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espiral      da
                                                                ANO xiII
                                                                          fraternitas moviment
                                                                           -
                                                                             ternit     vimento
                                                    boletim da associação fraternitas movimento
                                                                               N .º 46 - J ANEIRO/mARÇO de
                                                                               N.º       JANEIR
                                                                                           ANEIRO/mARÇO         2012




    Escre vo par a mim mesmo
                                                     fERNANDO        fÉLIX

    A Fraternitas existe para que não se apague o carisma – o    podem participar nas atividades do movimento – e lembro
dom de Deus – que há em nós. É essa a nossa reivindicação.       o nosso Encontro Nacional, em Fátima, de 27 a 29 de abril –
O Senhor chamou-nos. Atraiu-nos a vida sacerdotal, o             . A uns direi: não é preciso que se sintam na obrigação de
ministério. O modo de o realizar é como Deus o quer, e já        participar fisicamente para se sentirem membros ativos. Rezar,
foi diferente do que é hoje, por isso cremos que pode ser        oferecer os trabalhos, as dores, as canseiras, o dia a dia... isso
através do celibato ou da vida em matrimónio.                    é estar em comunhão. Como diz Richard Bach, “Podem os
    Na Fraternitas, todos somos uma família.                     quilómetros separar-nos realmente dos amigos? Se você quer
    E todos somos necessários: uns mais ativos, outros menos;    estar com alguém a quem ama, já não está lá?”
uns na frente, outros na retaguarda; uns com ação, outros            A outros, porém, direi as palavras de Mahatma Gandhi:
com a oração; uns com forças, outros com mais debilidades…       “Sê a mudança que queres ver no mundo.”
    “Temos cinco dedos e nenhum é igual”, diz a sabedoria            Nada na vida dá jeito. Há sempre imprevistos, obrigações,
milenar. Na Fraternitas, sabemo-lo, todos têm a sua função       atividades que colidem com os planos pessoais, com as
imprescindível. Por isso, nos lembramos uns dos outros,          expetativas. Por isso, temos de adaptar-nos, eleger segundo o
alegramo-nos com a presença de cada membro e damos               que é prioritário, conforme o que tem mais valor, dispor-nos
pela sua falta, sentimos a sua ausência.                         a colocar os nossas qualidades de caráter e, também,
    A vida em Fraternitas não depende se pagamos quotas ou       administrar os nossos bens materiais ao serviço do bem do
não. A quota é uma questão legal – com a sua devida              irmão, do próximo.
importância –, por se tratar de uma associação. Todavia, mais
importante é o Espírito, são os laços no Espírito, porque           NÃO HÁ ACASOS
somos Movimento.                                                    No Encontro Nacional, em Fátima, vamos partilhar
    Devemos dinheiro à Fraternitas? Até pode acontecer...        testemunhos de voluntariado. Vale a pena lembrar estas
Porém, devemos, sobretudo, vida, fraternidade, alegria,          sabedorias:
partilha de sofrimentos... isso sim. E a nossa dívida nunca         “Se alguém te procurar com frio... é porque tens o cobertor.
estará saldada...                                                   Com alegria ... é porque tens o sorriso.
    E, quanto às dívidas materiais, a associação sempre disse       Com lágrimas... é porque tens o lenço.
– está registado em Acta da Direção – que se alguém não             Com versos... é porque tens a música.
pode pagar, que não sejam os motivos financeiros a decidir          Com dor... é porque tens o curativo.
o afastamento.                                                      Com palavras... é porque tens a audição.
                                                                    Como fome... é porque tens o alimento.
   FOLHAS CAÍDAS                                                    Com beijos... é porque tens o mel.
   Se uma árvore, por passar o inverno sem folhas, dissesse         Com duvidas... é porque tens o caminho.
que já não merecia florir na primavera, como estaria errado         Com orquestra... é porque tens a festa.
o seu modo de pensar!                                               Com desânimo... é porque tens o estímulo.
   Ou seja, admitamos que vários membros da Fraternitas             Com fantasias... é porque tens a realidade.
estão a viver um período de inverno. E isso                         Com desespero... é porque tens a serenidade.
independentemente da idade, se é homem ou mulher, e                 Com entusiasmo... é porque tens o brilho.
valorizando cada um dos fatores da crise pessoal ou familiar.       Com segredos... é porque tens a cumplicidade.
O que importa é que permitam que floresça a primavera.              Com tumulto... é porque tens a calma.
   E o que é ser primavera na vida da Fraternitas? É, tantas        Com confiança... é porque tens a força.
vezes, ser portador da seiva que renova a vida. Vários não          Ninguém chega até ti por acaso, em tudo há propósito...”
2                                                                                                                              espiral




    Livros de associados da Fraternitas
             editados em 2011
                                                          Urtélia Silva
                                                          Urtélia Silv

Vamos anunciando as obras
literárias disponíveis no
Secretariado para serem                          “UM NOVO CONCEITO DE                    relações públicas da congregação, na
consultadas por qualuqe sócio. O             EUROPA E OUTROS ENSAIOS”,                   cidade, desde 25 de novembro de 1975,
critério tem sido o biénio ou o              Artur Cunha de Oliveira (Angra do           lhe facultou. 7. (…) Cultivar a memória
triénio, consoante a abundância              Heroísmo, maio de 2009), edição de “A       histórica ajuda a travar as batalhas do
da produção literária, “recuando”            Casa Encantada” [340 páginas], acerca       presente para construir um radioso
no tempo, e no Espiral do quarto             do qual o vice-presidente dos Governo       futuro de esperança. (…)”.
trimestre, as obras publicadas               Regional, Dr Sérgio Ávila, escreveu no          * João G.M. Batista, Presidente da
nesse mesmo ano.
                                             Prefácio: “Este livro do Dr. Cunha de       Câmara Municipal (nosso associado),
No Espiral n.º 44, tratámos o
                                             Oliveira reflecte trechos de uma vida       pág. 11: “ (…) Perpetuar na História a
triénio 2006-2008, mas 2007
ficou em branco, e, antes, no                fascinante, deambulando pela Política,      História da Instituição é um tributo justo
Espiral n.º 42, o biénio 2009-               pela História, pela Construção Europeia     ao trabalho solidário de quem faz da
2010. Como alguns livros                     mas, sobretudo, por uma participação        solidariedade uma forma de vida.”
publicados em 2009 não foram                 cívica intensa, inconformista, polémica         * O autor do texto em EPÍLOGO,
anunciados, por ausência de                  e frontal, traços marcantes do autor. A     pág. 141-142: “ (…) A opção selectiva é
dados na altura, vamos                       sua visão, assente num profundo             da minha inteira responsabilidade.
comple tar.
     pletar
com ple tar.                                 substrato cultural e numa visão humanista   Deixei-me conduzir não por um
O Secretariado agradece os                   do mundo, foram cimentando ideias,          qualquer direito de justiça social mas por
dados relativos a quaisquer livros
                                             conceitos, perspectivas que, tantas vezes   imperativo de pedagogia social – porque
publicados pelos associados. E
                                             antes do tempo, se foram revelando          só Deus conhece as capacidades
pede que os levem para os
Encontros Nacionais!...                      correctas”.                                 humanas, disponibilidades e possibilida-
Parabéns aos autores e seus                                                              des financeiras de cada qual e mede, por
colaboradores.                                   “CASA SANTA MARTA DE                    via disso, a generosidade de cada um.
                                             CHAVES/ Instituição Modelar de                  (…) A solidariedade cristã irmanou
    “SONHOS E GESTOS DE                      Assistência aos Idosos”, texto de Alípio    pobres e ricos. Foi-me fácil nomear
VIDA”, Manuel Alves Paiva (Oliveira          Martins Afonso e pesquisa da Irmã M.        alguns dos mais sonantes (…) que
de Azeméis, maio de 2007), edição do         do Carmo (Chaves, maio de 2011),            constam do arquivo. (…) Todos, menos
autor [217 páginas].                         edição da Casa Santa Marta,                 um, cujo gesto vou lembrar e só o gesto,
    Afirma o autor: “procurei resumir        [formato:17x0,8x24, 143 páginas].           (…). Foi uma senhora de Vila Verde da
as iniciativas pastorais sonhadas e              D. Amândio José Tomás, 7 de maio        Raia. A comissão local para a recolha de
realizadas, durante os, até então, 30 anos   de 2011, apresentando o livro - “ 6. O      ofertas, destinadas ao 2.º Cortejo de
de paroquialidade do dinâmico e              livro recolhe o testemunho dos              Oferendas, em 1958, bateu-lhe à porta.
totalmente dado ao serviço da                intervenientes na obra de bem-fazer: da     A senhora estava dentro mas, fez-se
comunidade, o P. Albino de Almeida           Irmãs, do co-fundador da obra, nesta        ausente, para não lhes aparecer. Dias
Fernandes, que transformou por               cidade, o generoso P. Manuel Pita, dos      depois, vem ao Lar trazer a oferta - 5
completo o ambiente espiritual da            padres Carlos Jorge Alexandre,              escudos - justificando-se perante a Irmã
comunidade da cidade de Oliveira de          Norberto Portelinha, do P. Albino Lage      que a recebeu, de não os ter oferecido à
Azeméis, conseguindo impulsionar as          Dias, de Monsenhor Manuel Teixeira e        Comissão por não os possuir no dia do
crianças, os jovens e os adultos, na         doutros benfeitores. O livro apresenta      peditório e que fora por isso que se
criação de grupos de dinamização             os depoimentos orais e alguns               fingira ausente de casa. À pergunta da
comunitária, cuja responsabilidade por       documentos escritos, cartas, decisões e     Irmã sobre a forma como se deslocara
eles foi assumida e vivida.”                 textos legais do arquivo da Santa Casa      até ali, respondeu: «A pé, se não lá se me ia
    Este livro foi publicado para se         da Misericórdia de Chaves e do arquivo      o dinheiro todo. E a pé regressou. » Aos
associar à celebração das Bodas de Ouro      da Congregação, que a Irmã Maria del        olhos de Deus de Deus esta oferta iguala
Sacerdotais do referido P. Albino.           Cármen, uma espécie de ministro de          a dracma do Evangelho. (…)”
l
          espiral                                                                                                                       3




    “MISERICÓRDIAS PORTU-                       tuosamente deficiente, como prosa ba-              “O MEU OUTRO PAI”, Maria José
GUESAS – PADRÕES DE FÉ, DE                      nal de cariz meramente crítico, ou seja,       Bijóias Mendonça, edição da autora
HISTÓRIA E DE CIDADANIA”,                       primariamente denunciador de casos,            (Lisboa, novembro de 2011).
Manuel Ferreira da Silva (Lisboa, 2011),        ideias, problemas, situações, afirmações           A autora: “Este livro pretende ser um
edição do autor, [formato: 17 x 2,2 x           ou pessoas. Mas não. (…) Tomam peso            tributo ao meu pai e à minha mãe, uma
24, 370 páginas].                               sim, e de muito específica verdade,            homenagem à médica que tratou do
    Dr. João Afonso Calado da Maia              apenas e só, a natureza, o carisma e a         meu pai (e que tanta paciência teve para
(também prefaciador), na contracapa:            missão de uma instituição: as Miseri-          mim) – e nela a todos quantos dignificam
“Nesta notável Obra do Dr. Ferreira da          córdias. E essas tudo merecem de todos         a medicina –, uma forma de exprimir a
Silva, (...) desenvolve-se, de uma forma        nós. E todos nós muito lhes devemos a          profunda gratidão que sinto
aprofundada, um estudo bem docu-                elas, para facilmente se compreender que       relativamente ao meu marido e a quem
mentado do candente e preocupante               por elas “tudo vale a pena”.                   esteve e continua a estar por perto e a
problema da natureza jurídica das Santas                                                       manifestar verdadeira amizade e carinho
Casas. O subtítulo do livro: Os direitos da         “AUTOCONSCIÊNCIA - Segundo                 nesta fase tão penosa, e um meio de
Razão e a Razão de alguns Direitos é desde      passo existencial “, Manuel Joaquim            comunhão com quem se encontre a
logo significativo de quem nem sempre           Cristo Martins (Lisboa, setembro               viver um processo de luto” (pág. 3).
os direitos legítimos que julgamos              2011), Editora Paulinas [formato:                  No Prefácio, do Professor Doutor
irrefutáveis, são entendidos pela Razão;        13x1,5x20,5, 240 páginas].                     Mário Simões – «Ao iniciar a leitura deste
e que, por vezes, esta, por inexplicável            O autor, na contracapa: “Este              livro, logo na página 3, dei-me conta que
que pareça, nem sempre é traduzida em           segundo livro da trilogia Autoconhecimento,    a Maria José já tinha escrito o prefácio
direitos. Não se trata de Obra de crítica,      Autoconsciência e Autotranscendência alerta-   (…), mas não faz justiça completa ao
nem tem objetivos polémicos, como o             nos para a urgência em eliminarmos o           conteúdo do livro. Na verdade, este
autor adverte no Pré-Texto, sobre o             paradigma fratricida «ganhar/perder»,          questiona-nos sobre a MORTE, que a
diferendo que opõe alguns elementos da          implantando, na nossa vivência pessoal         Maria José insiste em nomear sem
Hierarquia em Portugal às Santas Casas          e, por ela, na Comunidade Humana, o            rodeios (não a passagem, trânsito, sono
da Misericórdia, e só em Portugal,              paradigma «ganhar/ganhar». É um con-           eterno, grande viagem, etc.), acerca das
quanto à questão de se saber se as              vite a mergulharmos nas profun-dezas           nossas atitudes em relação a pessoas que
Misericórdias Portuguesas são Institui-         do nosso ser e, a partir daí, deixar o Artí-   perderam um ente querido e é uma
ções Privadas de Fiéis, constituídas na         fice divino purificar e plenificar o nosso     reflexão sobre a vida e também uma
Ordem Jurídica Canónica, portanto               sentir, para que brote o Amor; purificar       lição sobre esta. Ainda, e talvez o mais
Eclesiais, ou se, pelo contrário, são           e plenificar o nosso pensar, para que          importante para ela (a autora), é o
Instituições Públicas de Fiéis e, nesse caso,   brote a Sabedoria; e purificar e plenificar    reconhecimento simultâneo da
Eclesiásticas. O Dr. Ferreira da Silva, es-     o nosso agir, para que brote a Harmonia        descoberta de um pai “real”, que surge
critor, ensaísta, grande jornalista, fun-       e a Paz. Este livro traz nas suas entranhas    ao “descobrir-se” também a si, sob a
dador e director do Jornal Voz das              o segredo das verdadeiras revoluções.          forma de um testemunho pungente.
Misericórdias, conhece profundamente as         As verdadeiras revoluções acontecem no             Este testemunho é escrito numa
Santas Casas e o trabalho que elas desen-       silêncio ativo da consciência espiritual.”     linguagem fluida, inteligente, com humor
volvem na sua acção misericordiosa.                 De Vasco Ventura, na contracapa:           e emotiva, de tal modo que quase se
Com a sua grande formação literária,            “Cristo Martins faz do humanismo o             entrevê a mímica e outra linguagem
jurídica, canónica, pastoral e teológica,       seu sacerdócio, quer através dos seus          corporal da autora. A sua personalidade
grande investigador e brilhante escritor,       livros quer no contacto direto com as          perpassa ao longo das páginas – (…)!
era a personalidade mais indicada para          pessoas, numa partilha total do que o          Apetece, pois, ler!
proceder a este completo e bem                  estudo lhe revela, a reflexão aprofunda            (…). O capítulo II, “E depois (d)a
elaborado Estudo do complexo pro-               e a experiência consagra. Na sua peda-         dor”, é quase um verdadeiro manual de
blema, o qual, pela sua actualidade, vem,       gogia peculiar, surpreende-nos com a           como estar no luto com alguém, (…).
e no momento próprio, apresentar nesta          síntese dos seus diagramas, com a pro-         É no capítulo V, que começa o núcleo
Obra, cuja falta se fazia sentir.”              fundidade das suas explicações e com a         do livro, com a descoberta de um novo
    O autor, em Pré-Texto: “(…) Pode            simplicidade da sua linguagem. O seu           pai, que vai a par e passo com a
este escrito-testemunho denunciar-se à          campo de acção tem sido largo e                descoberta de um seu “novo eu”. (…)
primeira vista e com uma leitura                diversificado: empresas, escolas,              Outra aprendizagem a fazer é a
apressadamente sumária ou preconcei-            instituições, associações…”                    expressão dos afectos (…) Oxalá este
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livro mude algo nesta área! (…) Um            sabedoria quase búdica ao interiorizar       sobre temas de fronteira e, nomeada-
objecto da investigação que a Psicologia      que a realidade não é como a vemos,          mente, proporcionar ao (…) leitor o
Positiva propõe é o perdão. É que está        mas pode vir a ser como                      mais largo e por vezes profundo (quiçá
demonstrado que, tal como outros, tais        conscientemente “fingimos acreditar” –       repetitivo) contacto e familiaridade com
como o amor e o humor, faz bem ao             (…) Praticar o humor, (…) é uma das          as fontes primigénias e mais credíveis do
próprio e aos outros. É interessante que      suas sugestões, entre outras, para           Cristianismo, que são as Sagradas
a Maria José nomeie os seus pais os           enfrentar a VIDA. (…) Este livro (…) é       Escrituras (a Bíblia) e os Padres e
“Gurus do Perdão” e, de modo irónico,         também um acto de AMOR. (…)»                 Escritores Eclesiásticos dos primeiros
se distancie do “perdão pastilha elástica”.       Depois da leitura, aceiam-se ecos e      séculos da Igreja. (…)
Este é reconhecido quando se ouve             partilhas de experiências e sabedorias do        Na Contracapa: «Jesus de Nazaré
“perdoo, mas não esqueço” ou “vou             luto no blogue amarparaalemdamorte.          casou de facto com Maria Madalena?
perdoar, mas primeiro tenho de me                                                          Não viria qualquer espécie de mal ao
                                               Estas obras foram gentilmente
vingar” ou ainda “perdoei, mas, quando                                                     mundo, à religião e ao cristianismo se
                                               of erecidas à FRATERNITAS, pelo
                                               oferecidas FRATERNIT
                                                                  TERNITAS,
penso nisso, ainda me dá volta ao                                                          assim tivesse sido. Mas não foi. “Rosto
                                               que estão disponíveis, podendo
estômago”, isto é, esticam-se demasiado            ser solicitadas a qualquer              humano de Deus”. Jesus de Nazaré era
os acontecimentos até “fazer balões”.                 membro da Direção.                   perfeito homem. E o casamento faz
Propõe antes que se escreva na areia o                                                     parte da natureza humana. Sucede
mal que nos fazem, para que o vento               “A MORTE DO JUSTO”, Artur                porém que, bem contrário de toda a
apague o registo, e na pedra o bem            Cunha de Oliveira (Angra do                  criatividade literária e cinemato-gráfica
recebido, para que fique gravado ad           Heroísmo, 2011), edição “A Casa              dos últimos trinta anos, a investigação
eternum. (…) É sábio dizer que o tempo        Encantada” [250 páginas] – uma leitura       histórica e literária mais desprecon-
nada cura, mas o que se faz no seu            e comentário compreensivos e                 ceituosa, séria, extensa e profunda, quer
decurso, o que vai acontecendo                compreensíveis do Evangelho da Paixão        a partir dos escritos canónicos e dos
(passivamente) e o que se faz acontecer.      e Morte do Senhor Jesus.                     primeiros autores cristãos, como dos
Em relação ao passado vivido com                  “JESUS DE NAZARÉ E AS                    seus contemporâneos não cristãos e até
outras pessoas que nos precedem na            MULHERES - A propósito de Maria              anti - cristãos, quer da correcta leitura
morte fica a paz se a consciência do que      Madalena”, Artur Cunha de Oliveira           dos evangelhos gnósticos (ao contrário
foi feito e dito foi o nosso melhor, não      (Angra do Heroísmo, 2011), edição do         do que fez Dan Brown), nada milita em
tem que ser o óptimo! As páginas escritas     Instituto Açoriano de Cultura (IAC),         favor do casamento de Jesus de Nazaré.
são disso o testemunho e as alegadas          [formato: 17 x 3 x 24, 583 páginas].             Quanto a Maria de Madalena a
características “d” do luto – duro,               Pode ler-se na dedicatória manuscrita:   mesma investigação o que nos oferece é
demorado, difícil – são, pela Maria José,     “Às mulheres da Fraternitas”, Antonieta      alguém do círculo íntimo de Jesus de
transmutadas em “p”, de puro,                 e Artur em 7.02.2012.                        Nazaré, senhora de bens e casada não
profundo e perfeito.                              No Prólogo: “Este é sem dúvida um        se sabe com quem, que a primitiva
    Mesmo assim, quando se sente que          livro sui generis. Pode não obedecer aos     tradição cristã aponta como alguém a
se disse muito, ainda muito fica por dizer    cânones da bibliografia. Mas responde,       quem primeiro foi revelada a
e então surge a necessidade de o escrever     ou tenta responder, aos ditames da cir-      Ressurreição. Tal qual sucedeu a tantas
numa longa carta de AMOR, sim, amor           cunstância e da consciência. Em pri-         outras mulheres a quem o itinerante
reconhecido a posteriori, sobretudo           meiro lugar aos ditames da circunstância,    profeta galileu dispensou humana
pelos seus efeitos, na ausência da pessoa     pois vivemos tempos de crise. Crise não      atenção, carinho e até ternura, foi curada
amada. É também um ritual necessário,         tento de valores que, bem ao contrário       de grandes males, pelo que Lhe ficou
quase sagrado, onde perpassam citações        do que às vezes aí se diz, continuam         eternamente grata, acompanhando-O e
de pessoas que considera Mestres, (…)         existindo. (…) A crise residirá, então,      socorrendo-O ( e aos discípulos) com
E “do outro lado” também existem              mais na linguagem, mais na maneira e         os seus bens. Nada mais.
comunicações, que a Maria José descreve       nos processos de comunicação e da                Foi o Papa Gregório Magno que,
muito bem sob o tema “Saudades                vivência, que nos valores em si. (…) sem     numa homilia do dia 21 de setembro
legendadas”, (…) No final retorna à           nunca perder de vista o objectivo que        de 591, na Basílica de S. Clemente, em
VIDA, não à vidinha (O’Neil), citando         foi cientificamente fundamentar              Roma, confundiu com a “pecadora
Lago: “Fiz um acordo de coexistência          cientificamente a minha convicção a          arrependida” do evangelista Lucas (7,
pacífica com o tempo – nem ele me             respeito das relações entre Jesus de         36-50). A partir de então terminou a
persegue, nem eu fujo dele – um dia a         Nazaré e Maria Madalena, aproveitei          História e principiou a Lenda. Agora
gente encontra-se.” Atinge uma                para alargar horizontes nalguns Excursos     tenta-se criar o Mito.»


    página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * blogue: http://fraternitasmovimento.blogspo
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                Onde repousa o teu coração
                                  P. Alfredo J . Gonçalves - Assessor das Pastorais Sociais . - Adital
                                             J. Gonçalves             das Past
                                                                           astorais Sociais.    Adital


            Um                                          volúvel do que os sentimentos e              proprietário. Como repousar diante
            No sucesso do presente? Na beleza           comportamentos de uma arquibancada           dessa montanha de riquezas, tão oculta,
        fugaz e efêmera? Na moda que se acende          compacta. A multidão da platéia              guardada e silenciosa quanto aparente-
        e apaga como a noite e o dia? Mas tudo          “aplaude e pede bis”, como diz a             mente barulhenta e cobiçada?
        isso não passam de fumaça passageira e          canção; mas também, com o mesmo                  As turbulências do mercado
        enganosa. Sucessos e fracassos                  ímpeto, distribui palavrões e condena ao     globalizado, o sobe-e-desce das bolsas
        costumam se comportar como ondas                ostracismo. Vitórias e derrotas sucedem-     de valores, a cotação do dólar, os preços
        alternadas: ora se levantam e se                se, frias e quentes, como as estações do     dos produtos e a possibilidade de lucros
        agigantam, ora se curvam e tombam,              ano. A embriaguez da fama, a exemplo         sempre maiores... Tudo isso faz trepidar
        rebentando irremediavelmente sobre o            de qualquer tipo de embriaguez, se           o colchão sobre o qual teu corpo
        chão. Ao mesmo tempo, alegram e logo            dissolve numa noite de sono. Podem ser       esgotado busca repouso. São extrema-
        entristecem. Confiar em sucesso é como          aplicadas aqui as palavras do salmista,      mente tênues e débeis os fios que
        caminhar sobre corda bamba. A                   embora se refiram a toda a vida humana:      costuram a rede da economia capitalista.
        qualquer escorregão, tudo vem abaixo.           “Eles passam como o sono da manhã,           Com a velocidade de um toque na tecla
        Verdadeiro show pirotécnico: sobe com           são iguais à erva verde dos campos: de       do computador, tudo pode se alterar.
        profusão de cores, desenhos e brilho;           manhã ela floresce vicejante, mas à tarde    Fortunas de muitos zeros podem subir
        mas, com a mesma rapidez se apaga e             é cortada e logo seca” (Sl 89, 5-6).         e declinar com a mesma rapidez. Não é
        desce, convertendo tudo na mais densa           Coração que descansa sobre o sucesso,        tão raro que milionários e bilionários
        escuridão. Quem vive do sucesso, oscila         rumina e amarga o presságio do               tenham de assistir, de um dia para a noite,
        entre a euforia e a tristeza, sem conhecer      esquecimento.                                à evaporação de seus ganhos. Bem diz
        o repouso do meio termo. Fogos de                                                            Shakespeare em uma de suas peças: “tens
        artifício: após a luz intensa e fugaz, resta        Dois                                     preocupações em demasia com este
        um punhado de cinzas que o vento varre.             Onde repousa teu coração? Sobre o        mundo; perdem-no aqueles que o
        Pó que desaparece ao menor sopro de             dinheiro, a renda e a riqueza; sobre as      compram à custa do excesso de
        uma brisa vespertina. O sucesso no              contas bancárias e as propriedades           cuidados” (O Mercador de Veneza, Ato
        presente não passa de uma fortaleza bem         adquiridas; sobre o brilho das jóias e os    I, Cena 1).
        frágil, sempre ameaçada pelos                   bens de luxo; sobre a posse de roupas,
        imprevistos do futuro, ou pelas sombras         carros e equipamentos de última                  Três
        do passado.                                     geração? Também aqui os fantasmas do             Onde repousa teu coração? Na
            “Vaidade das vaidades, tudo é               medo rondam as portas e janelas das          compulsão do consumo, no
        vaidade”, diz a sabedoria do Eclesiastes.       mansões e dos palácios, por mais             acompanhamento dos últimos objetos
        O sucesso ou o glamour, com seus                herméticas e intransponíveis que elas        da moda, na procura de objetos que
        revestimentos e cosméticos aparentes,           sejam. Os mais sofisticados sistemas de      preencham a sede e a fome que assalta a
        multiplica palcos, cenários, platéias; nutre-   segurança não conseguem eliminar o           todo o ser humano? Mas todo esse
        se de câmeras e ação, holofotes e               espectro da incerteza e da insegurança.      esforço de busca não faz senão aumentar
        microfones; envolve personalidades e            Nenhum travesseiro traz tanta insônia        a própria sede e a fome. Neste caso, a
        celebridades com uma aura                       quanto o capital acumulado. Todo o que       matemática parece nos trair: quanto mais
        aparentemente imortal. Porém, o público         se acumula sofre de duas enfermidades        artefatos, bijuterias e bagatelas
        que ergue estátuas e as cultua é o mesmo        crônicas: apodrece e atrai os abutres. São   acumulamos, mais se aprofunda o vazio
        que, cedo ou tarde, irá reduzi-las a ruínas     os tesouros que a traça corrói e os          da própria existência. Cada vez mais as
        e escombros. Aplausos e vaias se                ladrões podem carregar, como bem             vitrines dos grandes centros comerciais
        mesclam, se confundem e se sobrepõem            mostra a sabedoria de Jesus no               – shopping centers – nos atraem e nos
        com uma alternância espantosa. O                Evangelho. E continua: onde está teu         fascinam. Luzes, cores, variedades e
        exemplo do futebol bastaria para nos            tesouro, aí está teu coração. Irrequieto e   disposição seduzem o consumidor
        abrir os olhos. Heróis de belos dribles         sobressaltado em proporção àquilo que        inveterado. Mas a aquisição dos objetos
        estonteantes e de alguns gols, facilmente       tem que defender. Riquezas exigem            nos frustra. A posse desfaz a magia.
        se convertem em vilões de inevitáveis           armazéns; estes necessitam de guardas;       Somente desejamos o que ainda está
        tropeções. Nada é mais efêmero e                e os guardas for mam o olhar do              longe de nossas mãos. Assim que as


ot.com * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesouraria@fraternitas.pt
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coisas se tornam nossas, como que           e consumir, numa velocidade tal que          históricas ou da “nova companheirada”.
perdem o valor que tanto nos atraía. O      caímos no vórtice voraz de uma               A noção de democracia se desgasta com
resultado é encher gavetas e mais gavetas   devastação planetária.                       práticas que pouco ou nada respeitam
de produtos que, com rapidez                                                             as exigências de uma efetiva decisão
extraordinária, se convertem em lixo.           Quatro                                   democrática, participativa. Daí que na
Lixo antes mesmo de desfazer a                  Onde repousa teu coração? Sobre          área     dos      países      ocidentais,
embalagem, antes de chegar em casa!         títulos, prestígio, nome e renome; sobre     frequentemente o conceito de
Tudo mexe com nossos desejos e tudo         a proliferação de mestrados e                democracia nada mais é do que o
é igualmente descartável. Pulamos           doutorados, simbolizados no “canudo”;        arcabouço legal do sistema de
facilmente de um desejo a outro e, em       sobre o afã de galgar os degraus da          exploração capitalista de filosofia liberal/
consequência, nos empanturramos de          sociedade assimétrica ou da hierarquia       neoliberal. O jogo de fachada do
bens supérfluos. O mais grave é que o       institucional; sobre o posto conquistado     exercício democrático – eleições,
desejo tem uma dinâmica crescente. De       no mercado de trabalho, a cadeira cativa     candidatos, urnas, votos, etc. – só faz
um objeto a outro, aumenta                  no campo legislativo ou o poder de           reproduzir os privilégios históricos e
simultaneamente o grau de fascínio e de     influência no labirinto do executivo e do    estruturais dos moradores da casa
rejeição. Nenhum coração pode               judiciário? Mas, tal como no caso do         Grande. A democracia ocidental surfa
repousar sobre o verniz falso das           sucesso e insucesso, aqui também a           nas ondas superficiais da política, ou da
mercadorias que, com um misto de            gangorra não perdoa. O prestígio e a         politicagem, sem mergulhar seriamente
sedução e indiferença se adquirem, se       influência são tão voláteis quanto a         nas correntes subterrâneas da economia.
banalizam e se descartam.                   fumaça ou as promessas de palanque.
    Resulta desse processo uma              Pior ainda: raramente se livram do vírus         Cinco
insatisfação progressiva. Compramos         da corrupção, do nepotismo, do abuso             Onde repousa teu coração? Na
para aliviar o desejo, mas este só faz      e do tráfico da força e de tantas outras     astúcia e na malicia que se delicia em
crescer diante das coisas adquiridas.       bactérias que proliferam nos corredores      orquestrar        a     vingança?         No
Voltamos à loja com sede redobrada          muitas vezes infectos da política. Que       entrelaçamento de sentimentos de
atrás das últimas novidades. Nova           coração pode repousar em meio às             rancor e ódio, cujo objetivo é urdir redes
compra e nova insatisfação. E assim o       intrigas, disputas e ruídos das salas e      de intrigas e difamações? No terreno da
círculo vicioso vai se ampliando em         salões das Câmeras e do Senado? No           inveja e do ciúme, que só faz crescer a
espiral. Ficamos presos na ratoeira do      jogo de “posição e oposição”, vitórias       cizânia no meio do trigo? Tramas dessa
consumo, pois sempre um produto ainda       e derrotas estão sempre á espreita. As       natureza costumam deixar o coração em
inusitado e, portanto, mais fortemente      batalhas se sucedem, os animas se            efervescência e inquietude constante.
cobiçado. O marketing e a propaganda,       exaltam, multiplicam-se os discursos         Não há descanso possível! Bem sabemos
com seus agentes de publicidade, se         prolixos...                                  que cada mentira necessita de uma série
encarregam de manter girando essa roda          E que resulta de todo este gasto de      de outras para manter-se de pé. O
do mercado. Criam necessidades              energia? Esquerda e direita de               mecanismo desencadeado pelo
sempre novas e, não raro, absolutamente     embaralham e se confundem de tal             ressentimento cria uma teia de aranha tão
dispensáveis. É o que se poderia chamar     forma, que as fronteiras se quedam           inextrincável e labiríntica que facilmente
de globalização intensiva, que tem a        completamente borradas. A ética do bem       caímos nas próprias armadilhas. “O
função de manter vivo e ampliar o desejo    comum dá lugar ao jogo de interesses,        feitiço se volta contra o feiticeiro”, insiste
dos que já estão incorporados ao            ao balcão de negócios ou à simples           com razão o ditado popular. Quando
mercado mundial. Paralelo a esse            compra e venda de opiniões. Os               entra em jogo não a luz e a verdade,
esforço, caminha aglobalização extensiva,   partidos não passam de escadas para          mas a esperteza e a enganação, é preciso
que, ao contrário, procura incorporar       subir da planície ao planalto, do primeiro   arquitetar mil maneiras para superar as
novos consumidores e novos territórios      ao segundo andar. Escadas que se             “maracutaias” do adversário. Sim, as
ao mercado global. Consolida-se dessa       trocam e se abandonam como quem              relações tornam-se ciladas de um inimigo
forma o crescimento compulsivo da           troca de roupa ou calçado. Canais,           contra o outro. O conflito se instala e
economia capitalista, em detrimento do      instrumentos e mecanismos de poder           impõe uma atenção redobrada.
meio ambiente e da qualidade de vida        são      manipulados        de      forma    Inaugura-se uma espiral de violência
em todas as suas formas, como nos           inescrupulosa, não de acordo com as          crescente que só faz acirrar os ânimos.
alertam os cientistas, os movimentos        necessidades básicas da população, e sim     Coração que se lança nesse jogo de
sociais e, em especial os ambientalistas.   conforme as vantagens e desvantagens         xadrez perde completamente o sossego.
A ordem é produzir, vender/comprar          das classes dominantes, das elites           Vive aos sobressaltos: qualquer ruído,
l
         espiral                                                                                                                   7



                                                                                                 programa
qualquer notícia, qualquer sombra toma        personagens shakesperianos, três sécu-
as dimensões de um fantasma                   los antes da criação da psicanálise, exi-         ENCONTRO
ameaçador.                                    bem nua e cruamente aquilo que o ego              NACIONAL
    Nem precisaria acrescentar que o          e o superego proíbem ao id de revelar.           Fátima - Seminário do Verbo
rancor e o ódio, a discórdia e a vingança,    Se é verdade que Freud sistematiza em             Divino (Rotunda Norte)
a atitude de revanche e desamor               termos de conceitos as “ervas daninhas”
comprometem seriamente a saúde física,        que se abrigam no inconsciente, o                  Dia 27 de abril (6.ª-feira)
mental e psíquica. O mesmo ocorre com         dramaturgo inglês as põe em cena e as          20h00 – Jantar
o sentimento de culpa, fonte de não           escancara na frente do público. Aliás, seu     21h15 – Informações. Serão
poucos distúrbios pessoais e relacionais.     sucesso reside no fato de a platéia            22h00 – Descanso
Quando a culpa e a mágoa se convertem         identificar-se tão prontamente com os
numa espécie de sensação doentia,             sentimentos contraditórios trazidos ao             Dia 28 de abril (sábado)
podemos imaginar reações inesperadas,         centro do palco. Não descansa o coração        8h30 – Pequeno-almoço
que, em freqüentes e rápidas oscilações,      de personagens como Iago, os                   9h00 – Laudes
vão facilmente da euforia à depressão.        demônios de Dostoievski ou o Fausto            10h15 – Encontro
Boa parte das pessoas cultiva a mágoas        de Goethe. Vivem acorrentados à                13h00 – Almoço
e a culpas como verdadeiros bichinhos         ratoeira que eles mesmos armaram.              15h15 – Encontro
de estimação. Assim, em meio a um clima                                                      19h30 – Vésperas
de alegria e festa, costumam surpreender          Seis                                       20h00 – Jantar
seus acompanhantes, como um pássaro               E então, onde repousa teu coração?         21h15 – Tertúlia
errante que precisa encontrar um galho        Inevitável a referência a santo Agostinho:
onde efetuar um pouso de emergência,          o coração humano debate-se irrequieto              Dia 29 de abril (domingo)
para sustentar o peso de seu fardo,           até que não descanse na Casa de Deus,          8h30 – Pequeno-almoço
muitas vezes falso e imaginário. Também       de onde proveio. Também é inevitável           9h00 – Laudes
neste caso, o coração permanece escravo       acompanhar as palavras, passos e prática       9h45– ASSEMBLEIA GERAL
de uma mente mórbida, que não se              de Jesus. Nu, pobre, livre e alegre,           12h00 – Eucaristia
cansa de encontrar motivos para o             caminha com leveza incrível em direção         13h00 – Almoço
pessimismo mais devastador. Em                ao Reino de Deus. Experimentada a
semelhante atmosfera, proliferam as           intimidade com o pai (Abba), em noites
palavras envenenadas, o silêncio ou           e noites de silêncio e escuta, relativiza    Inscrições - Urtélia Silva:
mutismo constrangedor, as brigas cegas,       bens, títulos, prestígio, poder, riqueza,    secretariado@fraternitas.pt | 914 754 706
mudas e surdas pelo poder, o prestígio,       fama, sucesso, apropria vida... Porque       Tesouraria - Fernando Neves
a influência.                                 conhece o tesouro escondido, a pérola        tesouraria@fraternitas.pt | 968 946 913
    Numerosos personagens da literatura       mais preciosa, a semente que cresce
constituem personificações exemplares         oculta na terra, como deixa transparecer        ASSEMBLEIA GERAL
da farsa e da astúcia, cuja função é minar    em suas parábolas. A própria impotência          A realizar no dia 29 de abril de 2012
o caminho dos demais. Nesse campo,            e abandono, no alto da cruz, revela um       (domingo), pelas 9h45, no Seminário
destaca-se de forma notória o gênio de        novo poder, o poder infinito do amor,        do Verbo Divino, em Fátima, com a
Shakespeare em criar figuras vivas e ativas   que é capaz de destruir a dialética          seguinte ordem de trabalhos:
que se esmeram em costurar intrigas com       perversa em que a violência gera mais            1. Apreciação e votação da ata an-
consequências quase sempre trágicas. As       violência. O perdão como resposta de         terior.
mais evidentes são, sem dúvida, Falstaff,     Deus à agressão humana desfaz a                  2. Informações.
Iago, Edmundo, Lady Macbeth. São              dinâmica espiral da própria                      3. Apresentação, apreciação e vota-
seres de inteligência e imaginação            agressividade. Ou seja, a vingança de        ção do relatórios de atividades de abril
extremamente aguçadas e perversas.            Deus se chama amor e perdão,                 2011a abril 2012 e das contas do ano
Trazem ao palco os instintos, impulsos,       misericórdia e compaixão. Vale também        de 2011. Leitura do Parecer do Con-
paixões e interesses que cada um de nós       o exemplo de Saulo, o “judeu                 selho Fiscal.
procura esconder no canto mais                irrepreensível”, perseguidor dos cristãos,       4. Apresentação, apreciação e vota-
escondido do coração. Desnudam as             o qual considera toda sua formação           ção do plano de atividades referente
contradições e incongruências mais            como lixo diante do encontro com a           de abril de 2012 a abril de 2013, e do
ocultas nas entranhas do ser humano.          Boa Nova de Jesus cristo, convertendo-       orçamento para 2012.
Para utilizar a linguagem de Freud, esses     se no apóstolo Paulo.                            5. Outros assuntos.
A minha religião




                                                                                                                                     | P.Ta Malmequeres, 4 - 3.º Esq | 2745-816 QUELU Z | E-mail: fernfelix@gmail.com
                                Sinto tão agudamente a crise da nossa Igreja,
                   que me parece urgente que cada um dê testemunho do que julga essencial.

    – Tens alguma religião?                                        Lourenço quando escreveu que “O problema não é sobre a
    – Sim, sou cristão católico.                                   existência de Deus (...) O problema é saber se nós existimos
    – Mas tenho-te ouvido muitas críticas.                         para Deus”…
    – É certo, sou católico crítico.                                   – Isso são crises de gente agnóstica.
    – Logo para ti, o cristianismo católico é a única                  – Enganas-te. Quando Bento XVI visitou Auschvitz, em
religião verdadeira.                                               28 maio de 2006, exclamou: “Onde estava Deus nesses dias?
    – Verdadeiras são todas as religiões que procuram o bem        Porque esteve Ele silencioso? Como pôde permitir esta
dos humanos.                                                       matança sem fim?...”




                                                                                                                                      Boletim de Fraternitas Movimento | Trimestral |
    – Ou seja, todas as religiões se equivalem.                        – Praticas a religião cristã? Parece que a tua presença




                                                                                                                                                                                QUELU
    – Isso eu não digo. Penso que não são todas iguais.            nas igrejas não vai além do estritamente essencial.
Conheço algumas que claramente não me parecem tão                      – É verdade. O comodismo tem dificultado a participação
valiosas como a cristã católica.                                   em algo diferente de comunidades mudas. Porém, carregando
    – E as outras religiões cristãs não católicas?                 muito pecado e omissão, procuro honrar o preceito de amar
    – Nesse ponto não estou tão seguro. Sou cristão porque         os outros como a mim mesmo. É esse o mandamento. Só
Jesus de Nazaré disse (diz) e fez (faz) coisas admiráveis. Sou     por aí se demonstra que esperamos (amamos) a Deus. Logo
católico principalmente porque foi essa a fé dos meus pais.        pratico a religião cristã.
    – Se és cristão, embora crítico, quer dizer que                    – Isso fazem muitos por aí, procuram fazer o melhor
acreditas em Deus.                                                 possível.
    – Sim, acredito. Deus parece-me uma bonita ideia para              – Seguem os caminhos de Jesus de Nazaré sem disso se
designar todo o mistério, interrogações e aspirações que nos       aperceberem. Católicos não serão. Para isso é preciso aceitar
envolvem.                                                          que há uma Igreja, que é o povo de Deus, e que devemos
    – Para ti, Deus existe com certeza?                            estar dentro dela, ainda que muitas vezes sob a forma de
    – Certeza não é a palavra justa para designar o meu estar      crítica e contestação dos poderes.
perante Deus. Certeza diz-se de outros saberes: que o calor            – A igreja persegue os seus críticos.
dilata os corpos, ou que estou aqui a dialogar contigo, ou que         – Eu diria com mais propriedade que os poderes
antes de mim houve gerações de homens com experiências             eclesiásticos perseguem os seus críticos. Esses poderes e a
semelhantes às minhas. Relativamente a Deus certeza não é a        pompa correspondente (ainda hoje cultivada) fizeram da




                                                                                                                                       P.Ta
palavra adequada. Deus só pode transcender em absoluto             história da Igreja romana, no mínimo, uma procissão de
qualquer categoria da nossa linguagem. Bonheufer dizia que         ambiguidades. É preciso argumentar com os poderes e, se
um Deus que existe não existe.                                     eles não querem ouvir, ir em frente no que nos parece serem




                                                                                                                                                                                Redacção: Fernando Félix
    – Estás a contradizer-te. Há pouco disseste que                os caminhos de Jesus, que quase sempre não fez o que os
acreditavas.                                                       sacerdotes queriam que ele fizesse.
    – Acreditar não é o mesmo que ter a certeza. Para com              – Parece que também há autores que põem em dúvida
Deus procuro alimentar a atitude que o Novo Testamento             a existência histórica de Jesus.
diz para termos. Paulo de Tarso escreveu que a nossa fé                – Por aí não vou. Se nos pomos a especular sobre isso
deve ser como a de Abraão. E acrescenta que Abraão acreditou       parece que também devemos duvidar da existência de
contra toda a esperança. Eu também acredito contra todas           Alexandre Magno, sobre o qual os documentos históricos
as dúvidas que fazem tantas vezes oscilar a minha sensibilidade.   coevos ainda são mais escassos.
    – Porque oscila a tua sensibilidade?
    – Talvez a razão maior seja o problema do mal, o                   – Não referiste teres sido ordenado padre.
sofrimento dos inocentes. A isso penso que se referia Eduardo          – Evitei mencioná-lo porque não é uma situação simples
                                                                   e posso ser mal entendido. Mas vou tentar. Os vínculos
                                                                   jurídicos, aliás já desfeitos, não me dizem nada e não tenho
                                                                                                                                                      espiral




      Há um espaço na blogosfera para a partilha e                 qualquer interesse em reatá-los. Jamais voltarei a ser clérigo.
                    reflexão da Fraternitas:                       No entanto considero-me padre para sempre. No quadro
         http://fraternitasmovimento.blogspot.com                  de uma relação pessoal com Jesus de Nazaré, quero assumir
     Visite. Deixe comentário. Mande mensagens para                isso como um peculiar e nunca revogável apelo a um estilo
                                                                   de viver que até à morte dê testemunho do Evangelho.
             fraternitasmovimento@gmail.com
                                                                                                          Ta
                                                                                                   Abílio Tavares Cardoso

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Livros de associados da Fraternitas editados em 2011

  • 1. espiral da ANO xiII fraternitas moviment - ternit vimento boletim da associação fraternitas movimento N .º 46 - J ANEIRO/mARÇO de N.º JANEIR ANEIRO/mARÇO 2012 Escre vo par a mim mesmo fERNANDO fÉLIX A Fraternitas existe para que não se apague o carisma – o podem participar nas atividades do movimento – e lembro dom de Deus – que há em nós. É essa a nossa reivindicação. o nosso Encontro Nacional, em Fátima, de 27 a 29 de abril – O Senhor chamou-nos. Atraiu-nos a vida sacerdotal, o . A uns direi: não é preciso que se sintam na obrigação de ministério. O modo de o realizar é como Deus o quer, e já participar fisicamente para se sentirem membros ativos. Rezar, foi diferente do que é hoje, por isso cremos que pode ser oferecer os trabalhos, as dores, as canseiras, o dia a dia... isso através do celibato ou da vida em matrimónio. é estar em comunhão. Como diz Richard Bach, “Podem os Na Fraternitas, todos somos uma família. quilómetros separar-nos realmente dos amigos? Se você quer E todos somos necessários: uns mais ativos, outros menos; estar com alguém a quem ama, já não está lá?” uns na frente, outros na retaguarda; uns com ação, outros A outros, porém, direi as palavras de Mahatma Gandhi: com a oração; uns com forças, outros com mais debilidades… “Sê a mudança que queres ver no mundo.” “Temos cinco dedos e nenhum é igual”, diz a sabedoria Nada na vida dá jeito. Há sempre imprevistos, obrigações, milenar. Na Fraternitas, sabemo-lo, todos têm a sua função atividades que colidem com os planos pessoais, com as imprescindível. Por isso, nos lembramos uns dos outros, expetativas. Por isso, temos de adaptar-nos, eleger segundo o alegramo-nos com a presença de cada membro e damos que é prioritário, conforme o que tem mais valor, dispor-nos pela sua falta, sentimos a sua ausência. a colocar os nossas qualidades de caráter e, também, A vida em Fraternitas não depende se pagamos quotas ou administrar os nossos bens materiais ao serviço do bem do não. A quota é uma questão legal – com a sua devida irmão, do próximo. importância –, por se tratar de uma associação. Todavia, mais importante é o Espírito, são os laços no Espírito, porque NÃO HÁ ACASOS somos Movimento. No Encontro Nacional, em Fátima, vamos partilhar Devemos dinheiro à Fraternitas? Até pode acontecer... testemunhos de voluntariado. Vale a pena lembrar estas Porém, devemos, sobretudo, vida, fraternidade, alegria, sabedorias: partilha de sofrimentos... isso sim. E a nossa dívida nunca “Se alguém te procurar com frio... é porque tens o cobertor. estará saldada... Com alegria ... é porque tens o sorriso. E, quanto às dívidas materiais, a associação sempre disse Com lágrimas... é porque tens o lenço. – está registado em Acta da Direção – que se alguém não Com versos... é porque tens a música. pode pagar, que não sejam os motivos financeiros a decidir Com dor... é porque tens o curativo. o afastamento. Com palavras... é porque tens a audição. Como fome... é porque tens o alimento. FOLHAS CAÍDAS Com beijos... é porque tens o mel. Se uma árvore, por passar o inverno sem folhas, dissesse Com duvidas... é porque tens o caminho. que já não merecia florir na primavera, como estaria errado Com orquestra... é porque tens a festa. o seu modo de pensar! Com desânimo... é porque tens o estímulo. Ou seja, admitamos que vários membros da Fraternitas Com fantasias... é porque tens a realidade. estão a viver um período de inverno. E isso Com desespero... é porque tens a serenidade. independentemente da idade, se é homem ou mulher, e Com entusiasmo... é porque tens o brilho. valorizando cada um dos fatores da crise pessoal ou familiar. Com segredos... é porque tens a cumplicidade. O que importa é que permitam que floresça a primavera. Com tumulto... é porque tens a calma. E o que é ser primavera na vida da Fraternitas? É, tantas Com confiança... é porque tens a força. vezes, ser portador da seiva que renova a vida. Vários não Ninguém chega até ti por acaso, em tudo há propósito...”
  • 2. 2 espiral Livros de associados da Fraternitas editados em 2011 Urtélia Silva Urtélia Silv Vamos anunciando as obras literárias disponíveis no Secretariado para serem “UM NOVO CONCEITO DE relações públicas da congregação, na consultadas por qualuqe sócio. O EUROPA E OUTROS ENSAIOS”, cidade, desde 25 de novembro de 1975, critério tem sido o biénio ou o Artur Cunha de Oliveira (Angra do lhe facultou. 7. (…) Cultivar a memória triénio, consoante a abundância Heroísmo, maio de 2009), edição de “A histórica ajuda a travar as batalhas do da produção literária, “recuando” Casa Encantada” [340 páginas], acerca presente para construir um radioso no tempo, e no Espiral do quarto do qual o vice-presidente dos Governo futuro de esperança. (…)”. trimestre, as obras publicadas Regional, Dr Sérgio Ávila, escreveu no * João G.M. Batista, Presidente da nesse mesmo ano. Prefácio: “Este livro do Dr. Cunha de Câmara Municipal (nosso associado), No Espiral n.º 44, tratámos o Oliveira reflecte trechos de uma vida pág. 11: “ (…) Perpetuar na História a triénio 2006-2008, mas 2007 ficou em branco, e, antes, no fascinante, deambulando pela Política, História da Instituição é um tributo justo Espiral n.º 42, o biénio 2009- pela História, pela Construção Europeia ao trabalho solidário de quem faz da 2010. Como alguns livros mas, sobretudo, por uma participação solidariedade uma forma de vida.” publicados em 2009 não foram cívica intensa, inconformista, polémica * O autor do texto em EPÍLOGO, anunciados, por ausência de e frontal, traços marcantes do autor. A pág. 141-142: “ (…) A opção selectiva é dados na altura, vamos sua visão, assente num profundo da minha inteira responsabilidade. comple tar. pletar com ple tar. substrato cultural e numa visão humanista Deixei-me conduzir não por um O Secretariado agradece os do mundo, foram cimentando ideias, qualquer direito de justiça social mas por dados relativos a quaisquer livros conceitos, perspectivas que, tantas vezes imperativo de pedagogia social – porque publicados pelos associados. E antes do tempo, se foram revelando só Deus conhece as capacidades pede que os levem para os Encontros Nacionais!... correctas”. humanas, disponibilidades e possibilida- Parabéns aos autores e seus des financeiras de cada qual e mede, por colaboradores. “CASA SANTA MARTA DE via disso, a generosidade de cada um. CHAVES/ Instituição Modelar de (…) A solidariedade cristã irmanou “SONHOS E GESTOS DE Assistência aos Idosos”, texto de Alípio pobres e ricos. Foi-me fácil nomear VIDA”, Manuel Alves Paiva (Oliveira Martins Afonso e pesquisa da Irmã M. alguns dos mais sonantes (…) que de Azeméis, maio de 2007), edição do do Carmo (Chaves, maio de 2011), constam do arquivo. (…) Todos, menos autor [217 páginas]. edição da Casa Santa Marta, um, cujo gesto vou lembrar e só o gesto, Afirma o autor: “procurei resumir [formato:17x0,8x24, 143 páginas]. (…). Foi uma senhora de Vila Verde da as iniciativas pastorais sonhadas e D. Amândio José Tomás, 7 de maio Raia. A comissão local para a recolha de realizadas, durante os, até então, 30 anos de 2011, apresentando o livro - “ 6. O ofertas, destinadas ao 2.º Cortejo de de paroquialidade do dinâmico e livro recolhe o testemunho dos Oferendas, em 1958, bateu-lhe à porta. totalmente dado ao serviço da intervenientes na obra de bem-fazer: da A senhora estava dentro mas, fez-se comunidade, o P. Albino de Almeida Irmãs, do co-fundador da obra, nesta ausente, para não lhes aparecer. Dias Fernandes, que transformou por cidade, o generoso P. Manuel Pita, dos depois, vem ao Lar trazer a oferta - 5 completo o ambiente espiritual da padres Carlos Jorge Alexandre, escudos - justificando-se perante a Irmã comunidade da cidade de Oliveira de Norberto Portelinha, do P. Albino Lage que a recebeu, de não os ter oferecido à Azeméis, conseguindo impulsionar as Dias, de Monsenhor Manuel Teixeira e Comissão por não os possuir no dia do crianças, os jovens e os adultos, na doutros benfeitores. O livro apresenta peditório e que fora por isso que se criação de grupos de dinamização os depoimentos orais e alguns fingira ausente de casa. À pergunta da comunitária, cuja responsabilidade por documentos escritos, cartas, decisões e Irmã sobre a forma como se deslocara eles foi assumida e vivida.” textos legais do arquivo da Santa Casa até ali, respondeu: «A pé, se não lá se me ia Este livro foi publicado para se da Misericórdia de Chaves e do arquivo o dinheiro todo. E a pé regressou. » Aos associar à celebração das Bodas de Ouro da Congregação, que a Irmã Maria del olhos de Deus de Deus esta oferta iguala Sacerdotais do referido P. Albino. Cármen, uma espécie de ministro de a dracma do Evangelho. (…)”
  • 3. l espiral 3 “MISERICÓRDIAS PORTU- tuosamente deficiente, como prosa ba- “O MEU OUTRO PAI”, Maria José GUESAS – PADRÕES DE FÉ, DE nal de cariz meramente crítico, ou seja, Bijóias Mendonça, edição da autora HISTÓRIA E DE CIDADANIA”, primariamente denunciador de casos, (Lisboa, novembro de 2011). Manuel Ferreira da Silva (Lisboa, 2011), ideias, problemas, situações, afirmações A autora: “Este livro pretende ser um edição do autor, [formato: 17 x 2,2 x ou pessoas. Mas não. (…) Tomam peso tributo ao meu pai e à minha mãe, uma 24, 370 páginas]. sim, e de muito específica verdade, homenagem à médica que tratou do Dr. João Afonso Calado da Maia apenas e só, a natureza, o carisma e a meu pai (e que tanta paciência teve para (também prefaciador), na contracapa: missão de uma instituição: as Miseri- mim) – e nela a todos quantos dignificam “Nesta notável Obra do Dr. Ferreira da córdias. E essas tudo merecem de todos a medicina –, uma forma de exprimir a Silva, (...) desenvolve-se, de uma forma nós. E todos nós muito lhes devemos a profunda gratidão que sinto aprofundada, um estudo bem docu- elas, para facilmente se compreender que relativamente ao meu marido e a quem mentado do candente e preocupante por elas “tudo vale a pena”. esteve e continua a estar por perto e a problema da natureza jurídica das Santas manifestar verdadeira amizade e carinho Casas. O subtítulo do livro: Os direitos da “AUTOCONSCIÊNCIA - Segundo nesta fase tão penosa, e um meio de Razão e a Razão de alguns Direitos é desde passo existencial “, Manuel Joaquim comunhão com quem se encontre a logo significativo de quem nem sempre Cristo Martins (Lisboa, setembro viver um processo de luto” (pág. 3). os direitos legítimos que julgamos 2011), Editora Paulinas [formato: No Prefácio, do Professor Doutor irrefutáveis, são entendidos pela Razão; 13x1,5x20,5, 240 páginas]. Mário Simões – «Ao iniciar a leitura deste e que, por vezes, esta, por inexplicável O autor, na contracapa: “Este livro, logo na página 3, dei-me conta que que pareça, nem sempre é traduzida em segundo livro da trilogia Autoconhecimento, a Maria José já tinha escrito o prefácio direitos. Não se trata de Obra de crítica, Autoconsciência e Autotranscendência alerta- (…), mas não faz justiça completa ao nem tem objetivos polémicos, como o nos para a urgência em eliminarmos o conteúdo do livro. Na verdade, este autor adverte no Pré-Texto, sobre o paradigma fratricida «ganhar/perder», questiona-nos sobre a MORTE, que a diferendo que opõe alguns elementos da implantando, na nossa vivência pessoal Maria José insiste em nomear sem Hierarquia em Portugal às Santas Casas e, por ela, na Comunidade Humana, o rodeios (não a passagem, trânsito, sono da Misericórdia, e só em Portugal, paradigma «ganhar/ganhar». É um con- eterno, grande viagem, etc.), acerca das quanto à questão de se saber se as vite a mergulharmos nas profun-dezas nossas atitudes em relação a pessoas que Misericórdias Portuguesas são Institui- do nosso ser e, a partir daí, deixar o Artí- perderam um ente querido e é uma ções Privadas de Fiéis, constituídas na fice divino purificar e plenificar o nosso reflexão sobre a vida e também uma Ordem Jurídica Canónica, portanto sentir, para que brote o Amor; purificar lição sobre esta. Ainda, e talvez o mais Eclesiais, ou se, pelo contrário, são e plenificar o nosso pensar, para que importante para ela (a autora), é o Instituições Públicas de Fiéis e, nesse caso, brote a Sabedoria; e purificar e plenificar reconhecimento simultâneo da Eclesiásticas. O Dr. Ferreira da Silva, es- o nosso agir, para que brote a Harmonia descoberta de um pai “real”, que surge critor, ensaísta, grande jornalista, fun- e a Paz. Este livro traz nas suas entranhas ao “descobrir-se” também a si, sob a dador e director do Jornal Voz das o segredo das verdadeiras revoluções. forma de um testemunho pungente. Misericórdias, conhece profundamente as As verdadeiras revoluções acontecem no Este testemunho é escrito numa Santas Casas e o trabalho que elas desen- silêncio ativo da consciência espiritual.” linguagem fluida, inteligente, com humor volvem na sua acção misericordiosa. De Vasco Ventura, na contracapa: e emotiva, de tal modo que quase se Com a sua grande formação literária, “Cristo Martins faz do humanismo o entrevê a mímica e outra linguagem jurídica, canónica, pastoral e teológica, seu sacerdócio, quer através dos seus corporal da autora. A sua personalidade grande investigador e brilhante escritor, livros quer no contacto direto com as perpassa ao longo das páginas – (…)! era a personalidade mais indicada para pessoas, numa partilha total do que o Apetece, pois, ler! proceder a este completo e bem estudo lhe revela, a reflexão aprofunda (…). O capítulo II, “E depois (d)a elaborado Estudo do complexo pro- e a experiência consagra. Na sua peda- dor”, é quase um verdadeiro manual de blema, o qual, pela sua actualidade, vem, gogia peculiar, surpreende-nos com a como estar no luto com alguém, (…). e no momento próprio, apresentar nesta síntese dos seus diagramas, com a pro- É no capítulo V, que começa o núcleo Obra, cuja falta se fazia sentir.” fundidade das suas explicações e com a do livro, com a descoberta de um novo O autor, em Pré-Texto: “(…) Pode simplicidade da sua linguagem. O seu pai, que vai a par e passo com a este escrito-testemunho denunciar-se à campo de acção tem sido largo e descoberta de um seu “novo eu”. (…) primeira vista e com uma leitura diversificado: empresas, escolas, Outra aprendizagem a fazer é a apressadamente sumária ou preconcei- instituições, associações…” expressão dos afectos (…) Oxalá este
  • 4. 4 espiral livro mude algo nesta área! (…) Um sabedoria quase búdica ao interiorizar sobre temas de fronteira e, nomeada- objecto da investigação que a Psicologia que a realidade não é como a vemos, mente, proporcionar ao (…) leitor o Positiva propõe é o perdão. É que está mas pode vir a ser como mais largo e por vezes profundo (quiçá demonstrado que, tal como outros, tais conscientemente “fingimos acreditar” – repetitivo) contacto e familiaridade com como o amor e o humor, faz bem ao (…) Praticar o humor, (…) é uma das as fontes primigénias e mais credíveis do próprio e aos outros. É interessante que suas sugestões, entre outras, para Cristianismo, que são as Sagradas a Maria José nomeie os seus pais os enfrentar a VIDA. (…) Este livro (…) é Escrituras (a Bíblia) e os Padres e “Gurus do Perdão” e, de modo irónico, também um acto de AMOR. (…)» Escritores Eclesiásticos dos primeiros se distancie do “perdão pastilha elástica”. Depois da leitura, aceiam-se ecos e séculos da Igreja. (…) Este é reconhecido quando se ouve partilhas de experiências e sabedorias do Na Contracapa: «Jesus de Nazaré “perdoo, mas não esqueço” ou “vou luto no blogue amarparaalemdamorte. casou de facto com Maria Madalena? perdoar, mas primeiro tenho de me Não viria qualquer espécie de mal ao Estas obras foram gentilmente vingar” ou ainda “perdoei, mas, quando mundo, à religião e ao cristianismo se of erecidas à FRATERNITAS, pelo oferecidas FRATERNIT TERNITAS, penso nisso, ainda me dá volta ao assim tivesse sido. Mas não foi. “Rosto que estão disponíveis, podendo estômago”, isto é, esticam-se demasiado ser solicitadas a qualquer humano de Deus”. Jesus de Nazaré era os acontecimentos até “fazer balões”. membro da Direção. perfeito homem. E o casamento faz Propõe antes que se escreva na areia o parte da natureza humana. Sucede mal que nos fazem, para que o vento “A MORTE DO JUSTO”, Artur porém que, bem contrário de toda a apague o registo, e na pedra o bem Cunha de Oliveira (Angra do criatividade literária e cinemato-gráfica recebido, para que fique gravado ad Heroísmo, 2011), edição “A Casa dos últimos trinta anos, a investigação eternum. (…) É sábio dizer que o tempo Encantada” [250 páginas] – uma leitura histórica e literária mais desprecon- nada cura, mas o que se faz no seu e comentário compreensivos e ceituosa, séria, extensa e profunda, quer decurso, o que vai acontecendo compreensíveis do Evangelho da Paixão a partir dos escritos canónicos e dos (passivamente) e o que se faz acontecer. e Morte do Senhor Jesus. primeiros autores cristãos, como dos Em relação ao passado vivido com “JESUS DE NAZARÉ E AS seus contemporâneos não cristãos e até outras pessoas que nos precedem na MULHERES - A propósito de Maria anti - cristãos, quer da correcta leitura morte fica a paz se a consciência do que Madalena”, Artur Cunha de Oliveira dos evangelhos gnósticos (ao contrário foi feito e dito foi o nosso melhor, não (Angra do Heroísmo, 2011), edição do do que fez Dan Brown), nada milita em tem que ser o óptimo! As páginas escritas Instituto Açoriano de Cultura (IAC), favor do casamento de Jesus de Nazaré. são disso o testemunho e as alegadas [formato: 17 x 3 x 24, 583 páginas]. Quanto a Maria de Madalena a características “d” do luto – duro, Pode ler-se na dedicatória manuscrita: mesma investigação o que nos oferece é demorado, difícil – são, pela Maria José, “Às mulheres da Fraternitas”, Antonieta alguém do círculo íntimo de Jesus de transmutadas em “p”, de puro, e Artur em 7.02.2012. Nazaré, senhora de bens e casada não profundo e perfeito. No Prólogo: “Este é sem dúvida um se sabe com quem, que a primitiva Mesmo assim, quando se sente que livro sui generis. Pode não obedecer aos tradição cristã aponta como alguém a se disse muito, ainda muito fica por dizer cânones da bibliografia. Mas responde, quem primeiro foi revelada a e então surge a necessidade de o escrever ou tenta responder, aos ditames da cir- Ressurreição. Tal qual sucedeu a tantas numa longa carta de AMOR, sim, amor cunstância e da consciência. Em pri- outras mulheres a quem o itinerante reconhecido a posteriori, sobretudo meiro lugar aos ditames da circunstância, profeta galileu dispensou humana pelos seus efeitos, na ausência da pessoa pois vivemos tempos de crise. Crise não atenção, carinho e até ternura, foi curada amada. É também um ritual necessário, tento de valores que, bem ao contrário de grandes males, pelo que Lhe ficou quase sagrado, onde perpassam citações do que às vezes aí se diz, continuam eternamente grata, acompanhando-O e de pessoas que considera Mestres, (…) existindo. (…) A crise residirá, então, socorrendo-O ( e aos discípulos) com E “do outro lado” também existem mais na linguagem, mais na maneira e os seus bens. Nada mais. comunicações, que a Maria José descreve nos processos de comunicação e da Foi o Papa Gregório Magno que, muito bem sob o tema “Saudades vivência, que nos valores em si. (…) sem numa homilia do dia 21 de setembro legendadas”, (…) No final retorna à nunca perder de vista o objectivo que de 591, na Basílica de S. Clemente, em VIDA, não à vidinha (O’Neil), citando foi cientificamente fundamentar Roma, confundiu com a “pecadora Lago: “Fiz um acordo de coexistência cientificamente a minha convicção a arrependida” do evangelista Lucas (7, pacífica com o tempo – nem ele me respeito das relações entre Jesus de 36-50). A partir de então terminou a persegue, nem eu fujo dele – um dia a Nazaré e Maria Madalena, aproveitei História e principiou a Lenda. Agora gente encontra-se.” Atinge uma para alargar horizontes nalguns Excursos tenta-se criar o Mito.» página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * blogue: http://fraternitasmovimento.blogspo
  • 5. l espiral 5 Onde repousa o teu coração P. Alfredo J . Gonçalves - Assessor das Pastorais Sociais . - Adital J. Gonçalves das Past astorais Sociais. Adital Um volúvel do que os sentimentos e proprietário. Como repousar diante No sucesso do presente? Na beleza comportamentos de uma arquibancada dessa montanha de riquezas, tão oculta, fugaz e efêmera? Na moda que se acende compacta. A multidão da platéia guardada e silenciosa quanto aparente- e apaga como a noite e o dia? Mas tudo “aplaude e pede bis”, como diz a mente barulhenta e cobiçada? isso não passam de fumaça passageira e canção; mas também, com o mesmo As turbulências do mercado enganosa. Sucessos e fracassos ímpeto, distribui palavrões e condena ao globalizado, o sobe-e-desce das bolsas costumam se comportar como ondas ostracismo. Vitórias e derrotas sucedem- de valores, a cotação do dólar, os preços alternadas: ora se levantam e se se, frias e quentes, como as estações do dos produtos e a possibilidade de lucros agigantam, ora se curvam e tombam, ano. A embriaguez da fama, a exemplo sempre maiores... Tudo isso faz trepidar rebentando irremediavelmente sobre o de qualquer tipo de embriaguez, se o colchão sobre o qual teu corpo chão. Ao mesmo tempo, alegram e logo dissolve numa noite de sono. Podem ser esgotado busca repouso. São extrema- entristecem. Confiar em sucesso é como aplicadas aqui as palavras do salmista, mente tênues e débeis os fios que caminhar sobre corda bamba. A embora se refiram a toda a vida humana: costuram a rede da economia capitalista. qualquer escorregão, tudo vem abaixo. “Eles passam como o sono da manhã, Com a velocidade de um toque na tecla Verdadeiro show pirotécnico: sobe com são iguais à erva verde dos campos: de do computador, tudo pode se alterar. profusão de cores, desenhos e brilho; manhã ela floresce vicejante, mas à tarde Fortunas de muitos zeros podem subir mas, com a mesma rapidez se apaga e é cortada e logo seca” (Sl 89, 5-6). e declinar com a mesma rapidez. Não é desce, convertendo tudo na mais densa Coração que descansa sobre o sucesso, tão raro que milionários e bilionários escuridão. Quem vive do sucesso, oscila rumina e amarga o presságio do tenham de assistir, de um dia para a noite, entre a euforia e a tristeza, sem conhecer esquecimento. à evaporação de seus ganhos. Bem diz o repouso do meio termo. Fogos de Shakespeare em uma de suas peças: “tens artifício: após a luz intensa e fugaz, resta Dois preocupações em demasia com este um punhado de cinzas que o vento varre. Onde repousa teu coração? Sobre o mundo; perdem-no aqueles que o Pó que desaparece ao menor sopro de dinheiro, a renda e a riqueza; sobre as compram à custa do excesso de uma brisa vespertina. O sucesso no contas bancárias e as propriedades cuidados” (O Mercador de Veneza, Ato presente não passa de uma fortaleza bem adquiridas; sobre o brilho das jóias e os I, Cena 1). frágil, sempre ameaçada pelos bens de luxo; sobre a posse de roupas, imprevistos do futuro, ou pelas sombras carros e equipamentos de última Três do passado. geração? Também aqui os fantasmas do Onde repousa teu coração? Na “Vaidade das vaidades, tudo é medo rondam as portas e janelas das compulsão do consumo, no vaidade”, diz a sabedoria do Eclesiastes. mansões e dos palácios, por mais acompanhamento dos últimos objetos O sucesso ou o glamour, com seus herméticas e intransponíveis que elas da moda, na procura de objetos que revestimentos e cosméticos aparentes, sejam. Os mais sofisticados sistemas de preencham a sede e a fome que assalta a multiplica palcos, cenários, platéias; nutre- segurança não conseguem eliminar o todo o ser humano? Mas todo esse se de câmeras e ação, holofotes e espectro da incerteza e da insegurança. esforço de busca não faz senão aumentar microfones; envolve personalidades e Nenhum travesseiro traz tanta insônia a própria sede e a fome. Neste caso, a celebridades com uma aura quanto o capital acumulado. Todo o que matemática parece nos trair: quanto mais aparentemente imortal. Porém, o público se acumula sofre de duas enfermidades artefatos, bijuterias e bagatelas que ergue estátuas e as cultua é o mesmo crônicas: apodrece e atrai os abutres. São acumulamos, mais se aprofunda o vazio que, cedo ou tarde, irá reduzi-las a ruínas os tesouros que a traça corrói e os da própria existência. Cada vez mais as e escombros. Aplausos e vaias se ladrões podem carregar, como bem vitrines dos grandes centros comerciais mesclam, se confundem e se sobrepõem mostra a sabedoria de Jesus no – shopping centers – nos atraem e nos com uma alternância espantosa. O Evangelho. E continua: onde está teu fascinam. Luzes, cores, variedades e exemplo do futebol bastaria para nos tesouro, aí está teu coração. Irrequieto e disposição seduzem o consumidor abrir os olhos. Heróis de belos dribles sobressaltado em proporção àquilo que inveterado. Mas a aquisição dos objetos estonteantes e de alguns gols, facilmente tem que defender. Riquezas exigem nos frustra. A posse desfaz a magia. se convertem em vilões de inevitáveis armazéns; estes necessitam de guardas; Somente desejamos o que ainda está tropeções. Nada é mais efêmero e e os guardas for mam o olhar do longe de nossas mãos. Assim que as ot.com * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesouraria@fraternitas.pt
  • 6. 6 espiral coisas se tornam nossas, como que e consumir, numa velocidade tal que históricas ou da “nova companheirada”. perdem o valor que tanto nos atraía. O caímos no vórtice voraz de uma A noção de democracia se desgasta com resultado é encher gavetas e mais gavetas devastação planetária. práticas que pouco ou nada respeitam de produtos que, com rapidez as exigências de uma efetiva decisão extraordinária, se convertem em lixo. Quatro democrática, participativa. Daí que na Lixo antes mesmo de desfazer a Onde repousa teu coração? Sobre área dos países ocidentais, embalagem, antes de chegar em casa! títulos, prestígio, nome e renome; sobre frequentemente o conceito de Tudo mexe com nossos desejos e tudo a proliferação de mestrados e democracia nada mais é do que o é igualmente descartável. Pulamos doutorados, simbolizados no “canudo”; arcabouço legal do sistema de facilmente de um desejo a outro e, em sobre o afã de galgar os degraus da exploração capitalista de filosofia liberal/ consequência, nos empanturramos de sociedade assimétrica ou da hierarquia neoliberal. O jogo de fachada do bens supérfluos. O mais grave é que o institucional; sobre o posto conquistado exercício democrático – eleições, desejo tem uma dinâmica crescente. De no mercado de trabalho, a cadeira cativa candidatos, urnas, votos, etc. – só faz um objeto a outro, aumenta no campo legislativo ou o poder de reproduzir os privilégios históricos e simultaneamente o grau de fascínio e de influência no labirinto do executivo e do estruturais dos moradores da casa rejeição. Nenhum coração pode judiciário? Mas, tal como no caso do Grande. A democracia ocidental surfa repousar sobre o verniz falso das sucesso e insucesso, aqui também a nas ondas superficiais da política, ou da mercadorias que, com um misto de gangorra não perdoa. O prestígio e a politicagem, sem mergulhar seriamente sedução e indiferença se adquirem, se influência são tão voláteis quanto a nas correntes subterrâneas da economia. banalizam e se descartam. fumaça ou as promessas de palanque. Resulta desse processo uma Pior ainda: raramente se livram do vírus Cinco insatisfação progressiva. Compramos da corrupção, do nepotismo, do abuso Onde repousa teu coração? Na para aliviar o desejo, mas este só faz e do tráfico da força e de tantas outras astúcia e na malicia que se delicia em crescer diante das coisas adquiridas. bactérias que proliferam nos corredores orquestrar a vingança? No Voltamos à loja com sede redobrada muitas vezes infectos da política. Que entrelaçamento de sentimentos de atrás das últimas novidades. Nova coração pode repousar em meio às rancor e ódio, cujo objetivo é urdir redes compra e nova insatisfação. E assim o intrigas, disputas e ruídos das salas e de intrigas e difamações? No terreno da círculo vicioso vai se ampliando em salões das Câmeras e do Senado? No inveja e do ciúme, que só faz crescer a espiral. Ficamos presos na ratoeira do jogo de “posição e oposição”, vitórias cizânia no meio do trigo? Tramas dessa consumo, pois sempre um produto ainda e derrotas estão sempre á espreita. As natureza costumam deixar o coração em inusitado e, portanto, mais fortemente batalhas se sucedem, os animas se efervescência e inquietude constante. cobiçado. O marketing e a propaganda, exaltam, multiplicam-se os discursos Não há descanso possível! Bem sabemos com seus agentes de publicidade, se prolixos... que cada mentira necessita de uma série encarregam de manter girando essa roda E que resulta de todo este gasto de de outras para manter-se de pé. O do mercado. Criam necessidades energia? Esquerda e direita de mecanismo desencadeado pelo sempre novas e, não raro, absolutamente embaralham e se confundem de tal ressentimento cria uma teia de aranha tão dispensáveis. É o que se poderia chamar forma, que as fronteiras se quedam inextrincável e labiríntica que facilmente de globalização intensiva, que tem a completamente borradas. A ética do bem caímos nas próprias armadilhas. “O função de manter vivo e ampliar o desejo comum dá lugar ao jogo de interesses, feitiço se volta contra o feiticeiro”, insiste dos que já estão incorporados ao ao balcão de negócios ou à simples com razão o ditado popular. Quando mercado mundial. Paralelo a esse compra e venda de opiniões. Os entra em jogo não a luz e a verdade, esforço, caminha aglobalização extensiva, partidos não passam de escadas para mas a esperteza e a enganação, é preciso que, ao contrário, procura incorporar subir da planície ao planalto, do primeiro arquitetar mil maneiras para superar as novos consumidores e novos territórios ao segundo andar. Escadas que se “maracutaias” do adversário. Sim, as ao mercado global. Consolida-se dessa trocam e se abandonam como quem relações tornam-se ciladas de um inimigo forma o crescimento compulsivo da troca de roupa ou calçado. Canais, contra o outro. O conflito se instala e economia capitalista, em detrimento do instrumentos e mecanismos de poder impõe uma atenção redobrada. meio ambiente e da qualidade de vida são manipulados de forma Inaugura-se uma espiral de violência em todas as suas formas, como nos inescrupulosa, não de acordo com as crescente que só faz acirrar os ânimos. alertam os cientistas, os movimentos necessidades básicas da população, e sim Coração que se lança nesse jogo de sociais e, em especial os ambientalistas. conforme as vantagens e desvantagens xadrez perde completamente o sossego. A ordem é produzir, vender/comprar das classes dominantes, das elites Vive aos sobressaltos: qualquer ruído,
  • 7. l espiral 7 programa qualquer notícia, qualquer sombra toma personagens shakesperianos, três sécu- as dimensões de um fantasma los antes da criação da psicanálise, exi- ENCONTRO ameaçador. bem nua e cruamente aquilo que o ego NACIONAL Nem precisaria acrescentar que o e o superego proíbem ao id de revelar. Fátima - Seminário do Verbo rancor e o ódio, a discórdia e a vingança, Se é verdade que Freud sistematiza em Divino (Rotunda Norte) a atitude de revanche e desamor termos de conceitos as “ervas daninhas” comprometem seriamente a saúde física, que se abrigam no inconsciente, o Dia 27 de abril (6.ª-feira) mental e psíquica. O mesmo ocorre com dramaturgo inglês as põe em cena e as 20h00 – Jantar o sentimento de culpa, fonte de não escancara na frente do público. Aliás, seu 21h15 – Informações. Serão poucos distúrbios pessoais e relacionais. sucesso reside no fato de a platéia 22h00 – Descanso Quando a culpa e a mágoa se convertem identificar-se tão prontamente com os numa espécie de sensação doentia, sentimentos contraditórios trazidos ao Dia 28 de abril (sábado) podemos imaginar reações inesperadas, centro do palco. Não descansa o coração 8h30 – Pequeno-almoço que, em freqüentes e rápidas oscilações, de personagens como Iago, os 9h00 – Laudes vão facilmente da euforia à depressão. demônios de Dostoievski ou o Fausto 10h15 – Encontro Boa parte das pessoas cultiva a mágoas de Goethe. Vivem acorrentados à 13h00 – Almoço e a culpas como verdadeiros bichinhos ratoeira que eles mesmos armaram. 15h15 – Encontro de estimação. Assim, em meio a um clima 19h30 – Vésperas de alegria e festa, costumam surpreender Seis 20h00 – Jantar seus acompanhantes, como um pássaro E então, onde repousa teu coração? 21h15 – Tertúlia errante que precisa encontrar um galho Inevitável a referência a santo Agostinho: onde efetuar um pouso de emergência, o coração humano debate-se irrequieto Dia 29 de abril (domingo) para sustentar o peso de seu fardo, até que não descanse na Casa de Deus, 8h30 – Pequeno-almoço muitas vezes falso e imaginário. Também de onde proveio. Também é inevitável 9h00 – Laudes neste caso, o coração permanece escravo acompanhar as palavras, passos e prática 9h45– ASSEMBLEIA GERAL de uma mente mórbida, que não se de Jesus. Nu, pobre, livre e alegre, 12h00 – Eucaristia cansa de encontrar motivos para o caminha com leveza incrível em direção 13h00 – Almoço pessimismo mais devastador. Em ao Reino de Deus. Experimentada a semelhante atmosfera, proliferam as intimidade com o pai (Abba), em noites palavras envenenadas, o silêncio ou e noites de silêncio e escuta, relativiza Inscrições - Urtélia Silva: mutismo constrangedor, as brigas cegas, bens, títulos, prestígio, poder, riqueza, secretariado@fraternitas.pt | 914 754 706 mudas e surdas pelo poder, o prestígio, fama, sucesso, apropria vida... Porque Tesouraria - Fernando Neves a influência. conhece o tesouro escondido, a pérola tesouraria@fraternitas.pt | 968 946 913 Numerosos personagens da literatura mais preciosa, a semente que cresce constituem personificações exemplares oculta na terra, como deixa transparecer ASSEMBLEIA GERAL da farsa e da astúcia, cuja função é minar em suas parábolas. A própria impotência A realizar no dia 29 de abril de 2012 o caminho dos demais. Nesse campo, e abandono, no alto da cruz, revela um (domingo), pelas 9h45, no Seminário destaca-se de forma notória o gênio de novo poder, o poder infinito do amor, do Verbo Divino, em Fátima, com a Shakespeare em criar figuras vivas e ativas que é capaz de destruir a dialética seguinte ordem de trabalhos: que se esmeram em costurar intrigas com perversa em que a violência gera mais 1. Apreciação e votação da ata an- consequências quase sempre trágicas. As violência. O perdão como resposta de terior. mais evidentes são, sem dúvida, Falstaff, Deus à agressão humana desfaz a 2. Informações. Iago, Edmundo, Lady Macbeth. São dinâmica espiral da própria 3. Apresentação, apreciação e vota- seres de inteligência e imaginação agressividade. Ou seja, a vingança de ção do relatórios de atividades de abril extremamente aguçadas e perversas. Deus se chama amor e perdão, 2011a abril 2012 e das contas do ano Trazem ao palco os instintos, impulsos, misericórdia e compaixão. Vale também de 2011. Leitura do Parecer do Con- paixões e interesses que cada um de nós o exemplo de Saulo, o “judeu selho Fiscal. procura esconder no canto mais irrepreensível”, perseguidor dos cristãos, 4. Apresentação, apreciação e vota- escondido do coração. Desnudam as o qual considera toda sua formação ção do plano de atividades referente contradições e incongruências mais como lixo diante do encontro com a de abril de 2012 a abril de 2013, e do ocultas nas entranhas do ser humano. Boa Nova de Jesus cristo, convertendo- orçamento para 2012. Para utilizar a linguagem de Freud, esses se no apóstolo Paulo. 5. Outros assuntos.
  • 8. A minha religião | P.Ta Malmequeres, 4 - 3.º Esq | 2745-816 QUELU Z | E-mail: fernfelix@gmail.com Sinto tão agudamente a crise da nossa Igreja, que me parece urgente que cada um dê testemunho do que julga essencial. – Tens alguma religião? Lourenço quando escreveu que “O problema não é sobre a – Sim, sou cristão católico. existência de Deus (...) O problema é saber se nós existimos – Mas tenho-te ouvido muitas críticas. para Deus”… – É certo, sou católico crítico. – Isso são crises de gente agnóstica. – Logo para ti, o cristianismo católico é a única – Enganas-te. Quando Bento XVI visitou Auschvitz, em religião verdadeira. 28 maio de 2006, exclamou: “Onde estava Deus nesses dias? – Verdadeiras são todas as religiões que procuram o bem Porque esteve Ele silencioso? Como pôde permitir esta dos humanos. matança sem fim?...” Boletim de Fraternitas Movimento | Trimestral | – Ou seja, todas as religiões se equivalem. – Praticas a religião cristã? Parece que a tua presença QUELU – Isso eu não digo. Penso que não são todas iguais. nas igrejas não vai além do estritamente essencial. Conheço algumas que claramente não me parecem tão – É verdade. O comodismo tem dificultado a participação valiosas como a cristã católica. em algo diferente de comunidades mudas. Porém, carregando – E as outras religiões cristãs não católicas? muito pecado e omissão, procuro honrar o preceito de amar – Nesse ponto não estou tão seguro. Sou cristão porque os outros como a mim mesmo. É esse o mandamento. Só Jesus de Nazaré disse (diz) e fez (faz) coisas admiráveis. Sou por aí se demonstra que esperamos (amamos) a Deus. Logo católico principalmente porque foi essa a fé dos meus pais. pratico a religião cristã. – Se és cristão, embora crítico, quer dizer que – Isso fazem muitos por aí, procuram fazer o melhor acreditas em Deus. possível. – Sim, acredito. Deus parece-me uma bonita ideia para – Seguem os caminhos de Jesus de Nazaré sem disso se designar todo o mistério, interrogações e aspirações que nos aperceberem. Católicos não serão. Para isso é preciso aceitar envolvem. que há uma Igreja, que é o povo de Deus, e que devemos – Para ti, Deus existe com certeza? estar dentro dela, ainda que muitas vezes sob a forma de – Certeza não é a palavra justa para designar o meu estar crítica e contestação dos poderes. perante Deus. Certeza diz-se de outros saberes: que o calor – A igreja persegue os seus críticos. dilata os corpos, ou que estou aqui a dialogar contigo, ou que – Eu diria com mais propriedade que os poderes antes de mim houve gerações de homens com experiências eclesiásticos perseguem os seus críticos. Esses poderes e a semelhantes às minhas. Relativamente a Deus certeza não é a pompa correspondente (ainda hoje cultivada) fizeram da P.Ta palavra adequada. Deus só pode transcender em absoluto história da Igreja romana, no mínimo, uma procissão de qualquer categoria da nossa linguagem. Bonheufer dizia que ambiguidades. É preciso argumentar com os poderes e, se um Deus que existe não existe. eles não querem ouvir, ir em frente no que nos parece serem Redacção: Fernando Félix – Estás a contradizer-te. Há pouco disseste que os caminhos de Jesus, que quase sempre não fez o que os acreditavas. sacerdotes queriam que ele fizesse. – Acreditar não é o mesmo que ter a certeza. Para com – Parece que também há autores que põem em dúvida Deus procuro alimentar a atitude que o Novo Testamento a existência histórica de Jesus. diz para termos. Paulo de Tarso escreveu que a nossa fé – Por aí não vou. Se nos pomos a especular sobre isso deve ser como a de Abraão. E acrescenta que Abraão acreditou parece que também devemos duvidar da existência de contra toda a esperança. Eu também acredito contra todas Alexandre Magno, sobre o qual os documentos históricos as dúvidas que fazem tantas vezes oscilar a minha sensibilidade. coevos ainda são mais escassos. – Porque oscila a tua sensibilidade? – Talvez a razão maior seja o problema do mal, o – Não referiste teres sido ordenado padre. sofrimento dos inocentes. A isso penso que se referia Eduardo – Evitei mencioná-lo porque não é uma situação simples e posso ser mal entendido. Mas vou tentar. Os vínculos jurídicos, aliás já desfeitos, não me dizem nada e não tenho espiral Há um espaço na blogosfera para a partilha e qualquer interesse em reatá-los. Jamais voltarei a ser clérigo. reflexão da Fraternitas: No entanto considero-me padre para sempre. No quadro http://fraternitasmovimento.blogspot.com de uma relação pessoal com Jesus de Nazaré, quero assumir Visite. Deixe comentário. Mande mensagens para isso como um peculiar e nunca revogável apelo a um estilo de viver que até à morte dê testemunho do Evangelho. fraternitasmovimento@gmail.com Ta Abílio Tavares Cardoso