1. Enfrentamento daViolência Estrutural em uma
ComunidadeVulnerável na cidade do Rio de Janeiro
Helena Fernandes Ferraz
GT de Saúde Mental -Aula para os residentes do PRMFC –SMS/RJ
13/08/2019
2. Sobre aViolência
A corrente impetuosa é chamada de
violenta.
Mas o leito do rio que a contém
Ninguém chama de violento.
A tempestade que faz dobrar as bétulas
É tida como violenta;
E a tempestade que faz dobrar
Os dorsos dos operários na rua?
Bertold Brecht
3. O que nos moveu…
“Recebi um relatório da diretora da
escola que dizia que minha filha de 5
anos era chefe de uma gangue da escola
e que era claro que tinha puxado ao
pai.”
“O lugar mais seguro pra mulher é no
trabalho. Em casa a gente apanha do
marido, do filho, ainda tem bala
perdida.”
“A gente tem que ensinar nossos filhos
a superar isso e aguentar a
discriminação. A gente vive com isso.”
“A gente nunca viveu outra
coisa sem ser a violência.”
“Sabe porque eu estou esperando mais de 2 anos a
vaga do dentista do meu filho sair? Porque eu
tenho esperança. Quem mora no morro vive
disso, de esperança.”
4. É o que nos angustia…
“Eu não fui contratada porque viram
no meu nada consta que eu visitava
meu filho na cadeia, e ele ainda me disse
que era melhor pra mim, porque se
alguém roubasse algo a culpa seria
minha.”
“Quem cuida de mim é Deus. Ninguém
cuida de mim.”
“Mataram ele porque ele era preto.”
“Eles tem as armas na mão e eu só tenho
meu corpo.”
“Eles não tem bala pra todo mundo.”
“Aonde eu moro eu acordo de frente
para um campo, mas no meu campo
tem um monte de arma e droga, eu não
fico sonhando com um campo florido.”
5. Papel de uma Equipe de Saúde da
Família:
Conhecer os fatores (sociais, políticos,
econômicos, ambientais, culturais,
individuais) que determinam a
qualidade de vida da comunidade
adstrita;
Diagnóstico situacional
Conhecer fatores de risco e fatores de
promoção e proteção à saúde
6. Papel de uma Equipe de Saúde da
Família:
Entrar em articulação com outros setores da
sociedade e movimentos sociais organizados,
integrando ações para a qualidade de vida da
comunidade;
Estimular a participação da comunidade no
planejamento e execução e avaliação das ações das
Unidades de Saúde;
Articular com a rede institucional local, ações
integradas para a melhoria constante da qualidade de
saúde da população;
Promover ações intersetoriais e parcerias com
organizações formais e informais existentes na
comunidade para o enfrentamento conjunto dos
problemas identificados.
8. Estar dentro do território:
Combate às inequidades
Lei dos Cuidados Inversos (Tudor
Hart 1971)
“A oferta de cuidados médicos de
qualidade tende a variar em sentido
inverso ao das necessidades em saúde
da população servida e que os efeitos
desta lei se acentuam onde os
cuidados médicos estão mais expostos
às forças de mercado, atenuando-se
onde esta exposição é mais reduzida".
Obs: E Mary Thomas
11. Dados secundários
Salgueiro Tijuca
8-9 anos 9,6% 4,4%
10-14 anos 4,9% 1,0%
> 15 anos 6,1% 1,4%
Renda:
<1/2 sal
min
½ a 1 sal
min
1 – 2 sal
min
2-3 sal
min
>3 sal
min
Salgueiro 1,2% 39,7% 27,8% 7,4% 2,3%
Tijuca 0,5% 7,1% 12,9% 8,9% 63,7%
Rio de
Janeiro
1,3% 17,1% 24,6% 11,6% 33,3%
Educação – Analfabetismo:
12. Análises:
Microarea
REDE
ENCANADA
ATE O
DOMICILIO
POCO /
NASCENTE NO
DOMICILIO OUTRO Total geral
1 74% 26% 100%
2 89% 11% 100%
3 99% 0% 1% 100%
4 98% 2% 100%
5 99% 1% 0% 100%
6 100% 100%
Total geral 95% 5% 0% 100%
Contagem
deCASA
TRATAMENTO_DE_A
GUA
Microarea SEM TRATAMENTO Total geral
1 28% 100%
2 5% 100%
3 6% 100%
4 7% 100%
5 2% 100%
6 9% 100%
Total geral 15% 100%
Contagem
deCASA
DESTINO_DO_L
IXO
Microarea COLETADO
CEU
ABERTO QUEIMADO Total geral
1 74% 13% 13% 100%
2 100% 100%
3 98% 1% 0% 100%
4 98% 1% 1% 100%
5 100% 100%
6 100% 0% 100%
Total geral 96% 2% 2% 100%
13. Análises:
Microarea S Total geral
1 17% 100%
2 14% 100%
3 4% 100%
4 24% 100%
5 17% 100%
6 5% 100%
Total geral 13% 100%
Apesar de maior risco e vulnerabilidade, a percentagem de
BF é aquem do esperado (lei dos cuidados inversos)
Total de beneficiários do Bolsa Família:
26. Dimensão 05: Violência estrutural
afetando a saúde
"Eu não consigo imaginar como é que está um corpo que espera o tiro parar, cessar
um pouco, pra sair do território, pra ir trabalhar, eu não posso perder o emprego. É
quase uma escolha, ou você vai morrer de fome ou você vai morrer de uma bala
porque se você perder seu trabalho você não tem o que comer. Como estão esse
corpos?" (E9)
"A gente pode pensar na mãe de um dos jovens de Costa Barros que ficou adoecida
psiquicamente depois do assassinato do filho dela, depois ela chega a tentar
suicídio e depois a mulher simplesmente morre de uma causa que ninguém
consegue dizer qual é, e essa mulher morre de tristeza. Depois teve a Janaína, mãe
de um menino de 11, 12 anos que foi morto em Manguinhos, num campo de
futebol, e essa mulher com trinta e poucos anos morre, e se você for conversar com
a família a família fala: morreu de tristeza. Tem a morte direta que é a bala e tem a
morte indireta, eu tenho dito que a bala não cai, a bala mata um, um familiar e ela
continua girando e nesse processo as pessoas vão morrendo, afetando outras
pessoas, as pessoas estão morrendo, estão adoecendo, sofrimentos psíquicos
graves. (E9)
27. "Primeiro vocês viram referência, as pessoas não
se sentem mais a sós. E a saúde, eu costumo
dizer a saúde e assistência social, mas a saúde
principalmente, ela consegue chegar a pontos do
território que nenhum outro serviço chega, então
as pessoas tem vocês de referência de auxílio
para reinvindicação de direitos, ou para vocês
dizerem que aquilo é um direito." (E9)