O documento discute a seca que é encontrada em muitas homilias, missas e outras celebrações religiosas. A seca ocorre quando os discursos são repetitivos e sem novidade, não abordam problemas reais das pessoas, ou quando as soluções propostas não são práticas. A seca também ocorre quando as pessoas não estão engajadas ou receptivas. A Fraternitas deve usar suas capacidades para servir os outros onde quer que estejam. Independentemente da discussão sobre o celibato obrigatório, os membros devem continuar seu caminho de vida
1. espiral
boletim da associação NT
F RA T E RN I T A S M O VI M E N T O
Nº 16 - Julho / Setembro de 2004
“Uma seca”
Várias vezes se ouviu esta palavra durante o XI nhecer isso, fica aberta a porta a inúmeras aberrações,
Encontro Nacional. Ela não se referia propriamente ao com as incontáveis consequências nefastas que infeliz-
encontro, mas foi dita a propósito de algumas situações mente todos nós conhecemos. E muita infelicidade.
aí referidas. Uma seca eram muitas homilias de missas Quando a mensagem a transmitir não consegue pas-
dominicais, mesmo certas celebrações dominicais no seu sar, quer porque não foi tornada inteligível, quer por ser
conjunto, muitas das missas para os jovens, as celebra- irrealista. Os valores evangélicos são perenes, mas a
ções da Semana Santa, a reza do terço, alguns cursos linguagem que os veicula tem de ser inteligível aos des-
sobre temas teológicos, algumas exortações pastorais, tinatários de hoje, às suas mentalidades e aos seus
algumas decisões das autoridades, etc. anseios.
Porque é que essas coisas hão de ser uma seca? Quando não se consegue criar empatia comunitária,
Para responder a esta questão é preciso considerar onde cada um se sinta parte actuante da assembleia, que
dois aspectos, um objectivo e outro subjectivo. é o caminho para a experiência da presença de Jesus na
Em primeiro lugar, é uma seca: fracção do pão. Acontecendo essa experiência comuni-
Quando o que nos dizem é seco, não vem do cora- tária, ela transborda para a vida comum, avivando a res-
ção, não é algo de reflectido e vivido, nem é oferecido ponsabilidade pelo irmão que está ao nosso lado, seja
gratuitamente, sem esperar qualquer benefício em tro- ele simpático ou não, e a vontade de empreender em
ca. comum um caminho de paz, de entendimento, de per-
Quando se trata de um discurso muitas vezes repeti- dão. (continua na pág. 2)
do, feito de lugares comuns sem qualquer novidade,
conversa previsível, rotineira, árida.
Quando o que se diz não vem ao encontro dos pro-
blemas reais dos destinatários, ou quando as soluções Sumário:
apontadas não são exequíveis e, consequentemente, não
podendo ajudar, não servem de nada. As soluções têm Em memória do Dr. António Gil 3
de ser para gente de carne e osso, com problemas reais
ou existenciais, pois foi exactamente para os seres des- Encontro Regional de Lamego 4/5
te mundo que Jesus incarnou. Deixemos de nos comer uns aos outros 7
Quando se teoriza uma estrutura de realidades mui-
to bonitas, mas não acessíveis à generalidade das pes- Breves... 7
soas. Apresentar um ideal carismático como caminho
normal para pessoas comuns, é estar a forçar a nature- O Meu Testamento 8
za. Então, quando a natureza se rebela, o descalabro é
total. Se não existe a clarividência suficiente para reco-
2. 2 espiral
(continuação da pág. 1) com os altos e baixos próprios da natureza humana, mas
em que as decisões são tomadas em consciência de acor-
Por outro lado, se digo que um dado evento é uma do com as leis que nos regem, só pode ser o mais certo e
seca, é porque me aborreço quando nele participo. Ora aquele que mais contribui para a instauração do Reino
eu posso aborrecer-me quer porque não estou sintoni- de Deus. Penso mesmo que foi a Providência que nos
zado com o que lá se passa, ou porque não me esforço foi conduzindo, através das vicissitudes da vida de cada
por me integrar, ou porque estou noutra onda e aquilo um, para esta situação, aquela em que podemos ser mais
nada me diz, ou ainda porque não estou receptivo nem úteis. Muitos, antes de nós, já deram o seu contributo.
participativo. Se fui lá com o secreto objectivo de ser É, por isso, mister que demos também o nosso para que
estimulado e não o fui, então devo perguntar-me se me as coisas melhorem e as pessoas possam ser mais feli-
esforcei por me abrir, se fui suficientemente humilde zes. Mesmo tendo a sensação de que não podemos mu-
para admitir que posso aprender algo, ou se tive a so- dar nada, seria insensato ficarmos à espera de que algo
berba de quem já sabe tudo e até faria melhor. Situado de favorável aconteça. É na sociedade de hoje que te-
numa tal onda, não tenho hipótese de me inserir nem de mos de actuar para que a realidade futura, que está a
colaborar. O caminho não é por aí. Nestas condições nascer, seja mais consentânea com os valores que de-
quem está seco sou eu. fendemos. Mais tarde ninguém vai perguntar qual foi o
êxito tivemos, mas sim o que fizemos para minorar as
Como membros da Fraternitas, dada a formação que dificuldades de quem sofre.
recebemos, devemos valorizar e fazer render as nossas E façamos isso como grupo, pois quem trabalha so-
capacidades pondo-as ao serviço dos nossos concidadãos zinho soma e quem colabora multiplica.
onde quer que nos encontremos. Qualquer que venha a
ser o desfecho da discussão sobre o celibato obrigató- Não será este assunto também já “uma seca”? É
rio, determinante é a nossa situação actual e não vale a melhor ficarmos por aqui.
pena sonhar com outras suposições. Eu penso que um Aveiro, 2004-09-15
caminho de vida percorrido em coerência de princípios, João Simão
O Meu Testamento cio exclusivamente aos homens, já não convence a maioria
(continuação da pág. 6)
dos católicos. Nem convence muitos teólogos e talvez até
como se hão-de articular com as estruturas do governo e dos muitos bispos. Mesmo que não houvesse escassez de clero,
outros estratos da nossa sociedade. As paróquias de hoje mesmo que tivéssemos superabundância de presbíteros mas-
necessitam de presbíteros que se saibam relacionar com toda culinos de qualidade, teríamos que pedir à Igreja Católica
a comunidade. que repensasse a inclusão das mulheres nas “ Ordens Sagra-
Apesar da inegável boa vontade de todos estes homens das. Não se trata de se servir das mulheres numa emergên-
que vêm de terras estrangeiras. tal “importação” não é a res- cia. Trata-se, creio eu, dum acto de justiça social com o qual
posta para a crise. todos os católicos nos temos que confrontar.
O estudo dos bispos nem sequer menciona como uma Com os meus 84 anos ainda não me jubilei, mas compre-
possibilidade a ordenação das mulheres ou dos homens ca- endo que os anos de serviço que me restam estão contados.
sados; além disso, os dois ou três bispos que se atreveram a Grande parte do meu exercício como presbítero teve a ver
sugerir essa ideia na discussão geral, encontraram um silên- com corpos religiosos envolvidos em problemas espinhosos
cio sepulcral como resposta. com a justiça, social, económica ou política. Hoje tenho que
Na Igreja primitiva, as mulheres serviam como diaconisas, pedir à nossa Igreja que abra os olhos e que erga a sua voz a
e até é possível que haja evidência de que presidiam àquilo favor de outra espécie de justiça: o seu compromisso para
que agora chamamos celebração da Missa. A tradição não uma maior inclusão das mulheres em postos chave de lide-
pára num determinado momento da história; também abarca rança e de responsabilidade na Igreja, inclusivamente num
o presente. E nós temos a sorte de viver numa época em que estudo exaustivo ou numa discussão sobre a ordenação das
a igualdade do homem e da mulher teve que ser reconhecida mulheres.
como uma verdade outorgada por Deus. A Igreja tem obrigação de se servir de todos os dons que
Chegou o momento de apresentar este tema a uma audi- Deus lhe deu; para cumprir a sua missão. A minha súplica e
ência mais extensa, para que se afeiçoe à ideia duma Igreja a minha oração a favor da Igreja que eu amo profundamente,
mais ampla. O argumento de que as mulheres não podem ser é que ela reforce este compromisso e que queira agir em
ordenadas porque Jesus só escolheu homens para ser os pri- consequência.
meiros apóstolos, ou porque a tradição restringiu o sacerdó- John J. Egan
3. espiral 3
Vila Pouca de Aguiar enaltece e perpetua no bronze
a memória do Dr. António Gil
«Há momentos na vida em que uma pessoa, para ser fiel a si
95) mesma, tem de mudar. Eu mudei não de batalha, mas só de
19
— trincheira. Abandonei o presbitério sacerdotal mas não aban-
917 donei a fé em Deus. As motivações que inspiram a minha vida
(1
continuam inalteráveis».
C om um busto esculpido em
bronze, inaugurado em 20 de Junho
afectuosa poesia : «Ao meu compa- res são, por sua vez, sobejamente con-
nheiro dedicado / Que se vestia de firmadas e ampliadas pelos muitos
de 2004, sobre a praceta da rua a que humildade, / O meu eterno obrigado / amigos e admiradores no opúsculo que
foi distribuído aos presentes na sessão
“Era uma pessoa que se comovia com a fraqueza humana, que es- realizada no Cine-Teatro e pelos
tava sempre pronto a dar a mão a quem lhe pedisse aquilo que estava intervenientes na sessão.
ao seu alcance. Como resposta ao desgosto que eu, como católico, Nove anos após a morte, a sua fi-
sentia por ele deixar o sacerdócio, escreveu-me uma carta, que guar- gura reergue-se em bronze, no centro
do, a justificar a sua decisão, onde diz: «Há momentos na vida em que do espaço que lhe era particularmente
uma pessoa, para ser fiel a si mesma, tem de mudar. Eu mudei não de querido, a Vila Nova, voltado para a
batalha, mas só de trincheira. Abandonei o presbitério sacerdotal mas novíssima Igreja paroquial — neste
não abandonei a fé em Deus. As motivações que inspiram a minha conjunto arquitectónico em que se re-
vida continuam inalteráveis». A mesma fé inquebrável perpassa por via como um pai se revê nos filhos que
estoutras palavras, já no auge da doença fatal, que me sensibilizaram amorosamente gerou.
tanto que jamais as poderei esquecer: «Sinto que o meu fim se aproxi- A igreja encheu-se de amigos e fi-
ma. Estou prestes a morrer. O meu ciclo completou-se. Deus chama éis, durante a eucaristia de Acção de
por mim»”. Graças, presidida por seu irmão, o Pe.
Venâncio de Moura José Gil, pároco de Sabrosa, conce-
lebrando o pároco, Pe. Sebastião
já fora dado o seu nome, Vila Pouca Pelo jardim de bondade / Que em Vila Esteves. Notável e notória foi a au-
prestou nova e justa homenagem ao Pouca de Aguiar, / Tão carinhosamen- sência do convidado por excelência, o
Dr. António Gil, o insigne concidadão te / Veio plantar... / Semeando, amo- Exmº Senhor Bispo da Diocese, cuja
que contagiou as gerações dos que rosamente, / A vontade de aprender, / presença a dignidade e os cargos exer-
com ele conviveram com o exemplo A todos falando com amor, / Viu-se cidos pelo homenageado reclamavam.
actuante de «de humanismo, pedago- esta terra crescer...» Nem veio nem mandou qualquer re-
gia, sabedoria e bondade», como se lê As palavras concisas dos familia- (continua na pág. 6)
na base do mesmo busto.
Da sua vida familiar diz a sobri- «O Dr. António Gil foi um Senhor na cultura, na honradez, na hu-
nha Dulce: “foi um filho exemplar, o mildade, na seriedade e na educação — virtudes demonstradas vivi-
irmão dedicado, o marido extremoso das e praticadas em todos os seus actos. Era um regalo ouvi-lo falar
e, enquanto tio e padrinho, ele foi pai. da história de Vila Pouca e das Terras de Aguiar. Um dia fui com ele a
Afectuoso e dedicado, nele encontrei Lisboa falar a determinado ministro a quem expôs com veemência os
sempre a protecção e a palavra ami- seus pedidos. Depois, a sós comigo, diz-me este governante: ‘Ao Sr.
ga, assim como o conselho certo. Aju- Dr. António Gil não se pode dizer que não nem enganar com falsas
dou-me a crescer, ensinou-me os prin- promessas. A sua estatura moral e cívica é a melhor recomendação
cípios nobres duma formação equili- para atender as suas pretensões, sempre justas e necessárias’.»
brada, por isso, tanto lhe devo”. E, Aires Querubim, ex-Governador Civil
acrescenta D. Nimi, sua esposa, nesta
4. 4 espiral
e c o s
. . . L a m e g o
O Encontro Regional de Lamego, Nova Evangelização numa Jesus Cristo. Por isso perspectiva uma
realizado na Casa de S. José, no dia 19 sociedade em crise nova evangelização: para os que não ou-
de Setembro de 2004, teve o seu início viram falar de Jesus; para aqueles que
com a canção “Esta manhã” do P. Começou por apresentar as motiva- frequentam a vida cristã mas não assu-
Zezinho. ções da aceitação do convite. mem na sua vida os critérios de Jesus
De seguida, o Serafim apresentou as Primeiramente, não podia recusar o Cristo”. Sobre a fé dos portugueses, João
convite de alguém, o Serafim, que vi- Paulo II afirmou que ela é rica de senti-
boas-vindas a todos os presentes. Subli-
veu uma caminhada comum desde o pri- mento, tão simples. Mas se essa fé não
nhou que foram convidados todos os pa-
meiro ano de seminário. Também ima- for confirmada, ela vai desfazer-se. Aqui
dres casados da diocese de Lamego, ex-
ginou alguns dos presentes: o João da está o modo de ser do nosso tempo: a fé
ceptuando dois cujas cartas vieram de-
Silva, seu professor; o Lino Martins; o vive-se ligada ao tempo, ao contexto
volvidas. Alguns, ainda, pelo telefone e Joaquim Macedo, com quem já estivera concreto.
outros receberam a sua visita e a do em trabalhos de paróquia, de catequese
A realidade de hoje é a de uma épo-
Macedo, que esteve consigo desde a pri- e cursos.
ca de crise — fim de época e início de
meira hora. Salientou também o interes- Depois, “quando penso em vós vejo
uma nova época. Há que reencontrar
se manifesto pelo Lino. Agradeceu aos dois campos de realização: um como
novas expressões.
colegas que vieram de outras dioceses e sacerdotes e outro como família”.
A nossa vida é de incerteza e de in-
Ordens Religiosas, especialmente ao Um dos momentos mais significati-
segurança. Vivemos numa sociedade
João Simão, Presidente da Fraternitas vos como padre deu-se, afirmou, quan-
um tanto cansada em reencontrar um
– Movimento, que quiseram enrique- do foi substituir o Pe. Machado que op-
sentido para a vida. As pessoas andam
cer este encontro e connosco fazer a ca- tara pelo casamento. Pensou, a determi-
à procura de algo que as satisfaça. E nós,
minhada. nada altura, no Machado para ajuda na
sem nos darmos conta, também estamos
Foram recordados aqueles que ma- vida paroquial: “realizei um Curso de
nesta nostalgia e num certo pessimis-
nifestaram o desejo de estar presentes, Renovação Comunitária Paroquial que
mo. São numerosos os sinais inquietan-
abriu a possibilidade a todos para co-
mas, por razões várias, não lhes foi pos- tes que nos lançam na necessidade de
laborar. A paróquia foi dividida em zo-
sível: José Serafim Sousa e esposa, Alí- nova evangelização. Existe uma crise de
nas e o Machado é escolhido por todos
pio Afonso e Maria Zélia, José Sampaio memória da vivência cristã.
como responsável de uma das zonas.
e Antónia, António Regadas e Carla, e Os símbolos da presença de Cristo
Um dia, numa festa de Nossa Senhora,
António Eira e Costa. correm o risco de desaparecer. Hoje ain-
esteve com outros no altar. As pessoas
Foi lembrado o nosso querido Có- da vai havendo algumas referências nas
apreciaram a presença dele e foi moti-
obras sociais e nos museus. Contudo,
nego Filipe de Figueiredo, que, junto de vo de união. O vosso papel é muito mais
estes pouco interpelam a vida. Aquilo
Deus, nos vai dando esta força para a profundo do que o que parece”.
que é específico — o espiritual — não é
caminhada.
reconhecido porque o mundo quer ofus-
Por fim, procedeu-se à apresentação A Igreja vive hoje um grande desa-
car o espiritual.
do Cónego Dr. José Manuel Melo, liga- fio: “o mundo precisa de uma nova
do à Pastoral diocesana, convidado para evangelização” — palavras de João Há também na sociedade de hoje o
Paulo II na Polónia. “Os cristãos vivem medo de enfrentar o futuro ( um exem-
fazer uma pequena reflexão, da qual
como se o não fossem. Os países da an- plo é o das escolas portuguesas…). Tor-
apresentamos, de seguida, alguns aspec-
tiga cristandade vivem sem referência a na-se preocupante hoje a vivência de
tos.
página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento * fraternitas@netcabo.pt página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento * fraternitas
5. espiral 5
d e . . .
Elementos participantes no Encontro Regional de Lamego.
uma profunda solidão. Há que conside- l fazer da Igreja a casa e a escola da al na vida cristã. Qual a diferença
rar graves fenómenos como: as crises comunhão — eis o novo milénio que entre ordenar diáconos casados ou
familiares, o conceito de família, con- começa; solicitar os padres casados? A in-
flitos étnicos, a preocupação geral pe- l saber criar espaços para o irmão, re- serção no ministério poderá vir a
los interesses alheios à Igreja… Há que jeitando as tentações egoístas; aparecer. Há que fazer caminha-
l para se implementar é preciso a ca- da…;
procurar dar um sentido à vida e culti-
minhada espiritual de comunhão é l Vós tendes uma vida familiar espe-
var as razões de esperança.
preciso promover os espaços da co- cífica.
O mundo de hoje não está alheio de
munhão.”
Deus, está com sede de Deus, mas esta
A concluir deixou algumas notas: Foi um encontro a todos os títulos
tem que ser descoberta. Há uma exigên-
l Todos temos um lugar na Igreja; importante e que, certamente, contribui-
cia de liberdade e de autenticidade. Por
l O desafio do Papa ao convidar os rá para um aprofundamento da nossa
isso a Igreja tem de ser acolhedora e fra-
jovens não baptizados e não cren- identidade como padres casados e mai-
terna. Pede-se que a Igreja deixe de ter
tes, exige de todos nós uma respon- or crescimento da fraternidade aqui, na
um peso radical.
sabilidade; zona de Lamego, onde ainda não se ha-
Há documentos na Igreja que preci- l É fundamental a inserção na vida via concretizado qualquer Encontro Re-
sam de ser reflectidos, porque não são cristã e na sociedade; gional. A semente foi lançada. Os fru-
conhecidos. Um deles é a Carta do iní- l Vós padres casados tendes uma tos hão-de surgir.
cio do Novo Milénio, de João Paulo II, missão: contribuir para uma nova
da qual apontou alguns aspectos: redefinição do ministério paroqui-
Serafim Rodrigues
@netcabo.pt página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento * fraternitas@netcabo.pt página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento
6. 6 espiral
Homenagem a António Gil sus Cristo terá, agora, de agarrar no menageado!
(continuação da pág. 3)
azorrague da limpidez cristã e varrer Finda a Eucaristia, o presidente da
presentante, ao que disse, pelo facto toda a poeira bafienta que a conspurca, Câmara procedeu ao descerramento da
do homenageado ter solicitado a redu- porque contrária ao puro espírito da busto, saudado pela multidão com pro-
longado bater de palmas. Seguiu-se a
«Descobri no António Gil um precioso binómio pessoal: homem- sessão solene no Cine-Teatro, em que
sacerdote ou sacerdote-homem. Li na sua alma a vivência de um evan- usaram da palavra cinco oradores, en-
gelho vivo, mais humanizado, um Cristo mais próximo dos homens tre eles, o irmão do homenageado e o
de hoje! Homem íntegro, delicadeza em pessoa, revestida de amável presidente da Assembleia Municipal.
sorriso e olhar penetrante no intuito de ajudar ou colaborar! Homem O Pe. José Gil para agradecer em nome
empreendedor, tenaz, sempre projectado na construção dum futuro de toda a família o gesto carinhoso e
mais feliz. Por isso revelou-me a ânsia de o Evangelho ir ao encontro muito amigo que acabavam de prestar
do Homem, saindo das quatro paredes das igrejas! E a sua grandeza à memória de seu irmão e o presiden-
de alma quando, ao decidir contrair matrimónio, me pediu para o subs- te, porque impedido de falar por se lhe
tituir nas missas de Domingo, dizendo-me: ‘Teles, tu presides ao al- ter embargado a voz de comoção, ape-
tar; fazes a homilia e dás-me a comunhão. Eu faço as leituras’! O povo nas pôde saudar os presentes e pedir
compreendeu-o. Amava-o... e chorava! Dou o meu testemunho! Antó- uma salva colectiva de palmas pelo ho-
nio Gil, homem lúcido como o sol límpido, terno como a lua a navegar menageado, no que foi largamente
no céu! Bendita a mãe que te gerou!» correspondido.
Justa e necessária homenagem a
Pe. Manuel Sequeira Teles, pároco de Pensalves
um Homem que o soube ser, como
ção ao estado laical e ter contraído um
outro sacramento —o matrimónio—, «Tinha 24 anos quando a minha vida se cruzou com a do Dr. Antó-
mesmo que dentro das normas nio Gil para, sob a sua orientação e responsabilidade, colaborar no
canónicas. Incompreensível! Será que seu grande projecto da promoção cultural das gentes transmontanas
o actual Direito Canónico, vinte sécu- na direcção do Colégio do Vidago, iniciado em 1964. Foi meu privilé-
los depois de Jesus Cristo abraçar a gio poder colaborar e aprender com tão insigne mestre».
Madalena e o Zaqueu e os escor- João Cândido C. Gonçalves
raçados leprosos e de o mesmo Jesus
com um azorrague varrer do templo o Boa Nova. A Igreja não pode por muito pessoa, como cristão, como padre,
espírito farisaico, voltou aos tempos mais tempo desaproveitar as “pedras como cidadão, como autarca.
pré-cristãos? Alguém em nome de Je- angulares” do calibre do nosso ho- Alípio
O Meu Testamento mens como mulheres), ou freiras ou os buracos. Tal solução parece-me pou-
(continuação da pág. 8) diáconos (só homens), que se têm apre- co realista. As zonas donde provêm es-
escassez do clero. Um estudo que ti- sentado para servir as necessidades dos tes presbíteros são todas sítios onde a
nham encomendado antes demonstrava nossos paroquianos. proporção de católicos por cada
que entre 1950 e 2000, a população ca- Este surto generoso fala por si só da presbítero é superior à do nosso pais. En-
tólica dos Estados Unidos tinha cresci- generosidade e boa vontade da nossa tão vamos importar presbíteros de Áfri-
do 107 por cento, enquanto o total do gente. Mas segundo a teologia católica, ca, da Ásia ou da América Latina, em
número de presbíteros apenas crescera e na prática, só um padre ordenado pode detrimento dos católicos que vivem nes-
6 por cento. A média de idade do clero celebrar Missa — a fonte primordial do sas zonas?
anda perto dos 60 anos. E neste momen- espírito cristão. A Missa, no entanto, Será que não vamos considerar se-
to há mais presbíteros com mais de 90 está a transformar-se num bem que es- quer a adaptação cultural e a necessida-
anos do que com menos de 30. casseia cada vez mais. de de que sejam competentes na língua,
O resultado é que 15 por cento das Parece-me interessante que os bis- o que terá que lhes ser exigido? Além
paróquias do país, não têm um pos, durante a sua reunião, tenham con- disso, os presbíteros estrangeiros não
presbítero fixo como pároco. Estou cons- siderado a hipótese de recorrer a compreendem muito bem a maneira
ciente da quantidade de leigos (tanto ho- presbíteros estrangeiros para preencher (continua na pág. 2)
7. espiral 7
DEIXEMOS DE NOS COMER UNS AOS OUTROS!...
Já lá vai longe, no calendário, a cha- surge agora uma primeira dificuldade: ja é uma verdade absoluta, irrefutável.
mada «Semana de Orações pela Uni- Só os ignorantes podem negar que a Ora hoje a Igreja tem a consciência de
dade dos Cristãos». Triste coisa é ter água é feita de hidrogénio e oxigénio. que o Senhor Jesus não lhe deu autori-
de se rezar para que os cristãos sejam Também só gente muito obcecada nega dade sobre todas as coisas, nem reve-
unidos!... a evolução da vida. Só os maus negam lou todos os mistérios. Mais do que isto:
Quando eu era miúdo, ao escutar a que se deva respeitar o próximo. A Igreja tem consciência de que há nas
banda de música da minha aldeia, pen- Uma das tentações do crente é su- outras religiões coisas muito válidas. “A
sava: Como é que tantos músicos, com por que “os outros” (de outras confis- Igreja Católica vê-se unida, por mui-
instrumentos diferentes a tocar ao mes- sões religiosas, ou até que mudaram o tos títulos, com os cristãos que não pro-
mo tempo notas diferentes, criavam uma rumo da sua vida para um modo de vi- fessam integralmente a fé ou não guar-
harmonia tão encantadora?!... A razão ver mais coerente e responsável) são to- dam a unidade com o sucessor de Pe-
era, afinal, simples: a banda de música dos ignorantes, obcecados, traidores, dro. Há muitos que prezam a Sagrada
era um corpo! As flautas não tocavam maus... Mas basta conviver com eles Escritura, manifestam sincero zelo re-
clarinete, nem o tambor trombone ou para descobrir que há protestantes, ju- ligioso, crêem de coração em Deus Pai
saxofone. Cada um, com a sua especia- deus, ortodoxos, maometanos, ateus…, e em Cristo” (Constituição Dogmática
lidade, mas afinados, faziam um con- que são inteligentes, cultos, humildes, Lumen Gentium).
junto harmónico! sinceros. “A pessoa humana tem direi- Amigo leitor: Unidade sim!
S. Paulo escreveu que nós somos o to à liberdade religiosa (...). Os homens Unicidade não, porque esta eliminaria
«Corpo místico de Cristo». Afi- a rica variedade dos dons do Povo
nal somos todos membros do de Deus que para Ele caminha,
mesmo corpo. Todos diferentes, embora por vias diferentes! O
mas cada um com a sua função. ecumenismo não é tentar arras-
Carismas diferentes, mas um só tar os outros para o nosso modo
Espírito, diria S. Paulo. de pensar. A primeira coisa a fa-
Imagina, amigo leitor, que zer é cada um de nós converter-
os pés, cansados da sujeira dos se mais profundamente ao Evan-
caminhos, queriam trocar o seu Ajudemo-nos uns aos outros (Gal gelho, e deixar-se de
lugar pelo dos olhos? E que as «capelinhas». A segunda é inten-
mãos, servas de todo o corpo, queriam têm o dever de buscar a verdade, (...) sificar o diálogo e ter a humildade de
ficar no lugar dos ouvidos?!...Que hor- mas a verdade não se impõe senão pela reconhecer que, neste ou naquele pon-
rível monstro?! É que nem os olhos ca- sua própria força” (Vaticano II). to, podemos aprender com as outras co-
minhavam, nem os pés viam, nem os Uma segunda dificuldade resulta da munidades...
ouvidos ouviam, nem as mãos ideia do “tudo ou nada”. O crente ten- Deixemos de nos comermos uns
serviam!...Era a confusão geral num de a supor que a religião verdadeira sabe aos outros para ser possível a paz e
conjunto de membros desunidos, e des- tudo a respeito de todas as coisas. E por a construção do nosso futuro.
truírem-se uns aos outros!... isso tudo o que se ensina na nossa Igre- Manuel Paiva
Fala-se muito em ecumenismo. É a
necessidade que se sente de congregar
todas as pessoas num esforço comum b r e v e s . . . ximo será o da região Porto. Olho
de paz e cooperação. É óbvio que o ecu- vivo!
menismo é difícil. Navega entre dois es- l VI Curso de Actualização Outros (Lisboa, Centro, Zona Sul,
colhos: o relativismo (em que se pensa Teológica: Decorreu em Fátima
que todos têm razão) e o ...) se lhe seguirão. Importa estar
(Seminário do Verbo Divino), sob atento a eles, convidar novos ele-
fundamentalismo (que afirma que só
nós temos a razão toda). o tema “OS NOVÍSSIMOS”, com a mentos e participar.. O nosso mo-
Vejamos uma verdade mais simples: participação de quase 80 pessoas. vimento deve ser isso mesmo: mo-
Sei que a água é feita, fundamentalmen- Bela iniciativa, muito aplaudida. vimento! Tu também fazes falta.
te, de hidrogénio e de oxigénio, porque Não te dispenses...
l Encontros Regionais:
posso fabricar 18 gramas de água com
Estão na calha vários. O mais pró- Ânimo!
2 de hidrogénio e 16 de oxigénio. Mas
8. O MEU TESTAMENTO
Na sua última vontade — enviada por Mons. John J. Egan ao jornal National Catholic Report poucos dias antes da sua morte,
a 19 de Maio de 2001, o venerável presbítero diocesano de Chicago apela à ordenação das mulheres e dos homens casados
dentro da Igreja Católica Romana. “Na minha Igreja, em tempos de verdadeira necessidade” — escreveu ele então — “as
mulheres estão ausentes dos lugares em que melhor podem dar o seu contributo”. Em seguida transcreve-se o texto
completo do testamento de Egan, publicado pelo mesmo National Catholic Report, pouco depois da sua morte.
Tenho 84 anos, e como seminarista e presbítero servi a distinta fizesse parte deste conclave de homens? Haverá ver-
Igreja Católica e a Arquidiocese de Chicago durante 66 anos. dadeiras razões teológicas contra tamanho atrevimento —
Olho para trás com gratidão, para os bons conselheiros que ou trata-se simplesmente daquilo que se repete tantas vezes:
tive e para as oportunidades que tive ao longo da minha vida “Isso nunca se fez”?
— poder trabalhar na preparação para o matrimónio, nos as-
suntos ecuménicos, nas relações raciais, na justiça social, Nos começos de Março, o meu Arcebispo, o cardeal
organizando comunidades, como pastor — servindo as ne- Francis George, pregou uns exercícios espirituais ao Papa
cessidades duma grande cidade e da sua população. Na mai- juntamente a outros 160 membros da Cúria. Senti-me orgu-
or parte destas tarefas fui capaz de resolver problemas como lhoso que ele tenha sido escolhido para essa tarefa. Os ho-
me pareceu oportuno, e propor soluções e remédios. mens da Cúria são pessoas “de dentro”, são os que contro-
Agora, nestes últimos momentos da minha vida, olho para lam o trabalho desta imensa Igreja, e as suas decisões atin-
a Igreja e sinto-me perturbado. Vejo uma grande incongru- gem milhões de pessoas. Não teria sido bonito que a Cúria
ência; e sinto necessidade de falar disso. Porque é que não beneficiasse da visão e das ideias sábias que alguma mulher
estamos a explorar na sua plenitude os dons e os talentos das ilustre poderia ter levado às suas discussões, de igual para
mulheres? Elas constituem a maior parte dos fiéis das nossas igual?
comunidades por esse mundo fora. Estou consciente que me E agora vou referir-me ao tema mais à flor da pele, que
torno uma nota discordante — já que os dirigentes actuais da trata das mulheres na Igreja Católica Romana. Como quase
Igreja não vêm nenhuma razão para mudar e muito menos todos sabem, estamos a viver um período de crise, causado
para tocar neste argumento. E, no entanto, com todo o respei- pelo declínio do clero masculino nos Estados Unidos, na Eu-
to, discordar responsavelmente sempre foi uma tarefa de Igre- ropa, na América do Sul, e em qualquer outro sítio. Eu penso
ja; constitui uma parte daquilo que somos, daquilo que sem- que a Igreja devia considerar seriamente a ordenação das
pre fomos, e do que precisamos de ser. mulheres (e, claro está, dos homens casados) como
A posição das mulheres na sociedade mudou radicalmente presbíteros, para vir ao encontro duma verdadeira necessida-
porque são consideradas iguais em quase todo o mundo, e de da qual nunca se fez caso nenhum. E digo isto baseando-
não como seres servis e inferiores. Quando eu nasci, as mu- -me na insistência de João Paulo II, que por outro lado reflec-
lheres começavam a conseguir o direito de voto. Hoje em dia te o decreto do Vaticano II sobre a liturgia, que “a primeira e
presidem às suas próprias empresas, administram hospitais, indispensável fonte para o espírito cristão’ é a liturgia, a: Eu-
são presidentes de algumas nações. E no entanto, na minha caristia, a Missa. Se a fonte é esta, e não se pode conseguir
Igreja, quando mais precisamos delas, as mulheres estão au- porque faltam presbíteros, então perde-se o verdadeiro espirito
sentes dos postos onde podiam dar um importante contribu- cristão, e isso é desastroso.
to.
Numa grandiosa cerimónia recente, o Papa João Paulo II Na arquidiocese de Chicago, em 1999, perdemos 31
elevou às honras da púrpura cardinalícia 44 homens de todo presbíteros por morte e 20 porque se jubilaram. Nesse mes-
o mundo. E no entanto, a sua única missão — repito, a única mo ano apenas se ordenaram 6 novos presbíteros em toda a
— consiste em reunirem-se em Roma quando morre o Papa, diocese. Tanto quanto eu sei, na arquidiocese de Nova Iorque
para escolherem um novo Papa. Este novo Papa vai tomar só se ordenaram 5; em S. Francisco, 1; em Los Angeles, 7;
decisões que vão afectar a Igreja Universal, cujos membros em Detroit, 5; em Boston, 11; em San Antonio, 3; em
na sua maioria são mulheres. Seria assim tão inverosímil, Davenport, 2; em Newark, 11 (dos quais só um era natural
tão afastado da realidade, que alguma senhora competente e de lá, e dos outros 10, 9 pertenciam a um movimento especi-
al); em Washington, 4.
espiral boletim da
associação fraternitas movimento
Na sua reunião do ano passado, os
bispos americanos consideraram pela
Rua Lourinha, 429 - Hab 2 = 4435-310 RIO TINTO
Responsável: Alberto Osório de Castro primeira vez formalmente o problema da
e-mail: a-osorio-c@clix.pt
Nº 16 - Julº/Setº de 2004
(continua na pág. 6)