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Brinquedos e materiais pedagógicos nas escolas
infantis
Tizuko Morchida Kishimoto
Universidade de São Paulo
Resumo
A identificação dos brinquedos e materiais pedagógicos e a ca-
racterização de usos e significações para profissionais de edu-
cação infantil de São Paulo, que atuam com crianças de 4 a 6
anos, justificaram uma pesquisa tipo survey, acompanhada de
recursos etnográficos (entrevistas, observações, vídeos), no pe-
ríodo de 1996/1998.
Estudos mostram que, dentro de uma instituição infantil, a or-
ganização da rotina, o espaço físico, seus objetos e materiais
educativos influenciam os usuários na representação, determi-
nando, em parte, a maneira como adultos e crianças sentem,
pensam e interagem nesse espaço, definindo formas de sociali-
zação e apropriação da cultura. Pretendeu-se diagnosticar, pela
triangulação de informações de entrevista, observações e vídeos,
as razões para escolha e uso de determinados brinquedos e ma-
teriais pedagógicos.
Os resultados indicam que a educação infantil da rede pesqui-
sada apresenta concepções de criança – destituídas de autono-
mia – e de educação infantil voltadas para aquisição de conteú-
dos específicos. Os brinquedos e materiais pedagógicos mais
significativos são os chamados educativos, materiais gráficos,
de comunicação nas salas; e os de educação física, para o espa-
ço externo. Brinquedos que estimulam o simbolismo e a sociali-
zação, como jogos de faz-de-conta, construção e socialização,
aparecem com percentuais insignificantes, apontando o pouco
valor da representação simbólica e do brincar.
Palavras-chave
Brinquedos – Materiais pedagógicos – Educação infantil –
Cultura escolar.
Correspondência:
Tizuko M. Kishimoto
Faculdade de Educação (EDM) – USP
Av. da Universidade, 308 – Bl. A
05508-900 – São Paulo – SP
e-mail: tmkishim@usp.br
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 229
Toys and pedagogical materials at schools for
children
Tizuko Morchida Kishimoto
Universidade de São Paulo
Abstract
The importance of toys and pedagogical materials, their use and
signification for professionals in child education working with
4-6 year olds, justified a survey-like research study that took
place between 1996 and 1998, and which was accompanied by
ethnographic resources.
Authors such as Brougère, Nóvoa, Forquin, and Oliveira-
Formosinho made clear that the organization of routine,
physical space, objects, and educational materials within a
school for children influence its users’ representations,
determining in part the manner in which adults and children
feel, think, and interact in this space, defining forms of
socialization and appropriation of culture. The present work
intended to diagnose, through data collection, interviews and
observations, the conceptions underlying the choice and use of
toys and pedagogical materials.
The results indicate that child education in the school network
investigated demonstrates conceptions of children with no
autonomy and the acquisition of contents as the objective of
child education. The classroom emerges as the workplace, and
the playground as the ludic space. It is the model of basic
education that prevails in the physical space, routine, selection
of materials, and in the adult-child interaction. In accordance
with the perspective of schooling, the most significant toys and
pedagogical materials are the so-called educational materials,
graphical, and communication materials for the classroom,
and the physical education materials for the external space.
Toys that stimulate symbolism and socialization, such as
games of pretending, building, and socialization appear in
insignificant percentage, pointing to the little value given to
symbolic representation and to playing.
Keywords
Toys – Pedagogical materials – Child education – School
culture.
Correspondence:
Tizuko M. Kishimoto
Faculdade de Educação (EDM) – USP
Av. da Universidade, 308 – Bl. A
05508-900 – São Paulo – SP
e-mail: tmkishim@usp.br
230 Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001
Pesquisar brinquedos e materiais peda-
gógicos nas escolas infantis implica investigar
as concepções de criança e de educação infantil
que definem o uso desses recursos (Therriault,
1987), a organização da rotina e do espaço físi-
co (Edwards, Gandini e Forman, 1999) entre
outros. Tais quesitos influenciam as represen-
tações dos usuários, determinando, em parte, a
maneira como adultos e crianças sentem, pen-
sam e interagem definindo formas de socializa-
ção e apropriação da cultura.
Forquin (1996) e Apple (1982, 1979) res-
saltam que a escola dispõe de uma cultura pró-
pria, resultado de ideologias que refletem
valores da sociedade. Portanto, investigar valo-
res que orientam a escolha de brinquedos e ma-
teriais pedagógicos implica buscar as raízes que
explicam os usos e significações de tais recur-
sos na prática pedagógica. Uma das hipóteses é
a de que concepções de criança e de educação
infantil estão na base desses valores.
No contexto atual da educação infantil
os brinquedos têm dois usos com significações
distintas: educadores que valorizam a sociali-
zação adotam o brincar livre, e os que visam à
escolarização ou aquisição de conteúdos esco-
lares, o brincar dirigido e os jogos educativos.
Adotou-se nessa pesquisa os conceitos
de: 1. brinquedo como objeto, suporte da brin-
cadeira; e 2. brincar, como ação lúdica iniciada
pela criança tendo motivação intrínseca
(Brougère, 1995a, 1995b; Kishimoto, 1996).
A pesquisa, parte do projeto Capes/Cofe-
cub nº 197/96,1
foi realizada nas Escolas Muni-
cipais de Educação Infantil de São Paulo
(EMEIs) freqüentadas por crianças de 4 a 6
anos durante o período de 1996-1998. Uma
parte dos resultados do trabalho foi incorpora-
da a este artigo.2
Delimitação do campo de
pesquisa
A rede municipal de educação infantil de
São Paulo foi escolhida para a realização da
pesquisa. Definiu-se uma amostra de 20% das
escolas municipais de educação infantil por
meio de sorteio. Em 1997, a rede contava com
375 unidades infantis distribuídas em treze
delegacias regionais, com cerca de 7.114 pro-
fessores atuando em três períodos (7h às 11h;
11h às 15h e 15h às 19h).
A grande maioria das escolas situava-se
na periferia, cuja clientela era de nível socioe-
conômico heterogêneo e desfavorecido.
Para a manutenção dos materiais, a es-
cola recebia, do município, um mínimo anual
de R$ 7.500,00 e um máximo de R$ 12.500,00,
o que representa um valor de R$ 0,60 a R$
21,30 para cada criança. Os recursos, pouco
significativos para aquisição de materiais didá-
ticos, eram acrescidos de outras fontes prove-
nientes de quermesses, festas e doações.
Metodologia de pesquisa
A pesquisa contou com a colaboração de
dez bolsistas de iniciação científica da FAPESP,
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 231
1. Projeto Capes/Cofecub n. 197/96 (Coordenação de Aperfeiçoa-
mento de Pessoal de Nível Superior e o Programa de Cooperação
Internacional entre França e Brasil ), sob o título: Recursos e Materiais
educativos disponíveis no sistema formal de educação no Brasil e na
França: usos e significações em uma perspectiva comparativa, consi-
derado proposta excelente, envolveu doze pesquisadores brasileiros e
quatro franceses. Trabalho coletivo da Faculdade de Educação da USP e
da Universidade Paris 13, efetuado durante quatro anos (1996-2000)
junto à rede infantil do Município de São Paulo e contou com o apoio
financeiro da Fundação para o Apoio à Pesquisa em São Paulo e inúme-
ros pesquisadores e bolsistas de iniciação científica (FAPESP e CNPq).
2. Ver outros artigos da autora que tratam desta pesquisa: Toys and
Pedagogical Materials: Uses and Meagnings. In: THE 2ND
INTERNATIONAL TOY RESEARCH CONFERENCE. 1999, Halmstad-
Sweden. Abstracts. 1999, p.35-36; Salas de aulas nas escolas infantis
e o uso de brinquedos e materiais pedagógicos. In: 23º REUNIÃO ANUAL
DA ANPED, 2000. Caxambu: Minas Gerais, 2000. Educação não é privi-
légio. Programas e Resumos. 24 a 28 de setembro de 2000. Caxambu/
Rio de Janeiro: DP&A editora, 2000. p.133-133; BROUGÈRE, Gilles;
ALMQVIST, Birgitta; KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Preséntation d’une
enquête international sur le materiel ludique dans les systemes presco-
laire. In: COLLOQUE INTERNATIONAL SUR LE JOUET, Angoulême-
France. 9-14 novembre 1997. Université Poitiers. Resumés, p.9-14 A;
Salas de aulas de escolas infantis: domínio da fila, tempo de espera e
falta de autonomia da criança. Nuances, Presidente Prudente, v.5, n.5,
p.1-7, 1999.
dois do CNPq e quinze alunos de pós-graduação
latu senso e strictu senso. Foi essencial para
essa tarefa: a oferta de três cursos3
para subsi-
diá-los na aquisição de referencial teóri-
co-metodológico para a condução da pesquisa;
o acompanhamento semanal com reuniões; a
utilização de câmaras de vídeo e aprendizagem
de processos de minutagem (foram contratados
serviços de especialistas da Escola de Comunica-
ções e Artes para o treinamento dos alunos em
filmagens); contatos com o estatístico para aná-
lise de gráficos e tabelas; e a exigência de parti-
cipação em Simpósios de Iniciação Científica e
atividades previstas no cronograma voltadas
para o saber/fazer da pesquisa.
Professores colaboradores do Projeto Ca-
pes/Cofecub: Helena Chamlian, Manoel Orios-
valdo de Moura, Maria Felisminda de Rezende e
Fusari e Mauro Gomes de Matos discutiram
com os pesquisadores o significado de brinque-
dos e materiais pedagógicos em campos como
os das Artes, da Educação Física e Matemática.
A coleta de dados foi realizada com o uso
de questionário estruturado, entrevistas se-
mi-estruturadas e vídeos.
O questionário (Brougère, 1991, 1993),
utilizado em pesquisa similar nas escolas ma-
ternais francesas, adaptado após pré-teste,
contém oito categorias de brinquedos e mate-
riais: 1. atividades simbólicas; 2. agrupamento,
reconstituição de imagens; 3. construção; 4.
manipulação; 5. regras; 6. pedagógicos de Ma-
temática, História, Geografia, Linguagem,
Ciências; 7. comunicação; e 8. motricidade e
educação física. O instrumento prevê, ainda,
categorias para analisar as formas de utiliza-
ção: não-uso; uso um dia , de 2 a 4 dias, todos
os dias e ocasiões especiais. Tendo em vista os
objetivos da pesquisa, foi acrescentado o item
Materiais Pedagógicos. O questionário, bastan-
te detalhado, inclui em cada categoria uma lis-
tagem de brinquedos com cerca de cinco a
vinte e quatro itens e foi preenchido pelos pro-
fessores e coordenadores pedagógicos, em mui-
tos casos, com o auxílio dos pesquisadores.
Foram distribuídos em média nove ques-
tionários para cada unidade sorteada contem-
plando os professores que atuam nas faixas
etárias de 4, 5 e 6 anos, nos três períodos de
trabalho. A devolução tardia dos questionários
preenchidos pelas unidades (até meados de ju-
nho/98) foi outro entrave que retardou a análi-
se estatística e exigiu a prorrogação do
trabalho dos bolsistas por mais um semestre.
Do total das escolas sorteadas (84 esco-
las), foram devolvidos 482 questionários dos
704 distribuídos, representando uma amostra
de 65%, num universo de 20% das EMEIs da
cidade de São Paulo (Quadro 1).
As observações semanais de atividades
lúdicas, a produção de vídeos e as entrevistas
foram realizadas no segundo semestre de
1997, em treze unidades contemplando-se o
critério da diversidade para representar o uni-
verso da pesquisa. A análise qualitativa teve
como suporte os diários de bordo, resultado
de observações, os episódios transcritos e mi-
nutados nas sessões de duas a três horas de
vídeos (autorizadas pela secretaria e pelos
professores) e o conteúdo das entrevistas,
classificado conforme critérios de Bardin.
A equipe de vinte e sete pesquisadores
entrevistou professores, colheu observações
das práticas pedagógicas nas atividades vincu-
ladas a brincadeiras, em vídeos e fotografias e
subsidiou a análise de usos e significações.
Uma amostra de treze vídeos foi produzida em
treze instituições infantis, selecionada de
modo a incluir as especificidades da rede:
dimensão da escola, número de alunos, locali-
zação, áreas como parque, biblioteca e brin-
232 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos...
3. O Curso Jogo e Cultura I discutiu conceitos de jogo, brinquedo,
brincadeira e material pedagógico e sua relação com a educação
infantil, dando uma iniciação aos referenciais teóricos. O Curso Jogo e
Cultura II analisou os referenciais teóricos relacionados à cultura, ao
significado da qualidade da educação infantil, às discussões dos
Parâmetros Curriculares de Educação Infantil e à presença da
brincadeira na escola.O Curso Jogo e Cultura III ofereceu informações
complementares sobre condução de pesquisa etnográfica e análise de
dados coletados dentro do quadro de referência proposto.
quedoteca, grau de conservação, entre outros.
As entrevistas semi-estruturadas foram gravadas
nas 13 instituições, contendo concepções dos
professores sobre criança, educação infantil e o
lúdico como atividade dirigida ou livre.
A análise quantitativa descrita na Tabela 1
indica os brinquedos e materiais pedagógicos
mais disponíveis nas escolas pesquisadas. Para
garantir a fidedignidade dos dados, em decorrên-
cia da variação da quantidade de itens, nas cate-
gorias, o percentual que indica a disponibilidade
de brinquedos foi calculado utilizando-se apenas
os cinco itens mais citados pelos professores em
cada subcategoria. Outros dados quantitativos
do estudo contemplam situações de uso de brin-
quedos nas cinco modalidades citadas: não-uso,
uso todos os dias, 1 dia, de 2 a 4 dias e ocasiões
especiais, os quais serviram para a compreensão
da situação da prática pedagógica.
Análise dos resultados da
disponibilidade dos brinquedos
A tabela 1 dá uma visão geral da dispo-
nibilidade dos brinquedos e materiais peda-
gógicos indicando que as categorias com
percentual acima de 50% pertencem ao cam-
po do jogo educativo (destinado à aquisição
de conteúdos e desenvolvimento de habilida-
des), às artes gráficas, evidenciadas pelo
desenho, escrita e cálculo, ao desenvolvimen-
to da motricidade fina e manipulação, à co-
municação e educação física.
Itens com maior percentual: Artes Visuais/
Plásticas (91,48%); comunicação (89,48%);
manipulação (73,82%); organizador de am-
bientes e instalações fixas de Educação Física
(72,98%); veiculação sonora, visual, audio-
visual, informatizada (72,12%); Música
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 233
Quadro 1. Demonstrativo do preenchimento do questionário.
DREM
Quantidade de escolas
sorteadas
Nº questionários
distribuídos
Nº questionários
que retornaram
%
1 7 63 49 77,7%
2 12 108 68 62,96%
3 5 45 40 88,88%
4 5 45 34 75,5%
5 6 54 27 50%
6 7 63 56 88,88%
7 7 63 62 98,41%
8 5 45 27 60%
9 6 54 27 50%
10 5 45 15 33,33%
11 3 27 17 69,96%
12 7 63 15 23,80%
13 3 27 18 66,66%
Total 84 704 482 65%
(65,8%); manipulação, locomoção e equilíbrio
para Educação Física (55,42%); agrupamento,
reconstituição de imagens (54,66%).
Itens menos citados: jogos de regras com
predomínio para aprendizagem de matemática
(45,04%), jogos de regras com predomínio para
aprendizagem em língua materna (39,38%),
atividades simbólicas em dimensão infantil
(35,74%); reproduzir o mundo, em miniatura,
(30,76%); encaixes (29,44%); materiais peda-
gógicos de Matemática, História, Geografia,
Linguagem, Ciências (28,25%); atividades de
construção, superposição ou justaposição
(27,02); fantasias, dramatizações, danças
(22,05%); marionetes, bonecos para ficção,
dramatizações (20,42%); jogos de socializa-
ção, parceria em grupos (17,25%); aprendiza-
gem de outros conhecimentos (10,45%);
agrupamentos com peças de junção com pa-
rafusos, etc. (4,42%).
Os brinquedos e materiais destinados às
atividades simbólicas, de construção e sociali-
zação da criança, são os menos privilegiados,
com percentuais de 4% a 35%. Entre os jogos
de regras destinados à aquisição de conhe-
cimentos, destacam-se os de Matemática
234 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos...
Tabela 1. Disponibilidade de brinquedos e materiais pedagógicos.
Subcategorias Disponível
1. Brinquedos, materiais para agrupamentos com peças de junção (parafusos, etc). 4,42%
2. Jogos de regras com predomínio para aprendizagem de outros conhecimentos. 10,45%
3. Jogos de regras com predomínio em socialização, parceria em grupos. 17,25%
4. Marionetes, bonecos para ficção, dramatizações. 20,42%
5. Materiais para fantasias, dramatizações, danças. 22,05%
6. Brinquedos, materiais para atividades de construção, superposição ou justaposição. 27,02%
7. Materiais pedagógicos de Matemática, História, Geografia, Linguagem, Ciências. 28,25%
8. Brinquedos, materiais com sistema de encaixes. 29,44%
9. Brinquedos em miniatura reproduzindo o mundo. 30,76%
10. Brinquedos – atividade simbólica-dimensão infantil. 35,74%
11. Jogos de regras com predomínio para aprendizagem em língua materna. 39,38%
12. Jogos de regras com predomínio para aprendizagem de Matemática. 45,04%
13. Brinquedos, materiais para atividades de agrupamento, reconstituição de imagens. 54,66%
14. Material de manipulação, locomoção e equilíbrio para atividades motoras e de Educação Física. 55,42%
15. Materiais de Música para experiências sensoriais, estéticas. 65,8%
19. Materiais de comunicação via veículos visuais, sonoros, audiovisuais, informatizados. 72,12%
17. Material organizador de ambientes e instalações fixas para atividades motoras e de Educação Física. 72,98%
18. Materiais para manipulação: experiências sensoriais e de motricidade fina. 73.82%
19. Equipamentos para veiculação sonora, visual, audiovisual, informatizada. 89,48%
20. Materiais de Artes Visuais/Plásticas para experiências sensoriais, estéticas. 91,48%
(45,04%) e Língua Portuguesa (39,38%), sendo
pouco significativos os destinados às outras
áreas do conhecimento (10,45%). Os materiais
pedagógicos de Matemática, História, Geogra-
fia, Linguagem e Ciências têm pouca presença
(28,25%). A baixa disponibilidade de materiais
e jogos relacionados aos conteúdos escolares
mostra que, mesmo adotando posturas favorá-
veis à escolarização, o uso de materiais concre-
tos é pouco significativo.
Segundo Nóvoa (1992), se a estrutura fí-
sica e material revela valores assumidos pela or-
ganização escolar, pode-se inferir que a função
simbólica, a criatividade e a socialização da
criança são pouco relevantes nas escolas
pesquisadas, dada a pequena participação de
brinquedos de natureza simbólica, de constru-
ção e destinados à socialização, no acervo das
unidades.
Neste artigo, pretende-se compreender as
razões que levam as escolas a ter poucos brinque-
dos simbólicos e de construção e maior quantida-
de nas categorias vinculadas ao jogo educativo,
artes gráficas, motricidade fina, manipulação,
comunicação e Educação Física, tentando desve-
lar a imagem de criança e a concepção de educa-
ção infantil nos usos de tais recursos.
Brinquedos e materiais mais
citados
Quebra-cabeça, encaixe e mosaico têm
uso mais intenso nas três modalidades: 4 a 2
dias, 1 dia e ocasiões especiais (Tabela 2).
Considerada “pedagógica” ou “didática”, essa
categoria propõe a aprendizagem de conteú-
dos específicos. Embora disponíveis na gran-
de maioria das instituições infantis, em
decorrência do modelo adultocêntrico, expo-
sitivo e verbalista, característico do ensino
fundamental, que prevalece também na edu-
cação infantil, tais brinquedos têm usos ina-
dequados. Observações da rotina reiteram a
prática de oferecê-los quando as crianças ter-
minam as tarefas como ocupação de tempo li-
vre, demonstrando que os professores, apesar
de valorizá-los como pedagógicos, geralmen-
te não sabem o que fazer com tais objetos. Os
quebra-cabeças são sempre os mesmos, não
havendo diferenciação para atender níveis de
dificuldades, variando de quantidade e tama-
nho de peças conforme a faixa etária, compe-
tências e interesses das crianças. Não seriam
os valores relacionados às funções pedagógi-
cas dos quebra-cabeças e encaixes quanto às
possibilidades de adquirir noções de par-
te-todo, percepção de cores, formas, habili-
dades motoras finas para encaixes e a
preocupação em escolarizar4
mais rapidamen-
te a criança as razões dessa escolha?
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 235
Tabela 2. Disponibilidade/uso de brinquedos, materiais para atividades de agrupamento, reconstituição de imagens.
Itens mais citados Disponível Não-uso
Todos os
dias
4 a 2 dias
na semana
01 dia na
semana
Ocasiões
especiais
Quebra-cabeça 84,5% 8,1% 1,6% 20,6% 47,7% 22,1%
Encaixe 81,1% 3,1% 8,1% 37,6% 42,2% 9,0%
Mosaico 68,0% 11,6% 0,4% 13,1% 44,0% 30,9%
Outros 22,0% 11,6% 2,1% 17,9% 35,8% 32,6%
Cubo 17,7 1,6% 6,5% 19,4% 53,2% 19,4%
4. Termo utilizado para denominara introdução de leitura, escrita e
cálculo por meio de procedimentos inadequados sem valorizar as
experiências infantis.
No caso das atividades motoras e de Edu-
cação Física (Tabela 3), os itens mais citados
são bolas de borracha (82,9%), bambolês
(61,1%), que existem em mais da metade das
escolas infantis e que são usados mais freqüen-
temente em ocasiões especiais e em um dia na
semana. Outros materiais como petecas, bolas
de tecido, bolas de futebol, bastões para
corrida, argolas, cordinhas para cavalgar são
citados por 10% a 20% dos professores. Mesmo
a bola de borracha, um dos brinquedos mais
tradicionais da cultura brasileira, tem uso diá-
rio pouco significativo (12,3%) (Kishimoto,
1998b).
Os itens destinados às brincadeiras tradi-
cionais, embora valorizados em documentos
oficiais, acabam tendo presença pouco signifi-
cativa nas unidades infantis (Kishimoto, 1992,
1993, 1998b; Canholato et al., 1990; Filguei-
ras, 1998).
É significativo o percentual de instru-
mentos de percussão, na área de Música, o que
poderia configurar sua valorização (Tabela 4).
O alto percentual desses materiais (mais de
59,5%) nem sempre significa sua incorporação
ao cotidiano. A análise da forma de uso mostra
o predomínio de ”ocasiões especiais”, o que
significa “de vez em quando”. Se considerar-
mos o chocalho: 23,2% não o utilizam e 68,3%
utilizam-no em ocasiões especiais, concluímos
que o total de 91,5% de professores deixam de
usar sistematicamente tal item. O mesmo ocor-
re com o triângulo e o reco-reco. Normalmente
um terço dos professores respondem que não
usam tais recursos e o restante, apenas em
ocasiões especiais, nas festas de fim de ano ou
236 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos...
Tabela 3. Disponibilidade/uso do material de manipulação, locomoção e equilíbrio
para atividades motoras e de Educação Física.
Itens mais citados Disponível Não-uso
Todos os
dias
4 a 2 dias
da semana
01 dia da
semana
Ocasiões
especiais
Bola borracha 82,9% 5,5% 12,3% 27,0% 34,1% 21,2%
Aro, bambolê 61,1% 11,1% 2,3% 6,0% 33,6% 47,0%
Corda p/grupo 48,3% 11,5% 0,6% 7,3% 30,9% 49,7%
Boliche 43,0% 11,3% — 2,0% 34,4% 52,3%
Cordinha 41,8% 6,8% 3,4% 11,5% 39,2% 39,2%
Tabela 4. Disponibilidade/uso de materiais de Música para experiências sensoriais, estéticas.
Itens mais citados Disponível Não-uso
Todos os
dias
4 a 2 dias
na semana
01 dia na
semana
ocasiões
especiais
Disco 71,7% 1,8% 7,9% 15,2% 26,7% 48,4%
Fita cassete 70,7% 1,1% 8,9% 13,4% 29,7% 46,8%
Chocalho 65,0% 23,2% 0,4% 0,4% 7,6% 68,3%
Triângulo 62,1% 24,0% 0,5% 0,5% 4,6% 70,5%
Reco-reco 59,5% 24,8% — — 6,8% 68,5%
em alguma comemoração como o Dia das Mães,
o que explica por que algumas crianças, que já
estão há quase dois anos na escola, dizem que é
a primeira vez que usam instrumentos musicais
(Kishimoto, 1998b, p. 24).
É alto o percentual de livros e histórias
infantis disponível (62,9% a 90,8%) nas escolas
pesquisadas. Em relação aos usos: todos os dias
(16,3%), 4 a 2 dias da semana (45,7%), 1 dia da
semana (28,2%) e ocasiões especiais (8,6%)
(Tabela 5).
As observações etnográficas e a análise
do acervo de livros demonstram a falta de obras
sobre a cultura brasileira, de contos que falem
sobre nosso povo e seus hábitos, a fauna e a
flora, dados que revelam a pouca inserção da
escola infantil em nossa cultura. Ocorre um
“confinamento cultural” da criança (Perrotti,
1990), que impede a exploração do amplo am-
biente externo que dá validade à inserção na
cultura (Bruner, 1996). Basta constatar a au-
sência de Monteiro Lobato, autor que ilustra,
para o público infantil, os personagens brasilei-
ros e suas brincadeiras.
Geralmente, os livros encontram-se em
armários fechados, em estantes altas, inacessí-
veis às crianças, ou na biblioteca, pouco fre-
qüentada em razão da falta de uma rotina que
facilite o acesso a seu acervo. As revistas servem
como recursos para alfabetização, com recortes
de letras, em situações isoladas, descontextuali-
zadas de propostas criadas pelas crianças.
A adoção de projetos (Edwards, Gandini
e Forman, 1999; Cadwell 1997; Katz e Chard,
1997) como estratégia de organização do tra-
balho infantil permanece como retórica, em
decorrência das condições de trabalho: a rela-
ção de um adulto para trinta a quarenta crian-
ças inviabiliza a saída de pequenos grupos
para a pesquisa de temas do projeto; dificul-
dades de ordem material e financeira; falta de
continuidade do trabalho pela inexistência de
tempo diário de planejamento e acompanha-
mento das atividades nos contratos dos pro-
fissionais e uso intenso das salas, em três
turnos diários.
Os equipamentos fixos mais comuns
utilizados todos os dias no playground: es-
corregadores (68,4%), tanques de areia
(65,7%), gangorras (64,1%), gira-giras
(70,0%), estruturas para subir (73,2%) e tú-
neis (Tabela 6). Se somarmos às outras cate-
gorias(4 a 2 dias, 1 dia e ocasiões especiais),
constata-se que tais equipamentos têm uso
diário.
Túneis, formas vazadas, pistas de ama-
relinha, colchonetes, balanços, quadras poli-
esportivas encontram-se em 22% a 49% das
escolas (Kishimoto, 1998b), o que se explica
pela existência de parques ou playgrounds em
quase todas as unidades infantis.
O alto índice de uso diário é justificado
pelo horário de recreio em que todas as crian-
ças, pelo menos durante vinte minutos,
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 237
Tabela 5. Disponibilidade/uso de materiais de comunicação via veículos visuais, sonoros, audiovisuais, informáticos.
Itens mais citados Disponível Não-uso
Todos os
dias
4-2 dias
semana
01 dia da
semana
Ocasiões
especiais
Livro estória 90,8% 1,2 % 16,3% 45,7% 28,2% 8,6%
Revista gibis 74,1% 0,8% 5,7% 31,7% 43,1% 18,7%
Fita cassete 68,0% 3,1% 5,4% 7,8% 32,3% 51,4%
Disco, CD 64,8% 2,8% 6,9% 6,5% 26,4% 57,3%
Slide 62,9% 19,2% — 1,3% 10,7% 68,8%
ocupam o espaço do playground, e pelas ativi-
dades destinadas às brincadeiras livres e orien-
tadas, que variam conforme a faixa etária.
Embora o discurso oficial (planos oficiais) e a
retórica sobre a infância (Bechi, 1994) contem-
plem muito tempo de brincadeira para as crian-
ças,5
a realidade evidenciada pela rotina de
atividades dirigidas parece expulsar o brincar
do cotidiano infantil. Geralmente, há maior
tempo para brincadeiras livres nos parques em
razão das faltas mensais justificadas e abona-
das e da alta rotatividade dos profissionais.
As brincadeiras livres são vistas por alguns
professores como descanso de atividades dirigi-
das e não como forma de socialização e integra-
ção da criança, o que dificulta justificá-las como
parte do projeto pedagógico da escola. Se, para
os professores, o parque serve para a criança
descansar e brincar e a sala de atividades para
estudar e trabalhar, define-se então a função da
educação infantil: estudar. A Escola Municipal
de Educação Infantil (EMEI) configura-se como
escola na denominação, organização do espaço
físico, materiais disponíveis, prática pedagógica
e interação adulto-criança. O modelo da escola-
rização, com suas normas e regras, exerce uma
“violência simbólica” (Biarnés, 1999), desrespei-
tando as necessidades infantis.
A disposição dos equipamentos do play-
ground não prevê o espaço como elemento que
integra o projeto pedagógico e oferece desafio
e exploração. O equipamento separado, em
áreas geralmente cimentadas, possibilita a
execução de apenas uma função, como escor-
regar, subir, descer ou balançar. Os mais com-
plexos, quando disponíveis, ficam isolados,
sem uma configuração espacial que favoreça
desafios e o imaginário, com morros e possi-
bilidades de escalar, descer como tobogã. As
áreas externas são planas, os morros e as irre-
gularidades do terreno são eliminados sob o
pretexto de segurança.
Se o brincar é uma atividade social e
cultural, seu espaço deve ser construído pela
criança. O equipamento por si só não constrói
o espaço do brincar, é a criança, com o auxílio
de elementos fixos ou móveis, que deve cons-
truí-lo (Fryberg, 2000).
Jornais, revistas, recorte e colagem,
palitos, carimbos, adesivos e dobraduras
destinados à manipulação sensorial e à motri-
cidade fina, coerente com a escolarização,
fornam categoria bastante significativa, com
usos que variam de 1 a 4 dias na semana e em
ocasiões especiais (Tabela 7). Materiais como
vidrilhos, purpurina, pregadores para prender
trabalhos dos alunos, material para furar,
trançar, baldes, funil, copinhos para areia,
238 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos...
5. alguns professores chegam a dizer que as crianças,
especialmente as de menor idade, ficam até três horas diárias em
atividades livres.
Tabela 6. Disponibilidade/uso do material organizador de ambientes e instalações fixas
para atividades motoras e de Educação Física.
Itens mais citados Disponível Não-uso
Todos os
dias
4 a 2 dias
da semana
01 dia da
semana
Ocasiões
especiais
Escorregador 89,8% 3,9% 68,4% 22,0% 4,8% 0,9%
Tanque de areia 83,3% 2,1% 65,7% 25,2% 4,5% 2,4%
Gangorra 78,2% 7,6% 64,1% 22,8% 3,4% 2,1%
Gira-gira 63,7% 8,5% 70,0% 18,4% 2,2% 0,9%
Estrut.subir 49,9% 6,2% 73,2% 18,0% 1,5% 1,5%
encontram-se em pelo menos metade das
escolas.
As pastas de trabalhos semestrais produ-
zidos pelas crianças de 4 anos contêm: folhas
de papel com exercícios de escrita do nome do
aluno, desenho livre, poema mimeografado,
colagem com recorte de revistas, folha de papel
com montagem de palito de sorvete, papel e
barbante sobre tema de festa junina, composi-
ção com mistura de tons de guache, cópias de
números, pintura de pirâmide contendo boli-
nhas, destinadas à atividade de matemática,
folha de papel com desenho da gatinha incluin-
do música para pintar. São produções estereo-
tipadas, fragmentadas, de natureza gráfica,
com uso de papel de tamanho padronizado, co-
nhecido como sulfite ou ofício, e, geralmente,
produções individuais, com ausência do tridi-
mensional, realizadas em curto espaço de tem-
po, em decorrência da rotatividade de uso da
salas, em três turnos diários (7h às 11h; 11h
às 15h; e 15h às 19h), o que dificulta a conti-
nuidade da atividade em outros dias.
A disponibilidade de material de comu-
nicação é alta com 80,2% a 96,5% de itens
como quadro-negro, TV, videocassete, to-
ca-fita, gravador, toca-disco de vinil (Tabela
8). Em pelo menos metade das escolas, en-
contram-se quadros murais, amplificadores,
toca-CDs, projetores de slides, microfone, rá-
dio (Kishimoto, 1998b).
É preciso ponderar que tais materiais
são de uso coletivo da escola. Não há uma or-
ganização do espaço físico, com áreas alter-
nativas para uso diário no interior de cada
sala de atividade. O quadro negro integra o
espaço físico de cada sala, com alto percen-
tual de uso diário (87,8%), evidenciando
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 239
Tabela 7. Disponibilidade/uso de materiais para manipulação: experiências sensoriais e de motricidade fina.
Itens mais citados Disponível Não-uso
Todos os
dias
4 a 2 dias
da semana
01 dia da
semana
Ocasiões
especiais
Jornal/revista 88,2% 0,6% 2,5% 24,8% 41,3% 30,7%
Recorte/colagem 77,4% 1,0% 1,7% 36,0 % 39,0% 22,3%
Palito 69,7% 1,5% 0,4% 9,9% 22,5% 65,6%
Carimbo/adesivo 68,8% 4,8% 2,0% 15,5% 24,7% 53,0%
Dobradura 65,0% 0,8% — 15,6% 42,8% 40,9%
Tabela 8. Disponibilidade/uso de equipamentos de veiculação sonora, visual e informatizada.
Itens mais citados Disponível Não-uso
Todos os
dias
4 a 2 dias
da semana
01 dia da
semana
Ocasiões
especiais
Quadro negro 96,5% 0,3% 87,8% 9,2% 0,9% 1,8%
TV 92,5% 2,1% 3,0% 3,6% 34,6% 56,8%
Videocassete 91,2% 0,6% 2,2% 1,9% 36,0% 59,3%
Toca-fita/gravador 87,0% 2,1% 9,3% 11,4% 28,8% 48,4%
Toca-disco vinil 80,2% 8,4% 3,4% 4,2% 14,2% 69,7%
uma concepção de educação infantil que pri-
vilegia a reprodução da escrita em detrimento
de atividades que focalizam experiências com
jogos, artes, ciências, linguagem, livros infan-
tis entre outros. A prática de ver filmes em
vídeo, ouvir histórias e música aparece uma
vez por semana ou em ocasiões especiais.
Algumas unidades infantis contam com sala
ambiente para computadores. Como mediador
do conhecimento, o computador é análogo ao
brinquedo, a qualquer elemento da natureza
ou do mundo cultural. Em instituições infantis
de qualidade, nas salas de atividades, há
espaços integrados, com áreas destinadas à
leitura, faz-de-conta, construções, arte,
comunicação, informática entre outros. Que
razão justifica uma sala com computadores
separada da atividade diária dos alunos? O
computador como um recurso para desenvol-
ver a linguagem e a comunicação não deveria
estar na área da linguagem, ao lado da máqui-
na de escrever, livros, papel, quadro-negro? O
computador é um fim em si mesmo ou meio
para desenvolver a linguagem e a comunica-
ção entre as crianças?
Cenas de vídeo mostram professores
contando histórias para trinta e cinco ou qua-
renta crianças sentadas em uma grande roda.
Muitas perdem o interesse pela impossibilida-
de de visualizar imagens do livro, outras ten-
tam aproximar-se para ver e ouvir e são
repreendidas. A inadequação do espaço físico
para contar histórias dispersa a atenção das
crianças que conversam com colegas ou ten-
tam chegar perto do professor para ver a
imagem do livro, situação que revela a neces-
sidade de reorganização do espaço físico.
Não basta adequar o espaço físico e introdu-
zir materiais, é preciso saber contar histórias
e envolver os alunos. Os cursos de formação
inicial, em nível médio e superior, durante
décadas, não contavam em seus currículos
com Literatura Infantil, Artes Visuais e Plás-
ticas, Teatro, Música, Dança, entre outros,
para formar o profissional de educação in-
fantil. Como exigir competências nessas
áreas, se não se oferece formação compatí-
vel? O olhar pouco diferenciado do coorde-
nador pedagógico, que recebeu formação
similar à dos professores, não possibilita uma
formação continuada que leve à descoberta
de novos olhares (Kishimoto, 1999, 2001). A
adoção de instrumentos para avaliar a práti-
ca pedagógica como os destinados à obser-
vação dos itens: criança, espaço físico,
seleção de materiais, envolvimento de alu-
nos, professores e processos interativos,6
se-
ria um dos caminhos para o coordenador
pedagógico iniciar a avaliação da prática pe-
dagógica em conjunto com os profissionais.
240 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos...
6. Ver a esse respeito as escalas produzidas pelo Projeto Effective
Early Learning, High/Scope, Early Childhood Education Scale
(Oliveira-Formosinho e Formosinho, 2001).
Tabela 9. Disponibilidade/uso de materiais de Artes Visuais/Plásticas para experiências sensoriais e estéticas.
Itens mais citados Disponível Não-uso
Todos os
dias
4 a 2 dias
na semana
01 dia na
semana
Ocasiões
especiais
Papel 94,7% 0,3% 63,0% 31,1% 1,8% 2,7%
Massinha 93,1% 0,6% 3,3% 35,3% 49,2% 11,6%
Guache 90,2% 1,1% 0,3% 10,7% 49,4% 38,4%
Lápis de cor/Giz de cera 90,2% 0,3% 58,9% 32,2% 4,4% 4,2%
Cola, Adesivo 89,2% — 10,6% 50,0% 24,5% 14,9%
Alheios aos problemas da prática peda-
gógica, os cursos de formação dos profissionais
de educação infantil, apenas recentemente,
contemplam informações sobre propostas cur-
riculares (High/Scope, Reggio Emília, Freinet,
Projetos, entre outros), como organizar a roti-
na, o espaço físico, envolver as crianças nas
atividades e avaliar o grau de interação do
profissional com a criança (Oliveira-Formosi-
nho e Formosinho 2001 e Oliveira-Formosinho,
1998).
Entre os materiais de Artes Visuais/Plásti-
cas destacam-se os gráficos (89,2% a 94,7%),
como papel, lápis de cor, giz de cera, massinhas
de modelar, colas e adesivos (Tabela 9). O uso
da maioria dos itens é intenso nas modalidades
todos os dias, 4 a 1 dias na semana, tendo pou-
co percentual em não-uso e ocasiões especiais.
Outros materiais, como papel crepom, cartoli-
na, borracha, papel espelho, pincéis, tesouras,
papel tamanho cartolina, papel cartão, caneta
hidrocor, encontram-se em grande parte das
escolas, com percentuais entre 52% e 87%
(Kishimoto, 1998b).
Se há papéis de diferentes tamanhos e
texturas, por que utilizar diariamente apenas o
sulfite ou ofício? A quantidade e variedade de
materiais não são suficientes para uso intenso,
diário, de trinta a quarenta crianças de cada
sala? A organização da EMEI, o rodízio de
crianças, a relação adulto-criança inadequada
e o fato de os profissionais não receberem in-
formações sobre Artes Visuais e Plásticas nos
cursos de formação inicial e continuada não re-
sultam na baixa diferenciação dos materiais
utilizados e pobreza das atividades propostas
aos alunos?
Inúmeras atividades com uso desses ma-
teriais referendam práticas reprodutivas. Cabe
à criança completar a ação já delineada ou exe-
cutá-la conforme a proposta do professor. Em
geral, em qualquer atividade, a concepção é do
professor e a reprodução, da criança. Na raiz
dessa prática, prevalece a concepção de criança
incapaz de desempenhar atividade de forma
independente (Becchi, 1994) , distinta de ser
humano completo, com potencialidade e au-
tonomia para aprender e se desenvolver, reali-
dade também, denunciada pelo estudos de
Veillard (1996), no Rio de Janeiro.
A análise do conteúdo de entrevistas
com professores demonstra quatro tipos de
brinquedos/materiais que favorecem o lúdico,
considerados importantes, em ordem crescen-
te, mostrando sua compatibilidade com os
dados do inventário:
• tradicionais e motores – barra-manteiga,
lenço-atrás, mãe de rua e varetão, ginca-
nas, balanças, gangorras, brinquedos gran-
des e pneus, bola, corda, bambolê;
• educativos – quebra-cabeça, encaixes, jo-
gos de linguagem matemática, memória,
dominó, baralho, boliche e dados;
• simbólicos – casinhas e brinquedos trazidos
pelos alunos para a brinquedoteca;
• construção – monta-tudo, pino-mágico,
lig-lig (Kishimoto, 1998b, p. 73).
O brinquedos encontram-se em
armários fechados
Em um dos corredores da escola encontramos
inúmeros armários com material que ficam
trancados, a chave fica na sala da coordenado-
ra para facilitar o acesso. A coordenadora fez
questão de nos mostrar o que havia dentro de
cada armário.
Armário 1 – material escolar (borracha, régua,
lápis, apagador e apontador).
Armário 2 – material audiovisual (caixas com
slides).
Armário 3, 4 e 5 – instrumentos musicais de
percussão e bandinha (reco-reco, chocalho,
triângulo, flauta, guiso, coquinho, sino, casta-
nhola, coco) – há em média oito instrumentos
para cada um dos itens (usados geralmente no
fim do ano para fazer bandinha em alguma
apresentação para os pais).
Armário 6 e 7 – livros de literatura infantil
(Cada sala de aula tem seus próprios livros,
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 241
podendo usar, ainda, os que ficam no armário, a
“biblioteca”).
Armário 8 – fantoches feitos pelas próprias pro-
fessoras (cerca de quinze) e bonecos (a coorde-
nadora disse que: “as professoras usam quando
querem chamar a atenção das crianças no come-
ço da aula ou para contar histórias”).
Armário 9 – material de colagem.
Armário 10 e 11 – Brinquedos pedagógicos (jo-
gos de encaixe, lig-lig, blocos lógicos).
(Kishimoto, 1998b, p. 74)
Essa forma de organização dos materiais
é coerente com a estrutura de atendimento de
crianças, em três turnos. A inexistência, no
contrato dos professores, de tempo diário para
planejamento e reorganização de materiais é
outro fator que, somado a uma política pública
de estruturação do espaço físico, sem áreas al-
ternativas, dificulta a inserção do brincar.
Sá (1979), Pinazza (1989), Marson (1989),
Pereira (1997), Veillard (1996), Kishimoto (1998
a, 2001), entre outros, discutem os objetivos das
escolas infantis brasileiras e a presença marcan-
te de atividades destinadas à escrita e ao cálculo
reforçadas pela reivindicação de pais e professo-
res, reiterando os valores da sociedade para a re-
produção dessa prática. Embora os Referenciais
Curriculares de Educação Infantil e as Diretrizes
Curriculares de Educação Infantil assinalem a
brincadeira como um dos eixos da educação in-
fantil e autores adotados em projetos pedagógi-
cos, como Piaget (1978) e Vygotski (1988)
erijam-na como atividade relevante e predomi-
nante na idade infantil, o brincar parece não ter
espaço na rotina das escolas infantis paulista-
nas, exceto em ocasiões especiais, preparadas
com grande esforço da equipe, portanto, sem
continuidade e qualidade, pois a freqüência
pressupõe a qualidade (Nóvoa, 1992; Formosi-
nho, Oliveira-Formosinho, 2001).
Nas salas de atividades, a ausência da
produção infantil, quer nas paredes ou em ou-
tros espaços, mostra a pouca relevância da ex-
pressão infantil e o princípio da estética,
elemento integrante da educação infantil,
anunciado em 1999, pelas Diretrizes Curricu-
lares Nacionais de Educação Infantil.
O brincar requer envolvimento emocio-
nal, contato social, ações físicas, além de rela-
ções cognitivas na expressão e apreensão das
regras da brincadeira (Lima, 1989; Wallon,
1966; Vygotski, 1988). Há professores que, ao
relacionar o movimento à bagunça, adotam
atitudes como obrigar crianças a cantarem
sentadas na cadeira. Em músicas que falam do
corpo e pedem movimentação que exigem a
imobilidade e o silêncio, apontando o contro-
le do corpo, nas senhas para ir ao banheiro, na
convicção de professores de que o brincar é
no parque e na sala é lição. Nas entrevistas, os
professores afirmam que o playground é
espaço para brincadeira e a sala, para estudo e
trabalho.
O brincar associado à Educação Física,
ao descanso, à ação espontaneísta da criança,
ao movimento e à atividade externa (pátio e
parque,) explica o baixo percentual, apenas
2,5% de brincadeiras nas salas de atividades,
demonstrando como os valores dirigem as
práticas pedagógicas (Forquin, 1996; Almqvist,
1994). Apenas 10,5% dos brinquedos e mate-
riais pedagógicos disponíveis nas escolas en-
contram-se nas salas de atividades, o restante
fica nos parques, pátios e outros espaços
(Kishimoto, 1998b, p. 2). As crianças rebe-
lam-se contra a interdição do brincar, nas
constantes fugas, sistematicamente reprimi-
das, em busca de representações simbólicas e
momentos de interação entre pares, brincan-
do debaixo das mesas, enquanto o professor
corrige algum trabalho (Wajskop,1995), esca-
pando à “violência simbólica” (Biarnés, 1999)
a que são submetidas.
A ocupação do espaço físico não é neu-
tra. A forma de construção e a disposição e
uso das salas refletem a expectativa de com-
portamento de seus usuários (Dayrell, 1996;
Fryberg, 2000). O espaço arquitetônico ex-
pressa uma concepção educativa. Mesas com
242 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos...
quatro ou seis cadeiras deveriam facilitar maior
aproximação dos educandos. O que se percebe
é a invariável prática de quatro ou seis crianças
sentadas juntas para desenvolver atividades
isoladas. Não há um projeto coletivo para com-
partilhar. As instituições infantis carecem de
estudos que demonstrem a relação espa-
ço-usuário, já que o espaço leva a formas cria-
tivas de apropriação do prédio, contribuindo
no processo de percepção, análise e transfor-
mação da realidade e, portanto, na construção
do conhecimento (Lima, 1989). Há necessidade
de estudos interdisciplinares, da área da arqui-
tetura e da educação infantil, de modo a aten-
der contextos infantis de qualidade.
Quando há uma adequada estrutura ar-
quitetônica acompanhada de oportunidades
para a transformação e apropriação dos espa-
ços, as crianças constroem conhecimento dan-
do-lhes novos sentidos que moldam sua
sociabilidade (Dayrell, 1996). É ainda a relação
espaço-objeto-usuário que estimula e orienta a
criança, facilitando a exploração. Geralmente,
nas escolas infantis, o único ambiente interno
criado intencionalmente para a livre exploração
de brinquedos é a brinquedoteca,7
disponível
em 10% da rede municipal e pouco utilizada
pelas crianças em razão da dificuldade de ma-
nutenção e substituição dos brinquedos que-
brados. A norma de uso desses espaços – a
preservação dos brinquedos a qualquer custo –
ocasiona a interdição de seu uso. Fato que lem-
bra a realidade medieval, descrita por Umberto
Eco na obra O nome da Rosa: preservar os livros
escondendo-os e matando os curiosos que de-
les se aproximam (Kishimoto, 1998b, p. 82-83).
Transformar o espaço em sala de demonstração
de atividade didática, como sala ambiente em
que a criança tem acesso apenas uma vez por
mês, é outro uso que interdita o brincar. Estu-
dos com crianças menores de 3 ou 4 anos, em
fase de simbolismo intenso, mostram a impor-
tância das áreas de brincadeiras configuradas
em temas para o desenvolvimento da represen-
tação (Theriault, 1987).
São raras as brinquedotecas que funcio-
nam como espaços alternativos para estimular
brincadeiras e formar profissionais, em decor-
rência das dimensões das Escolas de Educação
Infantil, que chegam a dispor de mais de vinte
salas, o que exige a rotatividade de uso desses
espaços pelas crianças. O brincar como um di-
reito da criança é inviabilizado pela estrutura
criada: uma brinquedoteca para cada escola.
Cada sala de atividade deveria comportar, em
seu interior, áreas de brincadeira, incluindo
faz-de-conta, construções e jogos e tempo na
rotina para essa atividade, caso se deseje
respeitar o direito de brincar da criança, fu-
gindo do espontaneísmo ou do jogo educati-
vo (França, 1990).
Divergindo de outros países, o Brasil
introduz a brinquedoteca como alternativa
para dispor de brinquedos, mas acaba des-
truindo a riqueza do lúdico ao transformá-la
em equipamento escolar, em sala ambiente
com pouco uso, como vitrine decorativa ou
espaço para demonstração de atividade di-
dática (Kishimoto,1994, 1995b; Brougère,
1993, 1995).
A arquitetura da escola é o cenário onde
se desenvolve o conjunto das relações peda-
gógicas, um item que amplia ou limita as pos-
sibilidades de um ambiente educativo. Uma
discussão sobre a dimensão arquitetônica é
importante em um projeto de escola que con-
sidere as dimensões socioculturais do proces-
so educativo (Dayrell, 1996; Fryberg, 2000).
É preciso lembrar que o espaço construí-
do pelo homem interfere no processo educati-
vo de quem o produz e de quem o utiliza.
Seria desejável que produtores e usuários
pudessem descobrir seu significado e partici-
par de sua construção e/ou transformação,
situar-se nesse espaço e usá-lo como instru-
mento de sua ação, se possível com elementos
lúdicos e educativos (Lima, 1989).
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 243
7. Sinônimo de ludoteca.
Se o cotidiano das escolas infantis carece
de brinquedos e materiais pedagógicos, cabe
questionar não só as concepções de criança e
de educação infantil, mas se os cursos de for-
mação inicial e continuada têm incluído em
seus currículos a temática do brincar como par-
te da formação profissional. A presença, nos
currículos, de referenciais teóricos que anali-
sam o brincar não é suficiente para alterar a
prática pedagógica (Schön, 1990; Zeichner,
1993), que requer o questionamento das ações
do cotidiano infantil à luz dos quadros teóricos
para reordenar o cotidiano. É necessário anali-
sar o cotidiano dentro de uma pedagogia críti-
ca e ultrapassá-la, buscando uma pedagogia
transformadora. As formações inicial e conti-
nuada devem incluir brincadeiras como estraté-
gias para iniciar as reflexões. É brincando e
pensando sobre o brincar que se adquire cons-
ciência sobre sua importância.
O espaço do brincar no contexto da edu-
cação infantil requer a partilha de concepções
de criança e de educação infantil que valori-
zem a expressão e a socialização desde os cur-
sos de formação inicial e continuada,
retomadas pela equipe da escola, com apoio
da família e da comunidade, dentro de uma
política pública que sustente essa perspectiva.
Tais orientações moldam o projeto pedagógi-
co, gerando espaços para a estruturação de
ambientes de livre exploração, no qual o brin-
car pode ter lugar concomitante a outros, ne-
cessários para a educação da criança pequena.
A marca privilegiada da expressão gráfi-
ca no cotidiano infantil decorrente da ausência
de outras linguagens, como a simbólica e a ar-
tística, a motricidade vista como atividade
externa e descanso do espírito, a rotina da ins-
tituição infantil carente de alternativas para a
criança e o brincar na perspectiva espontaneís-
ta e didática, indicam que as Escolas Munici-
pais de Educação Infantil têm como foco
conteúdos escolares, marginalizando a sociali-
zação e a expressão de crianças de 4 a 6 anos.
244 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos...
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Yves Bonin. Paris: Retz, 1996.
Recebido em 04.10.01
Aprovado em 05.12.01
Tizuko Morchida Kishimoto é professora titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, coordenadora do
Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos e do Museu da Educação e do Brinquedo e docente e pesquisadora em
educação infantil.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 245
CADWELL, Louise Boyd. Bringing Reggio Emilia Home. New York: Teachers College, Columbia University, 1997.
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Brinquedos e materiais pedagógicos: concepções e usos na educação infantil

  • 1. Brinquedos e materiais pedagógicos nas escolas infantis Tizuko Morchida Kishimoto Universidade de São Paulo Resumo A identificação dos brinquedos e materiais pedagógicos e a ca- racterização de usos e significações para profissionais de edu- cação infantil de São Paulo, que atuam com crianças de 4 a 6 anos, justificaram uma pesquisa tipo survey, acompanhada de recursos etnográficos (entrevistas, observações, vídeos), no pe- ríodo de 1996/1998. Estudos mostram que, dentro de uma instituição infantil, a or- ganização da rotina, o espaço físico, seus objetos e materiais educativos influenciam os usuários na representação, determi- nando, em parte, a maneira como adultos e crianças sentem, pensam e interagem nesse espaço, definindo formas de sociali- zação e apropriação da cultura. Pretendeu-se diagnosticar, pela triangulação de informações de entrevista, observações e vídeos, as razões para escolha e uso de determinados brinquedos e ma- teriais pedagógicos. Os resultados indicam que a educação infantil da rede pesqui- sada apresenta concepções de criança – destituídas de autono- mia – e de educação infantil voltadas para aquisição de conteú- dos específicos. Os brinquedos e materiais pedagógicos mais significativos são os chamados educativos, materiais gráficos, de comunicação nas salas; e os de educação física, para o espa- ço externo. Brinquedos que estimulam o simbolismo e a sociali- zação, como jogos de faz-de-conta, construção e socialização, aparecem com percentuais insignificantes, apontando o pouco valor da representação simbólica e do brincar. Palavras-chave Brinquedos – Materiais pedagógicos – Educação infantil – Cultura escolar. Correspondência: Tizuko M. Kishimoto Faculdade de Educação (EDM) – USP Av. da Universidade, 308 – Bl. A 05508-900 – São Paulo – SP e-mail: tmkishim@usp.br Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 229
  • 2. Toys and pedagogical materials at schools for children Tizuko Morchida Kishimoto Universidade de São Paulo Abstract The importance of toys and pedagogical materials, their use and signification for professionals in child education working with 4-6 year olds, justified a survey-like research study that took place between 1996 and 1998, and which was accompanied by ethnographic resources. Authors such as Brougère, Nóvoa, Forquin, and Oliveira- Formosinho made clear that the organization of routine, physical space, objects, and educational materials within a school for children influence its users’ representations, determining in part the manner in which adults and children feel, think, and interact in this space, defining forms of socialization and appropriation of culture. The present work intended to diagnose, through data collection, interviews and observations, the conceptions underlying the choice and use of toys and pedagogical materials. The results indicate that child education in the school network investigated demonstrates conceptions of children with no autonomy and the acquisition of contents as the objective of child education. The classroom emerges as the workplace, and the playground as the ludic space. It is the model of basic education that prevails in the physical space, routine, selection of materials, and in the adult-child interaction. In accordance with the perspective of schooling, the most significant toys and pedagogical materials are the so-called educational materials, graphical, and communication materials for the classroom, and the physical education materials for the external space. Toys that stimulate symbolism and socialization, such as games of pretending, building, and socialization appear in insignificant percentage, pointing to the little value given to symbolic representation and to playing. Keywords Toys – Pedagogical materials – Child education – School culture. Correspondence: Tizuko M. Kishimoto Faculdade de Educação (EDM) – USP Av. da Universidade, 308 – Bl. A 05508-900 – São Paulo – SP e-mail: tmkishim@usp.br 230 Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001
  • 3. Pesquisar brinquedos e materiais peda- gógicos nas escolas infantis implica investigar as concepções de criança e de educação infantil que definem o uso desses recursos (Therriault, 1987), a organização da rotina e do espaço físi- co (Edwards, Gandini e Forman, 1999) entre outros. Tais quesitos influenciam as represen- tações dos usuários, determinando, em parte, a maneira como adultos e crianças sentem, pen- sam e interagem definindo formas de socializa- ção e apropriação da cultura. Forquin (1996) e Apple (1982, 1979) res- saltam que a escola dispõe de uma cultura pró- pria, resultado de ideologias que refletem valores da sociedade. Portanto, investigar valo- res que orientam a escolha de brinquedos e ma- teriais pedagógicos implica buscar as raízes que explicam os usos e significações de tais recur- sos na prática pedagógica. Uma das hipóteses é a de que concepções de criança e de educação infantil estão na base desses valores. No contexto atual da educação infantil os brinquedos têm dois usos com significações distintas: educadores que valorizam a sociali- zação adotam o brincar livre, e os que visam à escolarização ou aquisição de conteúdos esco- lares, o brincar dirigido e os jogos educativos. Adotou-se nessa pesquisa os conceitos de: 1. brinquedo como objeto, suporte da brin- cadeira; e 2. brincar, como ação lúdica iniciada pela criança tendo motivação intrínseca (Brougère, 1995a, 1995b; Kishimoto, 1996). A pesquisa, parte do projeto Capes/Cofe- cub nº 197/96,1 foi realizada nas Escolas Muni- cipais de Educação Infantil de São Paulo (EMEIs) freqüentadas por crianças de 4 a 6 anos durante o período de 1996-1998. Uma parte dos resultados do trabalho foi incorpora- da a este artigo.2 Delimitação do campo de pesquisa A rede municipal de educação infantil de São Paulo foi escolhida para a realização da pesquisa. Definiu-se uma amostra de 20% das escolas municipais de educação infantil por meio de sorteio. Em 1997, a rede contava com 375 unidades infantis distribuídas em treze delegacias regionais, com cerca de 7.114 pro- fessores atuando em três períodos (7h às 11h; 11h às 15h e 15h às 19h). A grande maioria das escolas situava-se na periferia, cuja clientela era de nível socioe- conômico heterogêneo e desfavorecido. Para a manutenção dos materiais, a es- cola recebia, do município, um mínimo anual de R$ 7.500,00 e um máximo de R$ 12.500,00, o que representa um valor de R$ 0,60 a R$ 21,30 para cada criança. Os recursos, pouco significativos para aquisição de materiais didá- ticos, eram acrescidos de outras fontes prove- nientes de quermesses, festas e doações. Metodologia de pesquisa A pesquisa contou com a colaboração de dez bolsistas de iniciação científica da FAPESP, Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 231 1. Projeto Capes/Cofecub n. 197/96 (Coordenação de Aperfeiçoa- mento de Pessoal de Nível Superior e o Programa de Cooperação Internacional entre França e Brasil ), sob o título: Recursos e Materiais educativos disponíveis no sistema formal de educação no Brasil e na França: usos e significações em uma perspectiva comparativa, consi- derado proposta excelente, envolveu doze pesquisadores brasileiros e quatro franceses. Trabalho coletivo da Faculdade de Educação da USP e da Universidade Paris 13, efetuado durante quatro anos (1996-2000) junto à rede infantil do Município de São Paulo e contou com o apoio financeiro da Fundação para o Apoio à Pesquisa em São Paulo e inúme- ros pesquisadores e bolsistas de iniciação científica (FAPESP e CNPq). 2. Ver outros artigos da autora que tratam desta pesquisa: Toys and Pedagogical Materials: Uses and Meagnings. In: THE 2ND INTERNATIONAL TOY RESEARCH CONFERENCE. 1999, Halmstad- Sweden. Abstracts. 1999, p.35-36; Salas de aulas nas escolas infantis e o uso de brinquedos e materiais pedagógicos. In: 23º REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 2000. Caxambu: Minas Gerais, 2000. Educação não é privi- légio. Programas e Resumos. 24 a 28 de setembro de 2000. Caxambu/ Rio de Janeiro: DP&A editora, 2000. p.133-133; BROUGÈRE, Gilles; ALMQVIST, Birgitta; KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Preséntation d’une enquête international sur le materiel ludique dans les systemes presco- laire. In: COLLOQUE INTERNATIONAL SUR LE JOUET, Angoulême- France. 9-14 novembre 1997. Université Poitiers. Resumés, p.9-14 A; Salas de aulas de escolas infantis: domínio da fila, tempo de espera e falta de autonomia da criança. Nuances, Presidente Prudente, v.5, n.5, p.1-7, 1999.
  • 4. dois do CNPq e quinze alunos de pós-graduação latu senso e strictu senso. Foi essencial para essa tarefa: a oferta de três cursos3 para subsi- diá-los na aquisição de referencial teóri- co-metodológico para a condução da pesquisa; o acompanhamento semanal com reuniões; a utilização de câmaras de vídeo e aprendizagem de processos de minutagem (foram contratados serviços de especialistas da Escola de Comunica- ções e Artes para o treinamento dos alunos em filmagens); contatos com o estatístico para aná- lise de gráficos e tabelas; e a exigência de parti- cipação em Simpósios de Iniciação Científica e atividades previstas no cronograma voltadas para o saber/fazer da pesquisa. Professores colaboradores do Projeto Ca- pes/Cofecub: Helena Chamlian, Manoel Orios- valdo de Moura, Maria Felisminda de Rezende e Fusari e Mauro Gomes de Matos discutiram com os pesquisadores o significado de brinque- dos e materiais pedagógicos em campos como os das Artes, da Educação Física e Matemática. A coleta de dados foi realizada com o uso de questionário estruturado, entrevistas se- mi-estruturadas e vídeos. O questionário (Brougère, 1991, 1993), utilizado em pesquisa similar nas escolas ma- ternais francesas, adaptado após pré-teste, contém oito categorias de brinquedos e mate- riais: 1. atividades simbólicas; 2. agrupamento, reconstituição de imagens; 3. construção; 4. manipulação; 5. regras; 6. pedagógicos de Ma- temática, História, Geografia, Linguagem, Ciências; 7. comunicação; e 8. motricidade e educação física. O instrumento prevê, ainda, categorias para analisar as formas de utiliza- ção: não-uso; uso um dia , de 2 a 4 dias, todos os dias e ocasiões especiais. Tendo em vista os objetivos da pesquisa, foi acrescentado o item Materiais Pedagógicos. O questionário, bastan- te detalhado, inclui em cada categoria uma lis- tagem de brinquedos com cerca de cinco a vinte e quatro itens e foi preenchido pelos pro- fessores e coordenadores pedagógicos, em mui- tos casos, com o auxílio dos pesquisadores. Foram distribuídos em média nove ques- tionários para cada unidade sorteada contem- plando os professores que atuam nas faixas etárias de 4, 5 e 6 anos, nos três períodos de trabalho. A devolução tardia dos questionários preenchidos pelas unidades (até meados de ju- nho/98) foi outro entrave que retardou a análi- se estatística e exigiu a prorrogação do trabalho dos bolsistas por mais um semestre. Do total das escolas sorteadas (84 esco- las), foram devolvidos 482 questionários dos 704 distribuídos, representando uma amostra de 65%, num universo de 20% das EMEIs da cidade de São Paulo (Quadro 1). As observações semanais de atividades lúdicas, a produção de vídeos e as entrevistas foram realizadas no segundo semestre de 1997, em treze unidades contemplando-se o critério da diversidade para representar o uni- verso da pesquisa. A análise qualitativa teve como suporte os diários de bordo, resultado de observações, os episódios transcritos e mi- nutados nas sessões de duas a três horas de vídeos (autorizadas pela secretaria e pelos professores) e o conteúdo das entrevistas, classificado conforme critérios de Bardin. A equipe de vinte e sete pesquisadores entrevistou professores, colheu observações das práticas pedagógicas nas atividades vincu- ladas a brincadeiras, em vídeos e fotografias e subsidiou a análise de usos e significações. Uma amostra de treze vídeos foi produzida em treze instituições infantis, selecionada de modo a incluir as especificidades da rede: dimensão da escola, número de alunos, locali- zação, áreas como parque, biblioteca e brin- 232 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos... 3. O Curso Jogo e Cultura I discutiu conceitos de jogo, brinquedo, brincadeira e material pedagógico e sua relação com a educação infantil, dando uma iniciação aos referenciais teóricos. O Curso Jogo e Cultura II analisou os referenciais teóricos relacionados à cultura, ao significado da qualidade da educação infantil, às discussões dos Parâmetros Curriculares de Educação Infantil e à presença da brincadeira na escola.O Curso Jogo e Cultura III ofereceu informações complementares sobre condução de pesquisa etnográfica e análise de dados coletados dentro do quadro de referência proposto.
  • 5. quedoteca, grau de conservação, entre outros. As entrevistas semi-estruturadas foram gravadas nas 13 instituições, contendo concepções dos professores sobre criança, educação infantil e o lúdico como atividade dirigida ou livre. A análise quantitativa descrita na Tabela 1 indica os brinquedos e materiais pedagógicos mais disponíveis nas escolas pesquisadas. Para garantir a fidedignidade dos dados, em decorrên- cia da variação da quantidade de itens, nas cate- gorias, o percentual que indica a disponibilidade de brinquedos foi calculado utilizando-se apenas os cinco itens mais citados pelos professores em cada subcategoria. Outros dados quantitativos do estudo contemplam situações de uso de brin- quedos nas cinco modalidades citadas: não-uso, uso todos os dias, 1 dia, de 2 a 4 dias e ocasiões especiais, os quais serviram para a compreensão da situação da prática pedagógica. Análise dos resultados da disponibilidade dos brinquedos A tabela 1 dá uma visão geral da dispo- nibilidade dos brinquedos e materiais peda- gógicos indicando que as categorias com percentual acima de 50% pertencem ao cam- po do jogo educativo (destinado à aquisição de conteúdos e desenvolvimento de habilida- des), às artes gráficas, evidenciadas pelo desenho, escrita e cálculo, ao desenvolvimen- to da motricidade fina e manipulação, à co- municação e educação física. Itens com maior percentual: Artes Visuais/ Plásticas (91,48%); comunicação (89,48%); manipulação (73,82%); organizador de am- bientes e instalações fixas de Educação Física (72,98%); veiculação sonora, visual, audio- visual, informatizada (72,12%); Música Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 233 Quadro 1. Demonstrativo do preenchimento do questionário. DREM Quantidade de escolas sorteadas Nº questionários distribuídos Nº questionários que retornaram % 1 7 63 49 77,7% 2 12 108 68 62,96% 3 5 45 40 88,88% 4 5 45 34 75,5% 5 6 54 27 50% 6 7 63 56 88,88% 7 7 63 62 98,41% 8 5 45 27 60% 9 6 54 27 50% 10 5 45 15 33,33% 11 3 27 17 69,96% 12 7 63 15 23,80% 13 3 27 18 66,66% Total 84 704 482 65%
  • 6. (65,8%); manipulação, locomoção e equilíbrio para Educação Física (55,42%); agrupamento, reconstituição de imagens (54,66%). Itens menos citados: jogos de regras com predomínio para aprendizagem de matemática (45,04%), jogos de regras com predomínio para aprendizagem em língua materna (39,38%), atividades simbólicas em dimensão infantil (35,74%); reproduzir o mundo, em miniatura, (30,76%); encaixes (29,44%); materiais peda- gógicos de Matemática, História, Geografia, Linguagem, Ciências (28,25%); atividades de construção, superposição ou justaposição (27,02); fantasias, dramatizações, danças (22,05%); marionetes, bonecos para ficção, dramatizações (20,42%); jogos de socializa- ção, parceria em grupos (17,25%); aprendiza- gem de outros conhecimentos (10,45%); agrupamentos com peças de junção com pa- rafusos, etc. (4,42%). Os brinquedos e materiais destinados às atividades simbólicas, de construção e sociali- zação da criança, são os menos privilegiados, com percentuais de 4% a 35%. Entre os jogos de regras destinados à aquisição de conhe- cimentos, destacam-se os de Matemática 234 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos... Tabela 1. Disponibilidade de brinquedos e materiais pedagógicos. Subcategorias Disponível 1. Brinquedos, materiais para agrupamentos com peças de junção (parafusos, etc). 4,42% 2. Jogos de regras com predomínio para aprendizagem de outros conhecimentos. 10,45% 3. Jogos de regras com predomínio em socialização, parceria em grupos. 17,25% 4. Marionetes, bonecos para ficção, dramatizações. 20,42% 5. Materiais para fantasias, dramatizações, danças. 22,05% 6. Brinquedos, materiais para atividades de construção, superposição ou justaposição. 27,02% 7. Materiais pedagógicos de Matemática, História, Geografia, Linguagem, Ciências. 28,25% 8. Brinquedos, materiais com sistema de encaixes. 29,44% 9. Brinquedos em miniatura reproduzindo o mundo. 30,76% 10. Brinquedos – atividade simbólica-dimensão infantil. 35,74% 11. Jogos de regras com predomínio para aprendizagem em língua materna. 39,38% 12. Jogos de regras com predomínio para aprendizagem de Matemática. 45,04% 13. Brinquedos, materiais para atividades de agrupamento, reconstituição de imagens. 54,66% 14. Material de manipulação, locomoção e equilíbrio para atividades motoras e de Educação Física. 55,42% 15. Materiais de Música para experiências sensoriais, estéticas. 65,8% 19. Materiais de comunicação via veículos visuais, sonoros, audiovisuais, informatizados. 72,12% 17. Material organizador de ambientes e instalações fixas para atividades motoras e de Educação Física. 72,98% 18. Materiais para manipulação: experiências sensoriais e de motricidade fina. 73.82% 19. Equipamentos para veiculação sonora, visual, audiovisual, informatizada. 89,48% 20. Materiais de Artes Visuais/Plásticas para experiências sensoriais, estéticas. 91,48%
  • 7. (45,04%) e Língua Portuguesa (39,38%), sendo pouco significativos os destinados às outras áreas do conhecimento (10,45%). Os materiais pedagógicos de Matemática, História, Geogra- fia, Linguagem e Ciências têm pouca presença (28,25%). A baixa disponibilidade de materiais e jogos relacionados aos conteúdos escolares mostra que, mesmo adotando posturas favorá- veis à escolarização, o uso de materiais concre- tos é pouco significativo. Segundo Nóvoa (1992), se a estrutura fí- sica e material revela valores assumidos pela or- ganização escolar, pode-se inferir que a função simbólica, a criatividade e a socialização da criança são pouco relevantes nas escolas pesquisadas, dada a pequena participação de brinquedos de natureza simbólica, de constru- ção e destinados à socialização, no acervo das unidades. Neste artigo, pretende-se compreender as razões que levam as escolas a ter poucos brinque- dos simbólicos e de construção e maior quantida- de nas categorias vinculadas ao jogo educativo, artes gráficas, motricidade fina, manipulação, comunicação e Educação Física, tentando desve- lar a imagem de criança e a concepção de educa- ção infantil nos usos de tais recursos. Brinquedos e materiais mais citados Quebra-cabeça, encaixe e mosaico têm uso mais intenso nas três modalidades: 4 a 2 dias, 1 dia e ocasiões especiais (Tabela 2). Considerada “pedagógica” ou “didática”, essa categoria propõe a aprendizagem de conteú- dos específicos. Embora disponíveis na gran- de maioria das instituições infantis, em decorrência do modelo adultocêntrico, expo- sitivo e verbalista, característico do ensino fundamental, que prevalece também na edu- cação infantil, tais brinquedos têm usos ina- dequados. Observações da rotina reiteram a prática de oferecê-los quando as crianças ter- minam as tarefas como ocupação de tempo li- vre, demonstrando que os professores, apesar de valorizá-los como pedagógicos, geralmen- te não sabem o que fazer com tais objetos. Os quebra-cabeças são sempre os mesmos, não havendo diferenciação para atender níveis de dificuldades, variando de quantidade e tama- nho de peças conforme a faixa etária, compe- tências e interesses das crianças. Não seriam os valores relacionados às funções pedagógi- cas dos quebra-cabeças e encaixes quanto às possibilidades de adquirir noções de par- te-todo, percepção de cores, formas, habili- dades motoras finas para encaixes e a preocupação em escolarizar4 mais rapidamen- te a criança as razões dessa escolha? Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 235 Tabela 2. Disponibilidade/uso de brinquedos, materiais para atividades de agrupamento, reconstituição de imagens. Itens mais citados Disponível Não-uso Todos os dias 4 a 2 dias na semana 01 dia na semana Ocasiões especiais Quebra-cabeça 84,5% 8,1% 1,6% 20,6% 47,7% 22,1% Encaixe 81,1% 3,1% 8,1% 37,6% 42,2% 9,0% Mosaico 68,0% 11,6% 0,4% 13,1% 44,0% 30,9% Outros 22,0% 11,6% 2,1% 17,9% 35,8% 32,6% Cubo 17,7 1,6% 6,5% 19,4% 53,2% 19,4% 4. Termo utilizado para denominara introdução de leitura, escrita e cálculo por meio de procedimentos inadequados sem valorizar as experiências infantis.
  • 8. No caso das atividades motoras e de Edu- cação Física (Tabela 3), os itens mais citados são bolas de borracha (82,9%), bambolês (61,1%), que existem em mais da metade das escolas infantis e que são usados mais freqüen- temente em ocasiões especiais e em um dia na semana. Outros materiais como petecas, bolas de tecido, bolas de futebol, bastões para corrida, argolas, cordinhas para cavalgar são citados por 10% a 20% dos professores. Mesmo a bola de borracha, um dos brinquedos mais tradicionais da cultura brasileira, tem uso diá- rio pouco significativo (12,3%) (Kishimoto, 1998b). Os itens destinados às brincadeiras tradi- cionais, embora valorizados em documentos oficiais, acabam tendo presença pouco signifi- cativa nas unidades infantis (Kishimoto, 1992, 1993, 1998b; Canholato et al., 1990; Filguei- ras, 1998). É significativo o percentual de instru- mentos de percussão, na área de Música, o que poderia configurar sua valorização (Tabela 4). O alto percentual desses materiais (mais de 59,5%) nem sempre significa sua incorporação ao cotidiano. A análise da forma de uso mostra o predomínio de ”ocasiões especiais”, o que significa “de vez em quando”. Se considerar- mos o chocalho: 23,2% não o utilizam e 68,3% utilizam-no em ocasiões especiais, concluímos que o total de 91,5% de professores deixam de usar sistematicamente tal item. O mesmo ocor- re com o triângulo e o reco-reco. Normalmente um terço dos professores respondem que não usam tais recursos e o restante, apenas em ocasiões especiais, nas festas de fim de ano ou 236 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos... Tabela 3. Disponibilidade/uso do material de manipulação, locomoção e equilíbrio para atividades motoras e de Educação Física. Itens mais citados Disponível Não-uso Todos os dias 4 a 2 dias da semana 01 dia da semana Ocasiões especiais Bola borracha 82,9% 5,5% 12,3% 27,0% 34,1% 21,2% Aro, bambolê 61,1% 11,1% 2,3% 6,0% 33,6% 47,0% Corda p/grupo 48,3% 11,5% 0,6% 7,3% 30,9% 49,7% Boliche 43,0% 11,3% — 2,0% 34,4% 52,3% Cordinha 41,8% 6,8% 3,4% 11,5% 39,2% 39,2% Tabela 4. Disponibilidade/uso de materiais de Música para experiências sensoriais, estéticas. Itens mais citados Disponível Não-uso Todos os dias 4 a 2 dias na semana 01 dia na semana ocasiões especiais Disco 71,7% 1,8% 7,9% 15,2% 26,7% 48,4% Fita cassete 70,7% 1,1% 8,9% 13,4% 29,7% 46,8% Chocalho 65,0% 23,2% 0,4% 0,4% 7,6% 68,3% Triângulo 62,1% 24,0% 0,5% 0,5% 4,6% 70,5% Reco-reco 59,5% 24,8% — — 6,8% 68,5%
  • 9. em alguma comemoração como o Dia das Mães, o que explica por que algumas crianças, que já estão há quase dois anos na escola, dizem que é a primeira vez que usam instrumentos musicais (Kishimoto, 1998b, p. 24). É alto o percentual de livros e histórias infantis disponível (62,9% a 90,8%) nas escolas pesquisadas. Em relação aos usos: todos os dias (16,3%), 4 a 2 dias da semana (45,7%), 1 dia da semana (28,2%) e ocasiões especiais (8,6%) (Tabela 5). As observações etnográficas e a análise do acervo de livros demonstram a falta de obras sobre a cultura brasileira, de contos que falem sobre nosso povo e seus hábitos, a fauna e a flora, dados que revelam a pouca inserção da escola infantil em nossa cultura. Ocorre um “confinamento cultural” da criança (Perrotti, 1990), que impede a exploração do amplo am- biente externo que dá validade à inserção na cultura (Bruner, 1996). Basta constatar a au- sência de Monteiro Lobato, autor que ilustra, para o público infantil, os personagens brasilei- ros e suas brincadeiras. Geralmente, os livros encontram-se em armários fechados, em estantes altas, inacessí- veis às crianças, ou na biblioteca, pouco fre- qüentada em razão da falta de uma rotina que facilite o acesso a seu acervo. As revistas servem como recursos para alfabetização, com recortes de letras, em situações isoladas, descontextuali- zadas de propostas criadas pelas crianças. A adoção de projetos (Edwards, Gandini e Forman, 1999; Cadwell 1997; Katz e Chard, 1997) como estratégia de organização do tra- balho infantil permanece como retórica, em decorrência das condições de trabalho: a rela- ção de um adulto para trinta a quarenta crian- ças inviabiliza a saída de pequenos grupos para a pesquisa de temas do projeto; dificul- dades de ordem material e financeira; falta de continuidade do trabalho pela inexistência de tempo diário de planejamento e acompanha- mento das atividades nos contratos dos pro- fissionais e uso intenso das salas, em três turnos diários. Os equipamentos fixos mais comuns utilizados todos os dias no playground: es- corregadores (68,4%), tanques de areia (65,7%), gangorras (64,1%), gira-giras (70,0%), estruturas para subir (73,2%) e tú- neis (Tabela 6). Se somarmos às outras cate- gorias(4 a 2 dias, 1 dia e ocasiões especiais), constata-se que tais equipamentos têm uso diário. Túneis, formas vazadas, pistas de ama- relinha, colchonetes, balanços, quadras poli- esportivas encontram-se em 22% a 49% das escolas (Kishimoto, 1998b), o que se explica pela existência de parques ou playgrounds em quase todas as unidades infantis. O alto índice de uso diário é justificado pelo horário de recreio em que todas as crian- ças, pelo menos durante vinte minutos, Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 237 Tabela 5. Disponibilidade/uso de materiais de comunicação via veículos visuais, sonoros, audiovisuais, informáticos. Itens mais citados Disponível Não-uso Todos os dias 4-2 dias semana 01 dia da semana Ocasiões especiais Livro estória 90,8% 1,2 % 16,3% 45,7% 28,2% 8,6% Revista gibis 74,1% 0,8% 5,7% 31,7% 43,1% 18,7% Fita cassete 68,0% 3,1% 5,4% 7,8% 32,3% 51,4% Disco, CD 64,8% 2,8% 6,9% 6,5% 26,4% 57,3% Slide 62,9% 19,2% — 1,3% 10,7% 68,8%
  • 10. ocupam o espaço do playground, e pelas ativi- dades destinadas às brincadeiras livres e orien- tadas, que variam conforme a faixa etária. Embora o discurso oficial (planos oficiais) e a retórica sobre a infância (Bechi, 1994) contem- plem muito tempo de brincadeira para as crian- ças,5 a realidade evidenciada pela rotina de atividades dirigidas parece expulsar o brincar do cotidiano infantil. Geralmente, há maior tempo para brincadeiras livres nos parques em razão das faltas mensais justificadas e abona- das e da alta rotatividade dos profissionais. As brincadeiras livres são vistas por alguns professores como descanso de atividades dirigi- das e não como forma de socialização e integra- ção da criança, o que dificulta justificá-las como parte do projeto pedagógico da escola. Se, para os professores, o parque serve para a criança descansar e brincar e a sala de atividades para estudar e trabalhar, define-se então a função da educação infantil: estudar. A Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) configura-se como escola na denominação, organização do espaço físico, materiais disponíveis, prática pedagógica e interação adulto-criança. O modelo da escola- rização, com suas normas e regras, exerce uma “violência simbólica” (Biarnés, 1999), desrespei- tando as necessidades infantis. A disposição dos equipamentos do play- ground não prevê o espaço como elemento que integra o projeto pedagógico e oferece desafio e exploração. O equipamento separado, em áreas geralmente cimentadas, possibilita a execução de apenas uma função, como escor- regar, subir, descer ou balançar. Os mais com- plexos, quando disponíveis, ficam isolados, sem uma configuração espacial que favoreça desafios e o imaginário, com morros e possi- bilidades de escalar, descer como tobogã. As áreas externas são planas, os morros e as irre- gularidades do terreno são eliminados sob o pretexto de segurança. Se o brincar é uma atividade social e cultural, seu espaço deve ser construído pela criança. O equipamento por si só não constrói o espaço do brincar, é a criança, com o auxílio de elementos fixos ou móveis, que deve cons- truí-lo (Fryberg, 2000). Jornais, revistas, recorte e colagem, palitos, carimbos, adesivos e dobraduras destinados à manipulação sensorial e à motri- cidade fina, coerente com a escolarização, fornam categoria bastante significativa, com usos que variam de 1 a 4 dias na semana e em ocasiões especiais (Tabela 7). Materiais como vidrilhos, purpurina, pregadores para prender trabalhos dos alunos, material para furar, trançar, baldes, funil, copinhos para areia, 238 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos... 5. alguns professores chegam a dizer que as crianças, especialmente as de menor idade, ficam até três horas diárias em atividades livres. Tabela 6. Disponibilidade/uso do material organizador de ambientes e instalações fixas para atividades motoras e de Educação Física. Itens mais citados Disponível Não-uso Todos os dias 4 a 2 dias da semana 01 dia da semana Ocasiões especiais Escorregador 89,8% 3,9% 68,4% 22,0% 4,8% 0,9% Tanque de areia 83,3% 2,1% 65,7% 25,2% 4,5% 2,4% Gangorra 78,2% 7,6% 64,1% 22,8% 3,4% 2,1% Gira-gira 63,7% 8,5% 70,0% 18,4% 2,2% 0,9% Estrut.subir 49,9% 6,2% 73,2% 18,0% 1,5% 1,5%
  • 11. encontram-se em pelo menos metade das escolas. As pastas de trabalhos semestrais produ- zidos pelas crianças de 4 anos contêm: folhas de papel com exercícios de escrita do nome do aluno, desenho livre, poema mimeografado, colagem com recorte de revistas, folha de papel com montagem de palito de sorvete, papel e barbante sobre tema de festa junina, composi- ção com mistura de tons de guache, cópias de números, pintura de pirâmide contendo boli- nhas, destinadas à atividade de matemática, folha de papel com desenho da gatinha incluin- do música para pintar. São produções estereo- tipadas, fragmentadas, de natureza gráfica, com uso de papel de tamanho padronizado, co- nhecido como sulfite ou ofício, e, geralmente, produções individuais, com ausência do tridi- mensional, realizadas em curto espaço de tem- po, em decorrência da rotatividade de uso da salas, em três turnos diários (7h às 11h; 11h às 15h; e 15h às 19h), o que dificulta a conti- nuidade da atividade em outros dias. A disponibilidade de material de comu- nicação é alta com 80,2% a 96,5% de itens como quadro-negro, TV, videocassete, to- ca-fita, gravador, toca-disco de vinil (Tabela 8). Em pelo menos metade das escolas, en- contram-se quadros murais, amplificadores, toca-CDs, projetores de slides, microfone, rá- dio (Kishimoto, 1998b). É preciso ponderar que tais materiais são de uso coletivo da escola. Não há uma or- ganização do espaço físico, com áreas alter- nativas para uso diário no interior de cada sala de atividade. O quadro negro integra o espaço físico de cada sala, com alto percen- tual de uso diário (87,8%), evidenciando Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 239 Tabela 7. Disponibilidade/uso de materiais para manipulação: experiências sensoriais e de motricidade fina. Itens mais citados Disponível Não-uso Todos os dias 4 a 2 dias da semana 01 dia da semana Ocasiões especiais Jornal/revista 88,2% 0,6% 2,5% 24,8% 41,3% 30,7% Recorte/colagem 77,4% 1,0% 1,7% 36,0 % 39,0% 22,3% Palito 69,7% 1,5% 0,4% 9,9% 22,5% 65,6% Carimbo/adesivo 68,8% 4,8% 2,0% 15,5% 24,7% 53,0% Dobradura 65,0% 0,8% — 15,6% 42,8% 40,9% Tabela 8. Disponibilidade/uso de equipamentos de veiculação sonora, visual e informatizada. Itens mais citados Disponível Não-uso Todos os dias 4 a 2 dias da semana 01 dia da semana Ocasiões especiais Quadro negro 96,5% 0,3% 87,8% 9,2% 0,9% 1,8% TV 92,5% 2,1% 3,0% 3,6% 34,6% 56,8% Videocassete 91,2% 0,6% 2,2% 1,9% 36,0% 59,3% Toca-fita/gravador 87,0% 2,1% 9,3% 11,4% 28,8% 48,4% Toca-disco vinil 80,2% 8,4% 3,4% 4,2% 14,2% 69,7%
  • 12. uma concepção de educação infantil que pri- vilegia a reprodução da escrita em detrimento de atividades que focalizam experiências com jogos, artes, ciências, linguagem, livros infan- tis entre outros. A prática de ver filmes em vídeo, ouvir histórias e música aparece uma vez por semana ou em ocasiões especiais. Algumas unidades infantis contam com sala ambiente para computadores. Como mediador do conhecimento, o computador é análogo ao brinquedo, a qualquer elemento da natureza ou do mundo cultural. Em instituições infantis de qualidade, nas salas de atividades, há espaços integrados, com áreas destinadas à leitura, faz-de-conta, construções, arte, comunicação, informática entre outros. Que razão justifica uma sala com computadores separada da atividade diária dos alunos? O computador como um recurso para desenvol- ver a linguagem e a comunicação não deveria estar na área da linguagem, ao lado da máqui- na de escrever, livros, papel, quadro-negro? O computador é um fim em si mesmo ou meio para desenvolver a linguagem e a comunica- ção entre as crianças? Cenas de vídeo mostram professores contando histórias para trinta e cinco ou qua- renta crianças sentadas em uma grande roda. Muitas perdem o interesse pela impossibilida- de de visualizar imagens do livro, outras ten- tam aproximar-se para ver e ouvir e são repreendidas. A inadequação do espaço físico para contar histórias dispersa a atenção das crianças que conversam com colegas ou ten- tam chegar perto do professor para ver a imagem do livro, situação que revela a neces- sidade de reorganização do espaço físico. Não basta adequar o espaço físico e introdu- zir materiais, é preciso saber contar histórias e envolver os alunos. Os cursos de formação inicial, em nível médio e superior, durante décadas, não contavam em seus currículos com Literatura Infantil, Artes Visuais e Plás- ticas, Teatro, Música, Dança, entre outros, para formar o profissional de educação in- fantil. Como exigir competências nessas áreas, se não se oferece formação compatí- vel? O olhar pouco diferenciado do coorde- nador pedagógico, que recebeu formação similar à dos professores, não possibilita uma formação continuada que leve à descoberta de novos olhares (Kishimoto, 1999, 2001). A adoção de instrumentos para avaliar a práti- ca pedagógica como os destinados à obser- vação dos itens: criança, espaço físico, seleção de materiais, envolvimento de alu- nos, professores e processos interativos,6 se- ria um dos caminhos para o coordenador pedagógico iniciar a avaliação da prática pe- dagógica em conjunto com os profissionais. 240 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos... 6. Ver a esse respeito as escalas produzidas pelo Projeto Effective Early Learning, High/Scope, Early Childhood Education Scale (Oliveira-Formosinho e Formosinho, 2001). Tabela 9. Disponibilidade/uso de materiais de Artes Visuais/Plásticas para experiências sensoriais e estéticas. Itens mais citados Disponível Não-uso Todos os dias 4 a 2 dias na semana 01 dia na semana Ocasiões especiais Papel 94,7% 0,3% 63,0% 31,1% 1,8% 2,7% Massinha 93,1% 0,6% 3,3% 35,3% 49,2% 11,6% Guache 90,2% 1,1% 0,3% 10,7% 49,4% 38,4% Lápis de cor/Giz de cera 90,2% 0,3% 58,9% 32,2% 4,4% 4,2% Cola, Adesivo 89,2% — 10,6% 50,0% 24,5% 14,9%
  • 13. Alheios aos problemas da prática peda- gógica, os cursos de formação dos profissionais de educação infantil, apenas recentemente, contemplam informações sobre propostas cur- riculares (High/Scope, Reggio Emília, Freinet, Projetos, entre outros), como organizar a roti- na, o espaço físico, envolver as crianças nas atividades e avaliar o grau de interação do profissional com a criança (Oliveira-Formosi- nho e Formosinho 2001 e Oliveira-Formosinho, 1998). Entre os materiais de Artes Visuais/Plásti- cas destacam-se os gráficos (89,2% a 94,7%), como papel, lápis de cor, giz de cera, massinhas de modelar, colas e adesivos (Tabela 9). O uso da maioria dos itens é intenso nas modalidades todos os dias, 4 a 1 dias na semana, tendo pou- co percentual em não-uso e ocasiões especiais. Outros materiais, como papel crepom, cartoli- na, borracha, papel espelho, pincéis, tesouras, papel tamanho cartolina, papel cartão, caneta hidrocor, encontram-se em grande parte das escolas, com percentuais entre 52% e 87% (Kishimoto, 1998b). Se há papéis de diferentes tamanhos e texturas, por que utilizar diariamente apenas o sulfite ou ofício? A quantidade e variedade de materiais não são suficientes para uso intenso, diário, de trinta a quarenta crianças de cada sala? A organização da EMEI, o rodízio de crianças, a relação adulto-criança inadequada e o fato de os profissionais não receberem in- formações sobre Artes Visuais e Plásticas nos cursos de formação inicial e continuada não re- sultam na baixa diferenciação dos materiais utilizados e pobreza das atividades propostas aos alunos? Inúmeras atividades com uso desses ma- teriais referendam práticas reprodutivas. Cabe à criança completar a ação já delineada ou exe- cutá-la conforme a proposta do professor. Em geral, em qualquer atividade, a concepção é do professor e a reprodução, da criança. Na raiz dessa prática, prevalece a concepção de criança incapaz de desempenhar atividade de forma independente (Becchi, 1994) , distinta de ser humano completo, com potencialidade e au- tonomia para aprender e se desenvolver, reali- dade também, denunciada pelo estudos de Veillard (1996), no Rio de Janeiro. A análise do conteúdo de entrevistas com professores demonstra quatro tipos de brinquedos/materiais que favorecem o lúdico, considerados importantes, em ordem crescen- te, mostrando sua compatibilidade com os dados do inventário: • tradicionais e motores – barra-manteiga, lenço-atrás, mãe de rua e varetão, ginca- nas, balanças, gangorras, brinquedos gran- des e pneus, bola, corda, bambolê; • educativos – quebra-cabeça, encaixes, jo- gos de linguagem matemática, memória, dominó, baralho, boliche e dados; • simbólicos – casinhas e brinquedos trazidos pelos alunos para a brinquedoteca; • construção – monta-tudo, pino-mágico, lig-lig (Kishimoto, 1998b, p. 73). O brinquedos encontram-se em armários fechados Em um dos corredores da escola encontramos inúmeros armários com material que ficam trancados, a chave fica na sala da coordenado- ra para facilitar o acesso. A coordenadora fez questão de nos mostrar o que havia dentro de cada armário. Armário 1 – material escolar (borracha, régua, lápis, apagador e apontador). Armário 2 – material audiovisual (caixas com slides). Armário 3, 4 e 5 – instrumentos musicais de percussão e bandinha (reco-reco, chocalho, triângulo, flauta, guiso, coquinho, sino, casta- nhola, coco) – há em média oito instrumentos para cada um dos itens (usados geralmente no fim do ano para fazer bandinha em alguma apresentação para os pais). Armário 6 e 7 – livros de literatura infantil (Cada sala de aula tem seus próprios livros, Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 241
  • 14. podendo usar, ainda, os que ficam no armário, a “biblioteca”). Armário 8 – fantoches feitos pelas próprias pro- fessoras (cerca de quinze) e bonecos (a coorde- nadora disse que: “as professoras usam quando querem chamar a atenção das crianças no come- ço da aula ou para contar histórias”). Armário 9 – material de colagem. Armário 10 e 11 – Brinquedos pedagógicos (jo- gos de encaixe, lig-lig, blocos lógicos). (Kishimoto, 1998b, p. 74) Essa forma de organização dos materiais é coerente com a estrutura de atendimento de crianças, em três turnos. A inexistência, no contrato dos professores, de tempo diário para planejamento e reorganização de materiais é outro fator que, somado a uma política pública de estruturação do espaço físico, sem áreas al- ternativas, dificulta a inserção do brincar. Sá (1979), Pinazza (1989), Marson (1989), Pereira (1997), Veillard (1996), Kishimoto (1998 a, 2001), entre outros, discutem os objetivos das escolas infantis brasileiras e a presença marcan- te de atividades destinadas à escrita e ao cálculo reforçadas pela reivindicação de pais e professo- res, reiterando os valores da sociedade para a re- produção dessa prática. Embora os Referenciais Curriculares de Educação Infantil e as Diretrizes Curriculares de Educação Infantil assinalem a brincadeira como um dos eixos da educação in- fantil e autores adotados em projetos pedagógi- cos, como Piaget (1978) e Vygotski (1988) erijam-na como atividade relevante e predomi- nante na idade infantil, o brincar parece não ter espaço na rotina das escolas infantis paulista- nas, exceto em ocasiões especiais, preparadas com grande esforço da equipe, portanto, sem continuidade e qualidade, pois a freqüência pressupõe a qualidade (Nóvoa, 1992; Formosi- nho, Oliveira-Formosinho, 2001). Nas salas de atividades, a ausência da produção infantil, quer nas paredes ou em ou- tros espaços, mostra a pouca relevância da ex- pressão infantil e o princípio da estética, elemento integrante da educação infantil, anunciado em 1999, pelas Diretrizes Curricu- lares Nacionais de Educação Infantil. O brincar requer envolvimento emocio- nal, contato social, ações físicas, além de rela- ções cognitivas na expressão e apreensão das regras da brincadeira (Lima, 1989; Wallon, 1966; Vygotski, 1988). Há professores que, ao relacionar o movimento à bagunça, adotam atitudes como obrigar crianças a cantarem sentadas na cadeira. Em músicas que falam do corpo e pedem movimentação que exigem a imobilidade e o silêncio, apontando o contro- le do corpo, nas senhas para ir ao banheiro, na convicção de professores de que o brincar é no parque e na sala é lição. Nas entrevistas, os professores afirmam que o playground é espaço para brincadeira e a sala, para estudo e trabalho. O brincar associado à Educação Física, ao descanso, à ação espontaneísta da criança, ao movimento e à atividade externa (pátio e parque,) explica o baixo percentual, apenas 2,5% de brincadeiras nas salas de atividades, demonstrando como os valores dirigem as práticas pedagógicas (Forquin, 1996; Almqvist, 1994). Apenas 10,5% dos brinquedos e mate- riais pedagógicos disponíveis nas escolas en- contram-se nas salas de atividades, o restante fica nos parques, pátios e outros espaços (Kishimoto, 1998b, p. 2). As crianças rebe- lam-se contra a interdição do brincar, nas constantes fugas, sistematicamente reprimi- das, em busca de representações simbólicas e momentos de interação entre pares, brincan- do debaixo das mesas, enquanto o professor corrige algum trabalho (Wajskop,1995), esca- pando à “violência simbólica” (Biarnés, 1999) a que são submetidas. A ocupação do espaço físico não é neu- tra. A forma de construção e a disposição e uso das salas refletem a expectativa de com- portamento de seus usuários (Dayrell, 1996; Fryberg, 2000). O espaço arquitetônico ex- pressa uma concepção educativa. Mesas com 242 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos...
  • 15. quatro ou seis cadeiras deveriam facilitar maior aproximação dos educandos. O que se percebe é a invariável prática de quatro ou seis crianças sentadas juntas para desenvolver atividades isoladas. Não há um projeto coletivo para com- partilhar. As instituições infantis carecem de estudos que demonstrem a relação espa- ço-usuário, já que o espaço leva a formas cria- tivas de apropriação do prédio, contribuindo no processo de percepção, análise e transfor- mação da realidade e, portanto, na construção do conhecimento (Lima, 1989). Há necessidade de estudos interdisciplinares, da área da arqui- tetura e da educação infantil, de modo a aten- der contextos infantis de qualidade. Quando há uma adequada estrutura ar- quitetônica acompanhada de oportunidades para a transformação e apropriação dos espa- ços, as crianças constroem conhecimento dan- do-lhes novos sentidos que moldam sua sociabilidade (Dayrell, 1996). É ainda a relação espaço-objeto-usuário que estimula e orienta a criança, facilitando a exploração. Geralmente, nas escolas infantis, o único ambiente interno criado intencionalmente para a livre exploração de brinquedos é a brinquedoteca,7 disponível em 10% da rede municipal e pouco utilizada pelas crianças em razão da dificuldade de ma- nutenção e substituição dos brinquedos que- brados. A norma de uso desses espaços – a preservação dos brinquedos a qualquer custo – ocasiona a interdição de seu uso. Fato que lem- bra a realidade medieval, descrita por Umberto Eco na obra O nome da Rosa: preservar os livros escondendo-os e matando os curiosos que de- les se aproximam (Kishimoto, 1998b, p. 82-83). Transformar o espaço em sala de demonstração de atividade didática, como sala ambiente em que a criança tem acesso apenas uma vez por mês, é outro uso que interdita o brincar. Estu- dos com crianças menores de 3 ou 4 anos, em fase de simbolismo intenso, mostram a impor- tância das áreas de brincadeiras configuradas em temas para o desenvolvimento da represen- tação (Theriault, 1987). São raras as brinquedotecas que funcio- nam como espaços alternativos para estimular brincadeiras e formar profissionais, em decor- rência das dimensões das Escolas de Educação Infantil, que chegam a dispor de mais de vinte salas, o que exige a rotatividade de uso desses espaços pelas crianças. O brincar como um di- reito da criança é inviabilizado pela estrutura criada: uma brinquedoteca para cada escola. Cada sala de atividade deveria comportar, em seu interior, áreas de brincadeira, incluindo faz-de-conta, construções e jogos e tempo na rotina para essa atividade, caso se deseje respeitar o direito de brincar da criança, fu- gindo do espontaneísmo ou do jogo educati- vo (França, 1990). Divergindo de outros países, o Brasil introduz a brinquedoteca como alternativa para dispor de brinquedos, mas acaba des- truindo a riqueza do lúdico ao transformá-la em equipamento escolar, em sala ambiente com pouco uso, como vitrine decorativa ou espaço para demonstração de atividade di- dática (Kishimoto,1994, 1995b; Brougère, 1993, 1995). A arquitetura da escola é o cenário onde se desenvolve o conjunto das relações peda- gógicas, um item que amplia ou limita as pos- sibilidades de um ambiente educativo. Uma discussão sobre a dimensão arquitetônica é importante em um projeto de escola que con- sidere as dimensões socioculturais do proces- so educativo (Dayrell, 1996; Fryberg, 2000). É preciso lembrar que o espaço construí- do pelo homem interfere no processo educati- vo de quem o produz e de quem o utiliza. Seria desejável que produtores e usuários pudessem descobrir seu significado e partici- par de sua construção e/ou transformação, situar-se nesse espaço e usá-lo como instru- mento de sua ação, se possível com elementos lúdicos e educativos (Lima, 1989). Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 243 7. Sinônimo de ludoteca.
  • 16. Se o cotidiano das escolas infantis carece de brinquedos e materiais pedagógicos, cabe questionar não só as concepções de criança e de educação infantil, mas se os cursos de for- mação inicial e continuada têm incluído em seus currículos a temática do brincar como par- te da formação profissional. A presença, nos currículos, de referenciais teóricos que anali- sam o brincar não é suficiente para alterar a prática pedagógica (Schön, 1990; Zeichner, 1993), que requer o questionamento das ações do cotidiano infantil à luz dos quadros teóricos para reordenar o cotidiano. É necessário anali- sar o cotidiano dentro de uma pedagogia críti- ca e ultrapassá-la, buscando uma pedagogia transformadora. As formações inicial e conti- nuada devem incluir brincadeiras como estraté- gias para iniciar as reflexões. É brincando e pensando sobre o brincar que se adquire cons- ciência sobre sua importância. O espaço do brincar no contexto da edu- cação infantil requer a partilha de concepções de criança e de educação infantil que valori- zem a expressão e a socialização desde os cur- sos de formação inicial e continuada, retomadas pela equipe da escola, com apoio da família e da comunidade, dentro de uma política pública que sustente essa perspectiva. Tais orientações moldam o projeto pedagógi- co, gerando espaços para a estruturação de ambientes de livre exploração, no qual o brin- car pode ter lugar concomitante a outros, ne- cessários para a educação da criança pequena. A marca privilegiada da expressão gráfi- ca no cotidiano infantil decorrente da ausência de outras linguagens, como a simbólica e a ar- tística, a motricidade vista como atividade externa e descanso do espírito, a rotina da ins- tituição infantil carente de alternativas para a criança e o brincar na perspectiva espontaneís- ta e didática, indicam que as Escolas Munici- pais de Educação Infantil têm como foco conteúdos escolares, marginalizando a sociali- zação e a expressão de crianças de 4 a 6 anos. 244 Tizuko Morchida KISHIMOTO. Brinquedos e materiais pedagógicos... Referências bibliográficas ALMQVIST, Birgita. Approaching the culture of toys in swedish child care - A literature survey and a toy inventory. Ypsala: Acta Universitatis Upsaliensis, 1994. APPLE, M. W. (Ed.) Cultural and economic reproduction in education: essays on class, ideology and state, Londres: Routledge & Kegan Paul, 1982. ________. Ideology and Curriculum. Boston: Routledge & Kegan Paul, 1979. BECHI Egle. Retórica da infância. Trad. de Ana Gomes. Perspectiva, Florianópolis: UFSC/CED, NUP, n. 22, p. 63-95. 1994. BIARNÈS, Jean. Universalité, diversité, sujet dans l’ espace pédagogique. Paris: L’Harmattan, 1999. BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 1995a (Coleção questões da nossa época, v. 43). ________. Jeu et Education. Paris: L´Harmattan, 1995 b. ________. La signification d’un environnement ludique – l’école maternelle à travers son matériel ludique. In: Actes du Premier Congrès d’Actualité de la Recherche en Éducation et Formation. AECSE: Paris - CNAM, tome 2, p. 314-319. 1993. ________. Jeu et materiel ludique a l´école maternelle. DESS en Sciences du Jeu (1990-91) sous la responsabilité de Gilles Brougère. Department des Sciences du Jeu. Unversité Paris-Nord. 1991. BRUNER, J.S. L’éducation entré dans la culture. Les problèmes de l’école à la lumière de la psychologie culturelle. Trad. Yves Bonin. Paris: Retz, 1996.
  • 17. Recebido em 04.10.01 Aprovado em 05.12.01 Tizuko Morchida Kishimoto é professora titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, coordenadora do Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos e do Museu da Educação e do Brinquedo e docente e pesquisadora em educação infantil. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.229-245, jul./dez. 2001 245 CADWELL, Louise Boyd. Bringing Reggio Emilia Home. New York: Teachers College, Columbia University, 1997. CANHOLATO, Maria Conceição; HUET, Bernard; AMOROSO, Cristina, TOZZI, Devanil. Diagnóstico da pré-escola no Estado de São Paulo - 1988. São Paulo: FDE, 1990. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil . RESOLUÇÃO CEB Nº 1, de 7 de abril de 1999. DAIRELL, Juarez (org.). Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996. FILGUEIRAS, Isabel Porto. Espaços lúdicos ao ar livre na educação infantil. São Paulo; 1998. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação da USP. FORQUIN, Jean-Claude. École et culture. Le point de vue des sociologues britanniques. 2 a ed., Belguium: De Boeck & Larcier, 1996. FRANÇA, Gisela Wajskop. Tia, me deixa brincar: o espaço do jogo na educação pré-escolar. São Paulo; 1990. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. FRYBERGER, Adriana. O espaço do brincar. S. Paulo; 2000. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. KATS, Lilian e CHARD, Sylvia. A abordagem de projeto na Educação de Infância. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos Tradicionais Infantis. 8 volumes. São Paulo: Fapesp/Feusp. 1992. ________. Jogos Tradicionais Infantis. Petrópolis: Vozes.1993. ________. Ludoteca in Brasile. Infanzia. Bologna, Itália, n. 1, p. 51-52. set. 1994. ________. Brinquedoteca. Espaço do brincar estimula a criatividade e a socialização. Amae Educando, Belo Horizonte, n. 250, p. 13-15, 1995. ________. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e Educação. São Paulo: Cortez, 1996. ________. Escolarização e brincadeira na educação infantil. In. SOUZA, Cynthia Pereira de (org.) História da Educação. Processos:práticas e saberes. São Paulo: Editora Escrituras, 1998a. p. 123-138. ________. Relatório Final da Pesquisa: Brinquedos e Brincadeiras na Educação Infantil: usos e significações. São Paulo: Fapesp, 1998b. ________. Política de formação profissional para a educação infantil: Pedagogia e Normal Superior. Educação & Sociedade, Campinas, Cedes, n. 68/especial, p.61-79, 1999. ________. Educação Infantil Integrando Pré-Escolas e Creches na Busca da Socialização da Criança. In: Brasil 500 anos: Tópicas em história da educação. VIDAL, Diana Gonçalves e HILSDORF, Maria Lúcia Spedo (orgs.), São Paulo: Edusp, 2001, p.225-240. LIMA, Mayumi. A cidade e a criança: São Paulo: Nobel, 1989.