Modernismo Arquitetônico no Brasil iniciado por Warchavchik
1. CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ
ARQUITETURA E URBANISMO
IZIS FERREIRA PAIXÃO
RESENHA
Capítulo 3 “Modernismo Pragmático”
Arquiteturas no Brasil. 1900-1990
SEGAWA, Hugo
Santo André – SP
2017
2. CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ
ARQUITETURA E URBANISMO
Disciplina: História e Teoria da Arquitetura e Urbanismo
Prof.: Enrique Staschower
Alunos: Izis Ferreira Paixão RA: 718682
RESENHA
Capítulo 3 “Modernismo Pragmático”
Arquiteturas no Brasil. 1900-1990
SEGAWA, Hugo
Santo André – SP
2017
3. RESENHA
Capítulo 3: “Modernismo Pragmático” – Hugo SEGAWA “Arquiteturas no Brasil.
1900-1990. ” São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1997
Por Izis Ferreira Paixão, aluno do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro
Universitário Fundação Santo André, Santo André- SP.
O autor inicia o terceiro capitulo de seu livro “Arquiteturas no Brasil. 1900-
1990”, com uma citação de Fernando de Azevedo,1
dissertando sobre a produção da
Arquitetura Moderna em solo brasileiro, não estando mais sob influência direta das
diretrizes internacionais e também não se aprisionava nas tradições nacionais e
regionais.
Segawa (p. 41, 1998), contextualiza o leitor no período inicial da Arquitetura
Moderna no Brasil na segunda década de 1920, a distinguindo de outras vertentes
modernas como a literatura que se manifestou na América Latina, por exemplo.
Época em que a cidade de São Paulo já se mostrava uma potência econômica,
devido a economia do café, que propiciou um maior desenvolvimento das industrias
e com elas, técnicas e materiais construtivos, favorecendo a criação da Semana de
Arte Moderna de 1922, com exposições da artista Anita Malfatti2
, criticada por
grandes nomes nacionais, recebeu apoio de jovens intelectuais modernos, iniciando-
se os debates sobre a linguagem conservadora do meio artístico brasileiro.
Dessa sociedade de colaboração mutua, originou-se o primeiro grupo
modernista brasileiro: uma corrente que surgiu com a pintura, mas que necessitava
de maior abrangência e principalmente, de renovação do ambiente cultural. A
primeira manifestação ocorreu então na primeira Semana de Arte Moderna, no
Teatro Municipal de São Paulo, com exposições de literatura, música, arquitetura,
pintura e escultura, provocando grande espanto na sociedade (SAGAWA, Hugo; p.
42, 1998).
1
Academia Brasileira de Letras (2017) Fernando de Azevedo, professor, educador, crítico, ensaísta e
sociólogo de origem mineira; foi um dos expoentes do movimento da Escola Nova. Participou
intensamente do processo de formação da universidade brasileira, em busca de uma educação de
qualidade, apoiando significativamente a nova vertente moderna da arquitetura.
2
MAC (2008), paulista e influenciada pela mãe, também pintora, estudou gravura, desenho e pintura
expressionista na Academia Real de Berlim, na Alemanha e depois na Independent School of Art, em
Nova Iorque, EUA. É considerada precursora do modernismo nas artes plásticas brasileiras.
4. O autor define os anos de 1917 a 1924 com a introdução do modernismo,
refutando os valores passadistas e acadêmicos do meio cultural e artísitico, mas
carente de diretrizes que o apoiassem. No período seguinte, fase que vai até o final
da segunda década do século XX, destaca-se a literatura influenciada por um
grande nacionalismo, a partir da publicação de Oswald de Andrade, o “Manifesto
Pau-Brasil” (1924).
“O modernismo passa a adotar como primordial a questão da
elaboração de uma cultura nacional: a qualidade da obra de
arte não reside o seu caráter de renovação formal. Ela deve
antes refletir o pais em que foi criada. [...] só atingiremos o
universal passando pelo nacional” (SEGAWA, Hugo; p. 42,
1998 apud MORAES, p. 49, 1978).
Segawa (p. 49, 1998) defende que essa produção moderna embasada na
nacionalidade promoveu uma relação positiva, que pode ser facilmente
exemplificada na produção arquitetônica moderna madura brasileira, onde suas
obras são de reconhecimento e respeito internacional, devido sua linguagem única e
sem-igual.
O autor cita Sérgio Buarque de Holanda e Prudente de Moraes Neto, ambos
modernistas e diretores da revista Estética da capital carioca, possuíam uma visão
antipassadista – criticando as produções arquitetônicas anteriores como ineficazes e
negativas, copias do passado e de lendas heroicas de outros países, de linguagem e
significado artificiais no Brasil – e encontrando no modernismo a possibilidade de
criações dignas e refletoras da nacionalidade brasileira (apud BARBOSA; p. 70-73,
1989).
A arquitetura, ainda custodiada pelas variações do ecletismo da época, não
acompanhava as discussões em meio moderno, mesmo que presente na Semana
de Arte Moderna de 1922, expos somente desenhos do que já se produzia na
época, mas nenhuma obra moderna concretizada no país. Segundo Segawa “[...] os
arquitetos [...] não ostentavam uma consistência pragmática como os seus colegas
literatos ou artistas plásticos” (p. 43, 1998).
Essa situação somente mudaria após a publicação de dois arquitetos: do
brasileiro Rino Levi e do russo Gregori Warchavchik. O primeiro, cujo o título era “A
Arquitetura e a Estética das Cidades”, foi publicado no jornal “O Estado de São
Paulo”, em outubro de 1925, através de uma carta enviada de Roma, onde chamava
5. atenção aos materiais e novas técnicas de construção e a oposição ao
neoclassicismo, caracterizando a nova linguagem arquitetônica como pratica,
econômica, de volumes e formas simples e de sinceridade estrutural, distante da
artificialidade provocada pelo estilo passado. O segundo, respectivamente, teve seu
artigo “Acerca da Arquitetura Moderna” publicado em janeiro de 1926 no “Correio da
Manhã” do Rio de Janeiro, após sua publicação também em uma colônia italiana,
onde Warchavchik elogiava a máquina em sua racionalidade – apologia da indústria
- e negando o uso dos estilos do passado (SEGAWA, Hugo; p. 43-44, 1998).
Tanto Levi como Warchavchik estavam distantes da realidade brasileira no
momento da produção de seus artigos, não influenciando a produção principalmente
do ecletismo. Segundo o autor, esses textos pioneiros foram resgatados por
historiadores tempos depois, mas que já “[...] pronunciavam a atividade futura
desses dois arquitetos [...]”, que concretizaram suas ideias em projetos construídos
(SEGAWA, Hugo; p. 44, 1998).
Segundo Segawa (p. 44, 1998), chegando ao Brasil, Warchavchik
estabeleceu rapidamente relações com os grupos modernistas da época, após sua
entrevista na revista “Terra Roxa e Outras Terras”, intitulada “Arquitetura Brasileira’,
onde o arquiteto não abordou as questões nacionalistas, mas dissertou sobre o
Modernismo. Seu próximo passo – após seu casamento com Mina Klabin – foi a
construção de sua própria casa localizada na rua Santa Cruz, concluída em 1928, o
que viria ser a primeira casa moderna do Brasil, também com cobertura de dois
importantes jornais, o “Correio Paulistano” e o “Diário Nacional” (de oposição e
reduto dos modernistas), que divulgaram a obra a nível nacional, causando
inquietude e irritação dos arquitetos conservadores, e exaltação por parte dos
modernos.
Ressalta-se no texto “Arquiteturas no Brasil. 1900-1990” (p. 45-46, 1998) que
essa primeira produção moderna, mesmo apresentando-se simetricamente
geométrica, foi construída com tijolo revestido e cobertura com telhas tradicionais,
sem o emprego do concreto armado e componentes pré-fabricados. Warchavchik
em seus discursos sobre a obra eram discordantes, ora alegando “[...] criar um
caráter de arquitetura que se adaptasse a região [...]” (apud FERRAZ, p.27, 1965),
ora justificando falta de materiais mais desenvolvidos (SEGAWA, Hugo; p. 46, 1998).
6. Segundo o autor (p. 45, 1998), entre os anos de 1928 a 1931, o arquiteto
russo produziu sete residenciais e dois conjuntos econômicos em São Paulo e no
Rio de Janeiro, sendo a casa de Itápolis a mais próxima dos ideais discutidos na
Bauhaus de integração de artes; organizando também uma Exposição de uma Casa
Modernista patrocinada pela companhia Cia.City, com todo seu interior decorado
com obras de artistas modernos. A grande atividade e produção de Warchavchik lhe
trouxe repercussão internacional, sendo convidado por Le Corbusier em 1929 a ser
delegado para a América do Sul do CIAM – Congresso Internacional de Arquitetura
Moderna – formado no ano anterior em La Sarraz.
Ainda que grande parte de suas obras foram consideras convencionais tanto
construtivamente quanto em planta, por Hugo Segawa (p. 46, 1998), Warchavchik foi
fundamental para o início da produção arquitetônica moderna brasileira, ainda que
de forma polemica e sem a engenhosidade dos arquitetos futuros. Mesmo com
esses obstáculos, Segawa descreve o arquiteto russo – apoiado em outros autores –
como cauteloso tanto na concepção de suas obras quanto no acompanhamento das
mesmas durante a obra e seu cuidado em descrevê-las sempre que entrevistado,
com riqueza de detalhes.
Gregori Warchavchik pronunciava também em suas entrevistas, as limitações
locais para a produção de uma arquitetura moderna, que somente seria possível
com o desenvolvimento dos materiais e técnicas construtivas, a partir das industrias,
até então subdesenvolvida, acarretando na construção somente de casas para a alta
e média classe, não sendo possível a demonstração de obras modernas em
escolas, edifícios e fabricas, “condizentes com as preocupações dos modernistas
europeus” (SEGAWA, Hugo; p. 48, 1998).
Embora posto anteriormente que esse discurso de Warchavchik era utilizado
como justificativa em muitas de suas obras em não alcançar os ideais modernos, é
de conhecimento que o Brasil até então não possuía industrias de materiais e
objetos, pois sua economia ainda era apoiada na importação destes principalmente
vindos da Inglaterra, conforme visto no livro “Quadro da Arquitetura no Brasil”, de
Nestor Goulart Reis Filho, de 1970.
A repercussão do trabalho do arquiteto russo foi tamanho que no ano de
1931, foi convidado pelo jovem Lúcio Costa a ministrar as aulas de projeto da Escola
7. Nacional de Belas Artes – ENBA, no Rio de Janeiro, e após a saída de ambos
criaram a construtora “Warchavchik – Costa”, onde realizaram alguns projetos
modernos, como por exemplo, o conjunto da Vila Operária da Gamboa, no Rio de
Janeiro.
No entanto, diversos intelectuais da época realizavam discursos e
manifestações inspirados pela nacionalidade, solicitando dos arquitetos uma
proposta que, ainda que influenciada por diretrizes internacionais, fosse uma
produção singular do país – originalidade brasileira essa que pouco caracterizou as
obras de Warchavchik, que conforme Segawa (p. 49, 1998): “os elogios
nacionalistas, concentrados sobretudo na residência do próprio arquiteto, eram
esforços de compatibilizar a novidade moderna de Warchavchik com o ideário do
modernismo nacionalizante, sem recair no reacionarismo do neocolonial”. O autor
conclui que Warchavchik teve seu papel mais importante na ruptura com a
arquitetura conservadora passadista do que como percussor da Arquitetura Moderna
Brasileira.
Entre as décadas de 1920 e 1930, com a derrubada da economia do café e
ascensão do presidente Getúlio Vargas, nota-se a arquitetura moderna influenciada
pela vanguarda europeia, com grandes preocupações por parte dos intelectuais,
mas não dos arquitetos. Nesse contexto, o autor destaca o concurso de 1927 para o
Palácio do Governo do Estado de São Paulo, com o projeto do engenheiro e
arquiteto Flávio de Carvalho, que, embora anulado, recebeu grande apoio por parte
dos escritores modernistas.
Flávio de Carvalho participou de outros concursos que também causaram
grande polemica, mas somente executou suas primeiras obras a partir de 1933, com
um conjunto de casas para aluguel nas alamedas Lorena e Ministro Rocha Azevedo,
em São Paulo; Carvalho executou poucas obras no início do Modernismo, atuando
mais fortemente como polemista nos debates dessa nova arquitetura, assim como
também Jayme da Silva Telles, publicando em revistas e jornais a defesa da
arquitetura moderna, infelizmente tendo as suas poucas obras produzidas, a mais de
vinte anos demolidas. Ambos os arquitetos foram designados delegados para o IV
Congresso Pan-americano de Arquitetos de 1930, embora o ultimo tenha declinado
da nomeação (SEGAWA, Hugo; p. 50-51, 1998).
8. Outro importante nome que surgiu no mesmo período foi Carlos da Silva
Prado, que ainda estudando na Escola Politécnica de São Paulo, publicou em 1932
na Revista Polytechnica o artigo “A Arquitetura do Futuro em Face da Sociedade
Capitalista”, onde ineditamente com uma visão marxista realizou uma crítica tanto
das tendências arquitetônicas do passado quanto a moderna, visto que ambas
escondiam a função social da arquitetura. Ele defendia que o alcance de materiais e
técnicas mais desenvolvidas e econômicas deveriam ser utilizadas para atender as
necessidades da sociedade, edifícios públicos, habitações para classes menos
favorecidas, áreas de lazer, e não somente as demandas da burguesia; ou seja,
uma arquitetura coletiva, ao invés de individual (SEGAWA, Hugo; p. 51-52, 1998).
Prado ainda classifica os arquitetos conforme suas tendências: arquitetos
passadistas; arquitetos modernos, mas influenciados profundamente pela vanguarda
europeia; e arquitetos modernos que identificam o movimento como uma ação
social. Em seus parágrafos finais do capítulo 3, Segawa (p. 52, 1998) cita:
“Se a arquitetura moderna, produto da grande indústria,
degenerou e deu com resultado fantasia e receitas, o
proletariado, também produto da grande indústria, mas
menos maleável, seguira caminho diverso e dele resultara a
Revolução. Só então, encontrara a arquitetura moderna um
campo aberto para se desenvolver” (apud PRADO; p. 351-
356, 1932).
O autor conclui que no período citado neste capitulo, 1920-1930, os arquitetos
que ousaram construir projetos modernos, ainda que poucos, focaram nas
discussões sobre o movimento e seguiram no caminho das artes plásticas e, da
divisão de arquitetos segundo suas tendências dada por Prado, somente ele mesmo
estaria na terceira classificação, que segundo Segawa (p. 52, 1998) “[...] como
parece ter sido o destino das utopias dos pioneiros modernistas da arquitetura no
Brasil”.
O período inicial da arquitetura moderna em solo brasileiro foi marcado por
grandes discussões acerca de sua implantação, de seu significado e objetivos para
o pais, que aclamava por uma produção original e nacional. As primeiras obras que
tiveram o sucesso de sua construção, não alcançaram as diretrizes formadas pela
Bauhaus ou pelos ensinamentos de Le Corbusier. Ainda assim, foram extremamente
importantes para a concretização das ideias e das defesas pela nova arquitetura,
9. causando a ruptura com as tradições passadistas e incentivando as obras do
período maduro da arquitetura moderna brasileira.
10. REFERÊNCIAS
ACADEMIA BRASILEIRA. Fernando de Azevedo – Biografia. Disponível em: <
http://www.academia.org.br/academicos/fernando-de-azevedo/biografia>. Acesso em
22 de agosto de 2017.
FILHO, Nestor Goulart Reis. Quadro da Arquitetura no Brasil. Volume 18 de
Coleção Debates; Editora Perspectiva, 1970.
MAC – MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA. Anita Malfatti – Biografia. Estante
Virtual, São Paulo – SP, 2008. Disponível em: <
http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/percursos/percursos_mod_malf
atti_biog.asp>. Acesso em 22 de agosto de 2017.
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-1990. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1997.