O Teatro como mundo da ilusão e espaço privilegiado do espetáculo I
1. Guião de
Trabalho
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HISTÓRIA DA CULTURA E DAS ARTES
2º ano - Curso Profissional Artes do Espetáculo - Interpretação
Profª Cristina Barcoso Lourenço
MÓDULO 6 A CULTURA DO PALCO
Desenvolvimento do teatro à italiana. Recurso a maquinarias e a cenários.
O Barroco foi um movimento cultural e filosófico da história da cultura ocidental que teve início em Itália e decorreu,
aproximadamente, entre meados do século XVI e meados do século XVIII.
Assiste-se neste movimento à exaltação dos sentimentos e da religiosidade expressos de forma intensa, dramática e
emocional.
As salas de espetáculo inserem-se no estilo designado por
teatro à italiana. Eram construídas, sobretudo, em forma de
ferradura e orientavam-se perpendicularmente ao palco. O
público assistia sentado na plateia e também em camarotes e
frisas que circundavam a cena. Geralmente nas cúpulas das
salas podiam apreciar-se pinturas de artistas reconhecidos. Este
tipo de salas, para além de permitir uma boa visão do
espetáculo, tinha como objetivo, no século XIX, em termos
sociais, permitir ao público ser visto e mostrar-se.
O palco italiano era um espaço retangular fechado nos três
lados, com uma quarta parede visível ao público frontal através
da boca de cena: retangular, semicircular, ferradura ou misto. Era constituído por
recursos específicos que permitiam fazer aparecer e desaparecer objetos e pessoas
através dos alçapões e quarteladas 1
. A estes efeitos chamava-se "mágica". A
maquinaria existente nestes teatros permitia realizar espetáculos complexos e de
grande exigência técnica.
Os teatros à italiana são património cultural e foram remodelados ao longo das épocas
estando hoje apetrechados com novos recursos tecnológicos que se associam aos
dispositivos originais (verdadeiras caixas de mágica), proporcionando grandes
montagens de teatro, ópera e dança.
Pela primeira vez é usada uma cortina para tapar a cena. As três portas da cena grega
1 Divisão no soalho do palco para se poderem abrir alçapões. "Quarteladas", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em
linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/quarteladas [consultado em 12-11-2017].
O TEATRO COMO MUNDO DA ILUSÃO E ESPAÇO PRIVILEGIADO DO ESPETÁCULO.
Espaços, suportes e linguagens
Quarteladas In
https://goo.gl/5spKpN,
consultado a 12/11/2017
In https://goo.gl/hKY8qr, consultado a 12/11/2017
Teatro Farnese. Parma, 1618, Giovanni Battista Aleotti, In
https://goo.gl/Ku6MPH e https://goo.gl/veAnhh, consultado a 12/11/2017
2. são substituídas por telões pintados que permitem efeitos de perspetiva e é
introduzida a maquinaria para efeitos especiais. Foi no século XVIII que
surgiu o telão de fundo, geralmente com a pintura de uma paisagem o mais
naturalista possível, e os chamados bastidores, panos laterais ao palco
igualmente em tela pintada.
Apagam-se as luzes da sala durante o espetáculo, para concentrar a
atenção do público no palco. Há uma platéia e camarotes, dispostos em
ferradura. A ópera torna-se tão popular que, só em Veneza, no século XVII,
funcionam regularmente 14 teatros.
Espaço Cénico
“Dois elementos são absolutamente indispensáveis à existência do teatro:
ator e público. O espetáculo é uma decorrência natural do encontro de ambos no mesmo espaço, que pode ser um
canto de praça, um auditório de escola, um salão de clube ou, até mesmo, um palco especialmente construído e dotado
de recursos técnicos apropriados à encenação. Curioso observar, na história do teatro, que o espaço cénico foi sofrendo
modificações à medida que foi absorvendo as contingências sociais de cada época, as novas conquistas da técnica, etc.
O lendário carro de Téspis, na Grécia mitológica,
sugere-nos um espaço cénico de forma circular, com
o ator no centro, sobre o
tablado improvisado, com o
público à sua volta...
Graficamente o teatro
primitivo deveria ser mais ou
menos assim:
A necessidade de um anteparo que pudesse projetar as vozes dos atores e
escamotear a entrada ou saída das personagens
teria gerado o espaço cénico que os antigos
gregos adotaram.
Essa forma serviu aos gregos até
aproximadamente 400 a.C.. Arquibancadas - a
principio de madeira e, depois, de pedra -
circundavam uma arena onde o coro das
tragédias evoluía, cantando e dançando. Uma
plataforma era reservada à atuação dos atores,
que dialogavam com o coro à sua frente.
Quando os romanos invadiram a Grécia,
apaixonaram-se pelo teatro
que ali se produzia e
adotaram, com pequenas
adaptações, o seu palco:
A Idade Média abandonou essa construção, desenvolvendo um
tipo de espetáculo místico, de intenções
edificantes, e que era encenado num longo
tablado dentro das catedrais, a princípio, e nas
praças públicas, logo a seguir. Os cenários eram
simultâneos e fixos. A platéia é que se deslocava
de uma cena para outra. No final da Idade Média,
as ideias do Humanismo trouxeram de volta a
cultura clássica, e ocorre, então, o Renascimento,
retomando os modelos greco-romanos. O novo espaço cénico passa a ter
estas características.
O século XVII corresponde ao
Barroco, período em que o
teatro adotou um espaço
cénico em forma de ferradura,
com as extremidades voltadas
para o palco e vários níveis de
platéia.
Na Inglaterra surgiria uma nova forma de espaço
cénico, que ficou conhecida como Palco elisabetano,
referência à Rainha Elisabete, que reinava então. Esse
foi o teatro de Shakespeare.
A forma de ferradura
desenvolvida no Barroco
permaneceu mais ou menos
intacta nos séculos XVIII e XIX.
No século XX ainda
permanecem sob o nome de
palco italiano. O mundo
contemporâneo trouxe
importantes inovações no campo da iluminação, da
cenografia e do figurino.
Paralelamente, outras tendências dão
preferência a um espaço cénico capaz de
provocar o envolvimento e a intimidade com o
público. Esta forma de teatro, chamado de
arena, lembra muito o teatro primitivo de Téspis
e sua carroça:
In http://slideplayer.com.br/slide/1433724/,
consultado a 12/11/2017
3. O teatro barroco herdou os avanços renascentistas na construção de cenários com perspetivas ilusionísticas, o que
estava ligado ao reviver da arquitetura clássica. Arquitetos como Vincenzo Scamozzi, Sebastiano Serlio, Bernardo
Buontalenti e Baldassare Peruzzi haviam participado ativamente da conceção de cenários de impacto realista, seja
através de painéis pintados, o que era mais comum, seja com construções
realmente tridimensionais sobre os palcos, e no fim do século XVI
a cenografia torna-se uma parte importante na representação teatral.
Durante o período barroco, os encenadores começaram a empregar artistas
para pintar o pano de fundo para as diversas cenas das suas peças.
Ao longo do século seguinte adquiriu relevo ainda maior, e como os cenários
teatrais não estavam sujeitos às limitações da arquitetura real, desenvolveu-
se uma linha de cenários altamente fantasiosos e bizarros, onde a
imaginação encontrou um terreno livre para se manifestar. À medida que
os cenários móveis se tornavam mais complexos, da mesma forma evoluíam
as casas teatrais, até então construções temporárias ou de proporções
modestas. A grande construção arquitetónica de cenários barrocos
desenvolveu-se mais em óperas do que em peças teatrais. Dentro de tantas
colunas, cúpulas, arcos e perspetivas, a presença humana se reduzia quase
ao mínimo, só se fazendo sentir pelo canto vigoroso.
O primeiro grande teatro permanente foi construído em Florença em
meados do século XVI, e no século seguinte outros apareceram.
O primeiro proscénio2 permanente surgiu em 1618 no Teatro Farnese
em Parma, sob a forma de uma derivação de um arco de triunfo. Fixos,
limitavam a visão do público à regra da perspetiva central, que correspondia
simbolicamente à visão do governante, um reflexo da ideologia absolutista.
O edifício teatral no barroco, seguiu a conceção à italiana, apresentou em particular a planta da plateia em
forma de ferradura e andares com frisas e camarotes até sobre o proscênio e o palco. O teatro do barroco, mais que o
espetáculo teatral em si, era o lugar dos acontecimentos sociais mais significativos e hierarquizados.
No teatro barroco recorria-se a uma maquinaria específica: maquinismos de voo, as designadas glórias, envolvidas por
nuvens que desciam à terra carregando toda a assembleia de divindades.
Sistema idêntico era utilizado nas aparições, na conquista da verticalidade do espaço cénico. Construções móveis
(máquinas complexas, peças de contrapeso) simultaneamente animadas com certos efeitos pirotécnicos, impunham, ao
longo da representação, determinados movimentos à cena. Ao conjunto de todos os mecanismos cola-se a ideia do
maravilhoso e de sublime - auroras, crepúsculos, nuvens e paraísos - que pela beleza de imaginação e habilidade técnica
produzem efeitos luminosos e acústicos, excelentes auxiliares do espetáculo lírico.
Bibliografia
http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/teatro/backstage.php?s=21&id=18, consultado a 12/11/2017)
http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-geral/teatro-barroco, consultado a 12/11/2017)
https://goo.gl/hKY8qr; http://rpm-ns.pt/index.php/rpm/article/viewFile/84/327, consultado a 12/11/2017)
http://andreteatro.blogspot.pt/2011/06/espaco-cenico.html, consultado a 12/11/2017)
2 Parte do palco situada à frente do cenário https://goo.gl/bdnCQX, consultado a 12/11/2017
Festival das Artes Barrocas em Český Krumlov,
República Checa, In https://goo.gl/FqugHA,
consultado a 12/11/2017
Teatro Teatro Petruzzelli, Bari, Itália, In
https://goo.gl/2v8hVs, consultado a
12/11/2017