE II
O CASO WATERGATE – FACTUAL E CONTEXTO POLÍTICO
O Caso Watergate é um caso exemplar pois discute uma série de questões do “fazer-
jornalístico” como apuração (lembre-se que na época não havia internet), aprofundamento da
matéria, relacionamento com as fontes, formas de divulgação da matéria e enfim, a sua
repercussão.
Tornou-se portanto um episódio obrigatório de ser estudado no jornalismo e ainda hoje,
podemos tirar várias lições ao abordá-lo. Como dica, fica a sugestão do filme que retrata o
caso: “Todos os Homens do Presidente” (1976), de Alan Pakula, um clássico do jornalismo no
cinema, uma verdadeira aula de jornalismo.
Factual
O Caso Watergate tem início no dia 17 de junho de 1972, quando cinco homens foram
surpreendidos tentando instalar equipamentos de escuta na sede do Partido Democrata,
localizado no edifício Watergate, em Washington.
Inicialmente, o crime foi tratado como um caso de polícia e foi dado aos cuidados das editorias
de cotidiano dos principais jornais norte-americanos. Dois repórteres novatos do Washington
Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, se dedicaram ao caso mais que os colegas de
profissão.
Contexto Político
Os EUA viviam mais um ano de disputa eleitoral. Richard Nixon, 37º presidente eleito em
1968, buscava a reeleição contra o democrataGeorge McGovern. Sucedendo Lyndon Johnson,
Nixon tornara-se o terceiro presidente a administrar o conflito norte-americano no Vietnã. O
4. clima interno era desfavorável, pois existia a pressão contra a participação norte-americana na
guerra. No entanto, Nixon venceu ganhando em 48 dos 50 estados americanos.
O CASO WATERGATE – A INVESTIGAÇÃO
O caso surgiu como uma matéria do factual, um episódio policial em que criminosos foram
presos tentando invadir um escritório comercial. Assim foi tratado por toda a imprensa norte-
americano. Menos pelos jornalistas do Washington Post que não viram a invasão a um simples
escritório comercial. Se tratava da sede do Partido Democrata, então opositor da política de
Nixon. Chamou atenção ainda dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein que os presos
tivessem envolvimento com o anti-castrismo.
Vários eram os indícios que relacionavam os criminosos ao governo. No entanto, uma fonte foi
fundamental para o desenvolvimento da investigação. Seu nome, que ficou mais de 30 anos
oculto sob o pseudônimo de “Garganta Profunda”, era Mark Felt. O anonimato era o preço
exigido por Felt para colaborar nas investigações. Os repórteres cumpriram à risca o acordo. O
nome de Felt só foi revelado por ele mesmo, em uma entrevista à revista Vanity Fair, em 2005,
pouco antes de sua morte.
Felt era o segundo homem na hierarquia do FBI e conhecia profundamente os mecanismos e
envolvimentos da Casa Branca.
Com a ajuda dele, Woodward e Bernstein descobriram que o governo havia feito “caixa 2” com
dinheiro não declarado. Nas transações estavam um cheque de U$ 25 mil depositado em favor
de um dos integrantes da invasão de Watergate. O objetivo da invasão era desvendar algo que
pudesse incriminar a imagem dos democratas e ser explorado durante a campanha eleitoral.
O CASO WATERGATE – DESFECHO E REPERCUSSÃO
Durante a investigação, a Casa Branca não comentava o assunto e Nixon negava qualquer tipo
de envolvimento com o caso. Nos bastidores, porém, o presidente trabalhava para prejudicar
as investigações e tentava difamar publicamente a credibilidade do jornal Washington Post.
Graças a ajuda de Felt, o quebra-cabeças pode ser montado para a incriminação de Nixon. O
caso, que havia surgido nas páginas dos jornais como uma matéria de polícia, tomou a
dimensão de um escândalo político nacional.
Em 1973, quatro assessores da presidência foram descobertos pelo FBI e acusados de
participação no caso. Chegou-se a montar uma comissão especial no Senado para investigar o
caso. No ano seguinte, um assessor da presidência revelou a existência de uma fita ligando
Nixon ao caso. O presidente ainda tentou impedir a divulgação da fita cassete, mas já era
tarde.
Em 8 de agosto de 1974, pressionado pela ameaça da votação de um pedido de impeachment,
Nixou renunciou admitindo seus erros. Gerald Ford, o vice, assumiu em seu lugar no dia
seguinte.
5. PERFIS DE JORNALISTAS: BOB WOODWARD E CARL BERNSTEIN
O caso se tornou um emblema no jornalismo e mudou o comportamento da sociedade norte-
americana, que passou a ser mais crítica com seus governantes. No jornalismo, o caso virou
sinônimo de exemplo de investigação e determinação.
No entanto, hoje, passadas mais de três décadas, é difícil dizer se o caso ganharia tal
repercussão a ponto de derrubar um presidente.
Em primeiro lugar, porque o jornalismo sério, bem feito, atualmente não admite (salvo
raríssimas exceções) a publicação de fontes anônimas. Isto tira credibilidade do bom
jornalismo. Um exemplo disto na última década foi a enxurrada de casos envolvendo
reportagens forjadas e até inventadas. Se você quiser ter um exemplo, assista ao filme “O
Preço de Uma Verdade” (2003), de Billy Ray, que narra o caso verídico de um jornalista que
forjava suas próprias matérias.
Em segundo lugar, o caso Watergate talvez não tivesse o mesmo impacto da época por haver
uma grande quantidade de canais de informação, principalmente com o advento da internet. É
sem dúvida nenhuma uma questão para você, estudante de jornalismo, pensar e discutir com
os seus colegas.
PARTE III
CONCEITOS JORNALÍSTICOS
Neste módulo você vai estudar alguns conceitos jornalísticos importantes. Vai conhecer, por
exemplo, as diferenças entre alguns termos bastante usados no jornalismo, como o Jornalismo
Declaratório, o Jornalismo de Dossiê e o Jornalismo Investigativo.
É preciso que o aluno de jornalismo tenha ciência de que estes conceitos, muitas vezes são
veiculados pela mídia e pela grande imprensa como sinônimos. No entanto, existe uma
diferença brutal entre eles. Muitas vezes assistimos a uma reportagem na televisão que nos é
apresentada como uma investigação jornalística, mas que na verdade, está sendo veiculada
com o único interesse de atender aos anseios de terceiros, que acabam sendo beneficiados de
alguma forma com a exposição daquela matéria.
Para que você tenha uma leitura crítica acerca desses conceitos é que serão apresentadas as
principais diferenças.
Bom estudo!
Jornalismo Declaratório
Com o passar dos anos, o Jornalismo foi evoluindo e tomando novos formatos, diferentes
aparências e se especializando. Em sua gênese, o Jornalismo nasce como um meio que serve
para informar os diferentes públicos com notícias comerciais, sensacionalistas, econômicas e
até mesmo as “fofocas” sobre reis e príncipes.
Posteriormente, o Jornalismo adquire novas funções. Já no período pré e pós Revolução
6. Francesa, ele é utilizado como meio de divulgação e propagação de ideias, buscando “formar”
a opinião pública e convencer o grande público.
Já no século XIX, o Jornalismo passa por uma reestruturação técnica. A divisão do trabalho
chega até o Jornalismo. São criadas as funções de repórter, redator, editor, fotógrafo, enfim, o
“fazer jornalístico” passa a ser fragmentado (alijando o profissional jornalista da noção de “todo”
e, conseqüentemente, levando-o a um processo de alienação)
É nessa época, e principalmente nos EUA, que o Jornalismo vai procurar formas de se auto-
sustentar, e para isso, o conteúdo editorial vai ser duramente atingido com o objetivo de não
afastar possíveis anunciantes.
No século XX, o Jornalismo se industrializa e atinge a grande massa. Como conseqüência,
assiste à formação de grandes conglomerados. O fazer jornalístico de outrora ganha contornos
completamente distintos. Apesar da transformação, ainda existe a sede de buscar a “verdade”
e torná-la pública.
O Jornalismo Investigativo é a maior prova disso. Nasce da investigação sobre a situação
norte-americana no Vietnã, convence a opinião pública, derruba um presidente e ganha o
mundo afora. Esse modismo, no entanto, percorreu ao longo dos anos caminhos não tão
almejados pelos puristas que faziam do seu ofício a busca do esclarecimento e da
transparência.
O Jornalismo passa a sofrer cada vez mais influências do Jornalismo Empresarial e de
interesses privados. A profissionalização da informação extrapola o universo das empresas e
corporações e atinge as redações sob o formato de releases. O Jornalismo sério, de
investigação, pesquisa intensa e apuração passa a ser marcado pelos releases oficiais, pelas
versões e pelas respostas burocráticas.
O chamado Jornalismo Declaratório, ao em vez de esclarecer a opinião pública, esconde o seu
real objetivo que é o mascaramento de condutas erradas e ofensivas à sociedade. Ele ocorre
toda vez que uma assessoria divulga um release ou nota sobre um fato que lhe é pertinente.
Ao repórter, cabe o intenso trabalho checagem e investigação, para avaliar se as informações
divulgadas pelas assessorias são procedentes e cobertas de veracidade. Caso contrário, sem
a checagem das informações, o jornalista passa a fazer o mero Jornalismo Declaratório, ou
seja, se transforma num mero reprodutor de versões “oficiais”.
Atualmente, pelo enxugamento das redações, passou a ser comum encontrar esse tipo de
jornalismo, uma vez que com poucos funcionários, excesso de trabalho e jornadas excessivas
acabaram por contribuir com a proliferação do Jornalismo Declaratório.
JORNALISMO DE DOSSIÊ
É comum em nosso país, desde o processo de Independência, o acirramento dos ânimos
durante os períodos que antecedem as disputas políticas. Foi assim quando surgiram os
pasquins, passando pelo período pré-republicano, quando vários jornais surgiram com esse
intuito, e assim continuou durante o século XX.
Desde a eleição de Artur Bernardes, em 1922, quando o Correio da Manhã publicou uma série
de cartas falsas contendo supostas críticas de Bernardes aos militares, podemos encontrar a
7. fabricação de notícias com o intuito de prejudicar alguém politicamente.No episódio citado,
Bernardes, que venceu as eleições, chegou a contratar um perito que confirmou a falsidade
das cartas.
Esse tipo de comportamento se alastrou durante todo o século passado: no golpe de Getúlio
Vargas, no período ditatorial iniciado em 1964, na eleição de Fernando Collor, em 1989, e mais
recentemente, passou a fazer parte do cotidiano pré-eleitoral brasileiro.
Devemos lembrar ainda dos anos 1990, quando o denuncismo ganhou as páginas dos jornais
e uma fábrica de dossiês se instalou no país. É notável o caso da briga pela imprensa entre
Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, cada um com o seu grau de influência,
estampando as páginas das principais revistas semanais Veja e Istoé, cada uma partidarizada
a seu modo.
É importante alertar o estudante de jornalismo e dizer que o Jornalismo de Dossiê vem
“facilitar” a vida do “repórter investigativo” desavisado. Em vez de o jornalista ir atrás da notícia,
a notícia vem até o jornalista, numa inversão completa de valores, com objetivos e interesses
maléficos ao grande público.
As razões para a existência disso são muitas. A precarização da profissão pode ser apontada
como a primeira delas. A multiplicação das fontes de informação é outra, diretamente ligada à
banalização da investigação. De uma hora para outra, na busca da audiência, tudo passou a
ser “informação exclusiva” e “investigativa”.
É singular também o caso da entrevista do ex-deputado Roberto Jefferson sobre o “mensalão”
dada à repórter Renata LoPrete, da Folha de S.Paulo. Até determinado momento, a repórter
gabou-se publicamente de sua entrevista (vide Observatório da Imprensa na época) sobre o
seu até então “furo” jornalístico. Dias depois, o mesmo deputado, em depoimento transmitido
em rede nacional, no Congresso, admitiu que ele próprio havia escolhido a profissional a quem
concedeu a entrevista.
Esse e outros casos relatam um modismo e um vício que o Jornalismo moderno adquiriu. Uma
técnica de trabalho que oculta em vez de explicitar a “verdade”. O jornalista investigativo deve
se pautar pelo combate a esse tipo de rotina, caso contrário, estará contribuindo para o fim da
investigação, num processo completamente contraditório à sua razão de ser.
O verdadeiro Jornalismo Investigativo
Como dizia o filósofo Friederich Nietzsche : “não existem fatos, apenas interpretações”. O
jornalista investigativo deve correr atrás da reconstituição dos fatos, ainda que eles não mais
existam. E minimizar o quanto puder as falsas “interpretações”. O verdadeiro jornalista
investigativo não se contenta com as informações que lhe são fornecidas, seja por meio de
uma fonte anônima, por meio de um dossiê, ou por uma assessoria de imprensa.
8. É dever dele, ter essas informações como ponto de partida para a sua atividade. É a partir da
apuração e investigação das informações que lhe são fornecidas, que ele chegará mais
próximo de uma verdade que está sendo ocultada da sociedade em favor de terceiros.
O DENUNCISMO
Para encerrar a parte conceitual, é preciso que abordemos de maneira mais enfática a questão
do denuncismo. Como vimos nesta unidade, existe uma grande diferença entre o jornalismo
declaratório, o jornalismo de dossiê e o jornalismo realmente investigativo.
Vimos que o jornalismo declaratório se limita ao mero ato de reproduzir um release. Que o
jornalismo investigativo checa, cruza e apura informações, no intuito de estar mais próximo da
verdade. E vimos o jornalismo de dossiê, que nada mais é do que o interesse particular em
“plantar” uma notícia em determinado veículo de imprensa para poder obter algum tipo de
vantagem com a veiculação de determinada notícia.
Quando as denúncias, via jornalismo de dossiê, se tornam uma rotina, estamos então num
quadro caracterizado como denuncismo. A banalização das denúncias sem provas, sem
julgamento e sem culpados acaba por gerar um quadro desgastante para as várias instituições
envolvidas.
O denuncismo é prejudicial ao país, pois coloca em xeque as instituições do próprio país: a
Justiça, o Legislativo, o Executivo, passando por outras instâncias, como a Mídia e a
Democracia de uma forma geral.
Desacreditar nesses pilares fundamentais do sistema democrático é colocar o país em situação
de risco, no qual as liberdades individuais e a nação acabam sendo os maiores prejudicados.
PARTE IV
TÉCNICAS PARA PRODUÇÃO DE UMA REPORTAGEM INVESTIGATIVA
O primeiro cuidado ao se executar uma matéria investigativa é a escolha do tema. Nem todo
tema rende investigação. Alguns assuntos do cotidiano e até mesmo factuais caminham
distante do que requer uma investigação. A mera publicação do rendimento da caderneta de
poupança, ou o boletim de trânsito das estradas são matérias típicas do jornalismo de serviço.
Essenciais para a sociedade, mas que não trazem atrás de si um fato maior que está sendo
ocultado da opinião pública, logo, não inferem numa investigação e num jornalismo de
profundidade.
A investigação busca “reconstruir” uma realidade que alguém ou algum grupo está tentado
ocultar. Por isso, a observação crítica na escolha do tema é de fundamental importância.
Abaixo, é listado o roteiro para a produção de uma reportagem investigativa. Como diz o
jornalista investigativo Antonio Carlos Fon, não existe uma fórmula pronta para se fazer
jornalismo investigativo. Além disso, cada profissional acaba desenvolvendo uma técnica
própria, mas estamos certos de que o roteiro abaixo será bastante útil na produção e êxito de
uma matéria investigativa.
9. 1) Escolha do tema
Pode surgir de uma maneira inusitada. Uma declaração na TV, uma reportagem incompleta,
um anota no jornal, enfim, tudo aquilo que desperte uma curiosidade. Por vezes, uma
informação mal-explicada pode ser o ponto de partida para uma reportagem investigativa. O
importante é observar atentamente o cotidiano.
2) Viabilidade da Reportagem
Verificar se existem documentos disponíveis ou fontes que possam ser acessadas. É
importante ainda verificar qual o tempo disponível para a realização da matéria.
3) Familiarização com o assunto
Esta fase envolve intensa pesquisa com o tema. Acesso a bancos de dados, coleta de recortes
em jornais e revistas que sirvam como subsídio para a investigação. Consultas à internet e a
fontes secundárias fazem parte ainda desta fase.
4) Plano de Ação
Organização minuciosa do material coletado e o planejamento da reportagem a partir de um
relatório de fontes são fundamental para uma boa investigação. Nesta fase é ainda importante
fazer um levantamento der custos e um cronograma de ações
5) Execução do Plano
É a realização das entrevistas e a consulta aos documentos
6) Avaliação dos resultados
Listagem de brechas que ainda não foram respondidas com as entrevistas até então feitas.
7) Finalização
Avaliação geral, redação aprimorada do texto, revisão e publicação
8) Repercussão
Acompanhamento e suíte do material publicado
10. PROCEDIMENTOS BÁSICOS PARA O JORNALISTA INVESTIGATIVO
Abaixo você pode observar a descrição de algumas técnicas utilizadas pelo jornalismo
investigativo.
1) Observação Direta
É a observação dos fatos. Fatos que rendam um aprofundamento. Deve-se sempre
procurar responder o “porquê” das coisas.
2) Infiltração
Técnica na qual o repórter se insere no contexto da reportagem, observando todos os
fatos ao redor.
3) Pesquisa
A pesquisa preliminar é fundamental para que o repórter possa dar profundidade ao
tema, e não se contente com respostas burocráticas que certamente cruzarão o seu caminho.
Regras fundamentais do trabalho de investigação:
- comprovar endereços e nomes corretos das pessoas e órgãos com os quais se fala
- selecionar e organizar sistematicamente recortes de jornais, revistas e dados obtidos pela
internet
- entender o funcionamento das instituições públicas e das grandes empresas
- jornalistas investigativos não cobrem coletivas e atos oficiais
- por trás de notícias simples do dia-a-dia podem estar temas de grande investigação