O encontro nacional da Fraternitas teve como tema "Como ser cristão e Igreja hoje" e foi orientado pelo biblista Dr. Artur Cunha Oliveira. Os participantes refletiram sobre como viver e testemunhar Jesus Cristo no mundo moderno de forma mais humanista e sobre como a Igreja pode interagir melhor com a sociedade. O encontro enfatizou a necessidade de definir a essência do cristianismo e mostrar o rosto humano de Jesus, livre de interpretações do passado.
O celibato sacerdotal e a escassez de vocações na Igreja
1. espiral
boletim da associação FRATERNIT
TERNITAS
FRATERNITAS MOVIMENTO
N.º 31 - Abril / Junho de 2008
T
endo chegado de Fátima, depois do último
retiro, de 24 a 27 de Abril, voltei a ler a
carta que o Vasco me enviou uns tempos
cAROS aMIGOS
antes. De facto, as palavras do nosso amigo tinham
outra finalidade bem patente, que na altura não
entendi. Depois, o Sampaio Ferreira, muito mais
AMIGA
e AMIGA S
espevitado do que eu, fez-me abrir os olhos pelo Aquele em Quem acreditamos e por Quem nos ama-
facto de ele não ter recebido carta semelhante. Pe- mos uns aos outros.
rante a não apresentação de uma lista pela Direc- Com ajuda, compreensão e paz de espírito tal-
ção cessante, pus-me a reflectir…e tirei algumas vez se possa ainda fazer alguma coisa para bem de
conclusões. todos. Nós também somos Igreja responsável e cons-
Os factos seguintes já todos os que estiveram em ciente, povo de Deus caminhante no meio deste mun-
Fátima os conhecem. O que disse na altura era a do complexado e angustiado. Não podemos esque-
verdade sincera e pura como a sentia: mal sei falar, cer o que somos, nem abafar a voz do Espírito San-
mal sei escrever, não domino as novas tecnologi- to que habita em nós e sempre nos vai falando e
as... enfim sou um quase analfabeto. Que querem orientando.
agora que eu faça? Com estas carências todas,
mesmo assim, fez-se uma lista e foi eleita. Que
havemos de fazer? Eis a grande questão… H á muito a fazer, e todos sabemos que a Mãe
Igreja não pode dar-se ao luxo de ser per-
dulária e não aproveitar os valores e os dons da-
D esde já, colocamo-nos à disposição do gru-
po, faremos o que pudermos, iremos até
onde for possível. O que nos faltar será suprido com
queles que se lhe entregaram completamente, numa
linha de evolução natural e histórica. As verdades
evidentes não se podem negar ou esconder. São
a boa vontade e ajuda de todos. passos que fazem sangrar, mas este sangue também
O nosso movimento de espiritualidade e de ac- é redentor e semente de novas verdades e vidas.
parar. Temos
ção não pode esmorecer nem parar. Temos de ir Vamos todos colaborar dando o que temos e so-
em frente. Foi para isso que esta Direcção aceitou
Foi mos, para sermos pioneiros e despertadores da cons-
a cruz. Alguém tem de a transportar e levar até ao ciência hierárquica, numa Igreja que todos quere-
Pai,
calvário da nossa entrega nas mãos do Pai, da Mãe mos actualizada e voltada para a modernidade.
Foi
e da Igreja. Foi só a pensar nas palavras do Senhor Assim o cremos e vamos trabalhar nesse sentido.
Jesus nos caminhos da Sua Cruz que nós também Sousa
Serafim de Sousa
“faça-
faça-se, Senhor, Tua
dissemos “ faça-se, Senhor, a Tua vontade”.
E ste é o nosso projecto. O resto será com to-
dos e com os meios de que dispomos, e as
condições em que nos movemos. Não poderemos
agitar grandes massas. Não poderemos levantar
grandes tempestades. Ainda nos falta percorrer muito
caminho, modificar muitas mentalidades, abrir a so-
ciedade para os verdadeiros problemas com que ac-
tualmente se debate. Os muros da resistência à
mudança são muito fortes e sólidos, mas iremos com
serenidade, prudência e bom senso dar a cara por
2. 2 espiral
ARES DA FRATERNITAS… depois recuou, não resistiu a fazer uma contraditória
O nosso matrimónio é um acto de coragem pressão, advertindo quer os bispos quer o clero para
não se deixarem influenciar. Do meu ver pessoal, acho
C omeço por dizer que não me detenho sobre
o que fui. É um passado que assumo. Mas
devo adiantar que, na minha actual situação, me sinto
que esta intervenção foi um desastre, porque inquinou
todo o processo de consulta. Era uma intromissão
na liberdade de cada um, depois de ter reconhecido
inteiramente despreocupado no foro da minha cons- esta. E, no entanto, eu nessa altura defendia o celi-
ciência. Por outro lado, considero que é uma lufada bato. Foi a partir daí que comecei a achá-lo abusiva-
de ar fresco o facto de entre nós, membros da mente impositivo como obrigação. Uma lei positiva
Fraternitas, no agradável convívio que todos os anos a atropelar um direito natural
nos reúne em Fátima, não nos carpirmos com mor- Vem isto a propósito de quê? Fala-se muito em
nos sentimentos de culpa por termos tido a cora- escassez de vocações. Penso, às vezes, nos nossos
gem, sim a coragem, de havermos dado o passo encontros da Fraternitas, em quantos daqueles que
que demos. E aqui registe-se uma palavra de preito ali vão não voltariam a exercer, se acontecesse a
e admiração por aquelas que aceitaram, com a mes- abertura que, suponho virá, um dia mais à frente e
ma coragem, se não mais ainda, serem nossas com- que poderá demorar um século, se Roma olhar com
panheiras de vida e mães dos nossos filhos e suas realismo a situação de uma Igreja na qual o número
educadoras admiráveis. de padres irá diminuindo.
Por detrás de tudo isto, como nuvem cinzenta, Pessoalmente, devo dizer que não renego o meu
está a milenar lei do celibato (Concílio de Elvira no passado. Mas que não alimento qualquer nostalgia
termo do primeiro milénio). Isto é, durante os primei- que me desvie do meu presente. Sinto-me bem como
ros mil anos de cristianismo, o celibato foi opção estou, e a minha consciência apenas me exige que
livre e não obrigação imposta. seja fiel ao meu matrimónio e ame a minha mulher e
Quando no Sínodo de 1971, com atraso de dez o meu filho.
séculos, Roma trouxe a debate o celibato, houve uma Não sei quantos movimentos, paritários da
movimentação no mundo católico. Foi feito um in- Fraternitas, existirão no mundo. De qualquer modo,
quérito em cada diocese e alguns resultados que não deveria ser indiferente ao Vaticano que os cerca
transpiraram – na Igreja também há fugas de infor- de 150 mil padres impedidos de exercerem o múnus
mação – davam como aprovada maioritariamente sacerdotal continuem à margem do altar. Trata-se
pelo clero de vários países a opcionalidade do celi- de um enorme problema. Para mim, não é proble-
bato. Estranhamente, Paulo VI, que teve a iniciativa ma. Para Roma, é. Dela depende que deixe de o ser.
de abrir esta consulta ao clero de todo o mundo, Pacheco de Andrade
checo
os temas propostos e, da sua síntese, resultou em
XV Encontro Nacional todos uma paz propícia, uma calma saudável, tudo
conduzindo a um melhor conhecimento e entendi-
T rês dias cheios e em cheio os que foram pas-
-sados em Fátima. Os temas escolhidos fo-
ram adequadamente tratados e aprofundados.A or-
mento entre os presentes.
As amizades que já existiam fortaleceram-se. To-
ganização e o funcionamento do Encontro roçaram dos os membros da Fraternitas devem envidar esfor-
a perfeição, muito se devendo aos que directamente ços para, em maior número, participarem em futu-
nele se envolveram. ros encontros porque, através deles, a alma enche-
Fraternitas significa fraternidade e o encontro teve se de tranquilidade, dado que a reflexão (ou medita-
muito de fraterno, de sentido de união e compromis- ção) realizada, além de actualizada no pensamento
-so. Nós, viúvas que vivemos sempre perto do altar, e sã doutrina, é bálsamo salutar para a nossa vida.
sentimo-nos em Fátima mais estreitamente ligadas Como disse alguém: «O passado é o suporte e o
ao Céu. A par da saudade sentida por todas, a garante de bom senso, da lucidez, da intuição, da
vivência em comum, a troca aberta e franca de im- experiência e, nesses termos, o caminho para um
pressões, trouxe-nos a certeza de que não é o isola- maravilhoso futuro (…) Eu tenho saudade do futuro.
mento e a solidão que nos devem dominar, porque Saudade por uma Igreja ainda mais aberta, mais
os valores eternos fazem ressurgir, a cada instante, a acolhedora, mais descentralizada, porque Deus pôs-
esperança e a convicção profundas de que não es- nos olhos na testa para olharmos em frente».
tamos sós. Tudo isto a propósito de que a Fraternitas é futuro
O Encontro foi, além do mais, um espaço de di- e futuro certo, estável, porque os seus membros tam-
álogo e de vivências, dando a cada um e a cada bém tiveram um passado consciente.
uma a oportunidade de emitir a sua opinião sobre Maria de São José Martins Rebelo
Mar
artins
3. l
espiral 3
Inesquecível
De 24 a 27 de Abril passado, a Associação
Fraternitas Movimento organizou, em Fátima,
na Casa Domus Carmeli, um retiro para seus
filiados, padres dispensados do ministério e suas
famílias.
famílias
O XV Encontro Nacional da Fraternitas,
este ano, foi um intenso retiro espiritual. O tema
de reflexão foi: «O que é, e como ser cristão e
Igreja hoje». Orientou os trabalhos o conhecido
biblista dos Açores, Dr. Artur Cunha Oliveira,
também membro da Fraternitas, e autor de vários
estudos bíblicos de grande profundidade. E, entre
outros méritos, faz parte do seu currículo ter sido
representante de Portugal na Organização das Na-
ções Unidas (ONU) para assuntos sociais.
O Dr. Artur Cunha começou por nos conduzir à
reflexão sobre o que se pensa hoje, no mundo,
acerca da Salvação e, também, se há a consciên-
cia da sua necessidade. Baseando-se, depois, nos
Evangelhos e nos Actos dos Apóstolos, reflectimos
sobre o que Cristo exige de nós: «Sereis minhas
testemunhas…». Examinámos o que nos fa-
cilita e o que nos dificulta essa missão.
Analisando um trecho de S João (1Jo.4,7-
21), vimos como o apóstolo insiste em refe-
rir as palavras «Amar» e «Amor», sobretudo
como constitutivos do ser e do agir cristão.
Nos vários trabalhos de grupo reflecti-
mos sobre a crise que afecta o mundo, o
qual vai perdendo o sentido dos verdadei-
ros valores. E também sobre a crise da pró-
pria Igreja, que somos todos nós. Há mui-
tos sinais de crise que temos de saber en-
frentar com toda a esperança de filhos de
Deus.
Teve grande impacto na nossa consci-
ência a pergunta que rematou estes traba-
lhos: «O que é que, enquanto Fraternitas,
nos sentimos, individual e colectivamente,
comprometidos a fazer para melhorar, ou mesmo
inverter, as situações no que tange à preparação
da Igreja para a sociedade que aí vem?».
Foram vários dias de uma actividade profunda
que nos marcou! Jamais serão esquecidos. Por gra-
ça divina, todos os anos estes encontros de refle-
xão e de estudo nos têm enriquecido nos cami-
nhos de Deus. E a união, a fraternidade, a
interajuda e a alegria que ali se viveram são bem o
testemunho de uma família que se sente unida para
a construção de um mundo novo e de uma Igreja
verdadeiramente Mãe!... Manuel Paiva
Paiv
aiva
Manuel Paiva
4. 4 espiral
Como ser CRISTÃO e IGREJA, hoje
tema
O tema escolhido
Dr. Artur Oliveir
eira
pelo Dr. Artur de Oliveira
para Nacional
para o Encontro Nacional
Fraternitas,
da Fraternitas, em Fátima,
desenvolveu-se interactivamente
desenvolveu-se interactivament
eractivamente
participant
ticipantes,
com os participantes,
mediante questionários, graças
mediante questionários, e graças
invulgar teológica
à invulgar sabedoria teológica
humanista
e humanista
orador
ador.
que é reconhecida ao orador.
Por: alípio afonso
Por: alípio
C
omo ser cristão, hoje?
Como testemunhar e
viver Jesus Cristo no
nosso mundo, dia a dia mais auto-
-humanista? Estas perguntas for-
maram a questão global que diri-
giu os três dias do Encontro Naci- Impõe-se-nos despojar a ima-
onal da Fraternitas. manentemente com a sociedade gem de Jesus de muitas roupagens
Estas questões obrigaram a envolvente, usando de modos menos translúcidas, vindas do pas-
definir a essência do Cristianismo, catequéticos diferenciados. Assim, sado: as quantas ofuscam o Seu
na actual realidade social portu- enquanto organismo social vivo, a Rosto Humano, oferecido a todos
guesa: Doutrina versus Modo de Igreja catequética acompanha as os homens, dado que a todos está
Vida, ajudados pelo seguinte qua- mudanças sociais. a convidar para a mesa do Reino.
dro estatístico: Foi fechada nos três primeiros A sociedade está a reger-se por
– menos de 25 por cento dos séculos, pública e unitária até ao sinais, dia a dia mais clarificados
baptizados celebram o Domingo; século décimo… No século XVIII, e humanistas. Os que não se tor-
– só cerca de 50 por cento dos para responder aos novos proble- nam compreensíveis morrem e os
casamentos são religiosos; mas veiculados pela Revolução distorcidos são combatidos. Em
– 31 por cento dos nascimen- Francesa, passou por uma grande vários aspectos, a imagem de Je-
tos são-no fora do matrimónio; reforma catequético-apologética. sus e de toda a Sua mensagem vei-
– estão a acontecer 4,8 por Hoje está a necessitar de uma nova culada pela catequese tradicional
cento de divórcios por cada dez readaptação, face à nova crise está distorcida face às novas cer-
casamentos. social de valores, despoletada com tezas científicas.
As questões que nos fizeram a última revolução francesa de Jesus é a imagem do Pai:
reflectir assentaram em duas pre- Maio de 68. «Quem Me vê, vê o Pai». Na rela-
missas: uma contra os pregoeiros A chave mestra de todas as ção com o Pai e o Espírito, Jesus é
da desgraça, afirma que «As por- adaptações sempre foi, e continu- a visibilidade do Deus de Amor
tas do Inferno nada poderão con- ará a ser, a projecção da imagem concreto, que actua em todos, se-
tra ela (Igreja)». A outra confia nas de Jesus na vida dos cristãos. Uma gundo as necessidades de cada
sucessivas gerações, que jamais projecção nas duas vertentes da qual. Um Amor do tamanho da
deixarão de por em prática a or- vida: enquanto indivíduos e en- grandeza de Quem se oferece por
dem do Mestre: «Sereis minhas tes- quanto membros da comunidade. todos os homens , e a maior pro-
temunhas até ao fim dos tempos.» Ou seja, hoje como ontem, o re- va de amor é dar a vida pelos ami-
médio contra a descristianização gos e Jesus disse aos seus discípu-
FALA
A IGREJA FALA DO está em testemunhar Jesus Deus e los «Vós sois meus amigos» – in-
CRISTO
MESMO CRISTO, MAS RENOVA-RENOV Homem, interiormente e social- cluindo os judas de todos os tem-
DIALOGANDO
SE DIAL OGANDO COM O mente. E hoje de modo mais clari- pos. Por isso, mais que mostrar Je-
MUDANÇA
MUNDO EM MUDANÇA ficado que noutros tempos, face sus na cruz, há que mostrá-Lo nas
O conhecimento histórico da aos progressos das ciências huma- nossas vidas, mediante actos con-
Igreja mostra-no-la a dialogar per- nas. cretos de amor.
e-mail: geral@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * página oficial na Internet: w
5. l
espiral 4
5
Fraternitas fez retiro espiritual
E
m vez de orientar um ciedade civil. alidade e se compreende. Mas
Curso, pensei propor, O diagnóstico é severo: anda- continua, na celebração do Bap-
aos colegas da mos a dormir, agarrados a um pas- tismo, a perguntar se cremos na
Fraternitas, un retiro espiritual, uns sado doutrinal e espiritual que já «ressurreição da carne»(!). O mun-
dias de reflexão e oração. deu o que tinha a dar. A socieda- do culto e da ciência ri-se e tem
Sugeri rezarmos as Laudes e, de não percebe, e por isso não se razão, quando era tão fácil corri-
em seguida, iria expor os temas, interessa, pelo que a actual Igreja gir a linguagem, como se fez no
orientando todo o trabalho no prega - o que, em confronto com Pai-Nosso, para «Crês na ressur-
sentido de reflexão em grupo e, a cultura, com a informação cien- reição das pessoas?»; ou então,
depois, em plenário tífica e a realidade da vida, brada «...dos mortos», como se já se diz
Como tema de base, adoptei por vezes aos céus. no Credo.
a crise cultural que se vem dese- Foi abundante o que procurei Artur Oliveira
Artur Oliveira
nhando há décadas entre a cultu- dar e o que o grupo esmiuçou,
ra da comunidade cristã (católica) para nos despertarmos mutuamen-
e a cultura da comunidade civil. te, e às pessoas das nossas comu-
O fosso é evidente: a sociedade nidades de origem, comprovando
civil não acredita no que prega, que andamos a dormir e já não
ensina e faz a Igreja, e esta ainda somos as testemunhas que fomos
não encontrou modo e jeito de se chamadas a ser por Jesus Cristo.
fazer entender por aquela e atraí- É verdade que nem tudo está
la. Servi-me de questionários e mal, mas é real que não tem sen-
vali-me de dados estatísticos, mui- tido para a sociedade de hoje o
tos e diferenciados dados estatís- que a Igreja faz e diz e prega. Um
ticos, através dos quais se demons- exemplo: há muito que a hierar-
tra o divórcio entre a Igreja actual quia emendou o «dividas» do Pai-
e a actual evolução cultural da so- Nosso, pelo «ofensas», que é a re-
Deus, que é Amor, ensina a amar
Como epílogo das reflexões 12) A Deus nunca ninguém viu. Este texto encerra os dois man-
em assembleia e em grupo, o Dr. Se nos amarmos uns aos outros, damentos: Amar a Deus sobre to-
Artur Oliveira distribuiu um texto Deus permanece em nós e o Seu das as coisas e ao próximo como
da primeira carta de S. João amor chega à perfeição em nós. a nós mesmos.
(1Jo.4,7-21): 14) Nós o contemplamos e da- Por fidelidade ao seu contexto,
7) Caríssimos, amemo-nos uns mos testemunho de que o Pai en- muito pó há para sacudir nas ac-
aos outros, porque o amor vem viou o seu Filho como Salvador do tuais catequeses e homilias, o pó
de Deus e todo aquele que ama Mundo. Quem confessar que Je- disciplinar obsoleto e de alguma
nasceu de Deus. sus Cristo é o Filho de Deus, Deus moralidade doentia. A sua exe-
9) E o amor de Deus manifes- permanece nele e ele em Deus. gese, aliada aos progressos cien-
tou-se desta forma no meio de 20) Se alguém disser: Eu amo tíficos sócio-humanistas, interpe-
nós: Deus enviou ao mundo o Seu a Deus mas tiver ódio ao seu ir- lam e, a nós, deixam perceber que
Filho Unigénito para que, por Ele, mão, esse é mentiroso; pois aque- a Fraternitas está a contribuir para
tenhamos a vida. le que não ama a seu irmão que limpar da Igreja algum do pó cin-
10) É nisto que está o amor: vê como pode amar a Deus que zento depositado nos velhos tem-
não fomos nós que amamos a não vê? pos obscuros, pois ela funciona
Deus, mas foi Ele mesmo que nos 21) E nós recebemos dele o como um pouco de fermento, des-
amou e enviou o seu Filho como mandamento: quem ama a Deus, tinado à clarificação da essência
vítima de Expiação pelos nossos ame também o irmão. do ser-se cristão nos nossos dias,
pecados. No texto completo menciona- que passa por uma forma mais cla-
11) Caríssimos, se Deus nos se o verbo amar – quinze vezes ra de actuar o mandamento novo:
amou assim, também nós deve- (amor activo) e o substantivo amor «Amai-vos como Eu vos amei».
mos amar-nos uns aos outros. – doze vezes. A.A
www.fraternitas.pt * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesoureiraria@fraternitas.pt
6. 6 espiral
VEMOS, OUVIMOS, LEMOS
Não podemos ignorar
intenção manter esta «Espiral» aberta colaboração todos,
É nossa intenção manter esta coluna no «Espiral» aberta à colaboração de todos,
para dar a conhecer notícias e situações que nos possam interessar e que não podemos ignorar.
para notícias interessar ignorar
ar.
Esperamos vossa colaboração para
Esperamos a vossa colaboração para o próximo número.
Por: Carlos Leonel
Por: Carlos
COLÓQUIOS DO CARDEAL MARTINI
E ste antigo arcebispo de Mi sonhos são cruelmente desiludi-
lão, considerado como dos.»
oposto ideologicamente a João A propósito do celibato eclesi-
UM LIVRO APRECIADO
Paulo II, e que vive actualmente ástico, reconhece que nem todos
em Jerusalém, acaba de publicar os padres têm esse carisma e que,
um livro com o título «Colóquio sem dúvida, é necessário rever com
T em por título «Frei
Bernardo». O autor é
Antonino Mendonça, padre dis-
Nocturno em Jerusalém». urgência a lei da Igreja sobre este pensado do exercício. A obra foi
Reconhece, muito sinceramen- assunto. Diz que é preciso encon- apresentada no dia 31 de Maio,
te, as dúvidas e hesitações que trar outras soluções, e refere, con- durante a Feira do Livro de Lisboa.
sente. Admite ter dificuldades de cretamente, a solução da ordena- A plateia era numerosa e inte-
fé, em particular sobre a morte de ção sacerdotal de mulheres. ressada. Teve a chancela da apre-
Cristo na cruz: «Mesmo como bis- Para o conjunto de questões éti- sentação de Frei Bento Domingos
po, algumas vezes não podia olhar cas, o cardeal Martini diz que é pre- e o prelo é da Editora Multinova.
um crucifixo, porque a interroga- ciso compreender que Deus tem Frei Bento começou por fazer
ção me atormentava.» sempre vistas mais largas e mais uma eloquente abordagem bíbli-
D. Martini deixa adivinhar o seu esclarecidas do que os seus servi- ca do código de santidade do An-
sofrimento face a uma Igreja que dores. Deus é maior do que o nos- tigo Testamento (A.T.), do pratica-
se fecha sobre si mesma, e se fe- so coração! do por Jesus Cristo, e confrontou-
cha à esperança do Vaticano II: É um belo livro que, pena, não os com o da Igreja actual. Em sín-
«Somos uma Igreja jovem! Os seus está traduzido para português. tese, afirmou que a Igreja está mais
ligada ao A.T do que a Jesus Cris-
PADRES CASADOS BRASILEIROS to, porque é mais pela condena-
ção, separação proibição.
N o Brasil, vinte mil padres
escreveram ao papa, em
Fevereiro de 2008, pedindo o fim
A Cúria Romana não gostou
que a Conferência Episcopal Bra-
sileira (CNBB) tivesse dado publici-
Serviu esta introdução para lou-
var a ousadia de Antonino Men-
donça. Com este livro, a sua in-
do celibato obrigatório e sugerin- dade a este documento e fez notar tenção foi lembrar quais eram as
do a possibilidade de os sacerdo- o seu desagrado. expectativas antes e durante o Va-
tes casados, que o desejarem, re- O episcopado brasileiro apre- ticano II, aludir à contra-reforma
gressarem ao exercício do minis- sentou desculpas ao Vaticano pela que apareceu durante a assem-
tério. «fuga» do documento. bleia episcopal e sobretudo depois,
e deixa indicações do que é preci-
so fazer agora para reatar ou avi-
BENTO XVI NÃO TEM CONFIANÇA NO SANTO OFÍCIO
var essas esperanças frustradas.
A todos os níveis da Cúria Ro- Entre as substituídos inclui-se o Nota-se que livro do Antonino
mana, o Papa Bento XVI estará cardeal Levada, escolhido por Mendonça é incipiente na arte do
desejoso de substituir todos aque- Ratzinger para o suceder na Con- romance. Ganha, todavia, na den-
les de quem suspeita complacên- gregação para a Doutrina da Fé. sidade da mensagem. O tema ge-
cia para com certas franjas libe- Também o cardeal Saraiva Martins ral é: se a igreja fosse menos
rais e progressistas da Igreja, in- foi substituído pelo arcebispo An- legalista e mais compassiva como
cluindo o patrão do Santo Ofício. gelo D’Amato. é Deus, tudo seria mais fácil.
Frei Bernardo – homenagem a
Frei Beto e Frei Leonardo Boff –, o
Enviem textos e fotos para fernfelix@gmail.com ou espiral@fraternitas.pt protagonista, é alentejano. Qua-
7. l
espiral 7
DESCOBRIRAM PRIMEIRA IGREJA DO MUNDO PADRE PRESIDE ASSEMBLEIA DA ONU
Um grupo de arqueólogos, liderado por Abdul O padre Miguel d’Escoto, de origem
Qader Hussan, do Centro de estudos Arqueológi- nicaraguana, é o novo presidente da Assembleia
cos da Jordânia, acredita ter encontrado «a pri- Geral das Nações Unidas. Ele apontou a demo-
meira igreja cristã do mundo» em Rihab, a 40 cratização da organização como prioridade do
quilómetros de Amã, capital da Jordânia. A igreja seu mandato.
foi construída entre os anos 33 e 70 da era cristã D’Escoto, de 75 anos, foi ninistro dos Negó-
e serviu de residência e de local de oração para cios Estrangeiros da Nicarágua entre 1979 e
os cristãos durante as perseguiçoes religiosas na 1990. Foi eleito presidente da 63.ª Assembleia
época. Geral, que inicia em Setembro.
renta anos depois de ordenado novação conciliar, fala de um anunciada na abertura do capítu-
padre (número bíblico simbólico, modo diferente dos padres que ela lo e que o conclui: a Igreja seria
e que coincide com a data do fim conhecia. Ela pede-lhe para ser o mais feliz se homens e mulheres
do Concílio Vaticano II), regressa seu director espiritual. E essa rela- vivessem a relação de fraternida-
das missões ao convento francisca- ção mantém-se quando ele vai de, amizade, encantamento mútuo
no onde ingressou. Então, recor- para Coimbra dar aulas de Filo- que havia entre Francisco e Clara
da a sua vida, ao mesmo tempo sofia e ela vai estudar Medicina. de Assis. E ficam duas questões: a
que faz considerações sobre Deus Naturalmente, a amizade cresce Igreja não permite o exercício de
e sobre a Igreja. Lembra o namo- para paixão. Ele pede a dispensa padres casados, mas mantém no
rico da infância e quando decidiu das obrigações sacerdotais. Ela activo padres pedófilos confessos;
ser padre, as responsabilidades comunica à família que tem um e a hipocrisia das virtudes públi-
como professor e o acompanha- namorado que já foi padre e que cas e pecados privados.
mento a universitários. Nesta épo- vai casar com ele. Sendo a família O terceiro capítulo é dedicado
ca, naturalmente, apaixona-se por dela super tradicional (como a ao Carlos. Fala dos afectos repri-
uma das jovens, e vivem um ro- dele), o confronto é inevitável. midos, nos padres, pela dureza da
mance, que acaba tragicamente. Cada um ao seu modo é abando- formação no seminário, e nas frei-
Neste primeiro capítulo do li- nado pelos amigos (mas há sem- ras, por causa dos entraves à ex-
vro abundam reflexões sobre Deus. pre honrosas excepções), persegui- pressão da feminilidade. A histó-
Insiste na definição «Deus é Amor», do pelo clero e fiéis, e expulso de ria revela o seu ãmago, quando a
contrapondo-o aos Deus castiga- casa. No caso dela, é o pai que filha de Carlos vai como voluntá-
dor, polícia, etc. Sobre a Igreja, de- grita essa ordem, porque o nome ria para África e encontra na mis-
fende que ela deve ser mais amor, da família seria desonrado. No são uma tal irmã, que havia co-
e menos moralista; mais sacra- caso dele, só o avô o compreen- nhecido Carlos no hospital. Ao
mento e menos ritua-lismos; mais deu, e lhe disse «Há duas coisas saber que ele casou, desabafa
experiência de fraternidade e não que não suporto: hipocrisia e «Também eu poderia ter casado e
uma divisão de classes, onde uns desonestidade, e tu não és nem realizar na mesma a minha mis-
(papa, bispos, padres) sabem sem- hipócrita nem desonesto. Vai em são». Uma das mensagens deste
pre tudo, ditam o que se deve fa- frente. Estarei aqui para te ajudar». capítulo pode ser que a pastoral
zer e ameaçam com o inferno E deixa-lhe algo em herança. da Igreja teria vantagens se padres
quem não o pratica, começando O capítulo aborda, ainda, os e Irmãs pudessem casar e, na
pelas excomunhões; mais aberta difíceis e surpreendentes caminhos complementaridade, na maturida-
aos ministérios e carismas que o da reconciliação e os cobardes de das relações humanas, porque
Espírito suscita livremente e não te- golpes da hipocrisia. E há uma teriam a afectividade e sexualida-
cendo leis para regular tudo. beleza que emociona no modo de integradas, dariam uma respos-
No segundo capítulo, a perso- como se narra a celebração da ta mais cabal.
nagem protagonista é Clara. Jo- vida, pois o capítulo une duas fes- No quarto capítulo, breve, fi-
vem rica, ficou atraída por Clara tas: o aniversário de Carlos e a cam patentes as expectativas da
de Assis e, identificando-se com ela Páscoa. Frei Bernardo está presen- Igreja do Vaticano II.
e com a sua professora no colé- te como o melhor amigo de Car- É da Editora Multinova – Av.
gio interno de freiras, a irmã Tere- los, e este trato estende-se aos fi- S.ta Joana Princesa, 12-E /1700-
sa, pensa ser freira. No entanto, lhos do casal, que o tratam por tio. 357 Lisboa. Telefone: 218421820.
um dia vai à escola um jovem pa- Por detrás do romance de Cla- P.V.P: 15.75 euros
dre, Carlos, que no contexto da re- ra e Carlos está a mensagem Fernando Félix
8. Direcção da Fraternitas Espaço de SOLIDARIEDADE
1. Ninguém é indiferente às necessidades dos
outros. Mas, quando os atingidos são os nossos,
os que nos são mais próximos (familiares,
companheiros de jornada ou de ideal), certamente
mobilizamo-nos mais.
2. Sabemos que o Movimento tem procurado
acorrer a casos concretos e, por vezes, dramáticos.
A Fraternitas fá-lo por imperativo de consciência
e para dar cumprimento aos seus Estatutos. Mas
procura que aconteça evangelicamente: «Não
saiba a tua esquerda o que faz a tua direita».
3. Só é possível continuar a acorrer a casos
de verdadeira necessidade se partilharmos
também Por isso, não esperes que te batam
também.
expressamente à porta. Decide-te, desde já:
Da esquerda para a direita: António Duarte, partilha com os outros através do Movimento.
vice-presidente, natural de Lisboa; Urtélia Silva, 4. Vá já à caixa do multibanco mais próxima
secretária, de Coimbra; Manoel Pombal, vogal, e faça uma transferência interbancária para a
do Porto; José Serafim, presidente, de Lisboa; conta nº 0033 000045218426660 05 O 05.
Eduarda Cunha, secretária cessante, de Viseu; montante é apenas da sua conta e da de Deus.
e Luís Cunha, tesoureiro, marido da Eduarda, Irá direitinho para quem precisa!
também de Viseu. 5. Também pode depositar na mesma conta
«“Como o Pai me enviou, Eu vos envio a vós!”
bancária o valor da quota anual de sócio: 30 euros
Dizendo isto, Jesus soprou sobre eles e lhes disse: - casal; 20 euros - pessoa singular.
“Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,21-22).» Bem-haja!
Com a ajuda do Espírito, a Igreja, os cristãos,
os movimentos, as associações, as comunidades,
reproduzem nas suas vidas a prática evangeliza-
PARTILHE COM TODOS
dora de Jesus e, assim, são a revelação do Pai à Nacional,
No Encontro Nacional, em Fátima, pusemos em comum o
Humanidade. estas questões.
nosso parecer sobre estas questões. Diga-nos, também,
E, na mesma medida em que soubermos viver a sua opinião. Escreva para espiral@fraternitas.pt.
Escrev para espiral@fraternitas.pt.
al@frat
e anunciar a Boa Nova do Reino, assim seremos a As pessoas: pensam hoje na Salvação? Se sim,
Igreja de Jesus; seremos a «carta de Cristo, reco- porquê? Se não, porquê? Sentem verdadeira neces-
nhecida e lida por todos os homens (2Cor 3,2.3).» sidade dela? Se sim, porquê? Se não, porquê?
Que ideia ou ideias fazem as pessoas da Salva-
ção? E nós, que ideia fazemos?
SumáRIO A Salvação será problema individual ou colecti-
Caros amigos e amigas 1 vo? Se individual, que precisa cada qual fazer para
se salvar? Se colectivo, que precisa cada qual fazer
Ares da Fraternitas 2 para que nos salvemos?
XV Encontro nacional 2 Quais são as acções que nós conhecemos dos
cristãos, individualmente considerados, e da comu-
Inesquecível 3 nidade de fé a que pertencemos, que são reveladoras
Como ser cristão e Igreja, hoje 4 de Deus-Amor, Luz e Espírito, e as omissões de uns
(cristãos) e da outra (Igreja) que O ocultam?
Fraternitas fez retiro Espiritual 5 O que é que, enquanto Fraternitas, nos sentimos,
Deus, que é Amor, ensina a amar 5 individual e colectivamente, comprometidos a fazer
para melhorar ou mesmo inverter as situações no
Vemos, ouvimos e lemos 6 que tange à preparação da Igreja para a sociedade
que aí vem?
espiral Boletim da Associação
Fraternitas Movimento
Responsável: Fernando Félix
Praceta dos Malmequeres, 4 - 3.º Esq.
N.º 31 - Abril/Junho de 2008 Massamá / 2745-816 Queluz
www.fraternitas.pt e-mail: fernfelix@gmail.com