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O Sociocapitalismo




 Por um Mundo Melhor




    Paulo J F Valente
          2009
                        1
“Quem ama compreende; e
     quem compreende
  trabalha por um mundo
          melhor”

Francisco Cândido Xavier




  Dedicatória

 “Dedico este livro a todos os trabalhadores que de
         uma forma ou de outra trabalham para um
                                     mundo melhor”

                           Paulo José F. Valente
                                                  2
Índice



Apresentação                                                   Pag. 4

Cap. I – A Evolução Natural do Capitalismo                     Pag. 11

Cap. II – A Convergência: Capitalismo & Socialismo             Pag. 27

Cap. III – O Sociocapitalismo                                  Pag. 45

Cap. IV – Sociocapitalismo & Mundo Melhor                      Pag. 81

Cap. V – Conclusão                                             Pag. 116

    Anexo I – Pirâmide do Poder                                Pag. 121

    Anexo II – Sociocapitalismo: A convergência final do
              Capitalismo & Capitalismo                        Pag. 122
    Anexo III – Mandamentos do Cidadão Globalizado             Pag. 125

    Anexo IV – Principais Questionamentos a respeito do FCST   Pag. 126

Glossário                                                      Pag. 129

Referências Biográficas                                        Pag. 133

Bibliografia.                                                  Pag. 136




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Apresentação


A origem deste livro

  Após a década de 70, o mundo apresentava claros sinais de melhora no
seu conturbado quadro político-social. O presidente americano Jimmy Carter
que governou de 1977 a 1981, havia assinado o tratado de Salt-2 com a
antiga União Soviética e aquele era um acontecimento importante, pois
abordava a redução de armas nucleares entre as duas superpotências. O
tratado não era o melhor dos mundos, pois as armas nucleares ainda
continuariam existindo, mas a chance do mundo virar pó da noite para o dia
diminuiria consideravelmente.

  Carter, contrariando os governos republicanos anteriores, também
trabalhou intensamente em prol da abertura democrática na América Latina.
Tanto que em 1977, encontrou-se com o general Geisel, então presidente do
Brasil, para conversar sobre o processo de abertura democrática brasileira.

  Posteriormente, o presidente Geisel contrariando a cúpula conservadora
militar, conseguiu impor o general Figueiredo como o seu sucessor à
presidência da República.

  Figueiredo era o tipo militar que a mídia da época adorava debochar. Um
general intempestivo que chegara a dizer que preferia o cheiro de cavalo ao
“cheiro do povo”. Apesar de tudo, Figueiredo estava realmente determinado
à realizar a transição democrática brasileira e assim o fez, embora eu não
apostasse nenhum centavo nisso; pois aquela era uma época difícil e
obscura, onde os militares deitavam e rolavam; promovendo sumiço de
pessoas, censurando a imprensa, cerceando a liberdade de expressão e
inibindo iniciativas econômicas.

  Entretanto esse cenário negro e intolerável, não era característico só do
Brasil; em muitos outros países, sobretudo na América Latina, a situação era
idêntica ou até pior. Os ditadores latino-americanos de plantão perseguiam
seus inimigos comunistas e a sua “abominável” ideologia como o gato que
persegue o rato; sem trégua e sem perdão. Essa perseguição absurda
vitimou milhares de inocentes que pagaram com a própria vida, sem falar
dos outros tantos mais que ficaram órfãos ou traumatizados.

  Em contrapartida a “esquerda” belicosa que lutava por um ideal um tanto
obscuro, revidava praticando mais atentados terroristas, seqüestros e
intensificando guerrilhas. Como se jogassem gasolina na fogueira. E esse
quadro de exageros e intolerâncias de ambos os lados resultou nas
chamadas “guerras sujas”. Um “vale-tudo” de tentados à bomba, torturas,

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traições e mortes de inocentes. Sujeiras que as partes envolvidas
praticavam e escondiam.

  Na verdade as “guerras sujas” eram peças de xadrez do estratégico jogo
global da “guerra fria”. Expressão um tanto irônica utilizada para denominar
a disputa nervosa travada pela hegemonia militar entre a ex-União Soviética
e os Estados Unidos; superpotências que estavam sempre dispostas a
começar uma guerra nuclear preventiva, que poderia reduzir o mundo a um
monte de cinzas.

  Nesta queda de braços insana os Estados Unidos, que se considera “o
pilar da democracia mundial”, incoerentemente apoiava alguns ditadores
amigos com armas, dinheiro e informações. Por outro lado, a União
Soviética, que perseguia e controlava seus cidadãos com “punhos de ferro”,
fazia o mesmo apoiando ditaduras socialistas e grupos dissidentes
infiltrados nos países capitalistas. E como um cancro social maldito as
“guerras sujas” se espalharam para o mundo. Foi assim no Brasil, na
Argentina, no Chile e em outras partes do mundo.

  Pois bem, foi nessa época nebulosa da nossa história que entrei para a
faculdade de economia e, como todo jovem idealista procurei ler livros que
abordassem a temática da justiça social. Afinal, o que estava em jogo no
planeta naquela época, era a luta pela supremacia entre os dois sistemas
econômicos: o capitalismo e o comunismo; liderados pelos EUA e URSS
respectivamente e eu gostaria de saber qual se sairia melhor.

  O confronto capitalismo x comunismo estava mascarado por outros
diversos conflitos de interesses, como por exemplo; países do Norte contra
os do Sul, ricos contra os pobres, países desenvolvidos contra países
subdesenvolvidos, ou mesmo entre potências nucleares e países não
nucleares. Entretanto, em todas estas questões certamente a polaridade
capitalismo e comunismo estava diretamente envolvida.

  Lembro que os estudantes daquela época adotavam uma postura radical
sobre o assunto em questão. Ou eram pró-capitalistas roxos ou eram pró-
comunistas ferrenhos. Não havia meio termo. Felizmente procurei analisar
as coisas de modo mais isento possível; pois, por qualquer perspectiva que
se observasse o mundo, era possível notar mazelas provenientes do
capitalismo ou comunismo na política, na economia e em outros aspectos
sociais. De modo que era sempre possível culpar o lado inimigo pelos
problemas no mundo.

   Para tanto bastava verificar a história da época: a invasão da
Checoslováquia pela ex-União Soviética, as atrocidades que os americanos
cometiam no Vietnã e a atuação das ditaduras patrocinadas pelas potências
líderes.

                                                                          5
A história também registrou o triste massacre do povo cambojano no qual
o ditador comunista Pol Pot dizimou mais de um milhão de pessoas entre os
anos de 1975 e 1979.

  O massacre de civis ocorrido na Praça Celestial em Pequim, cometido
pelo regime comunista no ano de 1989; foi outro fato que também manchou
de vermelho a história da humanidade. E, o que dizer também da ditadura
cubana que mantém o povo prisioneiro e oprimido até hoje? Como se
percebe nestes casos é impossível separar a política da economia e a
economia da política.

  No Brasil, por exemplo, era fácil e conveniente culpar os Estados Unidos e
o Fundo Monetário Internacional por nossa monstruosa dívida externa e
pelo nosso atraso. No entanto os maiores culpados eram os nossos políticos
corruptos; que infelizmente ainda estão nas entranhas do poder até hoje.

  Longe das paixões radicais por um ou outro sistema econômico eu estudei
alguns dos principais economistas do planeta: Keynes, Marx, Hengel,
Samuelson, Milton Friedman, Joseph Stiglitz, Paul Krugman, Adam Smith,
Malthus, Ricardo, Amartya Sen, entre outros. Estudei também o pai da
administração moderna, Peter Drucker. Principalmente a sua obra – “A
Sociedade Pós-Capitalista”, escrita em 1993; que serviu como referência
para a elaboração deste livro.

  Na verdade, a idéia de escrever o livro germinou em minha mente nos
primeiros anos da faculdade; mais exatamente no dia em que participei de
um evento onde dois figurões da economia brasileira falavam a respeito da
gigantesca dívida externa brasileira e sobre os desequilíbrios das contas
externas do país, que naquela época apresentavam desempenhos
econômicos sofríveis. Aqueles “figurões” eram mestres renomados de
faculdades brasileiras e possuíam enfoques distintos da ciência econômica.

  O Primeiro figurão era o professor e doutor em economia João Sayad, da
Universidade de São Paulo - USP, escola que aos olhos dos alunos primava
pela “economia fria” dos números e dos seus resultados. O outro figurão era
o prestigiado professor e também doutor em economia Luciano Coutinho, da
Universidade de Campinas - Unicamp, instituição que leva em consideração
os seres humanos que estão por trás dos números da economia. Aí estava a
grande diferença aos nossos olhos. Para que serve a economia se os seres
humanos forem considerados um amontoado de números e cifras? E a
justiça social como fica?

  Depois de uma chuva de números, de diagnósticos e prognósticos da
economia brasileira, foi aberta a sessão de perguntas aos estudantes. E, eu
que intuitivamente buscava o entendimento entre os dois sistemas


                                                                          6
econômicos antagônico trilhando o “caminho do meio”; fiz a seguinte
pergunta para os palestrantes responderem:

  “Vocês diagnosticaram, citaram números essenciais e prognosticaram
  a respeito da economia brasileira, mas o Brasil é considerado uma
  Belíndia; um país misto da Bélgica desenvolvida e Índia
  subdesenvolvida. E digo que entra governo e sai governo, a política
  econômica continua a mesma e sempre servindo aos interesses da
  parte “belga” do país. Pergunto: o que se deve fazer para desenvolver
  a parte “Índia” do nosso país?”

  O sisudo Sayad entendeu a minha pergunta como uma crítica a ele e se
recusou a respondê-la; dizendo que a questão levantada não era tema da
palestra e passou a palavra para outro estudante. Todavia o professor
Luciano Coutinho interveio, comentando que a minha pergunta era muito
importante. Disse ele também que, em sua opinião, o governo não estava
fazendo muita coisa para desenvolver a parte atrasada do Brasil. Para
Coutinho o governo não se empenhava suficientemente para solucionar a
questão da miséria em que vive até milhões de brasileiros.

  Fiquei feliz com as palavras do professor Luciano Coutinho; contudo não
obtive uma resposta adequada de qual seria o “sistema político-econômico
ideal” para contemplar um desenvolvimento econômico-social justo e
sustentável: o capitalismo ou o comunismo? Essa era a questão crucial para
mim.

  Pensando melhor o professor Coutinho talvez não pudesse responder o
que me interessava. Pois o regime militar de coerção e censura ainda
imperava naquele tempo e muitas pessoas eram presas só por dizerem em
público coisas que desagradavam ao governo. Em todo caso, foi a partir
desse dia que me empenhei para descobrir as respostas que procurava.



As transformações globais

  Depois que me formei na faculdade de economia em 1984, muita água
passou por baixo da ponte. O mundo mudava e mudava rápido. Considerei
o ano seguinte como um marco positivo na história brasileira e mundial. Em
nossa terra os militares voltaram para a caserna e os civis assumiam a
presidência da república através de eleições democráticas. No exterior a
cortina de ferro, como era denominada a ex-URSS pelos seus inimigos,
iniciava uma reforma econômica através de recém empossado Mikael
Gorbachev, sinalizando que tempos melhores viriam.

  Entretanto em 1987 ocorreu a queda da Bolsa de Valores de Nova York,
quase superando o crash de 1929, fato que abalou o mundo indicando que
                                                                          7
algo estava errado com o capitalismo americano; considerado a vanguarda
do capitalismo mundial.

  A crise de 1987 também evidenciava o quanto o capitalismo global estava
interdependente e por isso era tão vulnerável; pois um espirro em um país
poderoso poderia transformar-se em uma pneumonia num país
subdesenvolvido. Revelava também a supremacia do capitalismo financeiro
e volátil sobre o capitalismo produtivo; e o quanto era perigoso essa
supremacia financeira especulativa. Esses fatos motivaram muitos
economistas a buscarem fórmulas para regulamentar as transações
financeiras internacionais, com o intuito de diminuir riscos e evitar
quebradeiras em cascata, o chamado efeito dominó.

  No entanto nem tudo foi ruim naquele ano de 1987; considerando-se que
os EUA e a URSS assinaram um tratado que previa a redução de seus
arsenais nucleares. Embora aquele tratado não fosse ideal, pois melhor
seria que acabassem de uma vez com todas as armas nucleares; mas era
um bom começo e a humanidade tinha essa percepção.

  Mais adiante, precisamente no ano de 1991, Gorbachev renunciou o poder
em meio a uma crise e este fato importante marcou a dissolução da URSS,
para a felicidade mundial. Daí para frente existiria apenas uma
superpotência hegemônica: os Estados Unidos da América. E isso não era
nada bom para a humanidade, pois o desequilíbrio de poder, conforme
demonstra a história, sempre aguça ganâncias e guerras. E isso ficou
claramente demonstrado, posteriormente, com as guerras do Iraque e
Afeganistão, que ainda hoje estão em andamento.

  A queda do império soviético e a supremacia incontestável americana
causaram uma euforia no mundo capitalista. Foi naquela época então que o
mago da administração moderna Peter Drucker lançou o livro – “A
Sociedade Pós-Capitalista”; onde mencionava como os fundos de Pensão
estavam revolucionando a América. Drucker escrevera com muita
propriedade que o capitalismo estava em processo de “metamorfose”; e que
“o capitalismo de poucos” transformava-se no “capitalismo para todos”.

  No outro lado do planeta, a China comunista que sabiamente fizera
algumas reformas econômicas importantes em 1978; transformando a sua
rígida “economia de planejamento central”, em uma “economia aberta e
orientada para o mercado”; com objetivo de alavancar a sua então
estagnada economia. Naquela altura começava a colher os frutos do
sucesso; desenvolvendo-se com impressionantes taxas de crescimento
anuais em torno de 10% ao ano, causando inveja em muitos países.




                                                                       8
Na realidade, a ousada transfusão do “sangue capitalista” para dentro do
sistema socialista possibilitou que a China voltasse a ser um gigante da
economia mundial, que todos respeitam e admiram.

  Ironicamente, quando a China comunista turbinava a sua economia,
convergindo para o “receituário capitalista”, implantando o “socialismo de
mercado”; os Estados Unidos convergiam para a chamada “socialização de
mercado” mencionada por Drucker; indicando assim que haveria uma
convergência entre estes sistemas econômicos. O quê me deixava perplexo
e com novos questionamentos em mente, imaginado como seria o futuro da
“sociedade pós-capitalista” mencionada por ele; onde dividir o capital entre
os trabalhadores seria corriqueiro e muito lucrativo.

  Paralelamente imaginava também o perfil do “pós-socialismo” da Rússia,
China e outros “países comunistas”, onde enriquecer tornara-se glorioso.
Neste contexto procurei estudar as transformações que ocorrem no mundo
após as grandes crises financeiras cíclicas, por conta do mundo globalizado;
imaginando os reflexos que teriam na convergência dos sistemas
econômicos.

  Entretanto faltava um modelo teórico que servisse de referência para
analisar essas transformações e explicar onde a convergência iria chegar. E
o pior, eu não conseguia encontrar nas livrarias algum livro que tratasse do
assunto. De modo que isso me instigava a desenvolvê-lo.

  Então, a partir das questões mencionadas acima, passei a trabalhar
intensamente na elaboração do modelo que, a partir da convergência final
entre o socialismo e capitalismo, fundamentasse o “pós-socialismo” e o
“pós-capitalismo”; como um sistema político-econômico único deste século
21.

  Para denominar o novo sistema político-econômico que desponta abracei
o termo “sociocapitalismo”. Não aquele pobre “socialismo de fundo de
pensão”, mencionado falaciosamente por Peter Drucker. Mas o
“sociocapitalismo verdadeiro”, que mistura acertadamente as boas práticas
do capitalismo e do socialismo.



Conteúdo do Livro

  Para apresentar o “sociocapitalismo” que surge no mundo para
transformar nossas vidas e contribuir para um mundo melhor; procurei
escrever este livro de modo claro, simples e sem muitos números
econômicos; para que pudesse atingir um público diferenciado: estudantes,
donas de casa, trabalhadores, professores, aposentados, empresários e
outros. Assim dividi o conteúdo do livro em cinco capítulos.
                                                                          9
No primeiro capítulo – “A Evolução Natural do Capitalismo”, abordo o
desenvolvimento do capitalismo, como um fruto da evolução natural de
outros sistemas econômicos que se sucederam ao longo da história da
humanidade.

  Trato também do aparecimento relâmpago do socialismo, que surgiu em
contraposição às injustiças do sistema capitalista. Mencionando a tensão
causada entre estes dois sistemas econômicos antagônicos; principalmente
no período da “guerra fria”; e as conseqüências nefastas que isso resultou
para o mundo.

  No segundo capítulo: - “A Convergência: Capitalismo & Socialismo”;
aponto as mudanças conceituais e práticas que ocorrem no capitalismo e no
socialismo, indicando que ambos convergem rapidamente para um novo
sistema político-econômico denominado sociocapitalismo. Principalmente
após o fim do império americano em 2007; que, por sua vez, possibilitou o
consenso entre as nações de que os “problemas globais exigem soluções
globais”, adotado pela ONU. Por todos esses motivos o sociocapitalismo
certamente prevalecerá na sociedade global do século 21; apoiado por uma
Nova ONU; poderosa, atuante e justa.

  No terceiro capítulo: - “O Sociocapitalismo”; menciono os fatos que
indicam que o sociocapitalismo verdadeiro desponta no mundo e que isso
trará prosperidade e justiça social para todos. Apresento também os
fundamentos do sociocapitalismo, que sem dúvida alguma revolucionará a
sociedade global do século 21.

  No quarto capítulo: - “Sociocapitalismo & Mundo Melhor”; abordo a
contribuição positiva que este sistema tem a oferecer para a humanidade.
Principalmente em termos de prosperidade, justiça social e desenvolvimento
sustentável global. Nesse capítulo menciono também o papel crucial que
este sistema terá para o surgimento de uma “Nova ONU”, mais justa,
representativa e atuante.

  Finalmente, no quinto e último capítulo, apresento a “Conclusão” sobre
o sociocapitalismo e a sua importante contribuição para a edificação da
Nova ONU, em busca de um mundo melhor para todos os habitantes do
planeta.




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CAP. I
                A Evolução Natural do Capitalismo

  O capitalismo não nasceu da noite para o dia, ele é resultado da longa
evolução de outros sistemas econômicos que o precederam ao longo da
história da humanidade. Por isso, as raízes do capitalismo atual estão
mergulhadas no início dos tempos, quando os humanos primitivos ainda
viviam nas trevas da ignorância e deixavam de ser nômades. Naquela
época obscura nossos antepassados produziam em suas próprias terras
tudo que necessitavam. Entretanto, com o passar do tempo, isso nem
sempre era possível; pois os bens que produziam eram escassos, mas as
necessidades humanas não possuem limites. Talvez por isso que a inveja,
um pecado capital citado na Bíblia, seja uma fonte poderosa de insatisfação
e infelicidade que atormenta o homem até hoje.

  Diante da limitação produtiva mencionada, os humanos da antiguidade
procuravam trocar o excedente de sua produção, por mercadorias
desejadas que pertenciam aos seus vizinhos. Foi dessa maneira que surgiu
o modo de produção mais antigo da humanidade, denominado escambo.

  Eram tempos difíceis aqueles do “escambo”, pois a moeda ainda não
existia e esse fato prejudicava bastante o comércio, gerando longas e
cansativas disputas com relação aos valores das mercadorias trocadas.
Imagine por exemplo, a dificuldade de trocar trigo por carneiro?

  Então, para facilitar a troca de produtos e mercadorias, os antigos tiveram
uma idéia brilhante e inventaram a moeda, que naquela época significava
dinheiro; pois o papel-moeda só foi inventado na China, milhares de anos
após o aparecimento dela.

  Na realidade a moeda foi uma idéia foi brilhante, pois além de facilitar as
trocas comerciais, ela possibilitava entesourar riquezas para uso futuro.
Antes do aparecimento delas era impossível um produtor de perecíveis,
frutas ou peixe, por exemplo, estocá-los como reserva de valor por um
período muito prolongado, pois tais produtos fatalmente apodreceriam.
Como a moeda é algo prático e que se pode estocar por um tempo
indeterminado, o seu uso se generalizou.

  Note que o dinheiro, a riqueza e a propriedade, que são instrumentos
comuns presentes no sistema capitalista, não são criações deste. De
qualquer forma, o comércio e a moeda foram importantes para o
desenvolvimento das antigas cidades como Babilônia, Tebas, Jerusalém,
Cartago, Atenas e Roma; que floresciam e prosperavam, impulsionando as
artes, as ciências e a civilização.


                                                                          11
Daquelas primeiras cidades que surgiram e prosperaram na terra,
originaram nações que utilizavam a agricultura e a criação de animais como
base de sua economia. De maneira que os campos eram tão importantes
para o desenvolvimento das cidades, que um ditado popular resumia o fato:

  “Se as cidades forem destruídas e os seus campos preservados, as
  cidades se reconstruirão. Porém, se as cidades forem preservadas e os
  seus campos destruídos, elas não sobreviverão.”

  Em que pese a grande importância da agricultura e da criação de animais
naquela época; nas cidades os artesões já produziam os mais variados
utensílios e ferramentas usados nas atividades domésticas, militares,
médicas, entre outras. Ocorre que esses utensílios fabricados demandavam
produtos minerais ou orgânicos que, por vezes, não eram encontrados no
país e precisavam ser importados de outras nações, e isso impulsionava
fortemente o comércio internacional e também as guerras. Na medida em
que o intercâmbio de mercadorias provocava fortes conflitos de interesses.

  A arqueologia moderna nos revelou que no Egito antigo e na Babilônia,
muitos séculos antes do nascimento de Jesus Cristo, já existiam verdadeiras
fábricas de produção em série, sobretudo de artefatos militares. E que os
trabalhadores também recebiam pagamentos pelos serviços realizados. Só
não se sabe ao certo, se existia naquela época a “divisão do trabalho”. Uma
peça importante que compõem o tabuleiro do capitalismo atual. Entretanto, é
muito provável que naquela época também existisse a “divisão de trabalho”,
dado que um artesão sempre deixava as tarefas menos importantes e
cansativas para seus aprendizes.

  O tipo de economia que predominou nas primeiras civilizações da Terra foi
denominado “modo de produção asiático”. Um sistema utilizado naquela era
bíblica de Faraós, imperadores e reis; que representavam o poder de Deus
na terra perante o povo; amparados por exércitos poderosos. Foi assim no
Oriente Médio, na Índia, China, África, Europa, e mesmo na América pré-
colombiana; sobretudo os impérios: maia, azteca e inca.

   Naquela época gloriosa em que os deuses poderosos governavam os
céus e “protegiam” os imperadores que governavam a Terra; existiam os
pobres camponeses; mantidos nas terras de propriedade desses
mandatários, em regime de “servidão coletiva”; que permitia que eles
tirassem da terra o seu sustento e da sua família. No entanto, o excedente
da produção era “tributado” pela nobreza. Assim, desse modo nada divino
de relacionamento social, o trabalho pesado do povo no campo sustentava o
luxo e a boa vida de nobres e sacerdotes que viviam nas cidades.

  Para piorar a situação dos pobres camponeses, eles também precisavam
sustentar os militares; e eles eram numerosos; pois quanto mais famosa era

                                                                          12
a cidade, maior cobiça suscitaria nos invasores e aventureiros que
buscavam espólios ou dominar o governo e o povo, a fim de receberem
tributos.

  Daí a necessidade das nações prósperas possuírem exércitos poderosos
para se defenderem. O lado negro dessa questão prática militar é o seu alto
custo, e o povo precisar trabalhar arduamente para pagá-lo. Deste fato
decorre um problema de difícil solução, que os estrategistas dos governos
devem considerar. Um exército subestimado é um perigo para a
sobrevivência da Nação; por outro lado um exército superestimado é um
desperdício que precisa ser evitado; porque alguém sempre paga a conta e
esse alguém é o povo; que em última instância pode se rebelar com a
situação e derrubar o governo. Então, a solução deste problema complexo é
achar o “tamanho” ideal das forças militares em termos de custo, técnica e
eficiência, e cuja manutenção não desagrade o povo.

  O fato é que o “modo de produção asiático”, com as suas imensas
comunidades agrícolas, sustentou o desenvolvimento das grandes cidades
no passado. E isso possibilitou o surgimento das primeiras sociedades de
classes; e da conseqüente tensão entre elas, já que a relação social
envolvia exploradores e explorados; com interesses distintos e conflitantes
em jogo. Séculos mais tarde o conflito entre as classes de exploradores e
explorados, de opressores e oprimidos, foi abordado com brilhantismo por
Karl Marx.

   Após o modo de produção asiático surgiu na Grécia outro sistema cujo
nome diz tudo: escravismo. E, curiosamente, lá também encontramos outra
raiz profunda do capitalismo, talvez o seu pilar mais forte: a democracia.
Ironicamente, naquele sistema político-econômico “suis generis”, a
“democracia” e o “escravismo” conviviam lado a lado. Para se ter idéia
dessa aberração que a história nos conta, 20 mil cidadãos livres, os que
tinham direito a voto na “democracia”; dominavam 400 mil escravos que não
possuíam direito a voto, assim como as mulheres dos cidadãos livres.

  Mesmo assim a Grécia dos famosos generais estrategistas soube muito
bem utilizar o poder de sua “democracia”, aliando-o ao trabalho escravo e
ao seu poderoso exército. Então logo dominou uma parte considerável do
mundo antigo e pode difundir a sua cultura, que atualmente constitui um dos
principais sustentáculos da civilização ocidental.

  A história nos conta também que os impérios não duram para sempre; e o
domínio grego não foi exceção. Ele foi sobrepujado pelo império romano e
isso ocorreu em duas etapas. Na primeira etapa Roma conquistou o domínio
do Mediterrâneo Ocidental, vencendo Cartago, então uma próspera cidade
fenícia no Norte da África. Isso ocorreu na terceira Guerra Púnica (150 –
146 a.C.). Na segunda etapa, Roma conquista o Mediterrâneo Oriental,
                                                                        13
vencendo sucessivamente, a Macedônia, Grécia, Síria, Ásia Menor,
Palestina e, finalmente, o Egito no ano 30 a.C.

  Lá por volta do século V d.C. surgiu outro sistema produtivo interessante
denominado feudalismo. E o que contribuiu para o seu surgimento foi a
destruição do império romano do Ocidente: como as inúmeras invasões
bárbaras e as más políticas econômicas implantadas pelos imperadores
romanos.

  Como resultado da queda império romano ocidental, a Europa passou a
apresentar baixa densidade populacional e pouco desenvolvimento urbano;
decorrentes das mortes provocadas pelas guerras, doenças e a insegurança
pública nas regiões debilitadas pela pobreza. Por conta desses fatores os
nobres romanos se afastaram das cidades, com medo de serem
escravizados ou saqueados. Na fuga eles levaram para lugares distantes os
seus servos e bens; contribuindo dessa maneira para o nascimento da
economia feudal do ocidente, fundamentada em uma economia auto-
suficiente, em que predominava a agricultura e a baixa circulação de
moedas.

  A espinha dorsal daquela sociedade feudal agrária era composta por três
grupos sociais: a nobreza, o clero e os camponeses. A nobreza era
constituída pelos senhores feudais, suas famílias e parentes, e eles
possuíam considerável poder político sobre as demais classes. Pois o rei
lhes concedia as terras, considerada a riqueza da época, e eles por sua vez,
em troca, juravam lealdade militar a ele. Por isso os senhores feudais eram
considerados “vassalos” do rei.

O clero exercia um poder político considerável, devido à religiosidade do
povo. Então, em nome de Deus e da fé popular, ele negociava o seu apoio
aos senhores feudais, para desestimularem revoltas populares contra eles;
que em troca o recompensava de diversas formas.

  A história demonstra que quando os poderosos confabulam; é sempre o
povo que sofre e paga a conta. De modo que os pobres camponeses,
considerados os “servos da gleba”, na condição de semi-escravizados,
precisavam trabalhar arduamente para sustentar a situação social opressora
que o feudalismo lhe impunha.

  O esquema opressor feudal funcionava da seguinte maneira. Em troca da
permissão do uso da terra e de proteção militar, os servos eram obrigados a
pagar diversos tributos. Se não bastasse isso, eram também obrigados a
prestarem serviços para a nobreza por alguns dias durante o ano.

  No feudalismo as terras dos senhores feudais eram divididas em três
partes. O manso senhorial, de uso exclusivo do senhor feudal; o manso

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servil - as terras arrendadas aos servos; e finalmente o manso comunal; que
eram terras comuns aos nobres e camponeses – os pastos, bosques e
florestas.

  Realmente não era fácil a vida para o povo naquela época, pois os servos
precisavam cumprir inúmeras obrigações que lhes custavam muito suor e
quando não, os olhos da cara. Para se ter noção do tamanho da exploração
a que os servos eram submetidos menciono algumas obrigações que eles
precisavam cumprir:

- Trabalhar compulsoriamente nas Terras do senhor feudal alguns dias da
semana.

−   Pagar pelo uso dos bens do feudo como: moinhos, fornos, celeiros e
    pontes.

−   Cada membro da família dos camponeses deveria pagar um imposto ao
    senhor feudal.

−   O servo deveria pagar 10% de sua produção (dízimo).

−   As pessoas livres, os chamados “vilões” que viviam nas vilas, deveriam
    pagar um tributo denominado “censo”.

−   Os servos e os vilões deveriam pagar aos senhores feudais para serem
    julgados nos tribunais dos nobres.

−   Quando um nobre ou o seu parente ia se casar, todo servo era obrigado
    a pagar uma taxa para ajudar no casamento.

−   O servo era obrigado a hospedar o senhor feudal e sua família se
    necessário.

  Com tantas taxas, impostos e obrigações, a ajuda que os nobres recebiam
do clero para manter o povo “cordeiro” era compreensível e útil. Mas, ainda
assim sempre havia uma tensão social latente entre os nobres e os
explorados servos da gleba.

  Com o passar do tempo, muitas cidades européias da Idade Média
tornaram-se livres do jugo da nobreza. Essas cidades eram denominadas
“burgos” e seus habitantes eram chamados de “burgueses”. Com o passar
do tempo os burgueses passaram a contar com o apoio do rei, e por isso
eles entraram em conflito de interesses com os nobres. Mais adiante na
história esses burgueses enriqueceram e começaram a explorar em larga
escala a mão-de-obra assalariada. Enquanto a nobreza, por sua vez,
entrava em decadência; o que não quer dizer que muitos capitalistas atuais
não descendam daqueles nobres, pois os ricos e poderosos sempre se
adaptam às situações conjunturais em qualquer época da história. Há de se
                                                                        15
considerar também que a “nobreza” ainda é uma realidade em muitos
países do mundo atual; sobretudo na Europa, onde ela possui grande
riqueza e muito prestígio social.

   Com a queda do feudalismo no século xv surgiu o absolutismo. Um
sistema político dominado por um rei poderoso e centralizador, apoiado
financeiramente por burgueses milionários, em substituição a decadente
nobreza. De certo que o absolutismo foi fundamental para o surgimento do
Mercantilismo, sistema esse fundamentado em atividades comerciais
agressivas e em larga escala que visava acumular ouro e prata. Pois os
mercantilistas acreditavam que a riqueza de uma nação dependia da
acumulação de metais preciosos, e que isso só ocorreria por meio de uma
balança comercial favorável. Assim, a política comercial mercantilista
procurava incentivar as exportações e restringir as importações. Entretanto,
a adoção dessa política gerava grandes tensões internacionais e muitos
conflitos armados. Em todo caso, o mercantilismo possibilitou a colonização
das Américas e de outras áreas do planeta. Mas para isso utilizou-se uma
antiga chaga da humanidade – o escravismo. Que fez sofrer bastante os
negros, índios e outros habitantes locais escravizados nas Américas e em
outras regiões do mundo.

  O mercantilismo escravagista possibilitou à Europa acumular as riquezas
provenientes das colônias existentes nas Américas, principalmente o ouro e
a prata, o que impulsionou a prosperidade européia e possibilitou o
surgimento do capitalismo devido a revolução industrial na Inglaterra na
segunda metade do século XVIII.

   Com a revolução industrial inglesa servindo de poderoso fermento, a
burguesia conquistou o topo da cadeia econômica. E o capitalismo pode
florescer de maneira avassaladora; promovendo um progresso material e
tecnológico sem precedente na história humana.

   O capitalismo pode ser analisado de óticas diferentes; capitalismo
comercial, capitalismo industrial ou capitalismo financeiro. De qualquer
forma, a busca do lucro máximo está presente em qualquer dessas óticas.
Porém, o boom das Bolsas de Valores verificado no mundo afora, sobretudo
após a segunda guerra mundial, promoveu uma concentração excessiva de
riqueza em poder do capitalismo financeiro, dominado pelos grandes
Bancos. E esse fator gerou graves distorções no comércio e na produção
mundial. A prova disso está na presente Crise Financeira Global atual, que
possui o “mérito” inédito de abalar tanto os países capitalistas quanto os
países considerados “socialistas”. E esse caos financeiro só foi possível em
decorrência da interdependência globalizada mundial. Tornando atualíssima
a citação de que “estamos todos em um mesmo barco”.


                                                                         16
As Crises do Capitalismo
  É bom que se diga que as crises econômicas e seus transtornos fazem
parte da história humana. Nenhum sistema econômico ficou imune a elas,
pois as suas causas são decorrentes de variados fatores como revoluções,
guerras, instabilidades sociais, revoltas religiosas, entre outros; que
acompanham o desenvolvimento humano desde os tempos imemoriais.

  Na Roma antiga, por exemplo, houve uma grande revolta contra o
escravismo, liderada por um gladiador de origem trácia de nome Spartacus
(120 a.C a 70 a.C); que ficou conhecida como “guerra dos escravos”. Sabe-
se que essa guerra foi para valer; pois Spartacus conseguiu liderar um forte
exército composto por mais de 100 mil ex-escravos, e não era para menos,
veja o que o escritor Plutarco mencionou sobre ele:

  "Spartacus era um homem inteligente e culto, mais helênico do que
  bárbaro".

  Entretanto, apesar da coragem inigualável e da grande inteligência
estrategista, Spartacus foi derrotado pelo exército imperial romano e a
escravidão continuou por muitos séculos mais.

  Em matéria de instabilidades e crises o capitalismo também não fugiu a
regra. Fato é que em 1873 houve a primeira grande crise capitalista,
também chamada de “longa depressão”, devido ao fato dela durar até o ano
de 1896. Pois bem, essa crise ocorreu com a quebra da indústria ferroviária;
que até então crescia em ritmo alucinante e proporcionava bons lucros.
Entretanto, quando o setor ferroviário se consolidou, houve uma quebra
brusca nos negócios que derrubou os preços e os lucros, o que levou muitas
empresas a falência. A quebradeira no setor ferroviário provocou um efeito
cascata que contaminou outros setores da economia; causando falências
generalizadas e desemprego em massa.

   O desastre provocado pela “longa depressão” foi grande. Das 364
empresas ferroviárias existentes nos EUA, 84 delas faliram. E a crise não
ficou restrita apenas ao solo americano; as economias da Inglaterra,
Alemanha e Itália foram gravemente afetadas. Como conseqüência nefasta
dessa quebradeira internacional; além do desemprego em massa e das
inúmeras falências da empresas, surgiu o capitalismo monopolista que
tentava a todo custo controlar a concorrência em prejuízo dos
consumidores.

  Outra grande crise capitalista ocorreu em 24 de outubro de 1929 - a
chamada “quinta-feira negra”, quando a Bolsa de Nova York quebrou,
provocando um estrago monstruoso.


                                                                         17
Naquele mês fatídico a bolsa de Nova York caiu 40%, causando uma
quebradeira em cascata, onde milhares de empresas ficaram arruinadas e
1/3 da população americana perdeu o seu emprego nos anos seguintes.

  Posteriormente a crise americana contaminou a Alemanha que se reerguia
da primeira guerra mundial, com dinheiro americano. A França por sua vez,
que recebia reparação de guerra alemã, também acusou o baque
americano.

  A “quinta-feira negra” também fez grandes estragos no Brasil, pois os EUA
eram grandes compradores do nosso café. Com o mercado americano em
crise a quantidade de café exportada caiu, fazendo despencar o preço deste
produto. A combinação perversa da redução na quantidade de café
exportada com a queda de preço afetou significativamente a economia
brasileira.

  Para combater a crise americana o governo daquele país implantou o
“New Deal”, um mega projeto econômico que buscava aumentar os gastos
públicos para gerar empregos e debelar a crise.

  No lado brasileiro o governo procurou comprar enormes estoques de café
para recuperar o seu preço. De modo que após a crise de 1929 o Estado
brasileiro se tornou mais intervencionista, com forte presença direta na
economia, sobretudo depois da criação da Indústria Siderúrgica Nacional e
a Petrobrás. Convém ressaltar que naquela época, por força das
circunstâncias econômicas, a intervenção do Estado na economia tornou-se
um fenômeno mundial.

  Mais adiante na linha do tempo ocorreu em 1973 o famoso “Choque do
Petróleo”, quando o preço desse produto disparou no mercado internacional,
afetando quase todas as economias mundiais; já que a nossa civilização é
extremamente dependente desse produto. Fazendo efeitos perversos
secundários afetarem economias poderosas como os EUA, Europa, e Japão
por conta da inflação que disparou, afetando significativamente o comércio
internacional.

  Como desdobramento positivo da crise petrolífera no Brasil, o governo
brasileiro procurou por fontes alternativas de energia e acabou criando o
pró-álcool; o que impulsionou a indústria automobilística brasileira a produzir
motores mais econômicos.

  O Japão, que também depende bastante do petróleo importado, decidiu
investir na indústria eletrônica; para produzir produtos de elevado valor
agregado destinados para a exportação, na intenção de realizar superávits
com o comércio exterior e assim promover a prosperidade para o seu povo.


                                                                            18
Em 1987 ocorreu outra grande crise no capitalismo financeiro; quando o
índice Dow Jones da Bolsa de Nova York registrou a maior queda da sua
história. Em um único dia o índice Dow Jones, que é grande importância
para o mercado financeiro mundial, despencou 22,6%. Mas o que teria
causado essa queda brusca traumática?

  Na realidade ocorreu uma combinação de três fatores potencialmente
perigosos: a desaceleração da economia, a desvalorização do dólar e o
temor de inadimplência dos empréstimos bancários. Esses fatores
combinados causaram pânico no mercado americano e contaminaram a
Europa e o Japão. Em conseqüência desse pânico generalizado, o Brasil
quebrou e por isso foi obrigado à suspender o pagamento da dívida externa.

  Daí para combater essa crise financeira colossal, os Bancos Centrais do
mundo todo rapidamente baixaram as taxas de juros, para que os negócios
voltassem ao normal, o que acabou ocorrendo. Não antes de nos legar uma
grande lição, pois ela demonstrou o potencial de rápido contágio no
mercado financeiro globalizado; até então negligenciado.

   Uma década depois, mais precisamente no ano de 1997, aconteceu a
crise da Ásia. E tudo começou com um rápido processo de fuga de capitais,
combinado com uma desvalorização cambial; ocorrido entre os chamados
tigres asiáticos: Tailândia, Coréia do Sul, Hong-Kong, Indonésia, e Filipinas.
Então o mercado mundial entrou novamente em pânico, pois aquele
mercado era considerado sólido e confiável; causando a derrubada das
bolsas de Valores do mundo inteiro. No entanto, o Brasil conseguiu sair
relativamente incólume dessa crise.

  Como reflexo da crise asiática os preços das mercadorias desabaram no
mundo todo. O que afetou profundamente a Rússia no ano de 1998, já que
ela era muito dependente das exportações de commodities como o gás
natural e petróleo. Então o governo russo que fora bastante prejudicado pela
queda dos preços internacionais, acabou dando calote na sua dívida externa
privada de curto prazo. Essa medida drástica assustou os investidores
internacionais e eles passaram a evitar os mercados emergentes.

  Após ter passado a crise asiática sem ter sentido os seus efeitos, o Brasil
foi afetado em cheio com o abalo russo; e precisou enfrentar uma séria crise
de fuga de dólares. Porém o governo brasileiro agiu rapidamente para evitar
o pior, elevando a taxa de juros para um patamar estratosférico de 45% ao
ano, no início de 1999. Um “remédio” amargo que o povo brasileiro está
sentindo os seus efeitos colaterais até hoje. Como o mal nunca vem só, as
autoridades monetárias da época foram obrigadas a desvalorizar o Real,
que até então mantinha paridade com o dólar, fazendo assim uma medida
traumática para as contas públicas brasileiras.

                                                                           19
Prosseguindo na linha do tempo das crises capitalistas, em março de 2000
estourou a “bolha da internet”. A história dessa crise é simples. As empresas
de alta tecnologia cresciam rapidamente desde 1995 e por isso tinham os
preços de suas ações supervalorizadas. Até que um dia os preços dessas
ações despencaram e causaram uma grande quebradeira. E foi um estrago
bastante grande. Pois ao final de 2000 as empresas já haviam perdido US$
1,7 trilhão em valor de mercado de suas ações. E inclusa no pacote das
muitas empresas que faliram devido ao estouro daquela “bolha”, estava a
Worldcom, considerada a maior falência da história dos EUA até então.

  O ano de 2001 foi um marco para a história mundial, por conta do ataque
terrorista às torres gêmeas do World Trade Center e de outros centros
estratégicos dos EUA. De fato esse atentado terrorista condenável
conseguiu abalar a credibilidade americana aos olhos do mundo ao vivo
pela televisão. E isso era tudo que os terroristas desejavam.

   Como resultado direto desse ataque, na semana sequinte houve uma
queda violenta no índice de ações da Bolsa de Nova York. Com isso os
investidores perderam montanhas de dinheiro. Algo em torno de US$ 8
trilhões, ou 10% do total do mercado de ações.

   No ano de 2007 ocorreu a “crise imobiliária dos EUA”, também chamada
de “crise de crédito ou de liquidez”. E ela rapidamente ultrapassou as
fronteiras do país; e se transformou no monstro atual, que é a “crise
financeira global”. A maior já ocorrida após a “grande depressão de 1929”.

  Sabe-se que grandes incêndios começam por pequenas fagulhas, de
modo que um dos componentes dessa crise foi a política de crédito
abundante posta em prática pelo presidente Bush (o filho), para reaquecer a
economia traumatizada pelos atentados de Osama Bin Laden aos EUA. O
que aconteceu daí em diante foi uma verdadeira corrida dos americanos
para tomarem empréstimos baratos e comprar imóveis com base em
hipotecas. E como os bancos americanos foram bastante generosos nos
empréstimos, eles fizeram vistas grossas quanto aos riscos de
inadimplência dos clientes. No entanto esse procedimento equivocado
custou caro para os EUA e para o mundo.

  Voltando aos empréstimos imobiliários, a legislação americana é rígida e
caso o tomador de empréstimo não pague a hipoteca, ele perderá o imóvel.
E foi justamente isso que ocorreu em massa naquele ano negro de 2007,
quando os preços dos imóveis despencaram, obrigando milhares de
americanos a darem calote nos empréstimos contraídos com os bancos.

A onda de inadimplência generalizada provocou fortes prejuízos nos bancos
americanos, culminando com a quebra do Lehman Brother, um dos maiores
daquele país. Daí em diante a quebradeira de empresas americanas logo se

                                                                          20
espalhou no mercado mundial; consolidando assim uma crise de “falta de
confiança” no sistema financeiro internacional. Com isso os resultados
catastróficos logo apareceram, quando os bancos sólidos e temerosos,
enxugaram o dinheiro do mercado, empurrando o grave problema de
liquidez para outros setores da economia. Fato este que demandou
intervenções governamentais urgentes, para que o sistema financeiro
internacional não fosse para o fundo do poço.

  As intervenções governamentais nos EUA e em grande parte de países
capitalistas desenvolvidos formaram uma onda de estatização sem igual na
história do capitalismo moderno. Para se ter uma pequena idéia dessa onda
estatizante, o governo americano possui 60% do capital acionário da
companhia automobilística General Motors; já no Bank of América ele possui
50% e no Citigrooup 36%.

  A esta altura você já deve ter percebido que esta crise global é bem
diferente das crises anteriores, e que o capitalismo está mudando a “olhos
vistos”. Então você poderá até questionar a afirmação do ex-ministro
brasileiro Delfin Neto que mencionou:

  “Os mercados emergem melhores e mais eficientes a cada crise.”

  Naturalmente a afirmação do ex-ministro Delfin Neto não é totalmente
falsa e nem totalmente verdadeira, considerando-se a magnitude
transformadora que a presente crise global está proporcionando, utilizando-
se de estatização e regulamentações comerciais e econômicas que
alterarão o perfil do capitalismo para sempre.

  De qualquer modo, em que pese os tristes transtornos provocados pela
crise financeira capitalista, ela certamente aperfeiçoará o mercado, pois ele
é insubstituível. Entretanto, daqui para frente ele não será mais “o todo
poderoso”.



A verdade sobre as Bolsas de Valores
  Com a crise global na pauta do dia não são poucos aqueles que criticam o
papel das Bolsas de Valores, rotulando-a de grande vilã do cruel jogo
especulativo capitalista, no qual milhões de investidores perdem verdadeiras
fortunas da noite para o dia. E isso é verdade, mas apenas parte da
verdade; pois as Bolsas de Valores possuem um papel muito mais
importante e que vai além do pretenso cassino; que é o de promover a
eficiência dos mercados, quer sejam eles produtivos, financeiros ou
econômicos. Trata-se de um papel imprescindível para a geração,


                                                                          21
acumulação, controle e distribuição de riqueza; da qual todos se beneficiam:
investidores, tomadores de recursos, governo e o povo.

  No mundo atual são as Bolsas de Valores as grandes fontes dos recursos
que promovem o progresso sócio-econômico global. Portanto, é difícil
imaginar um mundo sem elas, tanto é verdade que a China está utilizando o
inovador “socialismo de mercado” para promover o seu progresso.

  As razões que transformaram as Bolsas de Valores nas grandes fontes de
recursos que promovem o progresso material são simples: primeiramente
pelo fato de que para o tomador de recursos financeiros o custo de capital
muito é mais baixo se comparado aos Bancos. Em segundo lugar, para o
emprestador de recursos financeiro (o investidor) há sempre a possibilidade
de que ele realize lucros tentadores nesse atraente “jogo de mercado” que
as Bolsas proporcionam. Assim, esses mecanismos de atratividade
conferem a elas um dinamismo especial, que certamente contribui para
impulsionar o progresso produtivo e social daqueles países que a possuem.

  Convém ressaltar que o “jogo de mercado” é para profissionais
experientes, isso não significa que um investidor leigo e com poucos
recursos não possa participar dele, pois a internet possibilita o acesso de
milhões de pequenos investidores às Bolsas. Em todo caso eles devem ser
assessorados por pessoas experientes do meio financeiro, para não
perderem dinheiro. É só isso.



O nascimento do Socialismo
  A revolução industrial e o capitalismo tornaram-se os meios mais eficientes
e eficazes de gerar riquezas e promover a prosperidade na história da
humanidade. Para onde quer que você olhe, pode observar invenções
advindas da parceria de sucesso que foi a revolução industrial e o
capitalismo: computadores, lâmpadas elétricas, geladeiras, televisão,
cinema, carro, aviões, trens e tudo mais. Entretanto, você saberia citar
alguma invenção importante advinda do sistema socialista, a não ser o
satélite Sputnik?

  Mas nem tanto ao céu e nem tanto a terra, de sorte que o nascimento do
capitalismo, em que pese os seus sucessos materiais, não foi tão glorioso
como se possa imaginar. Devemos considerar o fato de que os
trabalhadores nos primórdios do capitalismo também eram espoliados, tanto
quanto os trabalhadores dos outros sistemas econômicos anteriores. Pois
trabalhavam o dia inteiro e ganhavam pouco, seus direitos eram limitados e
não podiam fazer greves. Nas fábricas, muitas das quais insalubres,
trabalhavam até as crianças; e por ai vai.

                                                                          22
Foi neste ambiente duro para as classes trabalhadoras que Karl Marx
escreveu em 1867 o livro intitulado “O Capital”; onde fez críticas
contundentes ao sistema capitalista. No livro Marx faz um correto
diagnóstico da problemática do capitalismo; centrada na exploração da
classe proletária (os trabalhadores assalariados) pela burguesia (os
capitalistas). E ele foi brilhante ao afirmar que “toda riqueza provém do
trabalho”. Alguém poderia refutar essa afirmação, sem utilizar Deus em sua
argumentação? De forma que, segundo ele, a exploração capitalista se dá
através da apropriação do excedente do valor gerado pelo trabalho, em
relação ao valor pago para os trabalhadores na forma de salários. A esse
valor excedente, Marx denominou “mais-valia” – o lucro do capitalista, do
qual os trabalhadores são excluídos injustamente até hoje, em que pese os
avanços nas condições de trabalho e nas leis trabalhistas. E isso
obviamente precisa ser mudado.



O Socialismo na prática

  A experiência socialista na prática começou na Rússia através de uma
revolução sangrenta; que em 1917 tirou do poder do Czar Nicolau II; ainda
em meio à primeira Guerra Mundial. De fato os exércitos do Czar não
estavam atuando de maneira satisfatória na guerra e isso gerou um grande
descontentamento popular contra o seu governo; colaborando para que os
socialistas a conquistassem o poder.

  A vitoriosa revolução socialista de 1917 na Rússia levou Lênin, Stalin e
Trostsky ao poder, dando início a uma “ditadura de partido único” e culminou
com a formação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS.
Certamente um período negro da história socialista, sobretudo após a morte
de Lênin; quando Stalin assumiu o poder. Pois o seu governo foi marcado
por corrupções, perseguições, mortes aos inimigos políticos; além do mais
proibiu os cidadão de deixarem o país. O próprio Trotsky precisou fugir
desse regime insano para o México e lá foi assassinado, provavelmente por
agentes secretos de Stalin. Calcula-se que milhões de soviéticos morreram
sob o regime negro de Stalin. Por conta de tudo isso a URSS foi apelidada
de “cortina de ferro”.

  Os revolucionários comunistas desejavam aplicar na prática o que Marx e
outros socialistas pregavam em teoria, ou seja, que os meios de produção
deveriam pertencer ao Estado. Dessa maneira a relação de explorados e
exploradores, a chamada “luta de classes”, seria extinta. Entretanto, as
mazelas que estavam ocorrendo na URSS e em outros países socialista
indicavam que algo não ia bem; conforme diz o dito popular: “na prática a
teoria é outra”. Mas o que teria dado errado?

                                                                         23
Causas do Fracasso do Socialismo

  Entre a teoria e a prática há um abismo a ser transposto; pois a realidade
nem sempre é o que imaginamos. Por isso que as ciências necessitam de
comprovações e de explicações lógicas. De maneira que o capitalismo
surgiu como uma evolução natural de outros sistemas que o precederam no
tempo, e por isso ele passou pelo crivo da experiência prática, que só o
tempo permite comprovar e melhorar. Diferentemente o socialismo surgiu
como uma ideologia que se opunha ao capitalismo selvagem, que se iniciara
com a revolução industrial inglesa, em que os ricos capitalistas levavam
vantagem sobre as classes trabalhadoras, ficando com a riqueza excedente
produzida pelo trabalho assalariado.

  Os revolucionários socialistas tomaram o poder na Rússia para mudar
essa realidade. Então confiscaram à força as propriedades privadas;
valendo-se da ditadura de partido único, dotada de uma poderosa estrutura
governamental repressora; com “direito” a campos de concentração na
Sibéria, perseguições e fuzilamentos sumários de opositores ao governo.

  A gloriosa revolução socialista que havia começado para defender os
direitos do povo, havia se voltado contra ele de forma brutal. Demonstrando
que na prática o discurso governamental socialista era bem diferente, o que
causou profunda insatisfação popular.

  Após o ano de 1917 a ditadura soviética se consolidou, com as
propriedades rurais e fábricas passando para o controle governamental, que
obviamente causou resistências por parte dos antigos proprietários. De
maneira que nos anos posteriores essa “resistência” causou a morte de
milhões de pessoas, além de milhares que foram presas e enviadas para a
Sibéria como bem retratou Solzenizin em seu livro “Arquipélago Gulag”.

  Se não bastasse as violentas perseguições políticas os comunistas se
voltaram contra a religião. Então passaram a perseguir os religiosos de todo
o país como o diabo persegue as pobres almas. Naquela época obscura e
retrógrada, muitas Igrejas foram fechadas ou destruídas. Entretanto o povo
soviético que é muito religioso, jamais abdicou de sua fé, e os cultos
continuaram sendo realizados na clandestinidade, como o foram nos
primórdios do cristianismo.

  Com a estatização generalizada o estado soviético passou a controlar
toda a produção de bens e serviços. E a partir daí o sistema socialista
começou a revelar na prática os seus graves defeitos. Principalmente pelo
fato de que o “planejamento global” realizado pelo governo ditatorial dava
ênfase a produção de armas, em detrimento aos produtos que a população

                                                                         24
realmente necessitava, como alimentos industrializados, remédios,
eletrodomésticos e outros artigos. Então neste período ocorreu uma
escassez generalizada de bens; forçando a população à enfrentar longas
filas para se comprar algo; principalmente caso fosse pão e carne.

  Paralelamente as agruras em que o povo soviético vivia por conta dos
desvios produtivos, a nomenklatura enriquecia desproporcionalmente. Para
piorar as coisas, aquela classe não enxergava um palmo além do seu nariz
que não fossem os seus próprios interesses particulares. Dessa maneira
patética a nomenklatura conseguiu a proeza de substituir com “ineficiência
espantosa” a tão odiosa classe burguesa. Como diz o ditado popular: “não
há nada tão ruim que não possa piorar”, de modo que a nomenklatura
conseguiu a proeza de ser pior para o povo soviético do que a própria
burguesia capitalista do regime czarista. E foi este ponto central que
posteriormente levou o socialismo a se aproximar do capitalismo.

  No cômputo geral os principais resultados negativos obtidos com a
estatização dos meios de produção na ex-URSS e em outros países
socialistas foram os seguintes:

     −   Ineficiência produtiva;

     −   Escassez e baixa qualidade de produtos e serviços;

     −   Extinção do dinamismo empreendedor;

     −   Baixa produção tecnológica e científica;

     −   Baixa competitividade produtiva e comercial; e

     −   Obsolescência do parque industrial.

   Certamente podemos resumir as causas do fracasso socialista em três
itens:

   1 - A ditadura de um partido único, que jamais corresponderá aos
        anseios populares. O comunismo pode ter sido relativamente útil
        para tirar os países socialistas do atraso do passado, mas não será
        útil para inseri-los no progresso futuro.

   2 - A estatização generalizada foi inadequada e não conseguiu elevar o
       padrão de vida da população. Por conta disto houve posteriormente
       uma desestatização seletiva em muitos países comunistas.

   3 - O sistema socialista não solucionou o conflito de classes, apenas
       mudou o seu tipo.        A classe burguesa que explorava os
       trabalhadores foi substituída de modo pior pela nomenkatura.
       Portanto esse tipo de exploração ainda continua em países

                                                                        25
socialistas, como a China, em que pese o seu expressivo “sucesso”
       vem alcançando no cenário político-econômico mundial.

  Em razão desses fracassos mencionados, as economias socialistas
adotaram certas práticas capitalistas, como a de Bolsas de Valores, a
propriedade particular e economia de mercado. Questões estas que serão
convenientemente abordadas no próximo capítulo.




                                                                      26
CAP. II
           A Convergência: Capitalismo & Socialismo


  Após a segunda Guerra Mundial os Estados Unidos da América surgiram
com a maior potência militar e econômica do planeta. Claro, a Europa
estava devastada pela guerra insana de Hitler. O Japão estava aniquilado e
seu povo sentindo os efeitos catastróficos que as duas bombas atômicas
fizeram nas cidades de Hiroxima e Nakasaki. Uma barbaridade que
considero um verdadeiro holocausto do povo japonês e pelo qual os EUA
precisam se desculpar. A Rússia também estava com suas cidades
destruídas e o seu povo lamentava os seus vinte milhões de mortos durante
a guerra.

  Por outro lado na América não havia caído uma única bomba. O povo
americano não sentiu na pele as crueldades da guerra; quando um inimigo
externo destrói cidades inteiras e matam mulheres, crianças e velhos como
ocorreu na Rússia, ou quando bombardeiam cidades dia e noite, como
ocorreu em Londres; ou mesmo em Dresden – Alemanha, onde as bombas
incendiárias aliadas fizeram mais de cem mil vítimas civis em menos de uma
semana.

  Por conta da preservação de seu território e de seu povo, os EUA se
transformaram em um porto seguro para capitais do mundo todo. E não foi
só o dinheiro que fluiu para lá. Pessoas importantes e cientistas, a exemplo
de Einstein, também foram atraídos; impulsionando ainda mais a vibrante
economia americana.

  No jogo sujo da guerra há sempre um país beneficiado, e a segunda
grande guerra mundial beneficiou claramente os Estados Unidos. Dela ele
saiu rico, fortalecido e como o maior defensor do mundo livre. Pois quem
ousaria desafiar os Estados Unidos abertamente, depois de Hiroxima e
Nagasaki?
Com um ambiente interno sereno e próspero, as empresas americanas
puderam se espalhar pelos quatros cantos do planeta. E o mesmo ocorreu
com suas bases militares; símbolos máximos do poderio econômico
americano.

  Foi neste contexto militarizado do pós-guerra, que os militares radicais que
transitam com desenvoltura no poder americano, conceberam um complexo
e engenhoso plano estratégico; que visava provocar uma corrida
armamentista com a URSS. A idéia central do plano era simples. Sendo os
EUA mais forte economicamente, ele poderia desenvolver armas

                                                                           27
estratégicas poderosas e caras. Logicamente a URSS não gostaria de ficar
para trás nessa corrida, e também procuraria desenvolver outras armas
igualmente poderosas e caras. Até que em um dado momento, a fraca
economia da URSS entraria em colapso, e sacrificaria ainda mais o seu
sofrido povo. Então ele se revoltaria e derrubariam os comunistas do poder.
Este era o resultado planejado e esperado pelos americanos.

  O plano foi adiante pois contava com apoio dos bilionários capitalistas da
indústria militar, que comandava um poderoso grupo de pressão política no
Congresso. E conforme previsto a URSS mordera a isca, pois os seus
dirigentes consideravam EUA perigosos, dado que haviam utilizado bombas
atômicas no Japão matando milhares de com mulheres, velhos, crianças e
tudo mais. Barbaridades que são responsáveis pela desconfiança que o
mundo tem a respeito dos EUA até hoje.

  Com o passar do tempo, o plano americano de corrida armamentista
utilizado no governo do presidente Ronald Reagan; se provou eficiente e
acabou dando certo. A economia soviética que já capengava, perdeu o
fôlego no governo de Mikael Gorbachev. Então em 1987 ele sabiamente
iniciou algumas reformas econômicas para salvar a integridade da URSS.
Mas mesmo assim, as coisas ainda continuaram ruins. Até que no ano de
1991, Gorbachev renunciou o poder. E esse ano foi um marco histórico
mundial muito importante; pois marcou a extinção da URSS e o surgimento
de uma única superpotência hegemônica, os Estados Unidos da América.

  Apesar do grande progresso militar e econômico americano o mundo
trabalhava em silêncio. A economia japonesa rapidamente se recuperou no
pós-guerra e passou a ser a segunda economia do mundo. Por sua vez, a
Europa também se recuperou e se uniu formando a “comunidade econômica
européia”; com direito a uma moeda única denominada Euro e a um
passaporte comum para seus cidadãos. Poucos acreditavam que a
comunidade européia desse certo, por conta das enormes diferenças
culturais, mas realmente deu.

  Então, com a recuperação da Europa e do Japão, houve um o acirramento
da “guerra comercial internacional”. Fato que causou o milagre de unir ainda
mais os europeus contra o poderio econômico dos EUA e Japão;
principalmente com a entrada de países do leste europeu para comunidade
econômica européia.




                                                                         28
O Socialismo de Mercado

  Do outro lado do mundo, a China comunista prudentemente havia iniciado
importantes reformas econômicas em 1978; implantando o “socialismo de
mercado”, fazendo assim uma grande virada filosófica na ideologia
socialista, que posteriormente se mostrou acertada. Pois como disse Deng
Xiao Ping, “não importa a cor do gato, desde que ele pegue o rato”;
significando que a China convergia para algumas práticas de sucesso
adotadas pelo Capitalismo, como a inclusão das Bolsas de Valores para
intermediar investimentos e negócios. Ela passou também a aceitar
investimentos de risco estrangeiro e a permitir a remessa de lucros para o
exterior. Reconheceu a importância da propriedade privada e outras
disposições capitalistas.

  O certo é que essas reformas econômicas funcionaram, e a China passou
a desenvolver-se rapidamente; com taxas de crescimento em torno de 10%
ao ano, algo sem similar no planeta.
O sucesso que China vem obtendo na economia e na política, aliado ao seu
grande mercado interno composto de 1,3 bilhão de pessoas, tornaram-na
no mais importante pólo de atração empresarial mundial. Do qual nenhum
capitalista de visão pretende ficar fora, pois o progresso lá é tão espantoso,
que as projeções econômicas indicam que a China será a primeira potencia
econômica em 2030.

Vulnerabilidades da China socialista

  Todo gigante tem o seu “calcanhar de Aquiles”, o colosso chinês não
poderia ser exceção. A China é um gigante vulnerável porque não tem
democracia. Por isso pode tropeçar a qualquer instante e causar grandes
transtornos estragos para o seu próprio povo e para a comunidade
internacional.
  Os regimes ditatoriais a exemplo do o chinês é um fardo pesado para o
povo, que um determinado dia pode se cansar dessa situação e se rebelar;
fato que causa uma preocupação constante para mundo. Afinal os ditadores
nunca possuem boas intenções, nem para com o seu próprio povo e nem
com os seus vizinhos. A história comprova isso.

  Pensando nessas questões 300 intelectuais chineses lançaram a “Carta
08” na internet, que posteriormente ganhou mais 8.000 assinaturas. Na
realidade trata-se de um manifesto importante na medida em que propõe
mudanças fundamentais na política chinesa.



                                                                           29
Na prática, caso essas sugestões sejam adotada, certamente resultaria no
fim da tirania do partido comunista daquele país. Pois entre as mudanças
propostas estão eleições diretas, pluripartidarismo, divisão de poderes e
liberdades religiosa, de manifestação, de associação e de expressão.

  A “Carta 08” apresenta o retrato fielmente o “calcanhar de Aquiles” da
China. E nem preciso dizer que os seus signatários foram cruelmente
perseguidos; principalmente Gao Zhisheng, o advogado que ficou famoso
defendendo os membros da seita religiosa Falun Gong e cristãos. Mesmo
sendo perseguido pelas autoridades chinesas, Zhisheng está cotado para
ganhar um prêmio Nobel da Paz por causa de sua correta atuação política.

  Como se não bastasse a tirania que o governo chinês submete o seu
povo, ele faz o mesmo com povo tibetano. Pois o Tibet, que é um país
altamente religioso e que está encravado nas montanhas do Himalaia, que
possui imensas riquezas naturais; razão fundamental para que a China o
ocupasse a força em 1954.
A ocupação do Tibet pelas “forças materialistas chinesas” foi tão brutal que
ocasionou a destruição de muitos templos budistas e perseguição de
milhares de sacerdotes. Obrigando que o líder máximo daquele país, o
Dalai-Lama, fugisse para a Índia, onde reside até hoje com a sua corte. Nas
palavras recentes do Dalai:
   “O Tibet vive o inferno na Terra sob o controle de Pequim”.

O Sucesso corporativo do Oriente

  Uma grata surpresa que ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, mais
precisamente entre a década de 1960 e 1990, foi o surgimento dos
chamados “tigres asiáticos”: Coréia do Sul, Formosa, Hong-Kong e
Cingapura.

  A palavra tigre lembra “garra e agressividade” e a idéia é essa mesmo, já
que esses países adoram uma postura agressiva na industrialização e no
comércio internacional. Para concretizar os seus objetivos os tigres asiáticos
adotaram uma estratégia simples visando alavancar suas economias: mão-
de-obra barata e disciplinada, fortes incentivos para a atração de capital de
risco estrangeiro, isenção de impostos e finalmente, o baixo custo para
instalar empresas. E, convém destacar que essa estratégia foi seguida a
risca pelo governo e empresários. O que resultou em um mega sucesso
planetário.

  Parte do sucesso dos “tigres' é também explicado pela economia
japonesa; em expansão acelerada e que foi crucial para criar um
dinamismo asiático sem igual. O sucesso do Japão além de servir de
                                                                           30
exemplo alavancou o desenvolvimento dos “tigres asiáticos”. Pois o Japão
firmara acordos de parcerias empresariais e comerciais aquele bloco.
Dos países que compõem os tigres, o sucesso mais marcante foi o ocorrido
com a Coréia do Sul; que na década de 1960 era um país relativamente
pobre. Atualmente a Córeia do Sul é um gigante econômico que possui
conglomerados econômicos famosos, como a Sansung, LG e KIA; que
estão presentes em todo o planeta.

   Fato é que o Japão, a China continental e os “tigres asiáticos”
transformaram a Ásia num centro importantíssimo de produção industrial em
escala planetária. Isso vem atraindo montanhas de dinheiro em capital de
risco do restante do mundo; alterando significativamente o fluxo e a
composição do comércio internacional. No entanto, será que esse sucesso
todo estará de fato beneficiando os trabalhadores como propunha Marx? Na
verdade não está e mais adiante comentarei a causa.

  Voltando nossa atenção no “sucesso asiático”, existem outros fatores que
também explicam o atual boom da região. O primeiro deles é a existência de
Estados centralizados e por vezes ditatoriais, que realizam investimentos
em infraestrutura e educação, visando atrair o capital de risco estrangeiro.
Outro fator importante a ser considerado no sucesso asiático refere-se à
distribuição da renda daqueles países, que é mais equilibrada em relação a
outros, e por isso atraente aos olhos dos investidores internacionais.
É importante ressaltar que os trabalhadores asiáticos possuem pouca
proteção social, férias reduzidas, salários aviltados e fazem excessiva
jornada de trabalho. Fatores estes que compensam a escassez de matérias
primas daqueles países, e que precisam ser importadas em larga escala.

 A aviltada remuneração dos trabalhadores asiáticos é um exemplo claro
da exploração trabalhadores pelos capitalistas; em que pese o fato desses
países estarem obtendo progresso industrial invejável.

  Prosseguindo a análise do “sucesso asiático”, esses países orientaram
suas economias para o mundo exterior, praticando “preços competitivos”
para suas mercadorias; aviltando os salários dos seus trabalhadores, coisa
que os franceses chamam de “dumping social”.

  Certamente o “dumping social” e o “protecionismo”, constarão na pauta da
Organização Mundial do Comércio – OMC, com vistas à regulamentação e
normalização do luxo do comércio internacional no futuro próximo.
Considerando-se que é difícil estancar a crise financeira que o mundo
interdependente atravessa, se os países intensificarem o “protecionismo e o
dumping social”, que descaracterizam significativamente a competição no


                                                                         31
comércio internacional. Tanto assim que as palavras sábias do líder
espiritual Mahatma Gandhi resumiu esta questão:

  “Odeio o privilégio e o monopólio. Para mim, tudo o que não pode ser
  dividido com as multidões é tabu”.

  O povo humilde é certamente o grande prejudicado na ocorrência
protecionismo e dumping social no mercado internacional. É por isso que os
temas em questão serão abordados exaustivamente na ONU num futuro
próximo. Por isso, um mundo melhor é inconcebível se prevalecer o
protecionismo e dumping social.

  Outro fator importante para explicar o “sucesso asiático”; vem da ética
oriental calcada em Confúcio, crucial para o estabelecimento de um modelo
socioeconômico de elevado equilíbrio social; centrado na hierarquia,
disciplina e nacionalismo. No qual as grandes corporações são encaradas
como grandes famílias, ordeiras, produtivas e imprescindíveis.

  Ressalto também que os países asiáticos se esforçaram para sensibilizar
empresas e governos dos EUA e Japão, para que realizassem negócios
com eles. E esse empenho acabou dando certo, pois os EUA precisavam
fortalecer a região com base no capitalismo, para transformá-la em uma
barreira importante contra o socialismo. Principalmente contra o socialismo
chinês, que a partir de 1978 começara ganhar “músculo” econômico e isso
preocupava bastante a inteligência americana, pois logo a China logo se
tornaria em um gigante e afetaria seus interesses na região. Sobretudo os
relacionados ao Japão, Coréia do Sul, Tailândia, Indonésia e Formosa.

  Por outro lado, Japão tinha uma olhar diferente sobre a China. Há tempos
que o Japão namorava o imenso mercado chinês; desejando fazer daquele
país uma economia complementar a sua. E com essa intenção lá investiu
bilhões de dólares, como o fez também em outras regiões promissoras da
Ásia.
  Na realidade o Japão e os EUA, que competem acirradamente por
espaços econômicos e políticos na região asiática desde 1950; quando a
economia japonesa iniciou o seu milagre econômico; apostavam que a
região asiática seria dinâmica, próspera e lucrativa, em poucas décadas. E a
aposta estava correta.




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O Milagre econômico Japonês

  O chamado milagre econômico do Japão foi um acontecimento
mundialmente importante e por isso merece ser analisado. Pois ele ocorreu
logo após a segunda guerra mundial, quando esse país passou a receber
polpudas injeções de capitais dos EUA, em busca de mão-de-obra barata e
educada. Fato este que deu início a recuperação do parque industrial
japonês destruído na guerra. Assim o dinheiro americano foi fundamental
para a recuperação dos conglomerados empresariais familiares - os
Zaibatsus. Por outro lado, o Japão possuía uma grande frota mercante que
facilitava as importações e exportações de mercadorias.

  A política industrial do governo japonês instituída em 1950 era consistente
e baseava-se em conquistar mercados externos, em particular o norte-
americano. Como o povo japonês e muito trabalhador e disciplinado, o
resultado não demorou à aparecer. Em 1980 o Japão tornando-se um
gigante econômico e alcançou o segundo lugar dentro do mundo capitalista,
só é superado pelo seu “patrocinador”, os Estados Unidos da América.

  Hoje em dia Japão fabrica quase tudo; firmando-se como um dos lideres
mundiais nos campo científico, tecnológico, na produção de máquinas leves
e pesadas, equipamentos de medicina e muitos outros produtos industriais.
Convém destacar também as importantes contribuições japonesas nas
áreas de alta tecnologia como eletrônica, robótica industrial, óptica,
semicondutores e nanotecnologia.

  O Japão é isoladamente o líder dos robôs industriais; pois suas empresas
utilizam mais da metade dos robôs existentes no mundo. Fato que confere
ao país uma elevada produtividade, e permite as empresas elevem os
salários dos trabalhadores sem causar inflação.

  Outro fator crucial que colaborou bastante na realização do “milagre
japonês”, foi o grande investimento realizado na educação do povo, sem o
qual o progresso industrial acelerado do país não seria possível.
Sabiamente, o Japão conseguira educar e instruir o seu povo, baseando-se
na liberdade e na criatividade, para poder enfrentar o mundo competitivo da
atualidade. Sem o que aquele país não teria galgado a liderança
tecnológica. Na realidade, o japonês, além de instruído, também valoriza
muito o trabalho. Por isso aquele país é tão rico, embora não possua tantas
riquezas naturais.

  O Japão é uma confirmação prática e coletiva da máxima de Karl Marx de
que “toda riqueza provém do trabalho”. O povo e o governo daquele país
sabem que precisam trabalhar e estudar bastante para produzirem produtos
                                                                          33
com alto valor agregado, para gerar divisas que bancarão com sobra a
importação mercadorias que necessitam como o petróleo, por exemplo.
Sabem também que essa política de desenvolvimento econômico demanda
altos investimentos em educação e se esforçam nessa direção. Fazendo da
educação e do trabalho o grande diferencial competitivo do povo japonês,
que assim aumenta consideravelmente a sua riqueza nacional.

O outro lado do milagre -
A automação industrial pode acirrar a luta de classes

  Os salários pagos no Japão são relativamente maiores, se comparados
com outras regiões do mundo. No entanto, os trabalhadores japoneses
também são espoliados pelos capitalistas. Pois naquele país há também a
luta de classes. E, se nada for feito no futuro próximo, essa luta entre
explorados e exploradores tende a se acirrar, em razão da crescente
automação da economia japonesa. Pois a automatização em seus apogeu
afetará o fluxo circular da economia interna japonesa. Que em outras
palavras, afetará a “ciranda do dinheiro” entre os agentes econômicos. Não
é difícil entender como isso poderá ocorrer.

  Didaticamente existem três agentes econômicos participam do fluxo
circular econômico interno de país: o governo, as empresas e os
trabalhadores. E a tal ciranda do dinheiro funciona da seguinte forma: os
trabalhadores recebem salários trabalhando para as empresas ou para o
governo e com os seus salários eles consomem bens e serviços produzidos
pelas empresas. As empresas por sua vez pagam impostos ao governo e
salários para os seus empregados. No final das contas elas realizam lucros,
com os quais fazem novos investimentos e remuneram seus executivos e
investidores; que por sua vez, também demandarão bens e serviços das
empresas e também pagarão os seus impostos ao governo.

  Observa-se que em todos os agentes econômicos envolvidos no fluxo
econômico circular, há algo em comum. Todos eles precisam ganhar
dinheiro para satisfazerem suas necessidades, gastando-o com bens ou
serviços de que necessitam. Ou seja, ganham e gastam dinheiro entre si; e
qualquer alteração que esses agentes vierem a sofrer; como por exemplo,
por conta da variação do nível de empregos e de salários afetados pela
automação, certamente provocará desequilíbrios na ciranda circular do
dinheiro.

  Dito isso cabe então perguntar, num exemplo extremo de automação
empresarial na sociedade, “as empresas venderão para quem e receberão
de quem”? Utilizando-se desse mesmo raciocínio, como trabalhadores e o
governo receberão o seu dinheiro para gastar em suas necessidades?
                                                                        34
Por essa razão, o sociocapitalismo vingará no século 21, considerando-se
que ele solucionará essas questões levantadas sobre o fluxo circular
econômico interno, provenientes de um cenário de automação excessiva e
generalizada; entre outras questões importantes.

O quê aconteceu com a URSS?

  Após a década de 1970, enquanto as economias asiáticas deslanchavam
e o Brasil realizava o seu mundialmente reconhecido “milagre brasileiro”; a
URSS começava a dar claros sinais que a sua economia não ia nada bem.
O povo soviético estava empobrecido, suas fábricas estavam obsoletas e os
seus trabalhadores desestimulados. Para piorar a situação os produtos
soviéticos eram de baixa qualidade e, por isso, desprezados no mercado
internacional. E o que mais irritava os consumidores soviéticos eram as
longas filas que eles precisavam enfrentar quando queriam comprar algo. E
a razão dessas filas é que sempre faltavam produtos nas prateleiras dos
mercados e das lojas. Um quadro caótico que Marx jamais supôs que
ocorresse em países comunistas.

  A situação desesperado do povo soviético atingiu o apogeu no governo
Gorbachev, e ele precisou agir rápido para evitar uma grave revolta popular
contra o governo comunista de seu país. Por isso ele defendeu
brilhantemente perante o partido comunista soviético, que era necessário
reformular a União Soviética (URSS), objetivando que ela prosperasse com
eficácia e eficiência e fosse respeitada pela comunidade mundial.
Evidentemente, Gorbachev acompanhava, com uma ponta de inveja, o
sucesso chinês com o seu “socialismo de mercado” iniciado em 1978.

  Para as autoridades do governo soviético de Gorbachev, a realidade
estava evidente. A URSS estava ficando para trás no campo militar e
econômico, e isso afetava a sua influência global.
De fato a URSS começou à cambalear no início da década de 70, quando
indicadores econômicos mostravam claramente uma queda drástica na
produtividade dos trabalhadores e na expectativa de vida da população.
Finalmente, o acidente nuclear de Chernobil, ocorrido em 1986,
demonstrou ao mundo e confirmou aos próprios soviéticos, o quanto a
URSS estava obsoleta e pobre. Algo precisaria ser feito rápidamente. E foi
assim então que Gorbachev, com o aval do Partido comunista soviético,
entrou em ação com o seu plano estratégico de reestruturação
fundamentado em dois pilares: a Perestroika e na Glasnot.

  A Perestroika consistia em uma série de reformas econômicas para
dinamizar a economia socialista, que entre as quais constava a diminuição
                                                                        35
do orçamento militar da URSS. Isso resultou em cortes drásticos com gastos
em armamentos e culminou com evacuação das tropas soviéticas do
Afeganistão, que então travavam uma guerra inútil e tola, que nem deveria
ter começado; pois conta a história que nenhuma potência estrangeira
conseguira dominar aquele país. E a União Soviética não seria exceção, ela
perdeu a guerra e suas tropas foram expulsas do país de forma humilhante.

  A política de desarmamento de Gorbachev foi um exemplo positivo para o
mundo. Lamentavelmente os EUA caminharam em direção oposta, achando
que sobrepujaria o inimigo soviético de vez. Entretanto o crescente
armamentismo americano potencializou a desconfiança do mundo com
relação aos propósitos e aspirações do governo americano, considerando-
se que uma só superpotência afetaria claramente o equilíbrio mundial.
Desconfiança essa agravada pela lembrança das bombas atômicas
lançadas no Japão pelos EUA, fato que repercute na consciência da
humanidade até hoje. Por esse ponto de vista seria melhor para todos e
também para a recuperação da imagem americana, se as armas nucleares
fossem eliminadas do planeta. Faz algum sentido os Estados Unidos
continuarem ampliando os seus arsenais, considerando-se que é de longe o
país mais poderoso militarmente? Por acaso querem intimidar ou mandar o
mundo?

  Continuando a análise da URSS, a Glasnot era o plano B do governo
Gorbachev, para dar liberdade de expressão para a imprensa soviética e
propiciar uma maior transparência das ações do governo junto à população.
De forma que a forte censura que o governo impunha a imprensa foi
retirada.

  A nova situação de liberdade na URSS possibilitou o abrandamento da
ditadura que ela patrocinava aos outros países comunistas. E mo resultado
mais óbvio dessa política acertada foi o enfraquecimento do pacto de
Varsóvia.

  A sábia política de Gorbachev fez o ocidente e o oriente buscarem vias
pacíficas do entendimento para resolver as suas pendências. Porém, como
diz o ditado - “O que é bom; dura muito pouco.”, daí quando a família Bush
se apossou da Casa Branca; os militaristas de plantão no governo
ganharam maior projeção e poder e assim iniciou-se um novo período negro
na história americana e mundial.

  A comunidade internacional estava bastante apreensiva com a volta dos
republicanos no poder americano, que certa forma ela já aguardava os
resultados infelizes que as políticas insanas militaristas que os malditos
falcões trariam. E eles não tardaram a aparecer. Rios de dinheiros foram
                                                                       36
torrados inutilmente com armas e os EUA se envolveram em duas guerras
equivocadas, contrariando a opinião pública internacional. E como
conseqüência direta dessas duvidosas “guerras de combate ao terror”, que
nem mesmo consegui capturar o Bin Laden, os falcões militaristas passaram
a intimidar países estrangeiros como a Coréia do Norte, Síria e Irã. Pois
uma nova guerra certamente seria lucrativa para esses militares
beligerantes, mais ainda para os seus cúmplices bilionários da poderosa
indústria bélica americana.

  Paralelamente àquelas situações beligerantes, a economia dos EUA
caminhava para o fundo do poço e o seu povo nem percebia; dominado que
é pela mídia corrupta corporativa.
Atualmente os EUA atravessam uma crise econômica avassaladora em
razão daquelas políticas equivocadas, principalmente as que incentivaram o
armamentismo exacerbado. Agora os americanos pagam uma pesada conta
por isso e dividem os seus custos com o mundo.

A raiz da crise atual dos EUA – o armamentismo

  O remédio amargo da corrida armamentista que os EUA planejaram e
impuseram à ex-URSS; causou também um “efeito colateral” indesejado, e
isso está por trás da crise americana atual, embora a mídia corporativa
esconda o fato.

   Por isso atente para as “meias-verdade” veiculadas na mídia com relação
à crise das hipotecas que iniciou em 2007 nos EUA, e que logo se espalhou
para o mundo. No fundo mesmo, como já mencionei, a crise americana é
conseqüência direta de políticas equivocas e permissivas, para com o
complexo industrial militar americano, após a segunda grande guerra
mundial. De forma que a raiz da crise atual está no crescente déficit do
tesouro americano, por conta de gastos militares descontrolados, que vão
se acumulando excessivamente ao longo dos anos. Por essa razão os EUA
possuem uma dívida externa gigantesca; algo em torno de US$ 10,9
trilhões; apontados no dia 09 de março de 2009 pelo crítico “Relógio da
Dívida Nacional”. Sinalizando que o povo americano ainda irá pagar muito
caro por este rombo irresponsável ocorrido do tesouro americano, por conta
do armamentismo; que inclusive lhe custou a perda do império.




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O império das bases americanas

  A agressiva política externa da guerra fria que envolveu americanos e
russos, igualmente desconfiados um do outro, alimentou a paranóia
americana que veio a transformar os EUA no “império de bases militares no
exterior”, para a felicidade da sua bilionária indústria bélica.

  Algo em torno de 1.000 bases espalhadas pelo mundo, e que
correspondem a 95% do total das bases de todos os países do planeta. Só
na Alemanha são mais de 227 bases militares americanas. E todas essa
bases militares consomem uma montanha de dinheiro correspondente a
US$ 100 bilhões anuais. Aliado a esse fato, sabe-se que o armamentismo
exacerbado americano possui gastos colossais; algo em torno de US$ 500
bilhões ao ano. No entanto os EUA não tão seguros como se possa
imaginar.

  A história nos revela que com a queda da URSS as coisas pareciam bem
para os EUA, então a única hiper-potência do planeta. Contudo as coisas
nem sempre são o que parecem. Até que no dia 11 de setembro de 2001
ocorreu o ataque terrorista da Al-Qaeda aos EUA, comandado por Osama
Bin Laden; um filho bastardo e cruel da guerra fria e das políticas
equivocadas de partilha mundo em regiões de suas influências, elaboradas
pelas grandes potências. De forma que o bastardo Bin Laden comandou
ataques surpreendentes e devastadores aos EUA, que o mundo pode
assistir ao vivo pela televisão. Afinal quem pode esquecer o instante em que
as torres gêmeas implodiram, matando milhares de pessoas em poucos
segundos?

 Aqueles radicais islâmicos fizeram o que nenhum país conseguira até
então; bombardear o solo da América. E, pior, o bombardeio ocorreu por
meio de aviões de carreira cheios de passageiros.
Esses ataques foram o pretexto ideal que os ambiciosos radicais
americanos usariam posteriormente para aumentar ainda mais gastos
militares com “defesa”. Aproveitando a forte comoção popular o medo
generalizado de novos atentados.

  Então os famigerados “falcões” promoveram “guerras preventivas de
segurança” contra o terrorismo, atacando o Iraque e o Afeganistão. Na
verdade os “militares do governo” e o “grupo de pressão armamentista”
atuavam nos bastidores do Congresso, objetivando vender armas e se
apossar das riquezas daqueles países, principalmente do petróleo iraquiano.
Afinal o interesse do complexo industrial militar americano não está
intimamente ligado com os interesses da poderosa indústria petrolífera por
acaso. Trata-se de um casamento perfeito, que impulsionou a descarada
                                                                         38
“guerra de sangue por petróleo” no Iraque. Mas isso era esperar pela
comunidade internacional, considerando-se que a cúpula do governo Bush
estava comprometida até o pescoço com a indústria petrolífera.

  Quando o presidente George W. Bush iniciou aquelas guerras, ele ignorou
considerações contrárias a ela da própria ONU, que exigia que os EUA
apresentassem provas que o Iraque detinha armas de destruição em massa,
para dar o seu aval. No entanto, os EUA ignoraram a ONU e começou as
guerras; apoiado timidamente por alguns governos aliados, como a
Inglaterra e a Espanha.

  Que a verdade seja dita, a guerra do Iraque foi um enorme fiasco, e as
armas de destruição em massa que os falcões cooptados pela indústria
armamentista alegavam existir, jamais foram encontradas.
Ficou claro que as guerras equivocadas contra os muçulmanos só
beneficiaram os capitalistas da indústria militar e do petróleo; em detrimento
dos pobres trabalhadores americanos. Pois o orçamento de qualquer país é
como cobertor curto; se cobre o pé descobre-se a cabeça e vice-versa. De
maneira que o dinheiro que esta sendo torrado naquelas guerras
equivocadas, agora faz falta para os americanos, considerando-se que a
economia do país está em colapso financeiro, com milhões de
desempregados.

   As coisas ficaram tão negras para os EUA, que todo mundo entendeu que
aquele país não conseguiria se recuperar sozinho da crise, exigindo socorro
com “soluções globais e coordenadas”, por conta de toda a comunidade
internacional, inclusive até dos países “socialistas”. Caso contrário os EUA
iriam para o fundo do poço e arrastaria o mundo inteiro consigo.

É dessa maneira compartilhada de poder econômico global que está
ocorrendo o crepúsculo do império americano; já sem os meios econômicos
e financeiros para continuar sustentando o seu poderio militar exacerbado,
denominado por muitos de “imperialismo de bases militares”.
Mas uma coisa é certa, em que peso o fato dos americanos serem
altamente patriotas, eles terão que aceitar o fato da irreversível decadência
do seu país. Não dá para ficar eternamente no topo do poder e a história
comprova isso.

  Portanto o governo do presidente Obama deve trabalhar sabiamente no
sentido de negociar a contribuição do ainda importante papel americano
para a edificação de uma Nova ONU, mais justa e atuante. Pois só assim o
mundo não descambará para um futuro cenário negro de guerras regionais
e consiga promover um progresso social e justo para todos os habitantes do
planeta.
                                                                           39
Radiografia do Colapso Americano

  O colapso dos EUA, o país mais forte e rico do mundo, expõe a fragilidade
do seu modelo econômico baseado no capitalismo neoliberal armamentista;
que transformou o país, então o maior credor mundial logo após a segunda
guerra, no maior devedor do planeta.

   Por ironia da história, o maior credor atual dos EUA é a China socialista,
um adversário de peso; que tem em seu poder US$ 1 trilhão de dólares em
títulos emitidos do Tesouro Americano.

  Sem o financiamento contínuo desse “adversário”, a economia americana
já teria ido de vez para o buraco. É por essa razão que a Secretária de
Estado americana Hilary Clinton, está redobrando esforços diplomáticos
com o governo chinês, para que ela continue financiando o colossal déficit
do tesouro americano, estimado em US$ 1,75 trilhão, que representa 12,3%
do PIB dos EUA; o mais alto desde a segunda guerra mundial.

  Uma situação potencialmente perigosa para ambos os países;
principalmente porque os EUA ficaram muitos dependentes de capitais
chineses, considerando-se que eles são os seus grandes adversários
políticos no leste asiático.

  Por sua vez, a China corre um sério risco de levar um calote do governo
americano e perder o seu dinheiro investido. Além disso, a China depende
muito das suas exportações para os EUA; pois precisa receber divisas do
exterior que bancarão o seu crescimento econômico acelerado. Daí ocorre
uma dependência mútua muito interessante, na qual o gigante capitalista é
refém do gigante socialista e vice-versa.

  Curiosamente, países como China, Japão, Grã-Bretanha, Brasil e outros
que compram em massa os títulos do tesouro americano, “financiam” a
equivocada política armamentista americana de déficits colossais; por anos
seguidos. Prorrogando assim a decadência do império americano possuidor
das incômodas e ameaçadoras bases militares espalhadas pelo mundo.
A crise americana tornou claro que o potencial das políticas equivocadas
colocadas em prática pelos republicanos das eras Reagan e Bush, se
esgotaram. Não dá mais para o governo continuar trilhando o caminho dos
endividamentos excessivos que financiarão os déficits do tesouro, grande
parte deles por conta do armamentismo exacerbado, que apenas
beneficiaram algumas empresas do setor petrolífero, militar e bancário.

 A mesma política armamentista americana que serviu para desintegrar a
URSS em 1991; com o tempo também transformou os EUA em um gigante
                                                                          40
com os “pés de barro”, atolado em dívidas astronômicas; embora o povo
americano não tenha plena consciência deste fato. No entanto, certamente
pagará caro a conta resultante deste equívoco.

   Outrora os EUA eram considerados um porto seguro para o capital global
aportar e prosperar. Então, naquela época era possível encontrar
financiamento fácil para o déficit do tesouro americano, utilizado para
sustentar a monumental máquina de guerra americana. Mas as coisas
mudaram e a própria China comunista através de Wen Jiabao sinalizou que
diversificará suas aplicações do exterior; que em outras palavras que dizer
que ela reduzirá drasticamente a compra de títulos do tesouro americano,
por temer futuro calote. Isso significa que a mamata militarista americana
sofrerá um duro golpe.

  Para a felicidade mundial o presidente americano Barak Obama, como já
mencionei, disse que cortará substancialmente os gastos militares para
economizar. Uma decisão acertada e que forçará uma reestruturação
estratégica dos EUA, que certamente terá que abrir mão de seu
unilateralismo militar, para fazer frente a um mundo globalizado e
interdependente. Fato este que ajudará bastante na recuperação da
confiança mundial naquele país. Neste caso, para aumentar ainda mais a
confiança e o respeito mundial, um pedido de desculpa ao Japão pelas
bombas atômicas detonadas em Hiroxima e Nagasaki, seria um bom
começo para o governo de Obama. Pois como diz o ditado popular: “antes
tarde do que nunca.”

  Mas as coisas não serão fáceis para os EUA, pois a própria ONU estuda
uma maneira de diminuir a importância do dólar no comércio internacional.
Sua idéia é que algumas moedas fortes sirvam de referência e não apenas
o dólar. Uma proposta muito interessante, mas que não é nova. No passado
Keynes já havia proposto no passado o lançamento de uma moeda mundial,
cujo valor seria baseado na média dos valores de uma cesta de moedas
fortes internacionais.

 A própria China preocupada com o derretimento da montanha de dólares
que possui, propõe a criação de uma moeda internacional, desvinculada de
uma determinada moeda nacional, que seja capaz de permanecer estável
ao longo do tempo.
  Sem dúvida alguma o lançamento de uma nova moeda com aceitação
universal no mercado internacional será muito complexo, pois envolverá
muitos interesses. Contudo é inevitável que isso ocorra num futuro próximo.
Mas uma coisa é certa. As propostas da ONU e da China demonstram o
quanto o poder americano se esvaiu. Mas isso não é ruim para os EUA e
nem para o mundo; muito pelo contrário. O tempo confirmará.
                                                                        41
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  • 1. O Sociocapitalismo Por um Mundo Melhor Paulo J F Valente 2009 1
  • 2. “Quem ama compreende; e quem compreende trabalha por um mundo melhor” Francisco Cândido Xavier Dedicatória “Dedico este livro a todos os trabalhadores que de uma forma ou de outra trabalham para um mundo melhor” Paulo José F. Valente 2
  • 3. Índice Apresentação Pag. 4 Cap. I – A Evolução Natural do Capitalismo Pag. 11 Cap. II – A Convergência: Capitalismo & Socialismo Pag. 27 Cap. III – O Sociocapitalismo Pag. 45 Cap. IV – Sociocapitalismo & Mundo Melhor Pag. 81 Cap. V – Conclusão Pag. 116 Anexo I – Pirâmide do Poder Pag. 121 Anexo II – Sociocapitalismo: A convergência final do Capitalismo & Capitalismo Pag. 122 Anexo III – Mandamentos do Cidadão Globalizado Pag. 125 Anexo IV – Principais Questionamentos a respeito do FCST Pag. 126 Glossário Pag. 129 Referências Biográficas Pag. 133 Bibliografia. Pag. 136 3
  • 4. Apresentação A origem deste livro Após a década de 70, o mundo apresentava claros sinais de melhora no seu conturbado quadro político-social. O presidente americano Jimmy Carter que governou de 1977 a 1981, havia assinado o tratado de Salt-2 com a antiga União Soviética e aquele era um acontecimento importante, pois abordava a redução de armas nucleares entre as duas superpotências. O tratado não era o melhor dos mundos, pois as armas nucleares ainda continuariam existindo, mas a chance do mundo virar pó da noite para o dia diminuiria consideravelmente. Carter, contrariando os governos republicanos anteriores, também trabalhou intensamente em prol da abertura democrática na América Latina. Tanto que em 1977, encontrou-se com o general Geisel, então presidente do Brasil, para conversar sobre o processo de abertura democrática brasileira. Posteriormente, o presidente Geisel contrariando a cúpula conservadora militar, conseguiu impor o general Figueiredo como o seu sucessor à presidência da República. Figueiredo era o tipo militar que a mídia da época adorava debochar. Um general intempestivo que chegara a dizer que preferia o cheiro de cavalo ao “cheiro do povo”. Apesar de tudo, Figueiredo estava realmente determinado à realizar a transição democrática brasileira e assim o fez, embora eu não apostasse nenhum centavo nisso; pois aquela era uma época difícil e obscura, onde os militares deitavam e rolavam; promovendo sumiço de pessoas, censurando a imprensa, cerceando a liberdade de expressão e inibindo iniciativas econômicas. Entretanto esse cenário negro e intolerável, não era característico só do Brasil; em muitos outros países, sobretudo na América Latina, a situação era idêntica ou até pior. Os ditadores latino-americanos de plantão perseguiam seus inimigos comunistas e a sua “abominável” ideologia como o gato que persegue o rato; sem trégua e sem perdão. Essa perseguição absurda vitimou milhares de inocentes que pagaram com a própria vida, sem falar dos outros tantos mais que ficaram órfãos ou traumatizados. Em contrapartida a “esquerda” belicosa que lutava por um ideal um tanto obscuro, revidava praticando mais atentados terroristas, seqüestros e intensificando guerrilhas. Como se jogassem gasolina na fogueira. E esse quadro de exageros e intolerâncias de ambos os lados resultou nas chamadas “guerras sujas”. Um “vale-tudo” de tentados à bomba, torturas, 4
  • 5. traições e mortes de inocentes. Sujeiras que as partes envolvidas praticavam e escondiam. Na verdade as “guerras sujas” eram peças de xadrez do estratégico jogo global da “guerra fria”. Expressão um tanto irônica utilizada para denominar a disputa nervosa travada pela hegemonia militar entre a ex-União Soviética e os Estados Unidos; superpotências que estavam sempre dispostas a começar uma guerra nuclear preventiva, que poderia reduzir o mundo a um monte de cinzas. Nesta queda de braços insana os Estados Unidos, que se considera “o pilar da democracia mundial”, incoerentemente apoiava alguns ditadores amigos com armas, dinheiro e informações. Por outro lado, a União Soviética, que perseguia e controlava seus cidadãos com “punhos de ferro”, fazia o mesmo apoiando ditaduras socialistas e grupos dissidentes infiltrados nos países capitalistas. E como um cancro social maldito as “guerras sujas” se espalharam para o mundo. Foi assim no Brasil, na Argentina, no Chile e em outras partes do mundo. Pois bem, foi nessa época nebulosa da nossa história que entrei para a faculdade de economia e, como todo jovem idealista procurei ler livros que abordassem a temática da justiça social. Afinal, o que estava em jogo no planeta naquela época, era a luta pela supremacia entre os dois sistemas econômicos: o capitalismo e o comunismo; liderados pelos EUA e URSS respectivamente e eu gostaria de saber qual se sairia melhor. O confronto capitalismo x comunismo estava mascarado por outros diversos conflitos de interesses, como por exemplo; países do Norte contra os do Sul, ricos contra os pobres, países desenvolvidos contra países subdesenvolvidos, ou mesmo entre potências nucleares e países não nucleares. Entretanto, em todas estas questões certamente a polaridade capitalismo e comunismo estava diretamente envolvida. Lembro que os estudantes daquela época adotavam uma postura radical sobre o assunto em questão. Ou eram pró-capitalistas roxos ou eram pró- comunistas ferrenhos. Não havia meio termo. Felizmente procurei analisar as coisas de modo mais isento possível; pois, por qualquer perspectiva que se observasse o mundo, era possível notar mazelas provenientes do capitalismo ou comunismo na política, na economia e em outros aspectos sociais. De modo que era sempre possível culpar o lado inimigo pelos problemas no mundo. Para tanto bastava verificar a história da época: a invasão da Checoslováquia pela ex-União Soviética, as atrocidades que os americanos cometiam no Vietnã e a atuação das ditaduras patrocinadas pelas potências líderes. 5
  • 6. A história também registrou o triste massacre do povo cambojano no qual o ditador comunista Pol Pot dizimou mais de um milhão de pessoas entre os anos de 1975 e 1979. O massacre de civis ocorrido na Praça Celestial em Pequim, cometido pelo regime comunista no ano de 1989; foi outro fato que também manchou de vermelho a história da humanidade. E, o que dizer também da ditadura cubana que mantém o povo prisioneiro e oprimido até hoje? Como se percebe nestes casos é impossível separar a política da economia e a economia da política. No Brasil, por exemplo, era fácil e conveniente culpar os Estados Unidos e o Fundo Monetário Internacional por nossa monstruosa dívida externa e pelo nosso atraso. No entanto os maiores culpados eram os nossos políticos corruptos; que infelizmente ainda estão nas entranhas do poder até hoje. Longe das paixões radicais por um ou outro sistema econômico eu estudei alguns dos principais economistas do planeta: Keynes, Marx, Hengel, Samuelson, Milton Friedman, Joseph Stiglitz, Paul Krugman, Adam Smith, Malthus, Ricardo, Amartya Sen, entre outros. Estudei também o pai da administração moderna, Peter Drucker. Principalmente a sua obra – “A Sociedade Pós-Capitalista”, escrita em 1993; que serviu como referência para a elaboração deste livro. Na verdade, a idéia de escrever o livro germinou em minha mente nos primeiros anos da faculdade; mais exatamente no dia em que participei de um evento onde dois figurões da economia brasileira falavam a respeito da gigantesca dívida externa brasileira e sobre os desequilíbrios das contas externas do país, que naquela época apresentavam desempenhos econômicos sofríveis. Aqueles “figurões” eram mestres renomados de faculdades brasileiras e possuíam enfoques distintos da ciência econômica. O Primeiro figurão era o professor e doutor em economia João Sayad, da Universidade de São Paulo - USP, escola que aos olhos dos alunos primava pela “economia fria” dos números e dos seus resultados. O outro figurão era o prestigiado professor e também doutor em economia Luciano Coutinho, da Universidade de Campinas - Unicamp, instituição que leva em consideração os seres humanos que estão por trás dos números da economia. Aí estava a grande diferença aos nossos olhos. Para que serve a economia se os seres humanos forem considerados um amontoado de números e cifras? E a justiça social como fica? Depois de uma chuva de números, de diagnósticos e prognósticos da economia brasileira, foi aberta a sessão de perguntas aos estudantes. E, eu que intuitivamente buscava o entendimento entre os dois sistemas 6
  • 7. econômicos antagônico trilhando o “caminho do meio”; fiz a seguinte pergunta para os palestrantes responderem: “Vocês diagnosticaram, citaram números essenciais e prognosticaram a respeito da economia brasileira, mas o Brasil é considerado uma Belíndia; um país misto da Bélgica desenvolvida e Índia subdesenvolvida. E digo que entra governo e sai governo, a política econômica continua a mesma e sempre servindo aos interesses da parte “belga” do país. Pergunto: o que se deve fazer para desenvolver a parte “Índia” do nosso país?” O sisudo Sayad entendeu a minha pergunta como uma crítica a ele e se recusou a respondê-la; dizendo que a questão levantada não era tema da palestra e passou a palavra para outro estudante. Todavia o professor Luciano Coutinho interveio, comentando que a minha pergunta era muito importante. Disse ele também que, em sua opinião, o governo não estava fazendo muita coisa para desenvolver a parte atrasada do Brasil. Para Coutinho o governo não se empenhava suficientemente para solucionar a questão da miséria em que vive até milhões de brasileiros. Fiquei feliz com as palavras do professor Luciano Coutinho; contudo não obtive uma resposta adequada de qual seria o “sistema político-econômico ideal” para contemplar um desenvolvimento econômico-social justo e sustentável: o capitalismo ou o comunismo? Essa era a questão crucial para mim. Pensando melhor o professor Coutinho talvez não pudesse responder o que me interessava. Pois o regime militar de coerção e censura ainda imperava naquele tempo e muitas pessoas eram presas só por dizerem em público coisas que desagradavam ao governo. Em todo caso, foi a partir desse dia que me empenhei para descobrir as respostas que procurava. As transformações globais Depois que me formei na faculdade de economia em 1984, muita água passou por baixo da ponte. O mundo mudava e mudava rápido. Considerei o ano seguinte como um marco positivo na história brasileira e mundial. Em nossa terra os militares voltaram para a caserna e os civis assumiam a presidência da república através de eleições democráticas. No exterior a cortina de ferro, como era denominada a ex-URSS pelos seus inimigos, iniciava uma reforma econômica através de recém empossado Mikael Gorbachev, sinalizando que tempos melhores viriam. Entretanto em 1987 ocorreu a queda da Bolsa de Valores de Nova York, quase superando o crash de 1929, fato que abalou o mundo indicando que 7
  • 8. algo estava errado com o capitalismo americano; considerado a vanguarda do capitalismo mundial. A crise de 1987 também evidenciava o quanto o capitalismo global estava interdependente e por isso era tão vulnerável; pois um espirro em um país poderoso poderia transformar-se em uma pneumonia num país subdesenvolvido. Revelava também a supremacia do capitalismo financeiro e volátil sobre o capitalismo produtivo; e o quanto era perigoso essa supremacia financeira especulativa. Esses fatos motivaram muitos economistas a buscarem fórmulas para regulamentar as transações financeiras internacionais, com o intuito de diminuir riscos e evitar quebradeiras em cascata, o chamado efeito dominó. No entanto nem tudo foi ruim naquele ano de 1987; considerando-se que os EUA e a URSS assinaram um tratado que previa a redução de seus arsenais nucleares. Embora aquele tratado não fosse ideal, pois melhor seria que acabassem de uma vez com todas as armas nucleares; mas era um bom começo e a humanidade tinha essa percepção. Mais adiante, precisamente no ano de 1991, Gorbachev renunciou o poder em meio a uma crise e este fato importante marcou a dissolução da URSS, para a felicidade mundial. Daí para frente existiria apenas uma superpotência hegemônica: os Estados Unidos da América. E isso não era nada bom para a humanidade, pois o desequilíbrio de poder, conforme demonstra a história, sempre aguça ganâncias e guerras. E isso ficou claramente demonstrado, posteriormente, com as guerras do Iraque e Afeganistão, que ainda hoje estão em andamento. A queda do império soviético e a supremacia incontestável americana causaram uma euforia no mundo capitalista. Foi naquela época então que o mago da administração moderna Peter Drucker lançou o livro – “A Sociedade Pós-Capitalista”; onde mencionava como os fundos de Pensão estavam revolucionando a América. Drucker escrevera com muita propriedade que o capitalismo estava em processo de “metamorfose”; e que “o capitalismo de poucos” transformava-se no “capitalismo para todos”. No outro lado do planeta, a China comunista que sabiamente fizera algumas reformas econômicas importantes em 1978; transformando a sua rígida “economia de planejamento central”, em uma “economia aberta e orientada para o mercado”; com objetivo de alavancar a sua então estagnada economia. Naquela altura começava a colher os frutos do sucesso; desenvolvendo-se com impressionantes taxas de crescimento anuais em torno de 10% ao ano, causando inveja em muitos países. 8
  • 9. Na realidade, a ousada transfusão do “sangue capitalista” para dentro do sistema socialista possibilitou que a China voltasse a ser um gigante da economia mundial, que todos respeitam e admiram. Ironicamente, quando a China comunista turbinava a sua economia, convergindo para o “receituário capitalista”, implantando o “socialismo de mercado”; os Estados Unidos convergiam para a chamada “socialização de mercado” mencionada por Drucker; indicando assim que haveria uma convergência entre estes sistemas econômicos. O quê me deixava perplexo e com novos questionamentos em mente, imaginado como seria o futuro da “sociedade pós-capitalista” mencionada por ele; onde dividir o capital entre os trabalhadores seria corriqueiro e muito lucrativo. Paralelamente imaginava também o perfil do “pós-socialismo” da Rússia, China e outros “países comunistas”, onde enriquecer tornara-se glorioso. Neste contexto procurei estudar as transformações que ocorrem no mundo após as grandes crises financeiras cíclicas, por conta do mundo globalizado; imaginando os reflexos que teriam na convergência dos sistemas econômicos. Entretanto faltava um modelo teórico que servisse de referência para analisar essas transformações e explicar onde a convergência iria chegar. E o pior, eu não conseguia encontrar nas livrarias algum livro que tratasse do assunto. De modo que isso me instigava a desenvolvê-lo. Então, a partir das questões mencionadas acima, passei a trabalhar intensamente na elaboração do modelo que, a partir da convergência final entre o socialismo e capitalismo, fundamentasse o “pós-socialismo” e o “pós-capitalismo”; como um sistema político-econômico único deste século 21. Para denominar o novo sistema político-econômico que desponta abracei o termo “sociocapitalismo”. Não aquele pobre “socialismo de fundo de pensão”, mencionado falaciosamente por Peter Drucker. Mas o “sociocapitalismo verdadeiro”, que mistura acertadamente as boas práticas do capitalismo e do socialismo. Conteúdo do Livro Para apresentar o “sociocapitalismo” que surge no mundo para transformar nossas vidas e contribuir para um mundo melhor; procurei escrever este livro de modo claro, simples e sem muitos números econômicos; para que pudesse atingir um público diferenciado: estudantes, donas de casa, trabalhadores, professores, aposentados, empresários e outros. Assim dividi o conteúdo do livro em cinco capítulos. 9
  • 10. No primeiro capítulo – “A Evolução Natural do Capitalismo”, abordo o desenvolvimento do capitalismo, como um fruto da evolução natural de outros sistemas econômicos que se sucederam ao longo da história da humanidade. Trato também do aparecimento relâmpago do socialismo, que surgiu em contraposição às injustiças do sistema capitalista. Mencionando a tensão causada entre estes dois sistemas econômicos antagônicos; principalmente no período da “guerra fria”; e as conseqüências nefastas que isso resultou para o mundo. No segundo capítulo: - “A Convergência: Capitalismo & Socialismo”; aponto as mudanças conceituais e práticas que ocorrem no capitalismo e no socialismo, indicando que ambos convergem rapidamente para um novo sistema político-econômico denominado sociocapitalismo. Principalmente após o fim do império americano em 2007; que, por sua vez, possibilitou o consenso entre as nações de que os “problemas globais exigem soluções globais”, adotado pela ONU. Por todos esses motivos o sociocapitalismo certamente prevalecerá na sociedade global do século 21; apoiado por uma Nova ONU; poderosa, atuante e justa. No terceiro capítulo: - “O Sociocapitalismo”; menciono os fatos que indicam que o sociocapitalismo verdadeiro desponta no mundo e que isso trará prosperidade e justiça social para todos. Apresento também os fundamentos do sociocapitalismo, que sem dúvida alguma revolucionará a sociedade global do século 21. No quarto capítulo: - “Sociocapitalismo & Mundo Melhor”; abordo a contribuição positiva que este sistema tem a oferecer para a humanidade. Principalmente em termos de prosperidade, justiça social e desenvolvimento sustentável global. Nesse capítulo menciono também o papel crucial que este sistema terá para o surgimento de uma “Nova ONU”, mais justa, representativa e atuante. Finalmente, no quinto e último capítulo, apresento a “Conclusão” sobre o sociocapitalismo e a sua importante contribuição para a edificação da Nova ONU, em busca de um mundo melhor para todos os habitantes do planeta. 10
  • 11. CAP. I A Evolução Natural do Capitalismo O capitalismo não nasceu da noite para o dia, ele é resultado da longa evolução de outros sistemas econômicos que o precederam ao longo da história da humanidade. Por isso, as raízes do capitalismo atual estão mergulhadas no início dos tempos, quando os humanos primitivos ainda viviam nas trevas da ignorância e deixavam de ser nômades. Naquela época obscura nossos antepassados produziam em suas próprias terras tudo que necessitavam. Entretanto, com o passar do tempo, isso nem sempre era possível; pois os bens que produziam eram escassos, mas as necessidades humanas não possuem limites. Talvez por isso que a inveja, um pecado capital citado na Bíblia, seja uma fonte poderosa de insatisfação e infelicidade que atormenta o homem até hoje. Diante da limitação produtiva mencionada, os humanos da antiguidade procuravam trocar o excedente de sua produção, por mercadorias desejadas que pertenciam aos seus vizinhos. Foi dessa maneira que surgiu o modo de produção mais antigo da humanidade, denominado escambo. Eram tempos difíceis aqueles do “escambo”, pois a moeda ainda não existia e esse fato prejudicava bastante o comércio, gerando longas e cansativas disputas com relação aos valores das mercadorias trocadas. Imagine por exemplo, a dificuldade de trocar trigo por carneiro? Então, para facilitar a troca de produtos e mercadorias, os antigos tiveram uma idéia brilhante e inventaram a moeda, que naquela época significava dinheiro; pois o papel-moeda só foi inventado na China, milhares de anos após o aparecimento dela. Na realidade a moeda foi uma idéia foi brilhante, pois além de facilitar as trocas comerciais, ela possibilitava entesourar riquezas para uso futuro. Antes do aparecimento delas era impossível um produtor de perecíveis, frutas ou peixe, por exemplo, estocá-los como reserva de valor por um período muito prolongado, pois tais produtos fatalmente apodreceriam. Como a moeda é algo prático e que se pode estocar por um tempo indeterminado, o seu uso se generalizou. Note que o dinheiro, a riqueza e a propriedade, que são instrumentos comuns presentes no sistema capitalista, não são criações deste. De qualquer forma, o comércio e a moeda foram importantes para o desenvolvimento das antigas cidades como Babilônia, Tebas, Jerusalém, Cartago, Atenas e Roma; que floresciam e prosperavam, impulsionando as artes, as ciências e a civilização. 11
  • 12. Daquelas primeiras cidades que surgiram e prosperaram na terra, originaram nações que utilizavam a agricultura e a criação de animais como base de sua economia. De maneira que os campos eram tão importantes para o desenvolvimento das cidades, que um ditado popular resumia o fato: “Se as cidades forem destruídas e os seus campos preservados, as cidades se reconstruirão. Porém, se as cidades forem preservadas e os seus campos destruídos, elas não sobreviverão.” Em que pese a grande importância da agricultura e da criação de animais naquela época; nas cidades os artesões já produziam os mais variados utensílios e ferramentas usados nas atividades domésticas, militares, médicas, entre outras. Ocorre que esses utensílios fabricados demandavam produtos minerais ou orgânicos que, por vezes, não eram encontrados no país e precisavam ser importados de outras nações, e isso impulsionava fortemente o comércio internacional e também as guerras. Na medida em que o intercâmbio de mercadorias provocava fortes conflitos de interesses. A arqueologia moderna nos revelou que no Egito antigo e na Babilônia, muitos séculos antes do nascimento de Jesus Cristo, já existiam verdadeiras fábricas de produção em série, sobretudo de artefatos militares. E que os trabalhadores também recebiam pagamentos pelos serviços realizados. Só não se sabe ao certo, se existia naquela época a “divisão do trabalho”. Uma peça importante que compõem o tabuleiro do capitalismo atual. Entretanto, é muito provável que naquela época também existisse a “divisão de trabalho”, dado que um artesão sempre deixava as tarefas menos importantes e cansativas para seus aprendizes. O tipo de economia que predominou nas primeiras civilizações da Terra foi denominado “modo de produção asiático”. Um sistema utilizado naquela era bíblica de Faraós, imperadores e reis; que representavam o poder de Deus na terra perante o povo; amparados por exércitos poderosos. Foi assim no Oriente Médio, na Índia, China, África, Europa, e mesmo na América pré- colombiana; sobretudo os impérios: maia, azteca e inca. Naquela época gloriosa em que os deuses poderosos governavam os céus e “protegiam” os imperadores que governavam a Terra; existiam os pobres camponeses; mantidos nas terras de propriedade desses mandatários, em regime de “servidão coletiva”; que permitia que eles tirassem da terra o seu sustento e da sua família. No entanto, o excedente da produção era “tributado” pela nobreza. Assim, desse modo nada divino de relacionamento social, o trabalho pesado do povo no campo sustentava o luxo e a boa vida de nobres e sacerdotes que viviam nas cidades. Para piorar a situação dos pobres camponeses, eles também precisavam sustentar os militares; e eles eram numerosos; pois quanto mais famosa era 12
  • 13. a cidade, maior cobiça suscitaria nos invasores e aventureiros que buscavam espólios ou dominar o governo e o povo, a fim de receberem tributos. Daí a necessidade das nações prósperas possuírem exércitos poderosos para se defenderem. O lado negro dessa questão prática militar é o seu alto custo, e o povo precisar trabalhar arduamente para pagá-lo. Deste fato decorre um problema de difícil solução, que os estrategistas dos governos devem considerar. Um exército subestimado é um perigo para a sobrevivência da Nação; por outro lado um exército superestimado é um desperdício que precisa ser evitado; porque alguém sempre paga a conta e esse alguém é o povo; que em última instância pode se rebelar com a situação e derrubar o governo. Então, a solução deste problema complexo é achar o “tamanho” ideal das forças militares em termos de custo, técnica e eficiência, e cuja manutenção não desagrade o povo. O fato é que o “modo de produção asiático”, com as suas imensas comunidades agrícolas, sustentou o desenvolvimento das grandes cidades no passado. E isso possibilitou o surgimento das primeiras sociedades de classes; e da conseqüente tensão entre elas, já que a relação social envolvia exploradores e explorados; com interesses distintos e conflitantes em jogo. Séculos mais tarde o conflito entre as classes de exploradores e explorados, de opressores e oprimidos, foi abordado com brilhantismo por Karl Marx. Após o modo de produção asiático surgiu na Grécia outro sistema cujo nome diz tudo: escravismo. E, curiosamente, lá também encontramos outra raiz profunda do capitalismo, talvez o seu pilar mais forte: a democracia. Ironicamente, naquele sistema político-econômico “suis generis”, a “democracia” e o “escravismo” conviviam lado a lado. Para se ter idéia dessa aberração que a história nos conta, 20 mil cidadãos livres, os que tinham direito a voto na “democracia”; dominavam 400 mil escravos que não possuíam direito a voto, assim como as mulheres dos cidadãos livres. Mesmo assim a Grécia dos famosos generais estrategistas soube muito bem utilizar o poder de sua “democracia”, aliando-o ao trabalho escravo e ao seu poderoso exército. Então logo dominou uma parte considerável do mundo antigo e pode difundir a sua cultura, que atualmente constitui um dos principais sustentáculos da civilização ocidental. A história nos conta também que os impérios não duram para sempre; e o domínio grego não foi exceção. Ele foi sobrepujado pelo império romano e isso ocorreu em duas etapas. Na primeira etapa Roma conquistou o domínio do Mediterrâneo Ocidental, vencendo Cartago, então uma próspera cidade fenícia no Norte da África. Isso ocorreu na terceira Guerra Púnica (150 – 146 a.C.). Na segunda etapa, Roma conquista o Mediterrâneo Oriental, 13
  • 14. vencendo sucessivamente, a Macedônia, Grécia, Síria, Ásia Menor, Palestina e, finalmente, o Egito no ano 30 a.C. Lá por volta do século V d.C. surgiu outro sistema produtivo interessante denominado feudalismo. E o que contribuiu para o seu surgimento foi a destruição do império romano do Ocidente: como as inúmeras invasões bárbaras e as más políticas econômicas implantadas pelos imperadores romanos. Como resultado da queda império romano ocidental, a Europa passou a apresentar baixa densidade populacional e pouco desenvolvimento urbano; decorrentes das mortes provocadas pelas guerras, doenças e a insegurança pública nas regiões debilitadas pela pobreza. Por conta desses fatores os nobres romanos se afastaram das cidades, com medo de serem escravizados ou saqueados. Na fuga eles levaram para lugares distantes os seus servos e bens; contribuindo dessa maneira para o nascimento da economia feudal do ocidente, fundamentada em uma economia auto- suficiente, em que predominava a agricultura e a baixa circulação de moedas. A espinha dorsal daquela sociedade feudal agrária era composta por três grupos sociais: a nobreza, o clero e os camponeses. A nobreza era constituída pelos senhores feudais, suas famílias e parentes, e eles possuíam considerável poder político sobre as demais classes. Pois o rei lhes concedia as terras, considerada a riqueza da época, e eles por sua vez, em troca, juravam lealdade militar a ele. Por isso os senhores feudais eram considerados “vassalos” do rei. O clero exercia um poder político considerável, devido à religiosidade do povo. Então, em nome de Deus e da fé popular, ele negociava o seu apoio aos senhores feudais, para desestimularem revoltas populares contra eles; que em troca o recompensava de diversas formas. A história demonstra que quando os poderosos confabulam; é sempre o povo que sofre e paga a conta. De modo que os pobres camponeses, considerados os “servos da gleba”, na condição de semi-escravizados, precisavam trabalhar arduamente para sustentar a situação social opressora que o feudalismo lhe impunha. O esquema opressor feudal funcionava da seguinte maneira. Em troca da permissão do uso da terra e de proteção militar, os servos eram obrigados a pagar diversos tributos. Se não bastasse isso, eram também obrigados a prestarem serviços para a nobreza por alguns dias durante o ano. No feudalismo as terras dos senhores feudais eram divididas em três partes. O manso senhorial, de uso exclusivo do senhor feudal; o manso 14
  • 15. servil - as terras arrendadas aos servos; e finalmente o manso comunal; que eram terras comuns aos nobres e camponeses – os pastos, bosques e florestas. Realmente não era fácil a vida para o povo naquela época, pois os servos precisavam cumprir inúmeras obrigações que lhes custavam muito suor e quando não, os olhos da cara. Para se ter noção do tamanho da exploração a que os servos eram submetidos menciono algumas obrigações que eles precisavam cumprir: - Trabalhar compulsoriamente nas Terras do senhor feudal alguns dias da semana. − Pagar pelo uso dos bens do feudo como: moinhos, fornos, celeiros e pontes. − Cada membro da família dos camponeses deveria pagar um imposto ao senhor feudal. − O servo deveria pagar 10% de sua produção (dízimo). − As pessoas livres, os chamados “vilões” que viviam nas vilas, deveriam pagar um tributo denominado “censo”. − Os servos e os vilões deveriam pagar aos senhores feudais para serem julgados nos tribunais dos nobres. − Quando um nobre ou o seu parente ia se casar, todo servo era obrigado a pagar uma taxa para ajudar no casamento. − O servo era obrigado a hospedar o senhor feudal e sua família se necessário. Com tantas taxas, impostos e obrigações, a ajuda que os nobres recebiam do clero para manter o povo “cordeiro” era compreensível e útil. Mas, ainda assim sempre havia uma tensão social latente entre os nobres e os explorados servos da gleba. Com o passar do tempo, muitas cidades européias da Idade Média tornaram-se livres do jugo da nobreza. Essas cidades eram denominadas “burgos” e seus habitantes eram chamados de “burgueses”. Com o passar do tempo os burgueses passaram a contar com o apoio do rei, e por isso eles entraram em conflito de interesses com os nobres. Mais adiante na história esses burgueses enriqueceram e começaram a explorar em larga escala a mão-de-obra assalariada. Enquanto a nobreza, por sua vez, entrava em decadência; o que não quer dizer que muitos capitalistas atuais não descendam daqueles nobres, pois os ricos e poderosos sempre se adaptam às situações conjunturais em qualquer época da história. Há de se 15
  • 16. considerar também que a “nobreza” ainda é uma realidade em muitos países do mundo atual; sobretudo na Europa, onde ela possui grande riqueza e muito prestígio social. Com a queda do feudalismo no século xv surgiu o absolutismo. Um sistema político dominado por um rei poderoso e centralizador, apoiado financeiramente por burgueses milionários, em substituição a decadente nobreza. De certo que o absolutismo foi fundamental para o surgimento do Mercantilismo, sistema esse fundamentado em atividades comerciais agressivas e em larga escala que visava acumular ouro e prata. Pois os mercantilistas acreditavam que a riqueza de uma nação dependia da acumulação de metais preciosos, e que isso só ocorreria por meio de uma balança comercial favorável. Assim, a política comercial mercantilista procurava incentivar as exportações e restringir as importações. Entretanto, a adoção dessa política gerava grandes tensões internacionais e muitos conflitos armados. Em todo caso, o mercantilismo possibilitou a colonização das Américas e de outras áreas do planeta. Mas para isso utilizou-se uma antiga chaga da humanidade – o escravismo. Que fez sofrer bastante os negros, índios e outros habitantes locais escravizados nas Américas e em outras regiões do mundo. O mercantilismo escravagista possibilitou à Europa acumular as riquezas provenientes das colônias existentes nas Américas, principalmente o ouro e a prata, o que impulsionou a prosperidade européia e possibilitou o surgimento do capitalismo devido a revolução industrial na Inglaterra na segunda metade do século XVIII. Com a revolução industrial inglesa servindo de poderoso fermento, a burguesia conquistou o topo da cadeia econômica. E o capitalismo pode florescer de maneira avassaladora; promovendo um progresso material e tecnológico sem precedente na história humana. O capitalismo pode ser analisado de óticas diferentes; capitalismo comercial, capitalismo industrial ou capitalismo financeiro. De qualquer forma, a busca do lucro máximo está presente em qualquer dessas óticas. Porém, o boom das Bolsas de Valores verificado no mundo afora, sobretudo após a segunda guerra mundial, promoveu uma concentração excessiva de riqueza em poder do capitalismo financeiro, dominado pelos grandes Bancos. E esse fator gerou graves distorções no comércio e na produção mundial. A prova disso está na presente Crise Financeira Global atual, que possui o “mérito” inédito de abalar tanto os países capitalistas quanto os países considerados “socialistas”. E esse caos financeiro só foi possível em decorrência da interdependência globalizada mundial. Tornando atualíssima a citação de que “estamos todos em um mesmo barco”. 16
  • 17. As Crises do Capitalismo É bom que se diga que as crises econômicas e seus transtornos fazem parte da história humana. Nenhum sistema econômico ficou imune a elas, pois as suas causas são decorrentes de variados fatores como revoluções, guerras, instabilidades sociais, revoltas religiosas, entre outros; que acompanham o desenvolvimento humano desde os tempos imemoriais. Na Roma antiga, por exemplo, houve uma grande revolta contra o escravismo, liderada por um gladiador de origem trácia de nome Spartacus (120 a.C a 70 a.C); que ficou conhecida como “guerra dos escravos”. Sabe- se que essa guerra foi para valer; pois Spartacus conseguiu liderar um forte exército composto por mais de 100 mil ex-escravos, e não era para menos, veja o que o escritor Plutarco mencionou sobre ele: "Spartacus era um homem inteligente e culto, mais helênico do que bárbaro". Entretanto, apesar da coragem inigualável e da grande inteligência estrategista, Spartacus foi derrotado pelo exército imperial romano e a escravidão continuou por muitos séculos mais. Em matéria de instabilidades e crises o capitalismo também não fugiu a regra. Fato é que em 1873 houve a primeira grande crise capitalista, também chamada de “longa depressão”, devido ao fato dela durar até o ano de 1896. Pois bem, essa crise ocorreu com a quebra da indústria ferroviária; que até então crescia em ritmo alucinante e proporcionava bons lucros. Entretanto, quando o setor ferroviário se consolidou, houve uma quebra brusca nos negócios que derrubou os preços e os lucros, o que levou muitas empresas a falência. A quebradeira no setor ferroviário provocou um efeito cascata que contaminou outros setores da economia; causando falências generalizadas e desemprego em massa. O desastre provocado pela “longa depressão” foi grande. Das 364 empresas ferroviárias existentes nos EUA, 84 delas faliram. E a crise não ficou restrita apenas ao solo americano; as economias da Inglaterra, Alemanha e Itália foram gravemente afetadas. Como conseqüência nefasta dessa quebradeira internacional; além do desemprego em massa e das inúmeras falências da empresas, surgiu o capitalismo monopolista que tentava a todo custo controlar a concorrência em prejuízo dos consumidores. Outra grande crise capitalista ocorreu em 24 de outubro de 1929 - a chamada “quinta-feira negra”, quando a Bolsa de Nova York quebrou, provocando um estrago monstruoso. 17
  • 18. Naquele mês fatídico a bolsa de Nova York caiu 40%, causando uma quebradeira em cascata, onde milhares de empresas ficaram arruinadas e 1/3 da população americana perdeu o seu emprego nos anos seguintes. Posteriormente a crise americana contaminou a Alemanha que se reerguia da primeira guerra mundial, com dinheiro americano. A França por sua vez, que recebia reparação de guerra alemã, também acusou o baque americano. A “quinta-feira negra” também fez grandes estragos no Brasil, pois os EUA eram grandes compradores do nosso café. Com o mercado americano em crise a quantidade de café exportada caiu, fazendo despencar o preço deste produto. A combinação perversa da redução na quantidade de café exportada com a queda de preço afetou significativamente a economia brasileira. Para combater a crise americana o governo daquele país implantou o “New Deal”, um mega projeto econômico que buscava aumentar os gastos públicos para gerar empregos e debelar a crise. No lado brasileiro o governo procurou comprar enormes estoques de café para recuperar o seu preço. De modo que após a crise de 1929 o Estado brasileiro se tornou mais intervencionista, com forte presença direta na economia, sobretudo depois da criação da Indústria Siderúrgica Nacional e a Petrobrás. Convém ressaltar que naquela época, por força das circunstâncias econômicas, a intervenção do Estado na economia tornou-se um fenômeno mundial. Mais adiante na linha do tempo ocorreu em 1973 o famoso “Choque do Petróleo”, quando o preço desse produto disparou no mercado internacional, afetando quase todas as economias mundiais; já que a nossa civilização é extremamente dependente desse produto. Fazendo efeitos perversos secundários afetarem economias poderosas como os EUA, Europa, e Japão por conta da inflação que disparou, afetando significativamente o comércio internacional. Como desdobramento positivo da crise petrolífera no Brasil, o governo brasileiro procurou por fontes alternativas de energia e acabou criando o pró-álcool; o que impulsionou a indústria automobilística brasileira a produzir motores mais econômicos. O Japão, que também depende bastante do petróleo importado, decidiu investir na indústria eletrônica; para produzir produtos de elevado valor agregado destinados para a exportação, na intenção de realizar superávits com o comércio exterior e assim promover a prosperidade para o seu povo. 18
  • 19. Em 1987 ocorreu outra grande crise no capitalismo financeiro; quando o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York registrou a maior queda da sua história. Em um único dia o índice Dow Jones, que é grande importância para o mercado financeiro mundial, despencou 22,6%. Mas o que teria causado essa queda brusca traumática? Na realidade ocorreu uma combinação de três fatores potencialmente perigosos: a desaceleração da economia, a desvalorização do dólar e o temor de inadimplência dos empréstimos bancários. Esses fatores combinados causaram pânico no mercado americano e contaminaram a Europa e o Japão. Em conseqüência desse pânico generalizado, o Brasil quebrou e por isso foi obrigado à suspender o pagamento da dívida externa. Daí para combater essa crise financeira colossal, os Bancos Centrais do mundo todo rapidamente baixaram as taxas de juros, para que os negócios voltassem ao normal, o que acabou ocorrendo. Não antes de nos legar uma grande lição, pois ela demonstrou o potencial de rápido contágio no mercado financeiro globalizado; até então negligenciado. Uma década depois, mais precisamente no ano de 1997, aconteceu a crise da Ásia. E tudo começou com um rápido processo de fuga de capitais, combinado com uma desvalorização cambial; ocorrido entre os chamados tigres asiáticos: Tailândia, Coréia do Sul, Hong-Kong, Indonésia, e Filipinas. Então o mercado mundial entrou novamente em pânico, pois aquele mercado era considerado sólido e confiável; causando a derrubada das bolsas de Valores do mundo inteiro. No entanto, o Brasil conseguiu sair relativamente incólume dessa crise. Como reflexo da crise asiática os preços das mercadorias desabaram no mundo todo. O que afetou profundamente a Rússia no ano de 1998, já que ela era muito dependente das exportações de commodities como o gás natural e petróleo. Então o governo russo que fora bastante prejudicado pela queda dos preços internacionais, acabou dando calote na sua dívida externa privada de curto prazo. Essa medida drástica assustou os investidores internacionais e eles passaram a evitar os mercados emergentes. Após ter passado a crise asiática sem ter sentido os seus efeitos, o Brasil foi afetado em cheio com o abalo russo; e precisou enfrentar uma séria crise de fuga de dólares. Porém o governo brasileiro agiu rapidamente para evitar o pior, elevando a taxa de juros para um patamar estratosférico de 45% ao ano, no início de 1999. Um “remédio” amargo que o povo brasileiro está sentindo os seus efeitos colaterais até hoje. Como o mal nunca vem só, as autoridades monetárias da época foram obrigadas a desvalorizar o Real, que até então mantinha paridade com o dólar, fazendo assim uma medida traumática para as contas públicas brasileiras. 19
  • 20. Prosseguindo na linha do tempo das crises capitalistas, em março de 2000 estourou a “bolha da internet”. A história dessa crise é simples. As empresas de alta tecnologia cresciam rapidamente desde 1995 e por isso tinham os preços de suas ações supervalorizadas. Até que um dia os preços dessas ações despencaram e causaram uma grande quebradeira. E foi um estrago bastante grande. Pois ao final de 2000 as empresas já haviam perdido US$ 1,7 trilhão em valor de mercado de suas ações. E inclusa no pacote das muitas empresas que faliram devido ao estouro daquela “bolha”, estava a Worldcom, considerada a maior falência da história dos EUA até então. O ano de 2001 foi um marco para a história mundial, por conta do ataque terrorista às torres gêmeas do World Trade Center e de outros centros estratégicos dos EUA. De fato esse atentado terrorista condenável conseguiu abalar a credibilidade americana aos olhos do mundo ao vivo pela televisão. E isso era tudo que os terroristas desejavam. Como resultado direto desse ataque, na semana sequinte houve uma queda violenta no índice de ações da Bolsa de Nova York. Com isso os investidores perderam montanhas de dinheiro. Algo em torno de US$ 8 trilhões, ou 10% do total do mercado de ações. No ano de 2007 ocorreu a “crise imobiliária dos EUA”, também chamada de “crise de crédito ou de liquidez”. E ela rapidamente ultrapassou as fronteiras do país; e se transformou no monstro atual, que é a “crise financeira global”. A maior já ocorrida após a “grande depressão de 1929”. Sabe-se que grandes incêndios começam por pequenas fagulhas, de modo que um dos componentes dessa crise foi a política de crédito abundante posta em prática pelo presidente Bush (o filho), para reaquecer a economia traumatizada pelos atentados de Osama Bin Laden aos EUA. O que aconteceu daí em diante foi uma verdadeira corrida dos americanos para tomarem empréstimos baratos e comprar imóveis com base em hipotecas. E como os bancos americanos foram bastante generosos nos empréstimos, eles fizeram vistas grossas quanto aos riscos de inadimplência dos clientes. No entanto esse procedimento equivocado custou caro para os EUA e para o mundo. Voltando aos empréstimos imobiliários, a legislação americana é rígida e caso o tomador de empréstimo não pague a hipoteca, ele perderá o imóvel. E foi justamente isso que ocorreu em massa naquele ano negro de 2007, quando os preços dos imóveis despencaram, obrigando milhares de americanos a darem calote nos empréstimos contraídos com os bancos. A onda de inadimplência generalizada provocou fortes prejuízos nos bancos americanos, culminando com a quebra do Lehman Brother, um dos maiores daquele país. Daí em diante a quebradeira de empresas americanas logo se 20
  • 21. espalhou no mercado mundial; consolidando assim uma crise de “falta de confiança” no sistema financeiro internacional. Com isso os resultados catastróficos logo apareceram, quando os bancos sólidos e temerosos, enxugaram o dinheiro do mercado, empurrando o grave problema de liquidez para outros setores da economia. Fato este que demandou intervenções governamentais urgentes, para que o sistema financeiro internacional não fosse para o fundo do poço. As intervenções governamentais nos EUA e em grande parte de países capitalistas desenvolvidos formaram uma onda de estatização sem igual na história do capitalismo moderno. Para se ter uma pequena idéia dessa onda estatizante, o governo americano possui 60% do capital acionário da companhia automobilística General Motors; já no Bank of América ele possui 50% e no Citigrooup 36%. A esta altura você já deve ter percebido que esta crise global é bem diferente das crises anteriores, e que o capitalismo está mudando a “olhos vistos”. Então você poderá até questionar a afirmação do ex-ministro brasileiro Delfin Neto que mencionou: “Os mercados emergem melhores e mais eficientes a cada crise.” Naturalmente a afirmação do ex-ministro Delfin Neto não é totalmente falsa e nem totalmente verdadeira, considerando-se a magnitude transformadora que a presente crise global está proporcionando, utilizando- se de estatização e regulamentações comerciais e econômicas que alterarão o perfil do capitalismo para sempre. De qualquer modo, em que pese os tristes transtornos provocados pela crise financeira capitalista, ela certamente aperfeiçoará o mercado, pois ele é insubstituível. Entretanto, daqui para frente ele não será mais “o todo poderoso”. A verdade sobre as Bolsas de Valores Com a crise global na pauta do dia não são poucos aqueles que criticam o papel das Bolsas de Valores, rotulando-a de grande vilã do cruel jogo especulativo capitalista, no qual milhões de investidores perdem verdadeiras fortunas da noite para o dia. E isso é verdade, mas apenas parte da verdade; pois as Bolsas de Valores possuem um papel muito mais importante e que vai além do pretenso cassino; que é o de promover a eficiência dos mercados, quer sejam eles produtivos, financeiros ou econômicos. Trata-se de um papel imprescindível para a geração, 21
  • 22. acumulação, controle e distribuição de riqueza; da qual todos se beneficiam: investidores, tomadores de recursos, governo e o povo. No mundo atual são as Bolsas de Valores as grandes fontes dos recursos que promovem o progresso sócio-econômico global. Portanto, é difícil imaginar um mundo sem elas, tanto é verdade que a China está utilizando o inovador “socialismo de mercado” para promover o seu progresso. As razões que transformaram as Bolsas de Valores nas grandes fontes de recursos que promovem o progresso material são simples: primeiramente pelo fato de que para o tomador de recursos financeiros o custo de capital muito é mais baixo se comparado aos Bancos. Em segundo lugar, para o emprestador de recursos financeiro (o investidor) há sempre a possibilidade de que ele realize lucros tentadores nesse atraente “jogo de mercado” que as Bolsas proporcionam. Assim, esses mecanismos de atratividade conferem a elas um dinamismo especial, que certamente contribui para impulsionar o progresso produtivo e social daqueles países que a possuem. Convém ressaltar que o “jogo de mercado” é para profissionais experientes, isso não significa que um investidor leigo e com poucos recursos não possa participar dele, pois a internet possibilita o acesso de milhões de pequenos investidores às Bolsas. Em todo caso eles devem ser assessorados por pessoas experientes do meio financeiro, para não perderem dinheiro. É só isso. O nascimento do Socialismo A revolução industrial e o capitalismo tornaram-se os meios mais eficientes e eficazes de gerar riquezas e promover a prosperidade na história da humanidade. Para onde quer que você olhe, pode observar invenções advindas da parceria de sucesso que foi a revolução industrial e o capitalismo: computadores, lâmpadas elétricas, geladeiras, televisão, cinema, carro, aviões, trens e tudo mais. Entretanto, você saberia citar alguma invenção importante advinda do sistema socialista, a não ser o satélite Sputnik? Mas nem tanto ao céu e nem tanto a terra, de sorte que o nascimento do capitalismo, em que pese os seus sucessos materiais, não foi tão glorioso como se possa imaginar. Devemos considerar o fato de que os trabalhadores nos primórdios do capitalismo também eram espoliados, tanto quanto os trabalhadores dos outros sistemas econômicos anteriores. Pois trabalhavam o dia inteiro e ganhavam pouco, seus direitos eram limitados e não podiam fazer greves. Nas fábricas, muitas das quais insalubres, trabalhavam até as crianças; e por ai vai. 22
  • 23. Foi neste ambiente duro para as classes trabalhadoras que Karl Marx escreveu em 1867 o livro intitulado “O Capital”; onde fez críticas contundentes ao sistema capitalista. No livro Marx faz um correto diagnóstico da problemática do capitalismo; centrada na exploração da classe proletária (os trabalhadores assalariados) pela burguesia (os capitalistas). E ele foi brilhante ao afirmar que “toda riqueza provém do trabalho”. Alguém poderia refutar essa afirmação, sem utilizar Deus em sua argumentação? De forma que, segundo ele, a exploração capitalista se dá através da apropriação do excedente do valor gerado pelo trabalho, em relação ao valor pago para os trabalhadores na forma de salários. A esse valor excedente, Marx denominou “mais-valia” – o lucro do capitalista, do qual os trabalhadores são excluídos injustamente até hoje, em que pese os avanços nas condições de trabalho e nas leis trabalhistas. E isso obviamente precisa ser mudado. O Socialismo na prática A experiência socialista na prática começou na Rússia através de uma revolução sangrenta; que em 1917 tirou do poder do Czar Nicolau II; ainda em meio à primeira Guerra Mundial. De fato os exércitos do Czar não estavam atuando de maneira satisfatória na guerra e isso gerou um grande descontentamento popular contra o seu governo; colaborando para que os socialistas a conquistassem o poder. A vitoriosa revolução socialista de 1917 na Rússia levou Lênin, Stalin e Trostsky ao poder, dando início a uma “ditadura de partido único” e culminou com a formação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. Certamente um período negro da história socialista, sobretudo após a morte de Lênin; quando Stalin assumiu o poder. Pois o seu governo foi marcado por corrupções, perseguições, mortes aos inimigos políticos; além do mais proibiu os cidadão de deixarem o país. O próprio Trotsky precisou fugir desse regime insano para o México e lá foi assassinado, provavelmente por agentes secretos de Stalin. Calcula-se que milhões de soviéticos morreram sob o regime negro de Stalin. Por conta de tudo isso a URSS foi apelidada de “cortina de ferro”. Os revolucionários comunistas desejavam aplicar na prática o que Marx e outros socialistas pregavam em teoria, ou seja, que os meios de produção deveriam pertencer ao Estado. Dessa maneira a relação de explorados e exploradores, a chamada “luta de classes”, seria extinta. Entretanto, as mazelas que estavam ocorrendo na URSS e em outros países socialista indicavam que algo não ia bem; conforme diz o dito popular: “na prática a teoria é outra”. Mas o que teria dado errado? 23
  • 24. Causas do Fracasso do Socialismo Entre a teoria e a prática há um abismo a ser transposto; pois a realidade nem sempre é o que imaginamos. Por isso que as ciências necessitam de comprovações e de explicações lógicas. De maneira que o capitalismo surgiu como uma evolução natural de outros sistemas que o precederam no tempo, e por isso ele passou pelo crivo da experiência prática, que só o tempo permite comprovar e melhorar. Diferentemente o socialismo surgiu como uma ideologia que se opunha ao capitalismo selvagem, que se iniciara com a revolução industrial inglesa, em que os ricos capitalistas levavam vantagem sobre as classes trabalhadoras, ficando com a riqueza excedente produzida pelo trabalho assalariado. Os revolucionários socialistas tomaram o poder na Rússia para mudar essa realidade. Então confiscaram à força as propriedades privadas; valendo-se da ditadura de partido único, dotada de uma poderosa estrutura governamental repressora; com “direito” a campos de concentração na Sibéria, perseguições e fuzilamentos sumários de opositores ao governo. A gloriosa revolução socialista que havia começado para defender os direitos do povo, havia se voltado contra ele de forma brutal. Demonstrando que na prática o discurso governamental socialista era bem diferente, o que causou profunda insatisfação popular. Após o ano de 1917 a ditadura soviética se consolidou, com as propriedades rurais e fábricas passando para o controle governamental, que obviamente causou resistências por parte dos antigos proprietários. De maneira que nos anos posteriores essa “resistência” causou a morte de milhões de pessoas, além de milhares que foram presas e enviadas para a Sibéria como bem retratou Solzenizin em seu livro “Arquipélago Gulag”. Se não bastasse as violentas perseguições políticas os comunistas se voltaram contra a religião. Então passaram a perseguir os religiosos de todo o país como o diabo persegue as pobres almas. Naquela época obscura e retrógrada, muitas Igrejas foram fechadas ou destruídas. Entretanto o povo soviético que é muito religioso, jamais abdicou de sua fé, e os cultos continuaram sendo realizados na clandestinidade, como o foram nos primórdios do cristianismo. Com a estatização generalizada o estado soviético passou a controlar toda a produção de bens e serviços. E a partir daí o sistema socialista começou a revelar na prática os seus graves defeitos. Principalmente pelo fato de que o “planejamento global” realizado pelo governo ditatorial dava ênfase a produção de armas, em detrimento aos produtos que a população 24
  • 25. realmente necessitava, como alimentos industrializados, remédios, eletrodomésticos e outros artigos. Então neste período ocorreu uma escassez generalizada de bens; forçando a população à enfrentar longas filas para se comprar algo; principalmente caso fosse pão e carne. Paralelamente as agruras em que o povo soviético vivia por conta dos desvios produtivos, a nomenklatura enriquecia desproporcionalmente. Para piorar as coisas, aquela classe não enxergava um palmo além do seu nariz que não fossem os seus próprios interesses particulares. Dessa maneira patética a nomenklatura conseguiu a proeza de substituir com “ineficiência espantosa” a tão odiosa classe burguesa. Como diz o ditado popular: “não há nada tão ruim que não possa piorar”, de modo que a nomenklatura conseguiu a proeza de ser pior para o povo soviético do que a própria burguesia capitalista do regime czarista. E foi este ponto central que posteriormente levou o socialismo a se aproximar do capitalismo. No cômputo geral os principais resultados negativos obtidos com a estatização dos meios de produção na ex-URSS e em outros países socialistas foram os seguintes: − Ineficiência produtiva; − Escassez e baixa qualidade de produtos e serviços; − Extinção do dinamismo empreendedor; − Baixa produção tecnológica e científica; − Baixa competitividade produtiva e comercial; e − Obsolescência do parque industrial. Certamente podemos resumir as causas do fracasso socialista em três itens: 1 - A ditadura de um partido único, que jamais corresponderá aos anseios populares. O comunismo pode ter sido relativamente útil para tirar os países socialistas do atraso do passado, mas não será útil para inseri-los no progresso futuro. 2 - A estatização generalizada foi inadequada e não conseguiu elevar o padrão de vida da população. Por conta disto houve posteriormente uma desestatização seletiva em muitos países comunistas. 3 - O sistema socialista não solucionou o conflito de classes, apenas mudou o seu tipo. A classe burguesa que explorava os trabalhadores foi substituída de modo pior pela nomenkatura. Portanto esse tipo de exploração ainda continua em países 25
  • 26. socialistas, como a China, em que pese o seu expressivo “sucesso” vem alcançando no cenário político-econômico mundial. Em razão desses fracassos mencionados, as economias socialistas adotaram certas práticas capitalistas, como a de Bolsas de Valores, a propriedade particular e economia de mercado. Questões estas que serão convenientemente abordadas no próximo capítulo. 26
  • 27. CAP. II A Convergência: Capitalismo & Socialismo Após a segunda Guerra Mundial os Estados Unidos da América surgiram com a maior potência militar e econômica do planeta. Claro, a Europa estava devastada pela guerra insana de Hitler. O Japão estava aniquilado e seu povo sentindo os efeitos catastróficos que as duas bombas atômicas fizeram nas cidades de Hiroxima e Nakasaki. Uma barbaridade que considero um verdadeiro holocausto do povo japonês e pelo qual os EUA precisam se desculpar. A Rússia também estava com suas cidades destruídas e o seu povo lamentava os seus vinte milhões de mortos durante a guerra. Por outro lado na América não havia caído uma única bomba. O povo americano não sentiu na pele as crueldades da guerra; quando um inimigo externo destrói cidades inteiras e matam mulheres, crianças e velhos como ocorreu na Rússia, ou quando bombardeiam cidades dia e noite, como ocorreu em Londres; ou mesmo em Dresden – Alemanha, onde as bombas incendiárias aliadas fizeram mais de cem mil vítimas civis em menos de uma semana. Por conta da preservação de seu território e de seu povo, os EUA se transformaram em um porto seguro para capitais do mundo todo. E não foi só o dinheiro que fluiu para lá. Pessoas importantes e cientistas, a exemplo de Einstein, também foram atraídos; impulsionando ainda mais a vibrante economia americana. No jogo sujo da guerra há sempre um país beneficiado, e a segunda grande guerra mundial beneficiou claramente os Estados Unidos. Dela ele saiu rico, fortalecido e como o maior defensor do mundo livre. Pois quem ousaria desafiar os Estados Unidos abertamente, depois de Hiroxima e Nagasaki? Com um ambiente interno sereno e próspero, as empresas americanas puderam se espalhar pelos quatros cantos do planeta. E o mesmo ocorreu com suas bases militares; símbolos máximos do poderio econômico americano. Foi neste contexto militarizado do pós-guerra, que os militares radicais que transitam com desenvoltura no poder americano, conceberam um complexo e engenhoso plano estratégico; que visava provocar uma corrida armamentista com a URSS. A idéia central do plano era simples. Sendo os EUA mais forte economicamente, ele poderia desenvolver armas 27
  • 28. estratégicas poderosas e caras. Logicamente a URSS não gostaria de ficar para trás nessa corrida, e também procuraria desenvolver outras armas igualmente poderosas e caras. Até que em um dado momento, a fraca economia da URSS entraria em colapso, e sacrificaria ainda mais o seu sofrido povo. Então ele se revoltaria e derrubariam os comunistas do poder. Este era o resultado planejado e esperado pelos americanos. O plano foi adiante pois contava com apoio dos bilionários capitalistas da indústria militar, que comandava um poderoso grupo de pressão política no Congresso. E conforme previsto a URSS mordera a isca, pois os seus dirigentes consideravam EUA perigosos, dado que haviam utilizado bombas atômicas no Japão matando milhares de com mulheres, velhos, crianças e tudo mais. Barbaridades que são responsáveis pela desconfiança que o mundo tem a respeito dos EUA até hoje. Com o passar do tempo, o plano americano de corrida armamentista utilizado no governo do presidente Ronald Reagan; se provou eficiente e acabou dando certo. A economia soviética que já capengava, perdeu o fôlego no governo de Mikael Gorbachev. Então em 1987 ele sabiamente iniciou algumas reformas econômicas para salvar a integridade da URSS. Mas mesmo assim, as coisas ainda continuaram ruins. Até que no ano de 1991, Gorbachev renunciou o poder. E esse ano foi um marco histórico mundial muito importante; pois marcou a extinção da URSS e o surgimento de uma única superpotência hegemônica, os Estados Unidos da América. Apesar do grande progresso militar e econômico americano o mundo trabalhava em silêncio. A economia japonesa rapidamente se recuperou no pós-guerra e passou a ser a segunda economia do mundo. Por sua vez, a Europa também se recuperou e se uniu formando a “comunidade econômica européia”; com direito a uma moeda única denominada Euro e a um passaporte comum para seus cidadãos. Poucos acreditavam que a comunidade européia desse certo, por conta das enormes diferenças culturais, mas realmente deu. Então, com a recuperação da Europa e do Japão, houve um o acirramento da “guerra comercial internacional”. Fato que causou o milagre de unir ainda mais os europeus contra o poderio econômico dos EUA e Japão; principalmente com a entrada de países do leste europeu para comunidade econômica européia. 28
  • 29. O Socialismo de Mercado Do outro lado do mundo, a China comunista prudentemente havia iniciado importantes reformas econômicas em 1978; implantando o “socialismo de mercado”, fazendo assim uma grande virada filosófica na ideologia socialista, que posteriormente se mostrou acertada. Pois como disse Deng Xiao Ping, “não importa a cor do gato, desde que ele pegue o rato”; significando que a China convergia para algumas práticas de sucesso adotadas pelo Capitalismo, como a inclusão das Bolsas de Valores para intermediar investimentos e negócios. Ela passou também a aceitar investimentos de risco estrangeiro e a permitir a remessa de lucros para o exterior. Reconheceu a importância da propriedade privada e outras disposições capitalistas. O certo é que essas reformas econômicas funcionaram, e a China passou a desenvolver-se rapidamente; com taxas de crescimento em torno de 10% ao ano, algo sem similar no planeta. O sucesso que China vem obtendo na economia e na política, aliado ao seu grande mercado interno composto de 1,3 bilhão de pessoas, tornaram-na no mais importante pólo de atração empresarial mundial. Do qual nenhum capitalista de visão pretende ficar fora, pois o progresso lá é tão espantoso, que as projeções econômicas indicam que a China será a primeira potencia econômica em 2030. Vulnerabilidades da China socialista Todo gigante tem o seu “calcanhar de Aquiles”, o colosso chinês não poderia ser exceção. A China é um gigante vulnerável porque não tem democracia. Por isso pode tropeçar a qualquer instante e causar grandes transtornos estragos para o seu próprio povo e para a comunidade internacional. Os regimes ditatoriais a exemplo do o chinês é um fardo pesado para o povo, que um determinado dia pode se cansar dessa situação e se rebelar; fato que causa uma preocupação constante para mundo. Afinal os ditadores nunca possuem boas intenções, nem para com o seu próprio povo e nem com os seus vizinhos. A história comprova isso. Pensando nessas questões 300 intelectuais chineses lançaram a “Carta 08” na internet, que posteriormente ganhou mais 8.000 assinaturas. Na realidade trata-se de um manifesto importante na medida em que propõe mudanças fundamentais na política chinesa. 29
  • 30. Na prática, caso essas sugestões sejam adotada, certamente resultaria no fim da tirania do partido comunista daquele país. Pois entre as mudanças propostas estão eleições diretas, pluripartidarismo, divisão de poderes e liberdades religiosa, de manifestação, de associação e de expressão. A “Carta 08” apresenta o retrato fielmente o “calcanhar de Aquiles” da China. E nem preciso dizer que os seus signatários foram cruelmente perseguidos; principalmente Gao Zhisheng, o advogado que ficou famoso defendendo os membros da seita religiosa Falun Gong e cristãos. Mesmo sendo perseguido pelas autoridades chinesas, Zhisheng está cotado para ganhar um prêmio Nobel da Paz por causa de sua correta atuação política. Como se não bastasse a tirania que o governo chinês submete o seu povo, ele faz o mesmo com povo tibetano. Pois o Tibet, que é um país altamente religioso e que está encravado nas montanhas do Himalaia, que possui imensas riquezas naturais; razão fundamental para que a China o ocupasse a força em 1954. A ocupação do Tibet pelas “forças materialistas chinesas” foi tão brutal que ocasionou a destruição de muitos templos budistas e perseguição de milhares de sacerdotes. Obrigando que o líder máximo daquele país, o Dalai-Lama, fugisse para a Índia, onde reside até hoje com a sua corte. Nas palavras recentes do Dalai: “O Tibet vive o inferno na Terra sob o controle de Pequim”. O Sucesso corporativo do Oriente Uma grata surpresa que ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, mais precisamente entre a década de 1960 e 1990, foi o surgimento dos chamados “tigres asiáticos”: Coréia do Sul, Formosa, Hong-Kong e Cingapura. A palavra tigre lembra “garra e agressividade” e a idéia é essa mesmo, já que esses países adoram uma postura agressiva na industrialização e no comércio internacional. Para concretizar os seus objetivos os tigres asiáticos adotaram uma estratégia simples visando alavancar suas economias: mão- de-obra barata e disciplinada, fortes incentivos para a atração de capital de risco estrangeiro, isenção de impostos e finalmente, o baixo custo para instalar empresas. E, convém destacar que essa estratégia foi seguida a risca pelo governo e empresários. O que resultou em um mega sucesso planetário. Parte do sucesso dos “tigres' é também explicado pela economia japonesa; em expansão acelerada e que foi crucial para criar um dinamismo asiático sem igual. O sucesso do Japão além de servir de 30
  • 31. exemplo alavancou o desenvolvimento dos “tigres asiáticos”. Pois o Japão firmara acordos de parcerias empresariais e comerciais aquele bloco. Dos países que compõem os tigres, o sucesso mais marcante foi o ocorrido com a Coréia do Sul; que na década de 1960 era um país relativamente pobre. Atualmente a Córeia do Sul é um gigante econômico que possui conglomerados econômicos famosos, como a Sansung, LG e KIA; que estão presentes em todo o planeta. Fato é que o Japão, a China continental e os “tigres asiáticos” transformaram a Ásia num centro importantíssimo de produção industrial em escala planetária. Isso vem atraindo montanhas de dinheiro em capital de risco do restante do mundo; alterando significativamente o fluxo e a composição do comércio internacional. No entanto, será que esse sucesso todo estará de fato beneficiando os trabalhadores como propunha Marx? Na verdade não está e mais adiante comentarei a causa. Voltando nossa atenção no “sucesso asiático”, existem outros fatores que também explicam o atual boom da região. O primeiro deles é a existência de Estados centralizados e por vezes ditatoriais, que realizam investimentos em infraestrutura e educação, visando atrair o capital de risco estrangeiro. Outro fator importante a ser considerado no sucesso asiático refere-se à distribuição da renda daqueles países, que é mais equilibrada em relação a outros, e por isso atraente aos olhos dos investidores internacionais. É importante ressaltar que os trabalhadores asiáticos possuem pouca proteção social, férias reduzidas, salários aviltados e fazem excessiva jornada de trabalho. Fatores estes que compensam a escassez de matérias primas daqueles países, e que precisam ser importadas em larga escala. A aviltada remuneração dos trabalhadores asiáticos é um exemplo claro da exploração trabalhadores pelos capitalistas; em que pese o fato desses países estarem obtendo progresso industrial invejável. Prosseguindo a análise do “sucesso asiático”, esses países orientaram suas economias para o mundo exterior, praticando “preços competitivos” para suas mercadorias; aviltando os salários dos seus trabalhadores, coisa que os franceses chamam de “dumping social”. Certamente o “dumping social” e o “protecionismo”, constarão na pauta da Organização Mundial do Comércio – OMC, com vistas à regulamentação e normalização do luxo do comércio internacional no futuro próximo. Considerando-se que é difícil estancar a crise financeira que o mundo interdependente atravessa, se os países intensificarem o “protecionismo e o dumping social”, que descaracterizam significativamente a competição no 31
  • 32. comércio internacional. Tanto assim que as palavras sábias do líder espiritual Mahatma Gandhi resumiu esta questão: “Odeio o privilégio e o monopólio. Para mim, tudo o que não pode ser dividido com as multidões é tabu”. O povo humilde é certamente o grande prejudicado na ocorrência protecionismo e dumping social no mercado internacional. É por isso que os temas em questão serão abordados exaustivamente na ONU num futuro próximo. Por isso, um mundo melhor é inconcebível se prevalecer o protecionismo e dumping social. Outro fator importante para explicar o “sucesso asiático”; vem da ética oriental calcada em Confúcio, crucial para o estabelecimento de um modelo socioeconômico de elevado equilíbrio social; centrado na hierarquia, disciplina e nacionalismo. No qual as grandes corporações são encaradas como grandes famílias, ordeiras, produtivas e imprescindíveis. Ressalto também que os países asiáticos se esforçaram para sensibilizar empresas e governos dos EUA e Japão, para que realizassem negócios com eles. E esse empenho acabou dando certo, pois os EUA precisavam fortalecer a região com base no capitalismo, para transformá-la em uma barreira importante contra o socialismo. Principalmente contra o socialismo chinês, que a partir de 1978 começara ganhar “músculo” econômico e isso preocupava bastante a inteligência americana, pois logo a China logo se tornaria em um gigante e afetaria seus interesses na região. Sobretudo os relacionados ao Japão, Coréia do Sul, Tailândia, Indonésia e Formosa. Por outro lado, Japão tinha uma olhar diferente sobre a China. Há tempos que o Japão namorava o imenso mercado chinês; desejando fazer daquele país uma economia complementar a sua. E com essa intenção lá investiu bilhões de dólares, como o fez também em outras regiões promissoras da Ásia. Na realidade o Japão e os EUA, que competem acirradamente por espaços econômicos e políticos na região asiática desde 1950; quando a economia japonesa iniciou o seu milagre econômico; apostavam que a região asiática seria dinâmica, próspera e lucrativa, em poucas décadas. E a aposta estava correta. 32
  • 33. O Milagre econômico Japonês O chamado milagre econômico do Japão foi um acontecimento mundialmente importante e por isso merece ser analisado. Pois ele ocorreu logo após a segunda guerra mundial, quando esse país passou a receber polpudas injeções de capitais dos EUA, em busca de mão-de-obra barata e educada. Fato este que deu início a recuperação do parque industrial japonês destruído na guerra. Assim o dinheiro americano foi fundamental para a recuperação dos conglomerados empresariais familiares - os Zaibatsus. Por outro lado, o Japão possuía uma grande frota mercante que facilitava as importações e exportações de mercadorias. A política industrial do governo japonês instituída em 1950 era consistente e baseava-se em conquistar mercados externos, em particular o norte- americano. Como o povo japonês e muito trabalhador e disciplinado, o resultado não demorou à aparecer. Em 1980 o Japão tornando-se um gigante econômico e alcançou o segundo lugar dentro do mundo capitalista, só é superado pelo seu “patrocinador”, os Estados Unidos da América. Hoje em dia Japão fabrica quase tudo; firmando-se como um dos lideres mundiais nos campo científico, tecnológico, na produção de máquinas leves e pesadas, equipamentos de medicina e muitos outros produtos industriais. Convém destacar também as importantes contribuições japonesas nas áreas de alta tecnologia como eletrônica, robótica industrial, óptica, semicondutores e nanotecnologia. O Japão é isoladamente o líder dos robôs industriais; pois suas empresas utilizam mais da metade dos robôs existentes no mundo. Fato que confere ao país uma elevada produtividade, e permite as empresas elevem os salários dos trabalhadores sem causar inflação. Outro fator crucial que colaborou bastante na realização do “milagre japonês”, foi o grande investimento realizado na educação do povo, sem o qual o progresso industrial acelerado do país não seria possível. Sabiamente, o Japão conseguira educar e instruir o seu povo, baseando-se na liberdade e na criatividade, para poder enfrentar o mundo competitivo da atualidade. Sem o que aquele país não teria galgado a liderança tecnológica. Na realidade, o japonês, além de instruído, também valoriza muito o trabalho. Por isso aquele país é tão rico, embora não possua tantas riquezas naturais. O Japão é uma confirmação prática e coletiva da máxima de Karl Marx de que “toda riqueza provém do trabalho”. O povo e o governo daquele país sabem que precisam trabalhar e estudar bastante para produzirem produtos 33
  • 34. com alto valor agregado, para gerar divisas que bancarão com sobra a importação mercadorias que necessitam como o petróleo, por exemplo. Sabem também que essa política de desenvolvimento econômico demanda altos investimentos em educação e se esforçam nessa direção. Fazendo da educação e do trabalho o grande diferencial competitivo do povo japonês, que assim aumenta consideravelmente a sua riqueza nacional. O outro lado do milagre - A automação industrial pode acirrar a luta de classes Os salários pagos no Japão são relativamente maiores, se comparados com outras regiões do mundo. No entanto, os trabalhadores japoneses também são espoliados pelos capitalistas. Pois naquele país há também a luta de classes. E, se nada for feito no futuro próximo, essa luta entre explorados e exploradores tende a se acirrar, em razão da crescente automação da economia japonesa. Pois a automatização em seus apogeu afetará o fluxo circular da economia interna japonesa. Que em outras palavras, afetará a “ciranda do dinheiro” entre os agentes econômicos. Não é difícil entender como isso poderá ocorrer. Didaticamente existem três agentes econômicos participam do fluxo circular econômico interno de país: o governo, as empresas e os trabalhadores. E a tal ciranda do dinheiro funciona da seguinte forma: os trabalhadores recebem salários trabalhando para as empresas ou para o governo e com os seus salários eles consomem bens e serviços produzidos pelas empresas. As empresas por sua vez pagam impostos ao governo e salários para os seus empregados. No final das contas elas realizam lucros, com os quais fazem novos investimentos e remuneram seus executivos e investidores; que por sua vez, também demandarão bens e serviços das empresas e também pagarão os seus impostos ao governo. Observa-se que em todos os agentes econômicos envolvidos no fluxo econômico circular, há algo em comum. Todos eles precisam ganhar dinheiro para satisfazerem suas necessidades, gastando-o com bens ou serviços de que necessitam. Ou seja, ganham e gastam dinheiro entre si; e qualquer alteração que esses agentes vierem a sofrer; como por exemplo, por conta da variação do nível de empregos e de salários afetados pela automação, certamente provocará desequilíbrios na ciranda circular do dinheiro. Dito isso cabe então perguntar, num exemplo extremo de automação empresarial na sociedade, “as empresas venderão para quem e receberão de quem”? Utilizando-se desse mesmo raciocínio, como trabalhadores e o governo receberão o seu dinheiro para gastar em suas necessidades? 34
  • 35. Por essa razão, o sociocapitalismo vingará no século 21, considerando-se que ele solucionará essas questões levantadas sobre o fluxo circular econômico interno, provenientes de um cenário de automação excessiva e generalizada; entre outras questões importantes. O quê aconteceu com a URSS? Após a década de 1970, enquanto as economias asiáticas deslanchavam e o Brasil realizava o seu mundialmente reconhecido “milagre brasileiro”; a URSS começava a dar claros sinais que a sua economia não ia nada bem. O povo soviético estava empobrecido, suas fábricas estavam obsoletas e os seus trabalhadores desestimulados. Para piorar a situação os produtos soviéticos eram de baixa qualidade e, por isso, desprezados no mercado internacional. E o que mais irritava os consumidores soviéticos eram as longas filas que eles precisavam enfrentar quando queriam comprar algo. E a razão dessas filas é que sempre faltavam produtos nas prateleiras dos mercados e das lojas. Um quadro caótico que Marx jamais supôs que ocorresse em países comunistas. A situação desesperado do povo soviético atingiu o apogeu no governo Gorbachev, e ele precisou agir rápido para evitar uma grave revolta popular contra o governo comunista de seu país. Por isso ele defendeu brilhantemente perante o partido comunista soviético, que era necessário reformular a União Soviética (URSS), objetivando que ela prosperasse com eficácia e eficiência e fosse respeitada pela comunidade mundial. Evidentemente, Gorbachev acompanhava, com uma ponta de inveja, o sucesso chinês com o seu “socialismo de mercado” iniciado em 1978. Para as autoridades do governo soviético de Gorbachev, a realidade estava evidente. A URSS estava ficando para trás no campo militar e econômico, e isso afetava a sua influência global. De fato a URSS começou à cambalear no início da década de 70, quando indicadores econômicos mostravam claramente uma queda drástica na produtividade dos trabalhadores e na expectativa de vida da população. Finalmente, o acidente nuclear de Chernobil, ocorrido em 1986, demonstrou ao mundo e confirmou aos próprios soviéticos, o quanto a URSS estava obsoleta e pobre. Algo precisaria ser feito rápidamente. E foi assim então que Gorbachev, com o aval do Partido comunista soviético, entrou em ação com o seu plano estratégico de reestruturação fundamentado em dois pilares: a Perestroika e na Glasnot. A Perestroika consistia em uma série de reformas econômicas para dinamizar a economia socialista, que entre as quais constava a diminuição 35
  • 36. do orçamento militar da URSS. Isso resultou em cortes drásticos com gastos em armamentos e culminou com evacuação das tropas soviéticas do Afeganistão, que então travavam uma guerra inútil e tola, que nem deveria ter começado; pois conta a história que nenhuma potência estrangeira conseguira dominar aquele país. E a União Soviética não seria exceção, ela perdeu a guerra e suas tropas foram expulsas do país de forma humilhante. A política de desarmamento de Gorbachev foi um exemplo positivo para o mundo. Lamentavelmente os EUA caminharam em direção oposta, achando que sobrepujaria o inimigo soviético de vez. Entretanto o crescente armamentismo americano potencializou a desconfiança do mundo com relação aos propósitos e aspirações do governo americano, considerando- se que uma só superpotência afetaria claramente o equilíbrio mundial. Desconfiança essa agravada pela lembrança das bombas atômicas lançadas no Japão pelos EUA, fato que repercute na consciência da humanidade até hoje. Por esse ponto de vista seria melhor para todos e também para a recuperação da imagem americana, se as armas nucleares fossem eliminadas do planeta. Faz algum sentido os Estados Unidos continuarem ampliando os seus arsenais, considerando-se que é de longe o país mais poderoso militarmente? Por acaso querem intimidar ou mandar o mundo? Continuando a análise da URSS, a Glasnot era o plano B do governo Gorbachev, para dar liberdade de expressão para a imprensa soviética e propiciar uma maior transparência das ações do governo junto à população. De forma que a forte censura que o governo impunha a imprensa foi retirada. A nova situação de liberdade na URSS possibilitou o abrandamento da ditadura que ela patrocinava aos outros países comunistas. E mo resultado mais óbvio dessa política acertada foi o enfraquecimento do pacto de Varsóvia. A sábia política de Gorbachev fez o ocidente e o oriente buscarem vias pacíficas do entendimento para resolver as suas pendências. Porém, como diz o ditado - “O que é bom; dura muito pouco.”, daí quando a família Bush se apossou da Casa Branca; os militaristas de plantão no governo ganharam maior projeção e poder e assim iniciou-se um novo período negro na história americana e mundial. A comunidade internacional estava bastante apreensiva com a volta dos republicanos no poder americano, que certa forma ela já aguardava os resultados infelizes que as políticas insanas militaristas que os malditos falcões trariam. E eles não tardaram a aparecer. Rios de dinheiros foram 36
  • 37. torrados inutilmente com armas e os EUA se envolveram em duas guerras equivocadas, contrariando a opinião pública internacional. E como conseqüência direta dessas duvidosas “guerras de combate ao terror”, que nem mesmo consegui capturar o Bin Laden, os falcões militaristas passaram a intimidar países estrangeiros como a Coréia do Norte, Síria e Irã. Pois uma nova guerra certamente seria lucrativa para esses militares beligerantes, mais ainda para os seus cúmplices bilionários da poderosa indústria bélica americana. Paralelamente àquelas situações beligerantes, a economia dos EUA caminhava para o fundo do poço e o seu povo nem percebia; dominado que é pela mídia corrupta corporativa. Atualmente os EUA atravessam uma crise econômica avassaladora em razão daquelas políticas equivocadas, principalmente as que incentivaram o armamentismo exacerbado. Agora os americanos pagam uma pesada conta por isso e dividem os seus custos com o mundo. A raiz da crise atual dos EUA – o armamentismo O remédio amargo da corrida armamentista que os EUA planejaram e impuseram à ex-URSS; causou também um “efeito colateral” indesejado, e isso está por trás da crise americana atual, embora a mídia corporativa esconda o fato. Por isso atente para as “meias-verdade” veiculadas na mídia com relação à crise das hipotecas que iniciou em 2007 nos EUA, e que logo se espalhou para o mundo. No fundo mesmo, como já mencionei, a crise americana é conseqüência direta de políticas equivocas e permissivas, para com o complexo industrial militar americano, após a segunda grande guerra mundial. De forma que a raiz da crise atual está no crescente déficit do tesouro americano, por conta de gastos militares descontrolados, que vão se acumulando excessivamente ao longo dos anos. Por essa razão os EUA possuem uma dívida externa gigantesca; algo em torno de US$ 10,9 trilhões; apontados no dia 09 de março de 2009 pelo crítico “Relógio da Dívida Nacional”. Sinalizando que o povo americano ainda irá pagar muito caro por este rombo irresponsável ocorrido do tesouro americano, por conta do armamentismo; que inclusive lhe custou a perda do império. 37
  • 38. O império das bases americanas A agressiva política externa da guerra fria que envolveu americanos e russos, igualmente desconfiados um do outro, alimentou a paranóia americana que veio a transformar os EUA no “império de bases militares no exterior”, para a felicidade da sua bilionária indústria bélica. Algo em torno de 1.000 bases espalhadas pelo mundo, e que correspondem a 95% do total das bases de todos os países do planeta. Só na Alemanha são mais de 227 bases militares americanas. E todas essa bases militares consomem uma montanha de dinheiro correspondente a US$ 100 bilhões anuais. Aliado a esse fato, sabe-se que o armamentismo exacerbado americano possui gastos colossais; algo em torno de US$ 500 bilhões ao ano. No entanto os EUA não tão seguros como se possa imaginar. A história nos revela que com a queda da URSS as coisas pareciam bem para os EUA, então a única hiper-potência do planeta. Contudo as coisas nem sempre são o que parecem. Até que no dia 11 de setembro de 2001 ocorreu o ataque terrorista da Al-Qaeda aos EUA, comandado por Osama Bin Laden; um filho bastardo e cruel da guerra fria e das políticas equivocadas de partilha mundo em regiões de suas influências, elaboradas pelas grandes potências. De forma que o bastardo Bin Laden comandou ataques surpreendentes e devastadores aos EUA, que o mundo pode assistir ao vivo pela televisão. Afinal quem pode esquecer o instante em que as torres gêmeas implodiram, matando milhares de pessoas em poucos segundos? Aqueles radicais islâmicos fizeram o que nenhum país conseguira até então; bombardear o solo da América. E, pior, o bombardeio ocorreu por meio de aviões de carreira cheios de passageiros. Esses ataques foram o pretexto ideal que os ambiciosos radicais americanos usariam posteriormente para aumentar ainda mais gastos militares com “defesa”. Aproveitando a forte comoção popular o medo generalizado de novos atentados. Então os famigerados “falcões” promoveram “guerras preventivas de segurança” contra o terrorismo, atacando o Iraque e o Afeganistão. Na verdade os “militares do governo” e o “grupo de pressão armamentista” atuavam nos bastidores do Congresso, objetivando vender armas e se apossar das riquezas daqueles países, principalmente do petróleo iraquiano. Afinal o interesse do complexo industrial militar americano não está intimamente ligado com os interesses da poderosa indústria petrolífera por acaso. Trata-se de um casamento perfeito, que impulsionou a descarada 38
  • 39. “guerra de sangue por petróleo” no Iraque. Mas isso era esperar pela comunidade internacional, considerando-se que a cúpula do governo Bush estava comprometida até o pescoço com a indústria petrolífera. Quando o presidente George W. Bush iniciou aquelas guerras, ele ignorou considerações contrárias a ela da própria ONU, que exigia que os EUA apresentassem provas que o Iraque detinha armas de destruição em massa, para dar o seu aval. No entanto, os EUA ignoraram a ONU e começou as guerras; apoiado timidamente por alguns governos aliados, como a Inglaterra e a Espanha. Que a verdade seja dita, a guerra do Iraque foi um enorme fiasco, e as armas de destruição em massa que os falcões cooptados pela indústria armamentista alegavam existir, jamais foram encontradas. Ficou claro que as guerras equivocadas contra os muçulmanos só beneficiaram os capitalistas da indústria militar e do petróleo; em detrimento dos pobres trabalhadores americanos. Pois o orçamento de qualquer país é como cobertor curto; se cobre o pé descobre-se a cabeça e vice-versa. De maneira que o dinheiro que esta sendo torrado naquelas guerras equivocadas, agora faz falta para os americanos, considerando-se que a economia do país está em colapso financeiro, com milhões de desempregados. As coisas ficaram tão negras para os EUA, que todo mundo entendeu que aquele país não conseguiria se recuperar sozinho da crise, exigindo socorro com “soluções globais e coordenadas”, por conta de toda a comunidade internacional, inclusive até dos países “socialistas”. Caso contrário os EUA iriam para o fundo do poço e arrastaria o mundo inteiro consigo. É dessa maneira compartilhada de poder econômico global que está ocorrendo o crepúsculo do império americano; já sem os meios econômicos e financeiros para continuar sustentando o seu poderio militar exacerbado, denominado por muitos de “imperialismo de bases militares”. Mas uma coisa é certa, em que peso o fato dos americanos serem altamente patriotas, eles terão que aceitar o fato da irreversível decadência do seu país. Não dá para ficar eternamente no topo do poder e a história comprova isso. Portanto o governo do presidente Obama deve trabalhar sabiamente no sentido de negociar a contribuição do ainda importante papel americano para a edificação de uma Nova ONU, mais justa e atuante. Pois só assim o mundo não descambará para um futuro cenário negro de guerras regionais e consiga promover um progresso social e justo para todos os habitantes do planeta. 39
  • 40. Radiografia do Colapso Americano O colapso dos EUA, o país mais forte e rico do mundo, expõe a fragilidade do seu modelo econômico baseado no capitalismo neoliberal armamentista; que transformou o país, então o maior credor mundial logo após a segunda guerra, no maior devedor do planeta. Por ironia da história, o maior credor atual dos EUA é a China socialista, um adversário de peso; que tem em seu poder US$ 1 trilhão de dólares em títulos emitidos do Tesouro Americano. Sem o financiamento contínuo desse “adversário”, a economia americana já teria ido de vez para o buraco. É por essa razão que a Secretária de Estado americana Hilary Clinton, está redobrando esforços diplomáticos com o governo chinês, para que ela continue financiando o colossal déficit do tesouro americano, estimado em US$ 1,75 trilhão, que representa 12,3% do PIB dos EUA; o mais alto desde a segunda guerra mundial. Uma situação potencialmente perigosa para ambos os países; principalmente porque os EUA ficaram muitos dependentes de capitais chineses, considerando-se que eles são os seus grandes adversários políticos no leste asiático. Por sua vez, a China corre um sério risco de levar um calote do governo americano e perder o seu dinheiro investido. Além disso, a China depende muito das suas exportações para os EUA; pois precisa receber divisas do exterior que bancarão o seu crescimento econômico acelerado. Daí ocorre uma dependência mútua muito interessante, na qual o gigante capitalista é refém do gigante socialista e vice-versa. Curiosamente, países como China, Japão, Grã-Bretanha, Brasil e outros que compram em massa os títulos do tesouro americano, “financiam” a equivocada política armamentista americana de déficits colossais; por anos seguidos. Prorrogando assim a decadência do império americano possuidor das incômodas e ameaçadoras bases militares espalhadas pelo mundo. A crise americana tornou claro que o potencial das políticas equivocadas colocadas em prática pelos republicanos das eras Reagan e Bush, se esgotaram. Não dá mais para o governo continuar trilhando o caminho dos endividamentos excessivos que financiarão os déficits do tesouro, grande parte deles por conta do armamentismo exacerbado, que apenas beneficiaram algumas empresas do setor petrolífero, militar e bancário. A mesma política armamentista americana que serviu para desintegrar a URSS em 1991; com o tempo também transformou os EUA em um gigante 40
  • 41. com os “pés de barro”, atolado em dívidas astronômicas; embora o povo americano não tenha plena consciência deste fato. No entanto, certamente pagará caro a conta resultante deste equívoco. Outrora os EUA eram considerados um porto seguro para o capital global aportar e prosperar. Então, naquela época era possível encontrar financiamento fácil para o déficit do tesouro americano, utilizado para sustentar a monumental máquina de guerra americana. Mas as coisas mudaram e a própria China comunista através de Wen Jiabao sinalizou que diversificará suas aplicações do exterior; que em outras palavras que dizer que ela reduzirá drasticamente a compra de títulos do tesouro americano, por temer futuro calote. Isso significa que a mamata militarista americana sofrerá um duro golpe. Para a felicidade mundial o presidente americano Barak Obama, como já mencionei, disse que cortará substancialmente os gastos militares para economizar. Uma decisão acertada e que forçará uma reestruturação estratégica dos EUA, que certamente terá que abrir mão de seu unilateralismo militar, para fazer frente a um mundo globalizado e interdependente. Fato este que ajudará bastante na recuperação da confiança mundial naquele país. Neste caso, para aumentar ainda mais a confiança e o respeito mundial, um pedido de desculpa ao Japão pelas bombas atômicas detonadas em Hiroxima e Nagasaki, seria um bom começo para o governo de Obama. Pois como diz o ditado popular: “antes tarde do que nunca.” Mas as coisas não serão fáceis para os EUA, pois a própria ONU estuda uma maneira de diminuir a importância do dólar no comércio internacional. Sua idéia é que algumas moedas fortes sirvam de referência e não apenas o dólar. Uma proposta muito interessante, mas que não é nova. No passado Keynes já havia proposto no passado o lançamento de uma moeda mundial, cujo valor seria baseado na média dos valores de uma cesta de moedas fortes internacionais. A própria China preocupada com o derretimento da montanha de dólares que possui, propõe a criação de uma moeda internacional, desvinculada de uma determinada moeda nacional, que seja capaz de permanecer estável ao longo do tempo. Sem dúvida alguma o lançamento de uma nova moeda com aceitação universal no mercado internacional será muito complexo, pois envolverá muitos interesses. Contudo é inevitável que isso ocorra num futuro próximo. Mas uma coisa é certa. As propostas da ONU e da China demonstram o quanto o poder americano se esvaiu. Mas isso não é ruim para os EUA e nem para o mundo; muito pelo contrário. O tempo confirmará. 41