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espiral      da
                                                                     ANO xiI
                                                                              fraternitas moviment
                                                                               -
                                                                                 ternit
                                                                                   N.º
                                                                                            vimento
                                                        boletim da associação fraternitas movimento
                                                                                   N.º 44     JULHO/SETEMBRO
                                                                                            - JULHO/SETEMBRO     de   2011




A cor agem do AMOR                                                                                               fERNANDO       fÉLIX


   N       ascida do coração de Deus, a Igreja existe para o
           amor. O concílio Vaticano II, no documento do
                                                                      inquietado, de onde retiro uma frase: «Tu (Deus) criastes o
                                                                      mundo, nós criamos o imundo.».
sobre a Igreja, Lumen Gentium, logo no número 1, diz que a
Igreja é instrumento de Deus para a união de todos com Ele
e de todos entre si. Igreja existe para que possamos amar a
                                                                         A       Fraternitas é uma presença profética de como é
                                                                                possível harmonizar o Eros com o Ágape. E não só
                                                                      a Fraternitas, mas todos os crentes e todas as associações e
Deus e nos possamos amar uns aos outros. É por isso que ela           todos os movimentos cristãos que dão testemunho prático
se alegra com todas as tradições e leis que estreitam os laços        de como não se pode amar a Deus que não se ê se não se
sociais, religiosos, políticos e culturais entre todas as pessoas,    ama o próximo que se vê.
pois assim se alcança a plena unidade com Jesus Cristo.

   P     or sua vez, se uma tradição ou lei não servir o
         estreitamento dos laços pelo amor, deve ser abolida.
                                                                         S    omos famílias cristãs, modelo para os jovens
                                                                             e as outras famílias. Anunciamos com a nossa vida o
                                                                      que significa “ser uma só carne”, isto é, ser íntimos ao ponto
E isto tanto na sociedade como, em particular, na Igreja.             de deixar tudo e estar disposto a morrer pelo outro. Ser uma
Concretamente, se organização da Igreja não levar ao estreitar        só carne é amar, e amar é rir com quem ri, chorar com quem
dos laços, à comunhão – feita de iguais direitos e deveres            chora, andar com quem caminha, parar com quem descansa,
diferentes – toda a estrutura de carismas e ministérios, acabaria     sonhar com quem sonha, viver consciente e voluntariamente
por ser inútil e até prejudicial.                                     a intimidade com quem se nos dá totalmente.

                                                                         A       sociedade, hoje, não gosta de Deus e, por isso, não
                                                                                gosta dos cristãos. Mas, nos países ocidentais, a Igreja
                                                                      e o Cristianismo também perdem força profética, porque os
                                                                      cristãos adaptam-se em demasia ao modo de vida liberal.
                                                                      Não são corajosos. Falta-lhes seguir a Jesus Cristo com a
                                                                      radicalidade dos mártires. Vegetam no vazio espiritual.

                                                                         F    elizmente, também há crentes enérgicos que atraem
                                                                              multidões. E isso nota-se quando o mundo propõe o
                                                                      individualismo, e os crentes propõem a comunidade, quando
                                                                      a sociedade impõe o consumismo, e os crentes propõem a
                                                                      partilha, quando o ruído social apregoa a indiferença, e a Igreja
                                                                      propõe o amor, quando os valores do mundo dizem que as

   N       este boletim reflete-se sobre a crise e a falta de
           esperança, que exigem o vigor da fé. Fala-se de
“Nova Evangelização”, para dizer que nós é que precisamos
                                                                      adversidades conduzem ao desalento e então é preciso destruir
                                                                      o que incomoda, os crentes dizem-se gratos e fortalecidos
                                                                      pela esperança de um presente e futuro melhores. Sim, com
de mudar e não o Evangelho. Não pode acontecer na Igreja              Jesus Cristo ganhamos confiança e sabemos que poderemos
o que existe no desporto: quando se procura que os jogadores          chegar a fazer aquilo de que já tínhamos desistido.
mudem de atitude e a equipa renda mais, dá-se uma chicotada
psicológica, ou seja, despede-se o treinador! E fala-se daquele
amor que os pensadores recortaram em três definições: eros,
filia e ágape. Eros é o amor carnal; filia é o amor de amizade
                                                                         O       Encontro Nacional, em Fátima, de 30 de setembro
                                                                                a 2 de outubro, vai implicar muita coragem. A
                                                                      coragem do amor, pois coragem é o amor em ação. Vamos
e ágape é o amor divino, o amor em estado puro. E os                  falar de “Mulheres no mundo e na Igreja. O que foi feito? O
extremos tornaram-se inconciliáveis com o tempo, mas podem            que falta fazer?” E vamos discutir se a Fraternitas pode ou
ser reharmonizados. Termina o «Espiral» com um texto                  não abrir-se a consagradas e consagrados não ordenados
                                                                      desvinculados dos seus votos. Que o Espírito nos ilumine!
documento
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Livros de associados da Fraternitas
    editados em 2006 e 2008
                     Pelos meandros da produção literária
No Espiral número 42 – janeiro/                Em 2008                                      Jesus – «Ad Jesum per Mariam» a – (…):
março de 2011 – estão anuncia-                 “ALGUMAS REFLEXÕES A                         o grande desconhecido dos fiéis cristãos
dos os livros dos associados edi-          PROPÓSITO DAS «APARIÇÕES»                        continua sendo a pessoa adorável de
tados em 2009 e 2010, um                   EM LOURDES. Algumas Reflexões                    Jesus de Nazaré. (…) Não há dúvida de
biénio muito profícuo, tendo por
                                           nos 125 anos de culto a Nossa Senhora            que estamos em tempo de crise e com
base os dados de que o secretari-
                                           de Lurdes nas Lajes do Pico e nos 150            necessidade de mudança. (…) E na sua
ado dispõe.
         prosseguir, agora,
Vamos prosseguir, agor a, com um           anos do seu aparecimento a Bernardette           Mensagem de Páscoa, o nosso bispo, D.
triénio. E solicitam-se dados rela-        Soubirous”, Artur Cunha de Oliveira              António de Sousa Braga, teve a clarivi-
tivamente a quaisquer livros pu-           (Angra do Heroísmo, 2008), composi-              dência e a fortaleza de afirmar:
blicados, prevendo o próximo arti-         ção e revisão da esposa, Antonieta Lo-              «Nós cristãos deveríamos estar
go sobre o período 2003-2005.              pes Oliveira, edição do autor, [em for-          mentalizados e preparados para as mu-
Parabéns aos autores, e que Deus           mato 17 cm/11.5 cm, 82 páginas].                 danças necessárias na sociedade em que
        Trino      louvado!
Uno e Trino seja louv ado!                     Em Nota Explicativa, na página 3:            vivemos e também na Igreja a que per-
Se puderem, levem os vossos li-            “É este o texto da conferência que pre-          tencemos […] Qual fermento quer fer-
vros e outras obras para os En-
                                           parei em resposta ao honroso convite             menta a massa, a vida cristã é uma ca-
contros Nacionais!...
                                           do vigário da Matriz da Santíssima Trin-         minhada permanente de conversão e,
                       Urtélia Silva
                       Urtélia Silv        dade da nobre Vila das Lajes do Pico,            portanto de mudança (o sublinhado é
                                           reverendo padre Rui Silva, para com ela          meu), também na forma histórica de
                                           participar na preparação da solene festa         presença no mundo» (…).”
                                           em honra de Nossa Senhora de Lourdes
                                           (…). Em vez de acender mais uma                      “HISTORIAL DOS ARRUAMEN-
                                           consumptiva vela no altar da tradicional         TOS DA VILA DE LAVRA”,
                                           e popular devoção (…), optei por                 Boaventura Santos Silveira (Lavra, 2008),
                                           reflectir um pouco sobre a atual situação        [em formato A4, com 546 páginas].
                                           de crise que já se verifica e avulta na Igreja       Na Introdução: "Existem, no per-
                                           Católica e no Cristianismo (…).”                 curso das nossas vidas, pessoas e factos
                                               Em Conclusão, nas páginas 76-79:             que nos marcam e lembram o que de
                                           “A partir de 1891 até bem uma deze-              mais importante e profundo subsiste no
                                           na de anos depois da implantação da              nosso íntimo, quase nos ‘tatuando? a
                                           República em Portugal, não passou                alma, a partir do momento em que vi-
                                           ano em que não houvesse numa qual-               vemos a oportunidade e/ou felicidade
   Deste triénio, em 2008, recebemos       quer ilha dos Açores a inauguração de            de os encontrar e perscrutar. Ficarão in-
o número duplo 31-32 da revista Refle-     templo, ermida ou capela em honra e              crustados no nosso ser, quais pedras
xão Cristã, propriedade e edição do        louvor de Nossa Senhora de Lurdes,               graníticas, belas e imutáveis, fortes e só
C.R.C. (Centro de Reflexão Cristã), a      nem fosse trazida para um altar de               lidas, como devem ser os pilares da exis-
cuja Direção pertencia à data o associa-   igreja, ermida e capela não dedicada             tência de cada um de nós.
do n.º 33, Carlos Leonel Pereira dos       a Nossa Senhora de Lurdes a sua                      "Mutatis mutandis", isto é, mudan-
Santos, que saudosamente partiu em 16      veneranda imagem. (…) E que efei-                do o que deve ser mudado, igualmente
de outubro desse mesmo ano. A ele se       tos resultaram dessa devoção e culto?            os topónimos e antropónimos dos
refere outro membro da Direção, Gui-           Não é possível sabê-lo. Tudo per-            arruamentos da vila de Lavra nos re-
lherme de Oliveira Martins, na página      manece no recôndito das consciências e           cordam atos e factos passados ou pes-
11 desse mesmo número: “ (…) E não         no mistério que é Deus. (…) Ademais, e           soas que nos precederam."
esquecendo a sua entrega à causa do li-    contrariamente ao que teológica e pas-               Do vereador do Pelouro da Cultura
vro cristão, como semente no mundo         toralmente devia ser a devoção e o cul-          da Câmara Municipal de Matosinhos:
contemporâneo. (…)”                        to a Maria de Nazaré, Mãe do Senhor              "Com este livro, Boaventura Silveira
documento
               l
         espiral                                                                                                                 3



volta a surpreender-nos. Depois do               Prefácio de D. Manuel Martins, bis-     lido a capela que tínhamos, para cons-
exaustivo ensaio "PESSOAS DE LA-             po emérito de Setúbal: "Quando Pio XII      truir outra nova. (…) Vi-me assim obri-
VRA" em dois volumes, o autor regres-        proclamou o nosso Santo António Dou-        gado a escrever este livro, ao ritmo do
sa com mais um estudo aprofundado            tor da Igreja, anunciou-o ao mundo com      andamento dos processos (ao longo de
sobre esta freguesia do concelho. Desta      uma carta que começava assim: "Exulta,      cinco anos). (…).”
feita, sobre a origem e explicação das       ó Portugal Feliz". Quando faço voltar           Do III, “Monfebres quer capela
designações das múltiplas artérias viári-    às minhas mãos o pri-
as de Lavra. Da enigmática e antiquíssi-     meiro volume de
ma designação da "minha" Rua dos             Pessoas de Lavra" e ago-
Imbelos até ao incontornável José Do-        ra me vejo perante um
mingues dos Santos, são um sem-nú-           segundo, apetece-me,
mero de interessantíssimas e úteis infor-    mas a sério, servir-me
mações que fazem, afinal, a História.        das palavras do grande
(...)”.                                      Pontífice, para exclamar:
                                             "Exulta, ó Lavra Feliz".
   Em 2007                                   É que é mesmo caso para
   Nada consta no secretariado.              isso. (...) São as pessoas
                                             que fazem a terra, que
   Em 2006                                   dão alma e identidade à
   "PESSOAS DE LAVRA" (2.º volu-             terra, que permitem que
me), Boaventura Santos Silveira (Lavra,      a terra não perca a
2006), [em formato A4, com 572 pági-         memória. Está infelizmente em voga a        nova”, páginas 87,89,92:
nas]. (Nota: O 1.º volume. foi publica-      terrível doença de Alzheimer, que tem           “(…) Foi assim que a “11/04/99,
do em 1996).                                 como primeiro sintoma e mais sentido        (…) celebrava a primeira missa na nova
                                             agravo a perda de memória. À medida         capela (…)A celebração litúrgica (…) foi
                                             que vamos perdendo memória, vamos           animada com cânticos e com este
                                             também perdendo consciência de nós.         ofertório solene:
                                                 Esta doença não atinge, não atingirá,       “Trazemos ao teu altar
                                             sobretudo pela sorte que Deus lhe con-          P´ra Vós, Senhora das Neves,
                                             cedeu na pessoa de seu ilustre filho Dr.        Na luz pura desta vela
                                             Boaventura Silveira, que apreende, sen-         Padroeira e Mãe tão boa,
                                             te, comunga e transmite, com mãos de            A Fé viva de Monfebres
                                             mestre, a vida da sua terra.(...)”.             Já que sois nossa Rainha
                                                                                             Que Te ergueu esta capela.
    Na Introdução: "Nós temos a dita             “ MEMÓRIAS DE UMA CAPE-                     (…)
de Lavra se situar na orla marítima. E       LA – O Poder da Baixa Política e a For-         Trazemos mais esta coroa.”
um dos "frutos" do mar são os búzios,        ça Instável do Povo Simples”, Rogério           Em Conclusão, nas páginas 142 e
que todos conhecem, e, com certeza,          Morais Teixeira (Murça, 2006), edição       143: “ (…) Só muito mais tarde, e de-
muitos, ciosamente, os guardam como          do autor [formato A5, 150 páginas].         pois de muito rogada, é que a diocese
objetos de adorno. Ora, se aplicarmos            Em Nota Prévia, nas páginas 5e 6: “     se pronunciou sobre o processo judicial
um deles, na sua parte mais bojuda e         Sendo a construção de uma capela acon-      que nos tinham levantado, e em cuja ori-
aberta, junto do nosso ouvido, escuta-       tecimento digno de celebração e de re-      gem tinha estado a própria diocese. (…)
remos algo de verdadeiramente surpre-        gisto na história de qualquer aldeia, (…)   O depoimento chegou tão tarde que
endente e maravilhoso: de dentro dele        mais que recordar, nos farão reviver a      nem o apresentámos para defesa. (…)
ressoa o murmúrio cavo e confuso de          justa alegria que, (…), sentimos na festa   O prelado, que nos dera luz verde para
todas as "vozes" do mar, do seu maru-        de inauguração [da Capela de                avançar, em vez de nos defender, rea-
lhar profundo e contínuo. (...) Oxalá este   Monfebres, paróquia de Candedo, con-        gindo prontamente, deixou que o toiro
livro desempenhe, junto de cada leitor,      celho de Murça]. (…) Só que, vivendo        investisse contra nós e nos ferisse grave-
a função do búzio: este lembra o mar,        nós ainda um clima de justificado orgu-     mente, só nos vindo acudir, quando nós,
onde teve origem; "PESSOAS DE LA-            lho, (…) eis que somos surpreendidos        por nosso próprio pé e a sangrar, saí-
VRA" oxalá relembre e fortaleça a esti-      (…) por uma ação judicial que nos acu-      mos já da arena. Mas antes tarde que
ma pelo rico património humano que           sava de ter praticado «um ato de            nunca. Por isso, mesmo assim, apraz-nos
nos legaram os nossos antepassados. (...)”   selvajaria criminoso» por termos demo-      agradecer (…).”
opinião
4                                                                                                                                espiral




      Porquê?                                  problemas da vida ausentes. A Fé não
                                               ilumina a vida. Os problemas que nos
                                               afetam passam ao largo. Fala-se do
                                                                                                      gestos
   A Fé descarnada não ilumina, não ajuda
nem leva à transformação. Não interpreta.
                                               homem, mas do ‘anjo’. A Fé não ilumina,
                                               não ajuda nem leva à transformação. Não
                                               interpreta. Fé desencarnada.
                                                                                                     pessoais
                                                            A crise que nos afeta não é
                                                        maldição de Deus. Não é praga              Todos os dias nós acordamos com
                                                        contra o homem. Não é uma              notícias perturbadoras (…).
                                                        fatalidade. É consequência da              Queremos dar algumas pistas para
                                                        ação do homem, da sua                  ajudar as comunidades que servimos e
                                                        ambição, da sede do domínio, da        para que alentem a esperança de todos
                                                        sofreguidão do capital. Toda a         perante um futuro fortemente
                                                        gente sabe disso! Mas é preciso        angustiante. (…) Deus ouviu o clamor
                                                        alertar. Criar consciência. Vencer     do povo oprimido no Egito e nunca
                                                        a crise com determinação,              foi indiferente ao sofrimento dos pobres.
                                                        vontade, certeza de que a força
                                                        do nosso Deus está com os
                                                        pobres, os marginalizados, os
    A política não me seduz.                   sem teto, os desempregados, os
Desinteressei-me! Debates no                   velhos… Do outro lado, os lucros
Parlamento, que resolvem? Os                   desmedidos de empresas, os salários e
compadrios e oportunismos de                   comissões chorudas dos ‘protegidos’.
deputados        e    secretários?        A        E a Igreja? O arcebispo de Braga
permissividade de ministros? O                 apelou à solidariedade dos padres. O P.e
vedetismo? Decerto, tudo isto ou um            Mourujão chamou a atenção do novo
pouco de cada coisa.                           Governo para a situação dos pobres…
    Na campanha eleitoral, fui a um            Não basta. A caridade não substitui a              1.     Combater       a   ignorância
comício! Para ver… Pensei nas                  justiça. E é de justiça que se trata. Melhor:   indesculpável como um serviço à
rivalidades partidárias, na falta de ideias,   a justiça é a caridade no mais alto grau.       verdade que liberta.
na ausência de debates dos problemas           Justiça e caridade identificam-se. A cada          (…) Reconhecemos que temos vivido
que nos afligem… «Muita parra… Uma             um o que é devido. O direito dos pobres:        acima das nossas possibilidades. (…) O
noite para esquecer!», pensava. A escola,      a dignidade.                                    trabalho deve estar sempre acima do
edifícios, sistema, professores e a sua            Interrogo-me. Maria ouve Jesus:             capital. O trabalho não é um meio de
avaliação, dotação, depois os tribunais e      “Escolheu a melhor parte”. Seria o novo         produção ou mais um recurso; nele está
questões de justiça. Os problemas com          Reino que Jesus anuncia já presente?            em jogo a dignidade da pessoa.
os operários, ordenados em atraso              Precisamos de profetas que anunciem,               Causa-nos perplexidade o modo
(milhões de euros!), retenção de               testemunhem pela palavra e pelo                 como os lucros são privatizados, e
ordenados, desrespeito pelas categorias        exemplo este Reino de verdade, justiça,         socializados prejuízos, em parte,
profissionais,       violência       sobre     amor. A liturgia, sacramentos são uma           branqueados com o dinheiro público.
trabalhadores, exploração nos horários,        parte deste Reino, mas é a vida, a palavra,
os recibos verdes, desvio nos descontos,
despedimentos, falências fraudulentas, o
                                               o exemplo, que fazem de nós
                                               testemunhas verdadeiras.
                                                                                                  2. Devemos tomar partido pelas
desemprego, o aproveitamento da crise,             Na Igreja sou caput minor. Devo             vítimas da crise. A solidariedade é uma
corrupção… os juros, as execuções              manter-me em silêncio. Somos laicos. O          virtude essencial para tanto elevar a
hipotecárias, o domínio do capital… a          leigo deve ouvir com atenção! Não estará        moral numa sociedade individualista e
desumanidade que se vive.                      neste procedimento pastoral a razão de          materialista, como para garantir a
    Vi-me confrontado com a Fé.                abandono de tantos cristãos? Decerto            sobrevivência das suas vítimas. Tomar
    Nas celebrações da Fé, raramente           não será fácil encontrar as causas. O que       partido supõe que nem tudo vale e não
aparecem estes problemas. Ninguém se           não nos satisfaz são as soluções até agora      podemos manter atitudes que nos
questiona. Fazem-se as leituras que a          encontradas ou sugeridas.                       tornem menos credíveis, ou seja, fazer
liturgia prevê. Faz-se a homilia, com os                                                       um pacto com as grandes empresas que
                                                                      Joa q uim Soares
                                                                      Joa       Soares
opinião
                  l
            espiral                                                                                                                          5




       contra a Eu creio,
                Senhor!
        crise                                             «Eu creio, Senhor, aumenta a minha fé!»
                                                      (Mc 9, 24)
      económica                                           Há quarenta e dois anos, fui
                                                      apresentado ao meu bispo para ser
Fórum «Curas Madrid» / Adital
Fórum                  Adital                         ordenado sacerdote. Aceitei-o com
                                                      liberdade e responsabilidade. Os tempos
    «As alegrias e as esperanças, as tristezas e      não eram fáceis. O Vaticano II, encerrado
as angústias dos homens de nosso tempo,               havia pouco tempo, ainda estava vivo.
sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem,        Na nossa memória o bom papa João,
são por sua vez as alegrias e esperanças, tristezas   ‘jovem’, estimulava a uma ação
e angústias dos discípulos de Cristo» (GS 1).         comprometida, honesta, que se abria ao            Esperança! Não me angustio. A
                                                      diálogo. O Espírito vivo animava a            Deus pertencem os tempos e o universo.
                                                      Igreja, impelindo-a para caminhos             Deus tira proveito do erro ou das
financiam os nossos eventos e,
                                                      novos. Autêntico Pentecostes!                 limitações dos homens. E a intenção, a
necessariamente, baixar o tom das
                                                          E seguimos em frente! Servi com           vontade manifesta, a disponibilidade
críticas, aceitando o dito: “Não podes
                                                      entusiasmo e alegria. Enfrentámos com         total, satisfazem plenamente e
morder a mão que te alimenta.”
                                                      determinação o imobilismo paralisante         compensam as outras falhas dos
Austeridade, comunhão de bens,
                                                      – atrofiante. Superámos dificuldades,         homens. Deus não está limitado pela
consumo responsável, o uso da banca
                                                      choques… apostámos numa linha de              capacidade, iluminada ou mesquinha,
ética, apoio material, apoio emocional e
                                                      futuro, apoiados em Jesus Cristo, num         dos decisores.
espiritual para com os desempregados,
                                                      diálogo aberto, perseverante. Crescemos           Amigo, não vejas nestas minhas
a oferta de espaços e momentos para
                                                      na Fé! Alterar mentalidades não é fácil,      palavras um apelo ao conformismo, à
encontros, para a festa, para a escuta da
                                                      remover convicções ancestrais, marcadas       aceitação passiva daquilo que nos parece
Palavra de Deus que sustenta a esperança,
                                                      pela burocracia, pela religiosidade –         contrariar os mais altos desígnios de
para a celebração da vida animada pelo
                                                      imobilizadora… Foi o nosso percurso           Deus. Sempre: um não rotundo à
Espírito, são algumas ações que
                                                      eclesial!                                     rebelião! Mas nunca cruzar os braços e
podemos, baseados na justiça social e
                                                          Novos caminhos se abriram. Em             deixarmo-nos ir… Não! No tempo de
na Doutrina Social da Igreja.
                                                      1978, reiniciei a caminhada, partilhando      Pio XII, ninguém esperava o Vaticano
                                                      a vida, em rumos novos, de aventura e         II. Aconteceu. Uma surpresa! Alguém
     3. Mostrar o rosto de uma Igreja                 realização humana e sacerdotal, com a         tinha esperança e mantinha a vela acesa
Samaritana e amável, mas inflexível com               companheira de todos os dias.                 para uma Igreja renovada: ‘serva e
a injustiça. Queremos ser uma igreja que              Sonhámos. Era possível continuar com          pobre’. Não esperou em vão! Diante
conforta, que dá esperança e que                      os compromissos anterior mente                dos olhos o exemplo de Maria: sempre
denuncia a injustiça.                                 assumidos? É a questão. Os homens,            presente, na discrição.
    Para isso, fazemos do sofrimento do               ainda que com boas intenções, traçam              Novos apelos do Espírito. Saber
nosso próximo algo que nos                            caminhos difíceis. Ai! A coerência…           esperar! O caminho será longo. Não
desassossega e nos ocupa, tema das                        A Igreja condiciona, em nome de           perscrutemos os tempos, nem
nossas reflexões, da nossa oração (…).                valores mais altos, o exercício do múnus      antecipemos acontecimentos. Sejamos
    Apostamos em alternativas (valores                sacerdotal. É razoável em situações           perseverantes. Não nos contentamos
do Evangelho) aos valores materialistas               normais. Em situações de exceção, como        com soluções fáceis. E o Espírito levar-
do capitalismo desenfreado (…).                       as de hoje, com inúmeras paróquias            nos-á por caminhos novos, para soluções
                                                      desprovidas e com o reduzido número           futuras, totalmente inesperadas –
                                                      de padres assoberbados por celebrações        imprevisíveis. Ele está presente. Abramo-
     4 . Colaborar com os grupos/                     múltiplas - que fazer? Aprecio a posição      nos ao Espírito. Às vezes parece um
movimentos/iniciativas sociais que                    da Fraternitas: mantém viva a esperança       fantasma. Não ter medo é caminho de
reivindicam os valores sociais (direitos              de que alguns responsáveis da Igreja          fé. “Senhor, aumenta a minha fé”.
humanos).                                             revejam a realidade.                                                               J. S.
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6                                                                                                                                 espiral




MENS@GENS ELETRÓNIC@S
    A qualquer instante, chegam               Miranda, C. M. de Barcelos, C. M. de
mensagens por correio eletrónico ao           Sousel, J.P.F., Casa de Pascoaes, Herdeiros
endereço do secretariado da Fraternitas       do poeta António Pinheiro Guimarães
– secretariado@fraternitas.pt.                e em diversas entidades e colecções
    São todas bem-vindas.                     particulares do País e do Estrangeiro. É
    Divulgo esta, do associado n.º 7,         autor de diversos cartazes, capas de
AlbertoJosé Parente d´Assumpção,              publicações e logótipos e tem obras suas
Vice-Presidente da Assembleia Geral:          reproduzidas em capas de livros.
    «Estimado amigo(a). Agradeço,                 Integrou o Júri de selecção da II e
desde já, a pronta disponibilidade em         da III Bienal de Arte Jovem de Vila
ajudar. Junto envio um folheto que            Verde. Foi seleccionado pelo Júri
                                              Internacional para participar na 4.ª Bienal
                                                                                              OBRA DO P e FILIPE
                                                                                                       .
poderá facilitar a divulgação entre os seus
conhecimentos. Tenho igualmente               Internacional de Arte Contemporânea de              3 de julho – Dia da inauguração do
disponíveis desdobráveis que poderei          Firenze – Itália. Foi selecionado para          Centro Social “Nossa Senhora do
enviar pelo correio, se necessário.           participar no “BIRD 2005 International          Amparo”, da Fundação Cónego Filipe
    Um abraço                                 Art Award”, Pequim – China e na 1.ª             de Figueiredo. O empreiteiro Manuel
    Alberto D’Assumpção FRSA                  Bienal Internacional de Arte de Chapingo,       Matos da Prozinco, (também da Direcção
    Conteúdo do folheto:                      México.                                         da Fundação), entregou a obra, dando
    Albertod´Assumpção. Filho do                  É citado no “Dicionário de Artistas         por terminados os trabalhos. Num dia
pintor Manuel D’Assumpção, nasceu em          Plásticos de Portugal” da Estar Editora,        aberto à população, a obra contou com
Lisboa em 1956. Expõe regularmente            em “Artes Plásticas – Portugal” da              a presença do bispo de Aveiro, D.
desde 1989, dedicando-se em exclusivo         Adrian Editora, em “Aspectos das Artes          António Francisco dos Santos, para além
à pintura em 1990. É membro da                Plásticas em Portugal – III”, “Arte – 98”       das individualidades das várias
RoyalSocietyofArts (RSA), de Londres.         e “Anuário Internacional de Arte 2003”          instituições locais e regionais.
Com os artistas AdrianBayreuther,             de Fernando Infante do Carmo, está                  A Fraternitas esteve presente a convite
ConstantinSeverin, IzabellaPavlushko e        referenciado no “Arteguia – Directório          da anterior secretária da Liga dos
Olga Dmytrenko constitui o Grupo              de Arte Espanha e Portugal”, no “Guia           Amigos, Paula Pomar, a quem muito
Internacional “3º Paradigma”. É               d’Arte”, no “Whoiswhoofthe Portuguese           agradecemos. Segundo o prospecto
igualmente membro da Sociedade                Artists”, da Sol Invictus Publicações, no       distribuído, Lar de Idosos, Creche,
Portuguesa de Autores, do “International      “Anuário das Artes Plásticas” da Estar          Apoio Domiciliário e Centro de Dia são
Illustrated Letter Writing Society”, do       Editora, no “Artes 2001 – Directório de         as valências a abrir brevemente. O local
grupo “Artists For Peace”, do grupo           Artes Plásticas”, da Publicenter, no            tem espaço para 45 idosos internos, 40
“ArchetypalExpressionism” e do                “Magazine das Artes Plásticas” nº1, em          no apoio domiciliário, 30 no Centro de
“MircaArtGroup”, Suécia. Está                 “Surrealismo abrangente – colecção              Dia e 33 crianças na Creche. Questionado
representado nas colecções do Banco de        particular de Cruzeiro Seixas” Fundação         se a qualidade da obra era destinada a
Portugal, Fundação Cupertino de               Cupertino         de     Miranda,         em    uma camada elitista da sociedade,
                                              “Freedom&Art” e “PlanetHeart,                   Manuel de Matos garantiu que: “ NÃO.
                                              PlanetArt”, ambos do MircaArtGroup,             É uma obra para servir todas as pessoas
                                              Suécia, em “International Dictionary of         que delas necessitarem. Claro que é um
                                              Artists”, da WorldWideArtBooks, USA,            espaço que tem os seus custos, as coisas
                                              e em “Privatsphären”, Viena, Austria.           não podem ser dadas gratuitamente, mas
                                                  Contactos: Urb. de S. Gemil, lote 9,        não é um espaço para os ricos, é para
                                              4805-318 PONTE GMR                              todos”, frisou. Que ASSIM SEJA! É de
                                                  Telefone: 351 962 364 361                   facto uma obra com muita luz!… Mas
                                                  alberto.dassumpcao@gmail.com                que a LUZ que sempre brilhou na pessoa
                                                  w w w. A r t Wa n t e d . c o m / A . D -   do fundador, ilumine e ampare os
                                              Assumpcao                                       passos de todos os que para ela
                                                  http://3rdparadigm.net                      trabalhem, porque o padre Filipe de
                                                  Recordo que este Artista foi o autor        Figueiredo era “um homem de Deus
                                              do logótipo da Fraternitas. Existimos           com vocação para os marginalizados”,
                                              para nos ajudarmos! Boa sorte!                  para os mais pobres…
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               l
         espiral                                                                                                                   7


     NA S CIMENTO                                    Assembleia constitutiva
     DA MARIANA
                                                  da União das Associações dos
    É neta do José Serafim A. de Sousa
e Maria da Graça. Nasceu no dia do 37.º           Antigos Alunos dos Seminários
aniversário do Matrimónio dos avós. “O
mais interessante é que eu profetizei que
ela iria nascer neste dia um mês antes. E
                                                       Portugueses( UASP)
aconteceu, sem forçar nada… às 22h”,
escreveu o avô “babado”.                         Realizou-se no dia 17 de setembro,       instituições eclesiais e dos organismos
    Que graça de facto: há dois mil e        no Seminário Diocesano de Leiria, a          oficiais, a nível nacional e internacional,
tantos anos, lá em Nazaré, nascia Maria      assembleia constitutiva da UASP (União       as suas associadas; defender e promover
de uma Ana, Santas.                          das Associações dos Antigos Alunos dos       a solidariedade entre as suas associadas
    Parabéns aos pais e aos avós da          Seminários Portugueses).                     no respeito pela identidade de cada uma
Mariana.                                         Projeto sonhado na preparação e          delas (artigo 2º dos Estatutos da UASP).
                                             realização do primeiro Congresso dos             Da agenda da reunião constou a
                                             Antigos Alunos dos Seminários                leitura e aprovação dos Estatutos, leitura
                                             Portugueses (abril de 2009) e referido       da Ata da Constituição e sua assinatura
                                             nas Conclusões como “um sentimento           pelos representantes das Associações
                                             generalizado para que seja dada alguma       aderentes; celebração da Eucaristia,
                                             sequência ao Congresso através de ações      presidida por D. António Marto, bispo
                                             que se venham a organizar no futuro”,
                                             foi amadurecendo nestes dois anos e
                                             tomou a forma de União das
                                             Associações aderentes.
                                                 Dos espaços de encontro de antigos
                                             alunos dos Seminários Portugueses, 27
                                             (12 diocesanos e 15 religiosos) criaram
                                             alguma forma de organização. Destes,
                                             12 já aderiram ao projeto: 9 são
                                             diocesanos (Aveiro, Braga, Coimbra,
                                             Évora, Funchal, Lamego, Leiria-Fátima,
                                             Portalegre-Castelo Branco e Vila Real) e
                                             3 são religiosos (Franciscanos,
                                             Espiritanos e Combonianos); em fase de
                                             reestruturação e com intenção de aderir
                                             estão quatro associações dos seminários
    Parabéns aos restantes pais e avós que   religiosos; outras duas disseram não estar
experimenta(ra)m este tipo de graça ou       interessadas; quanto às restantes, umas      de Leiria-Fátima e eleição dos órgãos
semelhante, nascimentos ou matrimónios       aguardam pela decisão dos órgãos             sociais para o primeiro triénio.
…                                            competentes e outras pela evolução do           No horizonte deste fórum nacional
    Vão sendo muitos os associados que       projeto da UASP.                             das Associações de Antigos Alunos está
se encontram num estado de saúde mais            Esta nova estrutura nacional que, à      não só a vontade de fazer memória das
ou menos fragilizado. Cada um                data da sua constituição, reunirá 44% das    origens, mas, sobretudo, de recorrer à
mereceria uma breve descrição para o         Associações de Antigos Alunos dos            experiência comum, ainda que vivida de
seu caso, que alongaria o texto… Fica        Seminários Portugueses, define-se            forma muito diversa, para refletir sobre
para a Folha Informativa que                 juridicamente como associação privada        o momento que nos é dado viver,
acompanha o envio deste número do            de fiéis e tem os seguintes objetivos:       acolher os seus desafios à luz do
Espiral.                                     “fomentar a corresponsabilidade eclesial     Evangelho e abrir perspetivas de
    A melhor saúde para estes associados     e a participação em projetos que             participação e compromisso nas
e seus cuidadores e as nossas orações.       promovam a dignidade humana e os             comunidades cristãs e nos espaços sociais
                                             valores evangélicos; congregar,              e culturais de que cada um de nós faz
                        A   Secretária       coordenar e representar junto das            parte.
reflexão
8                                                                                                                           espiral




NOVA(?) EVANGELIZAÇÃO
Li, há tempos, um apelo do                   na cabeça dos Apóstolos e discípulos o      mação bíblica. Essa de muitos liturgistas
            Vouga,
Correio do Vouga , jornal da                 essencial do que será ser Seu amigo: a      da atualidade quererem cultivar o mis-
diocese de Aveiro, aos leitores,             prática, a vivência incondicional do        tério intrínseco à celebração eucarística
para transmitirem aos                        Amor, palavra-chave do Novo                 à custa de um regresso a práticas dos
responsáveis pelo mesmo a sua
                                             Testamento que, então, Ele lhes/nos         tempos tridentinos não passa de um sau-
reação ou sentir sobre os temas
que aí são escritos. Neste sentido
                                             deixou.                                     dosismo bacoco da Igreja triunfalista
e no espírito da preconizada nova                                                        anterior ao Vaticano II, hoje quase
evangelização,
evangelização , gostaria de tecer                                                        obnubilado, com grande responsabilida-
os seguintes comentários.                                                                de da hierarquia.
                                                                                             Além do mais, tais atitudes estão
                    Fernando       Neves                                                 contra o espírito da Constituição sobre
                                                                                         a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano
                                                                                         II e a subsequente Constituição
    O que é                                                                              Apostólica Missale Romanum, de Paulo VI,
                                                                                         que promulga o Missal: “Queremos
    a nova evangelização?                                                                também que tudo quanto nesta
    O primeiro é que a expressão nova                                                    Constituição fica estabelecido e prescrito
evangelização é, semanticamente,                                                         tenha força de lei, agora e para o
tautológica, redundante, repetitiva.                                                     futuro, não obstando, se for caso disso,
Vejamos: a palavra evangelização deriva                                                  as Constituições e Ordenações
da palavra Evangelho que, na sua origem         Abordando                                Apostólicas dos nossos Predecessores,
grega, quer dizer boa nova/notícia/
mensagem.                                       a reforma lítúrgica
    Desdobrando a expressão nova                  O segundo é uma ligeira discordân-
evangelização concluiríamos, então, que      cia com o que o pároco diz na sua en-
será igual ou o mesmo que nova boa           trevista, a propósito das obras feitas na
nova/mensagem. Ora não há uma nova           matriz de Vagos. Tem a ver com a cen-
boa nova/mensagem ou seja não há um novo     tralidade do Altar da Eucaristia e do
Evangelho; há sim um Evangelho (em           ambão da Palavra.
quatro narrativas canónicas) que nos              O Vaticano II assim o propôs de tal
apresenta a mensagem de Jesus, pessoa        modo que a Eucaristia – vulgo missa,
humana e divina sempre nova nas suas         termo que já devia ter entrado em de-
palavras, gestos, ações e relacionamento     suso – fosse não com o presidente da
com os outros. Ele é verdadeiramente         assembleia de costas voltadas para a
o Lógos, a Palavra encarnada, amorosa,       mesma, mas de frente, de olhos nos
criadora e renovadora de Deus.               olhos. E ainda que a Palavra seja pro-
    Assim o que se devia pretender seria     clamada na língua vernácula de cada
a revitalização vivencial do Evangelho,      povo. E com isto nada se perde do mis-
sobretudo com novas praxis cristãs,          tério de fé que, mesmo assim, esta cele-
novos comportamentos, formas de agir,        bração litúrgica continua a ser e a ter.
processos, técnicas e meios de anunciar      Não é, pois, necessário entrar em para-
a mensagem de Amor que Jesus veio            nóias de ocultismos ou dizer coisas to-
trazer ao mundo, para os homens de           talmente inacessíveis à compreensão da
todos os tempos. Nos Evangelhos,             Assembleia, pela barreira de uma língua
principalmente no de João, isto está         como atualmente o Latim. Já bem bas-
condensado nas ações e palavras de           ta o carácter fechado e de difícil com-
Jesus, durante a última ceia onde Ele quer   preensão das leituras propostas em cada
como que resumir e deixar bem gravado        Eucaristia, para quem tem pouca for-

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reflexão
                       l
                 espiral                                                                                                                       9




        ou quaisquer outras prescrições, ainda
        que dignas de especial menção ou
        derrogação.”

           Cinco
           pedrinhas mágicas
            O terceiro e último comentário é
        sobre As cinco pedrinhas mágicas
        propostas para atingir a graça
        santificante: 1.ª) A vivência da Eucaristia.
        2.ª) A confissão. 3.ª) O rosário. 4.ª)
        Leitura e estudo da Bíblia. 5.ª) Jejum.
            Desconfio que fossem estas as
        prioridades sequenciais de Jesus.
            Com a primeira até concordo, mas
        numa Eucaristia como celebravam os
        apóstolos e discípulos (entenda-se
        comunidade cristã), fazendo memória
        de Jesus e a partilha do pão por Ele
        mesmo proclamada: “Dai-lhes, vós
        mesmos, de comer”.
            Quanto à segunda, continua                     Quanto à Palavra de Deus está            as economias fruto das refeições eco-
        interiorizado o espírito tribunalesco do       relegada, postergada para sítio nenhum,      nómicas que sempre devemos fazer.
        tridentino (muito custa a dar o passo em       que não é o seu. Não ficaria nada mal        Não são as outras coisas que se dizem
        frente para o Vaticano II!). Então não         estar mesmo em primeiro lugar, pois,         que dão o valor ao jejum. Jejuar, vestir-
        devia, ao menos, ser reconciliação?            como diz S. Paulo, “fides ex auditu” “a fé   se com sacos, de anjinho ou outros
            Quanto ao terceiro, bem mal! Então         nasce do que é ouvido, proclamado,           quejandos, fazer peregrinações ou
        já nem só o terço? E mesmo assim               lido”. E os católicos apostólicos            procissões mais ou menos folclóricas,
        lembrar que esta prática popular de rezar      romanos, na generalidade, leem muito         esfarrapar o corpo, os pés e os joelhos,
        (recitar, dizer de cor; não orar!), vem dos    pouco a Bíblia. Se ao menos, em cada         fazer sacrifícios, será isso que agrada ao
        tempos em que o povo não sabia ler e           dia, fizessem as leituras que estão no       Senhor? “O jejum que Me agrada não
        não teria, por isso, muitas outras formas      missal quotidiano! Mas quantos o farão?      será antes este: quebrar as cadeias injustas,
        palpáveis de praticar/viver a sua              E sem fé prévia, nem a própria               desatar os laços da servidão, por em
        religiosidade, aprofundar a sua fé e           Eucaristia tem sentido. Não seria, pois,     liberdade os oprimidos… repartir o teu
        cultura bíblica. Por isso a Igreja tornou      nada mau propagandear a necessidade          pão com o faminto, dar casa aos pobres
        aconselhável essa devoção. Em todo o           da leitura da Bíblia de modo que esta        sem abrigo, levar roupa aos que não têm
        caso, é bom lembrar que ela tem muito          fosse mais ´obrigatória` do que a reza       que vestir e não voltar as costas ao teu
        de semelhante ao que o próprio Jesus           do terço. Muitas pessoas declaram na         semelhante?” (ver Is 58, 1-9)
        censura quando diz que não é com o             Penitência como ´pecado`(?) o não ter            Assim, se viverá o “dom mais
        dizer muitas palavras (distraída e             rezado o terço. Mas quantas fazem o          excelente” de que fala S. Paulo: a
        mecanicamente), sem uma verdadeira             mesmo sobre a leitura da Palavra de          Caridade. Posso rezar muito, cumprir
        relação do emissor (pessoa orante, que         Deus?                                        todas as minhas obrigações religiosas e
        sabe e pensa o que diz – caso contrário            Sobre a última pedrinha (o jejum) o      mais algumas “Mas se não tiver
        será uma conversa tola) com o recetor          que é essencial é que ele deve contribuir    Caridade, nada valho”, como discípulo
        (Deus, a Quem mesmo no Seu silêncio            para nos tornar “solidários, pois o que      de Jesus. Serei só blá-blá, como o sino
        entendemos como nosso dialogante) que          não comemos devemos dar em esmola”.          que toca e faz tanto barulho que, por
        se é agradável aos olhos de Deus.              Diria: partilhar ainda muito mais do que     vezes, só incomoda.

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reflexão
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AS DUAS FACES DO AMOR:
                  EROS E ÁGAPE
         P.e Raniero Cantalamessa,
             Raniero Cantalamessa,
                          OFMCap



      Há um âmbito em que a secularização age de maneira especialmente difusa e nefasta, e é o âmbito do
     amor. A secularização do amor consis te em separ ar o amor humano de Deus, em todas as formas desse
     amor.                          consist      separar                               todas    formas
               amor,                     merament
                                             amente                        sobra
               amor, reduzindo-o a algo mer amente “profano”, onde Deus sobr a e até incomoda.
     Mas o amor não é um assunto importante apenas para a evangelização, ou seja, para as relações com o
     mundo. Ele importa, antes de todo o mais, para a própria vida interna da Igreja, para a santificação dos
     seus membros. É nesta perspectiva que se situa a encíclica Deus caritas est, do Papa Bento XVI, e é nela
                             que nós também nos colocamos para estas reflexões.


    O amor sofre de uma separação                                                           unidos: tudo o que ele faz, amar
nefasta não só na mentalidade do                                                            inclusive, tem que refletir essa
mundo secularizado, mas também,                                                             estrutura. Se o componente humano
do lado oposto, entre os crentes e,                                                         ligado ao tempo e à corporeidade é
em particular, entre as almas                                                               sistematica-mente negado ou
consagradas. Poderíamos formular a                                                          reprimido, a saída será dúplice: ou
situação, simplificando ao máximo,                                                          seguir adiante aos arrastos, por senso
assim: temos no mundo um eros                                                               de dever, por defesa da própria
sem ágape; e entre os crentes, temos                                                        imagem, ou ir atrás de compensações
frequentemente um ágape sem eros.                                                           mais ou menos lícitas, chegando até
    O eros sem ágape é um amor                                                              os dolorosíssimos casos que estão
romântico, mas comumente                                                                    afligindo atualmente a Igreja. No
passional, até violento. Um amor                                                            fundo de muitos desvios morais de
de conquista, que reduz                                                                     almas consagradas, não é possível
fatalmente o outro a objeto do                                                              ignorá-lo: há uma concepção
próprio prazer e ignora toda                                                                distorcida e retorcida do amor.
dimensão de sacrifício, de                                                                      Temos, então, um duplo
fidelidade e de doação de si. Não é            repetitivos, o estro é substituído pela   motivo e uma dupla urgência de
preciso insistir na descrição desse            técnica, a espontaneidade pelo            redescobrir o amor na sua unidade
amor, porque se trata de uma                   virtuosismo.                              original. O amor verdadeiro e
realidade que temos todo dia diante                Com base nessa distinção, o           integral é uma pérola encerrada entre
dos nossos olhos, propagandeada                ágape sem eros é um “amor frio”, um       duas conchas: o eros e o ágape. Estas
com estrondo pelos romances,                   amar parcial, sem a participação do       duas dimen-sões do amor não podem
filmes, novelas, internet, revistas. É         ser inteiro, mais por imposição da        ser separa-das sem destruí-lo, como
o que a linguagem comum entende,               vontade do que por ímpeto íntimo          o hidro-génio e o oxigénio não
hoje, com a palavra “amor”.                    do coração. Um entrar num cenário         podem ser separados sem se privarem
    Para nós é mais útil entender o que        predefinido, em vez de criar um           da água.
significa ágape sem eros. Na música,           próprio, realmente irrepetível, como
existe uma diferenciação que pode nos          irrepetível é cada ser humano perante         IINCOMPATIBILIDADES
ajudar a ter uma ideia: a diferença entre      Deus. Os atos de amor voltados para           A reconciliação mais importante
o jazz quente e o jazz frio. Eu li certa vez   Deus parecem aqueles de namorados         entre as duas dimensões do amor é
essa caracterização dos dois géneros, mas      desinspirados, que escrevem à amada       prática. É aquela que acontece na vida
sei que não é a única possível. O jazz         cartas copiadas de modelos prontos.       das pessoas, mas, para ser possível, ela
quente (hot) é o jazz apaixonado, ardente,         Se o amor mundano é um corpo          precisa começar pela reconciliação entre
expressivo, feito de ímpetos, de senti-        sem alma, o amor religioso praticado      o eros e o ágape inclusive teoricamente,
mentos e, portanto, de improvisações           assim é uma alma sem corpo. O ser         na doutrina. Isto nos permitirá conhecer
originais. O jazz frio (cool) é o profis-      humano não é um anjo, um espírito         finalmente o que é que se entende por
sional: os sentimentos se tornam               puro; é alma e corpo substancialmente     estes dois termos tão comumente
reflexão
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        espiral                                                                                                               11




usados e subentendidos.
    A importância da questão nasce
do facto de existir uma obra que
popularizou em todo o mundo
cristão a tese oposta da incon-
ciliabilidade das duas formas de
amor. É o livro do teólogo luterano
sueco Anders Nygren, intitulado
Eros e Ágape. Podemos resumir o
pensamento dele nestes termos: eros
e ágape designam dois movimentos
opostos. O primeiro indica ascensão
e subida do homem para Deus e para
o divino como próprio bem e própria
origem; o outro, o ágape, indica a
descida de Deus até o homem com
a encarnação e a cruz de Cristo, e,
portanto, a salvação oferecida ao
homem sem mérito nem resposta de
sua parte, a não ser a fé e somente a
fé. O Novo Testamento fez uma
escolha precisa, usando, para              o nosso coração até descansar em ti”        Deus, pode, por sua vez, amar a Deus,
exprimir o amor, o termo ágape, e          [2]. Também é dele a imagem do              dar-lhe algo de seu, o que destruiria a
refutando o termo eros.                    amor como um peso que atrai a               absoluta gratuidade do amor de Deus.
    Foi São Paulo quem recolheu e          alma, como por força de gravidade,          No plano existencial, ainda de acordo
formulou com mais pureza essa              para Deus, como ao lugar do próprio         com Nygren, o mesmo desvio acontece
doutrina do amor. Depois dele, ainda       repouso e prazer [3]. Tudo isso, para       na mística católica. O amor dos místicos,
segundo a tese de Nygren, essa antítese    Nygren, insere um elemento do               com a sua fortíssima carga de eros, nada
radical se perdeu para dar lugar a         amor de si, do próprio bem, e,              é, para ele, senão amor sensual
tentativas de síntese. Assim que o         portanto, de egoísmo, que destrói a         sublimado, uma tentativa de estabelecer
cristianismo entra em contato cultural     pura gratuidade da graça; é uma             com Deus uma relação de presunçosa
com o mundo grego e a visão platônica,     recaída na ilusão pagã de fazer a           reciprocidade em amor.
já com Orígenes, há uma reavaliação do     salvação consistir numa ascensão a              Quem rompeu a ambiguidade e
eros, como movimento ascensional da        Deus, em vez de na gratuita e               devolveu à luz a pura antítese
alma rumo ao bem e ao divino, como         imotivada descida de Deus até nós.          paulina, segundo o autor, foi Lutero.
atração universal exercitada pela beleza       Prisioneiros desta impossível síntese   Fundamentando a justificação ape-
e pelo divino. Nesta linha, o Pseudo       entre eros e ágape, entre amor de Deus      nas na fé, ele não excluiu a caridade
Dionísio Areopagita escreverá que “Deus    e amor de si, são, para Nygren, São         do momento-base da vida cristã,
é eros” [1], substituindo com este termo   Bernardo, quando define o grau              como o acusa a teologia católica;
o ágape da célebre frase de João (I Jo,    supremo do amor de Deus como um             antes, libertou a caridade, o ágape,
4,10).                                     “amar a Deus por si mesmo” e um             do elemento espúrio do eros. À
    No ocidente, uma síntese               “amar a si mesmo por Deus” [4]; São         fórmula do “somente a fé”, com
análoga foi feita por Agostinho com        Boaventura, com seu ascensional             exclusão das obras, corresponderia,
a doutrina da caritas, entendida           Itinerário da mente para Deus; e São        em Lutero, a fórmula do “somente
como doutrina do amor descendente          Tomás de Aquino, que define o amor          o ágape”, com exclusão do eros.
e gratuito de Deus pelo homem              de Deus infuso no coração do batizado           Não me cabe estabelecer se o autor
(ninguém falou da “graça” com mais         (cf. Rom, 5,5) como “o amor com que         interpretou corretamente neste ponto o
força do que ele), mas também como         Deus nos ama e nos faz amá-lo” (amor        pensamento de Lutero, que, deve-se
anseio do homem pelo bem e por             quo ipse nos diligit et quo ipse nos        dizer, nunca pôs o problema em termos
Deus. É dele a afirmação: “Fizeste-        dilectores sui facit) [5]. Isto viria a     de contraste entre eros e ágape como
nos, Senhor, para ti, e inquieto está      significar que o homem, amado por           fez com fé e obras.
reflexão
12                                                                                                                      espiral




                                                                                      o termo erótico, ou, se o emprega, é
                                                                                      em sentido negativo. O motivo é que,
                                                                                      tanto naquele tempo como agora, a
                                                                                      palavra evoca o amor na sua expressão
                                                                                      mais egoísta e sensual [7].
                                                                                          Tão logo o cristianismo entra em
                                                                                      contato e diálogo com a cultura
                                                                                      grega daquele tempo, cai por terra
                                                                                      de imediato, como já vimos, toda
                                                                                      preclusão quanto ao eros. Ele é
                                                                                      usado com frequência, nos autores
                                                                                      gregos, como sinônimo de ágape, e
                                                                                      empregado para indicar o amor de
                                                                                      Deus pelo homem, como também o
                                                                                      amor do homem por Deus, o amor
                                                                                      pelas virtudes e por tudo o que é
                                                                                      belo. Basta, para nos convencermos
                                                                                      disso, uma simples olhada no Léxico
                                                                                      Patrístico Grego, de Lampe [8]. O
                                                                                      sistema de Nygren e Barth,
                                                                                      portanto, foi construído sobre uma
   O contragolpe desta operação é           bíblica não constrói um mundo paralelo    falsa aplicação do assim chamado
a radical mundanização e                    ou um mundo contraposto ao original       argumento “ex silentio”.
secularização do eros. Enquanto             fenômeno humano que é o amor, mas
certa teologia retirava o eros do           aceita o homem todo, intervindo na sua       EROS PARA CONSAGRADOS
ágape, a cultura secular era bem feliz,     procura pelo amor para purificá-la,          O resgate do eros ajuda acima de
ao retirar o ágape do eros, ou seja,        destr uindo, em paralelo, novas           tudo os enamorados humanos e os
ao retirar do amor humano toda              dimensões suas” (7-8). Eros e ágape       esposos cristãos, mostrando a beleza e
referência a Deus e à graça. Freud          estão unidos à própria fonte do amor,     a dignidade do amor que os une. Ajuda
apresentou para isto uma justificação       que é Deus: “Ele ama”, segue o texto      os jovens a experimentar o fascínio do
teórica, reduzindo o amor a eros e o        da encíclica, “e este seu amor pode ser   outro sexo não como coisa turva, a ser
eros a libido, uma mera pulsão sexual       qualificado certamente como eros, que,    vivida às costas de Deus, mas, ao
que luta contra toda repressão e            no entanto, é também e totalmente         contrário, como um dom do Criador
inibição. É o estágio a que se reduz        ágape” (9).                               para a sua alegria, desde que vivido na
hoje o amor em muitas manifesta-                Entende-se o acolhimento              ordem querida por Ele. Na sua encíclica,
ções da vida e da cultura, princi-          insolitamente favorável que este          o papa acena ainda para esta função
palmente no mundo do espetáculo.            documento pontifício encontrou            positiva do eros sobre o amor humano
                                            mesmo nos ambientes leigos mais           quando fala do caminho de purificação
    RETORNO À SINTESE                       abertos e responsáveis. Dá esperança      do eros, que leva da atração
    Se não podemos mudar de uma vez         ao mundo. Corrige a imagem de uma         momentânea ao “para sempre” do
a ideia de amor que o mundo possui,         fé que toca o mundo em tangente,          matrimônio (4-5).
podemos, sim, corrigir a visão teológica,   sem penetrá-lo, com a imagem                 Mas o resgate do eros deve ajudar
que, sem querer, a favorece e legitima.     evangélica da levedura que faz a          também aos consagrados, homens e
É o que fez de maneira exemplar o Papa      massa fermentar; substitui a ideia de     mulheres. Eu acenei no início ao
Bento XVI com a encíclica Deus caritas      um reino de Deus que veio julgar o        perigo que as almas religiosas correm
est. Ele reafirma a síntese católica        mundo pela de um reino de Deus que        de um amor frio, que não desce da
tradicional expressando-a com os            veio salvar o mundo, começando            mente para o coração. Um sol de
termos modernos. “Eros e ágape”,            pelo eros que é a sua força               inver no, que ilumina, mas não
lemos ali, “amor ascendente e amor          dominante.                                aquece. Se eros significa ímpeto,
descendente, não se deixam jamais               O Novo Testamento evitou a palavra    desejo, atração, não devemos ter
separar de todo um do outro [...]. A fé     “eros” como o pregador de hoje evita      medo dos sentimentos, nem muito
reflexão
                l
          espiral                                                                                                                         13




menos desprezá-los e reprimi-los.              existe o Verbo feito carne, que reuniu          qualidades e atenções que um
Quando se trata do amor de Deus,               os dois extremos numa só pessoa. É              homem procura numa mulher e uma
escreveu Guilherme de Saint Thierry,           nele que o próprio amor ao próximo              mulher no homem. O amor dele não
o sentimento de afeto (affectio) é             encontra o seu fundamento: “Foi a               nos elimina necessariamente a
também graça; a natureza não pode              mim que o fizestes”.                            sedução das criaturas e, em parti-
infundir um sentimento assim [9].                  O que significa tudo isto pelo amor         cular, a atração do outro sexo (ela
    Os salmos estão cheios desse anseio        de Deus? Que o objeto primário no               faz parte da nossa natureza, que Ele
do coração por Deus: “A ti, Senhor, eu         nosso eros, da nossa busca, desejo,             criou e não quer destruir). Mas nos
elevo a minh’alma...”. “A minh’alma tem        atração, paixão, deve ser o Cristo. “Ao         dá a força para vencer essas atrações
sede de Deus, do Deus vivente”. “Preste        Salvador é pré-ordenado o amor                  com uma atração mais forte.
atenção”, diz o autor da Nuvem do não          humano desde o princípio, como ao seu           “Casto”, diz São João Clímaco, “é
conhecimento, “a este maravilhoso              modelo e fim, como uma urna tão                 quem afasta o eros com o Eros” [11].
trabalho da graça na tua alma. Ele não é       grande e tão ampla que pudesse acolher          Neste mundo, damos a Deus o que
senão impulso imprevisto, que surge sem        a Deus [...] O desejo da alma é                 recebemos dele. “Nós amamos porque
aviso e aponta diretamente para Deus,          unicamente de Cristo. Aqui é o lugar do         Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19). O
como uma centelha que se desencarcera          seu repouso, porque só Ele é o bem, a           amor que damos a Cristo é o seu próprio
do fogo... Golpeie essa nuvem do não           verdade e tudo quanto inspira amor”.            amor por nós, que devolvemos a Ele,
conhecimento com a flecha afiada do            Não quer dizer restringir o horizonte do        como o eco nos devolve a nossa voz.
desejo de amor e não esmoreça, ocorra          amor cristão de Deus a Cristo; quer                Onde está então a novidade e a
o que ocorrer” [10]. É suficiente, para        dizer amar a Deus do jeito que Ele quer         beleza deste amor que chamamos
tanto, um pensamento, um movimento             ser amado. “O Pai vos ama porque vós            eros? O eco reenvia para Deus o seu
do coração, uma jaculatória.                   me amais” (Jo 16, 27). Não se trata de          próprio amor, mas enriquecido,
    Deus deu-nos o próximo para                um amor quase por procuração, por               colorido e perfumado com a nossa
amarmos. “Ninguém jamais viu a                 meio do qual quem ama Jesus “é como             liberdade. E é tudo o que Ele quer.
Deus; se amarmos uns aos outros,               se” amasse o Pai. Não. Jesus é um               A nossa liberdade lhe paga tudo. E
Deus permanece em nós e o seu                  mediador imediato; amando a Ele,                não só isto, mas, coisa inaudita,
amor se tor na perfeito em nós.                amamos, ipso facto, o Pai. “Quem me             escreve Cabasilas, “recebendo de
Quem não ama o próprio irmão, a                vê, vê o Pai”; quem me ama, ama o Pai.          nós o dom do amor em troca de tudo
quem vê, não pode amar a Deus, a                   A beleza e a plenitude da vida              o que Ele nos deu, Ele ainda se
quem não vê” (1 Jo 4, 12-20). Mas              consagrada depende da qualidade do              reputa nosso devedor” [12]. A tese
devemos ficar atentos para não saltar          nosso amor por Cristo. É só o que               que contrapõe eros e ágape se baseia
uma fase decisiva: antes do irmão que          pode nos defender dos altos e baixos            em outra conhecida contraposição:
vemos, há outro que também vemos               do coração. Jesus é o homem                     a contraposição entre graça e
e tocamos: o Deus feito carne, Jesus           perfeito; nele se encontram, em grau            liberdade, e, mais ainda, na negação
Cristo! Entre Deus e o próximo                 infinitamente superior, todas aquelas           da liberdade no homem decaído.
   Notas: 1 Pseudo Dionísio Areopagita, Os nomes divinos, IV,12 (PG, 3, 709 em diante.)
    2 S. Agostinho, Confissões I, 1.
    3 Comentário ao evangelho de João, 26, 4-5.
    4 Cf. S. Bernardo, De diligendo Deo, IX,26 –X,27.
    5 S. Tomás de Aquino, Comentário à Carta aos Romanos, cap. V, liç.1, n. 392-293; cf. S. Agostinho, Comentário à Primeira Carta de João,
9, 9.
    6 K. Barth, Dogmática eclesial, IV, 2, 832-852.
    7 O sentido que os primeiros cristãos davam à palavra eros se deduz do famoso texto de S. Inácio de Antioquia, Carta aos Romanos, 7,2:
“O meu amor (eros) foi crucificado e não há em mim fogo de paixão…não me atraem o nutrir corrupção e os prazeres desta vida”. “O meu
eros” não indica aqui Jesus crucificado, mas “o amor de mim mesmo” , o apego aos prazeres terrenos, na linha do paulino “Fui crucificado com
Cristo, não sou mais eu que vivo” (Gal 2, 19 s.).
    8 Cf. G.W.H. Lampe, A Patristic Greek Lexicon, Oxford 1961, pp.550.
    9 Guilherme de St. Thierry, Meditações, XII, 29 (SCh 324, p. 210).
    10 Anônimo, A nuvem do nao conhecimento, trad. Italiana, Ed. Áncora, Milão, 1981, pp. 136.140.
    11 S. João Clímaco, A escada do paraíso, XV,98 (PG 88,880).
    12 N. Cabasilas, Vida em Cristo, VI, 4 .Santo - diz o texto do Concílio Vaticano II - de um modo conhecido por Deus, dá a todos a
oportunidade de estar associados ao mistério pascal” [3].
fraternitas
                                                                                                        fraternit
                                                                                                           ternitas
14                                                                                                                                         espiral




     «A Fraternitas deve-lhe imenso»
«Sempre admirei nele o enorme rigor                   decidiu chamar ao nosso grupo                     demonstrando um grande Amor à
    e a total dedicação com que                       Fraternitas, foi esboçado pelo Alberto            Igreja e uma profunda vivência de Fé, e
 desempenhava as suas funções, e                      Videira o logotipo, e se decidiu que              desde logo comecei a simpatizar com
   ao mesmo tempo a sua grande                        desejávamos ser Movimento e não mera              ele. Pareceu-me um homem
   dimensão como pessoa, como                         Associação.                                       extremamente calmo, muitíssimo
 marido e pai, e como membro ativo                        O Luís Gouveia, quando chegou a               organizado em tudo, meticuloso até ao
   da Igreja local», partilha Vasco                   sua vez de partilhar, deu-nos um belo             mais pequeno pormenor, possuidor de
 Fernandes, num testemunho sobre                      testemunho de vida, muito construtivo,            grandes qualidades humanas e de uma
Luís António Gouveia, que faleceu a                                                                     simpatia contagiante. Como o retiro não
         6 de Junho transato.                                                                           era em silêncio, tivemos oportunidade
                                                                                                        de conversar entre todos, quer nas
                        Vasc o
                         asco      Fer n andes
                                   Fern
                                                                                                        refeições quer nos corredores, e tanto
    Conheci o Luís António Gouveia, e                                                                   ele como a Maria do Carmo ficaram
a sua mulher Maria do Carmo, claro está,                                                                desde logo nossos amigos.
naquele já longínquo mês de abril de                                                                        Já nos tínhamos encontrado em
1997, no terceiro encontro de pdres                                                                     grupo com outros padres dispensados
casados e suas mulheres, orientado pelo                                                                 do ministério, no primeiro retiro
então bispo de Beja, D. Manuel Falcão,                                                                  realizado em Fátima, em agosto de 1996,
na Casa de N.ª Sr.ª do Carmo, em                                                                        a convite do P.e Filipe de Figueiredo, de
Fátima.                                                                                                 Évora. Aquele fora um desafio que nos
    O grupo era muito reduzido, porque                                                                  motivou e, por isso, voltámos.
a escolha da data não fora a melhor, e                                                                      Sucederam-se muitos outros
curiosamente foi nesse encontro que se                                                                  encontros, quer no Porto, a nível mais

                                                                                                        «Continuará a encher de luz
       Última carta do                                continuar a andar.
                                                           E muito feliz estou, por saber que mais             e de encanto»
          Luís Gouveia                                um Bispo orienta o XVIII Encontro Nacional
                                                      – o D. Gilberto – Bispo de Setúbal, um dos
                                                                                                            No dia 6 de julho, nasceu para o Céu
                                                                                                        a Maria Lúcia Guedes da Costa Valente,
              Ermesinde, 15 de abril de 2011          “ESTAGIÁRIOS” na nossa Diocese do                 esposa de Dr. Francisco Carlos Martins
         «(…) Juntamente com o «Espiral»–             Porto, e com a eleição de Corpos Gerentes para    Valente.
     ansioso por o receber e tão completo, desde o    o triénio de 2011 a 2013.                             A Maria Lúcia tinha sido operada aos
     Editorial do nosso Presidente (…), com os             Sumamente ainda estarei muito mais           15 anos a um pulmão que mais tarde
     diversos e distintos colaboradores, até à        satisfeito, (…), e quem sabe um dia as mulheres   foi retirado. Sofria de problemas cárdio-
     resenha literária (…) sobre os livros dos        serem admitidas ao Sacerdócio Ministerial         respiratórios, usando um aparelho para
     nossos associados, recebi o convite para o       (porventura a Virgem Maria – Nossa                a oxigenação....
     Encontro Nacional (…).                           Senhora não foi uma delas?) na Igreja                 Tinha 78 anos. Nasceu na freguesia
         Mui tristemente por não poder participar,    Católica, como já acontece em algumas das         do Barqueiro, Mesão Frio, a mesma do
     visto estar a ser operado na substituição de     Igrejas Cristãs.                                  nascimento e ordenação do marido.
     revisão à prótese da anca esquerda no                 (…)                                              Ao Francisco e aos três filhos do casal
     Hospital da Arrábida em Vila Nova de                  Transmita a todos os participantes as        – Francisco, Domingos e Graça –
     Gaia, no dia 18 de abril, com a estabilização    preocupações do 1º Tesoureiro da nossa            endereçamos as sentidas condolências,
     de não poder andar em transportes públicos       Associação,            para       que         a   e as palavras de Luís Gonzaga:
     durante dois meses, e três meses sem conduzir.   “FRATERNITAS” se tor ne um                            «Só morre quem renuncia a Vida. A
         Por outro lado, estou contente por me        Movimento providencial no futuro da Igreja        Maria Lúcia Viveu, Vive e Viverá.
     aliviarem o sofrimento em que me encontro,       Católica.                                         Continuará a encher de luz e de encanto
     com o joelho esquerdo sempre dorido e já com          De mim próprio e da minha esposa Maria       cada espaço por ela calcorreado. Ela
     queixas da perna direita (tornozelo),            do Carmo (…), um ABRAÇO retributivo               continuará bem presente no coração do
     valendo-me do apoio duma bengala para            mui fraternal.                                    seu marido, filhos e amigos.»
fraternitas
                                                                                        fraternit
                                                                                           ternitas
                l
          espiral                                                                                                                 15



regional, quer em Fátima, a nível nacional.    estimávamos muito, mas sobretudo                 programa
Mais tarde, na formação da primeira            aqueles que com ele trabalharam de              ENCONTRO
Direção, presidida pelo João Evangelista       perto na criação e consolidação da
Simão, o Luís Gouveia foi convidado e          Fraternitas.                                    NACIONAL
aceitou generosamente ser o tesoureiro             Uma das belas recordações que             Fátima - Seminário do Verbo
do Movimento. Não vou aqui fazer a             dele guardo é de quando o fui buscar           Divino (Rotunda Norte)
história do desenvolvimento desse grupo,       a Ermesinde para o funeral, em              Tema: Mulheres no mundo e na
nem dos passos que levaram a que se            Felgueiras, do nosso querido colega       Igreja: o que mudou? O que falta
constituísse em “Movimento” formal,            e sócio da Fraternitas Domingos                        mudar?
que mais tarde – em maio de 2000 –             Moreira, já há um par de anos. Nessa
seria aprovado pela Conferência                viagem tive a oportunidade de sentir,            Dia 30 de setembro (6.ª-feira)
Episcopal Portuguesa.                          mais uma vez, como ele era por              20h00 – Jantar, antecedido de
    Mas o facto da minha mulher – Isabel       dentro, tão enriquecedor e tão           acolhimento
– ser a secretária e o Luís Gouveia o          profundo. E não posso esquecer que,         21h15 – Informações.
tesoureiro, da primeira Direção,               ao chegar a casa dele, fez questão de       Diálogo sobre a(s) vida(s) na Fraternitas
naturalmente que nos aproximou e, por          me pedir para aguardar um instante,         22h00 – Descanso
isso, contactámos muito mais vezes do          para que pudesse ir buscar ao seu
que com a maioria de outros casais             apartamento a neta que ele adorava,               Dia 1 de outubro (sábado)
elementos da Fraternitas, visitámo-nos         porque queria que ela me conhecesse         8h30 – Pequeno-almoço
mutuamente e conhecemo-nos muito               e eu a ela. Foi enternecedor e              9h00 – Laudes. Exposição do
melhor.                                        comovente e uma prova da especial        Santíssimo
    Sempre admirei nele o enorme rigor         amizade que me dedicava. Nunca              10h15 – Encontro
e a total dedicação com que                    esquecerei esse detalhe.                    13h00 – Almoço
desempenhava as suas funções, e ao                 Nas últimas semanas em que              15h15 – Encontro
mesmo tempo a sua grande dimensão              esteve em coma induzido no Hospital         19h30 – Vésperas
como pessoa, como marido e pai, e              de S. João, e dado que faço lá duas         20h00 – Jantar
como membro ativo da Igreja local.             manhãs semanais de voluntariado,            21h15 – Tertúlia fraternal
    Quando, por motivos de saúde, teve         procurei ir sempre saber em
que ser substituído na estrutura de uma        pormenor notícias dele ao serviço               Dia 2 de outubro (domingo)
nova Direção da Fraternitas, nem por isso      especializado em que estava internado,      8h30 – Pequeno-almoço
deixou nunca de estar disponível para          e foi precisamente falando com uma          9h00 – Laudes
tudo aquilo em que pudesse colaborar.          das enfermeiras no sábado de manhã          9h45– ASSEMBLEIA GERAL
E como pessoa muito meticulosa,                a seguir ao seu falecimento, que soube      12h00 – Eucaristia, com ensaio prévio
anotava tudo quanto considerava                que o Pai o tinha finalmente chamado        13h00 – Almoço
importante e tornava-se por isso a nossa       para o grande e eterno Abraço.
melhor “memória” para todos os                     No meu coração, na minha
pormenores da evolução do Movimento            memória, e na minha amizade sincera,            ASSEMBLEIA
em todas as suas fases.                        o Luís Gouveia continuará sempre
    Infelizmente, as frequentes                vivo, e procurarei fazer sentir isto               GERAL
intervenções cirúrgicas a que teve de se
submeter, privaram-nos muitas vezes de
                                               mesmo à sua querida Maria do
                                               Carmo, e aos seus filhos e neta.
                                                                                              extraordinária
conviver com ele em encontros e retiros,           Tive a felicidade de poder                 A realizar no dia 2 de outubro de
quer a nível regional quer a nível nacional.   acompanhar o seu corpo já depois           2011 (domingo), pelas 9h45, no
Mas nunca foi por comodismo ou                 da chegada junto de Deus, e de cantar      Seminário do Verbo Divino, em
menos vontade de estar presente, e             no pequeno coro improvisado na             Fátima, com a seguinte ordem de
sempre nos fez saber quão dolorosas            Missa de Corpo Presente na Paróquia        trabalhos: 1 – Apreciação e votação da
eram essas suas ausências. Quando estava       de Ermesinde.                              acta da última reunião.
um pouco melhor e se conseguia                     A Fraternitas deve-lhe imenso, e           2 – Informações.
locomover, mesmo com dores e esforço,          cada um de nós só pode dar graças a            3 – Discução e deliberação quanto
aproveitava para nos acompanhar nas            Deus por ter conhecido e convivido         à viabilidade da abertura da Fraternitas
atividades que fazíamos, sempre com o          com esta pessoa extraordinária ao          a consagradas e consagrados não
mesmo espírito construtivo e animador          longo destes últimos anos.                 ordenados.
que lhe era característico. Todos o                Até sempre, Luís!                          4 – Outros assuntos.
| P.Ta Malmequeres, 4 - 3.º Esq | 2745-816
                      Pequenos dilúvios
               não são um
             Senhor,       está
                                                                 dilúvio
                                                         teus filhos            Tu
            Senhor, quem es tá a falar contigo é um dos teus f ilhos pecadores. Tu sabes quem é.
     Peço-Te que me dês atenção por um momento. O título des ta car ta pode ser uma per gunta. E posso
     Peço-T               atenção         momento.          desta carta                pergunta.
     expressá-la de outro modo: as semelhanças de pequenos dilúvios não são sinal ou prenúncio de um
                              verdadeiro dilúvio para os nossos dias, pois não?              Silv Pinto
                                                                                        José Silva Pinto

   Senhor, temos presente na memória e no coração, na fé,        o imundo. Tu criaste-o para nós, e nós estamos a torná-lo
esperança e caridade, os que Te levaram, outrora, a fazer        inabitável, cheio de ódios, invejas, rancores, homicídios…




                                                                                                                                      P.Ta
chover uma massa de enxofre sobre as cidades de Sodoma e
Gomorra e, semelhantemente, a ameaçar Níneve. E, como o              Mas Tu, Senhor, atendendo à desmedida dedicação dos
teu povo continuava a prevaricar, esquecendo-Te e à tua          teus amigos benditos do Pai não vais enviar-nos nenhum
vontade, cada vez pior no modo e na extensão. Tu julgaste –      dilúvio nos nossos tempos, pois não?




                                                                                                                                    Boletim de Fraternitas Movimento | Trimestral | Redacção: Fernando Félix
e bem – para que a raça humana não se extinguisse de vez –           Atendendo ao sofrimento da tua Igreja por causa da falta
segundo os teus divinos desígnios – fizeste que se produzisse    de sacerdotes e pelos casos de pedofilia, não vais enviar-nos
um dilúvio (de água) por toda a Terra então habitada.,           nenhum dilúvio nos nossos tempos, pois não?
salvando-se, apenas, a família de Noé e os animais que               Atendendo aos trabalhos insanos de tantos missionários,
serviriam para o seu alimento e perpetuação na Terra, após o     não vais enviar-nos nenhum dilúvio nos nossos tempos, pois
término do dilúvio. Imaginamos quanto isto Te custou             não?
(olhando à nossa maneira                                                                                  Atendendo          aos
humana), porque Tu, na tua                                                                            milhares de sacrários
omnipotência e no teu                                                                                 abertos 24 horas por
amor infinito, achaste, por                                                                           dia, onde és adorado e
bem, conservar a “primeira                                                                            desagravado, não vais
raça humana” a criar outra.                                                                           enviar-nos nenhum
                                                                                                      dilúvio nos nossos
   Vemos, ouvimos e                                                                                   tempos, pois não?
lemos que esta humanidade                                                                                 Atendendo            à
atual começa a esquecer-se,                                                                           inocência de tantas
novamente, de Ti e do                                                                                 crianças, adolescentes,




                                                                                                                                    QUELUZ | E-mail: fernfelix@gmail.com
cumprimento da tua divina                                                                             jovens, adultos e casais
vontade, embora, talvez, a                                                                            exemplares, não vais
um nível ainda não tão                                                                                enviar-nos nenhum
degradado.                                                                                            dilúvio nos nossos
                                                                                                      tempos, pois não?
    O meu cérebro pensa e                                                                                 Atendendo          aos
as três virtudes cardiais                                                                             milhões de filhas e filhos
sentem que Tu, na tua infinita misericórdia, já tens permitido   teus que se dedicam aos apostolado para estender o teu Reino
o aparecimento de pequenos sinais, para que a humanidade         por todo o mundo, na fé, esperança e amor, abandonando o
pense e repense alguns caminhos que está ou não a trilhar,       seu bem-estar terreno e sacrificando a maior parte das suas
para que recue nos errados e avance nos certos. Depois,          vidas, não vais enviar-nos nenhum dilúvio nos nossos tempos,
aparecem as guerras, as guerrilhas, com todo o cortejo de        pois não?
milhares de mortos, fome, novas doenças e epidemias… E
estas más vontades influenciam a Natureza. Então, lá está ela        Obrigado, Senhor! Aqui está de novo o teu filho pecador
a enviar tsunamis, terramotos, vulcões, tornados, vendavais,     a agradecer a tua mais que provada benevolência, porque são
chuvas diluvianas, que levam todo o bem que Tu, criador,         muitos milhões os teus filhos por quem destes o vosso Corpo
espalhaste e que o homem bom tem aperfeiçoado,                   e Sangue, no Calvário, e tu lembrar-te-ás das palavras que
completado, desenvolvido; caem os aviões, afundam-se os          disseste a Santa Mónica a respeito da conversão de Agostinho,
submarinos, o povo vive inseguro, cheio de medos,                filho dela: “Não podem perder-se tantos(as) filhos(as) por
                                                                                                                                   espi ral




demasiadamente stressado. Habitamos num mundo impuro             quem dei o meu corpo e sangue e continuam a recebê-los,
que Tu criastes bom e puro. Tu criastes o mundo; nós criamos     todos os dias, na celebração da Eucaristia.»

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  • 1. espiral da ANO xiI fraternitas moviment - ternit N.º vimento boletim da associação fraternitas movimento N.º 44 JULHO/SETEMBRO - JULHO/SETEMBRO de 2011 A cor agem do AMOR fERNANDO fÉLIX N ascida do coração de Deus, a Igreja existe para o amor. O concílio Vaticano II, no documento do inquietado, de onde retiro uma frase: «Tu (Deus) criastes o mundo, nós criamos o imundo.». sobre a Igreja, Lumen Gentium, logo no número 1, diz que a Igreja é instrumento de Deus para a união de todos com Ele e de todos entre si. Igreja existe para que possamos amar a A Fraternitas é uma presença profética de como é possível harmonizar o Eros com o Ágape. E não só a Fraternitas, mas todos os crentes e todas as associações e Deus e nos possamos amar uns aos outros. É por isso que ela todos os movimentos cristãos que dão testemunho prático se alegra com todas as tradições e leis que estreitam os laços de como não se pode amar a Deus que não se ê se não se sociais, religiosos, políticos e culturais entre todas as pessoas, ama o próximo que se vê. pois assim se alcança a plena unidade com Jesus Cristo. P or sua vez, se uma tradição ou lei não servir o estreitamento dos laços pelo amor, deve ser abolida. S omos famílias cristãs, modelo para os jovens e as outras famílias. Anunciamos com a nossa vida o que significa “ser uma só carne”, isto é, ser íntimos ao ponto E isto tanto na sociedade como, em particular, na Igreja. de deixar tudo e estar disposto a morrer pelo outro. Ser uma Concretamente, se organização da Igreja não levar ao estreitar só carne é amar, e amar é rir com quem ri, chorar com quem dos laços, à comunhão – feita de iguais direitos e deveres chora, andar com quem caminha, parar com quem descansa, diferentes – toda a estrutura de carismas e ministérios, acabaria sonhar com quem sonha, viver consciente e voluntariamente por ser inútil e até prejudicial. a intimidade com quem se nos dá totalmente. A sociedade, hoje, não gosta de Deus e, por isso, não gosta dos cristãos. Mas, nos países ocidentais, a Igreja e o Cristianismo também perdem força profética, porque os cristãos adaptam-se em demasia ao modo de vida liberal. Não são corajosos. Falta-lhes seguir a Jesus Cristo com a radicalidade dos mártires. Vegetam no vazio espiritual. F elizmente, também há crentes enérgicos que atraem multidões. E isso nota-se quando o mundo propõe o individualismo, e os crentes propõem a comunidade, quando a sociedade impõe o consumismo, e os crentes propõem a partilha, quando o ruído social apregoa a indiferença, e a Igreja propõe o amor, quando os valores do mundo dizem que as N este boletim reflete-se sobre a crise e a falta de esperança, que exigem o vigor da fé. Fala-se de “Nova Evangelização”, para dizer que nós é que precisamos adversidades conduzem ao desalento e então é preciso destruir o que incomoda, os crentes dizem-se gratos e fortalecidos pela esperança de um presente e futuro melhores. Sim, com de mudar e não o Evangelho. Não pode acontecer na Igreja Jesus Cristo ganhamos confiança e sabemos que poderemos o que existe no desporto: quando se procura que os jogadores chegar a fazer aquilo de que já tínhamos desistido. mudem de atitude e a equipa renda mais, dá-se uma chicotada psicológica, ou seja, despede-se o treinador! E fala-se daquele amor que os pensadores recortaram em três definições: eros, filia e ágape. Eros é o amor carnal; filia é o amor de amizade O Encontro Nacional, em Fátima, de 30 de setembro a 2 de outubro, vai implicar muita coragem. A coragem do amor, pois coragem é o amor em ação. Vamos e ágape é o amor divino, o amor em estado puro. E os falar de “Mulheres no mundo e na Igreja. O que foi feito? O extremos tornaram-se inconciliáveis com o tempo, mas podem que falta fazer?” E vamos discutir se a Fraternitas pode ou ser reharmonizados. Termina o «Espiral» com um texto não abrir-se a consagradas e consagrados não ordenados desvinculados dos seus votos. Que o Espírito nos ilumine!
  • 2. documento 2 espiral Livros de associados da Fraternitas editados em 2006 e 2008 Pelos meandros da produção literária No Espiral número 42 – janeiro/ Em 2008 Jesus – «Ad Jesum per Mariam» a – (…): março de 2011 – estão anuncia- “ALGUMAS REFLEXÕES A o grande desconhecido dos fiéis cristãos dos os livros dos associados edi- PROPÓSITO DAS «APARIÇÕES» continua sendo a pessoa adorável de tados em 2009 e 2010, um EM LOURDES. Algumas Reflexões Jesus de Nazaré. (…) Não há dúvida de biénio muito profícuo, tendo por nos 125 anos de culto a Nossa Senhora que estamos em tempo de crise e com base os dados de que o secretari- de Lurdes nas Lajes do Pico e nos 150 necessidade de mudança. (…) E na sua ado dispõe. prosseguir, agora, Vamos prosseguir, agor a, com um anos do seu aparecimento a Bernardette Mensagem de Páscoa, o nosso bispo, D. triénio. E solicitam-se dados rela- Soubirous”, Artur Cunha de Oliveira António de Sousa Braga, teve a clarivi- tivamente a quaisquer livros pu- (Angra do Heroísmo, 2008), composi- dência e a fortaleza de afirmar: blicados, prevendo o próximo arti- ção e revisão da esposa, Antonieta Lo- «Nós cristãos deveríamos estar go sobre o período 2003-2005. pes Oliveira, edição do autor, [em for- mentalizados e preparados para as mu- Parabéns aos autores, e que Deus mato 17 cm/11.5 cm, 82 páginas]. danças necessárias na sociedade em que Trino louvado! Uno e Trino seja louv ado! Em Nota Explicativa, na página 3: vivemos e também na Igreja a que per- Se puderem, levem os vossos li- “É este o texto da conferência que pre- tencemos […] Qual fermento quer fer- vros e outras obras para os En- parei em resposta ao honroso convite menta a massa, a vida cristã é uma ca- contros Nacionais!... do vigário da Matriz da Santíssima Trin- minhada permanente de conversão e, Urtélia Silva Urtélia Silv dade da nobre Vila das Lajes do Pico, portanto de mudança (o sublinhado é reverendo padre Rui Silva, para com ela meu), também na forma histórica de participar na preparação da solene festa presença no mundo» (…).” em honra de Nossa Senhora de Lourdes (…). Em vez de acender mais uma “HISTORIAL DOS ARRUAMEN- consumptiva vela no altar da tradicional TOS DA VILA DE LAVRA”, e popular devoção (…), optei por Boaventura Santos Silveira (Lavra, 2008), reflectir um pouco sobre a atual situação [em formato A4, com 546 páginas]. de crise que já se verifica e avulta na Igreja Na Introdução: "Existem, no per- Católica e no Cristianismo (…).” curso das nossas vidas, pessoas e factos Em Conclusão, nas páginas 76-79: que nos marcam e lembram o que de “A partir de 1891 até bem uma deze- mais importante e profundo subsiste no na de anos depois da implantação da nosso íntimo, quase nos ‘tatuando? a República em Portugal, não passou alma, a partir do momento em que vi- ano em que não houvesse numa qual- vemos a oportunidade e/ou felicidade Deste triénio, em 2008, recebemos quer ilha dos Açores a inauguração de de os encontrar e perscrutar. Ficarão in- o número duplo 31-32 da revista Refle- templo, ermida ou capela em honra e crustados no nosso ser, quais pedras xão Cristã, propriedade e edição do louvor de Nossa Senhora de Lurdes, graníticas, belas e imutáveis, fortes e só C.R.C. (Centro de Reflexão Cristã), a nem fosse trazida para um altar de lidas, como devem ser os pilares da exis- cuja Direção pertencia à data o associa- igreja, ermida e capela não dedicada tência de cada um de nós. do n.º 33, Carlos Leonel Pereira dos a Nossa Senhora de Lurdes a sua "Mutatis mutandis", isto é, mudan- Santos, que saudosamente partiu em 16 veneranda imagem. (…) E que efei- do o que deve ser mudado, igualmente de outubro desse mesmo ano. A ele se tos resultaram dessa devoção e culto? os topónimos e antropónimos dos refere outro membro da Direção, Gui- Não é possível sabê-lo. Tudo per- arruamentos da vila de Lavra nos re- lherme de Oliveira Martins, na página manece no recôndito das consciências e cordam atos e factos passados ou pes- 11 desse mesmo número: “ (…) E não no mistério que é Deus. (…) Ademais, e soas que nos precederam." esquecendo a sua entrega à causa do li- contrariamente ao que teológica e pas- Do vereador do Pelouro da Cultura vro cristão, como semente no mundo toralmente devia ser a devoção e o cul- da Câmara Municipal de Matosinhos: contemporâneo. (…)” to a Maria de Nazaré, Mãe do Senhor "Com este livro, Boaventura Silveira
  • 3. documento l espiral 3 volta a surpreender-nos. Depois do Prefácio de D. Manuel Martins, bis- lido a capela que tínhamos, para cons- exaustivo ensaio "PESSOAS DE LA- po emérito de Setúbal: "Quando Pio XII truir outra nova. (…) Vi-me assim obri- VRA" em dois volumes, o autor regres- proclamou o nosso Santo António Dou- gado a escrever este livro, ao ritmo do sa com mais um estudo aprofundado tor da Igreja, anunciou-o ao mundo com andamento dos processos (ao longo de sobre esta freguesia do concelho. Desta uma carta que começava assim: "Exulta, cinco anos). (…).” feita, sobre a origem e explicação das ó Portugal Feliz". Quando faço voltar Do III, “Monfebres quer capela designações das múltiplas artérias viári- às minhas mãos o pri- as de Lavra. Da enigmática e antiquíssi- meiro volume de ma designação da "minha" Rua dos Pessoas de Lavra" e ago- Imbelos até ao incontornável José Do- ra me vejo perante um mingues dos Santos, são um sem-nú- segundo, apetece-me, mero de interessantíssimas e úteis infor- mas a sério, servir-me mações que fazem, afinal, a História. das palavras do grande (...)”. Pontífice, para exclamar: "Exulta, ó Lavra Feliz". Em 2007 É que é mesmo caso para Nada consta no secretariado. isso. (...) São as pessoas que fazem a terra, que Em 2006 dão alma e identidade à "PESSOAS DE LAVRA" (2.º volu- terra, que permitem que me), Boaventura Santos Silveira (Lavra, a terra não perca a 2006), [em formato A4, com 572 pági- memória. Está infelizmente em voga a nova”, páginas 87,89,92: nas]. (Nota: O 1.º volume. foi publica- terrível doença de Alzheimer, que tem “(…) Foi assim que a “11/04/99, do em 1996). como primeiro sintoma e mais sentido (…) celebrava a primeira missa na nova agravo a perda de memória. À medida capela (…)A celebração litúrgica (…) foi que vamos perdendo memória, vamos animada com cânticos e com este também perdendo consciência de nós. ofertório solene: Esta doença não atinge, não atingirá, “Trazemos ao teu altar sobretudo pela sorte que Deus lhe con- P´ra Vós, Senhora das Neves, cedeu na pessoa de seu ilustre filho Dr. Na luz pura desta vela Boaventura Silveira, que apreende, sen- Padroeira e Mãe tão boa, te, comunga e transmite, com mãos de A Fé viva de Monfebres mestre, a vida da sua terra.(...)”. Já que sois nossa Rainha Que Te ergueu esta capela. Na Introdução: "Nós temos a dita “ MEMÓRIAS DE UMA CAPE- (…) de Lavra se situar na orla marítima. E LA – O Poder da Baixa Política e a For- Trazemos mais esta coroa.” um dos "frutos" do mar são os búzios, ça Instável do Povo Simples”, Rogério Em Conclusão, nas páginas 142 e que todos conhecem, e, com certeza, Morais Teixeira (Murça, 2006), edição 143: “ (…) Só muito mais tarde, e de- muitos, ciosamente, os guardam como do autor [formato A5, 150 páginas]. pois de muito rogada, é que a diocese objetos de adorno. Ora, se aplicarmos Em Nota Prévia, nas páginas 5e 6: “ se pronunciou sobre o processo judicial um deles, na sua parte mais bojuda e Sendo a construção de uma capela acon- que nos tinham levantado, e em cuja ori- aberta, junto do nosso ouvido, escuta- tecimento digno de celebração e de re- gem tinha estado a própria diocese. (…) remos algo de verdadeiramente surpre- gisto na história de qualquer aldeia, (…) O depoimento chegou tão tarde que endente e maravilhoso: de dentro dele mais que recordar, nos farão reviver a nem o apresentámos para defesa. (…) ressoa o murmúrio cavo e confuso de justa alegria que, (…), sentimos na festa O prelado, que nos dera luz verde para todas as "vozes" do mar, do seu maru- de inauguração [da Capela de avançar, em vez de nos defender, rea- lhar profundo e contínuo. (...) Oxalá este Monfebres, paróquia de Candedo, con- gindo prontamente, deixou que o toiro livro desempenhe, junto de cada leitor, celho de Murça]. (…) Só que, vivendo investisse contra nós e nos ferisse grave- a função do búzio: este lembra o mar, nós ainda um clima de justificado orgu- mente, só nos vindo acudir, quando nós, onde teve origem; "PESSOAS DE LA- lho, (…) eis que somos surpreendidos por nosso próprio pé e a sangrar, saí- VRA" oxalá relembre e fortaleça a esti- (…) por uma ação judicial que nos acu- mos já da arena. Mas antes tarde que ma pelo rico património humano que sava de ter praticado «um ato de nunca. Por isso, mesmo assim, apraz-nos nos legaram os nossos antepassados. (...)” selvajaria criminoso» por termos demo- agradecer (…).”
  • 4. opinião 4 espiral Porquê? problemas da vida ausentes. A Fé não ilumina a vida. Os problemas que nos afetam passam ao largo. Fala-se do gestos A Fé descarnada não ilumina, não ajuda nem leva à transformação. Não interpreta. homem, mas do ‘anjo’. A Fé não ilumina, não ajuda nem leva à transformação. Não interpreta. Fé desencarnada. pessoais A crise que nos afeta não é maldição de Deus. Não é praga Todos os dias nós acordamos com contra o homem. Não é uma notícias perturbadoras (…). fatalidade. É consequência da Queremos dar algumas pistas para ação do homem, da sua ajudar as comunidades que servimos e ambição, da sede do domínio, da para que alentem a esperança de todos sofreguidão do capital. Toda a perante um futuro fortemente gente sabe disso! Mas é preciso angustiante. (…) Deus ouviu o clamor alertar. Criar consciência. Vencer do povo oprimido no Egito e nunca a crise com determinação, foi indiferente ao sofrimento dos pobres. vontade, certeza de que a força do nosso Deus está com os pobres, os marginalizados, os A política não me seduz. sem teto, os desempregados, os Desinteressei-me! Debates no velhos… Do outro lado, os lucros Parlamento, que resolvem? Os desmedidos de empresas, os salários e compadrios e oportunismos de comissões chorudas dos ‘protegidos’. deputados e secretários? A E a Igreja? O arcebispo de Braga permissividade de ministros? O apelou à solidariedade dos padres. O P.e vedetismo? Decerto, tudo isto ou um Mourujão chamou a atenção do novo pouco de cada coisa. Governo para a situação dos pobres… Na campanha eleitoral, fui a um Não basta. A caridade não substitui a 1. Combater a ignorância comício! Para ver… Pensei nas justiça. E é de justiça que se trata. Melhor: indesculpável como um serviço à rivalidades partidárias, na falta de ideias, a justiça é a caridade no mais alto grau. verdade que liberta. na ausência de debates dos problemas Justiça e caridade identificam-se. A cada (…) Reconhecemos que temos vivido que nos afligem… «Muita parra… Uma um o que é devido. O direito dos pobres: acima das nossas possibilidades. (…) O noite para esquecer!», pensava. A escola, a dignidade. trabalho deve estar sempre acima do edifícios, sistema, professores e a sua Interrogo-me. Maria ouve Jesus: capital. O trabalho não é um meio de avaliação, dotação, depois os tribunais e “Escolheu a melhor parte”. Seria o novo produção ou mais um recurso; nele está questões de justiça. Os problemas com Reino que Jesus anuncia já presente? em jogo a dignidade da pessoa. os operários, ordenados em atraso Precisamos de profetas que anunciem, Causa-nos perplexidade o modo (milhões de euros!), retenção de testemunhem pela palavra e pelo como os lucros são privatizados, e ordenados, desrespeito pelas categorias exemplo este Reino de verdade, justiça, socializados prejuízos, em parte, profissionais, violência sobre amor. A liturgia, sacramentos são uma branqueados com o dinheiro público. trabalhadores, exploração nos horários, parte deste Reino, mas é a vida, a palavra, os recibos verdes, desvio nos descontos, despedimentos, falências fraudulentas, o o exemplo, que fazem de nós testemunhas verdadeiras. 2. Devemos tomar partido pelas desemprego, o aproveitamento da crise, Na Igreja sou caput minor. Devo vítimas da crise. A solidariedade é uma corrupção… os juros, as execuções manter-me em silêncio. Somos laicos. O virtude essencial para tanto elevar a hipotecárias, o domínio do capital… a leigo deve ouvir com atenção! Não estará moral numa sociedade individualista e desumanidade que se vive. neste procedimento pastoral a razão de materialista, como para garantir a Vi-me confrontado com a Fé. abandono de tantos cristãos? Decerto sobrevivência das suas vítimas. Tomar Nas celebrações da Fé, raramente não será fácil encontrar as causas. O que partido supõe que nem tudo vale e não aparecem estes problemas. Ninguém se não nos satisfaz são as soluções até agora podemos manter atitudes que nos questiona. Fazem-se as leituras que a encontradas ou sugeridas. tornem menos credíveis, ou seja, fazer liturgia prevê. Faz-se a homilia, com os um pacto com as grandes empresas que Joa q uim Soares Joa Soares
  • 5. opinião l espiral 5 contra a Eu creio, Senhor! crise «Eu creio, Senhor, aumenta a minha fé!» (Mc 9, 24) económica Há quarenta e dois anos, fui apresentado ao meu bispo para ser Fórum «Curas Madrid» / Adital Fórum Adital ordenado sacerdote. Aceitei-o com liberdade e responsabilidade. Os tempos «As alegrias e as esperanças, as tristezas e não eram fáceis. O Vaticano II, encerrado as angústias dos homens de nosso tempo, havia pouco tempo, ainda estava vivo. sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, Na nossa memória o bom papa João, são por sua vez as alegrias e esperanças, tristezas ‘jovem’, estimulava a uma ação e angústias dos discípulos de Cristo» (GS 1). comprometida, honesta, que se abria ao Esperança! Não me angustio. A diálogo. O Espírito vivo animava a Deus pertencem os tempos e o universo. Igreja, impelindo-a para caminhos Deus tira proveito do erro ou das financiam os nossos eventos e, novos. Autêntico Pentecostes! limitações dos homens. E a intenção, a necessariamente, baixar o tom das E seguimos em frente! Servi com vontade manifesta, a disponibilidade críticas, aceitando o dito: “Não podes entusiasmo e alegria. Enfrentámos com total, satisfazem plenamente e morder a mão que te alimenta.” determinação o imobilismo paralisante compensam as outras falhas dos Austeridade, comunhão de bens, – atrofiante. Superámos dificuldades, homens. Deus não está limitado pela consumo responsável, o uso da banca choques… apostámos numa linha de capacidade, iluminada ou mesquinha, ética, apoio material, apoio emocional e futuro, apoiados em Jesus Cristo, num dos decisores. espiritual para com os desempregados, diálogo aberto, perseverante. Crescemos Amigo, não vejas nestas minhas a oferta de espaços e momentos para na Fé! Alterar mentalidades não é fácil, palavras um apelo ao conformismo, à encontros, para a festa, para a escuta da remover convicções ancestrais, marcadas aceitação passiva daquilo que nos parece Palavra de Deus que sustenta a esperança, pela burocracia, pela religiosidade – contrariar os mais altos desígnios de para a celebração da vida animada pelo imobilizadora… Foi o nosso percurso Deus. Sempre: um não rotundo à Espírito, são algumas ações que eclesial! rebelião! Mas nunca cruzar os braços e podemos, baseados na justiça social e Novos caminhos se abriram. Em deixarmo-nos ir… Não! No tempo de na Doutrina Social da Igreja. 1978, reiniciei a caminhada, partilhando Pio XII, ninguém esperava o Vaticano a vida, em rumos novos, de aventura e II. Aconteceu. Uma surpresa! Alguém 3. Mostrar o rosto de uma Igreja realização humana e sacerdotal, com a tinha esperança e mantinha a vela acesa Samaritana e amável, mas inflexível com companheira de todos os dias. para uma Igreja renovada: ‘serva e a injustiça. Queremos ser uma igreja que Sonhámos. Era possível continuar com pobre’. Não esperou em vão! Diante conforta, que dá esperança e que os compromissos anterior mente dos olhos o exemplo de Maria: sempre denuncia a injustiça. assumidos? É a questão. Os homens, presente, na discrição. Para isso, fazemos do sofrimento do ainda que com boas intenções, traçam Novos apelos do Espírito. Saber nosso próximo algo que nos caminhos difíceis. Ai! A coerência… esperar! O caminho será longo. Não desassossega e nos ocupa, tema das A Igreja condiciona, em nome de perscrutemos os tempos, nem nossas reflexões, da nossa oração (…). valores mais altos, o exercício do múnus antecipemos acontecimentos. Sejamos Apostamos em alternativas (valores sacerdotal. É razoável em situações perseverantes. Não nos contentamos do Evangelho) aos valores materialistas normais. Em situações de exceção, como com soluções fáceis. E o Espírito levar- do capitalismo desenfreado (…). as de hoje, com inúmeras paróquias nos-á por caminhos novos, para soluções desprovidas e com o reduzido número futuras, totalmente inesperadas – de padres assoberbados por celebrações imprevisíveis. Ele está presente. Abramo- 4 . Colaborar com os grupos/ múltiplas - que fazer? Aprecio a posição nos ao Espírito. Às vezes parece um movimentos/iniciativas sociais que da Fraternitas: mantém viva a esperança fantasma. Não ter medo é caminho de reivindicam os valores sociais (direitos de que alguns responsáveis da Igreja fé. “Senhor, aumenta a minha fé”. humanos). revejam a realidade. J. S.
  • 6. notícias 6 espiral MENS@GENS ELETRÓNIC@S A qualquer instante, chegam Miranda, C. M. de Barcelos, C. M. de mensagens por correio eletrónico ao Sousel, J.P.F., Casa de Pascoaes, Herdeiros endereço do secretariado da Fraternitas do poeta António Pinheiro Guimarães – secretariado@fraternitas.pt. e em diversas entidades e colecções São todas bem-vindas. particulares do País e do Estrangeiro. É Divulgo esta, do associado n.º 7, autor de diversos cartazes, capas de AlbertoJosé Parente d´Assumpção, publicações e logótipos e tem obras suas Vice-Presidente da Assembleia Geral: reproduzidas em capas de livros. «Estimado amigo(a). Agradeço, Integrou o Júri de selecção da II e desde já, a pronta disponibilidade em da III Bienal de Arte Jovem de Vila ajudar. Junto envio um folheto que Verde. Foi seleccionado pelo Júri Internacional para participar na 4.ª Bienal OBRA DO P e FILIPE . poderá facilitar a divulgação entre os seus conhecimentos. Tenho igualmente Internacional de Arte Contemporânea de 3 de julho – Dia da inauguração do disponíveis desdobráveis que poderei Firenze – Itália. Foi selecionado para Centro Social “Nossa Senhora do enviar pelo correio, se necessário. participar no “BIRD 2005 International Amparo”, da Fundação Cónego Filipe Um abraço Art Award”, Pequim – China e na 1.ª de Figueiredo. O empreiteiro Manuel Alberto D’Assumpção FRSA Bienal Internacional de Arte de Chapingo, Matos da Prozinco, (também da Direcção Conteúdo do folheto: México. da Fundação), entregou a obra, dando Albertod´Assumpção. Filho do É citado no “Dicionário de Artistas por terminados os trabalhos. Num dia pintor Manuel D’Assumpção, nasceu em Plásticos de Portugal” da Estar Editora, aberto à população, a obra contou com Lisboa em 1956. Expõe regularmente em “Artes Plásticas – Portugal” da a presença do bispo de Aveiro, D. desde 1989, dedicando-se em exclusivo Adrian Editora, em “Aspectos das Artes António Francisco dos Santos, para além à pintura em 1990. É membro da Plásticas em Portugal – III”, “Arte – 98” das individualidades das várias RoyalSocietyofArts (RSA), de Londres. e “Anuário Internacional de Arte 2003” instituições locais e regionais. Com os artistas AdrianBayreuther, de Fernando Infante do Carmo, está A Fraternitas esteve presente a convite ConstantinSeverin, IzabellaPavlushko e referenciado no “Arteguia – Directório da anterior secretária da Liga dos Olga Dmytrenko constitui o Grupo de Arte Espanha e Portugal”, no “Guia Amigos, Paula Pomar, a quem muito Internacional “3º Paradigma”. É d’Arte”, no “Whoiswhoofthe Portuguese agradecemos. Segundo o prospecto igualmente membro da Sociedade Artists”, da Sol Invictus Publicações, no distribuído, Lar de Idosos, Creche, Portuguesa de Autores, do “International “Anuário das Artes Plásticas” da Estar Apoio Domiciliário e Centro de Dia são Illustrated Letter Writing Society”, do Editora, no “Artes 2001 – Directório de as valências a abrir brevemente. O local grupo “Artists For Peace”, do grupo Artes Plásticas”, da Publicenter, no tem espaço para 45 idosos internos, 40 “ArchetypalExpressionism” e do “Magazine das Artes Plásticas” nº1, em no apoio domiciliário, 30 no Centro de “MircaArtGroup”, Suécia. Está “Surrealismo abrangente – colecção Dia e 33 crianças na Creche. Questionado representado nas colecções do Banco de particular de Cruzeiro Seixas” Fundação se a qualidade da obra era destinada a Portugal, Fundação Cupertino de Cupertino de Miranda, em uma camada elitista da sociedade, “Freedom&Art” e “PlanetHeart, Manuel de Matos garantiu que: “ NÃO. PlanetArt”, ambos do MircaArtGroup, É uma obra para servir todas as pessoas Suécia, em “International Dictionary of que delas necessitarem. Claro que é um Artists”, da WorldWideArtBooks, USA, espaço que tem os seus custos, as coisas e em “Privatsphären”, Viena, Austria. não podem ser dadas gratuitamente, mas Contactos: Urb. de S. Gemil, lote 9, não é um espaço para os ricos, é para 4805-318 PONTE GMR todos”, frisou. Que ASSIM SEJA! É de Telefone: 351 962 364 361 facto uma obra com muita luz!… Mas alberto.dassumpcao@gmail.com que a LUZ que sempre brilhou na pessoa w w w. A r t Wa n t e d . c o m / A . D - do fundador, ilumine e ampare os Assumpcao passos de todos os que para ela http://3rdparadigm.net trabalhem, porque o padre Filipe de Recordo que este Artista foi o autor Figueiredo era “um homem de Deus do logótipo da Fraternitas. Existimos com vocação para os marginalizados”, para nos ajudarmos! Boa sorte! para os mais pobres…
  • 7. notícias l espiral 7 NA S CIMENTO Assembleia constitutiva DA MARIANA da União das Associações dos É neta do José Serafim A. de Sousa e Maria da Graça. Nasceu no dia do 37.º Antigos Alunos dos Seminários aniversário do Matrimónio dos avós. “O mais interessante é que eu profetizei que ela iria nascer neste dia um mês antes. E Portugueses( UASP) aconteceu, sem forçar nada… às 22h”, escreveu o avô “babado”. Realizou-se no dia 17 de setembro, instituições eclesiais e dos organismos Que graça de facto: há dois mil e no Seminário Diocesano de Leiria, a oficiais, a nível nacional e internacional, tantos anos, lá em Nazaré, nascia Maria assembleia constitutiva da UASP (União as suas associadas; defender e promover de uma Ana, Santas. das Associações dos Antigos Alunos dos a solidariedade entre as suas associadas Parabéns aos pais e aos avós da Seminários Portugueses). no respeito pela identidade de cada uma Mariana. Projeto sonhado na preparação e delas (artigo 2º dos Estatutos da UASP). realização do primeiro Congresso dos Da agenda da reunião constou a Antigos Alunos dos Seminários leitura e aprovação dos Estatutos, leitura Portugueses (abril de 2009) e referido da Ata da Constituição e sua assinatura nas Conclusões como “um sentimento pelos representantes das Associações generalizado para que seja dada alguma aderentes; celebração da Eucaristia, sequência ao Congresso através de ações presidida por D. António Marto, bispo que se venham a organizar no futuro”, foi amadurecendo nestes dois anos e tomou a forma de União das Associações aderentes. Dos espaços de encontro de antigos alunos dos Seminários Portugueses, 27 (12 diocesanos e 15 religiosos) criaram alguma forma de organização. Destes, 12 já aderiram ao projeto: 9 são diocesanos (Aveiro, Braga, Coimbra, Évora, Funchal, Lamego, Leiria-Fátima, Portalegre-Castelo Branco e Vila Real) e 3 são religiosos (Franciscanos, Espiritanos e Combonianos); em fase de reestruturação e com intenção de aderir estão quatro associações dos seminários Parabéns aos restantes pais e avós que religiosos; outras duas disseram não estar experimenta(ra)m este tipo de graça ou interessadas; quanto às restantes, umas de Leiria-Fátima e eleição dos órgãos semelhante, nascimentos ou matrimónios aguardam pela decisão dos órgãos sociais para o primeiro triénio. … competentes e outras pela evolução do No horizonte deste fórum nacional Vão sendo muitos os associados que projeto da UASP. das Associações de Antigos Alunos está se encontram num estado de saúde mais Esta nova estrutura nacional que, à não só a vontade de fazer memória das ou menos fragilizado. Cada um data da sua constituição, reunirá 44% das origens, mas, sobretudo, de recorrer à mereceria uma breve descrição para o Associações de Antigos Alunos dos experiência comum, ainda que vivida de seu caso, que alongaria o texto… Fica Seminários Portugueses, define-se forma muito diversa, para refletir sobre para a Folha Informativa que juridicamente como associação privada o momento que nos é dado viver, acompanha o envio deste número do de fiéis e tem os seguintes objetivos: acolher os seus desafios à luz do Espiral. “fomentar a corresponsabilidade eclesial Evangelho e abrir perspetivas de A melhor saúde para estes associados e a participação em projetos que participação e compromisso nas e seus cuidadores e as nossas orações. promovam a dignidade humana e os comunidades cristãs e nos espaços sociais valores evangélicos; congregar, e culturais de que cada um de nós faz A Secretária coordenar e representar junto das parte.
  • 8. reflexão 8 espiral NOVA(?) EVANGELIZAÇÃO Li, há tempos, um apelo do na cabeça dos Apóstolos e discípulos o mação bíblica. Essa de muitos liturgistas Vouga, Correio do Vouga , jornal da essencial do que será ser Seu amigo: a da atualidade quererem cultivar o mis- diocese de Aveiro, aos leitores, prática, a vivência incondicional do tério intrínseco à celebração eucarística para transmitirem aos Amor, palavra-chave do Novo à custa de um regresso a práticas dos responsáveis pelo mesmo a sua Testamento que, então, Ele lhes/nos tempos tridentinos não passa de um sau- reação ou sentir sobre os temas que aí são escritos. Neste sentido deixou. dosismo bacoco da Igreja triunfalista e no espírito da preconizada nova anterior ao Vaticano II, hoje quase evangelização, evangelização , gostaria de tecer obnubilado, com grande responsabilida- os seguintes comentários. de da hierarquia. Além do mais, tais atitudes estão Fernando Neves contra o espírito da Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II e a subsequente Constituição O que é Apostólica Missale Romanum, de Paulo VI, que promulga o Missal: “Queremos a nova evangelização? também que tudo quanto nesta O primeiro é que a expressão nova Constituição fica estabelecido e prescrito evangelização é, semanticamente, tenha força de lei, agora e para o tautológica, redundante, repetitiva. futuro, não obstando, se for caso disso, Vejamos: a palavra evangelização deriva as Constituições e Ordenações da palavra Evangelho que, na sua origem Abordando Apostólicas dos nossos Predecessores, grega, quer dizer boa nova/notícia/ mensagem. a reforma lítúrgica Desdobrando a expressão nova O segundo é uma ligeira discordân- evangelização concluiríamos, então, que cia com o que o pároco diz na sua en- será igual ou o mesmo que nova boa trevista, a propósito das obras feitas na nova/mensagem. Ora não há uma nova matriz de Vagos. Tem a ver com a cen- boa nova/mensagem ou seja não há um novo tralidade do Altar da Eucaristia e do Evangelho; há sim um Evangelho (em ambão da Palavra. quatro narrativas canónicas) que nos O Vaticano II assim o propôs de tal apresenta a mensagem de Jesus, pessoa modo que a Eucaristia – vulgo missa, humana e divina sempre nova nas suas termo que já devia ter entrado em de- palavras, gestos, ações e relacionamento suso – fosse não com o presidente da com os outros. Ele é verdadeiramente assembleia de costas voltadas para a o Lógos, a Palavra encarnada, amorosa, mesma, mas de frente, de olhos nos criadora e renovadora de Deus. olhos. E ainda que a Palavra seja pro- Assim o que se devia pretender seria clamada na língua vernácula de cada a revitalização vivencial do Evangelho, povo. E com isto nada se perde do mis- sobretudo com novas praxis cristãs, tério de fé que, mesmo assim, esta cele- novos comportamentos, formas de agir, bração litúrgica continua a ser e a ter. processos, técnicas e meios de anunciar Não é, pois, necessário entrar em para- a mensagem de Amor que Jesus veio nóias de ocultismos ou dizer coisas to- trazer ao mundo, para os homens de talmente inacessíveis à compreensão da todos os tempos. Nos Evangelhos, Assembleia, pela barreira de uma língua principalmente no de João, isto está como atualmente o Latim. Já bem bas- condensado nas ações e palavras de ta o carácter fechado e de difícil com- Jesus, durante a última ceia onde Ele quer preensão das leituras propostas em cada como que resumir e deixar bem gravado Eucaristia, para quem tem pouca for- página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * blogue: http://fraternitasmovimento.blogspot.
  • 9. reflexão l espiral 9 ou quaisquer outras prescrições, ainda que dignas de especial menção ou derrogação.” Cinco pedrinhas mágicas O terceiro e último comentário é sobre As cinco pedrinhas mágicas propostas para atingir a graça santificante: 1.ª) A vivência da Eucaristia. 2.ª) A confissão. 3.ª) O rosário. 4.ª) Leitura e estudo da Bíblia. 5.ª) Jejum. Desconfio que fossem estas as prioridades sequenciais de Jesus. Com a primeira até concordo, mas numa Eucaristia como celebravam os apóstolos e discípulos (entenda-se comunidade cristã), fazendo memória de Jesus e a partilha do pão por Ele mesmo proclamada: “Dai-lhes, vós mesmos, de comer”. Quanto à segunda, continua Quanto à Palavra de Deus está as economias fruto das refeições eco- interiorizado o espírito tribunalesco do relegada, postergada para sítio nenhum, nómicas que sempre devemos fazer. tridentino (muito custa a dar o passo em que não é o seu. Não ficaria nada mal Não são as outras coisas que se dizem frente para o Vaticano II!). Então não estar mesmo em primeiro lugar, pois, que dão o valor ao jejum. Jejuar, vestir- devia, ao menos, ser reconciliação? como diz S. Paulo, “fides ex auditu” “a fé se com sacos, de anjinho ou outros Quanto ao terceiro, bem mal! Então nasce do que é ouvido, proclamado, quejandos, fazer peregrinações ou já nem só o terço? E mesmo assim lido”. E os católicos apostólicos procissões mais ou menos folclóricas, lembrar que esta prática popular de rezar romanos, na generalidade, leem muito esfarrapar o corpo, os pés e os joelhos, (recitar, dizer de cor; não orar!), vem dos pouco a Bíblia. Se ao menos, em cada fazer sacrifícios, será isso que agrada ao tempos em que o povo não sabia ler e dia, fizessem as leituras que estão no Senhor? “O jejum que Me agrada não não teria, por isso, muitas outras formas missal quotidiano! Mas quantos o farão? será antes este: quebrar as cadeias injustas, palpáveis de praticar/viver a sua E sem fé prévia, nem a própria desatar os laços da servidão, por em religiosidade, aprofundar a sua fé e Eucaristia tem sentido. Não seria, pois, liberdade os oprimidos… repartir o teu cultura bíblica. Por isso a Igreja tornou nada mau propagandear a necessidade pão com o faminto, dar casa aos pobres aconselhável essa devoção. Em todo o da leitura da Bíblia de modo que esta sem abrigo, levar roupa aos que não têm caso, é bom lembrar que ela tem muito fosse mais ´obrigatória` do que a reza que vestir e não voltar as costas ao teu de semelhante ao que o próprio Jesus do terço. Muitas pessoas declaram na semelhante?” (ver Is 58, 1-9) censura quando diz que não é com o Penitência como ´pecado`(?) o não ter Assim, se viverá o “dom mais dizer muitas palavras (distraída e rezado o terço. Mas quantas fazem o excelente” de que fala S. Paulo: a mecanicamente), sem uma verdadeira mesmo sobre a leitura da Palavra de Caridade. Posso rezar muito, cumprir relação do emissor (pessoa orante, que Deus? todas as minhas obrigações religiosas e sabe e pensa o que diz – caso contrário Sobre a última pedrinha (o jejum) o mais algumas “Mas se não tiver será uma conversa tola) com o recetor que é essencial é que ele deve contribuir Caridade, nada valho”, como discípulo (Deus, a Quem mesmo no Seu silêncio para nos tornar “solidários, pois o que de Jesus. Serei só blá-blá, como o sino entendemos como nosso dialogante) que não comemos devemos dar em esmola”. que toca e faz tanto barulho que, por se é agradável aos olhos de Deus. Diria: partilhar ainda muito mais do que vezes, só incomoda. .com * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesouraria@fraternitas.pt
  • 10. reflexão 10 espiral AS DUAS FACES DO AMOR: EROS E ÁGAPE P.e Raniero Cantalamessa, Raniero Cantalamessa, OFMCap Há um âmbito em que a secularização age de maneira especialmente difusa e nefasta, e é o âmbito do amor. A secularização do amor consis te em separ ar o amor humano de Deus, em todas as formas desse amor. consist separar todas formas amor, merament amente sobra amor, reduzindo-o a algo mer amente “profano”, onde Deus sobr a e até incomoda. Mas o amor não é um assunto importante apenas para a evangelização, ou seja, para as relações com o mundo. Ele importa, antes de todo o mais, para a própria vida interna da Igreja, para a santificação dos seus membros. É nesta perspectiva que se situa a encíclica Deus caritas est, do Papa Bento XVI, e é nela que nós também nos colocamos para estas reflexões. O amor sofre de uma separação unidos: tudo o que ele faz, amar nefasta não só na mentalidade do inclusive, tem que refletir essa mundo secularizado, mas também, estrutura. Se o componente humano do lado oposto, entre os crentes e, ligado ao tempo e à corporeidade é em particular, entre as almas sistematica-mente negado ou consagradas. Poderíamos formular a reprimido, a saída será dúplice: ou situação, simplificando ao máximo, seguir adiante aos arrastos, por senso assim: temos no mundo um eros de dever, por defesa da própria sem ágape; e entre os crentes, temos imagem, ou ir atrás de compensações frequentemente um ágape sem eros. mais ou menos lícitas, chegando até O eros sem ágape é um amor os dolorosíssimos casos que estão romântico, mas comumente afligindo atualmente a Igreja. No passional, até violento. Um amor fundo de muitos desvios morais de de conquista, que reduz almas consagradas, não é possível fatalmente o outro a objeto do ignorá-lo: há uma concepção próprio prazer e ignora toda distorcida e retorcida do amor. dimensão de sacrifício, de Temos, então, um duplo fidelidade e de doação de si. Não é repetitivos, o estro é substituído pela motivo e uma dupla urgência de preciso insistir na descrição desse técnica, a espontaneidade pelo redescobrir o amor na sua unidade amor, porque se trata de uma virtuosismo. original. O amor verdadeiro e realidade que temos todo dia diante Com base nessa distinção, o integral é uma pérola encerrada entre dos nossos olhos, propagandeada ágape sem eros é um “amor frio”, um duas conchas: o eros e o ágape. Estas com estrondo pelos romances, amar parcial, sem a participação do duas dimen-sões do amor não podem filmes, novelas, internet, revistas. É ser inteiro, mais por imposição da ser separa-das sem destruí-lo, como o que a linguagem comum entende, vontade do que por ímpeto íntimo o hidro-génio e o oxigénio não hoje, com a palavra “amor”. do coração. Um entrar num cenário podem ser separados sem se privarem Para nós é mais útil entender o que predefinido, em vez de criar um da água. significa ágape sem eros. Na música, próprio, realmente irrepetível, como existe uma diferenciação que pode nos irrepetível é cada ser humano perante IINCOMPATIBILIDADES ajudar a ter uma ideia: a diferença entre Deus. Os atos de amor voltados para A reconciliação mais importante o jazz quente e o jazz frio. Eu li certa vez Deus parecem aqueles de namorados entre as duas dimensões do amor é essa caracterização dos dois géneros, mas desinspirados, que escrevem à amada prática. É aquela que acontece na vida sei que não é a única possível. O jazz cartas copiadas de modelos prontos. das pessoas, mas, para ser possível, ela quente (hot) é o jazz apaixonado, ardente, Se o amor mundano é um corpo precisa começar pela reconciliação entre expressivo, feito de ímpetos, de senti- sem alma, o amor religioso praticado o eros e o ágape inclusive teoricamente, mentos e, portanto, de improvisações assim é uma alma sem corpo. O ser na doutrina. Isto nos permitirá conhecer originais. O jazz frio (cool) é o profis- humano não é um anjo, um espírito finalmente o que é que se entende por sional: os sentimentos se tornam puro; é alma e corpo substancialmente estes dois termos tão comumente
  • 11. reflexão l espiral 11 usados e subentendidos. A importância da questão nasce do facto de existir uma obra que popularizou em todo o mundo cristão a tese oposta da incon- ciliabilidade das duas formas de amor. É o livro do teólogo luterano sueco Anders Nygren, intitulado Eros e Ágape. Podemos resumir o pensamento dele nestes termos: eros e ágape designam dois movimentos opostos. O primeiro indica ascensão e subida do homem para Deus e para o divino como próprio bem e própria origem; o outro, o ágape, indica a descida de Deus até o homem com a encarnação e a cruz de Cristo, e, portanto, a salvação oferecida ao homem sem mérito nem resposta de sua parte, a não ser a fé e somente a fé. O Novo Testamento fez uma escolha precisa, usando, para o nosso coração até descansar em ti” Deus, pode, por sua vez, amar a Deus, exprimir o amor, o termo ágape, e [2]. Também é dele a imagem do dar-lhe algo de seu, o que destruiria a refutando o termo eros. amor como um peso que atrai a absoluta gratuidade do amor de Deus. Foi São Paulo quem recolheu e alma, como por força de gravidade, No plano existencial, ainda de acordo formulou com mais pureza essa para Deus, como ao lugar do próprio com Nygren, o mesmo desvio acontece doutrina do amor. Depois dele, ainda repouso e prazer [3]. Tudo isso, para na mística católica. O amor dos místicos, segundo a tese de Nygren, essa antítese Nygren, insere um elemento do com a sua fortíssima carga de eros, nada radical se perdeu para dar lugar a amor de si, do próprio bem, e, é, para ele, senão amor sensual tentativas de síntese. Assim que o portanto, de egoísmo, que destrói a sublimado, uma tentativa de estabelecer cristianismo entra em contato cultural pura gratuidade da graça; é uma com Deus uma relação de presunçosa com o mundo grego e a visão platônica, recaída na ilusão pagã de fazer a reciprocidade em amor. já com Orígenes, há uma reavaliação do salvação consistir numa ascensão a Quem rompeu a ambiguidade e eros, como movimento ascensional da Deus, em vez de na gratuita e devolveu à luz a pura antítese alma rumo ao bem e ao divino, como imotivada descida de Deus até nós. paulina, segundo o autor, foi Lutero. atração universal exercitada pela beleza Prisioneiros desta impossível síntese Fundamentando a justificação ape- e pelo divino. Nesta linha, o Pseudo entre eros e ágape, entre amor de Deus nas na fé, ele não excluiu a caridade Dionísio Areopagita escreverá que “Deus e amor de si, são, para Nygren, São do momento-base da vida cristã, é eros” [1], substituindo com este termo Bernardo, quando define o grau como o acusa a teologia católica; o ágape da célebre frase de João (I Jo, supremo do amor de Deus como um antes, libertou a caridade, o ágape, 4,10). “amar a Deus por si mesmo” e um do elemento espúrio do eros. À No ocidente, uma síntese “amar a si mesmo por Deus” [4]; São fórmula do “somente a fé”, com análoga foi feita por Agostinho com Boaventura, com seu ascensional exclusão das obras, corresponderia, a doutrina da caritas, entendida Itinerário da mente para Deus; e São em Lutero, a fórmula do “somente como doutrina do amor descendente Tomás de Aquino, que define o amor o ágape”, com exclusão do eros. e gratuito de Deus pelo homem de Deus infuso no coração do batizado Não me cabe estabelecer se o autor (ninguém falou da “graça” com mais (cf. Rom, 5,5) como “o amor com que interpretou corretamente neste ponto o força do que ele), mas também como Deus nos ama e nos faz amá-lo” (amor pensamento de Lutero, que, deve-se anseio do homem pelo bem e por quo ipse nos diligit et quo ipse nos dizer, nunca pôs o problema em termos Deus. É dele a afirmação: “Fizeste- dilectores sui facit) [5]. Isto viria a de contraste entre eros e ágape como nos, Senhor, para ti, e inquieto está significar que o homem, amado por fez com fé e obras.
  • 12. reflexão 12 espiral o termo erótico, ou, se o emprega, é em sentido negativo. O motivo é que, tanto naquele tempo como agora, a palavra evoca o amor na sua expressão mais egoísta e sensual [7]. Tão logo o cristianismo entra em contato e diálogo com a cultura grega daquele tempo, cai por terra de imediato, como já vimos, toda preclusão quanto ao eros. Ele é usado com frequência, nos autores gregos, como sinônimo de ágape, e empregado para indicar o amor de Deus pelo homem, como também o amor do homem por Deus, o amor pelas virtudes e por tudo o que é belo. Basta, para nos convencermos disso, uma simples olhada no Léxico Patrístico Grego, de Lampe [8]. O sistema de Nygren e Barth, portanto, foi construído sobre uma O contragolpe desta operação é bíblica não constrói um mundo paralelo falsa aplicação do assim chamado a radical mundanização e ou um mundo contraposto ao original argumento “ex silentio”. secularização do eros. Enquanto fenômeno humano que é o amor, mas certa teologia retirava o eros do aceita o homem todo, intervindo na sua EROS PARA CONSAGRADOS ágape, a cultura secular era bem feliz, procura pelo amor para purificá-la, O resgate do eros ajuda acima de ao retirar o ágape do eros, ou seja, destr uindo, em paralelo, novas tudo os enamorados humanos e os ao retirar do amor humano toda dimensões suas” (7-8). Eros e ágape esposos cristãos, mostrando a beleza e referência a Deus e à graça. Freud estão unidos à própria fonte do amor, a dignidade do amor que os une. Ajuda apresentou para isto uma justificação que é Deus: “Ele ama”, segue o texto os jovens a experimentar o fascínio do teórica, reduzindo o amor a eros e o da encíclica, “e este seu amor pode ser outro sexo não como coisa turva, a ser eros a libido, uma mera pulsão sexual qualificado certamente como eros, que, vivida às costas de Deus, mas, ao que luta contra toda repressão e no entanto, é também e totalmente contrário, como um dom do Criador inibição. É o estágio a que se reduz ágape” (9). para a sua alegria, desde que vivido na hoje o amor em muitas manifesta- Entende-se o acolhimento ordem querida por Ele. Na sua encíclica, ções da vida e da cultura, princi- insolitamente favorável que este o papa acena ainda para esta função palmente no mundo do espetáculo. documento pontifício encontrou positiva do eros sobre o amor humano mesmo nos ambientes leigos mais quando fala do caminho de purificação RETORNO À SINTESE abertos e responsáveis. Dá esperança do eros, que leva da atração Se não podemos mudar de uma vez ao mundo. Corrige a imagem de uma momentânea ao “para sempre” do a ideia de amor que o mundo possui, fé que toca o mundo em tangente, matrimônio (4-5). podemos, sim, corrigir a visão teológica, sem penetrá-lo, com a imagem Mas o resgate do eros deve ajudar que, sem querer, a favorece e legitima. evangélica da levedura que faz a também aos consagrados, homens e É o que fez de maneira exemplar o Papa massa fermentar; substitui a ideia de mulheres. Eu acenei no início ao Bento XVI com a encíclica Deus caritas um reino de Deus que veio julgar o perigo que as almas religiosas correm est. Ele reafirma a síntese católica mundo pela de um reino de Deus que de um amor frio, que não desce da tradicional expressando-a com os veio salvar o mundo, começando mente para o coração. Um sol de termos modernos. “Eros e ágape”, pelo eros que é a sua força inver no, que ilumina, mas não lemos ali, “amor ascendente e amor dominante. aquece. Se eros significa ímpeto, descendente, não se deixam jamais O Novo Testamento evitou a palavra desejo, atração, não devemos ter separar de todo um do outro [...]. A fé “eros” como o pregador de hoje evita medo dos sentimentos, nem muito
  • 13. reflexão l espiral 13 menos desprezá-los e reprimi-los. existe o Verbo feito carne, que reuniu qualidades e atenções que um Quando se trata do amor de Deus, os dois extremos numa só pessoa. É homem procura numa mulher e uma escreveu Guilherme de Saint Thierry, nele que o próprio amor ao próximo mulher no homem. O amor dele não o sentimento de afeto (affectio) é encontra o seu fundamento: “Foi a nos elimina necessariamente a também graça; a natureza não pode mim que o fizestes”. sedução das criaturas e, em parti- infundir um sentimento assim [9]. O que significa tudo isto pelo amor cular, a atração do outro sexo (ela Os salmos estão cheios desse anseio de Deus? Que o objeto primário no faz parte da nossa natureza, que Ele do coração por Deus: “A ti, Senhor, eu nosso eros, da nossa busca, desejo, criou e não quer destruir). Mas nos elevo a minh’alma...”. “A minh’alma tem atração, paixão, deve ser o Cristo. “Ao dá a força para vencer essas atrações sede de Deus, do Deus vivente”. “Preste Salvador é pré-ordenado o amor com uma atração mais forte. atenção”, diz o autor da Nuvem do não humano desde o princípio, como ao seu “Casto”, diz São João Clímaco, “é conhecimento, “a este maravilhoso modelo e fim, como uma urna tão quem afasta o eros com o Eros” [11]. trabalho da graça na tua alma. Ele não é grande e tão ampla que pudesse acolher Neste mundo, damos a Deus o que senão impulso imprevisto, que surge sem a Deus [...] O desejo da alma é recebemos dele. “Nós amamos porque aviso e aponta diretamente para Deus, unicamente de Cristo. Aqui é o lugar do Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19). O como uma centelha que se desencarcera seu repouso, porque só Ele é o bem, a amor que damos a Cristo é o seu próprio do fogo... Golpeie essa nuvem do não verdade e tudo quanto inspira amor”. amor por nós, que devolvemos a Ele, conhecimento com a flecha afiada do Não quer dizer restringir o horizonte do como o eco nos devolve a nossa voz. desejo de amor e não esmoreça, ocorra amor cristão de Deus a Cristo; quer Onde está então a novidade e a o que ocorrer” [10]. É suficiente, para dizer amar a Deus do jeito que Ele quer beleza deste amor que chamamos tanto, um pensamento, um movimento ser amado. “O Pai vos ama porque vós eros? O eco reenvia para Deus o seu do coração, uma jaculatória. me amais” (Jo 16, 27). Não se trata de próprio amor, mas enriquecido, Deus deu-nos o próximo para um amor quase por procuração, por colorido e perfumado com a nossa amarmos. “Ninguém jamais viu a meio do qual quem ama Jesus “é como liberdade. E é tudo o que Ele quer. Deus; se amarmos uns aos outros, se” amasse o Pai. Não. Jesus é um A nossa liberdade lhe paga tudo. E Deus permanece em nós e o seu mediador imediato; amando a Ele, não só isto, mas, coisa inaudita, amor se tor na perfeito em nós. amamos, ipso facto, o Pai. “Quem me escreve Cabasilas, “recebendo de Quem não ama o próprio irmão, a vê, vê o Pai”; quem me ama, ama o Pai. nós o dom do amor em troca de tudo quem vê, não pode amar a Deus, a A beleza e a plenitude da vida o que Ele nos deu, Ele ainda se quem não vê” (1 Jo 4, 12-20). Mas consagrada depende da qualidade do reputa nosso devedor” [12]. A tese devemos ficar atentos para não saltar nosso amor por Cristo. É só o que que contrapõe eros e ágape se baseia uma fase decisiva: antes do irmão que pode nos defender dos altos e baixos em outra conhecida contraposição: vemos, há outro que também vemos do coração. Jesus é o homem a contraposição entre graça e e tocamos: o Deus feito carne, Jesus perfeito; nele se encontram, em grau liberdade, e, mais ainda, na negação Cristo! Entre Deus e o próximo infinitamente superior, todas aquelas da liberdade no homem decaído. Notas: 1 Pseudo Dionísio Areopagita, Os nomes divinos, IV,12 (PG, 3, 709 em diante.) 2 S. Agostinho, Confissões I, 1. 3 Comentário ao evangelho de João, 26, 4-5. 4 Cf. S. Bernardo, De diligendo Deo, IX,26 –X,27. 5 S. Tomás de Aquino, Comentário à Carta aos Romanos, cap. V, liç.1, n. 392-293; cf. S. Agostinho, Comentário à Primeira Carta de João, 9, 9. 6 K. Barth, Dogmática eclesial, IV, 2, 832-852. 7 O sentido que os primeiros cristãos davam à palavra eros se deduz do famoso texto de S. Inácio de Antioquia, Carta aos Romanos, 7,2: “O meu amor (eros) foi crucificado e não há em mim fogo de paixão…não me atraem o nutrir corrupção e os prazeres desta vida”. “O meu eros” não indica aqui Jesus crucificado, mas “o amor de mim mesmo” , o apego aos prazeres terrenos, na linha do paulino “Fui crucificado com Cristo, não sou mais eu que vivo” (Gal 2, 19 s.). 8 Cf. G.W.H. Lampe, A Patristic Greek Lexicon, Oxford 1961, pp.550. 9 Guilherme de St. Thierry, Meditações, XII, 29 (SCh 324, p. 210). 10 Anônimo, A nuvem do nao conhecimento, trad. Italiana, Ed. Áncora, Milão, 1981, pp. 136.140. 11 S. João Clímaco, A escada do paraíso, XV,98 (PG 88,880). 12 N. Cabasilas, Vida em Cristo, VI, 4 .Santo - diz o texto do Concílio Vaticano II - de um modo conhecido por Deus, dá a todos a oportunidade de estar associados ao mistério pascal” [3].
  • 14. fraternitas fraternit ternitas 14 espiral «A Fraternitas deve-lhe imenso» «Sempre admirei nele o enorme rigor decidiu chamar ao nosso grupo demonstrando um grande Amor à e a total dedicação com que Fraternitas, foi esboçado pelo Alberto Igreja e uma profunda vivência de Fé, e desempenhava as suas funções, e Videira o logotipo, e se decidiu que desde logo comecei a simpatizar com ao mesmo tempo a sua grande desejávamos ser Movimento e não mera ele. Pareceu-me um homem dimensão como pessoa, como Associação. extremamente calmo, muitíssimo marido e pai, e como membro ativo O Luís Gouveia, quando chegou a organizado em tudo, meticuloso até ao da Igreja local», partilha Vasco sua vez de partilhar, deu-nos um belo mais pequeno pormenor, possuidor de Fernandes, num testemunho sobre testemunho de vida, muito construtivo, grandes qualidades humanas e de uma Luís António Gouveia, que faleceu a simpatia contagiante. Como o retiro não 6 de Junho transato. era em silêncio, tivemos oportunidade de conversar entre todos, quer nas Vasc o asco Fer n andes Fern refeições quer nos corredores, e tanto Conheci o Luís António Gouveia, e ele como a Maria do Carmo ficaram a sua mulher Maria do Carmo, claro está, desde logo nossos amigos. naquele já longínquo mês de abril de Já nos tínhamos encontrado em 1997, no terceiro encontro de pdres grupo com outros padres dispensados casados e suas mulheres, orientado pelo do ministério, no primeiro retiro então bispo de Beja, D. Manuel Falcão, realizado em Fátima, em agosto de 1996, na Casa de N.ª Sr.ª do Carmo, em a convite do P.e Filipe de Figueiredo, de Fátima. Évora. Aquele fora um desafio que nos O grupo era muito reduzido, porque motivou e, por isso, voltámos. a escolha da data não fora a melhor, e Sucederam-se muitos outros curiosamente foi nesse encontro que se encontros, quer no Porto, a nível mais «Continuará a encher de luz Última carta do continuar a andar. E muito feliz estou, por saber que mais e de encanto» Luís Gouveia um Bispo orienta o XVIII Encontro Nacional – o D. Gilberto – Bispo de Setúbal, um dos No dia 6 de julho, nasceu para o Céu a Maria Lúcia Guedes da Costa Valente, Ermesinde, 15 de abril de 2011 “ESTAGIÁRIOS” na nossa Diocese do esposa de Dr. Francisco Carlos Martins «(…) Juntamente com o «Espiral»– Porto, e com a eleição de Corpos Gerentes para Valente. ansioso por o receber e tão completo, desde o o triénio de 2011 a 2013. A Maria Lúcia tinha sido operada aos Editorial do nosso Presidente (…), com os Sumamente ainda estarei muito mais 15 anos a um pulmão que mais tarde diversos e distintos colaboradores, até à satisfeito, (…), e quem sabe um dia as mulheres foi retirado. Sofria de problemas cárdio- resenha literária (…) sobre os livros dos serem admitidas ao Sacerdócio Ministerial respiratórios, usando um aparelho para nossos associados, recebi o convite para o (porventura a Virgem Maria – Nossa a oxigenação.... Encontro Nacional (…). Senhora não foi uma delas?) na Igreja Tinha 78 anos. Nasceu na freguesia Mui tristemente por não poder participar, Católica, como já acontece em algumas das do Barqueiro, Mesão Frio, a mesma do visto estar a ser operado na substituição de Igrejas Cristãs. nascimento e ordenação do marido. revisão à prótese da anca esquerda no (…) Ao Francisco e aos três filhos do casal Hospital da Arrábida em Vila Nova de Transmita a todos os participantes as – Francisco, Domingos e Graça – Gaia, no dia 18 de abril, com a estabilização preocupações do 1º Tesoureiro da nossa endereçamos as sentidas condolências, de não poder andar em transportes públicos Associação, para que a e as palavras de Luís Gonzaga: durante dois meses, e três meses sem conduzir. “FRATERNITAS” se tor ne um «Só morre quem renuncia a Vida. A Por outro lado, estou contente por me Movimento providencial no futuro da Igreja Maria Lúcia Viveu, Vive e Viverá. aliviarem o sofrimento em que me encontro, Católica. Continuará a encher de luz e de encanto com o joelho esquerdo sempre dorido e já com De mim próprio e da minha esposa Maria cada espaço por ela calcorreado. Ela queixas da perna direita (tornozelo), do Carmo (…), um ABRAÇO retributivo continuará bem presente no coração do valendo-me do apoio duma bengala para mui fraternal. seu marido, filhos e amigos.»
  • 15. fraternitas fraternit ternitas l espiral 15 regional, quer em Fátima, a nível nacional. estimávamos muito, mas sobretudo programa Mais tarde, na formação da primeira aqueles que com ele trabalharam de ENCONTRO Direção, presidida pelo João Evangelista perto na criação e consolidação da Simão, o Luís Gouveia foi convidado e Fraternitas. NACIONAL aceitou generosamente ser o tesoureiro Uma das belas recordações que Fátima - Seminário do Verbo do Movimento. Não vou aqui fazer a dele guardo é de quando o fui buscar Divino (Rotunda Norte) história do desenvolvimento desse grupo, a Ermesinde para o funeral, em Tema: Mulheres no mundo e na nem dos passos que levaram a que se Felgueiras, do nosso querido colega Igreja: o que mudou? O que falta constituísse em “Movimento” formal, e sócio da Fraternitas Domingos mudar? que mais tarde – em maio de 2000 – Moreira, já há um par de anos. Nessa seria aprovado pela Conferência viagem tive a oportunidade de sentir, Dia 30 de setembro (6.ª-feira) Episcopal Portuguesa. mais uma vez, como ele era por 20h00 – Jantar, antecedido de Mas o facto da minha mulher – Isabel dentro, tão enriquecedor e tão acolhimento – ser a secretária e o Luís Gouveia o profundo. E não posso esquecer que, 21h15 – Informações. tesoureiro, da primeira Direção, ao chegar a casa dele, fez questão de Diálogo sobre a(s) vida(s) na Fraternitas naturalmente que nos aproximou e, por me pedir para aguardar um instante, 22h00 – Descanso isso, contactámos muito mais vezes do para que pudesse ir buscar ao seu que com a maioria de outros casais apartamento a neta que ele adorava, Dia 1 de outubro (sábado) elementos da Fraternitas, visitámo-nos porque queria que ela me conhecesse 8h30 – Pequeno-almoço mutuamente e conhecemo-nos muito e eu a ela. Foi enternecedor e 9h00 – Laudes. Exposição do melhor. comovente e uma prova da especial Santíssimo Sempre admirei nele o enorme rigor amizade que me dedicava. Nunca 10h15 – Encontro e a total dedicação com que esquecerei esse detalhe. 13h00 – Almoço desempenhava as suas funções, e ao Nas últimas semanas em que 15h15 – Encontro mesmo tempo a sua grande dimensão esteve em coma induzido no Hospital 19h30 – Vésperas como pessoa, como marido e pai, e de S. João, e dado que faço lá duas 20h00 – Jantar como membro ativo da Igreja local. manhãs semanais de voluntariado, 21h15 – Tertúlia fraternal Quando, por motivos de saúde, teve procurei ir sempre saber em que ser substituído na estrutura de uma pormenor notícias dele ao serviço Dia 2 de outubro (domingo) nova Direção da Fraternitas, nem por isso especializado em que estava internado, 8h30 – Pequeno-almoço deixou nunca de estar disponível para e foi precisamente falando com uma 9h00 – Laudes tudo aquilo em que pudesse colaborar. das enfermeiras no sábado de manhã 9h45– ASSEMBLEIA GERAL E como pessoa muito meticulosa, a seguir ao seu falecimento, que soube 12h00 – Eucaristia, com ensaio prévio anotava tudo quanto considerava que o Pai o tinha finalmente chamado 13h00 – Almoço importante e tornava-se por isso a nossa para o grande e eterno Abraço. melhor “memória” para todos os No meu coração, na minha pormenores da evolução do Movimento memória, e na minha amizade sincera, ASSEMBLEIA em todas as suas fases. o Luís Gouveia continuará sempre Infelizmente, as frequentes vivo, e procurarei fazer sentir isto GERAL intervenções cirúrgicas a que teve de se submeter, privaram-nos muitas vezes de mesmo à sua querida Maria do Carmo, e aos seus filhos e neta. extraordinária conviver com ele em encontros e retiros, Tive a felicidade de poder A realizar no dia 2 de outubro de quer a nível regional quer a nível nacional. acompanhar o seu corpo já depois 2011 (domingo), pelas 9h45, no Mas nunca foi por comodismo ou da chegada junto de Deus, e de cantar Seminário do Verbo Divino, em menos vontade de estar presente, e no pequeno coro improvisado na Fátima, com a seguinte ordem de sempre nos fez saber quão dolorosas Missa de Corpo Presente na Paróquia trabalhos: 1 – Apreciação e votação da eram essas suas ausências. Quando estava de Ermesinde. acta da última reunião. um pouco melhor e se conseguia A Fraternitas deve-lhe imenso, e 2 – Informações. locomover, mesmo com dores e esforço, cada um de nós só pode dar graças a 3 – Discução e deliberação quanto aproveitava para nos acompanhar nas Deus por ter conhecido e convivido à viabilidade da abertura da Fraternitas atividades que fazíamos, sempre com o com esta pessoa extraordinária ao a consagradas e consagrados não mesmo espírito construtivo e animador longo destes últimos anos. ordenados. que lhe era característico. Todos o Até sempre, Luís! 4 – Outros assuntos.
  • 16. | P.Ta Malmequeres, 4 - 3.º Esq | 2745-816 Pequenos dilúvios não são um Senhor, está dilúvio teus filhos Tu Senhor, quem es tá a falar contigo é um dos teus f ilhos pecadores. Tu sabes quem é. Peço-Te que me dês atenção por um momento. O título des ta car ta pode ser uma per gunta. E posso Peço-T atenção momento. desta carta pergunta. expressá-la de outro modo: as semelhanças de pequenos dilúvios não são sinal ou prenúncio de um verdadeiro dilúvio para os nossos dias, pois não? Silv Pinto José Silva Pinto Senhor, temos presente na memória e no coração, na fé, o imundo. Tu criaste-o para nós, e nós estamos a torná-lo esperança e caridade, os que Te levaram, outrora, a fazer inabitável, cheio de ódios, invejas, rancores, homicídios… P.Ta chover uma massa de enxofre sobre as cidades de Sodoma e Gomorra e, semelhantemente, a ameaçar Níneve. E, como o Mas Tu, Senhor, atendendo à desmedida dedicação dos teu povo continuava a prevaricar, esquecendo-Te e à tua teus amigos benditos do Pai não vais enviar-nos nenhum vontade, cada vez pior no modo e na extensão. Tu julgaste – dilúvio nos nossos tempos, pois não? Boletim de Fraternitas Movimento | Trimestral | Redacção: Fernando Félix e bem – para que a raça humana não se extinguisse de vez – Atendendo ao sofrimento da tua Igreja por causa da falta segundo os teus divinos desígnios – fizeste que se produzisse de sacerdotes e pelos casos de pedofilia, não vais enviar-nos um dilúvio (de água) por toda a Terra então habitada., nenhum dilúvio nos nossos tempos, pois não? salvando-se, apenas, a família de Noé e os animais que Atendendo aos trabalhos insanos de tantos missionários, serviriam para o seu alimento e perpetuação na Terra, após o não vais enviar-nos nenhum dilúvio nos nossos tempos, pois término do dilúvio. Imaginamos quanto isto Te custou não? (olhando à nossa maneira Atendendo aos humana), porque Tu, na tua milhares de sacrários omnipotência e no teu abertos 24 horas por amor infinito, achaste, por dia, onde és adorado e bem, conservar a “primeira desagravado, não vais raça humana” a criar outra. enviar-nos nenhum dilúvio nos nossos Vemos, ouvimos e tempos, pois não? lemos que esta humanidade Atendendo à atual começa a esquecer-se, inocência de tantas novamente, de Ti e do crianças, adolescentes, QUELUZ | E-mail: fernfelix@gmail.com cumprimento da tua divina jovens, adultos e casais vontade, embora, talvez, a exemplares, não vais um nível ainda não tão enviar-nos nenhum degradado. dilúvio nos nossos tempos, pois não? O meu cérebro pensa e Atendendo aos as três virtudes cardiais milhões de filhas e filhos sentem que Tu, na tua infinita misericórdia, já tens permitido teus que se dedicam aos apostolado para estender o teu Reino o aparecimento de pequenos sinais, para que a humanidade por todo o mundo, na fé, esperança e amor, abandonando o pense e repense alguns caminhos que está ou não a trilhar, seu bem-estar terreno e sacrificando a maior parte das suas para que recue nos errados e avance nos certos. Depois, vidas, não vais enviar-nos nenhum dilúvio nos nossos tempos, aparecem as guerras, as guerrilhas, com todo o cortejo de pois não? milhares de mortos, fome, novas doenças e epidemias… E estas más vontades influenciam a Natureza. Então, lá está ela Obrigado, Senhor! Aqui está de novo o teu filho pecador a enviar tsunamis, terramotos, vulcões, tornados, vendavais, a agradecer a tua mais que provada benevolência, porque são chuvas diluvianas, que levam todo o bem que Tu, criador, muitos milhões os teus filhos por quem destes o vosso Corpo espalhaste e que o homem bom tem aperfeiçoado, e Sangue, no Calvário, e tu lembrar-te-ás das palavras que completado, desenvolvido; caem os aviões, afundam-se os disseste a Santa Mónica a respeito da conversão de Agostinho, submarinos, o povo vive inseguro, cheio de medos, filho dela: “Não podem perder-se tantos(as) filhos(as) por espi ral demasiadamente stressado. Habitamos num mundo impuro quem dei o meu corpo e sangue e continuam a recebê-los, que Tu criastes bom e puro. Tu criastes o mundo; nós criamos todos os dias, na celebração da Eucaristia.»