O documento resume o 32o Encontro Nacional da Fraternitas em Fátima, que teve como tema a presença e ação das mulheres na Igreja. O encontro contou com apresentações de Artur Oliveira sobre Maria Madalena e de Ana Vicente sobre a necessidade de uma estrutura eclesiástica menos hierarquizada e que permita maior envolvimento de todos os fiéis, incluindo das mulheres. O documento defende que a Igreja deve atualizar sua mensagem para os tempos modernos e ser mais inclusiva.
1. espiral da fraternitas moviment
ternit vimento
boletim da associação fraternitas movimento
ANO xiII - N.º 47 - ABRIL/JUNHO de 2012
CORPO
somos um só CORPO
sejamos coerentes
POR fERNANDO fÉLIX
ecebi uma carta do nosso colega José da Silva Pin e até de afeto, sem ser sexual. Atualmente é que os homens
R to, aliás grande colaborador para o «Espiral». Trans-
crevo apenas alguns parágrafos, onde adensa o seu
sentir-se Igreja, em particular as suas dores e os seus desafios:
olham para as mulheres com tensão sexual, e isso é animal.
Não existe espiritualidade nesta atitude.
Maria de Magdala não é uma qualquer, não é a Madalena
das lágrimas, a pecadora, mas sim uma senhora de linhagem,
«Há muito tempo, penso, medito e sofro: a nossa Santa
Igreja Católica Apostólica tem retrocedido no número de da alta sociedade da altura e que se dedicou a Jesus, tal como
católicos praticantes e no número de vocações sacerdotais e Joana, a mulher de Cusa, que era administrador do Rei
consagradas, em Portugal. Numa população de onze milhões, Herodes, e Susana. As três mulheres, com os seus bens, acom-
os católicos são metade, porque dois milhões se afastaram panhavam o senhor Jesus que era o profeta itinerante, assim
nos últimos dez anos. como os discípulos que o seguiam mais de perto.»
Isto não é triste? Mais, não será motivo para nos incomo- Artur acaba com a lenda de Maria Madalena pecadora,
dar, preocupar e, mais importante do que isso, pela positiva, transportada pela própria Igreja. No livro, verifica-se que essa
para nos lançarmos “à pesca”, à pregação? lenda começou com uma infeliz homília do Papa Gregório
Os discípulos do Senhor eram pescadores, cobradores de Magno, que, na Basílica de S. Clemente, em Roma, confundiu
impostos, médicos Tinham a cultura do povo. Desde que o Maria Madalena com a “pecadora arrependida” do evangelista
Senhor os chamou, começaram a ser homens de Fé, de muita Lucas (7,36-50). A partir de então terminou a história e prin-
Fé, a ponto de darem a vida por Ele, como testemunho de cipiou a lenda. Agora tenta-se criar o Mito. Desde essa homília
Fé e de Amor fortes, indeléveis. Não teremos nós a mesma por diante houve que explorar este equívoco para satisfação
Fé e o mesmo Amor?» E José da Silva Pinto termina dizendo das pecadoras, tendo em Madalena um exemplo, pois pode-
que todos os batizados precisamos de estar bem preparados riam viver consoladas.
para a responsabilidade de sermos testemunhas do Evange- E o autor assenta a sua tese em factos históricos. Basta
lho pelo exemplo de vida. verificar a bibliografia que é citada para verificar que os teó-
logos e biblistas o confirmam, porque está provado histori-
«Sejamos coerentes! camente.
Não existem dez mandamentos para os homens Por sua vez, Ana Vicente defende que a Igreja Católica
e dez mandamentos para as mulheres. deverá ter uma estrutura menos hierarquizada, que permita
Jesus pede às mulheres a mesma santidade que um maior envolvimento de todo «o povo de Deus» nas ques-
pede aos homens.» tões essenciais. Na sua opinião, o imenso fosso que separa
clero e leigos é totalmente despropositado. E, concretamen-
o 32.º Encontro Nacional da Fraternitas, em Fáti
N ma, de 27 a 29 de abril, centrámos a atenção num
dos dinamismos da Igreja: a presença e acão das mulheres. O
te, excluir as mulheres dos ministérios na Igreja vai contra a
mensagem de Jesus! De facto, permite-se à mulher ler a Pala-
vra de Deus, mas elas não podem receber a ordem menor de
tema foi orientado por Artur Cunha de Oliveira, biblista re- leitor, por exemplo. Mas é a origem dessa discriminação que
conhecido, e Ana Vicente, do Movimento Nós Somos Igreja. é absurda: na Igreja o masculino é que prevalece, porque Je-
O mote do tema do encontro foi a recente edição do sus era homem, sustenta o Magistério.
livro «Jesus e as Mulheres. A propósito de Maria Madalena», Ana Vicente contrapõe com a frase paulina: «Não há ho-
pelo Artur Oliveira. Para ele, o único propósito da obra «é o mem nem mulher, pois todos sois um em Cristo.» E arrema-
de reabilitar a pessoa digníssima de Madalena e salientar a ta: «Sejamos coerentes! Não existem dez mandamentos para
pessoa do Senhor Jesus, que até no trato com as mulheres é, os homens e dez mandamentos para as mulheres. Jesus pede
para nós, um exemplo de delicadeza, de atenção, de carinho, às mulheres a mesma santidade que pede aos homens.»
2. 2 espiral
Livro de Artur Oliveira
apresentado no Encontro Nacional
POR ALÍPIO AFONSO
diálogo. Uma experiência e sabedoria silencioso, passa por entre a multidão
O
Evangelho, enquanto Boa que faltara, no séc. VII, ao papa Gre- com um sorriso de compaixão infinita.
Nova, é herdeiro das Pro- gório Magno, confundindo Maria Estende-lhe os braços, abençoa-os. Um
clamações Imperiais, ditas Madalena com Maria a pecadora por velho, cego de infância, exclama do meio
Boa Nova, quer agradassem quer desa- desatenção histórica e filológica, como da multidão: «Senhor cura-me e eu te
gradassem aos populares, com esta gran- neste livro o nosso grande Artur refere verei.» O cego passa a ver. O povo der-
de diferença, o Evangelho não é mero e contradiz historicamente. E faltara, em rama lágrimas de alegria e beija o chão
discurso informativo mas, também e es- 1870, no decorrer do Vaticano I, a Pio sobre as marcas dos seus passos (...) As
sencialmente, operativo com a força da IX, ao não atender uma delegação de crianças lançam flores à sua passagem,
eficácia purificadora do mundo (Bento bispos em nome da maioria do colégio cantando: «Hossana, é Ele, deve ser Ele!
XVI, Jesus de Nazaré, cap. III). pontifício, para desistir da imposição da Exclama-se: só pode ser Ele!»
Por sua vez, o Evangelho esclarece e infalibilidade pontifícia, sob a alegação Chega ao adro da Catedral de Sevi-
completa a revelação das velhas Escri- de não ser necessária à Igreja e de difi- lha no momento em que uma multidão
turas Sagradas que nasceram em tradi- cultar os diálogos com outras igrejas. É acompanha um pequeno ataúde branco
ções religiosas marcadas por várias cul- conhecida a resposta de Pio IX: «A Igreja com o corpo de uma menina de 7 anos,
turas, transmitindo-nos no seu conjun- sou eu.» filha única duma pessoa notável. «Ele res-
to a convicção de ser Deus a falar-nos Estes acontecimentos pontifícios suscitará a tua menina», gritam na multi-
de muitos modos. O encontro com a ajustam-se à saga do grande inquisidor, dão para a mãe lacrimosa. A mãe lança-
eterna e discreta presença divina dá-se do romance Irmãos Karamazov, loca- se aos pés de Jesus e exclama: «Se és Tu,
nesta sinuosidade de caminhos dos tem- lizada em Sevilha, nos tempos da gran- ressuscita a minha filha», e estende os
pos (P.e Tolentino). de inquisição. Escreve Karamazov: braços para Ele. O cortejo para. Des-
Esquecer esta sinuosidade pode le- «Jesus, por misericórdia, volta ao cem o caixão sobre as lajes. Jesus con-
var a graves erros. Assim aconteceu há convívio dos homens sob a forma que templa a defunta e cheio de compaixão
50 anos, aos 18 cardeais que acompa- tivera nos três anos de vida pública. Apa- diz: «Menina, levanta-te!» E a menina le-
nhavam João XXIII na igreja de S. Pau- rece docemente, mas todos o vão co- vantou-se. Neste momento, surge o
lo, quando o papa anunciou a procla- nhecendo. Atraído pela sua força grande Inquisidor. Olhando para o su-
mação do Concílio, considerando-o inú- irresistível, o povo comprime-se à sua cedido e reconhecendo entre a multi-
til, mercê da interpretação (dogmática) passagem e segue-lhe os passos. Jesus, dão a pessoa de Jesus, manda-o pren-
declarada no Concílio de Trento. Este der. Naquela noite, em silêncio, vai ter
concílio separou a revelação inteiramente com Ele à prisão e diz-lhe: «Tu não po-
da ciência como afirmou ao programa des fazer mais nada, o que tinhas a fazer
Eclesiae, em 22/03/12, o presidente já está feito. Agora somos nós que man-
dum Instituto de Teologia, tornando temos aquilo que disseste.»
norma o princípio do «Roma locuta Para um cristão não há diálogo mais
causa finita». Deu asas novas ao divór- perturbador, comenta o P.e Tolentino.
cio latente entre a razão e a fé abando- Mas é esta, muitas vezes, a religiosidade
nando a dialética de aproximação às ci- oficial, ao dizer-se: Deus é isto, o seu
ências, de que são testemunhas as cartas nome é aquilo. Deus tem de ficar ali en-
de Paulo, a Cidade de Deus de Agosti- caixado, submisso: «Tu não podes, Tu
nho, a Súmula Teológica de Tomás de não podes!»
Aquino, etc, etc. Por falta de diálogo eclesiástico-ci-
João XXIII tinha toda a razão hu- entífico conclui o teólogo J. I. Gonzalez:
mana e divina consigo, reforçada no «A Cúria é responsável por mais ateus
exercício da nunciatura em vários paí- que Marx, Nietzsche e Freud juntos.» E
ses, ao proclamar um novo concílio o teólogo, sociólogo e filósofo Anselmo
como chave para reabrir as portas do Borges, em 11/12/01: «O atual papa
3. l
espiral 3
enquanto cardeal Ratzinger converteu- a cooperação dos três. Em presença
se para muitos no principal obstáculo deles, o Espírito Santo talha a cada qual
para a Fé.» o seu caminho, de acordo com o pró-
O Vaticano II (1962) não foi tão lon- prio carisma.
ge como desejara João XXIII. Às re- Cinco exemplos:
formas iniciais - tradução litúrgica do 1. Teillard de Chardin no seu es-
latim nas línguas vernáculas, reformu- pantoso testamento espiritual que é a sua
lação catequética e atualização do Direi- Missa sobre o Mundo:
to Canónico - seguiu-se um grande si- - Senhor já que uma vez mais longe
lêncio. Até hoje está longe de traduzir das florestas da França, aqui, nas este-
para o grande público todas as suas de- «Ou respondemos aos homens e mu- pes da Ásia, não tenho pão, nem vinho,
duções, devido ao travão imposto pe- lheres de hoje com uma linguagem de nem altar, eu me elevo acima dos sím-
las velhas Comissões Consistoriais. Vem hoje, acompanhando a ciência, ou con- bolos até à pura majestade do Real, e
faltando a muitas a coragem de pôr a tinuaremos a assistir ao esvaziamento das vos ofereço, eu, vosso sacerdote, sobre
Igreja contemporânea a refletir sobre a nossas igrejas», afirmou D. António o altar da terra inteira, o trabalho e o
história no mundo contemporâneo, ar- Couto, bispo de Lamego, desafiando, sofrimento do mundo... coloco sobre a
ticulada nos dois eixos complementa- por isso, os fiéis a seguirem com aten- minha patena, meu Deus, a messe espe-
res: - Pensar a diferença/Viver a dife- ção os novos tempos com respostas rada deste novo esforço. Derramo so-
rença - (sendo isto) o cerne do Vaticano cristãs atualizadas, contrapondo ao faci- bre o meu cálice todos os frutos que
II que não acrescentou verdades para litismo existencialista, o valor cristão do hoje são esmagados...
acreditar (monge Sertório). amor das Bem-Aventuranças, atualizado A oferenda que esperais agora, Se-
O último - um fumo branco notó- em nós próprios e no fermento da mas- nhor, aquela de que tendes imensa ne-
rio - tem a data de 1993, saído da Co- sa que nos rodeia. Doutra forma o mun- cessidade cada dia para aplacar a vossa
missão Pontifícia Bíblica, ao declarar que do continuará a passar-nos de lado por fome, para acalmar a vossa sede, é o
o «o método histórico-crítico é indis- culpa nossa, por não cumprimos o pre- crescimento do mundo impelido pelo
pensável para O ESTUDO CRÍTICO ceito evangelizador - «Ide e ensinai». (As- devir universal.
DO SENTIDO DOS TEXTOS AN- sembleia Diocesana, 27/03). Este pão, o nosso esforço, não é em
TIGOS.» Também Bento Domingues falando si, eu o sei, mais que uma degradação
Aqui entra em pleno o nosso mestre da doutrina social da Igreja reafirma que imensa. Este vinho, a nossa dor, não é,
Artur. Por sua vez, como apóstolo ela deve incarnar em cada época as exi- ainda, ai de mim, mais que uma
avalizado da Boa Nova, o Artur não gências do Evangelho. Quando se pro- dissolvente poção. Mas, no fundo desta
guardou os talentos para si e seus fami- cura responder, apenas, com as palavras massa informe, colocastes - disso estou
liares. Vem-nos dividindo connosco nes- de LEÃO XIII e de Bento XVI, corre- certo, porque o sinto - um irresistível e
tes encontros e com tantos outros em se o risco de identificar a Igreja com a incessante desejo que nos faz a todos
encontros similares e nas várias obras Hierarquia, desprezando a pluralidade da gritar, desde o ímpio ao fiel: «Senhor,
publicadas, a última das quais é a base realidade social estudada por Jean Yves fazei-nos Um» no Amor.
da presente reflexão. Calvez e tantos outros (Mail, 25/03/12) 2. Teresa de Calcutá, que a Deus re-
Este decreto é a confirmação do que Certamente que a presente falta de zava assim: «Senhor, não te importes
o Artur sempre afirmou. Nas entreli- diálogo com o mundo contemporâneo com o que eu sinto.» E que de Deus
nhas do texto diz-se que a revelação não é uma das causas responsáveis pela per- dizia: «Quero amar a Deus por aquilo
acabou, como o Artur nos vem de- da de dois milhões de católicos em Por- que Ele tira. Ele destruiu tudo em mim
monstrando. Deus continua a revelar-se tugal, na última década? (...) O pensamento do Céu nada signifi-
aos povos, segundo a capacidade de en- Por sua vez, esta rulote em andamen- ca para mim e contudo vivo esta ânsia
tendimento destes. Tal como afirmam to reveste-se de vários formatos, que nos torturante de Deus (...) Se alguma vez
o P.e Tolentino, em recente entrevista e são descritos pelos exegetas, linguistas, vier a ser Santa serei com certeza uma
D. Manuel Clemente, em resposta ao in- filólogos e teólogos, comprovados pe- santa da escuridão». Não ficou como a
vestigador Cardoso Bernardes. D. Ma- los exemplos dos santos e confirmados Santa da escuridão mas do Amor, leva-
nuel, neste contexto, atribui à Igreja o pela hierarquia. Os exegetas, filólogos e do ao extremo das suas capacidades.
papel de estalagem rulote em andamen- teólogos como guias teóricos, os santos 3. Zaqueu. Na sequência do encon-
to, (acrescentando), uma Igreja que pare como modelos, a hierarquia como au- tro com Jesus mudou de vida, compro-
não chega a Deus (J.N. 18/03). toridade. As rotas seguras pressupõem metendo-se a distribuir metade da for-
4. 4 espiral
tuna pelos pobres e a restituir em quá- com os cotovelos apoiados no balcão ao Inferno. Não foi isso que eu senti.
druplo o que roubara aos clientes. ouve-os condoído e responde-lhes: «Só Na Alemanha, uma família protestante,
- Hoje veio a salvação a esta casa, o Deus sabe quanto os lamento. Agi como muito jovem, convidou-me para jantar.
Filho do Homem veio para procurar e pasteleiro, desconhecendo o que se ti- O mesmo aconteceu com uma família
salvar o que estava perdido - confirmou nha passado.» Convidou-os a sentarem- muçulmana.
Jesus. Um Amor arrependido, justo e so- se, a tirarem os casacos ao mesmo tem- Perante eles, pessoas admiráveis, pen-
lidário. po que ia colocando duas chávenas na sei o que na altura era um enorme atre-
4. O jovem monge, que desafiou a mesa. Os pais passaram a ouvir o que o vimento: em primeiro lugar somos to-
regra. A história é sobejamente conheci- pasteleiro tinha para lhes dizer. Calma- dos homens, não podemos andar aqui
da. Eram dos dois monges peregrinos. mente foi falando. Provavelmente, pre- a levantar barreiras. Este convívio trou-
Chegados a uma ribeira encontram uma cisam de comer alguma coisa. Espero xe-me a primeira crise. Fez-me repensar
jovem e bela mulher angustiada, à espe- que comam estes bolinhos ainda quen- a Igreja e a própria figura de Jesus.»
ra de alguém que a passasse para o ou- tes, feitos por mim. Foram comendo. Este livro do Artur – «Jesus Cristo e
tro lado. Vendo-os, pede-lhes insisten- As palavras do pasteleiro criaram neles as Mulheres» – insere-se neste aprofun-
temente para a transportarem às costas. um clima de acolhimento e escuta. A sua dado repensar científico-cristão.
Um pedido que ia contra as regras. generosidade enxugara-lhes parte das Sobre a forma como recebeu a acu-
O mais novo colocou as regras de lágrimas e foi-os abrindo ao perdão. sação de herético, em 1970, o P. e
parte e satisfaz-lhe o pedido. Chegada à Amor plurifacetado e mutuamente per- Anselmo Borges respondeu: «Fui consi-
margem oposta, a mulher agradeceu e doado. derado herético pelo bispo de Portalegre
cada qual seguiu o seu destino. O mon- As Rulotes acima, divergentes de então. Foi-me acusar ao diretor do
ge mais velho levou o resto da viagem a enquanto modelos, convergem na ISET, mas o diretor esteve muito bem
recriminar o colega, até que ele se en- propulsão que é a idêntica em to- e desafiou-o a apresentar por escrito as
cheu de coragem e lhe ripostou: «Eu das - Fé e Amor. Os únicos moto- minhas heresias, que, tanto quanto sei,
transportei a mulher entre as margens e res que permitem avançar espiritu- não terá feito.»
deixei-a, tu, transportaste-a até aqui.» almente, tornando o Reino de Deus Não teremos todos nós passado por
Amor que faz o bem sem olhar a quem. presente em nós e no mundo, como apreciações semelhantes?
Algo parecido fizemos nós padres diz, também, o P. e Tolentino. Sobre quais as experiências mais mar-
casados. Transportámos contra as regras Neste contexto, vêm a propósito as cantes nestas lutas, respondeu: «Várias.
da ordem a mulher bela e presenteira, seguintes respostas do P. e Anselmo Uma foi acabar com o Inferno. Tinha
de entre as melhores de todas, falo por Borges, fornecidas a determinado jor- 45 anos. Foi em 1989, numa viagem de
um meu familiar que conhece muitas de nalista, pela afinidade que mostram com comboio, depois de ler «A História de
vós, que encontrámos à beira do rio da o sentir da Fraternitas em geral. Deus», de Schillebeeckx (...) Foi uma li-
mudança. Depois fomos mais longe que A uma pergunta sobre quando terá bertação. Não há condenados (...) Mas
o jovem monge. Prosseguimos a viagem começado a pensar que para conviver há Céu? Espero convictamente que na
juntos, por mútua afeição. com a humanidade toda teria de renun- morte não cairemos no nada, mas na
No que nos diz respeito ao pensar ciar a Deus e à Igreja, respondeu: plenitude de Deus. Sou ortodoxo no
do mais idoso, a Zélia e eu próprio «Renunciar, não. Mas rever, sentido de seguir a reta doutrina. Tal qual
compreendemos a sua reação instituci- desconstruir e reconstruir. Foi aos 25 como Bento XVI em «Jesus de Naza-
onal, face ao velho Direito Canónico anos.» ré». E continua: «Em 1994, tive de for-
que, neste ponto, não mudou uma vír- Por aqui passaram as vidas de todos mar um puzzle: eu, Deus, os outros, as
gula. Sobrepusemo-nos a tudo e manti- nós, Senhoras e Homens da Fraternitas. ciências. E consegui articular a minha fé
vemos sempre uma relação de amizade A uma outra sobre como lidou com com os diferentes saberes e sabores e
e de respeito mútuo com a hierarquia. outros credos e outras maneiras de ser os diferentes posicionamentos dos ho-
5. O pasteleiro condoído. Um casal cristão, mormente quando frequentava mens e das mulheres, ao longo dos tem-
pela manhã encomendara um bolo para a Universidade Gregoriana Pontifícia e pos. Agora estou de bem. Foi um pro-
o aniversário de um filho. Pelo meio- fez férias na Alemanha, respondeu: «Sa- cesso muito, muito doloroso. Tive de
dia o jovem morre atropelado e os pais íamos de Portugal e de Roma desconstruir muito do que me tinham
mergulhados na dor não mais pensaram dogmáticos. Fora da Igreja, que tudo sa- ensinado.»
no bolo. Desconhecendo o sucedido, o bia, não havia salvação. Enquanto miú- Um caminho que vimos todos fa-
pasteleiro recrimina-os uma e mais ve- dos fomos permanentemente formados zendo dentro da Fraternitas sob o pre-
zes pelo telefone. Uma saga que só aca- nisso. Diziam-nos que os protestantes cioso impulso do Santo P.e Filipe.
ba quando, passada a maior dor, os pais eram gente com quem nós não podía- Quanto à fé pessoal, respondeu: «A
vão explicar-se à pastelaria. O pasteleiro mos contactar, que estavam condenados minha fé convive com a dúvida. É fé,
página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * blogue: http://fraternitasmovimento.blogspo
5. l
espiral 5
embora com razões. A fé não tem a ver, sumado na doação de Jesus: o meu ali- tava a moldá-lo. O perdão é o regresso
em primeiro lugar, com os dogmas. Não mento é fazer a vontade de meu Pai que ao amor. Deus que nos criou não deita
acreditamos em dogmas. Isso são coi- me enviou e consumar a sua obra (Mt. fora o barro de que somos feitos.
sas, o divino “coisificado”. Nós acredi- 39, 46). Com Jesus o mundo deixou de A oração que Jesus nos ensinou, é
tamos em Deus.» ser só o cosmos original, é um mundo um sim continuado e concreto ao Amor,
É o diálogo entre a ciência e a fé. redimido expresso nas entrelinhas destas palavras
O modelo global de orientação está O Fiat da (3.ª criação), o nosso Fiat de S. Paulo:
no Pai-Nosso. No seu conteúdo reside dentro do mandato «Ccrescei, - Ainda que eu fale a língua dos ho-
o caminho da santidade, dirigido a to- multiplicai-vos, dominai a terra.» É o Fiat mens e dos anjos, se não tiver amor sou
das as mulheres e homens, independen- da criação atual. A vida cósmica cor- como um bronze que soa ou um
temente do tempo e do espaço vitais. rente, por vontade de Deus depende, címbalo que retine.
Por outro lado, a maior e fatal desgraça também, do homem. Um poder dele- Ainda que eu tenha o dom da pro-
que pode acontecer a alguém é não cor- gado que nos engrandece. Como no fecia e conheça todos os mistérios e toda
responder a este convite, é não ser san- deserto, onde um poço escondido o tor- a ciência, ainda que eu tenha tão grande
to. Sempre que recitarmos consciente- na belo, nós somos belos pela beleza fé que transporte montanhas, se não ti-
mente o Pai-Nosso estamos a actualizar latejante de Deus em nós e em nosso ver amor, nada sou.
em nós o Fiat da criação e da redenção. redor. Ainda que eu distribua todos os meus
(P.e Tolentino): Ao pedirmos ao Pai - o pão Nosso bens e entregue o meu corpo para ser
O Fiat da 1.ª Criação da (terra e mar, de Cada dia nos dai hoje - estamos a queimado, se não tiver amor, de nada
dia e noite (...), plantas e animais, mulhe- dizer que somos uns para os outros na me aproveita. As profecias terão o seu
res e homens). No que respeita à huma- escuta da palavra, no silêncio e no riso, fim, o dom das línguas terminará, só o
nidade a criação não tem por base o a no dom e no afeto e no alimento ne- amor jamais passará (1.ª Cor, 13)
ordem divina do faça-se mas o façamos cessário. É de vida partilhada que as Ter mino com esta frase de
... o ser mulher e homem à nossa ima- nossas vidas se alimentam. Nietzsche: «Se a Boa Nova da Bíblia es-
gem e semelhança. E se nalgum momento nos desvia- tivesse escrita, também, no vosso rosto,
O Fiat da Redenção (Faça-se, Pai a mos do caminho do amor, há que vol- não teríeis necessidade de insistir na fé
Tua Vontade e não a minha) (também tar atrás e fazer como o oleiro de Isaías de modo tão obstinado. As vossas ações
chamada 2.ª criação pelos padres da (18, 1-4) que quando um modelo não tornariam supérflua a leitura da Bíblia.
Igreja, iniciado no Fiat de Maria e con- lhe saía bem misturava-o à massa e vol- Cada um de vós seria a própria Bíblia.»
A questão do “muitos” e do “todos”
na consagração do vinho
POR Artur C . de Oliveira
Artur C.
Missal Romano se lê, na fórmula euca- sermos), é a referência que Paulo faz à
refeição fraterna dos fiéis de Corinto
S
egundo informação vaticana rística da consagração do vinho e a pro-
de 30 de abril, Bento XVI teria pósito do sangue do Senhor Jesus: qui (1Cor.11,17-34) – esta Primeira Carta
enviado aos bispos católicos da pro vobisetpro multiseffundetur in de Paulo aos Coríntios terá sido escrita
Alemanha uma mensagem determinan- remissionempeccatorum, o que dá em uns vinte e poucos anos após a morte
do que a expressão pro multis, isto é, por português e consta dos missais do Senhor Jesus. Nele, Paulo afirma
muitos, da consagração eucarística do vi- canonicamente aprovados e em uso: der- taxativamente: Com efeito, eu recebi do
nho, e que em várias línguas (incluindo a ramado por vós e por todos os homens Senhor o que também vos transmiti: na
portuguesa) é atualmente traduzida por para remissão dos pecados. Assim tam- noite em que foi entregue, o Senhor tomou o
todos, seja a preferida, porque mais fiel bém em outras línguas, em que o multis pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse
ao texto bíblico. É verdade, filologica- do Missal Romano, isto é, muitos, é tra- “Isto é o meu corpo, que é entregue por vós;
mente. Mas não, semanticamente. E em duzido por todos. Quem tem razão? Va- fazei isto em memória de mim”. Do mesmo
hermenêutica bíblica, se interessa a mos a ver. modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse:
filologia, mais, muito mais nos deve in- Observações Prévias “Este cálice é a nova Aliança no meu sangue:
teressar a semântica. O primeiro documento bíblico que todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em me-
Consagração eucarística do vinho nos informa sobre o que hoje conside- mória de mim (1Cor.11,23-26). E mais não
É verdade que no texto original do ramos a Eucaristia (ou a Missa, se qui- disse. Paulo nem escreveu.
ot.com * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesouraria@fraternitas.pt
6. 6 espiral
Outros bem puxados vinte anos de- texto é: derramado em prol da multidão, e A (21,22)? Ademais, é e bom que se diga
pois, o médico Lucas, caríssimo discí- Boa Nova Para Toda A Gente, da Soci- em abono da ciência bíblica, as narrati-
pulo e companheiro – Como bem se edade Bíblica, publicada em Lisboa em vas da Ceia de Despedida nos Sinópticos
fica a saber pelo uso do plural por Lucas 1978 (Novo Testamento), com a apro- não correspondem por inteiro ao que,
em Act.16,10-17; 20,5-15; 21,1-18; 27,1- vação de D. António, bispo do Porto, historicamente, então se terá verificado,
28) e colaborador de Paulo (Cl.4,14; presidente da Comissão Episcopal da não repugnando, por isso, que constitu-
Flm.24; 2Tm.4,11), na narrativa da Ceia Doutrina da Fé, e cuja versão é: derra- am criações da primitiva Comunidade
de Despedida do Senhor Jesus escreve: mado em favor da humanidade. Claro que Cristã face à prática cada vez mais gene-
“Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, di- isto não são versões mas interpretações. ralizada de se reunirem os fiéis discípu-
zendo: “Este cálice é a nova Aliança no meu S. Jerónimo quando, no século IV, tra- los do Senhor Jesus em comunitárias e
sangue, que vai ser derramado por vós” duziu a Bíblia do hebraico e do grego fraternas refeições a que, pouco a pou-
(Lc.22,20), no que está essencialmente de para o latim, foi filologicamente (e acen- co, se foi dando carácter sagrado.
acordo com Paulo (1Cor.11,25), diferin- tuo: filologicamente) fiel ao original, ver- Em segundo lugar, o plural do
do, quanto ao sangue, apenas naquele: tendo: qui pro multiseffundetur. E da Vulgata adjetivo grego polús, pollê, polú (muito) é
que vai ser derramado por vós. E nada mais. Latina terá passado para o Missal Ro- usado, tanto no grego clássico, como no
Os dois outros Sinópticos (Marcos, mano. Mas, bem ou mal? Mal, porque grego bíblico do Novo Testamento no
que escreveu antes dos demais, e Mateus) não se trata apenas de uma questão sentido da totalidade, de todos. Assim,
dão-nos as seguintes versões sobre o filológica, mas também, e sobretudo, por exemplo, quando Paulo escreve aos
mesmo: Depois, tomou o cálice, deu graças e semântica. Ou, por outras palavras: o que Romanos:Se pela falta de um só homem (ei
entregou-lho. Todos beberam dele. E Ele disse- é que aquele texto grego quer dizer: mui- gàrtôito?enòs (um) parapt?mati) todos morre-
lhes: “Isto é o meu sangue da aliança, que vai tos ou todos? ram (hoipolloiapéthanon), com muito mais ra-
ser derramado por todos…” (Mc.14,23-24). Estou convencido de que quer dizer zão a graça de Deus, aquela graça oferecida
Segundo Mateus: Em seguida, tomou um cá- todos e pelas seguintes razões: por meio de um só homem (enósanthôpoy), Jesus
lice, deu graças e entregou-lho, dizendo: “Bebei Primeira: A tradição cristã em voga Cristo, foi a todos (eis toyspolloys) concedida em
dele todos. Porque este é o meu sangue, sangue no tempo tanto da redação dos Evan- abundância (Rm.5,15). Aqui, não há dúvi-
da Aliança, que vai ser derramado por muitos, gelhos segundo Marcos e Mateus, como da, o sentido do adjetivo grego é o de
para perdão dos pecados (Mt.26,27- totalidade (todos) e não apenas
28). Embora no texto grego ori- de pluralidade (muitos). E, mais
ginal, e quanto ao sangue derra- abaixo, volta Paulo a usar polys,
mado, a expressão num e nou- pollê, poly no mesmo sentido de
tro evangelista seja a mesma, é totalidade: De facto, tal como pela
notável que a tradução em Mar- desobediência de um só homem
cos e Mateus do termo grego (to?enòsanthôpoy), todos (hoipolloi) se
pollôn, que é o busílis da questão, tornaram pecadores... (Rm.5,19).
não seja a mesma: todos, em Mar- Finalmente, o argumento da
cos, e muitos, em Mateus. Afinal analogia da fé. Como é que que
em que ficamos? Em todos ou esta opção pelo muitos (sangue
só em muitos? Segundo Bento derramado por muitos), em vez
XVI deverá ser muitos. Segundo de todos, se compagina com as
me parece e justificarei, literari- afirmações bíblicas (e não é ago-
amente, o tradutor de Marcos tem ra- no tempo de S. Jerónimo, era a de que ra caso de tomar em mãos o tema, que
zão: são todos. o Senhor Jesus de Nazaré era o Messias. isso nos levaria longe) da universalidade
A chave da questão Na Sua Paixão e Morte realizara o pre- da salvação messiânica? Por desfastio,
Não há dúvida nenhuma de que o dito pelo Segundo Isaías (século VI a.C.) leia-se, entre outras, qualquer das seguin-
termo grego pollôn – que significa «mui- sobre o Servo de Yahwéh: “Por isso ser- tes citações: Lc.3,6; Jo.3,17;4,42;12,47;
to», «numeroso», e similares – se pode lhe-á dada uma multidão como herança, há de Act.4,12;28,28; Rm.11,11; 1Tm.2,4;4,10;
traduzir, à letra, por muitos. Assim leio na receber muita gente como despojos, porque ele Tt.2,11; 1Jo.4,14.
quase dúzia de versões portuguesas que próprio entregou a sua vida à morte, e foi conta- Conclusão
possuo, à exceção de duas: a TEB - a do entre os pecadores, tomando sobre si os peca- Filologicamente, é possível a tradu-
tradução ecuménica, publicada no Bra- dos de muitos (rabbim, no hebraico) e sofreu ção: derramado por muitos. Semântica e
sil pelas Paulinas em 1995, com reco- pelos pecados (Is.53,12). Quem não lê esta exegeticamente, não. Por isso, está certo
mendação do Presidente da Conferên- parte da “profecia” repercutida na fór- e bem traduzir-se: derramado por todos, na
cia Nacional dos Bispos Brasileiros, e cujo mula consecratória do vinho em Mateus fórmula consecratória do vinho.
7. l
espiral 7
Breves notícias do Secretariado
ABRIL MAIO
DO ARMANDO:
«Acabei o segundo romance Quem DO MANUEL P. BARROSO CARTA DE JOSÉ S. PINTO
matou a Laurissílvia?, que está com um JORGE «Fiquei muito contente com o
possível editor para ver... Mas aquele si- No dia do seu aniversário, dia 12: Foi policromado cartão (...) bem estrelaDo
lêncio não é de ouro, é de ferro...» No atropelado na passadeira há quatro me- com os nomes e rubricas dos e das nos-
dia 12: «Faleceu hoje, nos EUA, a irmã ses. Fraturou o perónio, andou engessado sas companheiras de viagem (cartão
mais nova da Pamela. Abraços de Res- ficando imobilizado cerca de três me- timbrado da Fraternitas, assinado pelos
surreição.» ses... Andou também em cadeira de ro- participantes do Encontro Nacional em
das. Fátima). Já sabem que enquanto o Se-
DO VINCENT nhor me quiser dar a magnífica – e, para
Foi submetido a uma intervenção INAUGURAÇÃO mim, humanamente, alegria – de me
cirúrgica para extração de um cálculo DAS INSTALAÇÕES deixar ver (...) rosto da nossa compa-
num ureter, no dia 24. No dia 26: «Cor- da Fundação Cónego Filipe nheira Mariazinha – eu não poderei
reu tudo bem... em relação ao do rim de Figueiredo comparecer em corpo e alma, nos nos-
direito, terá ainda seguimento hospita- (Estarreja)/Sessão solene, dia 19: A sos (também meus) Encontros. Estou,
lar, Cidália.» sessão foi presidida por um represen- aí, em Fátima, em espírito, memória,
tante de S. Exa. o ministro da Solidarie- pena e oração. (...) Já não me conhece
RESPOSTA DE D. ANTÓNIO dade e da Segurança Social e a missa de como marido ou familiar, há cerca de
TAIPA ao convite para Assistente Es- bênção presidida por D. António Fran- dois anos e não fala há cerca de 1,5 ano.
piritual, no dia 29: «Infelizmente não po- cisco dos Santos, bispo de Aveiro. Esti- Reconhece-me, pela voz, que já ouve há
derei aceitar o convite, mas ficarei dis- ve presente, mas à mente ocorreram- 37 anos. (...) Eu sinto-me o mais feliz,
ponível para uma outra situação em que me palavras ditas, escritas e sonhos dos aquele a «Quem a quem o Senhor distri-
as coisas se conjuguem melhor.» tantos sonhos daquele santo de Padre, bui a melhor parte» (...)»
que (a manuscrito) assim terminava as
UASP suas cartas para os casais: “Tenho-vos
No passado dia 27 de abril, o bispo sempre presentes no Altar e no coração, DO ÂMBITO DA SAÚDE,
de Leiria-Fátima, D. António Marto, as- a vós e aos filhos, com a maior estima. são muitos e cada vez mais os asso-
sinou o decreto de reconhecimento O muito Amigo, Pe. Filipe.” ciados que vão padecendo das suas
Canónico da UASP - União das Associ- Recebemos já o nº 3 de “Entre Ge- maleitas, dores das suas doenças, que
ações dos Antigos Alunos dos Seminá- rações”, Jornal da Fundação, que desen- em família, são duplicadas, quando
rios Portugueses, dando assim existên- volve toda a página 13 para a não triplicadas. Anotaram-se, aqui,
cia legal, à luz do direito canónico e, pela FRATERNITAS MOVIMENTO. apenas algumas ocorrências pontu-
Concordata, do direito civil, a esta es- Consultar www.fcff.pt. ais.
trutura nacional, que queremos ao ser-
viço dos ideais humanistas da Igreja e MATRIMÓNIO
da sociedade. de Fernando Félix e Maria José
A UASP congrega Associações de
antigos alunos dos seminários portugue-
Bijóias, no Santuário do Senhor Jesus do
Carvalhal, dia 26. «Este é o dia de ale-
JUNHO
ses, Diocesanos e Religiosos. Vem dar gria, que o Senhor preparou para nós», MENSAGEM
corpo a um sonho que surge da ideia de repetia-se no Cântico de Entrada. DO P.E RUI SANTIAGO
congregar e fazer interagir forças emer- «Acompanhemo-los com o nosso Dia 25: «Já pensei na temática para o
gentes de um fenómeno global e de afeto e amizade e com a nossa oração», Encontro da Fraternitas de 5 a 8 de ou-
importância nacional marcantes: o espí- surgiu na Saudação, e que assim seja. tubro. Podemos chamar-lhe assim: An-
rito e a cultura introduzidos na socieda- «Deus viu tudo o que tinha feito: era tudo demos de Esperanças! A Esperança
de do último século, a partir dos Semi- muito bom», ouvimos na 1.ª Leitura (Gn como fio condutor da Narrativa Bíbli-
nários Portugueses, no que respeita aos 1, 26-28, 31a). Ao casal muitos parabéns, ca.»
bênçãos e graças divinas. POR uRTÉLIA sILVA
uRTÉLIA sILV
valores, à ciência e cultura em geral.
8. 8 espiral
Homenagem a Henrique Maria dos Santos
Em 13 de abril último, partiu para
do por acontecimentos políticos e reli- Ao reflectir sobre essas vivências no
a Eternidade este sócio–fundador
nº 37, casado com Maria giosos de certo vulto. (...) No campo re- Seminário, e pense-se o que se pensar
Humberta Nunes de Freitas San- ligioso, o Distrito e a minha aldeia vivi- da teoria “einsteiniana” sobre a “relati-
tos, havendo um filho, am, e comentavam, o grande escândalo vidade” do espaço e tempo, e diga-se o
residente(s) em Évora. Foi orde- ocorrido: a fuga do 1º Bispo da Dioce- que se disser, acerca do segundo, como
nado presbítero em 5 de agosto se de Vila Real, então Arcebispo-Bispo apenas uma Quarta dimensão, o que nin-
de 1943 em Vila Real. – D. João de Lima Vidal que havia ne- guém por certo duvidará é da relativi-
Segue uma singela homenagem gado funeral religioso àquele que fora o dade do “tempo psicológico”, a dura-
através de excertos do livro de 1º Governador Civil da República, no ção, dado da consciência e do tempo e
sua autoria Aventura Feliz, Évora espaços sociais. São estes últimos espa-
Distrito, o professor primário Avelino
autor 31
or,
1999, edição autor, 31 1 pp.
Samardã. Receoso de enfrentar o pro- ços e tempos os que mais interessam ao
pOR Urtélia Silva
Urtélia Silv testo dos republicanos D. João de Lima memorialista. Aqui tudo é relativo: o
Vidal fugira, pela calada da noite, para homem na temporalidade e o mundo
N
a dedicatória, a manuscrito Aveiro, sua terra natal. social como sua criação, dimensões da
no livro oferecido à Eu, reflectindo o espírito que anima- sua existência. Se observarmos bem
Fraternitas: «Não tenhais va estes acontecimentos, comecei logo quando reflectirmos nisto e recordar-
medo..» Sou o Henrique M. dos Santos a sintonizar a corrente de opinião em mos o nosso passado e tento mais quan-
nesta “AVENTURA FELIZ” da vida. que mais tarde havia de assentar arraiais. to mais velhos somos nunca devemos
Viver é conviver. Viver é amar. No ban- (...) em 7 de Outubro de 1933 aparecia perder de vista esta importante verda-
quete da vida a Amizade é o pão e o eu no Seminário de Vila Real, após o de: o que eu pensei na infância e na ado-
Amor é o vinho. A vida é divina porque meu exame de admissão, causando, as- lescência, até mesmo na mocidade, aquilo
é bela. (Laus Deo VirginiqueMatri! Sanfins sim, grande espanto em todos quantos que eu fui, então, o que eu vi e senti, não
do Douro 1920-2000” – Pag. 3; me conheciam, principalmente ao meu é exactamente o mesmo que que sou e
À minha Mulher e meu Filho – De professor Matos e a todos os colegas como vejo e sinto hoje. (...) Não digam
alguns milhares de páginas que tenho es- de escola que nunca tinham observado que a Verdade, com maiúscula, é só uma,
crito, numa vida já bastante longa, pas- em mim feitio eclesiástico. – Pag. 13-21. absoluta e imutável. Eu respondo: será
sada a estudar e a escrever, são estas, sem Cap. II – RECORDAÇÕES DA assim talvez filosoficamente e sobretu-
dúvida, as que eu queria que fossem ADOLESCÊNCIA – Foi, pois, na do metafisicamente. Mas o que está lon-
menos desvaliosas (pag. 5). companhia de minha querida e saudosa ge de ser uma é a maneira de exprimir
Cap. I – RECORDAÇÕES DA IN- mãe que entrei para aquele casão enor- essa Verdade hipotesiada quando ela
FÂNCIA - (...) Saber quem somos é a me que acabava de levantar as suas pri- exista, e, de reagirmos sobre ela, assim
nossa primeira obrigação. Mas saber a meiras paredes.(...) Minha mãe não po- como, por exemplo, é sempre diferente
razão porque aparecemos nesta vida é dia ir além da portaria. Escusado será a forma que reveste a água consoante o
algo que fica no domínio do misterioso. dizer que na vida do Seminário nunca recipiente com que a colhermos.
É pois, mistério desta vida: Nascer!... entrava sob o mínimo pretexto que fosse Vem todo este discurso, moderada-
Sob o fulgor desse belo céu azul do qualquer ente feminino. A mulher era mente relativista, a propósito de eu que-
Alto Douro, nasci em 11 de Novem- considerada um objecto perigoso que rer dizer que à medida em que eu fui
bro de 1920, na linda e pitoresca aldeia, se impunha manobrar com muita pru- crescendo física e espiritualmente até este
hoje, Vila, de Sanfins do Douro, conce- dência. E a verdade é que a razão talvez momento em que me encontro, de res-
lho de Alijó e distrito de Vila Real. Foi não faltasse por aquilo de que me fui peitável ancião de provecta idade que
naquela terra bendita que tudo come- apercebendo… Como é possível a vida tenho, via tudo sob uma cor assaz dife-
çou para mim. Foi, ali, que tomei os pri- deixar-se encaixar, assim, com tanto ri- rente daquela com que vejo hoje após
meiros contactos com o deslumbrante gor, ético-religioso, dentro da redoma sessenta e quatro anos. «A idade dá-nos
espectáculo da vida, que recebi as pri- formada por conceitos tão rígidos e perspectivas novas, mais amplas, das
meiras impressões, que conheci os pri- pouco elásticos?! Que se deve entender realidades que formam o horizonte da
meiros júbilos, que chorei as primeiras por más companhias, más leituras, im- nossa consciência».
lágrimas. (...) Nos tempos da minha in- pureza? Tudo em concreto tão discutí- Dura-se, vive-se, como chama de
fância o Distrito de Vila Real foi agita- vel! (Pag. 23). vela que a si mesmo se consome; a
9. l
espiral 9
Enquanto o ilustre antístite viveu tudo vi esclarecidas e pelo modo cruel e
realizei sem medida ou reserva para cor- impiedoso como a Igreja governava e
responder não só ao pacto estabeleci- governa.
do mas, também, movido pelo muito Não concordava com Governo Di-
carinho e apreço que o ilustre Prelado tatorial da Igreja… Não suportava a vi-
merecia. olação dos direitos humanos a que as-
Porém, a diferença de carácter e tim- sistia no interior da Igreja, o sentimento
bre do sucessor deste Bispo, o profun- do poder sagrado e eclesiástico. Agora,
do desgosto que senti pela morte do nesta aventura da vida sou um homem
Papa João XXIII, golpe que me levou feliz. A Liberdade, como fenómeno psi-
à cama com riscos de vida, pois, tão cológico e valor fundamental à volta do
profundamente senti o desaparecimento qual giram as grandes transformações
do insigne Pontífice que veio ofuscar culturais do nosso tempo foi a respon-
toda a esperança que eu depositava sável pelos ex-padres, que como eu, e
numa Igreja renovada; a minha consci- nesta ocasião, acabaram no seu casamen-
ência de Padre adulto, tudo isto, me le- to, a maioria provenientes de camadas
temporalidade na vida está no tempo vou decididamente a solicitar ao Vatica- sociológicas rurais determinados por
objectivo, absoluto; é pura dimensão da no a minha redução ao estado laical. tabus e pressões psicológicas.
existência. Assim ocorreu comigo. Cres- Nesse estado afirmo-me, hoje, ser, Assim, só no ano em que abdiquei,
ci, tomei a mais funda consciência atra- sem escrúpulos ou sem remorsos, com tomaram o mesmo gesto, em todo o
vés da minha existência, do meu pró- verdade de homem feliz e realizado que País, 548 (quinhentos e quarenta e oito)
prio eu, e, surgiu em mim, quase de re- procurei sempre ser aquilo que devia ser. sacerdotes, deste modo registados e
pente, um acirrado espírito crítico pe- Não rejeito nada do que fui, nem nego confirmados nas diversas Dioceses:
rante um ambiente em fui preparado nada daquilo que fiz. No ambiente que Em Vila Real, diocese a que eu per-
para a vida.Tudo isso que destilei e ad- aí fica descrito fui Padre com bastantes tencia, 43; Aveiro, 70; Braga, 110; Beja,
quiri no Seminário e na vida, em suma, contrariedades mas com alegria e me re- 12; Algarve, 2; Lisboa, 70; Porto, 115;
sem quebra, aliás, de certa estima, res- alizei no exercício deste ofício o melhor Coimbra, 34; Guarda, 24; Lamego, 15;
peito e gratidão, e, em alguns casos, de que pude; sou agora, esposo feliz e pai, Portalegre, 17; Viseu, 5; Bragança, 47;
franca admiração por alguns dos meus orgulhoso da mulher que tenho e de um Évora, 12.
educadores, o devo àqueles com quem filho que tenho que prezo. A minha saí- Sem receios de trambolhões, depois
emparceirei na vida. Os meus «espaço e da de Padre depois de trinta anos, mais de ter dado o salto, tenho procurado
tempo» foram-se tornando, então, ou- de um terço do caminho normal no iti- sempre fazer de cada derrota um de-
tros. Os pontos de vida, os centros de nerário de uma vida, o meu dar o salto, grau, de cada obstáculo uma escada para
que partiam em mim a observação e as foi apenas a escolha de uma nova for- atingir e permanecer no caminho da
relacionações do vivido deslocaram-se; ma de caminhar na esperança de cum- verdadeira vida. É na luta, no combate
em breve mudariam. Como não havia prir a existência em novas metas que era que se obtém mais forte o nosso Querer.
eu de mudar, também? preciso alcançar e vencer. Não vencer é ser derrotado. Aceitar o
Mas, como deixo já antever, esta É necessário ter coragem para desa- condicionalismo que a vida impõe é
mudança nascida como que de um im- fiar ou mesmo aceitar todos os comba- cobardia. O esforço e a perseverança são
pulso súbito só depois, através de uma tes e contrariedades do futuro. Recusei as verdadeiras regras que devem ser aca-
evolução lenta, veio a atingir o seu pon- conscientemente uma ordem estabele- tadas para atingir o êxito. Como Watt
to alto no momento em que me encon- cida que era um caos, pus de parte um não me deixei embarrilar pelas dificul-
tro. (Pag. 30). lugar, um título, uma situação cómoda. dades que me impunham. Saltei o muro
(...) Assim, quando terminei o Cur- Pensei e repensei na coragem necessária das convenções. Escolhi o caminho em
so, pela confiança que mereci e conquis- para desafiar todas as contrariedades que frente e avante!...
tei, fui chamado a ocupar um dos luga- pudessem aparecer. Fruto de um longo Mudei de campo, de combate e de
res de maior responsabilidade, sendo amadurecimento podem-se reduzir a caminho a seguir. Fiz mal? Só os mor-
investido na função mor da Abadia da quatro palavras a razão que me levou, tos e os tolos é que não mudam. Pode-
Sé, e autorizado a publicar um semaná- para além de outras, ao meu gesto: So- mos sempre viver de pouco quando te-
rio que por sugestão do ilustre Prelado lidão, Revolta, Solidariedade e Pressão. mos muito porque viver. Este muito é
ficou a denominar-se: “A VOZ DE A Igreja não respeitava, nem respei- o Ideal, o Ideal de beleza, de grandeza,
TRÁS OS MONTES”. O pacto foi ta, os direitos totais da pessoa humana. darmo-nos ao nosso semelhante e a luta
cumprido religiosamente. Saí, pois, por questões de Fé que nunca pela fraternidade universal.
10. 10 espiral
Não podemos esquecer que o Ideal no. O sol mergulha no Ocidente para
é complemento indispensável do verda-
deiro homem. Nós não sabemos do
emergir no levante; o homem anoitece
no sepulcro para amanhecer na Eterni-
Henrique,
somos capazes quando o Ideal nos ani- dade. A sepultura, a cova é, também,
F
ma. O melhor que existe em nós é me- berço: para cada corpo que recebe nes- aleceu em Évora, com 91
lhor do que podemos compreender e, te mundo agérrimo entrega um recém- anos, o Dr. Henrique Maria
esse melhor ainda se transforma, se nascido a outro mundo melhor. O áto- dos Santos, nosso grande
transfigura, quando se trata de fazer uma mo não pode aniquilar-se. Por isso, das amigo, que foi Sócio Fundador da As-
coisa nobre. Mas para isso é necessário pulverizações do cadáver surgem as ra- sociação FRATERNITAS MOVI-
ser consciente e viver o problema da diações que nós chamamos espírito, MENTO, na qual marcou presença
Verdade e da Liberdade. A vontade cer- alma. Quando a morte encontra a vida, constante e ativa, enquanto a saúde lho
ceada, peada, mutilada, é insuficiente algo desta fica a cintilar nas trevas da permitiu. Ainda me lembro do encon-
àquele anunciar, discutir, e acordar que morte. Esta realidade com a qual todos tro de homenagem que fizemos em
faz mister, á acção esclarecida e à ciên- nós deparamos deve-nos levar a con- Évora ao nosso Fundador Cónego Fili-
cia. Escolhi a Liberdade, a livre vontade cluir que a ideia e a palavra, falada ou pe de Figueiredo, onde ele esteve com
do respeito à verdade, Não tenho medo escrita, substitui a força e a tirania; as hi- todo o seu entusiasmo e muito
nem receio do meu procedimento. Par- erarquias e as classes se devem aproxi- participativo na organização, e no final
ti de um determinado ponto, fiz a tra- mar e distar menos umas das outras. (...) do segundo dia o fui levar a casa por-
vessia da vida e cheguei onde me en- Todos nos devemos esforçar para ser a que era novembro e estava frio no Se-
contro, serenamente, conscientemente. A Sociedade em que estamos enxertados, minário onde o encontro se processou.
vida na sua expressão integral foi sem- uma família. Nasceu em Sanfins do Douro em 11
pre para mim exacta, rectilínea. Deste A Sociedade em que vivemos devia de novembro de 1920. Foi Pároco da
jeito, o que fica registado, nestas pági- ser uma translúcida confederação de Sé de Vila Real durante 30 anos, e ser
nas, de uma AVENTURA FELIZ, não todos os espíritos na dulcíssima unida- pároco da Sé implica ter confiança do
é um desculpável devaneio, mas sim, um de do mesmo afecto. Como Luther seu bispo e de todos os sacerdotes de
vibrar forte, intenso, perante o avistar da King que sonhava em voz alta eu afir- Vila Real. Acumulou essas funções com
estrela boieira e me arrebatou do me- mo: “os homens foram feitos para vi- as de professor de Religião e Moral do
lhor da minha vida, da minha personali- verem uns com os outros como irmãos. Liceu, onde deixou nome como homem
dade, e me levitou, guindou, da terra al- (...) A fraternidade seja mais que uma sim- distinto e de ideias arejadas. Sempre
çando-me aos longes dos longes, ao ples palavra no final de uma oração. muito pontual. Quase nunca faltava e os
Ideal.(Pag.38, Capítulo II, pag.s 23 a 38). Com esta fé, poderemos trabalhar jun- alunos que o conheceram tinham por ele
EPÍLOGO – (...) Perante a repug- tos, orar juntos, lutar juntos, ir para a uma extraordinária admiração, porque
nância que se tem e se sente ao nada e prisão juntos, conservar a liberdade jun- não tinha medo de dizer as verdades em
pela convergência que todos temos ao tos. Sentarmo-nos juntos à mesa da fra- quaisquer circunstâncias. Habituei-me a
infinito, ao nosso finar há-de correspon- ternidade”. admirá-lo depois dos meus 12 anos. Era
der, realmente, a imortalidade que fica A Humanidade é composta por ho- minha tia Maria a zeladora da capela de
registada nas nossas obras. mens e mulheres. O homem personifica Nossa Senhora da Almodena. Ele fazia
Entre o berço e o túmulo, entre o o espírito que é sublime e a mulher sim- sempre uma novena preparatória com
arrebol e o crepúsculo da vida, distende- boliza o sentimento do belo. Estes dois muita objectividade e muito amor e ca-
se, alinha-se, engrena-se, uma longa sé- seres devem-se completar mutuamente rinho pela Mãe de Deus. Não lia pelos
rie de pontos, uns negros, outros lumi- com as suas qualidades diferentes, os- livros. Falava sempre olhos nos olhos.
nosos, que como tantas voragens nos tentando reunidos o fundo imortal da Eu ficava embevecido a ouvi-lo. Todas
vão dia a dia absorvendo a seiva e exau- natureza humana. É este o sentimento as pessoas sentiam respeito e admiração
rindo as forças. (…) Ao chegarmos ao que tenho vivido e destilado com mi- por este homem. Chegou a ser profes-
último palpitar do coração figuramos nha mulher, por um mundo melhor em sor no Seminário de Vila Real, impon-
uma flor emurchecida, uma árvore que conflui, se concerta, converge e iden- do-se pelo aprumo e galhardia.
desfolhada. Somos sombra de nós mes- tifica, o nosso filho. (...) expansão de duas Depois decidiu-se pelo casamento
mos ao penetrar a região das sombras. vidas, (...) que connosco faz parte da com Maria Humberta dos Santos, que
Só além morte a treva será luz, a luta grande família que é a Pátria que nos viu era natural dos Açores, onde residiram
descanso, o mérito recompensa, o mar- nascer e a Humanidade, o todo, a que algum tempo, sendo até professor na
tírio gozo, - sabedoria sem dúvida, -ven- pertencemos e sintonizamos. Escola Industrial da Horta (no Faial).
tura sem fel, - justiça e a perene Laus Deo Virginique Matri!”- Pag.s Passaram depois para Évora, onde fi-
florescência da glória e a visão do Eter- 306 a 308.. xaram residência e chegou a leccionar
11. l
espiral 11
grande amigo e sócio fundador
em praticamente todo o Alentejo, ten- ram com ele qualquer conversa sobre o o percurso da sua vida, que foi muito
do sido Presidente do Conselho Dire- assunto, sentindo-se magoado por isso. cheia de tudo o que possamos imaginar.
tivo da Escola Secundária do Redondo, Foi um homem de causas. Enfren- Vida linda até à exaustão.
passando mais tarde para Reguengos de tou com dignidade a ditadura de Sala- Num dos últimos telefonemas que
Monsaraz, onde se reformou. zar. Lutou incansavelmente pela igualda- fiz para a família, disseram-me que esta-
No seu currículo constam diversas de social de todas as pessoas, procuran- va a escrever um livro sobre “a Fé”, para
iniciativas de carácter social, destacando- do que todos tivessem o necessário para deixar de recordação ao filho. Como foi
se nessa linha a criação de uma cantina viverem com dignidade. Era tolerante e para o hospital fazer uma pequena ope-
na Sé, onde chegou a acolher cerca de compreensivo para com todos e acima ração à anca e se previa que dois dias
200 crianças e muitos idosos com ne- de tudo nos terrenos que pisou levava a depois estivesse em casa, apanhou uma
cessidades. Para satisfazer ao essencial de mensagem de Cristo Salvador. Percor- pneumonia e dela acabou por falecer,
tanta gente fundou “A Voz de Trá-os- reu quase todo o Alentejo fazendo con- sem que alguém o pudesse prever. Não
Montes”, propriedade da mesma canti- ferências de todos os níveis e procuran- acabou o livro, mas a esposa e o filho,
na, que depois da sua transferência para do amar todos os que com ele se cruza- que é advogado, estão com vontade de
Açores e Évora foi (sem o seu consenti- vam na vida. Um Homem com Letra o finalizar. Parabéns pela ideia, forma
mento) passada para a posse da Dioce- grande. Deixou-nos um livrinho, onde brilhante e digna de o homenagearem.
se, sendo nomeado seu Diretor o padre conta a sua vida, que se chama Aventura Saibamos honrar este homem de
António Maria Cardoso, que pelo me- Feliz. Ofereceu-mo na primeira vez que Deus. Talvez o tenha dado a conhecer
nos de nome continua a sê-lo. Falei com estivemos juntos em Fátima. Lê-se de mais depois de deixar o exercício das
ele particularmente sobre isso e disse- um fôlego, tal é a atração como diz as ordens. A vida tem destes segredos.
me com alguma tristeza que nunca tive- coisas.Ali descreve em pormenor todo POR Serafim de Sousa
Na Páscoa do Henrique…
quete onde TODOS temos o lugar
C arta aberta à Maria Humberta e
a todos os meus irmãos e irmãs
da Fraternitas...
A despedida daqueles cujas vidas cru-
zam a nossa vida deixando nela uma
marca de Beleza, Alegria e Paz não
marcado com uma “pedrinha branca”.
Nela está escrito o nosso verdadeiro
Trazemos em nós, desde o instante pode acontecer como ausência – “mor- nome, o nome que só nesse DIA sabe-
primeiro, duas dinâmicas que se acom- rer é só não ser visto”, diz Sophia e os remos. E esse é o DIA sem
panham como irmãs gémeas – A Vida poetas sabem o que dizem… entardecer…o DIA da nossa Páscoa. O
e a Morte… Esquecemos isso demasia- Àqueles que se apaixonam, acontece PRIMEIRO DIA!
das vezes e, mesmo quando dizemos que a MELHOR, a MAIS PRECIOSA de Na outra margem da Vida, não mais
a Morte faz parte da vida, estamos a todas as riquezas – apaixonarmo-nos de nos magoaremos uns aos outros, não
pensar que “é só lá para o fim da vida verdade, amar de verdade, faz-nos in- haverá mais morte, nem sofrimento, nem
que a morte é uma parte dela”. capazes de viver sozinhos, de nos luto, nem lágrimas… Toda a dor e toda
Mas…A Biologia diz-nos que pare- centramos em nós, de fechar os nossos a angústia foram vencidas pela Vida sem
ce que não é bem assim. olhos por dentro, de fechar os ouvidos confins.
E a Fé faz-nos acreditar que, fazen- à Humanidade… Porque Deus SÓ é BOM!
do da nossa Vida um Dom, quando ela Na Fé, acredito que o milagre maior E…”porque a Vida está cheia de mi-
acabar, também acabou a morte – não das nossas vidas é sermos passados dos lagres; e a morte é o maior e mais estra-
haverá mais nada em nós para morrer e braços de quem mais amamos para os nho deles todos”(Rui Santiago)
a Morte ficará de mãos vazias … braços de quem mais nos ama – um Pai Por isso, sempre que Celebramos a
Todos, mais cedo ou mais tarde so- Todo Poderoso em Amor. Vida, a Graça, o Perdão e a Alegria,
mos confrontados com a despedida dos Porque a nossa Esperança e a nossa Celebramos COM todos os que amá-
que amamos…Porque “toca a todos”. Fé estão em Jesus ressuscitado. Nele está mos e tendo desaparecido dos nossos
E todos morremos, sim, mas não da a nossa Salvação! Nele vivemos e nos olhos estão VIVOS e vivem entre nós
mesma maneira. Porque a maneira de movemos! com Cristo ressuscitado!
morrer tem tudo a ver com a maneira É esse Jesus que nos acolhe e nos lava Porque vos amo muito.
como vivemos. os pés à entrada do GRANDE Ban- POR Glória
12. 12 espiral
“PARA VÓS, SOU O VOSSO BISPO,
palavr
vras Santo Agos
gostinho, V, cristãos foi
As palavr as são de Sant o A gos tinho, já no século V, aos cris tãos de Hipona, quando f oi nomeado bispo.
Mas calham bem, aplicadas ao nosso querido e saudoso D. Albino Cleto,
que todos conhecemos, estimámos e acompanhámos no seu roteiro-itinerário do melhor humanismo
e da mais cativante cordialidade, bem como de uma bem meritória e louvada missão.
POR Manuel Ferreira da Silva (Primo)
da Silv
S
empre jovial no seu modo rosos pensamentos. Nem o báculo lhe da diocese, foi testemunho institucional
humaníssimo de lidar e privar deu ares de potestade canónica. Nem eloquente de homenagem, reconheci-
fosse com quem fosse - pois os mais altos cargos e missões o afasta- mento e devoção pastoral.
nunca discriminou ninguém - desde os ram da clara e humaníssima amizade Foi ainda com a Sé repleta de diri-
bancos da escola até ao seminário, e até com os amigos. Era um muito pessoal gentes das Santas Casas de todo o dis-
atingir a cúpula máxima do sacerdócio, testemunho de proximidade. Alguém trito de Coimbra que, no jubiloso
como até Deus lhe fechar os olhos e que, pelo seu testemunho, a todos nos passamento dos seus 75 anos, todas as
dar ordem de descanso ao seu coração, ensinava como saber estar, fosse com Misericórdias da diocese homenagearam
foi D. Albino o padrão da mais trans- quem quer que fosse. com particular, jubilosa e festiva ceri-
parente e fraternal cordialidade. Não sabia escrever nem viver com mónia o seu prestimoso e muito esti-
Homem da sua família, Cidadão da reticências. A sua vida foi sempre de uma mado Bispo.
sua terra, Lusitano da sua serra. transparência cativante. Nunca ninguém Com bispos do teor pastoral de
Nunca o deslumbraram nem títulos lhe surpreendeu qualquer sombra de D. Albino, as Misericórdias sabem o
nem capelos académicos, que os tinha, alma. O seu sorriso era o sol da sua vida, que é, e como estarem com a Igreja
e com mérito; nem cargos eclesiásticos e que a muitos iluminou. Tudo nele era sem serem da Igreja; não como tribuna
que, aliás, lhe foram confiados, e exer- um testemunho de verdade, transparên- de poder e decretos, mas como exem-
ceu sempre com o mais generoso de- cia e cordialidade. E sabia como pou- plo e estímulo pastoral a tudo o que seja
sempenho; nem incensos de cos ser e fazer-se mais próximo do seu um bem fazer em irmandade, e sem dis-
pastoralidade eclesial e de teor mera- próximo. E sem qualquer discriminação. criminações de qualquer ordem, e com
mente canónico. No momento do Congresso Naci- o melhor espírito de confraria huma-
Era, o que se pode dizer, um Bispo onal das Misericórdias em Coimbra, em nista e cristã. Não olham a quem ser-
no seu melhor, e sempre em dia com o abril de 2011, as Santas Casas prestaram- vem, nem discriminam quem nelas e
seu dia-a-dia; o que lhe mereceu ser o lhe gratíssima homenagem, pelo muito com elas queira servir. São Santas Casas
que se diz “um homem em dia”. pessoal e peculiar zelo pastoral que sem- de portas abertas. O mérito do seu hu-
Foi a sua morte uma surpresa. Como pre dedicou às Santas Casas, que foi manismo ecuménico pertence-lhes de
um eclipse de alma, o cintilar de uma manifestamente sublinhado nas palavras direito e por vocação.
estrela, ou o deslizar de um meteoro. de aplauso, louvor e congratulação de Na hora em que Deus o mobilizou
Vejo-o retratado por si próprio, em toda a comunidade misericordiana. para outras e mais altas missões, como
palavras que ele mesmo escreveu a meu Particularmente a Misericórdia de a de interventor no Céu por todas as
pedido para alguém, mas que as aplico Coimbra, e com todas as Misericórdias nobres Causas que serviu na terra, o seu
a ele agora com um mérito muito seu: nome é lembrado como quem lhe reza,
“Aquilo que hoje sou deita raízes muito sabendo, como publicamente é sabido,
fundas dentro de mim: o respeito por quanto as Misericórdias – a começar
Deus e pelo Sagrado, o amor à Igreja, pela de Manteigas, sua terra natal – lhe
as convicções da Fé, a alegria no servi- estavam no mais quente do coração.
ço da Comunidade, o encanto com as Apostando numa “Nova Evangeli-
festas cristãs, tudo isso germinou em zação e Novos Caminhos para a Igre-
mim desde pequeno, e à medida que os ja”, ainda recentemente – abril de 2003
olhos o iam contemplando.” – sublinhava à FRATERNITAS: “O
Ele fez da sua vida um reflexo sua- mundo da Igreja tradicional acabou. Até
ve, e do mais grato sabor, daquilo que o mundo da nossa infância já não exis-
nele sempre dominou: a alegria de ser e te”. Então a primeira coisa que há a fa-
a generosidade de servir. Nunca a mitra zer agora é escutar a realidade social em
e o solidéu lhe atrofiaram os mais gene- que a gente vive.
13. l
espiral 13
CONVOSCO, SOU UM DE VÓS”
E, quando se trata de perceber qual - No seu modo de ser pastor, foi o
o sentido da caminhada a cumprir, é que mais cativante testemunho de uma pas-
é preciso ter sempre presente que o Se- toral de proximidade e convívio; e que
nhor Jesus é o pioneiro de todos nós. foi sempre, e também, uma pastoral de
Ele é a vanguarda. Importa, por isso, benevolência, de compreensão, de jus-
procurar saber o que Jesus fez e ensi- to critério, e de uma humaníssima alma
nou, a maneira como actuou, com quem de acolhimento, sem quaisquer reticên-
se entendia, como os discípulos foram cias nem discriminações.
apreendendo a sua mensagem através - Cumpriu-se o que ele sempre de-
do que Ele fazia e dizia, e pelo modo sejou: vontade de voltar à serenidade e
como abordava as pessoas e as reco- ao silêncio. Mas não se lembrou de que,
lhia; e como, após a ressurreição, essa morte em nada lhe mudou o semblante como a S. Francisco Xavier, se lhe apli-
mensagem era transmitida. Cada coisa da alma, aprendi com a sua abalada deste ca com mérito a legenda: “O defunto
nova deve encarar-se com o espírito de mundo que morrer não é acabar. É di- ainda fala”.
acolhimento; mas também com a cons- latar a vida para além do tempo, à di- - Foi a pé ao encontro da morte.
ciência de que isso é o que se pode ar- mensão da Fé em que D. Albino acredi- - Foi um homem à frente do seu tempo.
ranjar. tou e ensinou a acreditar – e daí, o cha- - Intérprete da sociedade e dos mais
Para além de tudo o mais, até pelo mar-se-lhe “vida eterna”. necessitados, deixou por onde passou
seu modo muito pessoal de conviver, Morrer foi apenas deixar a condição uma marca sua muito própria de hu-
o generoso ganhador de amigos, foi de peregrino, e entrar no Santo dos San- manismo e cativante bondade.
D. Albino um dos Homens da Igreja tos, no santuário eterno, onde o tempo - Um homem simples muito próxi-
do melhor espírito de missão já não se conta. mo dos mais pobres, destacando-se o seu
ecumenicista; e que, tendo sabido ser Quando em Manteigas puder pere- humanismo, a ponderação, a simplicida-
com a sua muito pessoal pastoralidade grinar até junto do seu túmulo, conver- de, a sua presença constante junto de quem
de humaníssima convivência, o Bispo do sarei com ele, e vou contar-lhe, como mais precisava da sua bondade.
melhor espírito ecuménico, admitiu que quem lhe reza as contas da saudade, o Um bispo do povo, e de quem sem-
em obras e instituições pastorais da Igreja que dele disseram, que partiu tão rápido pre quis sentir-se próximo.
possam participar cidadãos menos fa- e com surpresa para todos. Nunca lhe tremeram as pernas, se-
vorecidos, como os divorciados; estan- E foi assim o que recolhi a seu res- não só no dia em que o Cardeal D. An-
do, aliás, na mais ortodoxa linha pasto- peito de entre os muitos e sensibilizantes tónio Ribeiro o informou de que iria
ral do Concílio Ecuménico, que já dá testemunhos: ser nomeado bispo.
fundamento para não serem excluídos - Homem de serviço generoso, com Todos estes dados foram colhidos
de participar na Pastoral socio-caritativa horizontes abertos e sem reticências na em fontes de informação e comunica-
da Igreja, conforme o jornal diocesano alma. ção social: Diário de Notícias, Diário
da Cáritas de Coimbra fazia publicar e - Respirava Fé e transpirava sereni- de Coimbra, Diário de Aveiro, Voz da
lembrar o que nos documentos concili- dade e confiança, bem como bondade Verdade, Voz das Misericórdias, Notí-
ares já estava consignado: e presença sempre jovial, e sempre mui- cias de Manteigas, Voz Portucalense, O
“O grupo socio-caritativo –neste to próximo dos mais pobres. Dever, A Guarda, A Defesa, Espiral,
caso as Misericórdias – é um espaço pri- - Foi um pastor de atenção e aten- Notícias da Covilhã.
vilegiado na Igreja para integrar pessoas ções para com todos, e sem discriminar Na hora em que o Céu no-lo arre-
“afastadas” de outras acções pastorais, quem quer que fosse. batou, não lhe dizemos “adeus!”; por-
por razões “jurídicas”, como por exem- - Soube promover estruturas, e sem que continuaremos a senti-lo connosco.
plo, muitas pessoas divorciadas” (Caritas delas se tornar escravo nem senhor, sem- A saudade sublinhará sempre uma pre-
Diocesana, Maio 2003). pre capaz de compreender e acompa- sença de quem já partiu. Mas dizemos-
Pastoral da benevolência, da compre- nhar a evolução dos tempos e dos acon- lhe só, e na mais agradecida amizade-
ensão, do justo critério, de uma tecimentos saudade: “até um dia!”
humaníssima alma de acolhimento, que - Lembrá-lo é mais do que alimen- Se alguém lhe deve saudade-amiza-
dá corpo real à palavra de Cristo “vinde tar apenas uma saudade; é prolongar- de, tenho um especial orgulho nessa dí-
todos a Mim…” lhe a memória no exemplo da sua vida, vida, porque me fica como uma marca
Agora que o Céu o chamou, e a que foi sempre para todos. na alma.
14. 14 espiral
FAMÍLIA E IGREJA
nos caminhos da Nova Evangelização
artigos Borges Teles, residente
Segue-se uma seleção dos ar tigos do associado Joaquim Bor ges Macedo Teles, residente em Meridãos
(Tendais), concelho de Cinfães, que têm vindo a ser publicados com regularidade, quinzenalmente, no jornal
(Tendais), quinzenalmente,
diocesano “Voz de Lamego”, com a assinatura BORGES MACEDO (BM). A seleção é de Urtélia Silva.
NOTA PRÉVIA FAMÍLIA E EDUCAÇÃO ANTE MATRIMÓNIO
Foram publicadas as conclusões a Não foi por acaso que um grande investigador sobre EDUCAÇÃO chegou à
nível nacional sobre os caminhos da nova conclusão de que a verdadeira educação «começa 20 anos antes do ser humano
evangelização na Igreja, na sequência dos nascer». (...) Quem se debruçar sobre o documento do Conselho Pontifício para a
trabalhos que se vão desenrolando na Família, verificará que da preparação para o Matrimónio Cristão e Católico faz
linha de se «Repensar a Pastoral em Por- parte a preparação remota (...), próxima (...) e imediata (...). Chegamos à conclusão
tugal». Consta no ponto 19 dessas mes- de que da Família é que parte toda a formação. (...) e se as nossas famílias vivem
mas conclusões: «Criar dinâmicas de longe de Deus, como podem dar aos seus membros o Amor que esse mesmo
compromisso nas comunidades locais e Deus tanto lhes dedica? (B.M., 15.11.11)
na Igreja diocesana, nos vários sectores
da pastoral (...).» Compreende o ponto EDUCAÇÃO EM FAMÍLIA, DESDE A INFÂNCIA
3 do Programa Pastoral da diocese de De facto estamos convencidos que mais ninguém, mas absolutamente, pode
Lamego: «Opções pastorais para a nos- substituir uma família, na verdadeira acepção da palavra, quando se trata de pro-
sa diocese para o ano pastoral 2011- porcionar uma boa educação.
2012: Família e Igreja nos caminhos da (...) Nós, IGREJA DO SENHOR JESUS CRISTO, precisamos de formar os
nova evangelização.» futuros pais e os que de momento enfrentam um ambiente difícil, para que estes
reconheçam que sem Deus no centro da Família é impossível educar os seus filhos,
FAMÍLIA E EDUCAÇÃO desde o seu primeiro momento de vida já no seio materno. (B.M., 30.11.11)
É habitual ouvir-se dizer que as fa-
mílias abdicaram da educação dos fi- FAMÍLIA E EDUCAÇÃO NA FÉ
lhos. Os pais acham que não são capa- Onde estão os cristãos seguidores do Mestre dos mestres, do Senhor dos se-
zes de educar porque, como não que- nhores para levar os responsáveis pela Educação (...) a imitar a família de Nazaré
rem dar aos filhos a educação que re- nas pessoas de JOSÉ, MARIA E JESUS? (...) Como é feliz a família que se deixa
ceberam, classificando-a de antiquada conduzir pela Palavra do Senhor Jesus!... «Família que reza unida permanece uni-
e desajustada aos tempos “modernos”, da.» (...) Como é belo e dá felicidade tentar fazer com que a Palavra de Deus
preferem deixá-los entregues à sua sor- oriente o rumo de vida de cada família (...), quando o Deus da Palavra está na
te ou à sociedade em que vivem. Ou nossa ação. Mas para que isso aconteça é necessário ter uma intervenção e ação
seja, fazem o mesmo que o agricultor à contínuas e permanentes. (...) Vamos empenhar-nos em evangelizar, usando todas
árvore que semeou ou plantou: deixa-a as forças e energias que o Senhor nos concede. (B.M., 27.12.11)
entregue à terra onde a colocou, não se
importando de que ela tenha adubo ou FAMÍLIA E PRESENÇA DE DEUS
estrume, água suficiente; não coloca uma A Sociedade em que vivemos tende a esquecer Deus, colocando-O fora do seu
estaca para que ela cresça direita e com percurso. Isto verifica-se de uma maneira especial na vida da Família. (...), confor-
segurança; não corta os rebentos que a me recordou S. Paulo a Timóteo: «diante de Deus e de Cristo Jesus, que há-de
podem minar ou desencaminhar; não a julgar os vivos e os mortos, peço-te, encarecidamente, pela sua vinda e pelo seu
poda para que ela não cresça reino: proclama a Palavra, insistem em tempo propício e fora dele, convence, re-
desordenadamente, não chegando a dar preende, exorta com toda a compreensão e competência» (2 Tm. 4, 1-2). Acredito
frutos. (...). Enfim: Para quando a for- que se Paulo vivesse nestes tempos, preocupar-se-ia com a realidade do sentimento
mação humana e cristã dos pais? Para de «intimismo» que se verifica nos membros da sua Igreja, ostracizando tudo aquilo
quando a formação das verdadeiras que deveriam dizer e fazer sem medo e com a força interior de quem prega aquilo
famílias? Para quando a preocupação que deve ou devia viver. (...) Vamos criar grupos de famílias, por mais pequenos
de que os jovens só serão verdadeira- que sejam, em cada comunidade paroquial que tentem levar por diante um progra-
mente seguros na fé, se tiverem uma ma de formação a fim de que sejam fermento para o mundo que tenta destruí-las.
família que os apoie? (B.M., 1.11.11) (...) Deus, que nos ama e nunca nos abandona, que quer construir uma sociedade de
AMOR, se torne o centro da vida familiar. (B.M., 17.01.12.)
15. l
espiral 15
FAMÍLIA E IGREJA O AMBIENTE SOCIAL E A FAMÍLIA
NOS CAMINHOS Como cristãos não nos podemos deixar levar por pessimismos exagerados ao
DA NOVA EVANGELIZAÇÃO verificar que o ambiente social é adverso à existência de uma família sólida e cristã
Cada vez dou mais realce àquela fra- em profundidade. Mas, muito menos devemos embarcar no optimismo exagera-
se de Pascal (...): «Cristo morreu de bra- do de quem perante um mundo de facilitismo desenfreado, deixa correr, entra no
ços abertos para que nós não vivêsse- caminho do já não há nada a fazer, ou tudo está bem porque isto ainda não está
mos de braços cruzados.» Decorreu, du- mau como dizem (...). O Senhor Jesus quando chamou os primeiros discípulos
rante três dias, com início em 29 de disse-lhes a determinada altura «vinde e vede» e ainda «vigiai e orai». Encaremos a
movembro de 2011 a vigésima Assem- realidade. O que quereria Jesus significar com as expressões que acabo de citar? (...)
bleia Plenária do Conselho Pontifício Ganhemos consciência de que muito há a fazer (...). Vamos pegar na PALAVRA
para a Família, que teve como tema «Os DE DEUS, nos documentos da Igreja e façamo-los chegar às famílias que se
30 anos da exortação Familiaris Consortio dizem cristãs.
do Papa João Paulo II», em que o car- Desfaçamos todos os «tabus» de que as famílias (pais de hoje) se deixaram
deal E. Antonelli, presidente do Conse- enfermar, a fim de que, com a força do Senhor Jesus, consigamos trazê-las para o
lho, revelou, na apresentação do evento, PAI. (...) Só o poderemos conseguir quando juntarmos «muitos bocados de fer-
que, apesar das atividades desenvolvidas mento» para levedar a «massa» - criando pequenos grupos de famílias que leiam e
pelo dicastério da Cúria Romana, as fa- reflitam em conjunto e com verdade a Palavra de Deus e as orientações da Igreja.
mílias, após 30 anos, se encontram ain- (B.M., 30.01.12)
da em situação de «grande dificuldade».
(…)
Nas nossas reflexões sobre o Evan- FAMÍLIA “SANTUÁRIO DE VIDA
gelho, há necessidade de uma O Concílio Vaticano II chamou à família «Igreja doméstica» (LG, 11) onde
«CRISTIFICAÇÃO» MUITO PRO- Deus reside, é reconhecido, amado, adorado e servido. Por sua vez o mesmo
FUNDA da vida do ser humano, para Concílio ensinou que: «A salvação da pessoa e da sociedade humana estão intima-
que a Nova Evangelização seja uma re- mente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e familiar» (GS, 47). «Des-
alidade. (B.M., 24.01.12) ta maneira a família, na qual convivem várias gerações, que se ajudam mutuamen-
te em adquirir maior sabedoria e em harmonizar os direitos pessoais com outras
exigências sociais, constitui o fundamento da sociedade» (GS, 52).
Na exortação apostólica de Sua Santidade João Paulo II à Igreja em geral
Familiaris Consortio, a família é apelidada de «Santuário de Vida», isto é, «lugar sa-
grado», pois é aí que a vida humana surge como de uma nascente sagrada e é
cultivada e formada. É missão sagrada da família guardar, revelar e comunicar ao
mundo o Amor e a Vida. (B.M., 14.02.12)
FAMÍLIA e “CURSOS PARA CASAIS”
Apoiando-me no poema que o nosso bispo D. António Couto citou (...) no
seminário de Resende, na festa da sua padroeira, N.ª S.ª de Lourdes, «podem tirar
tudo ao homem neste mundo (dinheiro, bens materiais e culturais) não ficará mais
pobre, podem metê-lo na prisão, não tirarão a liberdade, mas se lhe tirarem as
canções que aprendeu em criança no seio da família, esse mesmo homem perderá
o seu rumo», vou transcrever (...) o que escreveu Monsenhor Amílcar Amaral, em
1970, como prefácio ao livro «Curso para Casais»: (...) O Concílio Vaticano II
determina: os pais devem ser reconhecidos como os primeiros e principais educa-
dores. Esta função é de tanta importância que, onde não existir, dificilmente pode-
rá ser suprida» (G.E.3). (...) De facto, esta obra é difícil e gigantesca; não há, por
vezes, pessoas preparadas para se lançarem a ela ou para a concretizarem; faltam
instrumentos de trabalho para a sua realização; a mentalidade da sociedade actual
não está convencida da sua imperiosa necessidade. No entanto, ela é urgente e
extremamente necessária. Pois, como dizia o Dr. Grasset: «Cada geração tem a
responsabilidade da geração seguinte.» (B.M., março.12)