1. Clínica Psicanalítica:
manejo e subjetivações na contemporaneidade
Tema:
Neurose obsessiva e transtorno afetivo bipolar
ALEXANDRE
SIMÕES
Coordenação Alexandre Simões
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autor
reservados.
2. Novos sintomas ou
sintomas apresentados
sob uma nova forma
Lacan, argumenta que estamos passando, nas últimas
décadas, por uma significativa mudança na lógica dos
discursos:
esta é uma forma de dizer que o laço
social muda e o lugar do Outro: o mundo que nos fala e de
onde nós
falamos, mudam também.
3. De forma mais homogênea, até a metade do século
passado, os ideais funcionavam amplamente como
moderadores do modo de gozar de cada sujeito
4. Neste
século, os ideais já não
predominam no ordenamento
dos discursos
e, portanto, nas nossas
relações com o outro (o
semelhante, o corpo, o
limite, o sintoma, etc.), o
que é diferente de dizer que
eles tenham desaparecido
Há uma face do objeto a que está cada
vez mais em evidência.
5. No lugar
do ideal que tempera o gozo, vemos
uma multiplicidade de
ideais distintos que produzem
identificações subjetivas
transitórias e precárias
6. Fragmento clínico:
Um homem, com aproximadamente 45 anos de
idade, me é indicado por um colega psiquiatra
por conta de algumas situações que, desde esta
perspectiva, receberam o diagnóstico de
Transtorno Afetivo Bipolar (TAB).
Do ponto de vista meramente descritivo, o
paciente apresentava claramente algumas
manifestações sintomáticas que facilmente se
adequavam aos critérios demarcadores do TAB:
havia, ao longo de sua vida, mais de um episódio
de alternância entre os momentos de um humor
mais depressivo e as situações de elevação do
mesmo, chegando quase à hiperexcitabilidade.
7. Quando tomado por uma situação de maior
desânimo e apatia, sua maneira de pensar, agir e
sentir sofriam as repercussões, tornando-se mais
lentificada. Igualmente, quando imbuído de maior
excitabilidade no seu dia-a-dia, o pensamento, as
ações e o modo de se relacionar com o mundo
tornavam-se mais intensos e acelerados.
Como é de se esperar, estas alternâncias acabavam por
envolver sua esposa e dois filhos, fazendo com que a vida
familiar tivesse seus altos e baixos ao comando das elevações
e rebaixamentos do humor do pai.
8. O que era bem nítido na situação de oscilação do
afeto descrita pelo paciente como uma
característica já instalada ao longo de sua vida -
mas, certamente, bem mais exacerbada nas tramas
do discurso psiquiátrico - restringia-se a um
sentimento bastante íntimo de ora estar bem
consigo mesmo, ora estar mal.
9. Ou seja, mais do que grandes
comportamentos orquestrados por um
humor elevado ou depreciado e instalado nas
relações de objeto, o paciente apontava para
uma sensação de alternância entre o „estar
bem‟ e o „estar mal‟.
E isto se dava apesar de suas
conquistas, pois ele se via, do ponto de vista
material, como um homem bem-sucedido.
Ele e sua esposa eram empresários, com
trajetórias de trabalho já firmadas desde a
adolescência.
10. Vale fazer aqui um parêntese e indicar
que, atualmente, a categoria clínica nomeada
Transtorno Afetivo Bipolar está tão difundida
entre os pacientes adultos (vindo, ao que tudo
indica, a superar a apresentação da Síndrome de
Pânico), na mesma proporção que o TDAH está
alastrada na infância.
Não devemos, junto da Psicanálise, perder de vista o
posicionamento do sujeito em seu modo de gozo.
Frequentemente, isto há de ser construído, não só ao lado da
demarcação sindrômica do diagnóstico mas, para-além desta
demarcação.
Isto, quando não se faz necessário até mesmo ir na contramão
deste raciocínio sindrômico baseado em evidências.
11. Na nossa atualidade, é perfeitamente
possível
que toda uma gama de sujeitos histéricos
e obsessivos sejam apreendidos dentro
do espectro bipolar.
E mais: é esperado que eles próprios se
prendam a isto.
12. Atitudes relacionadas a compras e gastos excessivos -
este modo um tanto quanto típico de se expandir em
consonância com o mercado - não eram tão manifestas
neste paciente.
A excitabilidade, neste caso, apresentava-se com mais
nitidez por meio de dois aspectos: o uso de álcool e a
atividade sexual.
13. O intenso chamado sexual que este homem encarnava fez com
que ele realizasse uma „pesquisa‟, como assim nomeou: iniciou
uma temporada de inquérito de todos os homens com quem
tinha alguma forma de amizade (incluindo aqui os conhecidos
mais recentes): na roda de conversa, na festa, no encontro
fortuito, ele queria saber destes homens como que se
manifestava neles a excitação sexual, pois ele acreditava
(sobretudo por conta dos frequentes desencontros que isto
gerava entre ele e sua esposa) que havia um „a-mais‟, um
„excesso‟ com ele.
14. A frequência com que ele se mostrava excitado diante de
sua esposa, o número de vezes ao longo da semana em
que ele a procurava para fazerem sexo e - um fato
chamativo neste paciente - a insaciabilidade eram
marcas, ao ver do paciente, que justificavam a
comparação dele com os outros homens.
15. Basicamente, ele aborda estes outros homens com
uma indagação fálica: “o que eu tenho, vocês
também têm?”.
Por mais de uma vez, assim que este homem
terminava de fazer sexo com sua esposa (e esta
excitabilidade também envolvia, em alguns
momentos, outras mulheres), ele precisava de manter
a atividade sexual (e normalmente sua esposa
recusava) ou se masturbar.
E na conversa com seus amigos, o que era para estes
uma dádiva, mostrava-se para ele como uma situação
de prazer que sempre esbarrava no mal-estar e, junto
deste, no enigma.
16. Quanto ao uso do álcool:
Seguia uma trajetória
um tanto quanto
semelhante ao circuito
da excitação sexual.
Tanto que a alteração
de uma via, ao longo da
análise, foi
concomitante à
modificação da outra.
17. O que é importante ressaltar é a
instalação, para-além da demarcação
sindrômica do TAB, de uma nítida problemática
obsessiva neste paciente
18. A Clínica Psicanalítica
pode, atualmente, oferecer
outras vias a estes sujeitos?
Como operar com o
gozo que se impõe ao
nosso tempo?
19. Por nossa posição de
sujeito somos sempre
responsáveis
Jacques Lacan, A Ciência e a Verdade,
(in: Escritos), p.873
20. Prosseguiremos com o tema:
Neurose obsessiva e transtorno da ansiedade generalizada
Até lá!
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