1. FUKUSHIMA, Tikashi (1920). Nascido em Fukushima(Japão). Muito jovem, foi desenhista
numa fábrica de aviões em
sua cidade natal. Sentindo a aproximação da guerra, mudou-se para o Brasil em 1940,
radicando-se inicialmente em Lins, onde, como Mabe - a quem conheceu nessa ocasião -
trabalha como lavrador, ensaiando, nas horas de folga, os primeiros tímidos passos na arte da
pintura. Em 1946 muda-se para o Rio de Janeiro, tornando-se aluno de Tadashi Kaminagai,
que exercerá forte influência sobre os começos de sua pintura. Voltando a São Paulo, monta
em 1948 uma oficina de molduras no Largo Guanabara, à qual acorrem pouco a pouco artistas
de tendências afins. Surgirá assim, em 1948, o Grupo Guanabara, aglutinado em torno a
Fukushima e formado por pintores como Takaoka, Tamaki, Handa, Tanaka, Suzuki, Higaki,
Massuda e Mori, mais Arcangelo Ianelli, Alzira Pecorari e outros. De 1950 até 1959 o Grupo
Guanabara realizou cinco exposições, deixando de existir nesse último ano, e pondo fim a uma
tendência gregária que se manifestara na arte brasileira na década de 1930.
Fukushima participou de coletivas como a Bienal de São Paulo (1951 a 1969), o Salão
Nacional de Arte Moderna (1952 a 1966; prêmio de viagem ao Brasil em 1963) e o Salão
Paulista de Arte Moderna (1958 a 1962; pequena medalha de prata em 1958, grande medalha
de prata em 1959, pequena medalha de ouro em 1960 e prêmio Governador do Estado em
1962), além de tomar parte, muitas vezes, em salões estaduais como os de Belo Horizonte e
Curitiba, nos salões anualmente organizados pelo Grupo Seibi (1958, medalha de ouro) e ainda
em manifestações como a Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia, em 1966, e, no exterior,
a Bienal de Tóquio de 1963, a exposição Arte Latino-Americana no Museu Guggenheim de
Nova Iorque em 1965, a mostra Pintura Nipo-Brasileira Atual em Washington, Oakland e
Tóquio em 1965, a itinerante Grandes Mestres do Abstracionismo Brasileiro, que entre 1984 e
1985 foi levada a várias cidades européias e norte-americanas, etc. Quanto a individuais,
desde 1961, quando expôs no Museu de Arte Moderna de São Paulo, vem expondo com
freqüência em São Paulo, e mais raramente em outras cidades do país.
Sua pintura, a partir de primícias pós-impressionistas, foi adquirindo em começos da década de
1950 uma estruturação maior, sob a influência dos postulados cubistas. Por volta de 1957,
porém, Fukushima adere ao abstracionismo informal (do qual seria um dos mais típicos
representantes no Brasil), apaixonado pelos efeitos de matéria que iriam caracterizar doravante
toda a sua produção. A tal respeito, vale a pena transcrever o que sobre ele escreveu Mario
Pedrosa, em 1961:
- Para ele a matéria é tudo, o resto, nada. Nesse sentido, não há pintor mais clara e
simpaticamente hedonista do que ele. Ama a pintura, e com que amor! porque ama a matéria,
que na sensibilidade oriental só pode ser bela, já que é a matriz generosa, embora
contraditória, da vida.
Os efeitos texturais, espargidos a espátula em largos gestos sobre o suporte, combinam-se a
efeitos admiráveis de cor para, gradativamente, darem vida a uma série de massas que
parecem brotadas de dentro da tela, "uma vida nova que jamais existiu nesse mundo", como se
expressou o pintor ele mesmo. Paisagens abstratizadas em que os tons dourados, pretos,
vermelhos, verdes e azuis parecem cantar, essa pintura de Fukushima evoca sem dúvida, sob
roupagens ocidentais contemporâneas, a antiquíssima arte tradicional nipônica, representando
portanto uma síntese de Oriente e Ocidente, de Antigo e de Novo a ponto de sobre ela ter-se
assim externado Walter Zanini, em 1966:
- Reconhecemos na diafanidade de sua matéria eterizada as tradições figurativas da arte
japonesa, como os célebres e aristocráticos fusuma da Época Momoyama.
Vento e mar, óleo s/ tela, 1960;
1,09 X 1,35, Museu de Arte Contemporânea da USP.
Premier regard, óleo s/ tela, 1969;
1,30 X 1,95, coleção particular.