SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 16
Baixar para ler offline
espiral      da
                                                                 ANO xiI
                                                                           fraternitas moviment
                                                                           -
                                                                              ternit
                                                                               N.º
                                                                                         vimento
                                                     boletim da associação fraternitas movimento
                                                                               N.º 42     JANEIR
                                                                                           ANEIRO
                                                                                        - JANEIRO / MARÇO   de   2011




          Ano novo,
              vida nova                                                                                  Serafim de Sousa




    VAMOS ENTRAR num período novo de atividade. O                     QUERO APROVEITAR para agradecer a todos de
ano de 2011 chegou e com ele vamos ter de nos enfrentar            um modo geral a colaboração que deram, e em particular
com uma nova Direção. O nosso mandato está mesmo a                 aos que diretamente comigo trabalharam, servindo assim deste
terminar. Temos consciência de termos feito o melhor               modoa Igreja em Portugal..
possível, dentro daquilo que esperavam de nós. Por isso vamos
partir de coração alegre, convencidos do dever cumprido.               PRETENDO AINDA dizer um obrigado sincero a todo
Quero agradecer com toda a sinceridade a quem nos apoiou           o grupo da Fraternitas pelo apoio que sempre neles encontrei,
e nos ajudou a sermos fiéis ao lema do Fundador. Posso             a simpatia e carinho que demonstraram, e a amizade que foi
garantir que na equipa que agora termina todos funcionaram         uma constante, revelada não só nas presenças em grande
em bloco e nunca houve alguém que não emitisse a sua opinião       número nos encontros e retiros como em todas as ocasiões
e não fosse ouvido com todo o respeito e aceitação das suas        em que nos encontrámos, nos bons e nos menos bons
ideias. Estamos contentes e felizes por termos podido resolver     momentos.
os problemas que se nos foram deparando com toda a                     Com o ambiente criado só uma palavra tem toda a razão
dignidade e respeito por cada um.                                  de ser, a entrega total de alma e coração às causas em que
                                                                   acreditamos. Nós acreditámos e a missão foi cumprida com
                                                                   a colaboração e boa vontade de todos. Estamos no bom
                                                                   caminho.



                                                                        O FUTURO A DEUS pertence. A Fraternitas tem de
                                                                    continuar sempre com o mesmo espírito de servir a Jesus
                                                                    Cristo e à sua Igreja, numa união perfeita, como a esposa
                                                                    e o esposo, que se completam e se amam mutuamente. O
                                                                    nosso chamamento deve-se exclusivamente a Ele que nos
                                                                    achou dignos de O servir e nos deu os carismas que cada
                                                                    um reconhece que só a Ele e ao nosso sim se devem. Temos
                                                                    trabalhado na vinha do Senhor, conforme as circunstâncias
                                                                    em que nos colocaram. Nada reivindicámos, mas pensamos
                                                                    que podíamos ser mais aproveitados do que somos. “A
    PENSO QUE toda a equipa continua mais ou menos                  seara é grande” e os operários são cada vez menos e mais
disponível para poder continuar a dar o seu contributo. Só o        idosos. Até quando, Senhor, poderemos aguentar tanto
Presidente, por motivos de saúde, que já foi sobejamente            desafio e ao mesmo tempo tanta teimosia em não analisar
explicada a muitos, não poderá continuar. Espero que todos          os factos? Peço ao Senhor Jesus e ao Divino Espírito Santo
compreendam esta situação e não vejam qualquer outra                que ilumine aqueles que têm o poder para decidir, que
intenção na atitude que tenho impreterivelmente de tomar. Já        andem depressa e sem medo, pois o mundo precisa
fiz muitos contactos e temos gente muito capaz de assumir o         urgentemente do esforço de todos. E nunca seremos de
meu lugar, sem quebras de continuidade no espírito que sempre       mais para tanto que há a fazer.
nos tem animado desde o primeiro momento.
REFLEXÃO
2                                                                                                                                     espiral




Celibato obrigatório dos presbíteros
                                                        O acidental na crise do essencial

    O         novo Cardeal Prefeito da Congregação para o Clero
             em entrevista à Vida Nueva (n.º 2730, pág. 8), à
pergunta do jornalista sobre se pensava se deveria abrir-se
                                                                        N       ão é possível apresentar aos jovens o ministério
                                                                                presbiteral vivido na conformação com Cristo pobre, obediente
                                                                     e casto, dentro da condição matrimonial, como acontece noutras
um debate sobre a questão do celibato obrigatório dos                Igrejas reconhecidas por Roma.
presbíteros respondeu: “É quase uma moda, desde há
cinquenta anos, agredir o celibato eclesiástico….Não é uma simples
lei eclesiástica, mas uma natural consequência da identidade do
                                                                        O        celibato eclesiástico obrigatório não faz parte
                                                                                integrante da vocação para o sacerdócio, como de
                                                                     resto foi entendido e praticado pela Igreja Católica
sacerdote e do seu ser conformado com Cristo pobre,                  praticamente até ao Concílio de Trento, no século XVI. O
obediente e casto. O debate sobre o celibato deve realizar-se        celibato, dom ou carisma, não pode ser imposto pela lei da
aprofundando as suas razões e reforçando a convicção de              Igreja, mas reconhecido, recebido e agradecido como tal.
que não é um obstáculo ao florescimento das vocações. Não
devemos trair os jovens rebaixando os ideais, mas antes ajudando-
os a alcançá-los.”
                                                                        Y      ves Congar, um dos teólogos do Vaticano II, também
                                                                               ele depois cardeal, afirmava, já na década de 1950:
                                                                     «Évidemment, évidemment il faut des prêtres mariés en
                                                                     Amérique Latine.» Já em Fevereiro de 1970, Joseph Ratzinger,
                                                                     então com 42 anos e professor na Universidade de
                                                                     Regensburg, num documento dirigido à Conferência
                                                                     Episcopal Alemã e assinado conjuntamente por outros
                                                                     teólogos de enorme envergadura, como Karl Rahner, Otto
                                                                     Semmelroth e Walter Kasper, afirmava: «As nossas reflexões
                                                                     apontam para a necessidade de uma revisão urgente e um
                                                                     tratamento diferente da regra do celibato, tanto pela Igreja
                                                                     alemã, como pela Igreja mundial.» E neste documento é ainda
                                                                     manifestada «preocupação com o facto de o celibato
                                                                     obrigatório afastar candidatos ao sacerdócio.»

                                                                        N       ão deixa de ser curioso e merecedor de reflexão que
                                                                                Bento XVI – Joseph Ratzinger – no já best-seller «Luz
                                                                     do Mundo» (2010), ao ser confrontado pelo jornalista:
                                                                     «Actualmente há bispos que aconselham a desenvolver mais
                                                                     imaginação e um pouco mais de generosidade para se poder

    É     nestes termos que uma personalidade com tais e
         tamanhas responsabilidades na Igreja se pronuncia
sobre a questão da disciplina do celibato dos presbíteros. Sua
                                                                     tornar possível, paralelamente ao sacerdócio celibatário, o
                                                                     serviço de homens casados como padres», responda nestes
                                                                     termos: «Que haja bispos que, na confusão do tempo actual,
Eminência acha que é uma moda agredir desde há cinquenta             pensem sobre isso é algo que consigo compreender. Difícil
anos esta norma disciplinar da Igreja Católica Romana. E             será dizer como funcionaria uma justaposição desse tipo…»
mais, acha o celibato obrigatório uma natural consequência
da “identidade do sacerdote e do seu ser conformado a Cristo
pobre, obediente e casto” – formulação que sabemos aplicar-
                                                                        N        ão há muitos dias, parlamentares alemães
                                                                                apresentaram à Conferência Episcopal do seu país
                                                                     um documento em que manifestavam tristeza pelo facto de
-se, sim, à condição dos religiosos, com votos de pobreza, de        cada vez mais comunidades cristãs viverem o domingo sem
obediência e de castidade. P arece que sua Eminência tem             Eucaristia e solicitavam a revisão da lei do celibato obrigatório
medo de um debate aberto e clarificador sobre o celibato             por a considerarem obsoleta e contrária ao reconhecimento e
obrigatório, debate que aprofunde a sua razão de ser para lá         à importância dos ministérios que o Espírito suscita nas
de qualquer preconceito ou tabu e num clima de docilidade            comunidades locais. A CE respondeu protelando a
e serviço à Igreja que somos. Tem medo desse debate e                consideração desse problema “para os próximos anos”.
está em boa e numerosa companhia. Onde e quando é que,
por exemplo, entre nós, se debateu, abertamente, a questão
do celibato obrigatório?
                                                                        N       ão pode deixar de nos espantar este ziguezague e
                                                                                indecisão da hierarquia na Igreja Católica Romana.
                                                                     Manter a disciplina do celibato obrigatório não será

    A    inda não é possível apresentar aos jovens o celibato
         como dom ou carisma e não como condição para
aceder ao presbiterado.
                                                                     condicionar pela lei a vocação do serviço nas comunidades,
                                                                     vocação essa, sim, dom de Deus ao seu Povo?
                                                                                                                 A. Teixeira Coelho
DOCUMENTO
                l
          espiral                                                                                                                   3




Igreja 2011: uma ADESÃO
       necessária
A 3 de Fevereiro passado,
o jornal alemão Süddeutsche Zeitung publicou um
manifesto de 143 teólogos alemães, suíços e
austríacos. O documento teve ampla repercussão na
imprensa mundial. Publicamos a íntegra do
Manifes
      est      tradução             Dischinger.
Manif es to. A tr adução é de Benno Dischinger.


   P     assou-se quase um ano desde que foram tornados
         públicos casos de abusos sexuais com crianças e
adolescentes da parte de padres no colégio Canisius de Berlim.
Seguiu-se um ano que lançou a Igreja Católica na Alemanha
numa crise sem precedentes. A imagem que hoje aparece é
ambivalente: começou-se a fazer muito para garantir justiça
às vítimas, enfrentar a injustiça e descobrir as causas dos abusos,
a dissimulação e a dupla moral nas próprias fileiras. Em muitos
cristãos e cristãs responsáveis, com ou sem encargos, após a
perturbação inicial cresceu a convicção de que são necessárias
profundas reformas. O apelo a um diálogo aberto sobre as
estruturas de poder e de comunicação, sobre a forma do
ministério eclesial e a participação responsável dos fiéis, sobre     Só através de uma comunicação aberta a Igreja pode
a moral e sobre a sexualidade despertou expectativas, mas             reconquistar confiança. Somente se a imagem que a Igreja tem
também temores: deita-se fora uma oportunidade, talvez a              de si e a imagem de Igreja que os outros têm dela não
última, de superação da paralisia e da resignação, evitando           divergirem, ela terá credibilidade. Dirigimo-nos a todos aqueles
enfrentar os problemas ou subvalorizando a crise? A                   que não renunciaram a esperar por um novo início na Igreja e
preocupação por um diálogo aberto sem tabus não é para                se empenham neste sentido. Assumimos como nossos também
todos suspeito, e em particular não o é, se é iminente uma            os sinais de adesão e de diálogo que alguns bispos propuseram
visita do papa. Mas a alternativa seria um silêncio sepulcral,        nestes últimos meses em discursos, pregações e entrevistas.
porque as últimas esperanças têm sido destruídas e
simplesmente não pode ser assim.                                         A      Igreja não é um fim em si mesma. Ela tem a
                                                                               missão de anunciar a todos os homens o Deus de

   A       profunda crise da nossa Igreja exige discutir também
          sobre aqueles problemas que à primeira vista não
têm relação direta com o escândalo dos abusos e com a sua
                                                                      Jesus Cristo que liberta e que ama. Ela só pode fazê-lo se ela
                                                                      própria for um lugar de um testemunho fidedigno do anúncio
                                                                      de liberdade do Evangelho. O seu falar e o seu agir, as suas
plurianual cobertura. Como professores e professoras de               regras e as suas estruturas – toda a sua relação com os homens
Teologia não podemos continuar calados. Sentimos a                    no interior e no exterior dela – derivam da exigência de
responsabilidade de contribuir para um autêntico novo início:         reconhecer e favorecer a liberdade dos humanos enquanto
2011 deve tornar-se um ano de proctividade e reconversão              criaturas de Deus. Absoluto respeito por cada pessoa humana,
para a Igreja. No ano passado tantos cristãos, o que jamais           atenção à liberdade de consciência, empenho pelo direito e
ocorrera antes, deixaram a Igreja Católica e apresentaram à           pela justiça, solidariedade com os pobres e os oprimidos: são
autoridade da Igreja a desistência da sua pertença ou                 estes os parâmetros teológicos fundamentais, que derivam do
privatizaram a sua vida de fé para a defender da instituição.         empenho da Igreja pelo Evangelho. Deste modo concretiza-
A Igreja deve entender estes sinais, para sair ela mesma de           -se o amor a Deus e ao próximo.
certas estruturas fossilizadas e para reconquistar nova força
vital e credibilidade.                                                   A      orientação para o anúncio público de liberdade
                                                                               implica uma relação diferenciada perante a sociedade

   N       ão se conseguirá promover a renovação das
           estruturas eclesiais num angustiado isolamento da
sociedade, mas somente com a coragem da autocrítica e com
                                                                      moderna: de certo ponto de vista, ela é mais profunda em
                                                                      relação à Igreja, quando se trata do reconhecimento da
                                                                      liberdade, da maturidade e da responsabilidade; nisto a Igreja
o acolhimento de impulsos críticos – também do exterior.              pode aprender, como já o sublinhara o Concílio Vaticano II.
Isto faz parte das lições do último ano: a crise dos abusos           Sob outro ponto de vista, é inelutável a crítica que deriva do
não teria sido reelaborada de modo tão decidido sem o                 espírito evangélico perante esta sociedade, por exemplo,
acompanhamento crítico desenvolvido pela opinião pública.             quando as pessoas são julgadas somente segundo as suas
documento
4                                                                                                                              espiral




                                                                                               5
prestações, quando a solidariedade             “queimados” [pelo excesso de tarefas]                    Reconciliação: a solidariedade
recíproca for espezinhada ou quando a          e acabam exaurindo-se. Os fiéis                        com os pecadores pressupõe
dignidade dos seres humanos não for            permanecem distantes se não lhes for                   que se leve a sério o pecado no
reconhecida.                                   dada a confiança de assumirem uma            próprio interior. Um pretensioso

    N     o entanto, vale em todo o caso
          o que segue: o anúncio de
liberdade do Evangelho constitui o
                                               corresponsabilidade e de se sentirem
                                               partícipes em estruturas democráticas na
                                               direção das suas comunidades. O
                                                                                            rigorismo moral não é adequado à
                                                                                            Igreja. A Igreja não pode pregar
                                                                                            reconciliação com Deus sem procurar
parâmetro para uma Igreja fidedigna,           ministério eclesial deve servir à vida das   ela própria no seu agir os pressupostos
para o seu agir e a sua imagem social.         suas comunidades – e não o contrário.        para a reconciliação com aqueles em
Os desafios concretos com que a Igreja         A Igreja também necessita de padres          relação aos quais se tornou culpada por
deve confrontar-se não são, de fato,           casados e de mulheres em serviço             violência, violação do direito, inversão
novos. E, no entanto, não são visíveis         eclesial.                                    do anúncio bíblico de liberdade, numa


                                                  3
reformas que considerem o futuro. É                        Cultura do direito: o            moral rigorosa privada de misericórdia.


                                                                                               6
necessário levar em frente um diálogo                      reconhecimento da dignidade                Celebração: a liturgia vive da
aberto sobre isto nos seguintes âmbitos                    e liberdade de todo o ser                  participação ativa de todos os
de problematicidade:                           humano mostra-se precisamente quando                   fiéis. Nela devem encontrar


    1
          Estruturas de participação: em       os conflitos são enfrentados de modo         espaço as experiências e as formas atuais
          todos os campos da vida              equânime e com respeito recíproco. O         de expressão. A celebração não deve
          eclesial, a participação dos fiéis   direito eclesial só merece este nome se      enrijecer-se num tradicionalismo. A
é a pedra de toque para a credibilidade        os fiéis puderem fazer valer efetivamente    multiplicidade cultural enriquece a vida
do anúncio de liberdade do Evangelho.          os seus direitos. A defesa do direito e a    litúrgica e não pode conciliar-se com as
Conforme o antigo princípio jurídico:          cultura do direito na Igreja devem ser       tendências por uma unificação centralista.
“O que diz respeito a todos, deve ser          urgentemente melhoradas; e um                Somente quando a celebração da fé
decidido por todos” são indispensáveis         primeiro passo nesta direção é a criação     acolher situações concretas de vida o
mais estruturas sinodais em todos os           de uma jurisdição administrativa eclesial.   anúncio da Igreja atingirá as pessoas.


                                                  4                                            O
níveis da Igreja. Os fiéis devem ser                      Liberdade de consciência.                     processo de diálogo eclesial
tornados participantes na escolha de                      Respeito pela consciência                    iniciado só pode conduzir à
importantes “representantes oficiais”                     individual significa confiar na   libertação e à mudança se todas as partes
(bispos, párocos). O que pode ser              capacidade de decisão e de                   envolvidas estiveram prontas para
decidido localmente deve ali ser               responsabilidade das pessoas. Favorecer      enfrentar os problemas impulsores.
decidido, e as decisões devem ser              e desenvolver esta capacidade é também       Trata-se de procurar, numa livre e
transparentes.                                 tarefa da Igreja – mas não deve              equânime mudança de argumentações,


    2
          Comunidades: as comunidades          transfor mar-se em personalismo.             as soluções que conduzam a Igreja para
          cristãs devem ser lugares nos        Reconhecer seriamente a liberdade de         fora de sua paralisante auto-referen-
          quais as pessoas compartilhem        consciência é algo que tem a ver com o       cialidade. À tempestade do ano passado
bens espirituais e materiais. Mas,             âmbito das decisões pessoais sobre a         não pode seguir nenhuma paz! Na atual
atualmente, a vida comunitária está em         vida e o das formas de vida individual.      situação ela só poderia ser uma paz
declínio. Sob a pressão da falta de padres     A alta consideração da Igreja pelo           sepulcral. O medo jamais foi bom
são construídas unidades administrativas       matrimónio e pela forma de vida sem          conselheiro em tempos de crise. Cristãos
sempre maiores – “paróquias extra-             matrimónio está fora de discussão. Mas       e cristãs, sejamos exortados pelo
amplas” –, nas quais quase não podem           ela não impõe que se excluam as pessoas      Evangelho a olhar com coragem para o
ser vivenciadas a vizinhança e a pertença.     que vivem responsavelmente o amor, a         futuro e – movidos pela palavra de Jesus
É posto fim a identidades históricas e a       fidelidade e o cuidado recíproco numa        – a caminhar como Pedro sobre as
redes sociais particular mente                 união homossexual, ou como                   águas: “Porque tendes medo? É tão
significativas. Os padres são                  divorciados redesposados.                    pequena a vossa fé?”
reflexão
             l
       espiral                                                                                                                 5




    «Ideias já                                                     reno
                                                                     enov
                                                              U ma r enovação
                                                               indispensáv
                                                               indispensáv el
   debatidas»
    O secretário da Confeência               Os 143 professores de Teologia               Os teólogos insistem que a Igreja
Episcopal Alemã, o jesuíta Hans          que subcreveram o Manifesto em que           deve reconhecer e fomentar a liberdade
Langendörfer (foto em cima), fez         exigem reformas na Igreja católica           do homem como criatura de Deus,
saber do desacordo dos bispos com        representam um terço dos teólogos            respeitar a consciência livre, defender o
o manifesto subscrito por 143            católicos de fala alemã residentes na        direito e a justiça e criticar as
teólogos alemães, suíços e austriacos,   Alemanha, Suíça e Áustria. As suas           manifestações que depreciam a
e disse que são “ideias com frequência   propostas incluem o fim do celibato          dignidade humana. E apontam desafios,
já debatidas”, numa nota difundida a     obrigatório, a presença qualificada das      que incluem maiores estruturas sinodais
4 de Fevereiro, um dia após a            mulheres na vida eclesial e a participação   em todos os níveis da Igreja e a
publicação do Manifesto.                 popular na escolha de bispos.                participação dos fiéis na escolha dos seus
    Os teólogos pedem o sacerdócio           O documento foi publicada no jornal      bispos e párocos.
casado, a presença das mulheres nos      Süddeutsche Zeitung, que destacou o              O Manifesto retoma a afirmação
ministérios eclesiais e a participação   fato de que o número de teólogos             já feita de que a Igreja Católica necessita
popular na eleição dos bispos. O         subscritores seria maior se muitos não       também de sacerdotes casados e de
episcopado alemão, além de expressar     temessem represálias da instituição.         mulheres nos ministérios eclesiásticos,
o seu desacordo, pediu mais                  O manifesto «Igreja 2011 - a adesão      denuncia que a falta de sacerdotes força
aprofundamento sobre os temas.           necessária» (“Ein notwendiger                a exigência de paróquias cada vez
    O padre Hans Langendörfer            Aufbruch”) lembra a Declaração de            maiores e lamenta que os sacerdotes
reconhece a importância do diálogo       Colônia, assinada por 220 teólogos em        sofram desgastes diante destas
com o mundo teológico, mas refre         1989, no papado de João Paulo II.            circunstâncias.
que “o documento recolhe                     Judith Könemann (foto em baixo),             O documento enfatiza que a defesa
essencialmente, e uma vez mais, ideias   professora de Teologia em Münster,           legal e a cultura do direito na Igreja
debatidas com frequência”.               destacou que o amplo eco que o               devem melhorar urgentemente e
                                         Manifesto teve demonstra que “tocaram        argumenta que a elevada valorização do
                                         um ponto nevrálgico”. Ela é uma das          matrimónio e do celibato supõe excluir
                                         oito pessoas que redigiram o Manifesto,      pessoas que vivem o amor, a fidelidade
                                         ao qual se somaram professores               e a preocupação mútua numa relação
                                         eméritos da envergadura intelectual de       estável de casal do mesmo sexo ou
                                         Peter Hünermann e Dietmar Mieth,             como divorciados recasados.
                                         labutadores por reformas como                    Os teólogos desconstróem a
                                         Heinrich Missalla e Friedhelm                suposta autoridade de Roma e criticam
                                         Hengsbach, progressistas como Otto           o rigorismo da Igreja Católica, insistindo
                                         Hermann Pesch e Hille Haker, e até           que não se pode pregar a reconciliação
                                         conser vadores como Eberhard                 com Deus sem criar as condições para
                                         Schockenhoff.                                uma reconciliação com aqueles diante
                                             Tendo como pano de fundo a crise         dos quais é culpada: por violência, por
                                         até então incontornável dos escândalos       negar o direito, por converter a
                                         de pedofilia em dioceses e paróquias         mensagem bíblica de liberdade em uma
                                         católicas ao redor do mundo, o               moral rigorosa sem misericórdia.
                                         Manifesto elogia o chamamento dos                E concluem denunciando a prisão
                                         bispos a um diálogo aberto. Pragmá-          do pavor institucional diante do
                                         ticos, os subscritores dizem-se na           rebanho, exigindo diálogo, observando
                                         responsabilidade de dar uma contributo       que o medo não é bom conselheiro,
                                         para um novo começo real, assumindo          recordando que os cristãos foram
                                         a tese central de que a Igreja Católica só   chamados pelo Evangelho a olhar com
                                         pode anunciar o libertador e amante          valor para o futuro, como no
                                         Deus Jesus Cristo, quando ela mesma          chamamento de Jesus a Pedro para
                                         for um lugar e um testemunho crível da       caminhar sobre as águas: ‘Por que estás
                                         mensagem de libertação do Evangelho.         com medo? A tua fé é tão pequena?’
reflexão
6                                                                                                                            espiral



Manifesto dos teólogos alemães, suíços e austríacos

«O debate é elemento constitutivo da vida social»
 «O apelo dos teólogos alemães insiste na
mensagem libertadora do Evangelho.
A força dessa mensagem leva-os a superar os                           PONTOS DISSONANTES
limites                   criticar,            Evangelho,
limites da Igreja e a criticar, em nome do Evangelho,                 Encontro inexatidões graves na resposta da Rádio Vaticano:
uma sociedade que julga o ser humano a partir do                      1) Ela sublinha que, entre as petições dos signatários, figura
seu desempenho e despreza a dignidade do                          “a supressão do celibato sacerdotal”. Não é verdade. Pelo
homem.»                                                           contrário, os teólogos dizem precisamente que “a alta
A opinião é de Jean Rigal, sacerdote francês da                   consideração em que a Igreja tem o matrimónio e o celibato
diocese de Rodez e teólogo, autor de vários livros                não está em discussão”. Todavia, eles evocam a possibilidade
sobre a Igreja e sobre o futuro dela (o seu último
                                                                  de confiar “um ministério eclesiástico” aos homens casados,
livro é “Ces Questions qui Remuent les Croyants”,
                                                                  o que é um modo para enfatizar que não se deve confundir
Lethielleux, Janeiro de 2011).
Est texto foi                         www.baptises.fr
                                         .baptises.fr.
Es te t e xto f oi publicado no sítio www.baptises.fr.            estado de vida e ministério.
A tradução é de Anete Amorim Pezzini.                                 2) Contrariamente ao que diz a Rádio do Vaticano, os
                                                                  teólogos não falam do “sacerdócio para as mulheres”, mas
                                                                  da necessidade de confiar às mulheres os “ministérios
    O      s meios de comunicação têm difundido o
           “manifesto” de 143 teólogos de língua alemã
(alemães, suíços, austríacos). Já foi dito que o último
                                                                  eclesiásticos”, o que não inclui necessariamente o presbiterado.
                                                                  Sabe-se que, na Igreja Católica, o problema do diaconato
movimento desse tipo foi a Declaração de Colónia, em 1989.        feminino permanece em aberto e, em sentido mais amplo, o
subscrita por 220 teólogos. Todavia, já em 1968 foi publicada     do ministério confiados aos leigos (homem ou mulher), como
uma declaração de 38 teólogos que reivindicavam “a liberdade      preconizava o Papa Paulo VI (Ministeria Quædam, 1972) e
dos teólogos e da Teologia a serviço da Igreja resgatada pelo     como confirma o Catecismo da Igreja Católica (n.° 1143).
Concílio Vaticano II”. Aquela declaração foi assinada por         Desagrada que Bento XVI não tenha dado seguimento à
eminentes teólogos, entre os quais Yves Congar, Walter Kasper,    proposta 17 do último Sínodo dos Bispos que auspicava a
Joseph Ratzinger.                                                 criação do ministério instituído de “leitor” para as mulheres.
    O tom do documento é vibrante, mas respeitoso. Dirige-
se à Igreja, e não apenas ou principalmente para as autoridades
romanas, ainda que Bento XVI seja esperado na Alemanha               A      segunda parte da Declaração diz respeito ao
                                                                            funcionamento da Igreja. Deplora a ampliação das
                                                                  paróquias em termos de simples expansão das estruturas atuais.
em Setembro próximo, circunstância que não é fortuita.
                                                                  Imaginamos as consequências disso: o esgotamento dos padres
    PONTOS CONCORDANTES                                           e a resignação dos fiéis. Sem dúvida, esse ponto será retomado
    Vários temas importantes, em acordo entre os teólogos e       na próxima Assembleia plenária da Conferência Episcopal
a voz oficial do Vaticano («Osservatore Romano», «Rádio           Alemã.
Vaticano») merecem ser observados:                                    O documento fala também sobre o delicado problema
    1) Há uma crise profunda na Igreja Católica na Alemanha:      dos casais homossexuais e dos divorciados que contraíram
“o número de fiéis que deixaram a Igreja é sem precedentes”;      novas núpcias. Os teólogos pedem para não “excluir aqueles
    2) O medo é mau conselheiro. Os teólogos insistem sobre       que vivem de maneira responsável o amor, a fidelidade, a
a necessidade de um percurso de diálogo, aberto “ao debate        atenção recíproca dentro de um casal do mesmo sexo ou
livre e honesto das questões”. Evocam uma velha máxima            dos divorciados que casaram novamente”. Esse problema
medieval que afirma: “O que diz respeito a todos deve ser         poderia ser retomado pela Assembleia dos Bispos alemães.
discutido e decidido por todos”. Observe-se que o nosso               Vivemos em 2011, numa época em que o debate é
Código de Direito Canónico continua a prescrevê-lo em parte:      elemento constitutivo da vida social. Entre cristãos, o debate
“O que toca a todos como indivíduos, deve ser aprovados           deve certamente ter lugar na comunhão da Igreja, mas não é
por todos” (C. 119, 3). Desapareceu o conceito de debate.         proibido o vigor das afirmações. Tanto mais que muitos
    3) Na sua resposta, os bispos alemães expressaram a           questionamentos não parecem ser levados em consideração.
opinião de que “o documento dos teólogos é um sinal                   A ausência do debate mata a criatividade. E Deus sabe
positivo, porque demonstra o desejo de os signatários             que necessitamos de criatividade, no nosso tempo, à luz e
oferecerem sua própria contribuição ao diálogo sobre o futuro     com a força do Espírito.
da fé e da Igreja na Alemanha. Os bispos reestabeleceram a            Talvez essa certeza de fé pudesse inspirar, um dia, a
palavra “contribuição” usada pelos teólogos. É um bom             concentração de teólogos numa declaração coletiva, ao serviço
augúrio.                                                          da Igreja.
reflexão
               l
         espiral                                                                                                               7



         Iniciativa dos teólogos : renovação ou demolição
    efle
       lexão                          Hauke, professor        Patrística               Faculdade     Teologia
  R ef lexão polémica de Manfred Hauke, prof essor de Patrís tica e Dogmática na Faculdade de Teologia de
                   vice-diret       Revista Teológica      Lugano,             ZENIT,
        L ugano e vice-dire t or da Re vis ta Teológica de L ugano, na agência ZENIT, sendo os subtítulos da
                         «Espiral».                                                        Munst     17 teólogos,
 responsabilidade do «Espir al». Porque a maioria dos signatários é da faculdade de Muns t er - 17 t eólogos,
            incluindo o decano Klaus Muller - ele chama ao Manifesto «Declaração de Munster (DM).

    Os teólogos querem fazer de 2011 um “ano de partida”           Não se fala sequer sobre a exigência da conversão. Pelo
para que a Igreja possa sair de “estruturas fossilizadas”.         contrário: deseja-se o reconhecimento, por parte da Igreja, da
    Este “diálogo aberto” deve incluir seis “áreas de ação”:       situação dos divorciados novamente casados, que vivem (nas
(1) São necessárias “mais estruturas sinodais em todos os níveis   palavras de Jesus) em um estado de adultério (cf. Mc 10,11),
da Igreja”, sob o princípio: “O que afeta todos deve ser           e mesmo os casais homossexuais, cuja prática sexual, de
decidido entre todos”. (2) A vida da comunidade necessitaria,      acordo com os catálogos dos vícios no Novo Testamento,
para a sua condução, de estruturas mais democráticas (para a       leva à exclusão do Reino de Deus (cf. 1Cor 6,10). Aqui não se
sua orientação). “A Igreja também precisa de padres casados        vê a influência de um conhecimento teológico mais profundo,
e mulheres no ministério eclesial.” (3) Um primeiro passo          mas sim uma perda de fé e de moral. Os elementos
para alcançar uma “cultura do direito” seria “a criação de         fundamentais da doutrina apostólica são sacrificados devido
uma jurisdição administrativa” (ou seja, de tribunais              a um pensamento que quer estar “a par” da situação atual. A
administrativos). (4) Com relação ao que chamam de                 petição de retirar a obrigação do celibato recorda os pedidos
“liberdade de consciência”, foi dito: “A alta estima do            do Iluminismo tardio, superados há muito tempo por Johann
casamento por parte da Igreja (...) não exige a exclusão de        Adam Möhler e outros protagonistas na renovação católica
pessoas que vivem responsavelmente o amor, a fidelidade e          do século XIX. Nem mesmo aos ilustrados das Igrejas estatais
o apoio mútuo em uma união de pessoas do mesmo sexo                da época josefinista, entretanto, teria ocorrido rebaixar os
[casais homossexuais] ou como divorciados recasados”. (5)          valores do matrimónio cristão ou encorajar o concubinato
No espírito de “reconciliação”, seria preciso ir contra “uma       homossexual. Inclusive o pedido de ter “mulheres no
moral estrita, sem misericórdia”. (6) A liturgia vive graças à     ministério apostólico” é dirigido contra a origem apostólica
participação ativa dos fiéis e não deveria ser tão unificada de    da Igreja, pelo menos quando se entende “ministério” no
maneira centralista.                                               sentido do sacramento da Ordem. Recorde-se aqui a Carta
                                                                   Apostólica de João Paulo II, Ordinatio Sacerdotalis (1994),
    POLÉMICA 1: os teólogos instrumentalizam a crise               na qual o papa sublinha que “a Igreja não tem absolutamente
    Temos de dar a razão aos signatários da DM: a Igreja (de       a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e
língua alemã) está a passar por uma crise profunda.                esta sentença deve ser considerada definitiva por todos os
    Por outro lado, muitas sugestões apresentadas pelos            fiéis da Igreja”. O que se aplica a “todos os fiéis da Igreja”
teólogos signatários fazem parte desta crise e não podem           vale, provavelmente de maneira mais forte, para os teólogos
favorecer a superação dos problemas. Os pedidos contidos           que têm uma missio canonica.
no memorando são, em boa parte, pedidos conhecidos,
procedentes dos anos 60 e 70 do século passado. Existe um              OUTROS DESACORDOS
“passo adiante” nos esforços a favor da práxis vivida da               Vamos lançar um breve olhar para outros pedidos, ainda
homossexualidade. O debate público sobre os abusos sexuais         que não possamos dar aqui uma resposta exaustiva. Certamente
é instrumentalizado para empurrar uma Igreja enfraquecida          é importante uma “participação” de todos os fiéis na vida da
para uma situação que se afasta da sua origem apostólica e se      Igreja, mas esta participação não deve ser confundida com as
aproxima do protestantismo liberal. Segundo as estatísticas, o     formas políticas da democracia. De acordo com a sucessão
percentual (deplorável) do abuso sexual pelo clero católico é      apostólica, a Igreja é guiada pelo papa e pelos bispos. No
muito menor comparado ao que acontece nas estruturas               início da Igreja, também os fiéis, muitas vezes, participaram
(comparáveis) do âmbito secular (por exemplo: famílias,            da eleição de bispos por meio do seu testemunho e consen-
escolas, associações desportivas) e até mesmo com relação          timento: mas estes fiéis foram preparados pelo testemunho
ao que se sabe dos pastores protestantes, casados, em sua          dos mártires, na época das perseguições; não era a situação
maioria (cf. J. M. Schwarz, Kirche, Zölibat und                    de hoje, em que quase 90 % dos “católicos” alemães não vão
Kindesmissbrauch,www.kath.net, 3.2.2010).                          à missa no domingo e dependem quase que inteiramente da
                                                                   influência da comunicação social, a qual, em sua maior parte,
    POLÉMICA 2: faz o documento dizer o que não diz                é decididamente desfavorável à fé católica. As eleições
    Os teólogos da DM cometem um “abuso com o abuso”               episcopais não eram decisões tomadas pelo povo, mesmo na
ao promover petições que certamente não podem combater             Igreja antiga. Segundo o Papa Leão Magno, o bispo deveria
as causas que estão na base dos próprios abusos. Não se diz        ser eleito pelo clero, aclamado pelo povo e ordenado pelos
que a castidade é necessária para uma verdadeira renovação.        bispos da província, com o consentimento do Metropolitano.
reflexão
8                                                                                                                                                       espiral




                                                                              Opinião latino-americana
                                                                           O teólogo João Batista Libânio, professor em Minas
                                                                           Gerais, no Brasil, leu o documento e analisou as
O princípio jurídico citado pela DM vem originalmente do                   propostas. Resumindo,                  “A
                                                                           propos tas. Resumindo, ele é enfático: “A tônica do
direito romano privado e foi interpretado em 1958 por Yves                 projeto do Papa e a do manifesto divergem.”
Congar, no sentido da recepção dentro da Igreja, mas não
como democratização do Magistério, nem do ministério de                        Com a experiência de quem presenciou “nítidos momentos
guia (Quod omnes tangit, ab omnibus tractari et approbari debet);          no processo eclesiástico” da Igreja nas últimas décadas, Libanio
explicar o consentimento do povo de Deus como “decisão”                    ressalta que o manifesto “alude ao fato de que em 2010 ‘tantos
ou inclusive como base de “estruturas mais sinodais” é sinal               cristãos deixaram a Igreja e apresentaram à autoridade da
de uma ideologização fora da História eclesial.                            Igreja a desistência da sua pertença ou privatizaram a sua vida
    O que se afirma sobre a questão das “paróquias XXL”                    de fé para defendê-la da instituição, o que jamais ocorrera
refere-se a uma dolorosa realidade. A solução das dificuldades             antes”. A constatação do êxodo cristão, entretanto, “não abala
não está em mudar as estruturas da Igreja, procedentes de                  a convicção do projeto de manter uma Igreja, embora
Cristo (como o sacerdócio ministerial reservado aos homens                 minoritária, mas fiel aos ensinamentos dogmáticos, morais e
e sua responsabilidade específica para a guia da comunidade).              à prática disciplinar eclesiástica”, assinala.
Para organizar bem a vida das comunidades, é necessária a                      Para ele, Roma reforça a autoridade sobre as Igrejas locais
prudência pastoral e o compromisso de todos, mas não uma                   porque elas a solicitam. “A geração profética do porte de
laicização na pastoral das comunidades paroquiais. A                       Dom Helder deixou-nos ou já está envelhecida. E a nova
“liberdade de consciência” proclamada na DM separa                         safra eclesiástica revela outro corte”, lamenta.
claramente a consciência do sujeito da verdade objetiva à qual
a consciência se deve orientar. Não faz sentido aplicar a                      Quetionado sobre se concorda que a Igreja precisa ser
“liberdade de consciência” para aprovar os casais do mesmo                 reformada e quais seriam as reformas urgentes?,
sexo e o adultério. Newman falaria aqui de um pretendido                   responde: «Os anos permitem-me perceber três nítidos
“direito à voluntariedade” (Carta ao Duque de Norfolk). A                  momentos no processo eclesiástico das últimas décadas. Ainda
“misericórdia” na moral, mencionada sob a voz da                           conheci estruturas hieráticas no pontificado de Pio XII, que
“reconciliação”, não deve separar-se da necessidade de                     lançava a imagem do poder eclesiástico onisciente e
respeitar os mandamentos de Deus: Deus perdoa o pecador                    onipotente. Roma pronunciava-se sobre os mais diversos
sinceramente arrependido, mas dá-lhe a entender também                     assuntos e com a consciência de dizer verdades inquestionáveis.
(como Jesus à adúltera): “De agora em diante, não peques                   Não se percebia sinal de dúvida ou perplexidade. Isso acontecia
mais” (Jo 8, 11).                                                          com duplo efeito. Positivamente, oferecia aos católicos fieis
    A petição da DM de integrar as “experiências e expressões              enorme segurança sobre temas desde a Astronomia até à
da época contemporânea” na liturgia já tem o seu lugar                     intimidade da vida conjugal. Para aqueles que já tinham recebido
conveniente no atual ordenamento - por exemplo, na oração                  o impacto da modernidade liberal, democrática, marcada pela
dos fiéis e na homilia. O acolhimento de “situações concretas              subjetividade, autonomia das pessoas, consciência história,
da vida” não deve obscurecer a importância da liturgia como                práxis transformadora, tais declarações romanas produziam
glorificação de Deus, juntamente com toda a Igreja, que                    enormes dificuldades e mal-estar.
proporciona formas muito precisas para a expressão comum.                      Veio então João XXIII. Convoca o Concílio Vaticano II
    Certamente, é preciso elogiar o “diálogo” dentro da Igreja.            que inicia, com certa coragem, o diálogo da Igreja com a
Para um debate legítimo entre cristãos católicos, entretanto,              modernidade. Usando a imagem da música “andante ma non
deve estar claro o pré-requisito presente na profissão comum               troppo”, a Igreja caminha em direção ao repensamento
da fé católica. Diversos pontos da DM questionam essa base.                doutrinal e pastoral, provocado pelos questionamentos
Os signatários da DM podem sinceramente apresentar a                       teóricos e práticos levantados nos últimos séculos. No entanto,
Professio fidei exigida como condição indispensável para ensinar,          o tempo de aggiornamento não durou muito. Já no próprio
em nome da Igreja, nas faculdades de teologia? Os bispos                   Pontificado de Paulo VI, a partir de 1968, despontam sinais
responsáveis terão a coragem de insistir contra a dissidência              de contenção e retrocesso. E depois a Igreja Católica mergulha
sobre o caráter eclesial da Teologia? A próxima visita do Santo            num longo processo neoconservador que dura até hoje. As
Padre à Alemanha será uma grande oportunidade para uma                     inovações iniciadas no Vaticano II interromperam-se e outras
renovação na fé católica. O memorando dos 143 teólogos,                    não surgiram, exceto em um ou outro gesto ousado de João
porém, entristece: não oferece nenhuma contribuição para                   Paulo II, como a Oração pela Paz em Assis com os líderes
lançar-se rumo a um futuro cheio de esperança, mas sim uma                 das diferentes religiões do mundo. Ainda que o clima geral
demolição que põe em perigo o tesouro da fé eclesial.                      não fale de abertura, entretanto percebe-se-lhe a necessidade.


                                             página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.
reflexão
                              l
                        espiral                                                                                                                                   9


           À prgunta: Quais são as perspectivas e os desafios da                                    a Igreja de Roma também lentamente afinar-se-á com ela. O
           Igreja para esta segunda década do século XXI?, opina:                                   processo se institui de ambas as partes simultaneamente em
           Distingamos os níveis. No momento, ao nível das estruturas                               mútua relação e influência.
           internas da Igreja não se veem perspectivas animadoras.                                      Quanto mais a Igreja local marcar a originalidade, a
           Durante o longo pontificado de João Paulo II, a Igreja                                   liberdade, a autonomia, tanto mais Roma a reconhecerá. Se
           Católica viveu o paradoxo, de um lado, de rasgos de abertura                             ela, porém, esperar para cada palavra que disser um sorriso
           na prática do diálogo inter-religioso, na defesa dos direitos                            aprobatório de Roma, a liberdade se encurtará e a autonomia
           humanos, na oposição a toda guerra enfrentando, inclusive,                               se dissolverá. Quem age sob o olhar de outro, termina
           as pretensões americanas, na proximidade com o mundo dos                                 condicionando-se de tal modo que perde a identidade.
           pobres e, de outro, de enrijecimento doutrinal e disciplinar
           interno. No horizonte, não se percebe que a Igreja enfrentará                                Como vê a atual internacionalização da Cúria
           os novos desafios da cultura contemporânea por meio de                                   Romana? Como propõe o Manifesto, a sociedade
           mudanças internas, como fez, em parte, logo depois do Concílio                           deveria ajudar a escolher os representantes?
           Vaticano II. Falta o clima de abertura, de otimismo e de                                     J. B. Libânio – A internacionalização traz vantagens. Mas
           profetismo para lançar-se em transformações profundas. Em                                não decide por si mesma. Acontece que a cor internacional
           termos de hierarquia, reina, antes, um momento de silêncio,                              desaparece facilmente por homogeneização ideológica por
           de prudência sem muita inspiração e lanço de coragem                                     força da instituição. Se cada nação levasse para dentro da
           inovadora. A geração profética do porte de Dom Helder                                    Cúria Romana a própria originalidade e a conservasse em
           deixou-nos ou já está envelhecida. E a nova safra eclesiástica                           contínuo diálogo com a predominante cultura europeia e
           revela outro corte.                                                                      romana, então a internacionalização causaria outro efeito.
               No universo dos leigos, há sinais de esperança nas                                       Bispos latino-americanos, africanos ou asiáticos que arribam
           comunidades de base, na crescente participação consciente e                              a Roma se romanizam a ponto de não se distinguir muito
           ativa das mulheres, no maior desejo de espiritualidade e                                 dos outros. Outra coisa seria se as Igrejas locais se fizessem
           Teologia, na vitalidade de novos ministérios, na criatividade                            presentes em Roma por meio dos seus representantes,
           litúrgica, no acesso amplo às Escrituras pela via da leitura                             escolhendo-os e eles fazendo-se porta-voz delas. Mais: se elas
           orante. Em algumas Igrejas locais, o povo de Deus anuncia                                mesmas decidissem na escolha dos ministros que as servem
           algo de novo, desde que a clericalização não a prejudique.                               ou vetassem aqueles que não as satisfizessem. Assim
                                                                                                    evitaríamos casos desastrosos que tivemos de bispos, párocos
               Será que o Vaticano determina as Igrejas locais?                                     ou pessoas em funções com detrimento da vida eclesial em
               João Batista Libânio – Cícero disse que a História é                                 vez de a construir, e os fieis tiveram de suportá-los calados e
           “mestra da vida”. Lancemos um olhar para os últimos séculos                              sem poder de mudança. Certos aspectos da sociedade
           a fim de entender a relação entre o Vaticano e as Igrejas locais.                        democrática não contradizem, teologalmente falando, a
           Gregório VII, no século XI , deu a decisiva guinada da                                   maneira de designar membros da hierarquia. A escolha pode
           autonomia das Igrejas locais para o crescente poder de Roma.                             ser democrática, embora a conferição se faça pela graça do
           Ele pautou o governo pontifício pelo dictatus papae, que ressuda                         sacramento.
           centralismo, autoritarismo desmedido.                                                        O manifesto dos teólogos pondera a questão do
               Esse longo processo de quase mil anos marcou uma linha                               isolamento da Igreja em relação à sociedade. Tal fato,
           de comportamento em que Roma exerce imensa influência                                    porém, não se entende na percepção pontifícia de modo
           sobre as Igrejas particulares ou regionais. O Concílio Vaticano                          negativo, enquanto fechamento, mas como exigência de
           II, com a colegialidade, tentou diminuir tal tendência, mas                              coerência com a própria mensagem a despeito da
           com pouco resultado. Faz parte, portanto, da consciência                                 incompreensão por parte da mentalidade moderna. Até onde
           comum eclesiástica a dependência em relação a Roma. E a                                  tal programa eclesiástico se afasta do reino anunciado por
           dialética de dependência de uma parte pede o exercício de                                Jesus? É um tema grave que precisa de ser bem pensado e
           domínio da outra. A criança que pergunta à mãe que meia                                  discutido de ambos os lados. A tônica do projeto do papa e
           vai calçar pede uma mãe cada vez mais absorvente que termina                             a do manifesto são divergentes. No primeiro caso, volta-se
           ditando-lhe tudo. Assim na Igreja. Roma responde com                                     para a Igreja e quer mantê-la na sua atual estrutura e, a partir
           autoridade e reforça-a, porque as próprias Igrejas locais a                              daí, cumprir melhor sua função. No outro, propõe-se o projeto
           solicitam e ficam à espera. A liberdade entende-se como                                  de Jesus e pergunta-se como adequar as estruturas da Igreja a
           relação entre duas liberdades. Não há liberdade de um lado                               ele. Pontos divergentes que geram leituras diferenciadas. Só o
           só. Que o diga Erich Fromm no magistral livro «Medo da                                   diálogo mostra o limite e a positividade de cada perspectiva.
           liberdade». As análises que lá faz, baseadas na sua experiência                          O manifesto acentua: primeiro a liberdade individual e de
           do nazismo, valem para toda a relação de submissão e de                                  consciência e a partir dela a fidelidade. A atual disciplina
           autoritarismo, onde ela se dê. No dia, porém, em que as Igrejas                          eclesiástica: primeiro a fidelidade à doutrina e à prática e aí
           locais tomarem maior consciência de outra eclesiologia, então                            dentro a liberdade.

.pt * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesouraria@fraternitas.pt
DOSSIER

10                                                                                                                         espiral




 A Igreja e a mulher:
Por Eduardo Hoonaert, padre casado, belga, com
mais de 5O anos no Brasil, historiador e teólogo,
                                                                  Emerge uma nova
                                                                  Emerg      nov
                              Mora     Salvador
                                            ador.
mais de 20 livros publicados. Mor a em Salv ador.
Dedica-se agora ao estudo das origens do                          consciência feminina
cristianismo.
                                                                      Após séculos de silêncio e submissão, a mulher do século
Em agência Adital, 3 de Março de 2011.
                                                                  XX finalmente dá sinais de rompimento com o passado. No
                                                                  âmbito católico, é na década de 1940 que aparecem os
     Uma longa história                                           primeiros indícios discretos de que algo está a mudar no
    Desde os inícios, o cristianismo histórico tem tido           universo feminino: as mães já não mandam os filhos à missa
dificuldades em compreender o comportamento de Jesus              dominical com a fidelidade de antes. Isso repercute
para com as mulheres. Diversos trechos dos Evangelhos             imediatamente na Igreja, mas quase ninguém percebe o que
demonstram admiração, mas ao mesmo tempo deixam                   está a acontecer. Quando, em 1943, o padre Henri Godin, no
transparecer estranheza. Os próprios apóstolos não entendem       seu livro «França, país de missão?», constata com amargura
o modo como Jesus aborda as mulheres. Pedro, um de seus           que a França já não é o país católico de antes, ele não suspeita
mais próximos companheiros, não tolera que uma mulher             que a mulher tenha algo a ver com essa ‘descristianização’. O
seja considerada apóstola em pé de igualdade com os homens,       mesmo acontece com o sociólogo Gabriel Le Bras, que atribui
como se pode ler no evangelho apócrifo de Maria Madalena.         o declínio na assistência à missa ao estilo de vida na grande
Por causa dessa e de outras dificuldades, o cristianismo          cidade, à perda de fé e à secularização. Mas não fala da mulher.
histórico guarda uma memória precária e até deformada acerca      E quando, nos anos 1960, se constata um rápido declínio de
do comportamento de Jesus diante das mulheres.                    vocações para o sacerdócio, também não se entrevê nisso a
    Maria Madalena, a mais proeminente figura feminina do         mutação na relação do vocacionado com a sua mãe. Os
Novo Testamento, é sistematicamente maltratada nos sermões        primeiros estudos que apontam nessa direção são dos anos
da Igreja, até ser rebaixada à condição de prostituta e de        1990. É no silêncio do universo feminino que se opera a
pecadora arrependida. Essa criminalização simboliza na            desconstrução da Igreja.
realidade o rebaixamento da figura da mulher em geral, na             Mas no início dos anos 1960, no momento em que o
tradição cristã.                                                  Papa João XXIII pensa em convocar um concílio, de repente
    Mas não é só a cultura cristã que desconsidera a mulher. A    a ‘desobediência’ feminina ganha notoriedade: a pílula
maioria das culturas é igualmente preconceituosa nesse ponto      anticoncepcional oral entra em cena e o seu sucesso é imediato.
e ficaria igualmente escandalizada com Jesus, que apreciava o     A mulher verifica que os ritmos das energias procriativas do
perfume e o afeto de uma mulher e que insistia em que a           seu corpo, se não forem controlados, dificultam a qualidade
memória da ternura de uma mulher fosse preservada «por            de vida a que ela e a sua família aspiram. Os ciclos sempre
onde quer que o Evangelho fosse proclamado» (Mt 26, 12).          repetidos da gravidez, do nascimento da criança, dos longos
Essa memória sempre encontrou resistência no seio do              tempos dedicados ao recém-nascido, dos trabalhos na casa,
cristianismo histórico, como provavelmente encontraria na         da preparação dos alimentos, dos cuidados como o marido
maioria das culturas.                                             não deixam espaço para que ela se desenvolva plenamente,

     Por que é que o Vaticano II desconhece a mulher?             em Paris, onde ele foi núncio. O seu diagnóstico de que havia
                                                                  desencontro entre Igreja e mundo moderno estava certo.
    Sabemos que as mulheres não são convidadas a falar em         Nisto, o Vaticano II fez um bom trabalho. O que lhe faltava
concílios ecuménicos. Mas elas interferem, isso sim, nos          era ir ao âmago da questão. Não conseguiu identificar com
destinos dos concílios. Enquanto os bispos do Vaticano II         clareza a ideologia heterónoma que caracteriza a igreja.
tentam compreender as razões da ‘descristianização’, elas atuam       É de se compreender a razão. O universo imaginário da
na base, desatando laços seculares e desse modo esvaziando        Igreja cristã provém em última análise da Bíblia, elaborada
as Igrejas. Enquanto os teólogos falam em secularização,          num mundo dominado por estruturas heterónomas. O rei (o
ateísmo, consumismo, individualismo ou hedonismo, elas            imperador) manda no povo, o senhor manda no escravo
introduzem comportamentos autónomos no seio do velho              (trabalhador), o homem manda na mulher, o pai manda nos
mundo, marcado por séculos de heteronomia. Decerto, o             filhos e Deus manda em todos (e todas). A vida toda é
Papa João XXIII sabia que as igrejas estavam a ficar vazias       concebida em termos de heteronomia: há sempre um ‘outro’
DOSSIER

       l
 espiral                                                                                                                      11




um diálogo possível?
em contraste com o que acontece ao homem que, depois do
ato sexual, fica ‘liberto’.                                        A mulher e o bispo
    A Organização das Nações Unidas (ONU) aprova
oficialmente o planeamento familiar e declara que ele colabora       A estas alturas é bom averiguar o que é realmente novo
com a saúde e o bem-estar da mulher, dos filhos e da família     no comportamento da mulher que pratica o planeamento
(conferência do Cairo, 1994). Estamos diante da emergência       familiar. O novo consiste no fato de que ela não já age impelida
de um pensamento autónomo, em contraste com o                    por uma vontade alheia, mas a partir de uma vontade própria.
pensamento heterónimo até então vigente. Elabora-se uma          Ela está sintonizada com o pensamento moderno, que acredita
nova arquitetura do Estado com a finalidade de promover          na auto-regulamentação das leis que regem o universo. A
saúde, educação, bem-estar das famílias, assim como              percepção sempre mais clara da regularidade das leis internas
atendimento médico-hospitalar baseado na ideia da                do universo resulta em atitudes de autonomia. Em
regulamentação dos nascimentos. «Eis uma revolução de            consequência disso, a mulher inicia um novo relacionamento
dimensões planetárias» (Rose Marie Muraro, intelectual e         com o seu próprio corpo. Verificando que o seu corpo
feminista brasileira). A ideia do planeamento familiar é uma     responde a determinados estímulos químicos capazes de inibir
ideia genuinamente feminina que põe em movimento a maior         a gravidez, por exemplo, ela adquire aos poucos e quase
revolução do século xx, uma revolução silenciosa que se          imperceptivelmente um comportamento autónomo: ‘O
processa na intimidade das residências privadas, no diálogo      axioma da autonomia está penetrando lentamente e quase
íntimo entre homem e mulher, longe dos púlpitos clericais,       sempre de modo inconsciente em toda a cultura ocidental’.
das cátedras doutorais e dos foros públicos. Ao controlar a          Ao programar a sua família, a mulher mexe com as
fertilidade, a pílula faz com que a mulher possa entrar no       estruturas da sociedade e do instituto religioso. Mais: ao lutar
mercado de trabalho ao lado do homem. Doravante, o seu           por uma família que desfrute de uma melhor qualidade de
corpo já não pertence à fatalidade dos ciclos da procriação e    vida graças à regulamentação dos nascimentos, a mulher mexe
liberta-se aos poucos da vontade do homem. A pílula inaugura     com a própria imagem de Deus. Ela esboça uma nova imagem
um tempo novo, não só para a mulher, mas para a sociedade        de Deus, mais condizente com as leis da autonomia.
como um todo. As relações de género e trabalho                       Os progressos científicos a favor da vida revelam o santo
transformam-se em profundidade. «Quando dominado pelo            mistério chamado Deus. Para essa mulher, o Deus eclesiástico
homem, o mundo é hierarquizado. Mas ele estabelece-se em         vai se diluindo no horizonte enquanto emerge um Deus que
rede quando a mulher entra em cena» (Rose Marie Muraro).         corresponde às leis internas e autónomas do universo e da
    Uma vez que na mesma época se inicia o concílio Vaticano     humanidade. Para ela, o que colabora para uma melhor
II, vale a pena perguntar-se se há interação entre ambas as      condição de vida é santo. Na medida em que torna o mundo
iniciativas. O movimento em prol da libertação do corpo          mais feliz, a pílula anticoncepcional é santa. Então, a mulher
feminino tem algo a ver com o ‘aggiornamento’ do Papa            emancipada questiona a Igreja, como se pode verificar por
João XXIII? Será que os bispos reunidos em Roma tomam            toda parte.
conhecimento do que está a acontecer no universo feminino            Para os bispos, a passagem do pensamento heterónomo
e procuram entrar em diálogo com as mulheres?                    para o pensamento autónomo é bem mais complicada.

que manda. A vida humana está sempre em mãos alheias. A          eterna. Deus por vezes aparece como senhor rigoroso e justo,
heteronomia constitui o mais antigo e durável modelo de          outras vezes como pai amoroso que perdoa tudo. Mas sempre
convivência humana, que caracteriza regimes políticos,           fica fora do mundo em que vivemos. Nos dois primeiros
económicos, sociais, culturais e psicológicos.                   versos da Bíblia aparece uma imagem nitidamente heterónoma
   Na Bíblia, Deus aparece como um ser todo-poderoso,            de Deus: de um lado, a luz, o sopro, a vida, do outro lado, o
santíssimo, sentado no trono celeste. Ele criou o universo em    vazio, a solidão, a escuridão e a morte:
poucos dias e até hoje governa sua criação da mesma forma            Primeiras palavras:
que um rei persa controla seus imensos territórios, guarda           Deus cria o céu e a terra,
tudo que acontece numa memória infinita (melhor que a                Terra vazia, solidão,
memória do computador mais potente) e julga tudo como o              Escuro em cima do abismo
mais justo dos juízes. Ele premia o bem e castiga o mal, às          Sopro de Deus
vezes aqui na terra, mas certamente após a morte, na vida            Movimentos sob as águas (Gn 1, 1-2).
DOSSIER
12                                                                                                                             espiral




Mesmo os que estão pessoalmente abertos à mudança dos                  questões concretas que envolvem aborto só podem ser
tempos permanecem enquadrados numa estrutura                           resolvidas por meio de ações baseadas no princípio da
fundamentada na heteronomia. Isso se verifica nas renovadas            autonomia. A sociedade tem de se mostrar capaz de enfrentar
‘guerras santas’ em torno da questão do aborto. Tomemos o              com realismo os problemas que se lhe apresentam. Não basta
caso paradigmático de Recife, em Março 2009. Quando                    dizer às mulheres que desejam abortar que elas têm de se
ocorreu numa clínica da cidade a interrupção da gravidez de            entregar ‘às mãos de Deus’ e obedecer aos desígnios divinos.
uma menina de 9 anos, D. José Cardoso Sobrinho, na época               O bispo José até pode sonhar com uma Igreja santa no meio
arcebispo da cidade, excomungou prontamente os médicos                 da devassidão do mundo e dos erros do século, uma cidadela
que praticaram o aborto na menina. Ele justificou o seu                de Deus, como aquela descrita por Santo Agostinho na sua
comportamento, dizendo que estava a seguir as leis da Igreja.          obra ‘A Cidade de Deus’. Mas esse sonho não corresponde à
Desse modo, o bispo recorreu à ideia da heteronomia. A                 realidade. O postulado da santidade da Igreja é uma
Igreja declara estar ‘a favor da vida’, contra ‘o cultivo da morte’,   elaboração teológica do século IV, baseada na aproximação
mas não sabe como lidar com casos concretos relacionados               da Igreja daquele tempo com o sistema imperial romano e
com aborto.                                                            nos métodos utilizados para impressionar as pessoas. Mesmo
   Decerto, o bispo recomendou compaixão para com a                    assim, a imagem de uma Igreja santa, intocável e inquestionável
menina abusada pelo padrasto, mas não tinha nada a declarar            ainda se mantém tão poderosa nos nossos dias que é capaz
acerca da existência de centenas de clínicas clandestinas de           de seduzir bispos e mesmo o papa. Em suma, atitudes como
aborto no Brasil, que vitimam cada ano milhares de mulheres.           as de D. José Cardoso criam inutilmente curtos circuitos que
Ele recomendou compreensão e preces pelas pobres mulheres              dificultam a passagem do pensamento cristão para o mundo
que recorrem a tais clínicas, mas não podia ir além, pois as           em que vivemos.

Como sair do curto-circuito?                                           não há nada mais louvável do que uma sociedade que caminha
                                                                       para a democracia e a liberdade. Todos os cidadãos estão
    «A comunidade cristã é mais que a Igreja hierárquica. Ela é        sujeitos à lei, nenhuma instituição está acima da lei civil.
plural, ou seja, composta de múltiplas comunidades cristãs e               Em segundo lugar, não é bom dramatizar nem exacerbar
estas são igualmente muitas pessoas, cada uma com a sua                os sentimentos. Palavras de guerra como ‘mentalidade
história, as suas escolhas e decisões próprias diante da vida.         medieval’, ‘obscurantismo’, ‘fanatismo’ (de um lado) e
Urge que a teologia dos bispos saia de uma concepção                   ‘ateísmo’, ‘agnosticismo’, ‘abandono da fé’ (de outro lado) só
hierárquica e dualista do cristianismo e perceba que é na              atrasam o processo. Lançam-se farpas de ambos os lados, o
vulnerabilidade às múltiplas dores humanas que poderemos               que não leva a nada. Só por meio de estudos serenos e da
estar mais próximos das ações de justiça e amor» (Ivone                percepção das verdadeiras dimensões do problema é que se
Gebara, teóloga).                                                      pode avançar. Pensar com liberdade não significa abandonar
    Para a Igreja, não é fácil abandonar o universo imaginário         a fé. Deixar de falar em reis e rainhas, senhores e santidades,
da heteronomia. Hoje não existe caminho fora do diálogo                tronos e potestades não significa trair o Evangelho.
com a modernidade. Habilitar-se para tal diálogo implica, em           Acompanhar a evolução das ciências, da política e da
primeiro lugar, numa atitude de autocrítica.                           sociedade de hoje não é o mesmo que deixar de ser cristão.
    Durante longos séculos, a Igreja Católica dominou a cultura        São Paulo não deixou de ser judeu quando escreveu: «Sim,
ocidental e ficou intocável. Há apenas cinquenta anos, na              todos fomos imersos num sopro único, num corpo único,
abertura do Vaticano II, o domínio do pensamento católico              Judeus ou Gregos, escravos ou livres, e todos vivemos
sobre as consciências ainda era tão poderoso que criticar um           animados por um sopro único (1Cor 12, 13). Nesses versos,
representante da Igreja Católica era quase o mesmo que criticar        São Paulo escreve que somos todos feitos do mesmo barro
o próprio Deus. A Igreja julgava-se superior a todas as demais         humano e ao mesmo tempo animados pelo mesmo sopro
organizações. Mas, recentemente, quando apareceu a pedofilia           de Deus, quer sejamos Judeus ou Gregos, homens ou mulheres,
praticada por padres, percebeu-se que a Igreja não é tão santa         bispos ou fiéis, heterónomos ou autónomos.
como o papa e os bispos desejariam que fosse. Os padres são                As mulheres que praticam o planeamento familiar são feitas
humanos (por vezes demasiadamente humanos), feitos de uma              do mesmo barro que os bispos que as rejeitam. Não se pode
matéria comum a todos os seres humanos.                                dizer que o planeamento familiar seja uma questão de fé. Se
    Diante da pedofilia, por exemplo, a mentalidade moderna            durante séculos falámos de Deus em termos de heteronomia,
não suporta mais os métodos de intimidação, ocultamento e              porque não será possível falar Dele hoje em termos de
manipulação que ainda eram aceites pelos nossos pais e avós            autonomia? A modernidade religiosa consiste na passagem
num passado não muito distante. A nossa percepção do que               para a imagem de um Deus que encontra a sua auto-expressão
deve ser uma sociedade democrática, igualitária e justa vai-se         no universo em que vivemos. Na figura de um universo em
aperfeiçoando e um número crescente de pessoas acha que                contínua gestação vislumbra-se o rosto de Deus.
fraternitas
                                                                                       fraternit
                                                                                          ternitas

               l
         espiral                                                                                                              13


          Encontro Nacional                                                            PROGRAMA
         Curso de Actualização                                                        DO ENCONTRO
               Teológica                                                               Dia 29 de Abril (6.ª-feira)
                                                                                  20h00 – Jantar, antecedido de acolhimento
   Tema: VERBUM DOMINI, Exortação Apostólica de Bento XVI                         21h15 – Informações.
sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja                             Diálogo sobre a(s) vida(s) na Fraternitas
                                                                                  22h00 – Descanso
   ORIENTADOR: D. Gilberto Canavarro (bispo de Setúbal)
                                                                                      Dia 30 de Abril (sábado)
   Lugar: Casa N.ª Sr.ª das Dores, Fátima                                         8h30 – Pequeno-almoço
                                                                                  9h00 – Laudes. Exposição do Santíssimo
   Data: de 29 de Abril (ao jantar) a 1 de Maio (ao almoço)                       10h15 – Intervalo
                                                                                  10h45 – Encontro e trabalho de grupo
   Organização: Associação FRATERNITAS Movimento                                  13h00 – Almoço
                                                                                  15h00 – Encontro e trabalho de grupo
    INSCRIÇÃO                                                                     16h30 – Intervalo
    Deverá ser feita, através do secretariado, até 20 de Abril:                   17h00 – Encontro e trabalho de grupo
    Secretária: Urtélia Silva                                                     18h15 – Plenário sobre os trabalhos de grupo
    Rua Prof. Carlos Alberto Pinto de Abreu, 33, 2.º Esq.                         19h00 – Vésperas e Eucaristia
    3040-245 Coimbra                                                              20h00 – Jantar
    secretariado@fraternitas.pt                                                   21h15 – Tertúlia fraternal
    (Até às 21h15): Tel.: 239 00 16 05 ou Tlm.: 91 47 5 47 06
    N.B: A Casa N.ª Sr.ª das Dores solicita a inscrição até 10 dias antes do          Dia 1 de Maio (domingo)
dia da chegada. As desistências deverão ser comunicadas até ao dia anterior       8h30 – Pequeno-almoço
à chegada. Caso contrário, a organização suportará o pagamento de 90%             9h00 – Laudes
dos encargos do 1.º dia – almoço ou jantar e dormida.)                            10h00 – ASSEMBLEIA GERAL
                                                                                  12h00 – Eucaristia, com ensaio prévio
   FICHA DE INSCRIÇÃO (fotocopie e envie)                                         13h00 – Almoço
   NOME ___________________________________________
   Sócio n.º ____________ ou Não Sócio _____
   Tlm _______________ E-Mail _________________________
                                                                                 ASSEMBLEIA GERAL
   NOME ___________________________________________                                       CONV OCATÓRIA
                                                                                          CONVOCA
                                                                                               OCATÓRIA
   Tlm _______________ E-Mail _________________________                            Nos termos do Artigo 12.º dos Estatutos
   MORADA _________________________________________                            convoco todos os sócios da Associação
   _________________________________________________                           FRATERNITAS Movimento, para a
   C. P. ______ – _____ ________________________________                       Assembleia-geral a realizar no dia 1 de Maio de
                                                                               2011 (domingo), pelas 10h00, na Casa Nossa
   Estadia completa (2 diárias): _____ (sim ou não).                           Senhora das Dores, em Fátima, com a seguinte
   Caso não seja completa:                                                     ordem de trabalhos: 1 – Apreciação e votação
   Início e término: _________________ – ___________________                   da acta da última reunião.
   Adultos: ______ Crianças (idades): ________________________                     2 – Apresentação, apreciação e votação do
   Obs.: Necessidade e tipo de dieta: ________________________                 Relatório de Actividades e de Contas do ano de
   Quarto próximo do elevador ___________________________                      2010. Leitura do Parecer do Conselho Fiscal.
                                                                                   3 – Apresentação, apreciação e votação do
   TAXAS DE INSCRIÇÃO:                                                         Plano de Actividades e Orçamento para 2011.
   Sócios: gratuita/Não Sócios: 5 euros/ por pessoa.                               4 – Eleição dos titulares dos órgãos da
   Diária por pessoa: - 35 euros (quarto individual / duplo ou triplo).        Associação para o triénio 2011-2013.
   - Gratuito – até aos 3anos (excl.)                                              5 – Outros assuntos.
   - Meia diária (portanto 17,50 euros – 3 aos 12 anos (excl.).                    Se, à hora marcada, não houver quorum, nos
   * Refeição – Almoço ou jantar: 10 euros; na meia-diária: 5,50 euros.        termos do Artigo 15.º dos Estatutos a reunião
   *1 dormida c/ peq.º alm.º: 17,50 euros; na meia-diária: 10,50 euros.        terá lugar, meia hora mais tarde, com os sócios
   *1 peq.º- alm.º ou merenda: 2 euros; na meia-diária: 1,80 euros.            presentes.
   * O pagamento far-se-á durante a estadia ao tesoureiro (Luís Cunha).            O Presidente da Mesa da Assembleia,
   N.B.: Que ninguém deixe de ir por dificuldades financeiras.                     Artur da Cunha Oliveira (2011-02-15).
FRATERNITAS
                                                                                         FRATERNIT
                                                                                            TERNITAS
14                                                                                                                           espiral




PELOS MEANDROS DA PRODUÇÃO LITERÁRIA
           Livros dos associados da Fraternitas editados em 2009 e 2010

Vou olhando diariamente os livros dos associados (e                      “UM QUASE- PÉRIPLO À CAPADÓCIA”
não associados congéneres) dispostos na estante,                         Autor: Armando Marques da Silva (2010), Dezembro,
mesmo à minha direita. A maioria tão gentilmente                     Ed.Traduvarius.
oferecidos!...E fico a pensar: É muito pouco!...                         “Como se peregrino fosse…
“Um livro aberto é um cérebro que fala.
                                                                         Não terá sido embriagado por vinho doce o autor desta
Um livro fechado é um amigo que espera.
                                                                     narrativa surpreendente. Também não tenho escárnio para
Um livro esquecido é um irmão que perdoa.
Um livro destruído é um amigo que chora.”                            lhe oferecer, antes pelo contrário, actos das testemunhas da
(Voltaire)                                                           ventania do primeiro Pentecostes. (…) ‘Ninguém vem sem
                                        Urtélia Silv
                                        Urtélia Silva
                                                                     ter de ir’ – eis a decisão que empurrou o narrador para o
                                                                     percurso de memórias pessoais que desvenda, sem rebuço,
      Recordo o que escrevi na altura do envio do último             mesmo que tenha sempre à espreita a senhora da gadanha.
Espiral: “Tem sido grande a produção literária dos associados.       Nunca uma doença masculina foi tão projecto de angústia…
O secretariado desejaria ‘inventariar’ tais obras, e ir anunciando   Em cada página há um desfilar encantatório dos sítios onde
no Espiral. Para o próximo número, espero fazê-lo do período         se cruzam enredos teológicos. E daqui não está arredada a
referente ao último biénio, pelo que solicito tal informação         esponja larvar sobre as teofanias e despautérios de Adão. Ficam
dos que ainda não o comunicaram.”                                    traços sobre os caminhos insinuantes das espiritualidades de
    Vou então basear-me apenas nos dados dos livros que o            Compostela (…) O humor adensa-se repentinamente em cada
secretariado dispõe, alguns escassos por que solicitados             curva que persegue Capadócia, Património Mundial da
telefonicamente.                                                     Humanidade. (…) Ninguém mais exaustivo no encontro do
                                                                     Coliseu de Roma (…). Fundamental a questão posta na Cidade
     EM 2010                                                         Eterna: será que da presente Wolksvagenização da Igreja
                                                                     Católica ainda poderá renascer o cristianismo? O impensável
    “CÓNEGO FILIPE DE FIGUEIREDO – UMA                               acontece antes que se conclua um literal e onírico périplo à
VIDA AO SERVIÇO DOS OUTROS / Homenagem                               Capadócia. E amor dialógico. Fica, entretanto, o aviso à
Vivencial da Fraternitas Movimento”, coordenado por Alípio           navegação de que com coisas sagradas não se brinca, mesmo
Martins Afonso (2010). Edição e propriedade da Fundação              que sejam divinices espanholas ou nacionais. Esta é a oferta
Cónego Filipe de Figueiredo, Estarreja.                              do génio do escritor que não pode ficar ocultado. Nem a
    “A história da actual mudança eclesial em Portugal não           mulher, amor todo-o-terreno. Em espaço inter-religioso e
deixará de registar o nome do Cónego Filipe de Figueiredo,           intercultural” (p. 7, Manuel Villas – Boas).
o insigne cabouqueiro e patrono da Fraternitas, bem como o
nome dos primeiros Prelados que nos têm acompanhado,
secundando a autoridade moral e intelectual deste ‘santo´
sacerdote”. (p. 6, o autor – coordenador).                               “O SANTUÁRIO DE N.ª Sr.ª do NASO – HISTÓRIA
    “Obra-prima e pedra angular da história do sacerdócio            E DEVOÇÃO”, de António Rodrigues Mourinho (2010)
católico casado em Portugal”, contracapa, Antonieta e Artur          Outubro, Ed. Tipalto.
da Cunha, presidente da Assembleia-geral da Associação;                  “A Senhora do Naso é invocada como a `Rainha dos
    “Conheci de perto e admirei de longe este Homem de               Mirandeses´, que lhe dirigem muitas preces e cantigas – as
Deus (…). Dizia muitas vezes: ‘Tenho um sonho’. E as obras           `lhonas´ (loas).
nasciam. Porque os seus sonhos e projectos correspondiam à                …Ah, mie Virge del Naso!
vontade de Deus e ao serviço dos irmãos. (…). Os                         Cumo Boí n~u hai ~eigual
documentos e testemunhos recolhidos neste ‘Memorial’ falam               Pur Çamora i Salamanca
por si. E bem alto. Revelam ou sublinham que toda a vida do              I até pur Pertual …”,
P.e Filipe foi um poema que ele próprio foi escrevendo, que              em “Nossa Senhora de Portugal/Santuários Marianos”,
os seus admiradores conhecem e que os anjos cantam” (pp. 3           J.Gil e N. Calvet, 2003, ed. Intermezzo, p. 136;
e 4, D. Serafim Ferreira e Silva).                                       e “A CÂMARA MUNICIPAL DE MIRANDA DO
    Este livro pode ser adquirido através dos membros da             DOURO NO PERÍODO DA I REPÚBLICA – 1910-1927
Direcção. Foi apresentado e lançado no dia 28 de Novembro,           “, de António Rodrigues Mourinho (2010), Julho, ed. Tipalto.
dia do 7.º aniversário do seu abraço pleno com o Pai.
Debate sobre o celibato obrigatório
Debate sobre o celibato obrigatório

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados (20)

Espiral 28
Espiral 28Espiral 28
Espiral 28
 
Espiral 25
Espiral 25Espiral 25
Espiral 25
 
Espiral 51
Espiral 51Espiral 51
Espiral 51
 
Espiral 19
Espiral 19Espiral 19
Espiral 19
 
Espiral 52
Espiral 52Espiral 52
Espiral 52
 
Espiral 20
Espiral 20Espiral 20
Espiral 20
 
Espiral 44
Espiral 44Espiral 44
Espiral 44
 
Espiral 50
Espiral 50Espiral 50
Espiral 50
 
Espiral 48
Espiral 48Espiral 48
Espiral 48
 
Espiral 33
Espiral 33Espiral 33
Espiral 33
 
Espiral 70
Espiral 70Espiral 70
Espiral 70
 
Espiral 18
Espiral 18Espiral 18
Espiral 18
 
Espiral 26
Espiral 26Espiral 26
Espiral 26
 
Espiral 53
Espiral 53Espiral 53
Espiral 53
 
Espiral 37
Espiral 37Espiral 37
Espiral 37
 
Espiral 11
Espiral 11Espiral 11
Espiral 11
 
Espiral 46
Espiral 46Espiral 46
Espiral 46
 
Espiral 35
Espiral 35Espiral 35
Espiral 35
 
Espiral 13 14
Espiral 13 14Espiral 13 14
Espiral 13 14
 
Espiral 29
Espiral 29Espiral 29
Espiral 29
 

Destaque (14)

Espiral 30
Espiral 30Espiral 30
Espiral 30
 
Espiral 34
Espiral 34Espiral 34
Espiral 34
 
Espiral 39 40
Espiral 39 40Espiral 39 40
Espiral 39 40
 
Espiral 16
Espiral 16Espiral 16
Espiral 16
 
Espiral 49
Espiral 49Espiral 49
Espiral 49
 
Espiral 60
Espiral 60Espiral 60
Espiral 60
 
Espiral 56
Espiral 56Espiral 56
Espiral 56
 
Espiral 21 22
Espiral 21 22Espiral 21 22
Espiral 21 22
 
Espiral 17
Espiral 17Espiral 17
Espiral 17
 
Espiral 27
Espiral 27Espiral 27
Espiral 27
 
Espiral 32
Espiral 32Espiral 32
Espiral 32
 
Espiral 57
Espiral 57Espiral 57
Espiral 57
 
Espiral 55
Espiral 55Espiral 55
Espiral 55
 
Espiral 47
Espiral 47Espiral 47
Espiral 47
 

Semelhante a Debate sobre o celibato obrigatório

Jornal Aliança V ECJ
Jornal Aliança V ECJJornal Aliança V ECJ
Jornal Aliança V ECJCIP2014
 
Informativo das CEBs Fevereiro 2010
Informativo das CEBs Fevereiro 2010Informativo das CEBs Fevereiro 2010
Informativo das CEBs Fevereiro 2010Bernadetecebs .
 
FERMENTO - MARÇO 2013
FERMENTO - MARÇO 2013FERMENTO - MARÇO 2013
FERMENTO - MARÇO 2013cnisbrasil
 
Slides Pastoral Diocesana do Dízimo 2023.pptx
Slides Pastoral Diocesana do Dízimo 2023.pptxSlides Pastoral Diocesana do Dízimo 2023.pptx
Slides Pastoral Diocesana do Dízimo 2023.pptxMariaInsSoares3
 
Boletim 278 - 25/03/12
Boletim 278 - 25/03/12Boletim 278 - 25/03/12
Boletim 278 - 25/03/12stanaami
 
BOLETIM FERMENTO NOVEMBRO DE 2012
BOLETIM FERMENTO NOVEMBRO DE 2012BOLETIM FERMENTO NOVEMBRO DE 2012
BOLETIM FERMENTO NOVEMBRO DE 2012cnisbrasil
 
I FormaçãO Para Novas Comunidades
I FormaçãO Para Novas ComunidadesI FormaçãO Para Novas Comunidades
I FormaçãO Para Novas Comunidadesidentica
 
I Formação Para Novas Comunidades
I Formação Para Novas ComunidadesI Formação Para Novas Comunidades
I Formação Para Novas Comunidadestomdeamor
 
Lançai as redes novembro 2013
Lançai as redes novembro 2013Lançai as redes novembro 2013
Lançai as redes novembro 2013Pedro Vargas
 
Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."
Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."
Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."Bernadetecebs .
 
Jornal Aliança nº 177 Julho 2014
Jornal Aliança nº 177 Julho 2014Jornal Aliança nº 177 Julho 2014
Jornal Aliança nº 177 Julho 2014mcj2013
 
En santidade ed8
En santidade ed8En santidade ed8
En santidade ed8ensantidade
 
Boletim 282 - 22/04/12
Boletim 282 - 22/04/12Boletim 282 - 22/04/12
Boletim 282 - 22/04/12stanaami
 
Monte Carmelo julho-agosto 2010
Monte Carmelo julho-agosto 2010Monte Carmelo julho-agosto 2010
Monte Carmelo julho-agosto 2010lucianodidimo
 
Jornal Aliança - Edição Especial VI ECJ
Jornal Aliança - Edição Especial VI ECJJornal Aliança - Edição Especial VI ECJ
Jornal Aliança - Edição Especial VI ECJCIP2014
 

Semelhante a Debate sobre o celibato obrigatório (20)

Jornal Aliança V ECJ
Jornal Aliança V ECJJornal Aliança V ECJ
Jornal Aliança V ECJ
 
Informativo das CEBs Fevereiro 2010
Informativo das CEBs Fevereiro 2010Informativo das CEBs Fevereiro 2010
Informativo das CEBs Fevereiro 2010
 
FERMENTO - MARÇO 2013
FERMENTO - MARÇO 2013FERMENTO - MARÇO 2013
FERMENTO - MARÇO 2013
 
Slides Pastoral Diocesana do Dízimo 2023.pptx
Slides Pastoral Diocesana do Dízimo 2023.pptxSlides Pastoral Diocesana do Dízimo 2023.pptx
Slides Pastoral Diocesana do Dízimo 2023.pptx
 
Boletim 278 - 25/03/12
Boletim 278 - 25/03/12Boletim 278 - 25/03/12
Boletim 278 - 25/03/12
 
Boletim 20012013
Boletim 20012013Boletim 20012013
Boletim 20012013
 
BOLETIM FERMENTO NOVEMBRO DE 2012
BOLETIM FERMENTO NOVEMBRO DE 2012BOLETIM FERMENTO NOVEMBRO DE 2012
BOLETIM FERMENTO NOVEMBRO DE 2012
 
I FormaçãO Para Novas Comunidades
I FormaçãO Para Novas ComunidadesI FormaçãO Para Novas Comunidades
I FormaçãO Para Novas Comunidades
 
I Formação Para Novas Comunidades
I Formação Para Novas ComunidadesI Formação Para Novas Comunidades
I Formação Para Novas Comunidades
 
Lançai as redes novembro 2013
Lançai as redes novembro 2013Lançai as redes novembro 2013
Lançai as redes novembro 2013
 
Lançai as Redes novembro 2013
Lançai as Redes novembro 2013Lançai as Redes novembro 2013
Lançai as Redes novembro 2013
 
Ecovida
Ecovida  Ecovida
Ecovida
 
Aula 03.pdf
Aula 03.pdfAula 03.pdf
Aula 03.pdf
 
389
389389
389
 
Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."
Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."
Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."
 
Jornal Aliança nº 177 Julho 2014
Jornal Aliança nº 177 Julho 2014Jornal Aliança nº 177 Julho 2014
Jornal Aliança nº 177 Julho 2014
 
En santidade ed8
En santidade ed8En santidade ed8
En santidade ed8
 
Boletim 282 - 22/04/12
Boletim 282 - 22/04/12Boletim 282 - 22/04/12
Boletim 282 - 22/04/12
 
Monte Carmelo julho-agosto 2010
Monte Carmelo julho-agosto 2010Monte Carmelo julho-agosto 2010
Monte Carmelo julho-agosto 2010
 
Jornal Aliança - Edição Especial VI ECJ
Jornal Aliança - Edição Especial VI ECJJornal Aliança - Edição Especial VI ECJ
Jornal Aliança - Edição Especial VI ECJ
 

Mais de Fraternitas Movimento (20)

catequeses do Papa Francisco sobre a oração.pdf
catequeses do Papa Francisco sobre a oração.pdfcatequeses do Papa Francisco sobre a oração.pdf
catequeses do Papa Francisco sobre a oração.pdf
 
Sínodo-dos-Bispos-outubro.pdf
Sínodo-dos-Bispos-outubro.pdfSínodo-dos-Bispos-outubro.pdf
Sínodo-dos-Bispos-outubro.pdf
 
POR_Carta_aos_Bispos_Sinodo.pdf
POR_Carta_aos_Bispos_Sinodo.pdfPOR_Carta_aos_Bispos_Sinodo.pdf
POR_Carta_aos_Bispos_Sinodo.pdf
 
Espiral 73.pdf
Espiral 73.pdfEspiral 73.pdf
Espiral 73.pdf
 
Aportacion Moceop al Sinodo de la sinodalidad.pdf
Aportacion Moceop al Sinodo de la sinodalidad.pdfAportacion Moceop al Sinodo de la sinodalidad.pdf
Aportacion Moceop al Sinodo de la sinodalidad.pdf
 
espiral 48.pdf
espiral 48.pdfespiral 48.pdf
espiral 48.pdf
 
Espiral 9.pdf
Espiral 9.pdfEspiral 9.pdf
Espiral 9.pdf
 
Espiral 8.pdf
Espiral 8.pdfEspiral 8.pdf
Espiral 8.pdf
 
Espiral 7.pdf
Espiral 7.pdfEspiral 7.pdf
Espiral 7.pdf
 
Espiral 6.pdf
Espiral 6.pdfEspiral 6.pdf
Espiral 6.pdf
 
Espiral 5.pdf
Espiral 5.pdfEspiral 5.pdf
Espiral 5.pdf
 
Espiral 4.pdf
Espiral 4.pdfEspiral 4.pdf
Espiral 4.pdf
 
espiral 3.pdf
espiral 3.pdfespiral 3.pdf
espiral 3.pdf
 
espiral 2.pdf
espiral 2.pdfespiral 2.pdf
espiral 2.pdf
 
Espiral 1.pdf
Espiral 1.pdfEspiral 1.pdf
Espiral 1.pdf
 
Espiral 72.pdf
Espiral 72.pdfEspiral 72.pdf
Espiral 72.pdf
 
220083 lettera ai_sacerdoti_portoghese
220083 lettera ai_sacerdoti_portoghese220083 lettera ai_sacerdoti_portoghese
220083 lettera ai_sacerdoti_portoghese
 
Rezar o Pai-Nosso em família
Rezar o Pai-Nosso em famíliaRezar o Pai-Nosso em família
Rezar o Pai-Nosso em família
 
Historias de mulheres negras na Biblia
Historias de mulheres negras na BibliaHistorias de mulheres negras na Biblia
Historias de mulheres negras na Biblia
 
Espiral 71
Espiral 71Espiral 71
Espiral 71
 

Debate sobre o celibato obrigatório

  • 1. espiral da ANO xiI fraternitas moviment - ternit N.º vimento boletim da associação fraternitas movimento N.º 42 JANEIR ANEIRO - JANEIRO / MARÇO de 2011 Ano novo, vida nova Serafim de Sousa VAMOS ENTRAR num período novo de atividade. O QUERO APROVEITAR para agradecer a todos de ano de 2011 chegou e com ele vamos ter de nos enfrentar um modo geral a colaboração que deram, e em particular com uma nova Direção. O nosso mandato está mesmo a aos que diretamente comigo trabalharam, servindo assim deste terminar. Temos consciência de termos feito o melhor modoa Igreja em Portugal.. possível, dentro daquilo que esperavam de nós. Por isso vamos partir de coração alegre, convencidos do dever cumprido. PRETENDO AINDA dizer um obrigado sincero a todo Quero agradecer com toda a sinceridade a quem nos apoiou o grupo da Fraternitas pelo apoio que sempre neles encontrei, e nos ajudou a sermos fiéis ao lema do Fundador. Posso a simpatia e carinho que demonstraram, e a amizade que foi garantir que na equipa que agora termina todos funcionaram uma constante, revelada não só nas presenças em grande em bloco e nunca houve alguém que não emitisse a sua opinião número nos encontros e retiros como em todas as ocasiões e não fosse ouvido com todo o respeito e aceitação das suas em que nos encontrámos, nos bons e nos menos bons ideias. Estamos contentes e felizes por termos podido resolver momentos. os problemas que se nos foram deparando com toda a Com o ambiente criado só uma palavra tem toda a razão dignidade e respeito por cada um. de ser, a entrega total de alma e coração às causas em que acreditamos. Nós acreditámos e a missão foi cumprida com a colaboração e boa vontade de todos. Estamos no bom caminho. O FUTURO A DEUS pertence. A Fraternitas tem de continuar sempre com o mesmo espírito de servir a Jesus Cristo e à sua Igreja, numa união perfeita, como a esposa e o esposo, que se completam e se amam mutuamente. O nosso chamamento deve-se exclusivamente a Ele que nos achou dignos de O servir e nos deu os carismas que cada um reconhece que só a Ele e ao nosso sim se devem. Temos trabalhado na vinha do Senhor, conforme as circunstâncias em que nos colocaram. Nada reivindicámos, mas pensamos que podíamos ser mais aproveitados do que somos. “A PENSO QUE toda a equipa continua mais ou menos seara é grande” e os operários são cada vez menos e mais disponível para poder continuar a dar o seu contributo. Só o idosos. Até quando, Senhor, poderemos aguentar tanto Presidente, por motivos de saúde, que já foi sobejamente desafio e ao mesmo tempo tanta teimosia em não analisar explicada a muitos, não poderá continuar. Espero que todos os factos? Peço ao Senhor Jesus e ao Divino Espírito Santo compreendam esta situação e não vejam qualquer outra que ilumine aqueles que têm o poder para decidir, que intenção na atitude que tenho impreterivelmente de tomar. Já andem depressa e sem medo, pois o mundo precisa fiz muitos contactos e temos gente muito capaz de assumir o urgentemente do esforço de todos. E nunca seremos de meu lugar, sem quebras de continuidade no espírito que sempre mais para tanto que há a fazer. nos tem animado desde o primeiro momento.
  • 2. REFLEXÃO 2 espiral Celibato obrigatório dos presbíteros O acidental na crise do essencial O novo Cardeal Prefeito da Congregação para o Clero em entrevista à Vida Nueva (n.º 2730, pág. 8), à pergunta do jornalista sobre se pensava se deveria abrir-se N ão é possível apresentar aos jovens o ministério presbiteral vivido na conformação com Cristo pobre, obediente e casto, dentro da condição matrimonial, como acontece noutras um debate sobre a questão do celibato obrigatório dos Igrejas reconhecidas por Roma. presbíteros respondeu: “É quase uma moda, desde há cinquenta anos, agredir o celibato eclesiástico….Não é uma simples lei eclesiástica, mas uma natural consequência da identidade do O celibato eclesiástico obrigatório não faz parte integrante da vocação para o sacerdócio, como de resto foi entendido e praticado pela Igreja Católica sacerdote e do seu ser conformado com Cristo pobre, praticamente até ao Concílio de Trento, no século XVI. O obediente e casto. O debate sobre o celibato deve realizar-se celibato, dom ou carisma, não pode ser imposto pela lei da aprofundando as suas razões e reforçando a convicção de Igreja, mas reconhecido, recebido e agradecido como tal. que não é um obstáculo ao florescimento das vocações. Não devemos trair os jovens rebaixando os ideais, mas antes ajudando- os a alcançá-los.” Y ves Congar, um dos teólogos do Vaticano II, também ele depois cardeal, afirmava, já na década de 1950: «Évidemment, évidemment il faut des prêtres mariés en Amérique Latine.» Já em Fevereiro de 1970, Joseph Ratzinger, então com 42 anos e professor na Universidade de Regensburg, num documento dirigido à Conferência Episcopal Alemã e assinado conjuntamente por outros teólogos de enorme envergadura, como Karl Rahner, Otto Semmelroth e Walter Kasper, afirmava: «As nossas reflexões apontam para a necessidade de uma revisão urgente e um tratamento diferente da regra do celibato, tanto pela Igreja alemã, como pela Igreja mundial.» E neste documento é ainda manifestada «preocupação com o facto de o celibato obrigatório afastar candidatos ao sacerdócio.» N ão deixa de ser curioso e merecedor de reflexão que Bento XVI – Joseph Ratzinger – no já best-seller «Luz do Mundo» (2010), ao ser confrontado pelo jornalista: «Actualmente há bispos que aconselham a desenvolver mais imaginação e um pouco mais de generosidade para se poder É nestes termos que uma personalidade com tais e tamanhas responsabilidades na Igreja se pronuncia sobre a questão da disciplina do celibato dos presbíteros. Sua tornar possível, paralelamente ao sacerdócio celibatário, o serviço de homens casados como padres», responda nestes termos: «Que haja bispos que, na confusão do tempo actual, Eminência acha que é uma moda agredir desde há cinquenta pensem sobre isso é algo que consigo compreender. Difícil anos esta norma disciplinar da Igreja Católica Romana. E será dizer como funcionaria uma justaposição desse tipo…» mais, acha o celibato obrigatório uma natural consequência da “identidade do sacerdote e do seu ser conformado a Cristo pobre, obediente e casto” – formulação que sabemos aplicar- N ão há muitos dias, parlamentares alemães apresentaram à Conferência Episcopal do seu país um documento em que manifestavam tristeza pelo facto de -se, sim, à condição dos religiosos, com votos de pobreza, de cada vez mais comunidades cristãs viverem o domingo sem obediência e de castidade. P arece que sua Eminência tem Eucaristia e solicitavam a revisão da lei do celibato obrigatório medo de um debate aberto e clarificador sobre o celibato por a considerarem obsoleta e contrária ao reconhecimento e obrigatório, debate que aprofunde a sua razão de ser para lá à importância dos ministérios que o Espírito suscita nas de qualquer preconceito ou tabu e num clima de docilidade comunidades locais. A CE respondeu protelando a e serviço à Igreja que somos. Tem medo desse debate e consideração desse problema “para os próximos anos”. está em boa e numerosa companhia. Onde e quando é que, por exemplo, entre nós, se debateu, abertamente, a questão do celibato obrigatório? N ão pode deixar de nos espantar este ziguezague e indecisão da hierarquia na Igreja Católica Romana. Manter a disciplina do celibato obrigatório não será A inda não é possível apresentar aos jovens o celibato como dom ou carisma e não como condição para aceder ao presbiterado. condicionar pela lei a vocação do serviço nas comunidades, vocação essa, sim, dom de Deus ao seu Povo? A. Teixeira Coelho
  • 3. DOCUMENTO l espiral 3 Igreja 2011: uma ADESÃO necessária A 3 de Fevereiro passado, o jornal alemão Süddeutsche Zeitung publicou um manifesto de 143 teólogos alemães, suíços e austríacos. O documento teve ampla repercussão na imprensa mundial. Publicamos a íntegra do Manifes est tradução Dischinger. Manif es to. A tr adução é de Benno Dischinger. P assou-se quase um ano desde que foram tornados públicos casos de abusos sexuais com crianças e adolescentes da parte de padres no colégio Canisius de Berlim. Seguiu-se um ano que lançou a Igreja Católica na Alemanha numa crise sem precedentes. A imagem que hoje aparece é ambivalente: começou-se a fazer muito para garantir justiça às vítimas, enfrentar a injustiça e descobrir as causas dos abusos, a dissimulação e a dupla moral nas próprias fileiras. Em muitos cristãos e cristãs responsáveis, com ou sem encargos, após a perturbação inicial cresceu a convicção de que são necessárias profundas reformas. O apelo a um diálogo aberto sobre as estruturas de poder e de comunicação, sobre a forma do ministério eclesial e a participação responsável dos fiéis, sobre Só através de uma comunicação aberta a Igreja pode a moral e sobre a sexualidade despertou expectativas, mas reconquistar confiança. Somente se a imagem que a Igreja tem também temores: deita-se fora uma oportunidade, talvez a de si e a imagem de Igreja que os outros têm dela não última, de superação da paralisia e da resignação, evitando divergirem, ela terá credibilidade. Dirigimo-nos a todos aqueles enfrentar os problemas ou subvalorizando a crise? A que não renunciaram a esperar por um novo início na Igreja e preocupação por um diálogo aberto sem tabus não é para se empenham neste sentido. Assumimos como nossos também todos suspeito, e em particular não o é, se é iminente uma os sinais de adesão e de diálogo que alguns bispos propuseram visita do papa. Mas a alternativa seria um silêncio sepulcral, nestes últimos meses em discursos, pregações e entrevistas. porque as últimas esperanças têm sido destruídas e simplesmente não pode ser assim. A Igreja não é um fim em si mesma. Ela tem a missão de anunciar a todos os homens o Deus de A profunda crise da nossa Igreja exige discutir também sobre aqueles problemas que à primeira vista não têm relação direta com o escândalo dos abusos e com a sua Jesus Cristo que liberta e que ama. Ela só pode fazê-lo se ela própria for um lugar de um testemunho fidedigno do anúncio de liberdade do Evangelho. O seu falar e o seu agir, as suas plurianual cobertura. Como professores e professoras de regras e as suas estruturas – toda a sua relação com os homens Teologia não podemos continuar calados. Sentimos a no interior e no exterior dela – derivam da exigência de responsabilidade de contribuir para um autêntico novo início: reconhecer e favorecer a liberdade dos humanos enquanto 2011 deve tornar-se um ano de proctividade e reconversão criaturas de Deus. Absoluto respeito por cada pessoa humana, para a Igreja. No ano passado tantos cristãos, o que jamais atenção à liberdade de consciência, empenho pelo direito e ocorrera antes, deixaram a Igreja Católica e apresentaram à pela justiça, solidariedade com os pobres e os oprimidos: são autoridade da Igreja a desistência da sua pertença ou estes os parâmetros teológicos fundamentais, que derivam do privatizaram a sua vida de fé para a defender da instituição. empenho da Igreja pelo Evangelho. Deste modo concretiza- A Igreja deve entender estes sinais, para sair ela mesma de -se o amor a Deus e ao próximo. certas estruturas fossilizadas e para reconquistar nova força vital e credibilidade. A orientação para o anúncio público de liberdade implica uma relação diferenciada perante a sociedade N ão se conseguirá promover a renovação das estruturas eclesiais num angustiado isolamento da sociedade, mas somente com a coragem da autocrítica e com moderna: de certo ponto de vista, ela é mais profunda em relação à Igreja, quando se trata do reconhecimento da liberdade, da maturidade e da responsabilidade; nisto a Igreja o acolhimento de impulsos críticos – também do exterior. pode aprender, como já o sublinhara o Concílio Vaticano II. Isto faz parte das lições do último ano: a crise dos abusos Sob outro ponto de vista, é inelutável a crítica que deriva do não teria sido reelaborada de modo tão decidido sem o espírito evangélico perante esta sociedade, por exemplo, acompanhamento crítico desenvolvido pela opinião pública. quando as pessoas são julgadas somente segundo as suas
  • 4. documento 4 espiral 5 prestações, quando a solidariedade “queimados” [pelo excesso de tarefas] Reconciliação: a solidariedade recíproca for espezinhada ou quando a e acabam exaurindo-se. Os fiéis com os pecadores pressupõe dignidade dos seres humanos não for permanecem distantes se não lhes for que se leve a sério o pecado no reconhecida. dada a confiança de assumirem uma próprio interior. Um pretensioso N o entanto, vale em todo o caso o que segue: o anúncio de liberdade do Evangelho constitui o corresponsabilidade e de se sentirem partícipes em estruturas democráticas na direção das suas comunidades. O rigorismo moral não é adequado à Igreja. A Igreja não pode pregar reconciliação com Deus sem procurar parâmetro para uma Igreja fidedigna, ministério eclesial deve servir à vida das ela própria no seu agir os pressupostos para o seu agir e a sua imagem social. suas comunidades – e não o contrário. para a reconciliação com aqueles em Os desafios concretos com que a Igreja A Igreja também necessita de padres relação aos quais se tornou culpada por deve confrontar-se não são, de fato, casados e de mulheres em serviço violência, violação do direito, inversão novos. E, no entanto, não são visíveis eclesial. do anúncio bíblico de liberdade, numa 3 reformas que considerem o futuro. É Cultura do direito: o moral rigorosa privada de misericórdia. 6 necessário levar em frente um diálogo reconhecimento da dignidade Celebração: a liturgia vive da aberto sobre isto nos seguintes âmbitos e liberdade de todo o ser participação ativa de todos os de problematicidade: humano mostra-se precisamente quando fiéis. Nela devem encontrar 1 Estruturas de participação: em os conflitos são enfrentados de modo espaço as experiências e as formas atuais todos os campos da vida equânime e com respeito recíproco. O de expressão. A celebração não deve eclesial, a participação dos fiéis direito eclesial só merece este nome se enrijecer-se num tradicionalismo. A é a pedra de toque para a credibilidade os fiéis puderem fazer valer efetivamente multiplicidade cultural enriquece a vida do anúncio de liberdade do Evangelho. os seus direitos. A defesa do direito e a litúrgica e não pode conciliar-se com as Conforme o antigo princípio jurídico: cultura do direito na Igreja devem ser tendências por uma unificação centralista. “O que diz respeito a todos, deve ser urgentemente melhoradas; e um Somente quando a celebração da fé decidido por todos” são indispensáveis primeiro passo nesta direção é a criação acolher situações concretas de vida o mais estruturas sinodais em todos os de uma jurisdição administrativa eclesial. anúncio da Igreja atingirá as pessoas. 4 O níveis da Igreja. Os fiéis devem ser Liberdade de consciência. processo de diálogo eclesial tornados participantes na escolha de Respeito pela consciência iniciado só pode conduzir à importantes “representantes oficiais” individual significa confiar na libertação e à mudança se todas as partes (bispos, párocos). O que pode ser capacidade de decisão e de envolvidas estiveram prontas para decidido localmente deve ali ser responsabilidade das pessoas. Favorecer enfrentar os problemas impulsores. decidido, e as decisões devem ser e desenvolver esta capacidade é também Trata-se de procurar, numa livre e transparentes. tarefa da Igreja – mas não deve equânime mudança de argumentações, 2 Comunidades: as comunidades transfor mar-se em personalismo. as soluções que conduzam a Igreja para cristãs devem ser lugares nos Reconhecer seriamente a liberdade de fora de sua paralisante auto-referen- quais as pessoas compartilhem consciência é algo que tem a ver com o cialidade. À tempestade do ano passado bens espirituais e materiais. Mas, âmbito das decisões pessoais sobre a não pode seguir nenhuma paz! Na atual atualmente, a vida comunitária está em vida e o das formas de vida individual. situação ela só poderia ser uma paz declínio. Sob a pressão da falta de padres A alta consideração da Igreja pelo sepulcral. O medo jamais foi bom são construídas unidades administrativas matrimónio e pela forma de vida sem conselheiro em tempos de crise. Cristãos sempre maiores – “paróquias extra- matrimónio está fora de discussão. Mas e cristãs, sejamos exortados pelo amplas” –, nas quais quase não podem ela não impõe que se excluam as pessoas Evangelho a olhar com coragem para o ser vivenciadas a vizinhança e a pertença. que vivem responsavelmente o amor, a futuro e – movidos pela palavra de Jesus É posto fim a identidades históricas e a fidelidade e o cuidado recíproco numa – a caminhar como Pedro sobre as redes sociais particular mente união homossexual, ou como águas: “Porque tendes medo? É tão significativas. Os padres são divorciados redesposados. pequena a vossa fé?”
  • 5. reflexão l espiral 5 «Ideias já reno enov U ma r enovação indispensáv indispensáv el debatidas» O secretário da Confeência Os 143 professores de Teologia Os teólogos insistem que a Igreja Episcopal Alemã, o jesuíta Hans que subcreveram o Manifesto em que deve reconhecer e fomentar a liberdade Langendörfer (foto em cima), fez exigem reformas na Igreja católica do homem como criatura de Deus, saber do desacordo dos bispos com representam um terço dos teólogos respeitar a consciência livre, defender o o manifesto subscrito por 143 católicos de fala alemã residentes na direito e a justiça e criticar as teólogos alemães, suíços e austriacos, Alemanha, Suíça e Áustria. As suas manifestações que depreciam a e disse que são “ideias com frequência propostas incluem o fim do celibato dignidade humana. E apontam desafios, já debatidas”, numa nota difundida a obrigatório, a presença qualificada das que incluem maiores estruturas sinodais 4 de Fevereiro, um dia após a mulheres na vida eclesial e a participação em todos os níveis da Igreja e a publicação do Manifesto. popular na escolha de bispos. participação dos fiéis na escolha dos seus Os teólogos pedem o sacerdócio O documento foi publicada no jornal bispos e párocos. casado, a presença das mulheres nos Süddeutsche Zeitung, que destacou o O Manifesto retoma a afirmação ministérios eclesiais e a participação fato de que o número de teólogos já feita de que a Igreja Católica necessita popular na eleição dos bispos. O subscritores seria maior se muitos não também de sacerdotes casados e de episcopado alemão, além de expressar temessem represálias da instituição. mulheres nos ministérios eclesiásticos, o seu desacordo, pediu mais O manifesto «Igreja 2011 - a adesão denuncia que a falta de sacerdotes força aprofundamento sobre os temas. necessária» (“Ein notwendiger a exigência de paróquias cada vez O padre Hans Langendörfer Aufbruch”) lembra a Declaração de maiores e lamenta que os sacerdotes reconhece a importância do diálogo Colônia, assinada por 220 teólogos em sofram desgastes diante destas com o mundo teológico, mas refre 1989, no papado de João Paulo II. circunstâncias. que “o documento recolhe Judith Könemann (foto em baixo), O documento enfatiza que a defesa essencialmente, e uma vez mais, ideias professora de Teologia em Münster, legal e a cultura do direito na Igreja debatidas com frequência”. destacou que o amplo eco que o devem melhorar urgentemente e Manifesto teve demonstra que “tocaram argumenta que a elevada valorização do um ponto nevrálgico”. Ela é uma das matrimónio e do celibato supõe excluir oito pessoas que redigiram o Manifesto, pessoas que vivem o amor, a fidelidade ao qual se somaram professores e a preocupação mútua numa relação eméritos da envergadura intelectual de estável de casal do mesmo sexo ou Peter Hünermann e Dietmar Mieth, como divorciados recasados. labutadores por reformas como Os teólogos desconstróem a Heinrich Missalla e Friedhelm suposta autoridade de Roma e criticam Hengsbach, progressistas como Otto o rigorismo da Igreja Católica, insistindo Hermann Pesch e Hille Haker, e até que não se pode pregar a reconciliação conser vadores como Eberhard com Deus sem criar as condições para Schockenhoff. uma reconciliação com aqueles diante Tendo como pano de fundo a crise dos quais é culpada: por violência, por até então incontornável dos escândalos negar o direito, por converter a de pedofilia em dioceses e paróquias mensagem bíblica de liberdade em uma católicas ao redor do mundo, o moral rigorosa sem misericórdia. Manifesto elogia o chamamento dos E concluem denunciando a prisão bispos a um diálogo aberto. Pragmá- do pavor institucional diante do ticos, os subscritores dizem-se na rebanho, exigindo diálogo, observando responsabilidade de dar uma contributo que o medo não é bom conselheiro, para um novo começo real, assumindo recordando que os cristãos foram a tese central de que a Igreja Católica só chamados pelo Evangelho a olhar com pode anunciar o libertador e amante valor para o futuro, como no Deus Jesus Cristo, quando ela mesma chamamento de Jesus a Pedro para for um lugar e um testemunho crível da caminhar sobre as águas: ‘Por que estás mensagem de libertação do Evangelho. com medo? A tua fé é tão pequena?’
  • 6. reflexão 6 espiral Manifesto dos teólogos alemães, suíços e austríacos «O debate é elemento constitutivo da vida social» «O apelo dos teólogos alemães insiste na mensagem libertadora do Evangelho. A força dessa mensagem leva-os a superar os PONTOS DISSONANTES limites criticar, Evangelho, limites da Igreja e a criticar, em nome do Evangelho, Encontro inexatidões graves na resposta da Rádio Vaticano: uma sociedade que julga o ser humano a partir do 1) Ela sublinha que, entre as petições dos signatários, figura seu desempenho e despreza a dignidade do “a supressão do celibato sacerdotal”. Não é verdade. Pelo homem.» contrário, os teólogos dizem precisamente que “a alta A opinião é de Jean Rigal, sacerdote francês da consideração em que a Igreja tem o matrimónio e o celibato diocese de Rodez e teólogo, autor de vários livros não está em discussão”. Todavia, eles evocam a possibilidade sobre a Igreja e sobre o futuro dela (o seu último de confiar “um ministério eclesiástico” aos homens casados, livro é “Ces Questions qui Remuent les Croyants”, o que é um modo para enfatizar que não se deve confundir Lethielleux, Janeiro de 2011). Est texto foi www.baptises.fr .baptises.fr. Es te t e xto f oi publicado no sítio www.baptises.fr. estado de vida e ministério. A tradução é de Anete Amorim Pezzini. 2) Contrariamente ao que diz a Rádio do Vaticano, os teólogos não falam do “sacerdócio para as mulheres”, mas da necessidade de confiar às mulheres os “ministérios O s meios de comunicação têm difundido o “manifesto” de 143 teólogos de língua alemã (alemães, suíços, austríacos). Já foi dito que o último eclesiásticos”, o que não inclui necessariamente o presbiterado. Sabe-se que, na Igreja Católica, o problema do diaconato movimento desse tipo foi a Declaração de Colónia, em 1989. feminino permanece em aberto e, em sentido mais amplo, o subscrita por 220 teólogos. Todavia, já em 1968 foi publicada do ministério confiados aos leigos (homem ou mulher), como uma declaração de 38 teólogos que reivindicavam “a liberdade preconizava o Papa Paulo VI (Ministeria Quædam, 1972) e dos teólogos e da Teologia a serviço da Igreja resgatada pelo como confirma o Catecismo da Igreja Católica (n.° 1143). Concílio Vaticano II”. Aquela declaração foi assinada por Desagrada que Bento XVI não tenha dado seguimento à eminentes teólogos, entre os quais Yves Congar, Walter Kasper, proposta 17 do último Sínodo dos Bispos que auspicava a Joseph Ratzinger. criação do ministério instituído de “leitor” para as mulheres. O tom do documento é vibrante, mas respeitoso. Dirige- se à Igreja, e não apenas ou principalmente para as autoridades romanas, ainda que Bento XVI seja esperado na Alemanha A segunda parte da Declaração diz respeito ao funcionamento da Igreja. Deplora a ampliação das paróquias em termos de simples expansão das estruturas atuais. em Setembro próximo, circunstância que não é fortuita. Imaginamos as consequências disso: o esgotamento dos padres PONTOS CONCORDANTES e a resignação dos fiéis. Sem dúvida, esse ponto será retomado Vários temas importantes, em acordo entre os teólogos e na próxima Assembleia plenária da Conferência Episcopal a voz oficial do Vaticano («Osservatore Romano», «Rádio Alemã. Vaticano») merecem ser observados: O documento fala também sobre o delicado problema 1) Há uma crise profunda na Igreja Católica na Alemanha: dos casais homossexuais e dos divorciados que contraíram “o número de fiéis que deixaram a Igreja é sem precedentes”; novas núpcias. Os teólogos pedem para não “excluir aqueles 2) O medo é mau conselheiro. Os teólogos insistem sobre que vivem de maneira responsável o amor, a fidelidade, a a necessidade de um percurso de diálogo, aberto “ao debate atenção recíproca dentro de um casal do mesmo sexo ou livre e honesto das questões”. Evocam uma velha máxima dos divorciados que casaram novamente”. Esse problema medieval que afirma: “O que diz respeito a todos deve ser poderia ser retomado pela Assembleia dos Bispos alemães. discutido e decidido por todos”. Observe-se que o nosso Vivemos em 2011, numa época em que o debate é Código de Direito Canónico continua a prescrevê-lo em parte: elemento constitutivo da vida social. Entre cristãos, o debate “O que toca a todos como indivíduos, deve ser aprovados deve certamente ter lugar na comunhão da Igreja, mas não é por todos” (C. 119, 3). Desapareceu o conceito de debate. proibido o vigor das afirmações. Tanto mais que muitos 3) Na sua resposta, os bispos alemães expressaram a questionamentos não parecem ser levados em consideração. opinião de que “o documento dos teólogos é um sinal A ausência do debate mata a criatividade. E Deus sabe positivo, porque demonstra o desejo de os signatários que necessitamos de criatividade, no nosso tempo, à luz e oferecerem sua própria contribuição ao diálogo sobre o futuro com a força do Espírito. da fé e da Igreja na Alemanha. Os bispos reestabeleceram a Talvez essa certeza de fé pudesse inspirar, um dia, a palavra “contribuição” usada pelos teólogos. É um bom concentração de teólogos numa declaração coletiva, ao serviço augúrio. da Igreja.
  • 7. reflexão l espiral 7 Iniciativa dos teólogos : renovação ou demolição efle lexão Hauke, professor Patrística Faculdade Teologia R ef lexão polémica de Manfred Hauke, prof essor de Patrís tica e Dogmática na Faculdade de Teologia de vice-diret Revista Teológica Lugano, ZENIT, L ugano e vice-dire t or da Re vis ta Teológica de L ugano, na agência ZENIT, sendo os subtítulos da «Espiral». Munst 17 teólogos, responsabilidade do «Espir al». Porque a maioria dos signatários é da faculdade de Muns t er - 17 t eólogos, incluindo o decano Klaus Muller - ele chama ao Manifesto «Declaração de Munster (DM). Os teólogos querem fazer de 2011 um “ano de partida” Não se fala sequer sobre a exigência da conversão. Pelo para que a Igreja possa sair de “estruturas fossilizadas”. contrário: deseja-se o reconhecimento, por parte da Igreja, da Este “diálogo aberto” deve incluir seis “áreas de ação”: situação dos divorciados novamente casados, que vivem (nas (1) São necessárias “mais estruturas sinodais em todos os níveis palavras de Jesus) em um estado de adultério (cf. Mc 10,11), da Igreja”, sob o princípio: “O que afeta todos deve ser e mesmo os casais homossexuais, cuja prática sexual, de decidido entre todos”. (2) A vida da comunidade necessitaria, acordo com os catálogos dos vícios no Novo Testamento, para a sua condução, de estruturas mais democráticas (para a leva à exclusão do Reino de Deus (cf. 1Cor 6,10). Aqui não se sua orientação). “A Igreja também precisa de padres casados vê a influência de um conhecimento teológico mais profundo, e mulheres no ministério eclesial.” (3) Um primeiro passo mas sim uma perda de fé e de moral. Os elementos para alcançar uma “cultura do direito” seria “a criação de fundamentais da doutrina apostólica são sacrificados devido uma jurisdição administrativa” (ou seja, de tribunais a um pensamento que quer estar “a par” da situação atual. A administrativos). (4) Com relação ao que chamam de petição de retirar a obrigação do celibato recorda os pedidos “liberdade de consciência”, foi dito: “A alta estima do do Iluminismo tardio, superados há muito tempo por Johann casamento por parte da Igreja (...) não exige a exclusão de Adam Möhler e outros protagonistas na renovação católica pessoas que vivem responsavelmente o amor, a fidelidade e do século XIX. Nem mesmo aos ilustrados das Igrejas estatais o apoio mútuo em uma união de pessoas do mesmo sexo da época josefinista, entretanto, teria ocorrido rebaixar os [casais homossexuais] ou como divorciados recasados”. (5) valores do matrimónio cristão ou encorajar o concubinato No espírito de “reconciliação”, seria preciso ir contra “uma homossexual. Inclusive o pedido de ter “mulheres no moral estrita, sem misericórdia”. (6) A liturgia vive graças à ministério apostólico” é dirigido contra a origem apostólica participação ativa dos fiéis e não deveria ser tão unificada de da Igreja, pelo menos quando se entende “ministério” no maneira centralista. sentido do sacramento da Ordem. Recorde-se aqui a Carta Apostólica de João Paulo II, Ordinatio Sacerdotalis (1994), POLÉMICA 1: os teólogos instrumentalizam a crise na qual o papa sublinha que “a Igreja não tem absolutamente Temos de dar a razão aos signatários da DM: a Igreja (de a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e língua alemã) está a passar por uma crise profunda. esta sentença deve ser considerada definitiva por todos os Por outro lado, muitas sugestões apresentadas pelos fiéis da Igreja”. O que se aplica a “todos os fiéis da Igreja” teólogos signatários fazem parte desta crise e não podem vale, provavelmente de maneira mais forte, para os teólogos favorecer a superação dos problemas. Os pedidos contidos que têm uma missio canonica. no memorando são, em boa parte, pedidos conhecidos, procedentes dos anos 60 e 70 do século passado. Existe um OUTROS DESACORDOS “passo adiante” nos esforços a favor da práxis vivida da Vamos lançar um breve olhar para outros pedidos, ainda homossexualidade. O debate público sobre os abusos sexuais que não possamos dar aqui uma resposta exaustiva. Certamente é instrumentalizado para empurrar uma Igreja enfraquecida é importante uma “participação” de todos os fiéis na vida da para uma situação que se afasta da sua origem apostólica e se Igreja, mas esta participação não deve ser confundida com as aproxima do protestantismo liberal. Segundo as estatísticas, o formas políticas da democracia. De acordo com a sucessão percentual (deplorável) do abuso sexual pelo clero católico é apostólica, a Igreja é guiada pelo papa e pelos bispos. No muito menor comparado ao que acontece nas estruturas início da Igreja, também os fiéis, muitas vezes, participaram (comparáveis) do âmbito secular (por exemplo: famílias, da eleição de bispos por meio do seu testemunho e consen- escolas, associações desportivas) e até mesmo com relação timento: mas estes fiéis foram preparados pelo testemunho ao que se sabe dos pastores protestantes, casados, em sua dos mártires, na época das perseguições; não era a situação maioria (cf. J. M. Schwarz, Kirche, Zölibat und de hoje, em que quase 90 % dos “católicos” alemães não vão Kindesmissbrauch,www.kath.net, 3.2.2010). à missa no domingo e dependem quase que inteiramente da influência da comunicação social, a qual, em sua maior parte, POLÉMICA 2: faz o documento dizer o que não diz é decididamente desfavorável à fé católica. As eleições Os teólogos da DM cometem um “abuso com o abuso” episcopais não eram decisões tomadas pelo povo, mesmo na ao promover petições que certamente não podem combater Igreja antiga. Segundo o Papa Leão Magno, o bispo deveria as causas que estão na base dos próprios abusos. Não se diz ser eleito pelo clero, aclamado pelo povo e ordenado pelos que a castidade é necessária para uma verdadeira renovação. bispos da província, com o consentimento do Metropolitano.
  • 8. reflexão 8 espiral Opinião latino-americana O teólogo João Batista Libânio, professor em Minas Gerais, no Brasil, leu o documento e analisou as O princípio jurídico citado pela DM vem originalmente do propostas. Resumindo, “A propos tas. Resumindo, ele é enfático: “A tônica do direito romano privado e foi interpretado em 1958 por Yves projeto do Papa e a do manifesto divergem.” Congar, no sentido da recepção dentro da Igreja, mas não como democratização do Magistério, nem do ministério de Com a experiência de quem presenciou “nítidos momentos guia (Quod omnes tangit, ab omnibus tractari et approbari debet); no processo eclesiástico” da Igreja nas últimas décadas, Libanio explicar o consentimento do povo de Deus como “decisão” ressalta que o manifesto “alude ao fato de que em 2010 ‘tantos ou inclusive como base de “estruturas mais sinodais” é sinal cristãos deixaram a Igreja e apresentaram à autoridade da de uma ideologização fora da História eclesial. Igreja a desistência da sua pertença ou privatizaram a sua vida O que se afirma sobre a questão das “paróquias XXL” de fé para defendê-la da instituição, o que jamais ocorrera refere-se a uma dolorosa realidade. A solução das dificuldades antes”. A constatação do êxodo cristão, entretanto, “não abala não está em mudar as estruturas da Igreja, procedentes de a convicção do projeto de manter uma Igreja, embora Cristo (como o sacerdócio ministerial reservado aos homens minoritária, mas fiel aos ensinamentos dogmáticos, morais e e sua responsabilidade específica para a guia da comunidade). à prática disciplinar eclesiástica”, assinala. Para organizar bem a vida das comunidades, é necessária a Para ele, Roma reforça a autoridade sobre as Igrejas locais prudência pastoral e o compromisso de todos, mas não uma porque elas a solicitam. “A geração profética do porte de laicização na pastoral das comunidades paroquiais. A Dom Helder deixou-nos ou já está envelhecida. E a nova “liberdade de consciência” proclamada na DM separa safra eclesiástica revela outro corte”, lamenta. claramente a consciência do sujeito da verdade objetiva à qual a consciência se deve orientar. Não faz sentido aplicar a Quetionado sobre se concorda que a Igreja precisa ser “liberdade de consciência” para aprovar os casais do mesmo reformada e quais seriam as reformas urgentes?, sexo e o adultério. Newman falaria aqui de um pretendido responde: «Os anos permitem-me perceber três nítidos “direito à voluntariedade” (Carta ao Duque de Norfolk). A momentos no processo eclesiástico das últimas décadas. Ainda “misericórdia” na moral, mencionada sob a voz da conheci estruturas hieráticas no pontificado de Pio XII, que “reconciliação”, não deve separar-se da necessidade de lançava a imagem do poder eclesiástico onisciente e respeitar os mandamentos de Deus: Deus perdoa o pecador onipotente. Roma pronunciava-se sobre os mais diversos sinceramente arrependido, mas dá-lhe a entender também assuntos e com a consciência de dizer verdades inquestionáveis. (como Jesus à adúltera): “De agora em diante, não peques Não se percebia sinal de dúvida ou perplexidade. Isso acontecia mais” (Jo 8, 11). com duplo efeito. Positivamente, oferecia aos católicos fieis A petição da DM de integrar as “experiências e expressões enorme segurança sobre temas desde a Astronomia até à da época contemporânea” na liturgia já tem o seu lugar intimidade da vida conjugal. Para aqueles que já tinham recebido conveniente no atual ordenamento - por exemplo, na oração o impacto da modernidade liberal, democrática, marcada pela dos fiéis e na homilia. O acolhimento de “situações concretas subjetividade, autonomia das pessoas, consciência história, da vida” não deve obscurecer a importância da liturgia como práxis transformadora, tais declarações romanas produziam glorificação de Deus, juntamente com toda a Igreja, que enormes dificuldades e mal-estar. proporciona formas muito precisas para a expressão comum. Veio então João XXIII. Convoca o Concílio Vaticano II Certamente, é preciso elogiar o “diálogo” dentro da Igreja. que inicia, com certa coragem, o diálogo da Igreja com a Para um debate legítimo entre cristãos católicos, entretanto, modernidade. Usando a imagem da música “andante ma non deve estar claro o pré-requisito presente na profissão comum troppo”, a Igreja caminha em direção ao repensamento da fé católica. Diversos pontos da DM questionam essa base. doutrinal e pastoral, provocado pelos questionamentos Os signatários da DM podem sinceramente apresentar a teóricos e práticos levantados nos últimos séculos. No entanto, Professio fidei exigida como condição indispensável para ensinar, o tempo de aggiornamento não durou muito. Já no próprio em nome da Igreja, nas faculdades de teologia? Os bispos Pontificado de Paulo VI, a partir de 1968, despontam sinais responsáveis terão a coragem de insistir contra a dissidência de contenção e retrocesso. E depois a Igreja Católica mergulha sobre o caráter eclesial da Teologia? A próxima visita do Santo num longo processo neoconservador que dura até hoje. As Padre à Alemanha será uma grande oportunidade para uma inovações iniciadas no Vaticano II interromperam-se e outras renovação na fé católica. O memorando dos 143 teólogos, não surgiram, exceto em um ou outro gesto ousado de João porém, entristece: não oferece nenhuma contribuição para Paulo II, como a Oração pela Paz em Assis com os líderes lançar-se rumo a um futuro cheio de esperança, mas sim uma das diferentes religiões do mundo. Ainda que o clima geral demolição que põe em perigo o tesouro da fé eclesial. não fale de abertura, entretanto percebe-se-lhe a necessidade. página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.
  • 9. reflexão l espiral 9 À prgunta: Quais são as perspectivas e os desafios da a Igreja de Roma também lentamente afinar-se-á com ela. O Igreja para esta segunda década do século XXI?, opina: processo se institui de ambas as partes simultaneamente em Distingamos os níveis. No momento, ao nível das estruturas mútua relação e influência. internas da Igreja não se veem perspectivas animadoras. Quanto mais a Igreja local marcar a originalidade, a Durante o longo pontificado de João Paulo II, a Igreja liberdade, a autonomia, tanto mais Roma a reconhecerá. Se Católica viveu o paradoxo, de um lado, de rasgos de abertura ela, porém, esperar para cada palavra que disser um sorriso na prática do diálogo inter-religioso, na defesa dos direitos aprobatório de Roma, a liberdade se encurtará e a autonomia humanos, na oposição a toda guerra enfrentando, inclusive, se dissolverá. Quem age sob o olhar de outro, termina as pretensões americanas, na proximidade com o mundo dos condicionando-se de tal modo que perde a identidade. pobres e, de outro, de enrijecimento doutrinal e disciplinar interno. No horizonte, não se percebe que a Igreja enfrentará Como vê a atual internacionalização da Cúria os novos desafios da cultura contemporânea por meio de Romana? Como propõe o Manifesto, a sociedade mudanças internas, como fez, em parte, logo depois do Concílio deveria ajudar a escolher os representantes? Vaticano II. Falta o clima de abertura, de otimismo e de J. B. Libânio – A internacionalização traz vantagens. Mas profetismo para lançar-se em transformações profundas. Em não decide por si mesma. Acontece que a cor internacional termos de hierarquia, reina, antes, um momento de silêncio, desaparece facilmente por homogeneização ideológica por de prudência sem muita inspiração e lanço de coragem força da instituição. Se cada nação levasse para dentro da inovadora. A geração profética do porte de Dom Helder Cúria Romana a própria originalidade e a conservasse em deixou-nos ou já está envelhecida. E a nova safra eclesiástica contínuo diálogo com a predominante cultura europeia e revela outro corte. romana, então a internacionalização causaria outro efeito. No universo dos leigos, há sinais de esperança nas Bispos latino-americanos, africanos ou asiáticos que arribam comunidades de base, na crescente participação consciente e a Roma se romanizam a ponto de não se distinguir muito ativa das mulheres, no maior desejo de espiritualidade e dos outros. Outra coisa seria se as Igrejas locais se fizessem Teologia, na vitalidade de novos ministérios, na criatividade presentes em Roma por meio dos seus representantes, litúrgica, no acesso amplo às Escrituras pela via da leitura escolhendo-os e eles fazendo-se porta-voz delas. Mais: se elas orante. Em algumas Igrejas locais, o povo de Deus anuncia mesmas decidissem na escolha dos ministros que as servem algo de novo, desde que a clericalização não a prejudique. ou vetassem aqueles que não as satisfizessem. Assim evitaríamos casos desastrosos que tivemos de bispos, párocos Será que o Vaticano determina as Igrejas locais? ou pessoas em funções com detrimento da vida eclesial em João Batista Libânio – Cícero disse que a História é vez de a construir, e os fieis tiveram de suportá-los calados e “mestra da vida”. Lancemos um olhar para os últimos séculos sem poder de mudança. Certos aspectos da sociedade a fim de entender a relação entre o Vaticano e as Igrejas locais. democrática não contradizem, teologalmente falando, a Gregório VII, no século XI , deu a decisiva guinada da maneira de designar membros da hierarquia. A escolha pode autonomia das Igrejas locais para o crescente poder de Roma. ser democrática, embora a conferição se faça pela graça do Ele pautou o governo pontifício pelo dictatus papae, que ressuda sacramento. centralismo, autoritarismo desmedido. O manifesto dos teólogos pondera a questão do Esse longo processo de quase mil anos marcou uma linha isolamento da Igreja em relação à sociedade. Tal fato, de comportamento em que Roma exerce imensa influência porém, não se entende na percepção pontifícia de modo sobre as Igrejas particulares ou regionais. O Concílio Vaticano negativo, enquanto fechamento, mas como exigência de II, com a colegialidade, tentou diminuir tal tendência, mas coerência com a própria mensagem a despeito da com pouco resultado. Faz parte, portanto, da consciência incompreensão por parte da mentalidade moderna. Até onde comum eclesiástica a dependência em relação a Roma. E a tal programa eclesiástico se afasta do reino anunciado por dialética de dependência de uma parte pede o exercício de Jesus? É um tema grave que precisa de ser bem pensado e domínio da outra. A criança que pergunta à mãe que meia discutido de ambos os lados. A tônica do projeto do papa e vai calçar pede uma mãe cada vez mais absorvente que termina a do manifesto são divergentes. No primeiro caso, volta-se ditando-lhe tudo. Assim na Igreja. Roma responde com para a Igreja e quer mantê-la na sua atual estrutura e, a partir autoridade e reforça-a, porque as próprias Igrejas locais a daí, cumprir melhor sua função. No outro, propõe-se o projeto solicitam e ficam à espera. A liberdade entende-se como de Jesus e pergunta-se como adequar as estruturas da Igreja a relação entre duas liberdades. Não há liberdade de um lado ele. Pontos divergentes que geram leituras diferenciadas. Só o só. Que o diga Erich Fromm no magistral livro «Medo da diálogo mostra o limite e a positividade de cada perspectiva. liberdade». As análises que lá faz, baseadas na sua experiência O manifesto acentua: primeiro a liberdade individual e de do nazismo, valem para toda a relação de submissão e de consciência e a partir dela a fidelidade. A atual disciplina autoritarismo, onde ela se dê. No dia, porém, em que as Igrejas eclesiástica: primeiro a fidelidade à doutrina e à prática e aí locais tomarem maior consciência de outra eclesiologia, então dentro a liberdade. .pt * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesouraria@fraternitas.pt
  • 10. DOSSIER 10 espiral A Igreja e a mulher: Por Eduardo Hoonaert, padre casado, belga, com mais de 5O anos no Brasil, historiador e teólogo, Emerge uma nova Emerg nov Mora Salvador ador. mais de 20 livros publicados. Mor a em Salv ador. Dedica-se agora ao estudo das origens do consciência feminina cristianismo. Após séculos de silêncio e submissão, a mulher do século Em agência Adital, 3 de Março de 2011. XX finalmente dá sinais de rompimento com o passado. No âmbito católico, é na década de 1940 que aparecem os Uma longa história primeiros indícios discretos de que algo está a mudar no Desde os inícios, o cristianismo histórico tem tido universo feminino: as mães já não mandam os filhos à missa dificuldades em compreender o comportamento de Jesus dominical com a fidelidade de antes. Isso repercute para com as mulheres. Diversos trechos dos Evangelhos imediatamente na Igreja, mas quase ninguém percebe o que demonstram admiração, mas ao mesmo tempo deixam está a acontecer. Quando, em 1943, o padre Henri Godin, no transparecer estranheza. Os próprios apóstolos não entendem seu livro «França, país de missão?», constata com amargura o modo como Jesus aborda as mulheres. Pedro, um de seus que a França já não é o país católico de antes, ele não suspeita mais próximos companheiros, não tolera que uma mulher que a mulher tenha algo a ver com essa ‘descristianização’. O seja considerada apóstola em pé de igualdade com os homens, mesmo acontece com o sociólogo Gabriel Le Bras, que atribui como se pode ler no evangelho apócrifo de Maria Madalena. o declínio na assistência à missa ao estilo de vida na grande Por causa dessa e de outras dificuldades, o cristianismo cidade, à perda de fé e à secularização. Mas não fala da mulher. histórico guarda uma memória precária e até deformada acerca E quando, nos anos 1960, se constata um rápido declínio de do comportamento de Jesus diante das mulheres. vocações para o sacerdócio, também não se entrevê nisso a Maria Madalena, a mais proeminente figura feminina do mutação na relação do vocacionado com a sua mãe. Os Novo Testamento, é sistematicamente maltratada nos sermões primeiros estudos que apontam nessa direção são dos anos da Igreja, até ser rebaixada à condição de prostituta e de 1990. É no silêncio do universo feminino que se opera a pecadora arrependida. Essa criminalização simboliza na desconstrução da Igreja. realidade o rebaixamento da figura da mulher em geral, na Mas no início dos anos 1960, no momento em que o tradição cristã. Papa João XXIII pensa em convocar um concílio, de repente Mas não é só a cultura cristã que desconsidera a mulher. A a ‘desobediência’ feminina ganha notoriedade: a pílula maioria das culturas é igualmente preconceituosa nesse ponto anticoncepcional oral entra em cena e o seu sucesso é imediato. e ficaria igualmente escandalizada com Jesus, que apreciava o A mulher verifica que os ritmos das energias procriativas do perfume e o afeto de uma mulher e que insistia em que a seu corpo, se não forem controlados, dificultam a qualidade memória da ternura de uma mulher fosse preservada «por de vida a que ela e a sua família aspiram. Os ciclos sempre onde quer que o Evangelho fosse proclamado» (Mt 26, 12). repetidos da gravidez, do nascimento da criança, dos longos Essa memória sempre encontrou resistência no seio do tempos dedicados ao recém-nascido, dos trabalhos na casa, cristianismo histórico, como provavelmente encontraria na da preparação dos alimentos, dos cuidados como o marido maioria das culturas. não deixam espaço para que ela se desenvolva plenamente, Por que é que o Vaticano II desconhece a mulher? em Paris, onde ele foi núncio. O seu diagnóstico de que havia desencontro entre Igreja e mundo moderno estava certo. Sabemos que as mulheres não são convidadas a falar em Nisto, o Vaticano II fez um bom trabalho. O que lhe faltava concílios ecuménicos. Mas elas interferem, isso sim, nos era ir ao âmago da questão. Não conseguiu identificar com destinos dos concílios. Enquanto os bispos do Vaticano II clareza a ideologia heterónoma que caracteriza a igreja. tentam compreender as razões da ‘descristianização’, elas atuam É de se compreender a razão. O universo imaginário da na base, desatando laços seculares e desse modo esvaziando Igreja cristã provém em última análise da Bíblia, elaborada as Igrejas. Enquanto os teólogos falam em secularização, num mundo dominado por estruturas heterónomas. O rei (o ateísmo, consumismo, individualismo ou hedonismo, elas imperador) manda no povo, o senhor manda no escravo introduzem comportamentos autónomos no seio do velho (trabalhador), o homem manda na mulher, o pai manda nos mundo, marcado por séculos de heteronomia. Decerto, o filhos e Deus manda em todos (e todas). A vida toda é Papa João XXIII sabia que as igrejas estavam a ficar vazias concebida em termos de heteronomia: há sempre um ‘outro’
  • 11. DOSSIER l espiral 11 um diálogo possível? em contraste com o que acontece ao homem que, depois do ato sexual, fica ‘liberto’. A mulher e o bispo A Organização das Nações Unidas (ONU) aprova oficialmente o planeamento familiar e declara que ele colabora A estas alturas é bom averiguar o que é realmente novo com a saúde e o bem-estar da mulher, dos filhos e da família no comportamento da mulher que pratica o planeamento (conferência do Cairo, 1994). Estamos diante da emergência familiar. O novo consiste no fato de que ela não já age impelida de um pensamento autónomo, em contraste com o por uma vontade alheia, mas a partir de uma vontade própria. pensamento heterónimo até então vigente. Elabora-se uma Ela está sintonizada com o pensamento moderno, que acredita nova arquitetura do Estado com a finalidade de promover na auto-regulamentação das leis que regem o universo. A saúde, educação, bem-estar das famílias, assim como percepção sempre mais clara da regularidade das leis internas atendimento médico-hospitalar baseado na ideia da do universo resulta em atitudes de autonomia. Em regulamentação dos nascimentos. «Eis uma revolução de consequência disso, a mulher inicia um novo relacionamento dimensões planetárias» (Rose Marie Muraro, intelectual e com o seu próprio corpo. Verificando que o seu corpo feminista brasileira). A ideia do planeamento familiar é uma responde a determinados estímulos químicos capazes de inibir ideia genuinamente feminina que põe em movimento a maior a gravidez, por exemplo, ela adquire aos poucos e quase revolução do século xx, uma revolução silenciosa que se imperceptivelmente um comportamento autónomo: ‘O processa na intimidade das residências privadas, no diálogo axioma da autonomia está penetrando lentamente e quase íntimo entre homem e mulher, longe dos púlpitos clericais, sempre de modo inconsciente em toda a cultura ocidental’. das cátedras doutorais e dos foros públicos. Ao controlar a Ao programar a sua família, a mulher mexe com as fertilidade, a pílula faz com que a mulher possa entrar no estruturas da sociedade e do instituto religioso. Mais: ao lutar mercado de trabalho ao lado do homem. Doravante, o seu por uma família que desfrute de uma melhor qualidade de corpo já não pertence à fatalidade dos ciclos da procriação e vida graças à regulamentação dos nascimentos, a mulher mexe liberta-se aos poucos da vontade do homem. A pílula inaugura com a própria imagem de Deus. Ela esboça uma nova imagem um tempo novo, não só para a mulher, mas para a sociedade de Deus, mais condizente com as leis da autonomia. como um todo. As relações de género e trabalho Os progressos científicos a favor da vida revelam o santo transformam-se em profundidade. «Quando dominado pelo mistério chamado Deus. Para essa mulher, o Deus eclesiástico homem, o mundo é hierarquizado. Mas ele estabelece-se em vai se diluindo no horizonte enquanto emerge um Deus que rede quando a mulher entra em cena» (Rose Marie Muraro). corresponde às leis internas e autónomas do universo e da Uma vez que na mesma época se inicia o concílio Vaticano humanidade. Para ela, o que colabora para uma melhor II, vale a pena perguntar-se se há interação entre ambas as condição de vida é santo. Na medida em que torna o mundo iniciativas. O movimento em prol da libertação do corpo mais feliz, a pílula anticoncepcional é santa. Então, a mulher feminino tem algo a ver com o ‘aggiornamento’ do Papa emancipada questiona a Igreja, como se pode verificar por João XXIII? Será que os bispos reunidos em Roma tomam toda parte. conhecimento do que está a acontecer no universo feminino Para os bispos, a passagem do pensamento heterónomo e procuram entrar em diálogo com as mulheres? para o pensamento autónomo é bem mais complicada. que manda. A vida humana está sempre em mãos alheias. A eterna. Deus por vezes aparece como senhor rigoroso e justo, heteronomia constitui o mais antigo e durável modelo de outras vezes como pai amoroso que perdoa tudo. Mas sempre convivência humana, que caracteriza regimes políticos, fica fora do mundo em que vivemos. Nos dois primeiros económicos, sociais, culturais e psicológicos. versos da Bíblia aparece uma imagem nitidamente heterónoma Na Bíblia, Deus aparece como um ser todo-poderoso, de Deus: de um lado, a luz, o sopro, a vida, do outro lado, o santíssimo, sentado no trono celeste. Ele criou o universo em vazio, a solidão, a escuridão e a morte: poucos dias e até hoje governa sua criação da mesma forma Primeiras palavras: que um rei persa controla seus imensos territórios, guarda Deus cria o céu e a terra, tudo que acontece numa memória infinita (melhor que a Terra vazia, solidão, memória do computador mais potente) e julga tudo como o Escuro em cima do abismo mais justo dos juízes. Ele premia o bem e castiga o mal, às Sopro de Deus vezes aqui na terra, mas certamente após a morte, na vida Movimentos sob as águas (Gn 1, 1-2).
  • 12. DOSSIER 12 espiral Mesmo os que estão pessoalmente abertos à mudança dos questões concretas que envolvem aborto só podem ser tempos permanecem enquadrados numa estrutura resolvidas por meio de ações baseadas no princípio da fundamentada na heteronomia. Isso se verifica nas renovadas autonomia. A sociedade tem de se mostrar capaz de enfrentar ‘guerras santas’ em torno da questão do aborto. Tomemos o com realismo os problemas que se lhe apresentam. Não basta caso paradigmático de Recife, em Março 2009. Quando dizer às mulheres que desejam abortar que elas têm de se ocorreu numa clínica da cidade a interrupção da gravidez de entregar ‘às mãos de Deus’ e obedecer aos desígnios divinos. uma menina de 9 anos, D. José Cardoso Sobrinho, na época O bispo José até pode sonhar com uma Igreja santa no meio arcebispo da cidade, excomungou prontamente os médicos da devassidão do mundo e dos erros do século, uma cidadela que praticaram o aborto na menina. Ele justificou o seu de Deus, como aquela descrita por Santo Agostinho na sua comportamento, dizendo que estava a seguir as leis da Igreja. obra ‘A Cidade de Deus’. Mas esse sonho não corresponde à Desse modo, o bispo recorreu à ideia da heteronomia. A realidade. O postulado da santidade da Igreja é uma Igreja declara estar ‘a favor da vida’, contra ‘o cultivo da morte’, elaboração teológica do século IV, baseada na aproximação mas não sabe como lidar com casos concretos relacionados da Igreja daquele tempo com o sistema imperial romano e com aborto. nos métodos utilizados para impressionar as pessoas. Mesmo Decerto, o bispo recomendou compaixão para com a assim, a imagem de uma Igreja santa, intocável e inquestionável menina abusada pelo padrasto, mas não tinha nada a declarar ainda se mantém tão poderosa nos nossos dias que é capaz acerca da existência de centenas de clínicas clandestinas de de seduzir bispos e mesmo o papa. Em suma, atitudes como aborto no Brasil, que vitimam cada ano milhares de mulheres. as de D. José Cardoso criam inutilmente curtos circuitos que Ele recomendou compreensão e preces pelas pobres mulheres dificultam a passagem do pensamento cristão para o mundo que recorrem a tais clínicas, mas não podia ir além, pois as em que vivemos. Como sair do curto-circuito? não há nada mais louvável do que uma sociedade que caminha para a democracia e a liberdade. Todos os cidadãos estão «A comunidade cristã é mais que a Igreja hierárquica. Ela é sujeitos à lei, nenhuma instituição está acima da lei civil. plural, ou seja, composta de múltiplas comunidades cristãs e Em segundo lugar, não é bom dramatizar nem exacerbar estas são igualmente muitas pessoas, cada uma com a sua os sentimentos. Palavras de guerra como ‘mentalidade história, as suas escolhas e decisões próprias diante da vida. medieval’, ‘obscurantismo’, ‘fanatismo’ (de um lado) e Urge que a teologia dos bispos saia de uma concepção ‘ateísmo’, ‘agnosticismo’, ‘abandono da fé’ (de outro lado) só hierárquica e dualista do cristianismo e perceba que é na atrasam o processo. Lançam-se farpas de ambos os lados, o vulnerabilidade às múltiplas dores humanas que poderemos que não leva a nada. Só por meio de estudos serenos e da estar mais próximos das ações de justiça e amor» (Ivone percepção das verdadeiras dimensões do problema é que se Gebara, teóloga). pode avançar. Pensar com liberdade não significa abandonar Para a Igreja, não é fácil abandonar o universo imaginário a fé. Deixar de falar em reis e rainhas, senhores e santidades, da heteronomia. Hoje não existe caminho fora do diálogo tronos e potestades não significa trair o Evangelho. com a modernidade. Habilitar-se para tal diálogo implica, em Acompanhar a evolução das ciências, da política e da primeiro lugar, numa atitude de autocrítica. sociedade de hoje não é o mesmo que deixar de ser cristão. Durante longos séculos, a Igreja Católica dominou a cultura São Paulo não deixou de ser judeu quando escreveu: «Sim, ocidental e ficou intocável. Há apenas cinquenta anos, na todos fomos imersos num sopro único, num corpo único, abertura do Vaticano II, o domínio do pensamento católico Judeus ou Gregos, escravos ou livres, e todos vivemos sobre as consciências ainda era tão poderoso que criticar um animados por um sopro único (1Cor 12, 13). Nesses versos, representante da Igreja Católica era quase o mesmo que criticar São Paulo escreve que somos todos feitos do mesmo barro o próprio Deus. A Igreja julgava-se superior a todas as demais humano e ao mesmo tempo animados pelo mesmo sopro organizações. Mas, recentemente, quando apareceu a pedofilia de Deus, quer sejamos Judeus ou Gregos, homens ou mulheres, praticada por padres, percebeu-se que a Igreja não é tão santa bispos ou fiéis, heterónomos ou autónomos. como o papa e os bispos desejariam que fosse. Os padres são As mulheres que praticam o planeamento familiar são feitas humanos (por vezes demasiadamente humanos), feitos de uma do mesmo barro que os bispos que as rejeitam. Não se pode matéria comum a todos os seres humanos. dizer que o planeamento familiar seja uma questão de fé. Se Diante da pedofilia, por exemplo, a mentalidade moderna durante séculos falámos de Deus em termos de heteronomia, não suporta mais os métodos de intimidação, ocultamento e porque não será possível falar Dele hoje em termos de manipulação que ainda eram aceites pelos nossos pais e avós autonomia? A modernidade religiosa consiste na passagem num passado não muito distante. A nossa percepção do que para a imagem de um Deus que encontra a sua auto-expressão deve ser uma sociedade democrática, igualitária e justa vai-se no universo em que vivemos. Na figura de um universo em aperfeiçoando e um número crescente de pessoas acha que contínua gestação vislumbra-se o rosto de Deus.
  • 13. fraternitas fraternit ternitas l espiral 13 Encontro Nacional PROGRAMA Curso de Actualização DO ENCONTRO Teológica Dia 29 de Abril (6.ª-feira) 20h00 – Jantar, antecedido de acolhimento Tema: VERBUM DOMINI, Exortação Apostólica de Bento XVI 21h15 – Informações. sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja Diálogo sobre a(s) vida(s) na Fraternitas 22h00 – Descanso ORIENTADOR: D. Gilberto Canavarro (bispo de Setúbal) Dia 30 de Abril (sábado) Lugar: Casa N.ª Sr.ª das Dores, Fátima 8h30 – Pequeno-almoço 9h00 – Laudes. Exposição do Santíssimo Data: de 29 de Abril (ao jantar) a 1 de Maio (ao almoço) 10h15 – Intervalo 10h45 – Encontro e trabalho de grupo Organização: Associação FRATERNITAS Movimento 13h00 – Almoço 15h00 – Encontro e trabalho de grupo INSCRIÇÃO 16h30 – Intervalo Deverá ser feita, através do secretariado, até 20 de Abril: 17h00 – Encontro e trabalho de grupo Secretária: Urtélia Silva 18h15 – Plenário sobre os trabalhos de grupo Rua Prof. Carlos Alberto Pinto de Abreu, 33, 2.º Esq. 19h00 – Vésperas e Eucaristia 3040-245 Coimbra 20h00 – Jantar secretariado@fraternitas.pt 21h15 – Tertúlia fraternal (Até às 21h15): Tel.: 239 00 16 05 ou Tlm.: 91 47 5 47 06 N.B: A Casa N.ª Sr.ª das Dores solicita a inscrição até 10 dias antes do Dia 1 de Maio (domingo) dia da chegada. As desistências deverão ser comunicadas até ao dia anterior 8h30 – Pequeno-almoço à chegada. Caso contrário, a organização suportará o pagamento de 90% 9h00 – Laudes dos encargos do 1.º dia – almoço ou jantar e dormida.) 10h00 – ASSEMBLEIA GERAL 12h00 – Eucaristia, com ensaio prévio FICHA DE INSCRIÇÃO (fotocopie e envie) 13h00 – Almoço NOME ___________________________________________ Sócio n.º ____________ ou Não Sócio _____ Tlm _______________ E-Mail _________________________ ASSEMBLEIA GERAL NOME ___________________________________________ CONV OCATÓRIA CONVOCA OCATÓRIA Tlm _______________ E-Mail _________________________ Nos termos do Artigo 12.º dos Estatutos MORADA _________________________________________ convoco todos os sócios da Associação _________________________________________________ FRATERNITAS Movimento, para a C. P. ______ – _____ ________________________________ Assembleia-geral a realizar no dia 1 de Maio de 2011 (domingo), pelas 10h00, na Casa Nossa Estadia completa (2 diárias): _____ (sim ou não). Senhora das Dores, em Fátima, com a seguinte Caso não seja completa: ordem de trabalhos: 1 – Apreciação e votação Início e término: _________________ – ___________________ da acta da última reunião. Adultos: ______ Crianças (idades): ________________________ 2 – Apresentação, apreciação e votação do Obs.: Necessidade e tipo de dieta: ________________________ Relatório de Actividades e de Contas do ano de Quarto próximo do elevador ___________________________ 2010. Leitura do Parecer do Conselho Fiscal. 3 – Apresentação, apreciação e votação do TAXAS DE INSCRIÇÃO: Plano de Actividades e Orçamento para 2011. Sócios: gratuita/Não Sócios: 5 euros/ por pessoa. 4 – Eleição dos titulares dos órgãos da Diária por pessoa: - 35 euros (quarto individual / duplo ou triplo). Associação para o triénio 2011-2013. - Gratuito – até aos 3anos (excl.) 5 – Outros assuntos. - Meia diária (portanto 17,50 euros – 3 aos 12 anos (excl.). Se, à hora marcada, não houver quorum, nos * Refeição – Almoço ou jantar: 10 euros; na meia-diária: 5,50 euros. termos do Artigo 15.º dos Estatutos a reunião *1 dormida c/ peq.º alm.º: 17,50 euros; na meia-diária: 10,50 euros. terá lugar, meia hora mais tarde, com os sócios *1 peq.º- alm.º ou merenda: 2 euros; na meia-diária: 1,80 euros. presentes. * O pagamento far-se-á durante a estadia ao tesoureiro (Luís Cunha). O Presidente da Mesa da Assembleia, N.B.: Que ninguém deixe de ir por dificuldades financeiras. Artur da Cunha Oliveira (2011-02-15).
  • 14. FRATERNITAS FRATERNIT TERNITAS 14 espiral PELOS MEANDROS DA PRODUÇÃO LITERÁRIA Livros dos associados da Fraternitas editados em 2009 e 2010 Vou olhando diariamente os livros dos associados (e “UM QUASE- PÉRIPLO À CAPADÓCIA” não associados congéneres) dispostos na estante, Autor: Armando Marques da Silva (2010), Dezembro, mesmo à minha direita. A maioria tão gentilmente Ed.Traduvarius. oferecidos!...E fico a pensar: É muito pouco!... “Como se peregrino fosse… “Um livro aberto é um cérebro que fala. Não terá sido embriagado por vinho doce o autor desta Um livro fechado é um amigo que espera. narrativa surpreendente. Também não tenho escárnio para Um livro esquecido é um irmão que perdoa. Um livro destruído é um amigo que chora.” lhe oferecer, antes pelo contrário, actos das testemunhas da (Voltaire) ventania do primeiro Pentecostes. (…) ‘Ninguém vem sem Urtélia Silv Urtélia Silva ter de ir’ – eis a decisão que empurrou o narrador para o percurso de memórias pessoais que desvenda, sem rebuço, Recordo o que escrevi na altura do envio do último mesmo que tenha sempre à espreita a senhora da gadanha. Espiral: “Tem sido grande a produção literária dos associados. Nunca uma doença masculina foi tão projecto de angústia… O secretariado desejaria ‘inventariar’ tais obras, e ir anunciando Em cada página há um desfilar encantatório dos sítios onde no Espiral. Para o próximo número, espero fazê-lo do período se cruzam enredos teológicos. E daqui não está arredada a referente ao último biénio, pelo que solicito tal informação esponja larvar sobre as teofanias e despautérios de Adão. Ficam dos que ainda não o comunicaram.” traços sobre os caminhos insinuantes das espiritualidades de Vou então basear-me apenas nos dados dos livros que o Compostela (…) O humor adensa-se repentinamente em cada secretariado dispõe, alguns escassos por que solicitados curva que persegue Capadócia, Património Mundial da telefonicamente. Humanidade. (…) Ninguém mais exaustivo no encontro do Coliseu de Roma (…). Fundamental a questão posta na Cidade EM 2010 Eterna: será que da presente Wolksvagenização da Igreja Católica ainda poderá renascer o cristianismo? O impensável “CÓNEGO FILIPE DE FIGUEIREDO – UMA acontece antes que se conclua um literal e onírico périplo à VIDA AO SERVIÇO DOS OUTROS / Homenagem Capadócia. E amor dialógico. Fica, entretanto, o aviso à Vivencial da Fraternitas Movimento”, coordenado por Alípio navegação de que com coisas sagradas não se brinca, mesmo Martins Afonso (2010). Edição e propriedade da Fundação que sejam divinices espanholas ou nacionais. Esta é a oferta Cónego Filipe de Figueiredo, Estarreja. do génio do escritor que não pode ficar ocultado. Nem a “A história da actual mudança eclesial em Portugal não mulher, amor todo-o-terreno. Em espaço inter-religioso e deixará de registar o nome do Cónego Filipe de Figueiredo, intercultural” (p. 7, Manuel Villas – Boas). o insigne cabouqueiro e patrono da Fraternitas, bem como o nome dos primeiros Prelados que nos têm acompanhado, secundando a autoridade moral e intelectual deste ‘santo´ sacerdote”. (p. 6, o autor – coordenador). “O SANTUÁRIO DE N.ª Sr.ª do NASO – HISTÓRIA “Obra-prima e pedra angular da história do sacerdócio E DEVOÇÃO”, de António Rodrigues Mourinho (2010) católico casado em Portugal”, contracapa, Antonieta e Artur Outubro, Ed. Tipalto. da Cunha, presidente da Assembleia-geral da Associação; “A Senhora do Naso é invocada como a `Rainha dos “Conheci de perto e admirei de longe este Homem de Mirandeses´, que lhe dirigem muitas preces e cantigas – as Deus (…). Dizia muitas vezes: ‘Tenho um sonho’. E as obras `lhonas´ (loas). nasciam. Porque os seus sonhos e projectos correspondiam à …Ah, mie Virge del Naso! vontade de Deus e ao serviço dos irmãos. (…). Os Cumo Boí n~u hai ~eigual documentos e testemunhos recolhidos neste ‘Memorial’ falam Pur Çamora i Salamanca por si. E bem alto. Revelam ou sublinham que toda a vida do I até pur Pertual …”, P.e Filipe foi um poema que ele próprio foi escrevendo, que em “Nossa Senhora de Portugal/Santuários Marianos”, os seus admiradores conhecem e que os anjos cantam” (pp. 3 J.Gil e N. Calvet, 2003, ed. Intermezzo, p. 136; e 4, D. Serafim Ferreira e Silva). e “A CÂMARA MUNICIPAL DE MIRANDA DO Este livro pode ser adquirido através dos membros da DOURO NO PERÍODO DA I REPÚBLICA – 1910-1927 Direcção. Foi apresentado e lançado no dia 28 de Novembro, “, de António Rodrigues Mourinho (2010), Julho, ed. Tipalto. dia do 7.º aniversário do seu abraço pleno com o Pai.