1. espiralboletim da associação FRATERNIT
TERNITAS
FRATERNITAS MOVIMENTO
N.º 26 - Janeiro / Março de 2007
SINAIS DE ESPERANÇA
O que foi a 3 de Dezembro passado, em
Fátima, a celebração dos dez anos da nos-
sa caminhada, marcou um princípio de nova espe-
E isso é positivo, é salutar, ajuda a aprofundar mui-
tas questões, e sem cair em facilidades, tentar enten-
der as posições diversas sobre o assunto. Oxalá tam-
rança, não pelo facto em si mesmo, mas porque deu bém tenha levado muitos a orar sobre este tema.
a possibilidade de que muitos vissem quem somos e Porque para além de todas as discussões, entrevis-
o que queremos, e pudemos dar-nos a conhecer a tas, debates, trata-se de um problema de Igreja, e
muita gente que nem sabia que existíamos. na Igreja só se pode avançar com a ajuda do Espí-
Poderá ser criticado, e foi-o nalguns casos, o ter- rito e muita oração. Precisamos de ter o coração
mos aparecido em público, sem complexos, mas com aberto para deixar o Espírito trabalhar em nós, e só
humildade e verdade, tanto o nosso Movimento como assim é que podemos dar passos em frente. Mas
aquilo que vivemos e esperamos. Longe de nós que- que foi um «sinal dos tempos», é inegável, e temos
rermos vedetismo ou notoriedade! Mas nada temos que dar graças por isso mesmo! É também assim
que esconder nem de que nos envergonhar: vivemos que se alimenta a Esperança!
intensamente em Igreja e com a Igreja, fazemos par-
te integrante do que Cristo quis ao instituí-la, nela
oramos, sofremos, nos alegramos e avançamos.
H á várias semanas, a jornalista da TVI
Rita Sousa Tavares, no programa «Grande
Reportagem», fez um notável e lúcido trabalho so-
Para muitos foi talvez uma surpresa, mas espera- bre a nossa situação, com enorme serenidade, pro-
mos que não tenhamos sido um escândalo. Poderá curando ouvir diversos testemunhos, linhas de pen-
ter leituras diferentes o modo como celebrámos, a samento distintas, vivências diferentes. Foi um pro-
visibilidade televisiva a que não nos escusámos, aquilo grama sem apaixonamento nem sensacionalismo,
que alguns de nós comunicámos sobre as nossas vi- talvez uma das mais completas análises que se rea-
das, projectos, realizações. Mas não temos nada que lizaram neste âmbito no nosso país. E aqui está ou-
temer ao permitir que nos vejam e nos conheçam, tro sinal de Esperança: que seja possível falar da
como irmãos, como companheiros de jornada, como nossa situação com serenidade e abertura, sem ten-
atentos ao mundo em que vivemos e no qual quere- tar encontrar soluções fáceis e precipitadas, mas dei-
mos ajudar a construir o Reino, humildemente, como xando em aberto perguntas válidas e pertinentes.
«servos inúteis», mas com o testemunho da nossa en- Pareceu-me particularmente interessante o teste-
trega, atentos a tudo o que possamos fazer para que munho do pároco das Mercês, Lisboa, sacerdote
à nossa volta haja mais Amor e Vida. (Continua pág 2)
Coincidiu, um pouco antes dessa data, que o
Santo Padre reunisse em Roma um grupo para dis-
cutir a situação daqueles que tendo sido ordenados Sumário:
presbíteros, pediram mais tarde a dispensa do celi- Sinais de Esperança 1
bato. Os meios de comunicação social interessaram- Homenagem a Alberto Machado 2
-se, fizeram perguntas, pediram opiniões, aventaram
hipóteses sobre o futuro. Muita gente discutiu esta Abbé Pierre: gigante da misericordia 3
questão, opinou e quis saber qual o ponto da situa- Quaresma: morte ou salvação 4
ção. Independentemente do modo como uns ou ou-
tros trataram este tema, uma coisa é certa: falou-se, Comandos suicidas: a vida como arma 7
pensou-se, não se teve medo de olhar a realidade. Quadras alentejanas 8
2. 2 espiral
(Continuação pág 1) cujo serviço de Capelania estou inserido há pouco
casado, pai e avô, convertido à Igreja Católica, e tempo, incluiu-me no Conselho Pastoral dessa Cape-
que foi colocado no cuidado pastoral de uma gran- lania, para a área da Espiritualidade. Acontece por
de paróquia da capital. Perante o argumento de que acréscimo que o P José Nuno não é somente o Ca-
.
o principal motivo para a exigência do celibato na pelão do Hospital de S. João, mas o responsável
Igreja Romana no exercício ministerial é o da dispo- nacional das Capelanias Hospitalares.
nibilidade, o exemplo de vida do Pároco das Mer-
cês testemunha precisamente o contrário. Pelo menos
isto faz pensar, e nesse sentido temos que lhe estar
S e partilho estes pequenos «Sinais dos Tempos»
com todos os Sócios e simpatizantes da
Fraternitas, é apenas porque me parece que deve-
gratos pela sua vivência fecunda e serena. mos caminhar na Esperança, como pessoas e como
E u próprio senti um grande sinal de esperança,
não por mim próprio, mas porque me de-
monstrou que a Igreja está atenta à nossa presença e
Movimento, e ao aproximar-se o Tempo Pascal, é
precisamente esse o sentido mais forte da Salvação
que nos é oferecida
disponibilidade e não hesita em nos pedir que assu- pelo Ressuscitado. San-
mamos responsabilidades se disso formos capazes. ta Páscoa para todos!
O Capelão do Hospital de S. João no Porto, em Vasco Fernandes
Homenagem a Alberto Machado
A morte levou-te inesperadamente, de mando
do Pai, na tarde de 14 de Dezembro, a meio
duma vulgar tarefa caseira. A tua aparente saúde
mos ao Senhor a for-
mação proporciona-
da, tu ainda mais que
não fazia prever que os teus filhos e netos iriam ficar eu, ao ponto de guar-
órfãos tão cedo e mais sós os teus amigos. dares religiosamente
Já estavas sepultado quando a notícia me che- os manuscritos dos nos-
gou e a muitos outros colegas e amigos teus, dupli- sos jornais de bolso, e
cando-nos a dor da tua perda, não obstante a ex- a maioria das fotogra-
periência do dia-a-dia e o Evangelho nos evidencia- fias de grupo. Neste
rem que a morte se apodera dos vivos sorrateira e nosso último encontro
silenciosa, como o ladrão. Uma dor contida, porque em Fátima ofereceste-
acredito que o circunstancial da morte não é deixa- -me cópias daquelas fotografias, que vou guardar
do ao acaso. O Pai chama-nos no melhor momen- com redobrado carinho, e mostraste-me os originais
to, Ele que tudo governa, ao ponto de nenhum ca- dos jornais com a autorização de fotocopiá-los. Por
belo da nossa cabeça cair sem o Seu aval. minha sugestão voltaste a levá-los com a promessa
Por realizar entre nós os dois ficou um almoço em de me ofereceres as suas fotocópias quando nos reu-
S. Mamede de Riba Tua, a troco dum bate-papo níssemos em S. Mamede. Espero voltar a revê-los.
sobre a distribuição, por morte, dos teus últimos tos- De então para cá, perdemos o convívio, por cau-
tões, sobrantes da reforma sobre a despesa do quo- sa dos afazeres profissionais e familiares, mas jamais
tidiano, no quadro das obrigações familiares e soci- a amizade, como demonstram os factos de me teres
ais. E só estes porque, por morte da esposa, já havi- confiado em primeiro plano a decisão sobre o teu
as prescindido de todo o património a favor dos fi- casamento, já lá vão quatro décadas e, agora em
lhos. Uma promessa selada em Fátima, por ocasião Fátima, possivelmente, as tuas últimas vontades.
do nosso último retiro, que a tua morte inviabilizou O retomar do nosso convívio com a tua inscrição
uma semana depois. Nada perdido, porque o Pai na Fraternitas há três anos permitiu-me acompanhar-
jamais prejudicará um filho Seu. -te no regresso espiritual. Neste último encontro, à
Até que o Pai me chame, (o que poderá não le- minha estranheza de te não ver nalgumas sessões
var muito tempo se continuar a funcionar a matemá- plenárias, respondeste-me que passavas esse tempo
tica do calendário, dado que dos cinco que nos or- na capela da casa. À noite, enquanto muitos de nós
denámos tu e o Fernando, que já partistes, nascestes cavaqueávamos, passaste estoutro tempo a orar na
ligeiramente à minha frente e eu, por sua vez, sou o Capelinha das Aparições, aproveitando uma delas
mais velho dos três que aguardamos a chamada), para te reconciliares. Obrigado, Machado, por tão
continuas comigo no recôndito da memória afectiva, precioso legado espiritual. E obrigado P Filipe pelo
.e
como condiscípulo e amigo desde os primeiros pas- teu gesto de amor, que tornou possíveis os nossos
sos no Seminário, onde convivemos os 12 anos do reencontros.
curso e, no final, nos ordenámos. Ambos agradece- Alípio afonso
3. espiral 3
ABBÉ PIERRE: gigante da misericórdia
A caba de se distanciar tem-
poralmente de nós uma
das maiores figuras do mundo e
Se lermos alguns dos livros que
o Abbé Pierre escreveu («Fraterni-
dade», «Testamento», «Memórias
mento dos outros e aqueles que
aceitam partilhá-lo».
Este despojamento e sentido de
um ícone da França: o Abbé Pierre de um Crente», traduzidos em por- entrega do Abbé Pierre fazia-o vi-
(Padre Pedro). Todos o conheciam. tuguês), cenários escritos dos de- ver uma liberdade em que as pa-
E foram os pobres, os marginali- samparados que ele pôs de pé, lavras não se encolhiam diante de
zados e os sem-abrigo que fize- vemos o Amor como placa girató- nenhuma situação. Era livre.
ram dele um ídolo para os france- ria de todas as iniciativas que teve. Quando foi convidado a partici-
ses. Mas pode dizer-se que era, por O Amor de quem se sabia amado par numa reunião de «eleitores cris-
direito próprio, um cidadão do por Deus-Pai, e o confessava in- tãos», no Canadá, onde estavam
mundo. sistentemente para que não hou- trinta empresários, e a seguir à
Pouco depois da II Guerra Mun- vesse equívocos sobre a fonte ori- Missa o levaram para «uma sala
dial, num rigoroso Inverno de Pa- ginal da sua vivência fraterna. Es- de jantar incrivelmente luxuosa» e
ris, ao ver pessoas sem eira nem tas, são palavras suas: «A vida en- lhe pediram que abençoasse a re-
beira dormindo nos portais e ex- sinou-me que viver é usar o breve feição, não se conteve: «Não
postas ao frio da noite, o Abbé tempo dado às nossas liberdades reparais nesta abominação? Vimos
Pierre lançou pela rádio uma cam- para aprenderem a amar e a pre- de comungar na celebração eu-
panha nacional a fim de encon- parar-se para o breve encontro carística e convidais-me para este
trar uma cama para os sem-abri- com o Eterno Amor. É a chave da faustoso banquete, com lacaios de
go. Foi assim que nasceu EMAÚS, minha vida e dos meus actos». libré, candelabros dourados e de
uma enorme família de acolhimen- Se nos quisermos referir a «dar comer para três dias? Reunião
to hoje espalhada por quarenta testemunho», como vulgarmente se para a qual não convidastes ne-
países (também em Portugal) e diz e a que, por vezes, se mistura nhum sindicalista, também ele elei-
onde se abrigam milhares de pes- algum narcisismo, terá de dizer-se tor?» Era sempre directo e foi-o,
soas. É um mundo de pobres que que a vida do Abbé Pierre foi um mesmo com João Paulo II com
ali retomam a sua dignidade e que exemplo puro de dádiva aos quem teve vários encontros. «Nun-
com os trabalhos que sabem fazer abandonados pela sociedade. Por ca me esquecerei daquele em que
conseguem o suficiente para se ali- isso, ele pôde ouvir de alguém que me perguntou a minha idade e
mentarem e para, com o que lhes o conheceu: «A maneira como vi- depois disse: “O Papa é mais
sobra, poderem eles mesmos so- ves consegue dar-me vontade, a novo”. Eu respondi-lhe: “Sim, o
correr outros sem-abrigo. Foi uma mim que não sou crente, de que a Papa é mais novo, mas como bis-
gota de água que cresceu e se fé seja verdadeira». No meio de po de Roma talvez faça o que é
transformou num oceano de soli- tanta pobreza e drama, confes- pedido a todos os bispos: propor
dariedade e de bondade. sava em jeito de oração que nele aposentar-se aos 75 anos. Sorrin-
era um fluir de vida: «Apetece-me do, respondeu-me: “Oh, isso exi-
dizer: Deus é Amor, apesar de tudo. ge reflexão”.»
E nós somos amados por Ele, ape- Toda a França sentiu a sua
sar de tudo». Por isso, completava morte. Com ele, desaparecia o
que «quando damos a mão aos maior símbolo de fraternidade
pobres, sentimos a mão de Deus naquele país. O presidente
na nossa outra mão.» E, por isso Jacques Chirac e vários ministros
também, não se esqueceu nunca estiveram no funeral do Abbé
deste desabafo de um dos seus Pierre, e essa foi uma homenagem
sem-abrigo: «O pior é o olhar das oficial a quem deixava aos fran-
pessoas. Não distinguem o ser hu- ceses um espólio de bondade e
mano que pede esmola do cartaz compaixão pelos desvalidos da
na parede que está por trás.» A sociedade. Tinha 94 anos. Uma
vida deu-lhe um pensamento con- vida plena, no tempo e na missão
creto, o que o levou a concluir: «A de ser verdadeiramente fraterno. E
divisão fundamental da Humani- de encarar sempre a verdade
dade não se faz entre os “crentes” como caminho indesviável.
e os “não crentes”. Faz-se entre
aqueles que viram costas ao sofri- Pacheco de Andrade
4. 4 espiral
QUARESMA
V ive-se, em cada ano, por
esta altura, a transição do
fim do ciclo de repouso vegetativo
clusividade. Daqui, todo o
dolorismo doentio que perpassa a
Quaresma até à Vigília Pascal,
(46). «Sede, pois, perfeitos, como
é perfeito vosso Pai celeste» (48).
E podíamos recorrer ainda a
da Natureza para o seu despertar hoje resumido em jejuns e absti- imensos números de passagens
primaveril, em renovadas energi- nências abrandados, em «procis- evangélicas que apontam na mes-
as. Ao Inverno, símbolo de uma sões dos Passos», mais ou menos ma linha como, por exemplo, per-
morte aparente, sucede-se a Pri- folclóricas, em Vias-Sacras, mais doar “setenta vezes sete”.
mavera que impõe a afirmação da ou menos compungentes. Por isso, creio que ao Deus em
pujança da vida, que sempre se Não é que alguns destes actos que acredito não se aplica o nos-
renova. É neste contexto que se in- não possam ser significativos, mas so ditado popular: «Bem prega frei
sere a celebração da Quaresma, absolutizá-los em aberrantes Tomás! Olha para o que ele diz,
tempo de reflexão e acção prepa- autoflagelações corporais e ence- mas não para o que ele faz.» Deus
ratório da festa da Páscoa que, nações da crucificação ao vivo, não pode agir ao contrário daquilo
embora móvel, terá mesmo acon- como únicas formas de satisfazer -
tecido por esta altura. o significado etimológico redutor
A leitura do artigo de Anselmo deste termo é fazer/agradar quan-
Borges intitulado «Abbé Pierre: o to basta -, de contentar Deus. Isso PÁSCOA V
insurrecto de Deus» veio ao encon- é contrariar o espírito da Boa Nova
tro da minha perspectiva da Sal- de Jesus. A pedra disse: «Sou forte!» O ferr
vação oferecida por Jesus, o Cris- Um Deus que assim fosse seria tu!» Lutaram e a pedra ficou pó. O
to. De facto, no seu último livro a negação do Deus-Pai de Jesus,
«Meu Deus, Porquê?» Abbé o Cristo, pois Ele O apresenta contrariou-o. Brigaram e o ferro d
Pierre declara que a concepção como o Deus-Misercórdia, o Deus- forte!» A água obstou. Competira
expiatória da morte de Cristo é Perdão, o Deus-Amor, como bem
«horrível», pois levou também ao o vincam o Evangelho, as Epísto- se: «Sou forte!» O vento negou. G
dolorismo, «uma abominação e las e o Apocalipse de João: «Deus O vento disse: «Sou forte!» Mas o
uma caricatura da vida cristã.» Caritas est», i.é., Deus é Amor.
Tal concepção levou, de facto, E em Mt.5, na sequência do ram-no. Os montes disseram: «So
a considerar-se Deus com compor- Sermão da Montanha, Jesus, tiu-os e aplanou-os. O homem dis
tamentos tão antropomórficos que, como quem quer pôr os pontos nos
para contrariar a ofensa do peca- is, proclama com nova autorida- morte e matou-o. A morte comem
do humano, só ficaria satisfeito de: «Ouvistes o que foi dito aos
com o sangue derramado pela antigos: Não matarás; aquele que RESSUS
morte violenta do Seu Filho na matar está sujeito a ser condena-
cruz. E, como prefiguração, apre- do». (21). «Com o teu adversário
senta-se a quase imolação de Isaac mostra-te conciliador… (25). «Ou- que é – Amor -, pois, se o fizesse,
por Abraão, no monte Moriá, viste o que foi dito: olho por olho, seria a negação da Sua própria
quando o significado deste episó- dente por dente. Eu digo-vos: não essência. Por isso, as referências
dio será totalmente o contrário: oponhais resistência ao mau; se al- bíblicas ao Deus irónico, vingati-
Deus quer mostrar quão diferente guém te bater na face direita, ofe- vo, castigador, guerreiro, demo-
é dos deuses que rodeiam Abraão. rece-lhe também a outra.» (38-39). lidor são consideradas como
Estes exigiam, anualmente, o sa- «Ouvistes o que foi dito: amarás o antropomorfismos, ou seja, como
crifício da morte de jovens, em sua teu próximo e odiarás o teu inimi- modos de falar de Deus segundo
honra, para se aplacarem e tor- go. Eu, porém, digo-vos: amai os conceitos, formas humanas.
narem propícios. Também assim, vossos inimigos e orai pelos que Mas então Jesus não veio para
quanto ao nosso Deus, há quem vos perseguem. Fazendo assim tor- nos salvar? E salvar de quê e
pense que só deste modo, se rea- nar-vos-eis filhos do vosso Pai que como? Pela Fé, acreditamos que
lizaria a nossa Salvação. está nos Céus;…» (43-45). «Por- sim e explicitamo-lo sempre que
É a tese da Satisfação tridentina que, se amais só os que vos amam, proclamamos: «E por nós, ho-
que tem perdurado, quase em ex- que recompensa haveis de ter? mens, e para nossa salvação des-
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5. espiral 5
ceu dos Céus. E encarnou pelo ser vivo. É o que o nosso povo diz próprio cosmos. É fruto da Sua co-
Espírito Santo, no seio da Virgem na sua sabedoria: «Quem nasceu erência de vida, das Suas acções
Maria, e Se fez homem. Também morreu». e da mensagem de dignidade hu-
por nós foi crucificado sob Pôncio Jesus deixa assim a Sua infinita mana libertadora da subjugação
Pilatos; padeceu e foi sepultado. grandeza divina para assumir a do homem pelo homem, mensa-
Ressuscitou ao terceiro dia, segun- nossa pequenez e ser igual a cada gem esta que incomodava e leva-
do as Escrituras;…» um de nós, mesmo na sua condi- va os grandes a sentirem-se lesa-
Temos, então, assim que a Re- ção de mortal, compartilhando dos.
denção realizada por Jesus está deste modo, inteiramente, a nossa Era assim que a Igreja primiti-
presente durante toda a Sua vida. natureza humana. É, por isso, muito va, como bem esclarece o Símbo-
Começa com a Sua descida dos expressiva, no Natal, a segunda lo niceno-constantinopolitano
Céus, mediante a Encarnação, leitura da Missa da Aurora onde (325/381) ou seja o Credo que
acto pelo qual Se tornou «homem S. Paulo diz a Tito: «Ao manifestar- se reza nas Missas, entendia a to-
em tudo igual a nós, excepto no -se a bondade de Deus, nosso Sal- talidade da vida de Jesus com va-
pecado». É este acto de esvazia- vador, e o Seu amor para com os lor salvífico: a Encarnação, o Mi-
mento que, pessoalmente, prefiro homens, é que Ele nos salvou». nistério da Boa Nova, a Paixão, a
chamar de humilhação, conheci- Mas a salvação realizada por Morte e a Ressurreição. E note-se
do por quenosis, que O leva a Jesus está especialmente presente no texto do Credo a conjunção
no seu programa de vida quan- “Etiam” (Também por nós foi cruci-
do, na sinagoga de Nazaré, de- ficado…) como que remetendo
pois de ler a passagem «O Espíri- para segundo plano este aspecto.
VITORIOSA to do Senhor está sobre Mim, por-
que Me ungiu, para anunciar a Boa
É assim que os ´Padres‘ anteri-
ores ao concílio de Niceia, como
ro replicou: «Sou mais forte que Nova aos pobres; enviou-Me a S. Ireneu e outros, não se esque-
O ferro disse: «Sou forte!» O fogo proclamar a libertação aos cativos cem de relacionar a nossa salva-
e, aos cegos, o recobrar da vista; ção com toda a vida de Jesus, mas
derreteu-se. O fogo disse: «Sou a mandar em liberdade os opri- com incidência particular na Sua
midos, a proclamar um ano de Encarnação.
am e o fogo apagou-se. A água dis- graça do Senhor», enrolando o li- Há, pois, até ao século V, uma
Guerrearam e a água evaporou-se. vro, diz a todos: «Cumpriu-se hoje visão unitária do mistério redentor.
esta passagem da Escritura, que Esta persiste na Igreja do Oriente,
os montes discordaram e prende- acabais de ouvir». mas, a partir desta altura, a Igreja
omos fortes!» O homem desmen- A partir daqui, a Sua opção pe- Latina começa a pôr a tónica no
los mais pobres, pelos mais valor salvífico da Cruz que, cada
sse: «Sou o mais forte». Veio a escorraçados, perseguidos e opri- vez mais, concentra e faz depen-
morava. Veio Deus e venceu-a: midos vai voltar os poderes religi- der a nossa salvação da morte de
osos e políticos, que se sentem atin- Jesus. Para esta visão, além dos es-
SCITOU! gidos, contra a Sua mensagem li- critos paulinos, não terá sido indi-
bertadora da dignidade humana ferente a descoberta, (no século
e fazer com que estes, face à Sua IV), por Santa Helena, mãe de
assumir a condição de servo. Note- persistência, comecem a pensar em Constantino, da pretensa vera-cruz
-se a relação semântica das pa- tirar-Lhe a vida. Mas Jesus conti- e os efeitos emocional, devo-
lavras húmus, homem, humilhação nuará fiel à Sua missão, mesmo cionista e prebendífero deste acha-
já presente em Génesis 2,7 e 3,19: sabendo o fim que O espera. do.
«Comerás o pão com o suor do Digamos, pois, que a morte de Esta linha teológica é consoli-
teu rosto, até que voltes à terra Jesus na cruz é fruto da Sua fideli- dada e dogmatizada pelo Concí-
(húmus) de onde foste tirado: por- dade à missão pela qual Se sente lio de Trento (séc. XVI) ao enunciar
que tu és pó e em pó te hás-de enviado pelo Pai e que voluntario- que Nosso Senhor Jesus Cristo
tornar». De facto, tanto a vida samente assume, como fecho e «pela Sua santíssima paixão no
como a morte fazem parte da con- corolário da Sua vida de amor: a madeiro da cruz nos mereceu a
dição humana individual de cada Redenção da humanidade e do justificação e em vez de nós satis-
MORTE OU SALVAÇÃO
gina oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesoureiro@fraternitas.pt
6. 6 espiral
(Continuação pág 5) Quaresma: morte ou salvação
fez a Deus Pai» (D 799). E o logo serena de aceitar o sofrimen- pal acto da pessoa de Jesus ten-
suspenso Vaticano I (século XIX) vai to: «não se faça, contudo, a Minha do em vista a nossa salvação, se
ainda insistir na mesma linha: «Se vontade, mas a Tua» (Lc. 22, 42) devia antes repensar na causa pela
alguém não confessar que o pró- ou ainda traduzida pelas últimas qual encarnou e nos deixou a Sua
prio Deus Verbo, ao padecer e palavras «Tudo está consumado», mensagem de Amor. Tenhamos
morrer na Sua carne assumida, segundo Jo. 19, 30, ou «Pai, nas em conta o que diz S. Paulo em
não pôde satisfazer pelos nossos Tuas mãos, entrego o Meu espíri- Heb. 10, 5-7, repisando o Sl. 39:
pecados a Deus, ou verdadeira e to» (Lc. 23, 46). «Ao entrar no mundo Jesus disse
propriamente ter satisfeito, e nos Luís Evely, no seu livro «Cami- ao Pai: “Não quiseste sacrifícios e
ter merecido a graça e a glória; nhos para a Alegria», fala da pro- oferendas, mas formaste-Me um
anátema seja». pensão que nós temos de mais fa- corpo. Holocaustos e imolações
Tendo em conta que a Salva- cilmente empatizar com o trágico pelo pecado não Te foram agra-
ção realizada por Jesus é fruto da dos outros do que com as suas ale- dáveis. Então Eu disse: eis-Me
totalidade da Sua vida, causam- grias. Segundo ele, é fácil termos aqui; no livro sagrado está escrito
me engulho expressões litúrgicas logo uma lagrimazita ao canto do a Meu respeito: Eu vim, ó Deus,
como a «Adoração da Cruz », em olho perante o sofrimento do ou- para fazer a Tua vontade`». Que
Sexta-Feira Santa, ou antífonas tro, mas, face à sua alegria, aflora- vontade de Deus? A morte ou a
como «A vossa Cruz, Senhor, nós se-nos, inconscientemente, o senti- vida, na condição de que uma vez
adoramos…» e «Deus não per- mento de inveja. Assim que a pri- assumida esta, aquela, humana-
doou/poupou ao seu próprio Fi- meira Quaresma (40 dias antes da mente, teria de acontecer inevita-
lho, mas entregou-o à morte por Páscoa) seja tão propensa à velmente? A vontade de Deus não
todos nós». Bem sei que se pode estimulação da dor com as diferen- seria ainda que o Verbo Encarna-
fazer a transla-ção do sentido, tes acções litúrgicas, paralitúrgicas, do, mediante a Sua Mensagem e
mas a maioria do nosso povo não devocionais e reflexivas que a pre- actos, ensinasse e convidasse os
estudou recursos estilísticos nem fez enchem; enquanto a segunda Qua- homens para os caminhos do
estudos bíblicos. Então o «Vai-te, resma (40 dias: da Páscoa à As- amor, do perdão, da Sua salva-
Satanás, pois está escrito: Ao Se- censão de Jesus ao Céu) seja des- ção como um povo?
nhor, teu Deus, adorarás e só a provida de quase tudo, como se a Daí que, a caminho do
Ele prestarás culto»? (Mt. 4,10 e Fé se tivesse consumado com tanto Calvário, Jesus não quer que a
Dt 6,13) . O «perdoai-nos as nos- esforço de preparação para a Pás- multidão se desvie do essencial da
sas ofensas, assim como nós per- coa. No entanto, é nesta segunda Sua missão, ficando emocional-
doamos a quem nos tem ofendi- Quaresma que acontece a confir- mente agarrada ao Seu sofrimen-
do»? E terá Deus entregue, por mação da Fé no Ressuscitado, com to, quando diz: «Filhas de Jerusa-
todos nós, o Seu Filho à morte ou intensos convites à alegria e à paz: lém, não choreis por Mim, chorai
à vida, na condição de que todo «A Minha paz vos dou». (Jo.14,27) antes por vós mesmas e por vos-
o que nasce tem de morrer corpo- «Digo-vos isto para que a Minha sos filhos» (Mt.23, 29).
ralmente? Será Deus pior que alegria esteja em vós e o vosso Por isso, a chamada via-sacra
qualquer pai ou mãe humanos? gozo seja completo. O Meu man- não devia incluir uma reflexão so-
Impossível! Sob condição de Se damento é este: Que vos ameis uns bre toda a vida de Jesus, desde o
negar a Si mesmo. aos outros…» Jo. 15, 11-12) Seu nascimento, passando pela
No entanto, o acto sacrificial da Em todos os escritos do Apósto- proclamação da Boa Nova, até
cruz não é de valor nulo. Desde lo S. João a palavra-chave é Amor à Sua morte e ressurreição, em vez
logo, por ser a visibilidade e o tes- e o Mandamento Novo é repetido. de se fixar somente no Seu sofri-
temunho de uma vida coerente em Diz-se na introdução ao seu Evan- mento?
função da sua principal mensa- gelho, na 18.ª edição da Bíblia Sa- Não diz Ele: «Minha mãe e
gem: o Amor entre os homens; grada da Difusora Bíblica: «É que meus irmãos são aqueles que ou-
Amor que os libertará e salvará. o presente Evangelho, denotando vem a palavra de Deus e a põem
Amor bem vincado nas palavras: na base a presença duma testemu- em prática»? (Lc. 8,21)? E não diz
«Pai, perdoa-lhes porque não sa- nha ocular, transmite o estádio mais a assembleia, na liturgia da pala-
bem o que fazem». (Lc. 23, 34). E avançado da fé e da meditação vra, no fim do Evangelho: « Pala-
ainda pela maneira revolta («Pai, da Igreja Apostólica sobre Cristo». vra da Salvação. Glória a Vós, Se-
se é possível, afasta de Mim este Como conclusão do que fica nhor»?
cálice» ou «Meu Deus, meu Deus dito, penso, pois, que mais do que
por que Me abandonaste?»), mas olhar para a Paixão como princi- Fernando Neves
7. espiral 7
COMANDOS SUICIDAS
a vida como arma
Tel Aviv
viv,
Em Jerusalém, Tel Aviv,
Carachi, Jacarta, Djerba, recorrendo a uma propaganda túmulo sofrimentos terríveis até ao
Mombaça, Casablanca, Cabul, dispendiosa, como «vídeos e car- juízo final. Ora o «mártir» é pou-
Riade, Bagdade, Madrid, pado a isso. Acresce que casará
tazes de mártires».
ou Londres, o rasto
SUICIDA OU MÁRTIR? com 72 das mais belas virgens e
dos comandos suicidas
A tradição dos atentados suici- pode interceder junto de Alá a fa-
é longo e sangrento.
das foi retomada pelos tigres tamil vor de 70 familiares.
Reportagem: Rolf Tophoven no Sri Lanka a partir de 1987. Em A fim de poder, de alguma for-
(KI, 01/2007, p. 36) ma, conciliar com o Islão os méto-
Tradução: João Simão
1981, os tigres tamil mataram o
então primeiro ministro indiano dos próprios destes comandos sui-
E les são a incarnação dum
terror pérfido, que se infiltra
anonimamente no alvo do ataque.
Rajiv Ghandi. O líder da oposição,
Gamini Disanyake, foi assassina-
do por um comando suicida em
cidas, transforma-se, sem cerimó-
nias, o (auto)assassino em «már-
tir». Segundo os islâmicos prepa-
O seu objectivo é executado com 1984 e, em 1999, Chandrika rados para a violência, não se tra-
uma precisão mortal friamente cal- Bandaranaike Kamaratunga so- ta de um suicídio clássico, pois é
culada: são os comandos suicidas. breviveu a outro atentado, mas em combate com os inimigos do
É permanente o recrutamento de perdeu um dos olhos. Islão que o voluntário perde a vida.
novos aderentes, todos eles orien- «Imagine que está numa sau- Ao tornar-se «mártir», ele distorce
tados por uma ideologia, ou por na, onde o calor é intenso, mas a religião para os próprios objec-
uma organização, pelo que este você sabe que, ali ao lado, há um tivos políticos.
procedimento se pode demarcar compartimento com ar condiciona- Como repetidamente se de-
de acções únicas, como é, p.ex., do, sofás confortáveis, música clás- monstra, os explosivos dos coman-
o assassínio de tiranos. sica e uma bebida agradável. En- dos suicidas também atingem al-
MÉTODO PROVECT
MÉTODO PRO VECTO VECTO tão, muito simplesmente, você en- vos militares, todavia é entre a
Já na antiguidade havia aten- tra. Assim explicaria eu a alguém população civil que ocorre o mai-
tados suicidas na época dos mon- o que vai na alma dum mártir», diz or número de vítimas. Um manual
ges ambulantes no norte de Áfri- Seyed Hassan Nasrallah, líder do de terror da organização palesti-
ca. Podemos considerar os assas- Hesbollah. Concorda assim com a na islâmica radical HAMMAS ano-
sinos (do italiano «assassino», do construção do martírio, criada por ta cinicamente a este respeito: «É
árabe «hassasi», bebedor de islâmicos dedicados à violência, uma loucura perseguir o tigre quan-
haxixe, nome de seita muçulmana para a sua legitimação. do ao lado andam muitas ove-
fanatizada) do século XII, membros O Corão proíbe o suicídio, e lhas».
duma seita ismaelita (xiita) que quem se matar sofre o castigo de ÓDIO AOS INFIÉI
INFIÉIS
montaram na Pérsia uma larga ficar submetido a torturas até à res- Nos últimos vinte anos, 17 gru-
rede de assassinos traiçoeiros, surreição. Ao contrário do suicida, pos em 14 países diferentes prati-
como sendo os modelos islâmicos o «mártir» tem um lugar especial- caram a táctica do terror suicida.
mais antigos dos actuais coman- mente positivo na fé islâmica. Mais de 5000 mortos e, pelo me-
dos suicidas. Em muitos locais do Corão pro- nos, 20 000 feridos, os danos eco-
Os atentados suicidas, que não mete-se aos «mártires» uma recom- nómicos ascendem a milhares de
eram actos únicos, foram introdu- pensa no Além. Todos os pecados milhões de euros. Agentes e moti-
zidos em 1982 e 1983, durante a lhe são perdoados. Além disso, vações dos comandos suicidas são
guerra civil libanesa, por grupos de escapam aos «horrores do túmulo», variáveis. Nexo comum é, todavia,
violência xiitas que deram origem que os muçulmanos muito temem. a ideologia do ódio aos «infiéis»,
ao Hesbollah. Paralelamente foi Trata-se de um interrogatório so- ao mundo ocidental, aos USA e
montado um sistema para garan- bre a sua fé em Alá e Maomé, fei- seus aliados. O meio mais eficien-
tir o futuro dos familiares dos co- to pelos dois anjos da morte te de articular o ódio é o atentado
mandos suicidas, sistema esse que Munkar e Nakir, os quais, de acor- suicida.
goza de elevado grau de prestí- do com as respostas, ou os tortu- Planeadores e logísticos de ac-
gio social. ram ou os confortam. Se o muçul- ções deste tipo são pessoas muito
O alistamento de comandos mano falhar neste exame, segun- inteligentes. Também Mohammed
suicidas também foi conseguido do se diz, tem de suportar no Atta, que dirigiu o comando terro-
8. COMANDOS SUICIDAS: A vida como arma
(Continuação pág 7) fim de destruir quaisquer hesitações. Mediante ora-
rista de 11 de Setembro de 2001, caiu como «execu- ções ao longo dos dias cada vez mais intensas, a
tivo» nesta categoria. Todavia, os comandos, con- doutrinação do comando suicida atinge o seu clí-
vencidos por uma motivação religiosa étnico-nacio- max. Ele é transportado para um estado de euforia
nalista ou simplesmente por ódio, são incluídos nos tipo transe, que se mantém até à chegada da morte.
«soldados de infantaria do terror». Eles acreditam que O «mártir» está à espera do paraíso que se aproxi-
morrem por Alá e fazem-se explodir com o grito «Alá ma.
é grande». MULHERES BOMBA
Do ponto de vista duma organização terrorista, Quando as mulheres se transformam em bombas
as operações suicidas trazem as seguintes vantagens: humanas, isso acontece também em nome do seu
· Os comandos suicidas provocam muitas vítimas sexo, dizem os psicólogos. Uma acção desta nature-
e grandes prejuízos materiais; za, especialmente no mundo de domínio patriarcal
· Minam a moral das populações; de muitos estados muçulmanos, causa uma forte im-
· Um ataque suicida garante interesse mediático pressão. Em vez da felicidade familiar, elas escolhem
à escala mundial; o cinto explosivo. Em vez duma campanha pacífica
· A introdução desta táctica permite aos terroristas pela emancipação da mulher na sociedade muçul-
serem eles a determinar a hora e o local do acto e, mana, elas arrastam muitos inocentes para a morte
assim, escolher o momento óptimo para despoletar num inferno mortífero.
a bomba;
· Uma vez o suicida a caminho do alvo, o «êxito» QUADRAS ALENTEJANAS
da sua missão está garantido. Mesmo que os meca-
Além daquela janela
nismos de defesa consigam deter o potencial assas-
Dois olhos me estão matando.
sino antes de ele atingir o alvo, ele pode em todo o
Matem-me devagarinho
caso activar ainda a bomba e assim provocar eleva-
Que eu quero morrer cantando.
dos prejuízos;
Refrão:
· Não é necessário elaborar uma estratégia de
Que eu quero morrer cantando
retirada do local do crime. Não é necessário prepa-
Já que chorando nasci.
rar um caminho de fuga, pois a sua missão é uma
Quero ser como a pombinha
viagem sem retorno;
Que voando levou fim.
· Porque o terrorista se mata nesta acção suicida,
Primeiro amar a Deus
pode-se excluir a captura do agente e um conse-
Sobre tudo quanto há.
quente inquérito pelos especialistas da segurança. As-
Eu a Deus amo-O no Céu
sim, os mandantes do terror não têm de temer qual-
E a ti amo-te cá.
quer denúncia. Os activistas suicidas, que já estive-
Os teus olhos, mulher linda,
rem à espera, podem sentir-se seguros.
P’ra quem neles souber ler,
Os comandos suicidas percorrem uma longa fase
Dizem mais coisas ainda
de treino. Voluntários espontâneos não são aceites.
Do que tu sabes dizer.
Portanto não se trata de manipulações para jovens.
Ao pé de ti fico mudo
Uma vez que, na ideologia islâmica, a morte por
Fitando esse teu olhar.
sacrifício voluntário a Alá é um acontecimento de ale-
Quando os olhos dizem tudo
gria, também os relatos de testemunhas oculares e
P’ra que há-de a boca falar?
os vídeos de comandos a rir de felicidade são
Acostumei tanto os meus olhos
credíveis. Uma «lavagem ao cérebro voluntária» afas-
A fitarem-se nos teus
ta dos cânones de valores da sociedade.
Que de tanto os ter fitado
Do decurso do acto em si sabe-se que os própri-
Já não sei quais são os meus.
os treinados só muito tarde tomam conhecimento do
Eu sou sol e tu és sombra,
projecto e da sua data, o que torna improvável um
Qual de nós será firme?
«desembarque». Segue-se, por fim, o isolamento físi-
Eu, o sol, sempre a buscar-te,
co e psíquico do comando suicida, quer dizer, a se-
Tu, sombra, sempre a fugir-me.
paração absoluta de amigos e família e a concen-
Francisco Fanhais
tração em grupos de três até cinco correligionários, a
espiral Associação Boletim da
Fraternitas Movimento
Responsável: Fernando Félix
Praceta dos Malmequeres, 4 - 3º Esq.
N.º 26 - Janeiro/Março de 2007 Massamá / 2745-816 Queluz
www.fraternitas.pt e-mail: fernfelix@gmail.com