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Gerard J.M. Van den Aardweg
Homossexualidade e Esperança
Traduzido de HOMOSEXUALIDAD Y ESPERANZA - TERAPIA Y CURACIÓN EN LA EXPERIENCIA DE UN PSICÓLOGO
GERARD J.M. VAN DEN AARDWEG
ÍNDICE
INTRODUÇÃO................................................................................................................................03
CAPÍTULO 1: Atitudes sociais a respeito da homossexualidade....................................................06
CAPÍTULO 2: O que é ser homossexual?..............................................................................…......09
CAPÍTULO 3: A homossexualidade é inata?............................................................................…...14
CAPÍTULO 4: A homossexualidade como transtorno psíquico.................................................…..22
CAPÍTULO 5: O complexo de inferioridade homossexual..............................................................26
CAPÍTULO 6: Origem e mecanismos do complexo homossexual..................................................35
CAPÍTULO 7: Manifestações do complexo homossexual...............................................................42
CAPÍTULO 8: O caminho da mudança............................................................................................45
CAPÍTULO 9: A mudança sem psicoterapia....................................................................................52
CAPÍTULO 10: Os efeitos da terapia anti queixa.......................................................................….59
CAPÍTULO 11: A prevenção da homossexualidade........................................................................66
BIBLIOGRAFIA..............................................................................................................................67
NOTAS………………………………………………………………..………………………....….68
3
INTRODUÇÃO
por
PAUL C. VITZ
Nenhum aspecto da revolução sexual contemporânea mereceu mais destaque e provocou
mais polêmica que a homossexualidade. Há vários anos somos bombardeados por argumentos de
ambas as partes. De um lado, o movimento homossexual extremista, com exigências de tolerância e
aceitação. Do outro, (atualmente com menor expressão pública), estão aqueles que rejeitam
absolutamente o problema homossexual e não estão dispostos a encará-lo de modo algum.
No entanto, os aspectos mais importantes da homossexualidade não têm sido discutidos de
forma adequada. Entre eles, a investigação das causas e o exame das possibilidades de mudança
tanto no comportamento como na orientação homossexual. Atualmente, ao fim de muitos anos de
controvérsia exagerada, existe um desejo de se se chegar a alguma conclusão. Em parte, isto se
deve a uma mudança na forma como a opinião pública encara o problema. O movimento
homossexual extremista dos anos 60/70 começou claramente a recuar. Muito embora o público
tenha sido despertado para o tema da homossexualidade, passou também a abandonar a imensa
simpatia que nutria anteriormente pelo movimento homossexual.
Os próprios homossexuais começaram a pensar duas vezes na questão, refletindo melhor o
seu estilo de vida. A crise da AIDS evidenciou algumas das consequências da atitude “gay”
militante e completamente desinibida. Porém, este fenômeno relacionado com a AIDS é apenas
parte de uma tomada de consciência mais ampla, entre os homossexuais, pessoas em geral, de que o
estilo de vida homossexual, mesmo independentemente de qualquer consequência para a saúde, tem
se mostrado altamente nocivo para muitas pessoas.
Resumindo, julgo que atualmente é possível, na cultura norte-americana e ocidental, dar
início a uma reflexão racional, critica, porém simpática da homossexualidade. Por isso, a
publicação deste livro de Gerard Van den Aardweg, Homossexualidade e Esperança, ocorre em um
momento particularmente oportuno. O problema pode ser sintetizado assim: por um lado, temos
todas as razões para nutrir simpatia e preocupação com aquele que possui sentimentos
homossexuais, reconhecendo a realidade da sua situação. Não podemos ignorar essas pessoas, nem
pedir simplesmente uma mudança de comportamento. Portanto, aceitamos o problema homossexual
como importante e real, sem menosprezá-lo de nenhuma forma.
Por outro lado, vêm surgindo, nas últimas décadas, muitos estudos relevantes sobre as
origens da homossexualidade. Alguns demonstram claramente que a homossexualidade pode ser e
já tem sido de fato mudada. As referências bibliográficas pioneiras apontando nesta direção já
foram bem conhecidas e aceitas. Contudo, em consequência do movimento homossexual militante,
este ponto de vista foi posto de lado nos últimos 10 ou 15 anos e ficou restrito a uma posição
minoritária no campo da psicologia. O Prof., Van den Aardweg mostra o valor desta investigação e
das pesquisas mais recentes, insistindo na necessidade de olharmos para esses dados. Isto já é por si
só uma conquista importante. Mas, além disso, aceitando que a homossexualidade é um problema
sério, ele apresenta uma estratégia psicológica para abordá-lo. Com isso o Dr. Van de Aardweg situa
a homossexualidade em um novo contexto: a esperança de cura.
Qual é a importância dessa esperança? Afinal, muitos homossexuais parecem estar
interessados na total aceitação da sua forma de viver como intrinsecamente válida. Neste particular,
me parece que a realidade é clara. Um grande número de homossexuais está francamente
4
insatisfeito com a sua forma de vida. Quando descobrem que são homossexuais, quase todos eles se
sentem abatidos e deprimidos. O estilo de vida homossexual alimenta enormes quantidades de
remorso, e não sentimento neurótico de culpa (embora, estou convencido, também há algo neste
sentido), mas verdadeiro remorso: remorso por causa da promiscuidade sexual, remorso pelas
contínuas mentiras acerca de relações de amor eterno que se rompem em poucas semanas, às vezes
dias ou horas. Este remorso, juntamente com as esperanças frustradas acerca da vida homossexual,
pesa seriamente sobre muitos homossexuais. A esperança que aqui se propõe é a esperança de se
libertar de todos estes comportamentos, pensamentos e emoções, extremamente dolorosos.
Um quadro conceitual da cura também nos fornece uma perspectiva muito mais racional
para compreender o problema da homossexualidade e lidar com ele. Nos últimos anos, aprendemos
muito acerca de variadas condições psicológicas que perturbam e debilitam muitas pessoas. Temos
agora consciência dos milhões de pessoas que sofrem ou sofreram por situações como o alcoolismo,
obsessão de jogo, abuso de drogas, desordens maníaco-depressivas, esquizofrenia, anorexia,
bulimia, ansiedade angustiante, depressões e fobias. Talvez todos nós, em certa medida e em algum
momento das nossas vidas, seremos atingidos por algumas destas condições, assim como todos nós,
mais cedo ou mais tarde, sofremos de enfermidades físicas.
Acima de tudo, nos habituamos a encarar a cura das patologias psicológicas da mesma
forma que a das doenças físicas. Todos nós conhecemos pessoas que se recuperaram de um ataque
cardíaco e de pressão alta, pessoas que viveram muitos anos com câncer. Também sabemos de
pessoas que venceram o alcoolismo, ou problemas psicológicos tais como profundas depressões e
que estão bem. Talvez tenhamos experiência pessoal com estes casos.
O Prof., Van den Aardweg mostra que a homossexualidade é mais uma dessas patologias
que podem acometer qualquer pessoa. Ela tem origem no processo educativo e em várias
experiências da nossa vida. Como qualquer outra patologia, pode ser compreendida e curada. Van
den Aardweg retira a homossexualidade de uma perspectiva completamente irracional e conduz
uma abordagem racional e realista do tema.
A homossexualidade não é como uma condenação perpétua a viver de uma forma sempre
conflituosa com o padrão heterossexual e as principais instituições da sociedade. Os homossexuais
não estão condenados a uma vida que os aliena, segrega e restringe fortemente. Uma vez que, a
homossexualidade é vista como mais um problema psicológico, que pode ser ultrapassado, a atitude
em relação a ela muda de dois modos. Confere-se ao homossexual esperança de mudar e, ao mesmo
tempo, se passa a encarar a pessoa homossexual como parte integrante da sociedade humana
normal, sujeita, tal como todos nós, a patologias. Isto é particularmente verdade quando se olha
para a homossexualidade como uma condição que pode ser curada e da qual, mediante Deus, se
pode sair mais fortalecido, depois de ter conseguido vencer o desafio. É preciso sublinhar esta ideia.
Por exemplo, conheço um grupo de homossexuais na cidade de Nova Iorque, intitulado “Courage”.
Os membros deste grupo têm se esforçado seriamente para viver uma vida cristã, em particular,
uma vida sexualmente casta. O nome do grupo é perfeitamente apropriado, porque empreender
seriamente este tipo de vida exige efetivamente coragem. Ao pretender dar uma resposta cristã à sua
homossexualidade, estes homens estão também a se apresentarem como exemplos de força de
vontade e coragem para muitos outros — incluindo os heterossexuais. Até porque muitos
heterossexuais também sofrem de patologias comportamentais — em particular, diversos tipos de
comportamentos sexuais comuns entre os heterossexuais são, hoje em dia, vistos pelos psicólogos
como dependências, por exemplo, a dependência da promiscuidade sexual, a dependência do vício
da masturbação ou do fetichismo sexual. Os homossexuais que vencerem a sua condição podem ser
vistos como modelos de força e de esperança para muitas outras pessoas.
5
Neste livro, Van den Aardweg apresenta a autocompaixão como elemento central da
psicologia homossexual. É importante notar que as consequências neuróticas da autocompaixão não
se restringem de modo algum à homossexualidade. Isto é, a autocompaixão é uma condição que
afeta inúmeros tipos de pessoas. Uma das contribuições mais importantes de Van den Aardweg é
descrever a dinâmica que conduz a este processo e algumas das terapias psicológicas para controlá-
lo. Sob este aspecto, esta obra também é útil para quem estiver interessado nas modalidades em que
a autocompaixão afeta a vida das pessoas, incluindo as heterossexuais.
A utilização que o Prof., Van den Aardweg faz do humor como técnica terapêutica para
tratar o auto-compadecimento neurótico pode se estender a muitas outras situações. Qualquer
pessoa que sofra deste problema de autocompaixão é um potencial candidato ao tratamento pelo
humor. De fato, penso que o humor é uma ferramenta de espectro muito amplo em psicoterapia, e
mereceria mais atenção do que até agora tem recebido por parte dos psicólogos.
A tese do Prof., Van den Aardweg toca numa área importantíssima da psicologia —
educação infantil e, sobretudo, a relação entre a educação infantil e o desenvolvimento moral e
ético. Certamente, a incapacidade de desenvolver uma identidade sexual normal tem consequências
morais e éticas. Van den Aardweg descreve com grande perspicácia e de maneira concisa as atitudes
típicas e os valores subjacentes ao não desenvolvimento da orientação heterossexual da criança. A
sua interpretação da homossexualidade oferece uma visão acerca da psicologia do desenvolvimento,
em particular sobre o caráter moral e ético da criança. Convido os leitores interessados no
desenvolvimento infantil a prestar atenção particularmente às explicações e aos argumentos do
autor.
Finalmente, a abordagem do Prof., Van den Aardweg tem um significado especial para a
comunidade cristã. Ainda que ao interpretar clinicamente a homossexualidade ele não faça
referência a quaisquer conceitos ou doutrinas explicitamente cristãs, o seu livro é uma contribuição
interessante e profunda, do ponto de vista da atitude cristã a respeito da homossexualidade.
O orientador cristão que estivesse convencido de que a homossexualidade não pode ser
curada se depararia com um dilema moral muito sério. Ele poderia aceitar a pessoa, mas se a
orientação homossexual não pudesse ser mudada, seria também levado a aceitar o comportamento
homossexual. Agir dessa forma, sabendo que o judaísmo, do qual Jesus foi um legítimo
representante, condena a homossexualidade, seria rejeitar a Escritura e a Tradição da Igreja sobre
este ponto, não apenas os últimos 2000 anos de cristianismo, como também os anteriores 3000 anos
de vida judaica.
A alternativa pareceria sob alguns aspectos igualmente inaceitáveis, por exemplo, rejeitar o
homossexual, dizer que ele está agindo mal, sem oferecer ajuda nenhuma. Ambas as atitudes
pareceriam não cristãs e, aparentemente, não haveria meio termo.
Todos nós conhecemos a famosa história de Jesus e da mulher adúltera, onde Jesus Se
recusa a condenar a mulher e encontra sabiamente uma forma de mandar embora aqueles que
pretendiam condená-la. Apesar de tudo, quando os dois ficam sozinhos, Jesus declarou em termos
inequívocos: “Vai e não tornes a pecar”. Este livro, tal como obras recentes de outros psicólogos
tanto cristãos como não cristãos, que enfrentam o problema da homossexualidade, constitui uma
ajuda real. Este gênero de livros, como os do Prof. Van den Aardweg, fornecem indicações muito
valiosas sobre o modo de ajudar o pecador que quer honestamente ir e não voltar a pecar.
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1- ATITUDES SOCIAIS A RESPEITO DA
HOMOSSEXUALIDADE
Hoje em dia, muitos julgam que os sentimentos homossexuais são uma simples questão de
escolha ou de gosto pessoal. Daí resulta um apelo à aceitação social, colocando as práticas
homossexuais no mesmo pé das relações heterossexuais. Muitos chegam até mesmo a fazer pressão
no sentido de as relações homossexuais receberem o mesmo reconhecimento legal que o casamento
e defendem uma maior informação da opinião pública, em que aquela condição seja aceita como
normal. O único problema da homossexualidade seria, segundo eles, de carácter social: convencer
as pessoas a aceitarem e a devolverem os direitos naturais a uma minoria há muito reprimida.
Alguns vão ainda mais longe e, convencidos de que todos os adultos são, por natureza, parcialmente
homossexuais, defendem que a educação das crianças seja modificada para um modalidade mais
aberta à homossexualidade, por exemplo, tratando os meninos e as meninas do mesmo modo.
Nesta questão, o chamado movimento de libertação homossexual caminha de mãos dadas
com o movimento feminista. Ambos estão de acordo sobre a necessidade de reformular
completamente os papéis masculinos e femininos e as relações homem-mulher. A palavra de ordem
é acabar com os modelos de papéis “pré-definidos”. E dizendo “pré-definidos” entendem que até
agora teríamos sido obrigados, pela pressão cultural, a assumir formas tradicionais de
masculinidade e feminilidade, a aceitar modalidades arbitrárias e coercitivas de relacionamento com
o outro sexo e a adotar o casamento como se fosse o único tipo imaginável de relação sexual. A
verdade é que —prossegue o raciocínio—, a sexualidade natural seria muito mais rica nas suas
“variantes” e a ciência moderna teria demonstrado a existência de formas completamente diversas,
mas igualmente naturais, de sexualidade, de amor sexual e de relações sexuais. A estrada a ser
percorrida, com o superação dos preconceitos antiquados parece perfeitamente clara para eles... de
modo que, não aceitar a homossexualidade como coisa normal, seria discriminai as pessoas só por
terem um modo de ser diferente, por serem “intrinsecamente” diferentes. Até sugerem a hipótese de
alguém fazer essa discriminação por teimar em reprimir a componente homossexual da sua própria
vida emocional ou, pior ainda, por sofrer de “homofobia”, um medo patológico da
homossexualidade.
Estas ideias, repetidas frequentemente na rádio e na televisão, nos jornais e nas revistas,
promovidas por organizações para a reforma sexual e por algumas instituições conceituadas de
saúde mental, deixaram pouco espaço para as outras opiniões. Tornou-se comum ensinar aos
estudantes das universidades e dos liceus que a homossexualidade é normal; um professor que se
atreva a expressar uma opinião diferente corre o risco de ser lapidado pela indignação pública.
Autores de textos e de artigos especializados de medicina e psicologia publicam regularmente de
acordo com esta mentalidade e, se alguma vez mencionam opiniões sobre a homossexualidade
diferentes daquelas dos movimentos de libertação homossexual, não escapam ao comentário
depreciativo e mordaz.
Não é de se estranhar que este não seja o clima ideal para novas investigações imparciais
sobre as causas da homossexualidade*, que as nossas instituições científicas abandonaram à própria
sorte, privando-as de terapia adequada. Muitos editores hesitam em publicar obras que não se
alinhem na orquestração habitual, para não chocar a facção maioritária. Um dos poucos que
protestaram contra a perda de liberdade motivado por a este clima de pressão social foi A. D. de
7
Groot, professor holandês de psicologia da personalidade. Em um debate sobre a hipótese de os
homossexuais serem mais neuróticos que os heterossexuais, escreveu:
O clube mais poderoso da nossa época, entre os intelectuais e os semi-intelectuais, é a
comunidade dos seguidores das opiniões predominantes, tendencialmente avançadas. Quem se
lembrar de propor uma teoria sobre diferenças entre grupos é acusado de “discriminação”.
A propaganda em favor da aceitação da homossexualidade teve origem sobretudo entre os
próprios homossexuais militantes, a quem tem sido dada oportunidade privilegiada de se
pronunciarem, cada vez que aparece nos meios de comunicação qualquer acontecimento
relacionado com a homossexualidade, ou sempre que sai um artigo, um livro ou um filme sobre o
assunto. Parecem ser considerados os melhores especialistas da sua condição emocional. No
entanto, olhando as coisas com mais atenção, há razões de sobra para supor que justamente eles
“não podem ser bons juízes em causa própria”, como diz um antigo provérbio.
(*) É interessante observar como a Força Tarefa Nacional Gay pressionou a Associação
Americana de Psiquiatria a suprimir a homossexualidade da lista de transtornos mentais (Nota do
Editor na língua espanhola)
A HOMOFILIA COMO PERTURBAÇÃO EMOCIONAL
—“Todos acham que é normal”. É um protesto que se ouve frequentemente, principalmente,
da parte de jovens, afetados por este problema. Nesta seção tentaremos explicar por quê o “todos”
está bastante longe da realidade. É um fato que pessoas com orientação homossexual são muitas
vezes informadas da sua normalidade por médicos, psicólogos e até padres, que as consolam: “Por
que se angustiar com isto? Aceite que é ‘assim’, arranje um parceiro, se associe a um círculo gay.
Não há nada que possa fazer”. No entanto, estas opiniões são infundadas, simples frases-feitas que
estão na moda. Analisemos, portanto, o outro ponto de vista.
Primeiro, será demonstrado que a homossexualidade é uma perturbação emocional
originada na infância e na adolescência. Depois, que, em muitos casos, as pessoas com esta
orientação podem conseguir melhorias profundas, se trabalharem com paciência, empenho e boa
vontadei
.
Não é fácil dizer a palavra certa. Normalmente, os homossexuais militantes fogem de um
debate aberto, querem apenas ouvir que têm razão, são surdos aos argumentos lógicos e aos fatos;
atacam, dramatizam a sua situação (e, pelo visto, com pleno êxito). Precisamos ser firmes para
resistir às pretensões desta militância furiosa.
Talvez tivesse sido boa ideia prestar mais atenção a uma parte significativa dos
homossexuais que não fazem tanto estardalhaço e frequentemente ficam esquecidos. Estas pessoas
vivem perturbadas pela sua difícil situação e pelas suas implicações, tais como o isolamento social,
o fato de ficarem solteiras e sozinhas. Muitas vezes, sentem-se infelizes e inferiores, até mesmo
desesperadas. Talvez deveríamos ter dado mais atenção aos grupos homossexuais bem
intencionados que levam uma vida homossexual sem encontrarem nela a paz, ou àqueles que se
sentem condenados a repetir, pela vida afora, “nunca serei normal”. Não pensem que é um pequeno
grupo. Quando se vai mais fundo numa conversa pessoal, se descobre que a maior parte das pessoas
com orientação homossexual estão insatisfeitas com isso e gostariam de mudar “se fosse possível”ii
.
É verdade que muitas resistem a encarar as suas sensações como neuróticas ou a se empenharem
em tentativas reais de mudar. Contudo, temos de admitir que, no mínimo, as opiniões sociais
8
predominantes agravam estas hesitações em mudar. Seja como for, estas pessoas —e a maior parte
daquelas que lutam para superar os seus sentimentos homossexuais— têm necessidade de uma
compreensão realista, não de uma compreensão superprotetora ou sentimental. Têm necessidade de
encorajamento, mas também precisam olhar racionalmente para si próprias. Por isso este livro
destina-se particularmente a elas, aos cônjuges, se são casadas, e aos pais que (se não estiverem
atordoados pela propaganda da Libertação Gay) sofrem pelo caminho tomado pelos seus filhos.
Este livro também poderá ser útil àqueles que, no trabalho ou na vida privada, têm de enfrentar os
problemas de colegas ou amigos com tendências homossexuais.
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2- O QUE É SER HOMOSSEXUAL?
As expressões “este homem é homossexual” ou “esta mulher é lésbica” sugerem que essa
pessoa pertence a uma variante da espécie humana, diferente da variante heterossexual. A
homossexualidade está sendo cada vez mais apresentada como uma “variante”, uma “preferência”,
uma «condição constitutiva» e estes termos podem dar a entender que a pessoa tenha nascido assim.
Contudo, a verdade não é bem essa. Os conhecimentos de que dispomos mostram que as pessoas
com orientação homossexual nasceram com o mesmo patrimônio biológico e psíquico comum a
toda pessoa. Por exemplo, o fato de uma certa porcentagem de homens com orientação
homossexual dar a impressão de falta de virilidade, ou parecer efeminados nos comportamentos ou
nos interesses, não é prova de “diversidade” natural inata, pois estes estilos resultam de uma
educação ou de uma autoimagem adquirida, aprendida. Da mesma forma, uma mulher
“masculinizada” com sentimentos lésbicos não é assim por disposição natural, mas por hábito e por
certo tipo de complexo de inferioridade. Além disso, existem mulheres lésbicas acentuadamente
femininas que poucos, à primeira vista, poderiam imaginá-las com estas tendências.
Com as palavras “complexo de inferioridade”, ESTOU ANTECIPANDO MINHA LINHA
DE ARGUMENTAÇÃO. Efetivamente, procurarei mostrar que a orientação homossexual nasce de
um tipo particular de complexo de inferioridade, pois constitucionalmente, as pessoas são
heterossexuais e não homossexuais. Isto é verdadeiro, independentemente de se ter ou não
consciência do fato; um homem ou uma mulher são essencialmente heterossexuais, mesmo que não
sintam ou só de forma muito atenuada a sua orientação heterossexual. Rigorosamente, não existem
“homossexuais”, nem sequer no reino animal; existem apenas pessoas que têm inclinações
homossexuais. Por esse motivo, evitaremos chamá-los “homossexuais”, preferindo usar designações
menos concisas tais como “pessoas com orientações homossexuais”.
SENTIMENTOS HOMOSSEXUAIS
Pode se definir o sentimento homossexual como a sensação de estar apaixonado ou sentir
atração erótica por pessoas do mesmo sexo; paralelamente, se verifica um escasso interesse erótico
para com o outro sexo, ou a ausência quase total de atração. Aqui, é preciso fazer uma reserva:
durante a adolescência (puberdade), até cerca dos dezessete anos, as sensações homossexuais, são
habitualmente passageiras e devem ser consideradas como uma etapa do desenvolvimento
psicossexual. Na fase seguinte, com o despontar dos sentimentos heterossexuais, esses interesses
desaparecem sem deixar rastro. Como será visto a seguir, a pré-puberdade e a puberdade são os
períodos mais decisivos para o eventual desencadear de uma homossexualidade “propriamente
dita”, isto é, de tendências homossexuais que permanecem ao longo da vida.
Convém também não esquecer que a palavra “homossexualidade” abarca uma grande
variedade de formas. Por exemplo, alguns homens têm uma excitação sexual com quase todos os
homens que encontram, enquanto outros só têm interesse em certos tipos masculinos. Para alguns, a
tendência homossexual está continuamente presente na imaginação, como uma obsessão, enquanto
que em outros aparece de modo bastante irregular. Alguns estão exclusivamente orientados para
parceiros com idade aproximada, outros para homens mais velhos, outros ainda para jovens,
adolescentes ou crianças (homossexuais pedófilos). Alguns outros, não têm preferências fixas por
um tipo de companheiro. Existe também diversidade nos papéis assumidos em relação aos
parceiros, pois alguns assumem predominantemente o papel ativo, enquanto outros o passivo,
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embora muitos —a maior parte— não tenham um tipo de papel estabelecido. Algumas pessoas com
orientação homossexual podem às vezes sentir estímulos claramente heterossexuais, embora de
reduzida intensidade: estas pessoas são designadas por bissexuais. Outros, ainda, só têm impulsos
heterossexuais esporádicos, ou quase não chegam sequer a tê-los: são os chamados homossexuais
exclusivos. (Digo “quase” porque Freud afirmava com razão que, numa análise cuidadosa das
fantasias e dos sonhos de toda a vida de uma pessoa com fortes inclinações homossexuais, podem
sempre ser encontrados traços de uma disposição heterossexual normal, mesmo que esteja
profundamente escondida).
Mais uma distinção: alguns alimentam o desejo de um parceiro para uma relação duradoura;
outros não poderiam sequer suportar essa ideia. De todos os modos, entre o eventual desejo de
fidelidade e a sua realização vai uma grande distância; uma relação realmente duradoura e fiel é
extremamente rara, se é que isso é possível em algum caso. Por exemplo, segundo determinado
estudo, em setenta homens e mulheres com orientação homossexual que afirmavam terem aceito os
seus sentimentos como normais e viviam à maneira homossexual, mais de 70% desejavam uma
relação estável; mas, conforme as próprias declarações destas pessoas, só quatro homens e seis
mulheres daquele universo estatístico tiveram um único companheiro no curso dos dois anos
anterioresiii
. Independentemente do país ou da amostra de pessoas inclinadas à homossexualidade
que sirvam de base a este tipo de investigação, os resultados são invariavelmente os mesmos. Por
outro lado, é possível distinguir aqueles que procuram contatos transitórios (os tipos “cruzamento”)
e aqueles que vivem com um só parceiro durante um período mais longo, mesmo que na prática
acabe por não ser assim tão longo.
INCIDÊNCIA DA HOMOSSEXUALIDADE NO CONJUNTO DA POPULAÇÃO
Os militantes homossexuais encheram o mundo com O slogan “uma em cada vinte pessoas
é homossexual”. É pura propaganda. Aparentemente, há quem pense que uma alta incidência no
total da população tornaria esta condição mais normal, mas obviamente, não há nenhuma lógica
nisso. Não basta que uma alta porcentagem da população sofra de reumatismo para ele deixar de ser
uma doença. Se as incidências atribuídas à homossexualidade tossem verdadeiras, várias dezenas de
milhões de americanos seriam homossexuais; estes números não se apoiam em nenhuma
investigação. Os poucos estudos válidos — realizados, além disso, em grupos específicos—
apontam, no máximo, para 2 ou 3% da amostra; uma das sondagens não chegou sequer a encontrar
1 % de homossexuaisiv
. Recenseamentos recentes, mais vastos e seguros, têm confirmado este
último valor: para os Estados Unidosv
cerca de 1% e 1,5% no Reino Unidovi
. Também é preciso
lembrar que muito provavelmente existem menos mulheres com tendências homossexuais e a maior
parte das estimativas são extrapolações de amostras masculinas; além disso, cerca de 30 ou 40% das
pessoas com sentimentos homossexuais são bissexuais e poderiam ser contadas também pelo lado
da população não homossexual; e as crianças e os adolescentes deveriam ser excluídos do total
apurado dos homossexuais, pois o seu desenvolvimento ainda está em curso. Assim, se chega a
porcentagens ainda mais baixas.
Pode parecer que a homossexualidade tenha aumentado rapidamente nos últimos anos.
Duvido muito deste crescimento rápido; pode ser que tenha aumentado apenas o número daqueles
que traduzem a sua orientação em comportamentos homossexuais. A excessiva atenção dada ao
tema (não há revista de grande divulgação que não traga comentários sobre os homossexuais e os
seus problemas) contribui sem dúvida para dar a impressão de onipresença da homossexualidade. É
precisamente isto o que os defensores da normalidade do fenômeno “gay” pretendem conseguir. Ser
a favor da homossexualidade se tornou um sinal de visão progressista.
11
AUTO-IDENTIFICAÇÃO
Os jovens que percebem em si mesmos tendências homossexuais passam frequentemente
por maus bocados. Sentem-se cada vez mais afastados dos colegas da mesma idade por não
conseguirem partilhar o seu interesse pelo outro sexo, enquanto sentem-se obrigados a se comportar
como se estivessem interessados. Envergonham-se. Quando o tema da homossexualidade é tocado,
querem se esconder, para evitar que os outros os associem com essa condição. Sofrem em silêncio;
talvez se esforcem por negar ou dissimular os seus sentimentos, até mesmo para si próprios. Mas
chega o momento, crucial, geralmente por volta dos dezoito anos, em que têm de enfrentar a
situação. É então que acabam chegando a uma conclusão: “sou homossexual”.
Isto pode ser um alívio. A tensão aguda se apazígua momentaneamente, mas há certo preço
a pagar. Esses jovens mal se dão conta de terem atribuído a si mesmos um rótulo quase definitivo
com esta “auto-identificação”, classificando a si mesmos em uma “segunda classe” efetivamente
marginal. Alguns podem assumir uma atitude orgulhosa e até fazer de conta que são superiores às
pessoas normais, mas apesar dos esforços para parecerem contentes com a sua “orientação”, por
dentro, se dão conta de que o seu “ser diferente” é uma forma inferior de sexualidade. Pode ser um
consolo pertencer a uma minoria bem definida e se sentir em casa entre pessoas com uma
orientação idêntica, sem ter de enfrentar as dificuldades próprias do mundo heterossexual, no
entanto, a contrapartida disto é o fatalismo deprimente implícito na nova identificação: “sou mesmo
assim”. O jovem não pensa: “É verdade que tenho sentimentos ocasionais ou regulares de
homossexualidade, no entanto, constitutivamente, devo ter nascido como todos os outros”. Não:
tem a impressão de ser diferente e inferior, de levar em si uma condenação; olhar para si mesmo a
uma luz trágica.
Este rótulo trágico aplicado a si mesmos é o auge de um sentimento de inferioridade que se
vinha alimentando há algum tempo: a sensação de ser um pobre desgraçado. A ideia ‘não sou como
os demais” fica agora gravada na mente com a auto-identificação: “sou um homossexual”.
Voltaremos a este ponto mais adiante. A sensação de não ser como os outros, de não fazer parte do
grupo, com a consequência de manter uma profunda reserva a respeito dos outros, de ficar isolado,
é típica da maior parte das pessoas que têm este problema.
Este sofrimento dramático não será fruto da discriminação social? Não. É verdade que aqueles que
têm a orientação homossexual não são considerados normais pelos outros; mas a causa principal de
se sentirem tragicamente diferentes está dentro deles. Estas pessoas conservam esta impressão de
serem marginais mesmo quando vivem em um ambiente em que são aceitas. Faz parte da sua
neurose.
Como, hoje em dia, muitos julgam que o homossexual já nasça com uma tendência inata, e
que por isso seria melhor que fosse aceita, a auto-rotulagem fatalista é mais do que nunca
favorecida pelo mundo externo ao adolescente. Frequentemente, os jovens que exprimem os seus
possíveis e ainda não definidos sentimentos ou fantasias homoeróticas são informados pelos
“especialistas” de que são homossexuais. Isto pode ser um duro golpe e destruir qualquer esperança
de mudança. Quando um jovem desvenda os seus sentimentos secretos, sugiro que se diga antes
qualquer coisa deste gênero: “Você pode eventualmente sentir interesse pelo seu próprio gênero,
mas é só uma questão de imaturidade. Você não é assim por natureza. A sua natureza heterossexual
ainda não despertou. O que temos de discutir é um problema de personalidade, o seu complexo de
inferioridade”.
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As tensões sexuais podem ser tão intensas que, um jovem com sentimentos homossexuais
pode crer facilmente que a prática homossexual seja a solução de todos os problemas, inclusive a
solidão. Contudo, mais cedo ou mais tarde, chegará à conclusão de ter caído em um modo de vida
completamente desordenado, na realidade de natureza neurótica. O seu estado profundo se
assemelha sob muitos aspectos a uma toxicomania.
O estilo de vida homossexual é apresentado pelos meios de comunicação social de forma
tendenciosa e cor-de-rosa: já se sabe que a propaganda é assim mas quando, ao longo de anos, se
conhecem as histórias reais dos homossexuais praticantes, se torna evidente que não há felicidade
nesse modo de vida. Incerteza nos contatos, solidão, inveja, depressões neuróticas e,
proporcionalmente, um elevado número de suicídios (sem falar nas doenças venéreas e em outras
doenças físicas) são o outro lado da moeda, que os meios de comunicação não mostram. Exemplo
disso é um famoso sexólogo alemão, também homossexual, que costumava aplaudir publicamente
as estáveis e fiéis relações homossexuais, e acabou por se suicidar depois da ruptura de uma
relação, a última, de muitas. A sua trágica morte mal foi mencionada pela imprensa, talvez para não
levantar dúvidas pertinentes em algumas pessoas.
W. Aaron, que tinha sido homossexual, resume assim o conjunto das suas muitas
observações sobre este tipo de comportamento: Apesar das aparências externas, acaba no
desesperovii
.
A jornalista americana Doris Hanson conviveu com muitas pessoas que tinham estilo de
vida homossexual:
“É um mundo terrível que eu não desejo nem ao meu pior inimigo”, disse um homem que
tinha passado por aquilo, como se fosse um “toxicómano”. “Ao longo dos anos vivi com uma série
de companheiros de quarto, alguns dos quais eu dizia amar. Eles juravam que me amavam. Mas os
laços homossexuais começam e acabam com o sexo. Não há mais nada além disso. Depois desse
período inicial apaixonado, o sexo se torna cada vez menos frequente; os parceiros ficam nervosos;
querem emoções novas, novas experiências, começam a se enganar mutuamente, primeiro às
escondidas, depois cada vez mais às claras... Há então cenas de ciúmes e intrigas. Nessa altura,
ocorre a separação e cada um parte à procura de um novo amante”viii
.
A mãe de uma jovem, com tendências lésbicas e que se suicidou, dizia da sua filha:
Helen procurou toda a vida o amor. A certa altura com a sua última parceira, pensava que o
havia encontrado, mas era um amor baseado em uma mentira. Nunca poderia ter funcionado.
Doris Hanson considera que a declaração daquela mãe reflete exatamente o que ela própria
havia aprendido em suas entrevistas:
É exatamente assim que funciona. É um mundo em que as emoções estão construídas sobre
mentiras. Para obterem uma satisfação sexual momentânea, os homossexuais afirmam: “eu te amo”
com a mesma frequência com que dizem “bom dia!”. Depois de passada a experiência, só estão
dispostos a dizer “adeus!”. A caça recomeça.
Considero que nada disto é exagero obscuro ou moralista. A pessoa com orientação
homossexual é arrastada para uma vida neurótica de conflitos. Teimosa e obstinadamente hostil a
todas as sugestões, apesar de fazer os pais sofrerem, os jovens com este problema agarram-se à sua
“opção” que confundem por ignorância com a “felicidade”. Não querem outra coisa, por nada deste
13
mundo. Pode parecer duro, mas é verdade: muitos deles entram em decadência, o seu vigor juvenil
e sua alegria desaparecem; se tornam fracos sob muitos aspectos, como drogados.
Felizmente, no entanto, há homens e mulheres com sentimentos homossexuais que querem
seguir um caminho bem diferente.
14
3- A HOMOSSEXUALIDADE É INATA?
A crença a homossexualidade é inata está muito estabelecida. A maior parte das pessoas
continua a considerar a homossexualidade anormal —contrariamente ao que muitos “educadores
sexuais” gostariam que se pensasse— mas muitos ainda julgam que se nasce “assim”ix
.
Até onde eu sei, ainda não foram feitas sondagens confiáveis entre os médicos, mas
suspeito que a maior parte esteja convencida de que existe alguma causa congênita ou, pelo menos,
de ordem física. Pelo contrário, os psiquiatras americanos tendem a vê-la como um bloqueio no
desenvolvimento psicossexual do indivíduo e não atribuem muita importância a causas físicas ou
hereditárias.x
Seja como for, o peso desta posição sobre a “opinião médica” geral está bem longe de
ser decisivo. Aliás, em 1973, o conselho diretivo da American Psychiatric Association, ao definir a
homossexualidade no seu manual oficial de diagnóstico, substituiu a palavra “transtorno” pelo
termo neutro “condição”. Isto, depois de intensas manobras dos grupos de pressão dos
homossexuais militantes.
É compreensível que as pessoas com orientação homossexual tenham muitas vezes a
impressão de que os seus sentimentos têm raiz biológica, como se fosse um instinto muito forte;
além disso, recordam que já tinham a consciência de serem diferentes na juventude, embora nessa
altura o fato não estivesse relacionado com a sexualidade. Muitas vezes tinham a impressão de se
comportarem de modo diferente das pessoas da mesma idade e do mesmo sexo e de terem outras
preferências e aversões. Frequentemente, já se sentiam diferentes antes das primeiras sensações
homossexuais e por isso são levados a pensar que a sua natureza seria, de fato, diferente e
pertenceriam a um “terceiro sexo”. A tendência de se gabar de “ser diferentes dos outros” está de
acordo com tudo isto; alguns chegam a pensar que a sua sexualidade seja sinal de um especial dom
emocional e consideram a si mesmos como mais sensíveis e dotados de maior sentido artístico do
que as tediosas pessoas normais. O sentido de inferioridade se converte numa ilusão de
superioridade, mas tudo isto só pode se sustentar no pressuposto de que se trate de uma disposição
inata. Numa análise mais atenta, os interesses artísticos dos homens homossexuais são explicados
facilmente por fatores educativos e de ambiente. Por exemplo, alguns preferem atividades
“brandas” e interesses que não impliquem audácia e têm uma aversão correspondente às tarefas
mais “duras”, mais “viris”. Ser muito sensível é típico de muitos neuróticos e tem a ver com um
“eu” que se sente vulnerável, como mostraremos a seguir.
Tanto a convicção de que existe uma causa hereditária, como a crença em outras causas
físicas presentes desde o nascimento, levam a uma visão pessimista acerca da possibilidade de
mudança. E as pessoas com orientação homossexual que não querem abandonar esse
comportamento se agarram a essa eventual “base biológica”. Por exemplo, segundo os membros de
uma “igreja gay” americana, a homossexualidade seria uma forma de amor criada por Deus: como
poderia então ser ilícito viver segundo os princípios do Criador?
A teoria da hereditariedade vai sobrevivendo graças aos esforços dos círculos homossexuais
militantes e dos seus apoiantes libertários, apesar da crescente evidência no sentido contrário.
Eventualmente, publicam o resultado de alguma investigação isolada com pretensões de confirmar
a ideia da normalidade, sem se preocuparem com a interpretação correta dos resultados ou o seu
valor científico, motivo pelo qual os estudos sobre a homossexualidade devem ser vistos de
maneira sóbria e crítica, especialmente quando provêm de ambientes favoráveis à causa.
15
Um exemplo é o relatório, já mencionado, de Bell e seus colaboradoresxi
, que considera
altamente provável a base biológica da homossexualidade e tira a conclusão de que os pais
deveriam educar os filhos “de acordo com a natureza”. Isto significa que as crianças com tendências
homossexuais teriam necessidade de um tratamento completamente especial (obviamente,
favorecendo a homossexualidade), como se a sua presumida preferência fosse um fato consumado
desde o princípio e claramente reconhecível por parte dos pais. Este trabalho é uma manipulação da
opinião pública: um dos autores é efetivamente conhecido pela sua posição favorável à
homossexualidade. As estatísticas recolhidas pelo autores não têm nada a ver com a biologia, mas
com a infância, o comportamento social e outros aspectos do comportamento das pessoas que
praticam a homossexualidade. Aquele material comprova que estes indivíduos se sentiam isolados
dos companheiros de brincadeira, o que efetivamente é verdade, mas não tem nada a ver com a
biologia.
Nos anos setenta, entre os homossexuais europeus mais sofisticados, se proliferou o hábito
de apresentar o estudo de Schofieldxii
como prova da existência de uma variante normal (e
presumivelmente inata) de homossexualidade. O estudo não tratava da normalidade ou
anormalidade, mas do desempenho social e, mais especificamente, profissional. O autor tinha
conseguido descobrir um subgrupo de homossexuais bem adaptados, o que não justifica nenhuma
conclusão acerca da normalidade ou anormalidade.
Outro caso, foi o de alguns investigadores que não encontraram diferenças entre os
resultados dos testes de personalidade dos homossexuais e heterossexuais; como era previsível, este
fato foi interpretado como evidência da normalidade da condição homossexual. No entanto, o que
aqueles testes medem —ou tem a pretensão de medir— não tem a ver diretamente com a
normalidade psíquica, ou com a saúde mental, ou com o fato de esta forma de sexualidade poder ou
não ser definida como uma «variante» normal.
HORMÔNIOS
As expressões “normal”, “com raízes biológicas”, “hereditário”, “inato” e “com causa
física” são muitas vezes usadas indiferentemente, embora não sejam equivalentes. Que a
homossexualidade não possa ser normal de um ponto de vista lógico e biológico é o que
discutiremos a seguir: mas devemos primeiro abordar a questão das possíveis causas físicas,
hereditárias ou não hereditárias.
“Não será talvez um problema de hormônios?”, muita gente se pergunta. Não, segundo
Perloff, um grande especialista da matéria, que já no distante ano de 1965 escrevia: “É um
fenômeno meramente psíquico... e não pode ser modificado com substâncias endócrinas
(hormôniosxiii
)”. Esta afirmação ainda hoje é válida. É verdade que algum autor detectou uma
concentração comparativamente baixa de hormônios sexuais masculinos (testosterona) no sangue
dos homens com orientação homossexualxiv
, e também quantidades anômalas de gorduras e
produtos metabólicos dos hormônios adrenérgicosxv
. Mas tais resultados não devem ser
interpretados precipitadamente, o que já tem acontecido, em benefício da teoria que explica a
homossexualidade por peculiaridades hormonais. Por que não? Em primeiro lugar, porque esta
diferença das concentrações hormonais entre homens com inclinação homossexual e homens com
inclinação heterossexual não têm sido confirmadas pelas medições dos outros investigadores. No
período 1972-1976 se podem contar pelo menos seis estudos, e em nenhum deles foram
encontrados valores hormonais anômalos nos grupos homossexuaisxvi
. Os desvios que às vezes se
detectam estão relacionados possivelmente com as características específicas do grupo em estudo e,
portanto, não são universalmente válidos. Fatores muito simples, tais como diferenças dos vários
grupos quanto a hábitos alimentares, hábitos de vida e de trabalho, o fato de estarem ou não
16
casados, as atividades musculares ou o exercício muscular; além de outros fatores, como o uso de
drogas ou de medicamentos, ou diferenças de idade, são suficientes para explicar aquelas
oscilações.
Num grupo de homens com tendências homossexuais, Evans detectou concentrações
anômalas dos produtos do metabolismo dos hormônios adrenérgicos: tanto das gorduras como de
um produto metabólico associado ao desenvolvimento muscular; também encontrou desvios do
peso e da força muscular, mas não verificou nenhuma alteração dos hormônios sexuaisxvii
. Com base
nessa observação, este autor sugeriu a hipótese de que um “reduzido desenvolvimento muscular”
pudesse contribuir para reforçar alguma orientação homossexual. Este é um dos poucos estudos que
aponta para algo semelhante a um fator físico anômalo dos homens homossexuais, e por essa razão
merece aqui um exame mais concreto para avaliar corretamente o peso destes resultados.
Como todas as investigações científicas, a correlação encontrada por Evans só adquirirá
valor de prova quando se verificar que aqueles resultados experimentais aparecem exclusivamente
entre a população homossexual. Não se pode estabelecer uma relação entre um fator e a tendência
homossexual sem se proceder a uma série de medições comparáveis em vários grupos de
amostragem. Suponhamos, por um momento, que o futuro nos traga um conjunto de resultados
semelhantes que se confirmem uns aos outros; embora isto não seja nada provável e, mesmo que
fosse, não constituiria um argumento irrefutável a favor de uma causa física. A possível correlação
entre homossexualidade e “fraqueza muscular” poderia significar muitas coisas diferentes. Por
exemplo, que os rapazes com um deficiente crescimento muscular correm maior risco de se
tornarem sexualmente desviados por causa da sensação de inferioridade associada a isso. Seria um
exemplo do fenômeno da “inferioridade orgânica” descrito pelo conhecido psiquiatra Alfred Adler:
um rapaz pode desenvolver em si sentimentos de inferioridade por qualquer malformação ou atraso
físico e, como se verá, é justamente um sentido de inferioridade juvenil devido ao aspecto físico, à
estrutura corpórea, etc., que pode motivar o desenvolvimento da tendência homossexual. Mas talvez
esta explicação dos resultados do famoso teórico seja excessivamente indireta. Talvez o fenômeno
se deva simplesmente ao fato de que os homens com orientação homossexual têm menos tendência
a fazer movimentos de certo tipo, praticando menos certos esportes, comendo mais ou ingerindo
mais gorduras do que outros homens. Uma explicação deste gênero não seria nada surpreendente,
por estar de acordo com os estilos de vida que encontramos em inúmeras pessoas com inclinação
homossexual.
O fato de as pessoas com desvios hormonais devido a perturbações funcionais das gônadas
não darem necessariamente lugar a anomalias sexuais é outra indicação de que a causa da
homossexualidade não deve ser procurada em anomalias dos hormônios sexuais. Por exemplo, as
mulheres hermafroditas (que têm características físicas de ambos os sexos, devido a problemas
genéticos) que são biologicamente (e geneticamente) femininas, apresentam um excesso do
hormônio sexual masculino (testosterona) desde o estágio embrionário, sem que isso as
predisponha a ser lésbicasxviii
.
Portanto, tudo parece indicar que os hormônios sexuais não são os culpados. Ora, como os
cromossomos regulam a produção dos hormônios, a saúde hormonal das pessoas com tendência
homossexual é sinal de normal funcionamento dos cromossomos sexuais.
HEREDITARIEDADE
Os cromossomos sexuais, estruturas moleculares extremamente complexas que contem os
códigos genéticos transferíveis hereditariamente, podem ser examinados diretamente mediante
17
técnicas laboratoriais. Ora, os homens e as mulheres com orientação homossexual possuem os
cromossomos normais, masculinos ou femininos, respectivamentexix
. Isto significa que, em
princípio, todos os órgãos e as funções relacionadas com a sexualidade, desde a anatomia dos
órgãos aos centros sexuais do cérebro — e, portanto, toda a “infraestrutura” da sexualidade — são
normais, do ponto de vista hereditário. A teoria de um desvio inato da sexualidade ou da preferência
sexual não se confirma.
Todavia, se houvesse suspeita de um eventual fator hereditário, ele só poderá ser um fator
de predisposição, que facilitaria o desenvolvimento homossexual. Kallmann tinha em mente um
fator deste tipo em 1958, para explicar os relevantes e interessantes resultados da sua investigação
sobre gêmeos monozigóticos e dizigóticos (gêmeos verdadeiros e não-verdadeiros) masculinos com
tendências homossexuaisxx
. Ele descobriu que todos os gêmeos monozigóticos das pessoas
tendencialmente homossexuais do seu grupo também tinham tendências homossexuais, embora não
na mesma medida. Mas só 12% dos gêmeos dizigóticos de homens com orientação homossexual
indicavam não ter interesses homossexuais. Os 100% de semelhança e concordância na
homossexualidade entre os monozigóticos, que têm um património genético perfeitamente idêntico,
não é um resultado comprovado por outros investigadores e parece ser uma consequência do todo
de amostragem empregado por Kallmann. Desde 1960, há muitas notícias de pares de gêmeos
univitelinos, examinados a fundo, em que um deles tem tendências homossexuais e o outro é
heterossexualxxi
. Além disso, há uma consciência crescente de que este tipo de investigações com
gêmeos, embora fascinantes em si mesmas, não podem ser decisivas para verificar se uma
propriedade ou característica da personalidade fica determinada hereditariamente. Dados como os
de Kallmann também podem ser explicados pela educação e outros fatores ambientais, ou por
fatores psicológicos, tais como o alto grau de identificação mútua, tão surpreendente entre os
gêmeos. A concordância bastante elevada encontrada por Kallmann entre os dizigóticos (12%)
sugere a importância deste tipo de influência, porque esta porcentagem é mais significativa neles do
que entre irmãos não-gémeos embora os gêmeos dizigóticos difiram entre si na estrutura genética
como qualquer par de irmãos não-gêmeos. Em outras palavras, a maior semelhança relativamente à
homossexualidade nos dizigóticos não se deve a causas genéticas mas pode ter a ver com a
identificação recíproca relativamente mais forte, comparada com a dos irmãos não-gêmeos, ou seja,
a sua sensação de serem o alter ego um do outro, e o fato de serem tratados e considerados de
maneira idêntica pelo ambiente em que vivem.
No estudo de Kallmann existem ainda algumas lacunas, que não vêm agora ao caso: o leitor
interessado pode consultar uma explicação detalhada referida na bibliografiaxxii
. O ponto importante
na análise que estamos realizando é esclarecer que dados como os de Kallmann e outros autores
depois dele não podem ser usados como base para uma teoria da base genética da
homossexualidade. Nem sequer fornecem indícios sólidos de fatores genéticos que tornem algumas
pessoas mais propensas à homossexualidade.
Portanto, não foram detectadas causas genéticas — sexual ou de outro tipo — que possam
distinguir as pessoas com tendências homossexuais das outras. Alguns investigadores deixam em
aberto a possibilidade teórica de que exista algum fator ainda desconhecido, de ordem genética ou
hormonal, pelo menos para algum subgrupo de pessoas com tendências homossexuais. Suponho
que essa posição tenha a ver com alguns homens homossexuais que impressionam por serem tão
efeminados e algumas mulheres lésbicas de comportamento muito masculino. Mas esses
investigadores também não atribuem influência decisiva àquele fator hipotético, reconhecendo que
as causas principais não estão nos hormônios ou nos genes. Masters e Johnson defendem esta
posiçãoxxiii
. Estes investigadores, provenientes da escola de Kinsey, apesar de manifestarem
claramente a opinião de que o comportamento homossexual seja normal e plenamente aceitável,
escrevem palavras significativas:
18
É de importância vital que todos os profissionais no campo da saúde mental se lembrem de
que o homem ou a mulher homossexual é homem ou é mulher por determinação genética e tem
tendências homossexuais por preferência adquirida.
Provavelmente para evitar a acusação de terem preconceitos, se apressam em acrescentar
que a preferência heterossexual também não tem uma base genética: afirmação acrítica que pode
ser refutada com facilidade. Contudo, o seu alerta “a todos os que trabalham no campo da saúde
mental” acerca da homossexualidade como “comportamento adquirido” não deve ser esquecido,
mesmo não aceitando a gaffe grosseiramente progressista acerca da heterossexualidade.
A história da teoria da natureza homossexual como condição inata —isto é, “conatural”— é
uma longa história. Esta teoria foi entrando em decadência e hoje já não resta praticamente nada.
No livro Changing Homosexuality in the Male (“Mudar a homossexualidade masculina”) o
psiquiatra L. J. Hatterer afirma isso sem ambiguidades:
Os psiquiatras chegaram finalmente à conclusão de que os fatores genéticos, hereditários,
constitucionais, glandulares e hormonais não têm nenhuma importância como causas da
homossexualidadexxiv
.
Nos meios de comunicação social tem-se feito uma insistente propaganda de supostas
descobertas de uma causa biológica da homossexualidade. Em 1991, anunciaram uma pretensa
particularidade de uma minúscula região cerebral constatada em determinados homens
homossexuaisxxv
; em 1993 divulgou-se que tinha sido descoberto um “gene da
homossexualidade”xxvi
. Pouco ou nada destas notícias sobrevive a uma análise mais atenta; pelo
contrário, os resultados de investigações recentes, acerca de gêmeos, têm tornado cada vez mais
improvável a explicação por mecanismos hereditáriosxxvii
.
Portanto, hoje em dia, se pode afirmar objetivamente que não há motivo para admitir a
existência de um tipo de homossexualidade transmitida por via hereditária, ou causada por
disfunções hormonais antes ou depois do nascimento; também não é provocada por perturbações do
crescimento corpóreo, da constituição orgânica, da estrutura do cérebro, do sistema nervoso ou das
glândulas.
Seria me alongar de mais fazer aqui a enumeração completa das investigações científicas
mais relevantes: bastam as conclusões gerais. Até que seja demonstrado de modo convincente que a
pessoa com tendências homossexuais possui qualquer peculiaridade física, hereditária ou não, que
não seja produzida pelo seu modo de vida, podemos admitir que há uma perfeita normalidade do
ponto de vista biológico. E, à medida que o tempo passa, parece cada vez mais improvável que esta
posição tenha de ser revista.
“O meu avô também era homossexual”. “Também duas filhas da minha tia são”. Às vezes
se ouvem explicações deste gênero da boca de alguém com este problema emocional. Isto não
significa que naquelas famílias exista qualquer causa hereditária, tal como não podemos atribuir aos
genes a responsabilidade pelo fato de o avô ou o tio serem católicos ou socialistas. Se a tendência
homossexual se apresenta com certa frequência em certas famílias, normalmente também
encontramos nessas famílias desequilíbrios nos papéis desempenhados pelos dois sexos: os filhos
são educados de acordo com modelos insuficientes dos papéis sexuais e pode acontecer que estes,
por sua vez, repitam o método educativo distorcido com os filhos. Nessas famílias, as mulheres
podem se comportar com modos pouco femininos e educar as filhas de modo pouco feminino,
facilitando assim o aparecimento de complexos de inferioridade de tipo homossexual. Mais tarde,
essas moças podem ter dificuldade em aceitar os papeis sexuais, em geral, e, portanto, não serem
capazes de educar — e de reconhecer — um menino como menino e uma menina como menina.
19
São válidas observações análogas em relação aos pais. Fora disto, a relação entre a família e a
homossexualidade é muito ténuexxviii
.
NORMALIDADE
Outro aspecto tem de ser também esclarecido. Suponhamos que tenha sido demonstrada
uma causa genética ou física para a homossexualidade, por exemplo, uma particular conjunção de
hormônios; isto não permitiria afirmar que a homossexualidade fosse normal. Tal fator, meramente
hipotético, deveria ser necessariamente identificado como fator de disfunção ou doença. Seria um
desvio dos cromossomos ou dos hormônios, uma disfunção do desenvolvimento fisiológico normal,
uma infecção ou outra coisa desse tipo. É bom compreender bem isto, porque se poderia facilmente
pensar que o ter nascido “assim” seria equivalente a ter uma tendência “natural”.
SOMOS TODOS BISSEXUAIS?
A ideia da “homossexualidade inata” é falsa. Mas haverá qualquer ponta de verdade na
convicção de alguns psicólogos e psiquiatras de que todo o ser humano tenha uma disposição
bissexual inata? No início, todos os homens e todas as mulheres teriam a mesma probabilidade de
se desenvolverem em direção à homossexualidade ou à heterossexualidade e a evolução de cada
indivíduo em um ou em outro sentido dependeria dos métodos educativos usados na família e, mais
em geral, das influências de todo o ambiente social da infância. Esta é a opinião de Masters e
Johnsonxxix
,e era a opinião do próprio Sigmund Freud. Contudo, a ideia de uma bissexualidade
universal não é sustentável. Freud defendia a sua teoria com argumentos fisiológicos hoje
obsoletos; além de que a sua teoria não estava isenta de equívocos, problema que não vamos
abordar neste momento.
Se fossem somente os hábitos educativos ou os costumes culturais a encaminhar a
orientação de uma criança para a homossexualidade ou a heterossexualidade, ou para alguma opção
intermediária, Deus (ou a natureza, se preferir) teria pendurado a sobrevivência do gênero humano
de um fiozinho muito frágil. Bastaria ter existido certa moda cultural em qualquer sociedade
primitiva a favor da homossexualidade, ou terem educado os filhos nessa direção, para provocar a
extinção do gênero humano; e uma moda pode surgir a qualquer momento. Em contrapartida,
vemos que em nenhum caso, na natureza, a propagação de uma espécie correu tal risco, nem
encontramos exemplos de sobrevivência regulada com tanto descuido.
No mundo animal a verdadeira homossexualidade, como se descreveu, não existe. Os
animais podem se comportar de maneira homossexual, mas só no caso de ausência de um parceiro
heterossexual ou por aquilo que se poderia chamar um erro de percepção ou de avaliação. De fato,
os animais podem reagir sexualmente a determinadas características dos animais da sua espécie:
formas, cores, movimentos. Em princípio, estas características correspondem ao sexo oposto, mas
podem também constituir um estímulo se o animal encontrá-las em um indivíduo do mesmo sexo,
especialmente na ausência de um parceiro heterossexual. Contudo, isto não é homossexualidade em
sentido estritoxxx
. A homossexualidade propriamente dita implica uma resposta frustrada aos
estímulos do sexo oposto. Em suma: é como se a natureza (ou o seu Criador) tivesse sido tão
desleixada com o homem — que é muito mais complicado e refinado que qualquer outro animal e é
claramente o produto natural mais esplêndido— a ponto de, conferindo-lhe toda a complexidade
anatômica, neurofisiológica e hormonal que regula a sobrevivência da espécie, ter descuidado
justamente aquele último passo, que é a motivação sexual pelo sexo oposto. A natureza teria se
esquecido de fazer com o homem aquilo que fez corretamente com os animais: implantar uma
orientação heterossexual estável e duradoura no tempo?
20
A pergunta já é uma resposta.
Por outro lado, a teoria da bissexualidade está em contradição com os fatos. A. Karlen,
historiador da sexualidade, ao estudar a homossexualidade em outros tempos e em outras culturas,
diferentes da nossa, escreve que o mais que se pode dizer é que a homossexualidade foi encarada
pelas várias culturas com maior ou menor tolerância mas nunca como um fim desejável em si
mesmoxxxi
. O ser humano nunca sentiu a inclinação de educar os filhos para a homossexualidade: a
esmagadora maioria das pessoas, em todas as culturas e em todos os tempos, sempre foi
heterossexual. Por natureza, os seres humanos são atraídos pelo sexo oposto. Se assim não fosse,
entre os numerosos povos que viveram ao longo dos séculos teria havido exceções, pelo menos
alguma, à regra de a maioria ser heterossexual.
E os antigos gregos? Parece que a concepção popular tenha necessidade de alguma pequena
correção neste ponto. Os historiadores constatam que a cultura grega sempre foi substancialmente
heterossexualxxxii
. O comportamento homossexual — ou, melhor, a chamada pederastia, ou amor
pelas crianças e adolescentes — esteve na moda em certos períodos e em certos círculos, mas não
era certamente a expressão sexual preferida ou desejada pela maioria. Também se devem entender
com certa proporção as descrições dos hábitos sexuais dos gregos apresentadas apenas por alguns
poucos autores daquele tempo. É duvidoso que seja legítimo da nossa parte generalizar aquilo que
os líricos gregos dizem, tal como não ficaríamos com uma imagem correta dos hábitos sexuais do
nosso tempo estudando a literatura moderna. Tudo aquilo que é excêntrico e desviado adquire na
literatura e na arte uma imagem mais marcada do que tem realmente na sociedade.
A afirmação de que o ser humano se tornaria heterossexual em virtude dos métodos
educativos, reprimindo a sua componente homossexual, igualmente forte, é impressionantemente
artificiosa, especialmente sabendo como se dá habitualmente a escolha do objeto heterossexual.
Pareceria muito mais exato dizer que o desenvolvimento para a heterossexualidade é um impulso
automático e instintivo. Em certo momento, geralmente durante a adolescência, a atração para o
sexo oposto é sentida como irresistível, mesmo por parte dos adolescentes educados em um clima
sexualmente restritivo ou sem nenhuma educação sexual. Também é sintomático da base hereditária
da heterossexualidade o fato de nunca se encontrarem pessoas jovens livres de tensões emotivas, de
complexos de inferioridade e de frustrações internas — em outras palavras, jovens equilibrados e
bem constituídos — que sintam atração pela homossexualidade. Os jovens não neuróticos são
invariavelmente heterossexuais.
A conclusão inevitável é que a heterossexualidade já está definida no patrimônio genético.
Os cérebros do homem e da mulher diferem em virtude de processos embrionários de natureza
hormonalxxxiii
e provavelmente algumas destas estruturas cerebrais constituem a base biológica das
profundas diferenças psicológicas no campo da sexualidadexxxiv
. Também se podem deduzir alguns
argumentos interessantes a favor do carácter inato da heterossexualidade a partir das investigações
relativas ao desenvolvimento sexual de certos tipos de hermafroditas, isto é, pacientes com defeitos
dos cromossomos sexuaisxxxv
.
UM ESTÁGIO TRANSITÓRIO BISSEXUAL
Há uma variante da teoria da bissexualidade que é aceitável: diz respeito ao fato de os
adolescentes passarem, durante o desenvolvimento para a maturidade biológica e psicológica, por
um estágio no qual, durante certo tempo, podem sentir atração erótica por pessoas do mesmo sexo.
Neste estágio, o desenvolvimento sexual ainda não está completo e ainda não amadureceu até à
plena descoberta do seu objeto, o sexo oposto. E nesta fase de crescimento que vários objetos e
situações, humanas e não humanas — crianças e pessoas adultas, mas também configurações
21
inanimadas e situações emotivamente excitantes — podem ser associadas na imaginação com o
despertar de sensações eróticas, ainda indefinidas. A sexualidade de um adolescente neste estágio de
desenvolvimento pode se chamar bissexual, embora a princípio haja bons motivos para lhe chamar
“multissexual”. O desenvolvimento sexual dos homossexuais, tal como boa parte do
desenvolvimento sobretudo emocional, ficou interrompido neste estágio intermediário.
Isto não significa que cada adolescente deva passar claramente — nem sequer
confusamente — pelos vários tipos possíveis de atração erótica nesta fase da vida. Talvez não mais
de 30% dos adolescentes tenham a certa altura aquilo a que se poderiam chamar sensações
homoeróticas. Nesta fase, os interesses eróticos dependem estreitamente do conjunto da
personalidade e da emotividade do adolescente, das suas relações com os outros, da sua posição
social e da sua autoimagem. Quando as fantasias, os interesses ou as práticas homoeróticas se
desenvolvem, elas acabam por ser habitualmente superficiais e tendem a se desvanecer rapidamente
logo que a atração física do sexo oposto se impõe à atenção do jovem que, em muitos casos, vive
essa descoberta com uma atitude do tipo: “Isto é justamente o que eu estava procurando!”.
No estágio de sexualidade indeterminada, os impulsos homoeróticos podem coexistir com o
início da atração heterossexual. Em outros casos, o início dos interesses heterossexuais pode ficar
bloqueado pela manifestação dos sentimentos homossexuais, especialmente se o adolescente se
sente frustrado na sua primeira ocasião de amor heterossexual.
Quando as potencialidades do sexo oposto foram plenamente descobertas, o processo é
irreversível. Os “objetos” anteriores ficam simplesmente desprovidos de interesse, sem nenhuma
aprendizagem imposta pelo mundo exterior mas simplesmente como consequência do próprio
instinto sexual orientado e focalizado no seu fim.
22
4- A HOMOSSEXUALIDADE COMO TRANSTORNO PSÍQUICO
Os primeiros estudos sistemáticos sobre a homossexualidade foram feitos no século XIX
por autores como Krafft-Ebing e no início do século XX por Magnus Hirschfield, que interpretaram
as suas observações à luz das teorias fisiológicas e biológicas dominantes naquele tempo. A noção
de “terceiro sexo” ou de “sexo intermediário”, por exemplo, ganharam popularidade naquele
período. Sigmund Freud foi o pioneiro das teorias da homossexualidade que enfatizavam a dos
fatores psicológicos. Por exemplo, segundo ele, o rapaz com inclinações homossexuais deveria ter
sofrido, quando criança, uma super-identificação com a mãe e deveria ter tido uma relação
conflituosa com o pai; da mesma forma, a moça lésbica teria sofrido uma super-identificação com o
pai e teria tido relações muito difíceis com a mãe.
Freud procurou as causas na infância e, em particular, na relação entre pais e filhos. Para
ele, a homossexualidade era essencialmente uma perturbação psíquica, talvez reforçada por
condicionamentos biológicos ainda desconhecidos (sugeriu a hereditariedade). Um dos primeiros
—e talvez o primeiro— a não acreditar na importância de qualquer predisposição hereditária foi um
discípulo de Freud, Alfred Adler. Este autor fala pela primeira vez do complexo de inferioridade e
apresentou a homossexualidade como consequência deste complexo, já em 1917xxxvi
. As suas
observações mostraram-lhe que as pessoas com tendências homossexuais têm invariavelmente
sentimentos de inferioridade a respeito da sua masculinidade ou feminilidade.
Um outro discípulo de Freud que acumulou uma impressionante experiência clínica com
gente afetada por problemas psicossexuais e que descreveu algumas observações originais sobre os
seus pacientes com tendências homossexuais foi Wilhelm Stekelxxxvii
. Ele prognosticou que uma das
causas da homossexualidade fosse o medo do sexo oposto. Confirmando as ideias de Freud a
respeito de a homossexualidade ter origem em dinamismos psicológicos da infância, Stekel
minimizou a importância da hipotética predisposição hereditária, mais ainda que Freud, e foi
possivelmente o primeiro a classificar a homossexualidade como neurose. Além disso, discordou de
Freud quanto às responsabilidades do famoso “complexo de Édipo” e indicou, em contrapartida, um
conjunto de erros de educação das crianças, suscetíveis de levar à neurose homossexual. Também
destacou o papel do pai frequentemente como mais importante que o papel da mãe na origem da
homossexualidade masculina. Ressaltou o estilo caracteristicamente infantil da vida psicológica
destes pacientes —encarando a homossexualidade como uma forma de “infantilismo psíquico”xxxviii
— e evidenciou que a motivação homossexual está intrinsecamente ligada a sentimentos de
infelicidade. Stekel acreditou, mais que Freud, na possibilidade de uma mudança radical da
orientação homossexual, embora estivesse convencido de que só se conseguiria em casos
relativamente raros. As suas observações influenciaram profundamente o pensamento dos seus
discípulos.
A segunda e terceira gerações de psicanalistas construíram sobre os fundamentos
preparados pelos predecessores. Um elemento original foi introduzido pelo psiquiatra austríaco-
americano E. Bergler, observando o chamado masoquismo psíquico de quem sofre este
complexoxxxix
. O impulso homossexual contém, segundo ele, uma espécie de auto-tormento, uma
necessidade inconsciente de se sentir marginalizado e, em geral, de “colecionar” injustiças,
situações desagradáveis e experiências que proporcionam sofrimento (como se diz de algumas
pessoas que andam à procura de problemas).
I. Bieber, psiquiatra norte-americano, e os seus colaboradores estimularam notavelmente as
investigações psicológicas posteriores acerca da homossexualidade, com a sua extenso estudo
23
estatístico sobre a personalidade e os fatores psicológicos infantis na homossexualidade masculinaxl
.
Como já mencionado, são escassos os dados fisiológicos e biológicos. Bieber, e os seus sucessores,
têm publicado com regularidade sobre certo número de fatores infantis mais ou menos específicos
em homens com orientação homossexual. Estes fatores estão interligados e constituem um modelo
identificável, que deve ser visto em estreita ligação com as causas deste processo. Esse modelo é
constituído por relações interpessoais com o pai e a mãe, com os irmãos e o chamado grupo dos
pares, e ainda por outros dados do desenvolvimento psíquico que não é difícil relacionar com o
pensamento dos teóricos da moderna psicologiaxli
. As estatísticas de Bieber e dos seus seguidores
podem também ser utilizadas como base para a teoria da homossexualidade que se apresentará a
seguir. Esse é o conjunto de dados mais confiável, tanto mais que as pesquisas incluíram uma
grande variedade de subgrupos de pessoas inclinadas à homossexualidade e em várias nações.
Esta teoria não surgiu de repente, mas é o resultado de um progresso gradual no estudo das
neuroses e da homossexualidade, por parte de psicoterapeutas que utilizam técnicas psicanalíticas.
O fundador desta teoria, o psiquiatra holandês Johan Leonard Arndt (1892-1965) reuniu uma grande
variedade de observações e de conclusões dos teóricos precedentes, em particular de Adler e do seu
próprio mestre, Stekel. O estudo de Arndt confirmou e completou algumas observações de Stekel,
tais como: “Ele (o homossexual) é infeliz, sentindo-se condenado pelo destino ao sofrimento”;
“nunca vi um homossexual feliz ou são”; “é uma eterna criança...em luta com o adulto”xlii
.
Introduzindo o princípio da autocompaixão, Arndt não anulou as observações dos seus
antecessores, antes as completou numa síntese que integra também outros elementos relevantes de
observação, recolhidos por autores contemporâneos das mais variadas orientações teóricas. O
homossexual, dizia ele, tal como os outros pacientes neuróticos, se rege por uma estrutura interior
que se comporta de maneira autônoma como o Eu infantil, uma criança forçada a ceder à
autocompaixão. Depois de ter descoberto este mecanismo em muitos casos de neuroses sem
manifestações claramente sexuaisxliii
, Arndt foi percebendo gradualmente que isso era comum aos
vários tipos de neuroses, e também o reconheceu nos homossexuaisxliv
.
Impressionado pela tendência dos neuróticos adultos a se lamentarem como crianças e pela sua
persistência e resistência à mudança, Arndt recorreu à noção freudiana de “repressão” para explicar
a fixação das reações de aflição e de autocompaixão da infância, tal como o seu carácter autônomo
e repetitivo. Para Freud, o importante conceito de repressão estava intimamente ligado a uma outra
noção essencial: a do inconscientexlv
. Já na sua primeira publicação sobre a histeria, escrita em
colaboração com Joseph Breuerxlvi
, Freud lançou a hipótese de que as emoções fortes de reação às
frustrações às vezes não são mentalizadas mas recalcadas à viva força, afastadas do nível
consciente, mas conservando toda a sua carga emotiva no subconsciente. Breuer e Freud se referiam
sobretudo às emoções de aflição, com as correspondentes manifestações de lágrimas, suspiros e
raiva.
Arndt identificou o núcleo da reação de aflição como autocompaixão, admitindo que essa
emoção tivesse sido recalcada para o inconsciente, obrigando o neurótico a alimentar
continuamente os impulsos de autocompaixão sem conseguir reconhecê-los como tais. A terapia
desta condição deveria consistir, obviamente, em trazer para o nível consciente a autocompaixão
inconsciente daquela “criança que existe por dentro e se queixa”. Deste modo, ela perderia o seu
poder compulsivo sobre a mente.
Comecei por aderir à teoria da repressão, de Arndtxlvii
, mas o passar dos anos me levou a
colocá-la cada vez mais em questão, até que acabei por abandoná-la. É inegável que a “repressão”
pode explicar muitos fenómenos que se encontram habitualmente na psicoterapia; por exemplo, é
bem notório o fenômeno da resistência a admitir a própria autocompaixão justamente no momento
24
em que esta se dá. Portanto, é possível dizer que qualquer coisa se opõe ao reconhecimento
consciente da autocompaixão. Contudo, penso que essa “qualquer coisa” tenha bastante de “orgulho
ferido”. Além disso, o processo de superação de uma neurose, concretamente de uma neurose
homossexual, corresponde mais a um misto de conquista da própria autoconsciência e de luta
generalizada contra o próprio infantilismo, uma vez reconhecido. Não é tanto o desbloqueio das
repressões que é responsável pela mudança, mas a diminuição gradual sobre hábitos emocionais
infantis profundamente enraizados, tais como a autocompaixão e as reações a ela associadas. A
característica mais impressionante da personalidade neurótica é o estar centrada em si mesma e a
autocompaixão é, talvez, o aspecto mais saliente dessa atitude geral. A conquista da maturidade
emocional implica, sobretudo, uma diminuição do egocentrismo.
Estou convencido de que a repetitividade neurótica e a resistência à mudança se
compreendem melhor como efeitos da formação de um hábito ou como uma espécie de
“psicodependência” da autocompaixão e de outras tendências intimamente ligadas a ela. Sem um
esforço deliberado da parte da pessoa neurótica, destinado a tomar consciência de si mesma e a
combater a autocompaixão, este impulso tenderá a procurar a própria satisfação, acabando por se
reforçar. Superar uma neurose significa romper a prisão que aprisiona a pessoa na autocompaixão.
A concepção freudiana de repressão para o inconsciente e o próprio conceito de inconsciente
parecem excessivamente românticos e eu sou um dos que não acreditam no inconsciente freudiano,
cuja existência ainda não encontrou prova experimentalxlviii
.
Na última década, muitos outros psicoterapeutas eminentes estudaram a homossexualidade
de um ponto de vista psicodinâmico; as suas observações e muitas das suas concepções teóricas são
contribuições altamente qualificadas, que não serão discutidas nas páginas seguintes. Alguns nomes
proeminentes são os de Karen Horneyxlix
, H. S. Sullivanl
, o psiquiatra e neurologista francês Marcel
Eckli
e os psiquiatras de New York Charles Socarideslii
e Lawrence Hattererliii
. O livro de Hatterer
merece uma menção especial, porque não descreve uma teoria geral mas um procedimento prático
para a cura dos homossexuais do sexo masculino. Baseando-se na sua experiência com os pacientes,
Hatterer apresenta bastantes exemplos de reações comportamentais e emotivas, tais como sensações
de inferioridade, idealização do parceiro homossexual e tendência a se sentir como vítima. Estas e
outras observações de fenômenos encontrados durante terapia têm um valor notável e se enquadram
perfeitamente na teoria da autocompaixão.
Os apoiantes da teoria que admite a homossexualidade como coisa normal afirmam que
aquele que continuar a acreditar que se trata de uma condição de perturbação, mais especificamente
de uma neurose (ou seja, um distúrbio emocional), vive ainda no passado; a ideia de que a
perturbação possa ser superada, seria indício de uma mentalidade ainda mais retrógrada. No
entanto, não se dão conta de que a sua posição é que está hoje ultrapassada pelo progresso da
terapia, se mantendo presos à teoria de que a homossexualidade é inata, que é exatamente o ponto
de vista do século passado. Os avanços no estudo das peculiaridades emocionais das pessoas que
têm este problema e a sua identificação como neurose são recentes, tal corno alguns dos métodos de
cura.
Embora o conceito de neurose seja indispensável na prática clínica e se verifique um
razoável consenso no diagnóstico das neuroses nos casos individuais, não foi ainda possível
encontrar um instrumento objetivo de diagnóstico para medi-la. As tentativas com testes
«objetivos» de carácter fisiológico e psicológico para distinguir os neuróticos dos não-neuróticos
não tiveram até agora qualquer êxitoliv
. Portanto, os investigadores têm de se valer da única prova
“subjetiva” eficaz: o questionário que, nas palavras de um dos principais investigadores, “pode ser
usado com segurança para distinguir claramente os sujeitos normais e os neuróticos”lv
.
25
O que é certo é que, com os testes mais variados e nos países e grupos econômico-sociais mais
diversos, os investigadores têm encontrado o mesmo resultado: os grupos homossexuais figuram em um
nível nitidamente mais alto nas escalas que medem a neuroselvi
. Esta correlação fornece uma boa prova
científica a favor do carácter neurótico da homossexualidade, tanto é que estes estudos abrangeram
grupos com acompanhamento clínico, ou que já haviam procurado alguma forma de psicoterapia, e
pessoas razoavelmente integradas na vida sociallvii
.
Parece-me que o conjunto das investigações fisiológicas e psicológicas até agora publicadas
indica, sem margem para dúvidas, que a interpretação mais adequada da homossexualidade é a de
uma variante da neurose. O fato de aparentemente poucos especialistas de outras ciências humanas
seguirem esta conclusão, aliás praticamente desconhecida da opinião pública, resulta da pressão das
tendências libertárias favoráveis à homossexualidade, que eliminam sistematicamente qualquer voz
discordante. A situação é ao mesmo tempo caricata e triste, porque foi precisamente nas últimas
décadas que a atitude fatalista em relação à cura da homossexualidade se tornou, mais que nunca,
injustificada.
Este livro foi escrito depois de mais de vinte anos de estudos sobre a homossexualidade e
depois de ter tratado mais de 225 homens homossexuais e um grupo de 30 mulheres lésbicas,
seguindo os princípios da teoria da autocompaixão. Considero esta teoria, originalmente formulada
por Arndt, muito mais que uma síntese nova, elaborada a partir de material antigo: é um efetivo
progresso em relação às concepções anteriores. A correta compreensão da natureza deste mal é mais
que um exercício académico: representa a esperança de que pessoas, prisioneiras do antigo
preconceito de que a homossexualidade seja inata e imutável, possam ser ajudadas a se tornar
emocionalmente mais maduras.
26
5-O COMPLEXO DE INFERIORIDADE HOMOSSEXUAL
A criança é egocêntrica por natureza. Ela tem a impressão de que o seu “Eu” seja o centro e
a coisa mais importante do mundo. É por isso que está, sobretudo, orientada sobre si própria ou, em
outras palavras, tem um sentido muito forte da importância do Eu. Em consequência de estar
voltada para si mesma, a criança se compara continuamente com os outros (com os outros tal como
são mas, especialmente com os outros tal como os vê na concepção subjetiva que tem deles).
Quando o resultado desta comparação é negativo, o que acontece frequentemente, a criança sente-se
ferida: enganada, ofendida, menos estimada e objeto de menor respeito e apreço que as outras
pessoas, reais ou imaginárias. Se a criança, com a sua grande necessidade de afeto e de apreço se
sente suficientemente atendida, fica contente e feliz. Da mesma forma, fica contente quando se
sente privilegiada em relação aos outros ou, pelo menos, é tratada ao mesmo nível pelas pessoas e
pela vida. No entanto, como já se disse, a criança tem uma forte inclinação a se ver menos
privilegiada, menos amada, colocada numa posição menos favorável.
Precisamente por estar tão sedenta de apreço, a criança fica profundamente desiludida com
qualquer falta de afeto ou de apreço, real ou imaginária. Nessas circunstâncias, tem a sensação de
que o seu valor como pessoa diminuiu; tende então a se ver como inferior aos outros e,
eventualmente, privada de valor.
A importância inata do Eu, na criança, faz com que ela sobrevalorize certas experiências em
que detectou menor estima e sobrevalorizar o significado de “ser” menos valiosa em certos aspectos
particulares da personalidade. O fato de “ser inferior” em qualquer aspecto secundário da sua
personalidade ou das condições de vida leva a criança rapidamente a se tornar, a seus próprios
olhos, inferior em tudo. Para a criança, a ideia ou a própria imagem de “ser gorda”, “ser menos
apreciada que um irmão”, “gaguejar um pouco”, “ser filha de pais de condição social humilde”, ou
“ir mal na escola” atingem a pessoa em um todo. A criança sente-se, então, inferior sob todos os
aspectos, como se a inferioridade parcial tivesse se alastrado sobre toda a personalidade. É por esta
razão que ser apreciada sob um determinado aspecto da personalidade não exclui uma imagem
inferior de si mesma em vários outros aspectos.
Sentir-se inferior significa pensar que os outros não podem amá-la por falta de valor; que
não a aceitam verdadeiramente, de modo que não tem verdadeiramente lugar entre eles. Algumas
das reações emocionais que correspondem a esta perspectiva são: vergonha, solidão, autodesprezo
e, naturalmente, tristeza ou raiva.
A impressão de inferioridade pode ter origem nas comparações com os outros (a própria
criança é a primeira a fazê-lo) e também das críticas, de modo especial dos pais e dos membros da
família, em segundo lugar dos companheiros de jogo e de outras pessoas relevantes exteriores ao
meio familiar, tais como os professores. Com o passar do tempo, quando a impressão de
inferioridade é reforçada pela repetição de experiências externas ou internas entendidas pela criança
(ou pelo adolescente, no caso que estamos estudando) como análogas às anteriormente sofridas, a
impressão pode se tornar crônica. Transforma-se numa convicção profundamente enraizada acerca
da própria identidade (o “Eu”), como um absoluto, uma imagem negativa de si que começa a viver
por sua própria conta. Uma vez desencadeado, esse processo se toma resistente a novas experiências
que o poderiam modificar e a novas aprendizagens. Este mecanismo é rígido e autônomo; todo o
afeto e o apreço do mundo são incapazes de anulá-lo. É por isso que se chama complexo de
27
inferioridade. Para compreender melhor a peculiaridade deste fenômeno convém reparar numa
importante reação emotiva que se desenvolve com o complexo de inferioridade e que é uma parte
essencial dele; a reação emocional primária perante o Eu ofendido, numa criança ou em um
adolescente: a compaixão por si mesmo.
Se uma criança ou um adolescente, que acabou por se sentir inferior e não apreciado ou
excluído, pudesse aceitar a sua condição desfavorável, a sua suposta menor importância, certamente
se sentiria mal pela privação de amor, pelo desprezo, pelas deficiências que notou em si mesma
mas, se aceitando efetivamente, o sofrimento diminuiria em pouco tempo, recuperaria o equilíbrio
interior e o gosto pela vida. Por outro lado, numa criança, ou em um adolescente, esta reconciliação
consigo mesma não é fácil, por causa do seu inato sentido da importância do próprio Eu. A
relativização de si mesma não é uma das qualidades da criança.
O Eu infantil reage com uma emoção centrada na própria pessoa e fica obsedado pela
autocompaixão: “Causo pena! Não me querem, não me estimam, riem de mim, não querem me
aceitar”, e por aí fora. E pensando em si próprio, vendo a si mesmo como uma pobre criatura,
começa a ter uma intensa piedade por aquele ser sofredor. Sente piedade, tal como sentiria por outra
pessoa que visse sofrer e merecesse dó. As afirmações “sou feio, impopular, fraco, não sirvo para
nada, rejeitado, em desvantagem em relação ao meu irmão ou à minha irmã” implicam um
“coitadinho de mim!”.
A autocompaixão é a compaixão de si próprio. Talvez não haja experiência ou impressão
mais eficaz para provocar a autocompaixão de uma criança do que a ideia “estou sozinha, sou
menos apreciada”. A autocompaixão absorve cada vez mais a atenção da pessoa, suas energias
mentais, o Eu quer se confortar a si mesmo com a autocompaixão que é essencialmente uma forma
de amor: uma forma de amor de si mesmo. O Eu da criança quer tratar a si mesmo como um pobre
coitadinho, como trataria outra pessoa nas mesmas circunstâncias.
A autocompaixão fornece calor humano, consolo, quer proteger e mimar e se sente no
direito de obter compensações confortantes. A autocompaixão se exprime nas palavras e nos
lamentos interiores, nas lágrimas e suspiros; se manifesta claramente no tom queixoso da voz, na
expressão do rosto e nas atitudes do corpo. Quase sempre a autocompaixão origina emoções de
protesto, sob a forma de cólera, de hostilidade, de rebelião ou de amargura, sempre que a criança se
sente tratada injustamente.
Analisando melhor, parece evidente que aquilo que se designa popularmente como
complexo de inferioridade (segundo a descrição de Adler) e exatamente a autocompaixão crônica
de quem se sente inferior. Presto as minhas homenagens ao psicanalista holandês Johan Arndt por
ter demonstrado o mecanismo desta emoção universal, e tão humana, que é a autocompaixão.
Um caso de complexo de inferioridade é também um caso de autocompaixão crônicalviii
.
Sem ela, as sensações de inferioridade não teriam consequências negativas. Arndt chamou à
autocompaixão das crianças e dos adolescentes “auto-dramatização”, porque a criança sente e vê a
si mesma como uma personalidade importante, digna de compaixão: “O meu sofrimento é único”.
A consciência de si torna-se consciência do “coitadinho de mim”.
A CRIANÇAAUTO-COMPADECIDA NO ADULTO
As expressões de autocompaixão (como o chorar, queixar, procurar conforto e consolo)
podem aliviar e ajudar a assimilar as experiências que causaram a pena (o trauma). Crianças e
28
adolescentes que se sentem sozinhos com as suas sensações desagradáveis durante um longo
período, em geral não abrem a alma a uma pessoa de confiança; se envergonham ou julgam que
ninguém está em condições de compreendê-las. Como resultado, continuam a alimentar as suas
autocompaixões.
As crianças não param facilmente, depois de entrarem neste processo: isto vale para muitas
emoções e comportamentos, como também para a autocompaixão das crianças e dos adolescentes.
Depois de se sentirem tristes em si mesmas, tendem a perseverar nessa tristeza e até a cultivá-la,
pois a autocompaixão tem este doce efeito inerente à lástima: o consolo. Pode ser muito gratificante
se sentir como o pobre coitadinho, incompreendido, rejeitado e abandonado. Sob este aspecto a
autocompaixão e a auto-dramatização têm qualquer coisa de ambivalente.
Uma autocompaixão repetidamente alimentada pela criança e pelo adolescente pode gerar
uma psicodependência de autocompaixão. Em outras palavras, se torna um hábito autônomo de
íntima comiseração.
Este estado emocional da mente é descrito pela expressão: “a criança (ou o adolescente)
auto-compadecida no adulto”. A personalidade do “pobre de mim” da infância (ou da adolescência)
sobrevive na mesma forma; toda a personalidade infantil permanece na pessoa.
Há, portanto, três conceitos que geralmente se sobrepõem: complexo de inferioridade,
criança no adulto e hábito de autocompaixão (chamado por vezes de “doença dos lamentos”). São
estes descrições adequadas dos fenômenos que se verificam na mente de uma pessoa neurótica, isto
é, afetada por variadas hesitações, emoções obsessivas, sentimentos imotivados de insegurança e
conflitos interiores.
As linhas gerais da personalidade neurótica correspondem às características descritas acima.
Em primeiro lugar, observamos uma continuidade modelos de comportamento infantis e pueris. De
certa maneira, a pessoa continua a ser, do ponto de vista psicológico, a criança ou adolescente de
antigamente; mantendo-se os desejos concretos, as sensibilidades, as lutas e o modo de pensar das
crianças. No entanto, o complexo não conserva no adulto todas as coisas da criança. O
amadurecimento da pessoa só fica seriamente comprometido naquelas zonas onde as frustrações
infantis intervieram, ou seja, onde a autocompaixão e o sentido de inferioridade tiveram origem.
Nos outros campos, a pessoa pode ser psicologicamente amadurecida. Nos casos em que a “criança
lamurienta” evalece, então toda a personalidade fica imatura, “infantil”.
A homossexualidade é justamente um tipo de neurose. A pessoa que sofre este complexo
leva dentro uma certa “criança que se auto-compadece”. Por isso é que Bergler observou: “Aos
cinquenta anos o homem com inclinações homossexuais encontra-se, do ponto de vista emocional,
nos anos da adolescência”lix
.
Uma segunda característica da neurose é a tendência à autocompaixão — habitualmente
manifesta, mas em algumas pessoas é mais reservadas — tão imensamente descrita por Arndt. O
neurótico grave manifesta de modo muito evidente a necessidade de se compadecer; parece
continuamente à procura de motivos de autocompaixão — e ele consegue —; talvez sentindo-se
cronicamente objeto de injustiça, ou sempre frustrado e sempre sofredor por qualquer coisa. Os
seus lamentos podem consistir em qualquer coisa negativa: sentimentos de desilusão, de ter sido
deixado só, de ser incompreendido, de falta de estima, de carência de amor, de incapacidade física,
de dor, etc. É como se a mente do neurótico não pudesse passar sem a sensação de autocompaixão,
de auto-dramatização; por isso, esta situação pode ser vista como uma “psicodependência” ou como
29
— o que é o mesmo — um mecanismo compulsivo de compaixão. O resultado é que, no neurótico,
a confiança da pessoa em si mesma, a segurança e a alegria de viver ficam seriamente
comprometidas.
Uma outra característica frequente do neurótico é um desejo infantil de atenção, de aprovação e
de simpatia, além de uma tendência geral à autoafirmação. A expectativa de estima e de calor da
criança que tem por dentro, é inesgotável e gira à volta da pessoa como na criança propriamente
dita. De muitos modos, este Eu infantil pode procurar ser importante, interessante, atraente para os
outros, estar no centro das atenções tanto na vida real como na imaginação.
É preciso mencionar como último aspecto a atitude mental egocêntrica. Uma grande parte
da consciência psíquica pode estar ocupada, ou girar em torno, do infantil “coitadinho de mim!”.
Para usar uma comparação: a “criança compadecida que está no adulto” mima e cuida de si mesma
como uma criancinha carinhosa acariciaria uma boneca que trata como algo que merece compaixão.
Todo o sentimento de amor pelas outras pessoas, baseado em um interesse genuíno por elas,
é bloqueado por uma atitude neurótica compulsiva centrada sobre si própria e que se desenvolve
mais ou menos espontaneamente.
O COMPLEXO DE INFERIORIDADE HOMOSSEXUAL
São inúmeros os tipos de complexo de inferioridade e as variantes da “criança auto-
compadecida do passado, conservada no interior”. Um deles é o complexo de inferioridade
homossexual. Portanto, à parte o sintoma concreto de um certo tipo de apetite sexual, a
homossexualidade não é um fenômeno isolado mas se integra no conjunto dos problemas da
neurose.
Como já mencionado anteriormente, os sentimentos de inferioridade podem se manifestar
em muitos setores da chamada esfera da personalidade individual. A criança ou adolescente
perturbado por fantasias e atrações homoeróticas tem uma impressão de inferioridade em relação à
sua identidade sexual ou “identidade de gênero”, isto é, o fato de ser rapaz ou moça. O rapaz sente-
se inferior comparado com os outros rapazes em relação às suas qualidades de homem: resistência,
espírito decidido, atitudes desportivas, audácia, força ou aspecto masculino. Uma moça sente-se
inferior comparada com as outras moças quanto à feminilidade nos interesses, comportamentos ou
aspecto físico. Esta regra pode ter variantes, mas as linhas gerais são inconfundíveis. Um elemento
fundamental desta impressão de inferioridade é a consciência de não pertencer realmente ao mundo
dos homens ou das mulheres, de não ser um rapaz, (homens) ou uma moça (mulheres).
Na maior parte dos casos, esta autoimagem de inferioridade aparece na pré-puberdade e na
puberdade, entre os oito e os dezesseis anos, com um pico entre os doze e os dezesseis. O adulto
com orientação homossexual irá conservar o característico tipo infantil do “Eu auto-compadecido”,
com o seu cortejo de antigas fantasias e frustrações e a sua concepção pueril das pessoas do mesmo
sexo.
O ponto de partida é uma autoimagem de inferioridade, concretamente, a de não pertencer
ao mundo dos homens ou das mulheres. Às vezes, estas sensações são plenamente conscientes: a
criança pode expressá-las, como aquele rapaz de dez anos que mais de uma vez se lamentava com a
mãe, quando lhe falava contrariado do seu relacionamento com os outros rapazes da escola: “sou
mesmo tão fraco!” (contou-me a mãe, quando veio para discutirmos a homossexualidade do filho).
Outros jovens podem ter as mesmas sensações sem verbalizá-las claramente; e podem se dar conta
30
somente depois de alguns anos: “Olhando para trás, me dou conta de que sempre me senti
deslocada e pouco atraente, comparada com as outras moças”, observava uma mulher lésbica, “mas
nunca tinha me dado conta disso”.
Mais ou menos conscientes, as crianças e os adolescentes sofrem por este sentido de
inferioridade que os corrói por dentro. Muitas vezes têm vergonha de admitir diante de si próprios
este sofrimento, porque o reconhecimento consciente da inferioridade pode ser uma experiência
desagradável, que ofende o Eu, o amor próprio, ou a importância do Eu infantil.
Os sentimentos de inferioridade de uma criança ou de um adolescente podem distorcer a
sua imagem das outras pessoas, algumas das quais podem lhes parecer superiores. No caso do
rapaz, outros rapazes podem parecer mais masculinos ou mais fortes. No caso da moça, outras
moças e algumas mulheres podem parecer mais femininas, mais belas, mais engraçadas, mais
próximas do ideal feminino. Neste modo de ver podem ter mais importância as características
físicas dos outros; em outros casos, prevalecem as atitudes e os comportamentos; mas, de uma
forma ou de outra, as pessoas do mesmo sexo, em particular algumas delas, são idealizadas e até
idolatradas.
Uma certa idealização das pessoas do mesmo sexo é normal durante a pré-adolescência e a
adolescência. Os rapazes da mesma idade são admiradores dos desportistas, heróis, aventureiros,
pioneiros: homens cheios de coragem, de força e de sucesso social. Sentem-se atraídos pelos
exemplos de homens dominadores: o vigor masculino e a audácia são tidos em grande apreço. Por
isso pode acontecer que admirem rapazes um pouco maiores, que são já “mais homens” que eles, e
os queiram imitar. Pela sua parte, as moças têm um particular interesse pelos atributos de graça e
feminidade das outras moças e mulheres mais maduras: admiram os dotes femininos para as
relações sociais, a graça feminina.
MASCULINIDADE E FEMINILIDADE: ESTEREÓTIPOS CULTURAIS?
Nesta altura não podemos deixar de fazer um inciso para comentar algumas considerações
sobre uma convicção relativamente comum, que pretende pôr de lado as ideias tradicionais de
masculinidade e feminilidade e os correspondentes “papéis” como simples produtos da cultura.
Segundo esta opinião, a cultura tradicional já teria ficado obsoleta e portanto seria já
desaconselhável “doutrinar” as crianças com os estereótipos dos vários papéis ligados ao sexo. Na
realidade, saber se os modelos de masculinidade e de feminilidade são naturais não é uma questão
decisiva para a explicação da homossexualidade que estamos a apresentar. Efetivamente, os
sentimentos homossexuais provêm de a pessoa se sentir deficiente na própria masculinidade e/ou
feminilidade, tal como é entendida pela criança (ou pelo adolescente) na sua comparação com os
outros. Portanto, em sentido estrito, é irrelevante se a masculinidade ou a feminilidade são relativas
ao contexto cultural ou são parte da herança biológica da pessoa, ou ainda ambas as coisas ao
mesmo tempo.
Contudo, a hipótese, admitida hoje por alguns, da equivalência dos sexos pode confundir
um juízo correto acerca dos comportamentos sexualmente desviados. Além disso, os sistemas
educativos que resultam dessa concepção igualitária dos rapazes e das moças põem gravemente em
perigo o seu desenvolvimento emocional saudável e, especialmente, o seu desenvolvimento sexual.
A teoria da equivalência é insustentável. Em todas as culturas e em todos os tempos e em
todo o mundo, os homens e as mulheres diferem entre si em várias dimensões fundamentais do
comportamento. A interpretação mais plausível desta constatação de fato está na hereditariedade.
Homossexualidade e Esperança
Homossexualidade e Esperança
Homossexualidade e Esperança
Homossexualidade e Esperança
Homossexualidade e Esperança
Homossexualidade e Esperança
Homossexualidade e Esperança
Homossexualidade e Esperança
Homossexualidade e Esperança
Homossexualidade e Esperança
Homossexualidade e Esperança
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Homossexualidade e Esperança
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Homossexualidade e Esperança
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Homossexualidade e Esperança
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Homossexualidade e Esperança

  • 1. Gerard J.M. Van den Aardweg Homossexualidade e Esperança Traduzido de HOMOSEXUALIDAD Y ESPERANZA - TERAPIA Y CURACIÓN EN LA EXPERIENCIA DE UN PSICÓLOGO GERARD J.M. VAN DEN AARDWEG
  • 2. ÍNDICE INTRODUÇÃO................................................................................................................................03 CAPÍTULO 1: Atitudes sociais a respeito da homossexualidade....................................................06 CAPÍTULO 2: O que é ser homossexual?..............................................................................…......09 CAPÍTULO 3: A homossexualidade é inata?............................................................................…...14 CAPÍTULO 4: A homossexualidade como transtorno psíquico.................................................…..22 CAPÍTULO 5: O complexo de inferioridade homossexual..............................................................26 CAPÍTULO 6: Origem e mecanismos do complexo homossexual..................................................35 CAPÍTULO 7: Manifestações do complexo homossexual...............................................................42 CAPÍTULO 8: O caminho da mudança............................................................................................45 CAPÍTULO 9: A mudança sem psicoterapia....................................................................................52 CAPÍTULO 10: Os efeitos da terapia anti queixa.......................................................................….59 CAPÍTULO 11: A prevenção da homossexualidade........................................................................66 BIBLIOGRAFIA..............................................................................................................................67 NOTAS………………………………………………………………..………………………....….68
  • 3. 3 INTRODUÇÃO por PAUL C. VITZ Nenhum aspecto da revolução sexual contemporânea mereceu mais destaque e provocou mais polêmica que a homossexualidade. Há vários anos somos bombardeados por argumentos de ambas as partes. De um lado, o movimento homossexual extremista, com exigências de tolerância e aceitação. Do outro, (atualmente com menor expressão pública), estão aqueles que rejeitam absolutamente o problema homossexual e não estão dispostos a encará-lo de modo algum. No entanto, os aspectos mais importantes da homossexualidade não têm sido discutidos de forma adequada. Entre eles, a investigação das causas e o exame das possibilidades de mudança tanto no comportamento como na orientação homossexual. Atualmente, ao fim de muitos anos de controvérsia exagerada, existe um desejo de se se chegar a alguma conclusão. Em parte, isto se deve a uma mudança na forma como a opinião pública encara o problema. O movimento homossexual extremista dos anos 60/70 começou claramente a recuar. Muito embora o público tenha sido despertado para o tema da homossexualidade, passou também a abandonar a imensa simpatia que nutria anteriormente pelo movimento homossexual. Os próprios homossexuais começaram a pensar duas vezes na questão, refletindo melhor o seu estilo de vida. A crise da AIDS evidenciou algumas das consequências da atitude “gay” militante e completamente desinibida. Porém, este fenômeno relacionado com a AIDS é apenas parte de uma tomada de consciência mais ampla, entre os homossexuais, pessoas em geral, de que o estilo de vida homossexual, mesmo independentemente de qualquer consequência para a saúde, tem se mostrado altamente nocivo para muitas pessoas. Resumindo, julgo que atualmente é possível, na cultura norte-americana e ocidental, dar início a uma reflexão racional, critica, porém simpática da homossexualidade. Por isso, a publicação deste livro de Gerard Van den Aardweg, Homossexualidade e Esperança, ocorre em um momento particularmente oportuno. O problema pode ser sintetizado assim: por um lado, temos todas as razões para nutrir simpatia e preocupação com aquele que possui sentimentos homossexuais, reconhecendo a realidade da sua situação. Não podemos ignorar essas pessoas, nem pedir simplesmente uma mudança de comportamento. Portanto, aceitamos o problema homossexual como importante e real, sem menosprezá-lo de nenhuma forma. Por outro lado, vêm surgindo, nas últimas décadas, muitos estudos relevantes sobre as origens da homossexualidade. Alguns demonstram claramente que a homossexualidade pode ser e já tem sido de fato mudada. As referências bibliográficas pioneiras apontando nesta direção já foram bem conhecidas e aceitas. Contudo, em consequência do movimento homossexual militante, este ponto de vista foi posto de lado nos últimos 10 ou 15 anos e ficou restrito a uma posição minoritária no campo da psicologia. O Prof., Van den Aardweg mostra o valor desta investigação e das pesquisas mais recentes, insistindo na necessidade de olharmos para esses dados. Isto já é por si só uma conquista importante. Mas, além disso, aceitando que a homossexualidade é um problema sério, ele apresenta uma estratégia psicológica para abordá-lo. Com isso o Dr. Van de Aardweg situa a homossexualidade em um novo contexto: a esperança de cura. Qual é a importância dessa esperança? Afinal, muitos homossexuais parecem estar interessados na total aceitação da sua forma de viver como intrinsecamente válida. Neste particular, me parece que a realidade é clara. Um grande número de homossexuais está francamente
  • 4. 4 insatisfeito com a sua forma de vida. Quando descobrem que são homossexuais, quase todos eles se sentem abatidos e deprimidos. O estilo de vida homossexual alimenta enormes quantidades de remorso, e não sentimento neurótico de culpa (embora, estou convencido, também há algo neste sentido), mas verdadeiro remorso: remorso por causa da promiscuidade sexual, remorso pelas contínuas mentiras acerca de relações de amor eterno que se rompem em poucas semanas, às vezes dias ou horas. Este remorso, juntamente com as esperanças frustradas acerca da vida homossexual, pesa seriamente sobre muitos homossexuais. A esperança que aqui se propõe é a esperança de se libertar de todos estes comportamentos, pensamentos e emoções, extremamente dolorosos. Um quadro conceitual da cura também nos fornece uma perspectiva muito mais racional para compreender o problema da homossexualidade e lidar com ele. Nos últimos anos, aprendemos muito acerca de variadas condições psicológicas que perturbam e debilitam muitas pessoas. Temos agora consciência dos milhões de pessoas que sofrem ou sofreram por situações como o alcoolismo, obsessão de jogo, abuso de drogas, desordens maníaco-depressivas, esquizofrenia, anorexia, bulimia, ansiedade angustiante, depressões e fobias. Talvez todos nós, em certa medida e em algum momento das nossas vidas, seremos atingidos por algumas destas condições, assim como todos nós, mais cedo ou mais tarde, sofremos de enfermidades físicas. Acima de tudo, nos habituamos a encarar a cura das patologias psicológicas da mesma forma que a das doenças físicas. Todos nós conhecemos pessoas que se recuperaram de um ataque cardíaco e de pressão alta, pessoas que viveram muitos anos com câncer. Também sabemos de pessoas que venceram o alcoolismo, ou problemas psicológicos tais como profundas depressões e que estão bem. Talvez tenhamos experiência pessoal com estes casos. O Prof., Van den Aardweg mostra que a homossexualidade é mais uma dessas patologias que podem acometer qualquer pessoa. Ela tem origem no processo educativo e em várias experiências da nossa vida. Como qualquer outra patologia, pode ser compreendida e curada. Van den Aardweg retira a homossexualidade de uma perspectiva completamente irracional e conduz uma abordagem racional e realista do tema. A homossexualidade não é como uma condenação perpétua a viver de uma forma sempre conflituosa com o padrão heterossexual e as principais instituições da sociedade. Os homossexuais não estão condenados a uma vida que os aliena, segrega e restringe fortemente. Uma vez que, a homossexualidade é vista como mais um problema psicológico, que pode ser ultrapassado, a atitude em relação a ela muda de dois modos. Confere-se ao homossexual esperança de mudar e, ao mesmo tempo, se passa a encarar a pessoa homossexual como parte integrante da sociedade humana normal, sujeita, tal como todos nós, a patologias. Isto é particularmente verdade quando se olha para a homossexualidade como uma condição que pode ser curada e da qual, mediante Deus, se pode sair mais fortalecido, depois de ter conseguido vencer o desafio. É preciso sublinhar esta ideia. Por exemplo, conheço um grupo de homossexuais na cidade de Nova Iorque, intitulado “Courage”. Os membros deste grupo têm se esforçado seriamente para viver uma vida cristã, em particular, uma vida sexualmente casta. O nome do grupo é perfeitamente apropriado, porque empreender seriamente este tipo de vida exige efetivamente coragem. Ao pretender dar uma resposta cristã à sua homossexualidade, estes homens estão também a se apresentarem como exemplos de força de vontade e coragem para muitos outros — incluindo os heterossexuais. Até porque muitos heterossexuais também sofrem de patologias comportamentais — em particular, diversos tipos de comportamentos sexuais comuns entre os heterossexuais são, hoje em dia, vistos pelos psicólogos como dependências, por exemplo, a dependência da promiscuidade sexual, a dependência do vício da masturbação ou do fetichismo sexual. Os homossexuais que vencerem a sua condição podem ser vistos como modelos de força e de esperança para muitas outras pessoas.
  • 5. 5 Neste livro, Van den Aardweg apresenta a autocompaixão como elemento central da psicologia homossexual. É importante notar que as consequências neuróticas da autocompaixão não se restringem de modo algum à homossexualidade. Isto é, a autocompaixão é uma condição que afeta inúmeros tipos de pessoas. Uma das contribuições mais importantes de Van den Aardweg é descrever a dinâmica que conduz a este processo e algumas das terapias psicológicas para controlá- lo. Sob este aspecto, esta obra também é útil para quem estiver interessado nas modalidades em que a autocompaixão afeta a vida das pessoas, incluindo as heterossexuais. A utilização que o Prof., Van den Aardweg faz do humor como técnica terapêutica para tratar o auto-compadecimento neurótico pode se estender a muitas outras situações. Qualquer pessoa que sofra deste problema de autocompaixão é um potencial candidato ao tratamento pelo humor. De fato, penso que o humor é uma ferramenta de espectro muito amplo em psicoterapia, e mereceria mais atenção do que até agora tem recebido por parte dos psicólogos. A tese do Prof., Van den Aardweg toca numa área importantíssima da psicologia — educação infantil e, sobretudo, a relação entre a educação infantil e o desenvolvimento moral e ético. Certamente, a incapacidade de desenvolver uma identidade sexual normal tem consequências morais e éticas. Van den Aardweg descreve com grande perspicácia e de maneira concisa as atitudes típicas e os valores subjacentes ao não desenvolvimento da orientação heterossexual da criança. A sua interpretação da homossexualidade oferece uma visão acerca da psicologia do desenvolvimento, em particular sobre o caráter moral e ético da criança. Convido os leitores interessados no desenvolvimento infantil a prestar atenção particularmente às explicações e aos argumentos do autor. Finalmente, a abordagem do Prof., Van den Aardweg tem um significado especial para a comunidade cristã. Ainda que ao interpretar clinicamente a homossexualidade ele não faça referência a quaisquer conceitos ou doutrinas explicitamente cristãs, o seu livro é uma contribuição interessante e profunda, do ponto de vista da atitude cristã a respeito da homossexualidade. O orientador cristão que estivesse convencido de que a homossexualidade não pode ser curada se depararia com um dilema moral muito sério. Ele poderia aceitar a pessoa, mas se a orientação homossexual não pudesse ser mudada, seria também levado a aceitar o comportamento homossexual. Agir dessa forma, sabendo que o judaísmo, do qual Jesus foi um legítimo representante, condena a homossexualidade, seria rejeitar a Escritura e a Tradição da Igreja sobre este ponto, não apenas os últimos 2000 anos de cristianismo, como também os anteriores 3000 anos de vida judaica. A alternativa pareceria sob alguns aspectos igualmente inaceitáveis, por exemplo, rejeitar o homossexual, dizer que ele está agindo mal, sem oferecer ajuda nenhuma. Ambas as atitudes pareceriam não cristãs e, aparentemente, não haveria meio termo. Todos nós conhecemos a famosa história de Jesus e da mulher adúltera, onde Jesus Se recusa a condenar a mulher e encontra sabiamente uma forma de mandar embora aqueles que pretendiam condená-la. Apesar de tudo, quando os dois ficam sozinhos, Jesus declarou em termos inequívocos: “Vai e não tornes a pecar”. Este livro, tal como obras recentes de outros psicólogos tanto cristãos como não cristãos, que enfrentam o problema da homossexualidade, constitui uma ajuda real. Este gênero de livros, como os do Prof. Van den Aardweg, fornecem indicações muito valiosas sobre o modo de ajudar o pecador que quer honestamente ir e não voltar a pecar.
  • 6. 6 1- ATITUDES SOCIAIS A RESPEITO DA HOMOSSEXUALIDADE Hoje em dia, muitos julgam que os sentimentos homossexuais são uma simples questão de escolha ou de gosto pessoal. Daí resulta um apelo à aceitação social, colocando as práticas homossexuais no mesmo pé das relações heterossexuais. Muitos chegam até mesmo a fazer pressão no sentido de as relações homossexuais receberem o mesmo reconhecimento legal que o casamento e defendem uma maior informação da opinião pública, em que aquela condição seja aceita como normal. O único problema da homossexualidade seria, segundo eles, de carácter social: convencer as pessoas a aceitarem e a devolverem os direitos naturais a uma minoria há muito reprimida. Alguns vão ainda mais longe e, convencidos de que todos os adultos são, por natureza, parcialmente homossexuais, defendem que a educação das crianças seja modificada para um modalidade mais aberta à homossexualidade, por exemplo, tratando os meninos e as meninas do mesmo modo. Nesta questão, o chamado movimento de libertação homossexual caminha de mãos dadas com o movimento feminista. Ambos estão de acordo sobre a necessidade de reformular completamente os papéis masculinos e femininos e as relações homem-mulher. A palavra de ordem é acabar com os modelos de papéis “pré-definidos”. E dizendo “pré-definidos” entendem que até agora teríamos sido obrigados, pela pressão cultural, a assumir formas tradicionais de masculinidade e feminilidade, a aceitar modalidades arbitrárias e coercitivas de relacionamento com o outro sexo e a adotar o casamento como se fosse o único tipo imaginável de relação sexual. A verdade é que —prossegue o raciocínio—, a sexualidade natural seria muito mais rica nas suas “variantes” e a ciência moderna teria demonstrado a existência de formas completamente diversas, mas igualmente naturais, de sexualidade, de amor sexual e de relações sexuais. A estrada a ser percorrida, com o superação dos preconceitos antiquados parece perfeitamente clara para eles... de modo que, não aceitar a homossexualidade como coisa normal, seria discriminai as pessoas só por terem um modo de ser diferente, por serem “intrinsecamente” diferentes. Até sugerem a hipótese de alguém fazer essa discriminação por teimar em reprimir a componente homossexual da sua própria vida emocional ou, pior ainda, por sofrer de “homofobia”, um medo patológico da homossexualidade. Estas ideias, repetidas frequentemente na rádio e na televisão, nos jornais e nas revistas, promovidas por organizações para a reforma sexual e por algumas instituições conceituadas de saúde mental, deixaram pouco espaço para as outras opiniões. Tornou-se comum ensinar aos estudantes das universidades e dos liceus que a homossexualidade é normal; um professor que se atreva a expressar uma opinião diferente corre o risco de ser lapidado pela indignação pública. Autores de textos e de artigos especializados de medicina e psicologia publicam regularmente de acordo com esta mentalidade e, se alguma vez mencionam opiniões sobre a homossexualidade diferentes daquelas dos movimentos de libertação homossexual, não escapam ao comentário depreciativo e mordaz. Não é de se estranhar que este não seja o clima ideal para novas investigações imparciais sobre as causas da homossexualidade*, que as nossas instituições científicas abandonaram à própria sorte, privando-as de terapia adequada. Muitos editores hesitam em publicar obras que não se alinhem na orquestração habitual, para não chocar a facção maioritária. Um dos poucos que protestaram contra a perda de liberdade motivado por a este clima de pressão social foi A. D. de
  • 7. 7 Groot, professor holandês de psicologia da personalidade. Em um debate sobre a hipótese de os homossexuais serem mais neuróticos que os heterossexuais, escreveu: O clube mais poderoso da nossa época, entre os intelectuais e os semi-intelectuais, é a comunidade dos seguidores das opiniões predominantes, tendencialmente avançadas. Quem se lembrar de propor uma teoria sobre diferenças entre grupos é acusado de “discriminação”. A propaganda em favor da aceitação da homossexualidade teve origem sobretudo entre os próprios homossexuais militantes, a quem tem sido dada oportunidade privilegiada de se pronunciarem, cada vez que aparece nos meios de comunicação qualquer acontecimento relacionado com a homossexualidade, ou sempre que sai um artigo, um livro ou um filme sobre o assunto. Parecem ser considerados os melhores especialistas da sua condição emocional. No entanto, olhando as coisas com mais atenção, há razões de sobra para supor que justamente eles “não podem ser bons juízes em causa própria”, como diz um antigo provérbio. (*) É interessante observar como a Força Tarefa Nacional Gay pressionou a Associação Americana de Psiquiatria a suprimir a homossexualidade da lista de transtornos mentais (Nota do Editor na língua espanhola) A HOMOFILIA COMO PERTURBAÇÃO EMOCIONAL —“Todos acham que é normal”. É um protesto que se ouve frequentemente, principalmente, da parte de jovens, afetados por este problema. Nesta seção tentaremos explicar por quê o “todos” está bastante longe da realidade. É um fato que pessoas com orientação homossexual são muitas vezes informadas da sua normalidade por médicos, psicólogos e até padres, que as consolam: “Por que se angustiar com isto? Aceite que é ‘assim’, arranje um parceiro, se associe a um círculo gay. Não há nada que possa fazer”. No entanto, estas opiniões são infundadas, simples frases-feitas que estão na moda. Analisemos, portanto, o outro ponto de vista. Primeiro, será demonstrado que a homossexualidade é uma perturbação emocional originada na infância e na adolescência. Depois, que, em muitos casos, as pessoas com esta orientação podem conseguir melhorias profundas, se trabalharem com paciência, empenho e boa vontadei . Não é fácil dizer a palavra certa. Normalmente, os homossexuais militantes fogem de um debate aberto, querem apenas ouvir que têm razão, são surdos aos argumentos lógicos e aos fatos; atacam, dramatizam a sua situação (e, pelo visto, com pleno êxito). Precisamos ser firmes para resistir às pretensões desta militância furiosa. Talvez tivesse sido boa ideia prestar mais atenção a uma parte significativa dos homossexuais que não fazem tanto estardalhaço e frequentemente ficam esquecidos. Estas pessoas vivem perturbadas pela sua difícil situação e pelas suas implicações, tais como o isolamento social, o fato de ficarem solteiras e sozinhas. Muitas vezes, sentem-se infelizes e inferiores, até mesmo desesperadas. Talvez deveríamos ter dado mais atenção aos grupos homossexuais bem intencionados que levam uma vida homossexual sem encontrarem nela a paz, ou àqueles que se sentem condenados a repetir, pela vida afora, “nunca serei normal”. Não pensem que é um pequeno grupo. Quando se vai mais fundo numa conversa pessoal, se descobre que a maior parte das pessoas com orientação homossexual estão insatisfeitas com isso e gostariam de mudar “se fosse possível”ii . É verdade que muitas resistem a encarar as suas sensações como neuróticas ou a se empenharem em tentativas reais de mudar. Contudo, temos de admitir que, no mínimo, as opiniões sociais
  • 8. 8 predominantes agravam estas hesitações em mudar. Seja como for, estas pessoas —e a maior parte daquelas que lutam para superar os seus sentimentos homossexuais— têm necessidade de uma compreensão realista, não de uma compreensão superprotetora ou sentimental. Têm necessidade de encorajamento, mas também precisam olhar racionalmente para si próprias. Por isso este livro destina-se particularmente a elas, aos cônjuges, se são casadas, e aos pais que (se não estiverem atordoados pela propaganda da Libertação Gay) sofrem pelo caminho tomado pelos seus filhos. Este livro também poderá ser útil àqueles que, no trabalho ou na vida privada, têm de enfrentar os problemas de colegas ou amigos com tendências homossexuais.
  • 9. 9 2- O QUE É SER HOMOSSEXUAL? As expressões “este homem é homossexual” ou “esta mulher é lésbica” sugerem que essa pessoa pertence a uma variante da espécie humana, diferente da variante heterossexual. A homossexualidade está sendo cada vez mais apresentada como uma “variante”, uma “preferência”, uma «condição constitutiva» e estes termos podem dar a entender que a pessoa tenha nascido assim. Contudo, a verdade não é bem essa. Os conhecimentos de que dispomos mostram que as pessoas com orientação homossexual nasceram com o mesmo patrimônio biológico e psíquico comum a toda pessoa. Por exemplo, o fato de uma certa porcentagem de homens com orientação homossexual dar a impressão de falta de virilidade, ou parecer efeminados nos comportamentos ou nos interesses, não é prova de “diversidade” natural inata, pois estes estilos resultam de uma educação ou de uma autoimagem adquirida, aprendida. Da mesma forma, uma mulher “masculinizada” com sentimentos lésbicos não é assim por disposição natural, mas por hábito e por certo tipo de complexo de inferioridade. Além disso, existem mulheres lésbicas acentuadamente femininas que poucos, à primeira vista, poderiam imaginá-las com estas tendências. Com as palavras “complexo de inferioridade”, ESTOU ANTECIPANDO MINHA LINHA DE ARGUMENTAÇÃO. Efetivamente, procurarei mostrar que a orientação homossexual nasce de um tipo particular de complexo de inferioridade, pois constitucionalmente, as pessoas são heterossexuais e não homossexuais. Isto é verdadeiro, independentemente de se ter ou não consciência do fato; um homem ou uma mulher são essencialmente heterossexuais, mesmo que não sintam ou só de forma muito atenuada a sua orientação heterossexual. Rigorosamente, não existem “homossexuais”, nem sequer no reino animal; existem apenas pessoas que têm inclinações homossexuais. Por esse motivo, evitaremos chamá-los “homossexuais”, preferindo usar designações menos concisas tais como “pessoas com orientações homossexuais”. SENTIMENTOS HOMOSSEXUAIS Pode se definir o sentimento homossexual como a sensação de estar apaixonado ou sentir atração erótica por pessoas do mesmo sexo; paralelamente, se verifica um escasso interesse erótico para com o outro sexo, ou a ausência quase total de atração. Aqui, é preciso fazer uma reserva: durante a adolescência (puberdade), até cerca dos dezessete anos, as sensações homossexuais, são habitualmente passageiras e devem ser consideradas como uma etapa do desenvolvimento psicossexual. Na fase seguinte, com o despontar dos sentimentos heterossexuais, esses interesses desaparecem sem deixar rastro. Como será visto a seguir, a pré-puberdade e a puberdade são os períodos mais decisivos para o eventual desencadear de uma homossexualidade “propriamente dita”, isto é, de tendências homossexuais que permanecem ao longo da vida. Convém também não esquecer que a palavra “homossexualidade” abarca uma grande variedade de formas. Por exemplo, alguns homens têm uma excitação sexual com quase todos os homens que encontram, enquanto outros só têm interesse em certos tipos masculinos. Para alguns, a tendência homossexual está continuamente presente na imaginação, como uma obsessão, enquanto que em outros aparece de modo bastante irregular. Alguns estão exclusivamente orientados para parceiros com idade aproximada, outros para homens mais velhos, outros ainda para jovens, adolescentes ou crianças (homossexuais pedófilos). Alguns outros, não têm preferências fixas por um tipo de companheiro. Existe também diversidade nos papéis assumidos em relação aos parceiros, pois alguns assumem predominantemente o papel ativo, enquanto outros o passivo,
  • 10. 10 embora muitos —a maior parte— não tenham um tipo de papel estabelecido. Algumas pessoas com orientação homossexual podem às vezes sentir estímulos claramente heterossexuais, embora de reduzida intensidade: estas pessoas são designadas por bissexuais. Outros, ainda, só têm impulsos heterossexuais esporádicos, ou quase não chegam sequer a tê-los: são os chamados homossexuais exclusivos. (Digo “quase” porque Freud afirmava com razão que, numa análise cuidadosa das fantasias e dos sonhos de toda a vida de uma pessoa com fortes inclinações homossexuais, podem sempre ser encontrados traços de uma disposição heterossexual normal, mesmo que esteja profundamente escondida). Mais uma distinção: alguns alimentam o desejo de um parceiro para uma relação duradoura; outros não poderiam sequer suportar essa ideia. De todos os modos, entre o eventual desejo de fidelidade e a sua realização vai uma grande distância; uma relação realmente duradoura e fiel é extremamente rara, se é que isso é possível em algum caso. Por exemplo, segundo determinado estudo, em setenta homens e mulheres com orientação homossexual que afirmavam terem aceito os seus sentimentos como normais e viviam à maneira homossexual, mais de 70% desejavam uma relação estável; mas, conforme as próprias declarações destas pessoas, só quatro homens e seis mulheres daquele universo estatístico tiveram um único companheiro no curso dos dois anos anterioresiii . Independentemente do país ou da amostra de pessoas inclinadas à homossexualidade que sirvam de base a este tipo de investigação, os resultados são invariavelmente os mesmos. Por outro lado, é possível distinguir aqueles que procuram contatos transitórios (os tipos “cruzamento”) e aqueles que vivem com um só parceiro durante um período mais longo, mesmo que na prática acabe por não ser assim tão longo. INCIDÊNCIA DA HOMOSSEXUALIDADE NO CONJUNTO DA POPULAÇÃO Os militantes homossexuais encheram o mundo com O slogan “uma em cada vinte pessoas é homossexual”. É pura propaganda. Aparentemente, há quem pense que uma alta incidência no total da população tornaria esta condição mais normal, mas obviamente, não há nenhuma lógica nisso. Não basta que uma alta porcentagem da população sofra de reumatismo para ele deixar de ser uma doença. Se as incidências atribuídas à homossexualidade tossem verdadeiras, várias dezenas de milhões de americanos seriam homossexuais; estes números não se apoiam em nenhuma investigação. Os poucos estudos válidos — realizados, além disso, em grupos específicos— apontam, no máximo, para 2 ou 3% da amostra; uma das sondagens não chegou sequer a encontrar 1 % de homossexuaisiv . Recenseamentos recentes, mais vastos e seguros, têm confirmado este último valor: para os Estados Unidosv cerca de 1% e 1,5% no Reino Unidovi . Também é preciso lembrar que muito provavelmente existem menos mulheres com tendências homossexuais e a maior parte das estimativas são extrapolações de amostras masculinas; além disso, cerca de 30 ou 40% das pessoas com sentimentos homossexuais são bissexuais e poderiam ser contadas também pelo lado da população não homossexual; e as crianças e os adolescentes deveriam ser excluídos do total apurado dos homossexuais, pois o seu desenvolvimento ainda está em curso. Assim, se chega a porcentagens ainda mais baixas. Pode parecer que a homossexualidade tenha aumentado rapidamente nos últimos anos. Duvido muito deste crescimento rápido; pode ser que tenha aumentado apenas o número daqueles que traduzem a sua orientação em comportamentos homossexuais. A excessiva atenção dada ao tema (não há revista de grande divulgação que não traga comentários sobre os homossexuais e os seus problemas) contribui sem dúvida para dar a impressão de onipresença da homossexualidade. É precisamente isto o que os defensores da normalidade do fenômeno “gay” pretendem conseguir. Ser a favor da homossexualidade se tornou um sinal de visão progressista.
  • 11. 11 AUTO-IDENTIFICAÇÃO Os jovens que percebem em si mesmos tendências homossexuais passam frequentemente por maus bocados. Sentem-se cada vez mais afastados dos colegas da mesma idade por não conseguirem partilhar o seu interesse pelo outro sexo, enquanto sentem-se obrigados a se comportar como se estivessem interessados. Envergonham-se. Quando o tema da homossexualidade é tocado, querem se esconder, para evitar que os outros os associem com essa condição. Sofrem em silêncio; talvez se esforcem por negar ou dissimular os seus sentimentos, até mesmo para si próprios. Mas chega o momento, crucial, geralmente por volta dos dezoito anos, em que têm de enfrentar a situação. É então que acabam chegando a uma conclusão: “sou homossexual”. Isto pode ser um alívio. A tensão aguda se apazígua momentaneamente, mas há certo preço a pagar. Esses jovens mal se dão conta de terem atribuído a si mesmos um rótulo quase definitivo com esta “auto-identificação”, classificando a si mesmos em uma “segunda classe” efetivamente marginal. Alguns podem assumir uma atitude orgulhosa e até fazer de conta que são superiores às pessoas normais, mas apesar dos esforços para parecerem contentes com a sua “orientação”, por dentro, se dão conta de que o seu “ser diferente” é uma forma inferior de sexualidade. Pode ser um consolo pertencer a uma minoria bem definida e se sentir em casa entre pessoas com uma orientação idêntica, sem ter de enfrentar as dificuldades próprias do mundo heterossexual, no entanto, a contrapartida disto é o fatalismo deprimente implícito na nova identificação: “sou mesmo assim”. O jovem não pensa: “É verdade que tenho sentimentos ocasionais ou regulares de homossexualidade, no entanto, constitutivamente, devo ter nascido como todos os outros”. Não: tem a impressão de ser diferente e inferior, de levar em si uma condenação; olhar para si mesmo a uma luz trágica. Este rótulo trágico aplicado a si mesmos é o auge de um sentimento de inferioridade que se vinha alimentando há algum tempo: a sensação de ser um pobre desgraçado. A ideia ‘não sou como os demais” fica agora gravada na mente com a auto-identificação: “sou um homossexual”. Voltaremos a este ponto mais adiante. A sensação de não ser como os outros, de não fazer parte do grupo, com a consequência de manter uma profunda reserva a respeito dos outros, de ficar isolado, é típica da maior parte das pessoas que têm este problema. Este sofrimento dramático não será fruto da discriminação social? Não. É verdade que aqueles que têm a orientação homossexual não são considerados normais pelos outros; mas a causa principal de se sentirem tragicamente diferentes está dentro deles. Estas pessoas conservam esta impressão de serem marginais mesmo quando vivem em um ambiente em que são aceitas. Faz parte da sua neurose. Como, hoje em dia, muitos julgam que o homossexual já nasça com uma tendência inata, e que por isso seria melhor que fosse aceita, a auto-rotulagem fatalista é mais do que nunca favorecida pelo mundo externo ao adolescente. Frequentemente, os jovens que exprimem os seus possíveis e ainda não definidos sentimentos ou fantasias homoeróticas são informados pelos “especialistas” de que são homossexuais. Isto pode ser um duro golpe e destruir qualquer esperança de mudança. Quando um jovem desvenda os seus sentimentos secretos, sugiro que se diga antes qualquer coisa deste gênero: “Você pode eventualmente sentir interesse pelo seu próprio gênero, mas é só uma questão de imaturidade. Você não é assim por natureza. A sua natureza heterossexual ainda não despertou. O que temos de discutir é um problema de personalidade, o seu complexo de inferioridade”.
  • 12. 12 As tensões sexuais podem ser tão intensas que, um jovem com sentimentos homossexuais pode crer facilmente que a prática homossexual seja a solução de todos os problemas, inclusive a solidão. Contudo, mais cedo ou mais tarde, chegará à conclusão de ter caído em um modo de vida completamente desordenado, na realidade de natureza neurótica. O seu estado profundo se assemelha sob muitos aspectos a uma toxicomania. O estilo de vida homossexual é apresentado pelos meios de comunicação social de forma tendenciosa e cor-de-rosa: já se sabe que a propaganda é assim mas quando, ao longo de anos, se conhecem as histórias reais dos homossexuais praticantes, se torna evidente que não há felicidade nesse modo de vida. Incerteza nos contatos, solidão, inveja, depressões neuróticas e, proporcionalmente, um elevado número de suicídios (sem falar nas doenças venéreas e em outras doenças físicas) são o outro lado da moeda, que os meios de comunicação não mostram. Exemplo disso é um famoso sexólogo alemão, também homossexual, que costumava aplaudir publicamente as estáveis e fiéis relações homossexuais, e acabou por se suicidar depois da ruptura de uma relação, a última, de muitas. A sua trágica morte mal foi mencionada pela imprensa, talvez para não levantar dúvidas pertinentes em algumas pessoas. W. Aaron, que tinha sido homossexual, resume assim o conjunto das suas muitas observações sobre este tipo de comportamento: Apesar das aparências externas, acaba no desesperovii . A jornalista americana Doris Hanson conviveu com muitas pessoas que tinham estilo de vida homossexual: “É um mundo terrível que eu não desejo nem ao meu pior inimigo”, disse um homem que tinha passado por aquilo, como se fosse um “toxicómano”. “Ao longo dos anos vivi com uma série de companheiros de quarto, alguns dos quais eu dizia amar. Eles juravam que me amavam. Mas os laços homossexuais começam e acabam com o sexo. Não há mais nada além disso. Depois desse período inicial apaixonado, o sexo se torna cada vez menos frequente; os parceiros ficam nervosos; querem emoções novas, novas experiências, começam a se enganar mutuamente, primeiro às escondidas, depois cada vez mais às claras... Há então cenas de ciúmes e intrigas. Nessa altura, ocorre a separação e cada um parte à procura de um novo amante”viii . A mãe de uma jovem, com tendências lésbicas e que se suicidou, dizia da sua filha: Helen procurou toda a vida o amor. A certa altura com a sua última parceira, pensava que o havia encontrado, mas era um amor baseado em uma mentira. Nunca poderia ter funcionado. Doris Hanson considera que a declaração daquela mãe reflete exatamente o que ela própria havia aprendido em suas entrevistas: É exatamente assim que funciona. É um mundo em que as emoções estão construídas sobre mentiras. Para obterem uma satisfação sexual momentânea, os homossexuais afirmam: “eu te amo” com a mesma frequência com que dizem “bom dia!”. Depois de passada a experiência, só estão dispostos a dizer “adeus!”. A caça recomeça. Considero que nada disto é exagero obscuro ou moralista. A pessoa com orientação homossexual é arrastada para uma vida neurótica de conflitos. Teimosa e obstinadamente hostil a todas as sugestões, apesar de fazer os pais sofrerem, os jovens com este problema agarram-se à sua “opção” que confundem por ignorância com a “felicidade”. Não querem outra coisa, por nada deste
  • 13. 13 mundo. Pode parecer duro, mas é verdade: muitos deles entram em decadência, o seu vigor juvenil e sua alegria desaparecem; se tornam fracos sob muitos aspectos, como drogados. Felizmente, no entanto, há homens e mulheres com sentimentos homossexuais que querem seguir um caminho bem diferente.
  • 14. 14 3- A HOMOSSEXUALIDADE É INATA? A crença a homossexualidade é inata está muito estabelecida. A maior parte das pessoas continua a considerar a homossexualidade anormal —contrariamente ao que muitos “educadores sexuais” gostariam que se pensasse— mas muitos ainda julgam que se nasce “assim”ix . Até onde eu sei, ainda não foram feitas sondagens confiáveis entre os médicos, mas suspeito que a maior parte esteja convencida de que existe alguma causa congênita ou, pelo menos, de ordem física. Pelo contrário, os psiquiatras americanos tendem a vê-la como um bloqueio no desenvolvimento psicossexual do indivíduo e não atribuem muita importância a causas físicas ou hereditárias.x Seja como for, o peso desta posição sobre a “opinião médica” geral está bem longe de ser decisivo. Aliás, em 1973, o conselho diretivo da American Psychiatric Association, ao definir a homossexualidade no seu manual oficial de diagnóstico, substituiu a palavra “transtorno” pelo termo neutro “condição”. Isto, depois de intensas manobras dos grupos de pressão dos homossexuais militantes. É compreensível que as pessoas com orientação homossexual tenham muitas vezes a impressão de que os seus sentimentos têm raiz biológica, como se fosse um instinto muito forte; além disso, recordam que já tinham a consciência de serem diferentes na juventude, embora nessa altura o fato não estivesse relacionado com a sexualidade. Muitas vezes tinham a impressão de se comportarem de modo diferente das pessoas da mesma idade e do mesmo sexo e de terem outras preferências e aversões. Frequentemente, já se sentiam diferentes antes das primeiras sensações homossexuais e por isso são levados a pensar que a sua natureza seria, de fato, diferente e pertenceriam a um “terceiro sexo”. A tendência de se gabar de “ser diferentes dos outros” está de acordo com tudo isto; alguns chegam a pensar que a sua sexualidade seja sinal de um especial dom emocional e consideram a si mesmos como mais sensíveis e dotados de maior sentido artístico do que as tediosas pessoas normais. O sentido de inferioridade se converte numa ilusão de superioridade, mas tudo isto só pode se sustentar no pressuposto de que se trate de uma disposição inata. Numa análise mais atenta, os interesses artísticos dos homens homossexuais são explicados facilmente por fatores educativos e de ambiente. Por exemplo, alguns preferem atividades “brandas” e interesses que não impliquem audácia e têm uma aversão correspondente às tarefas mais “duras”, mais “viris”. Ser muito sensível é típico de muitos neuróticos e tem a ver com um “eu” que se sente vulnerável, como mostraremos a seguir. Tanto a convicção de que existe uma causa hereditária, como a crença em outras causas físicas presentes desde o nascimento, levam a uma visão pessimista acerca da possibilidade de mudança. E as pessoas com orientação homossexual que não querem abandonar esse comportamento se agarram a essa eventual “base biológica”. Por exemplo, segundo os membros de uma “igreja gay” americana, a homossexualidade seria uma forma de amor criada por Deus: como poderia então ser ilícito viver segundo os princípios do Criador? A teoria da hereditariedade vai sobrevivendo graças aos esforços dos círculos homossexuais militantes e dos seus apoiantes libertários, apesar da crescente evidência no sentido contrário. Eventualmente, publicam o resultado de alguma investigação isolada com pretensões de confirmar a ideia da normalidade, sem se preocuparem com a interpretação correta dos resultados ou o seu valor científico, motivo pelo qual os estudos sobre a homossexualidade devem ser vistos de maneira sóbria e crítica, especialmente quando provêm de ambientes favoráveis à causa.
  • 15. 15 Um exemplo é o relatório, já mencionado, de Bell e seus colaboradoresxi , que considera altamente provável a base biológica da homossexualidade e tira a conclusão de que os pais deveriam educar os filhos “de acordo com a natureza”. Isto significa que as crianças com tendências homossexuais teriam necessidade de um tratamento completamente especial (obviamente, favorecendo a homossexualidade), como se a sua presumida preferência fosse um fato consumado desde o princípio e claramente reconhecível por parte dos pais. Este trabalho é uma manipulação da opinião pública: um dos autores é efetivamente conhecido pela sua posição favorável à homossexualidade. As estatísticas recolhidas pelo autores não têm nada a ver com a biologia, mas com a infância, o comportamento social e outros aspectos do comportamento das pessoas que praticam a homossexualidade. Aquele material comprova que estes indivíduos se sentiam isolados dos companheiros de brincadeira, o que efetivamente é verdade, mas não tem nada a ver com a biologia. Nos anos setenta, entre os homossexuais europeus mais sofisticados, se proliferou o hábito de apresentar o estudo de Schofieldxii como prova da existência de uma variante normal (e presumivelmente inata) de homossexualidade. O estudo não tratava da normalidade ou anormalidade, mas do desempenho social e, mais especificamente, profissional. O autor tinha conseguido descobrir um subgrupo de homossexuais bem adaptados, o que não justifica nenhuma conclusão acerca da normalidade ou anormalidade. Outro caso, foi o de alguns investigadores que não encontraram diferenças entre os resultados dos testes de personalidade dos homossexuais e heterossexuais; como era previsível, este fato foi interpretado como evidência da normalidade da condição homossexual. No entanto, o que aqueles testes medem —ou tem a pretensão de medir— não tem a ver diretamente com a normalidade psíquica, ou com a saúde mental, ou com o fato de esta forma de sexualidade poder ou não ser definida como uma «variante» normal. HORMÔNIOS As expressões “normal”, “com raízes biológicas”, “hereditário”, “inato” e “com causa física” são muitas vezes usadas indiferentemente, embora não sejam equivalentes. Que a homossexualidade não possa ser normal de um ponto de vista lógico e biológico é o que discutiremos a seguir: mas devemos primeiro abordar a questão das possíveis causas físicas, hereditárias ou não hereditárias. “Não será talvez um problema de hormônios?”, muita gente se pergunta. Não, segundo Perloff, um grande especialista da matéria, que já no distante ano de 1965 escrevia: “É um fenômeno meramente psíquico... e não pode ser modificado com substâncias endócrinas (hormôniosxiii )”. Esta afirmação ainda hoje é válida. É verdade que algum autor detectou uma concentração comparativamente baixa de hormônios sexuais masculinos (testosterona) no sangue dos homens com orientação homossexualxiv , e também quantidades anômalas de gorduras e produtos metabólicos dos hormônios adrenérgicosxv . Mas tais resultados não devem ser interpretados precipitadamente, o que já tem acontecido, em benefício da teoria que explica a homossexualidade por peculiaridades hormonais. Por que não? Em primeiro lugar, porque esta diferença das concentrações hormonais entre homens com inclinação homossexual e homens com inclinação heterossexual não têm sido confirmadas pelas medições dos outros investigadores. No período 1972-1976 se podem contar pelo menos seis estudos, e em nenhum deles foram encontrados valores hormonais anômalos nos grupos homossexuaisxvi . Os desvios que às vezes se detectam estão relacionados possivelmente com as características específicas do grupo em estudo e, portanto, não são universalmente válidos. Fatores muito simples, tais como diferenças dos vários grupos quanto a hábitos alimentares, hábitos de vida e de trabalho, o fato de estarem ou não
  • 16. 16 casados, as atividades musculares ou o exercício muscular; além de outros fatores, como o uso de drogas ou de medicamentos, ou diferenças de idade, são suficientes para explicar aquelas oscilações. Num grupo de homens com tendências homossexuais, Evans detectou concentrações anômalas dos produtos do metabolismo dos hormônios adrenérgicos: tanto das gorduras como de um produto metabólico associado ao desenvolvimento muscular; também encontrou desvios do peso e da força muscular, mas não verificou nenhuma alteração dos hormônios sexuaisxvii . Com base nessa observação, este autor sugeriu a hipótese de que um “reduzido desenvolvimento muscular” pudesse contribuir para reforçar alguma orientação homossexual. Este é um dos poucos estudos que aponta para algo semelhante a um fator físico anômalo dos homens homossexuais, e por essa razão merece aqui um exame mais concreto para avaliar corretamente o peso destes resultados. Como todas as investigações científicas, a correlação encontrada por Evans só adquirirá valor de prova quando se verificar que aqueles resultados experimentais aparecem exclusivamente entre a população homossexual. Não se pode estabelecer uma relação entre um fator e a tendência homossexual sem se proceder a uma série de medições comparáveis em vários grupos de amostragem. Suponhamos, por um momento, que o futuro nos traga um conjunto de resultados semelhantes que se confirmem uns aos outros; embora isto não seja nada provável e, mesmo que fosse, não constituiria um argumento irrefutável a favor de uma causa física. A possível correlação entre homossexualidade e “fraqueza muscular” poderia significar muitas coisas diferentes. Por exemplo, que os rapazes com um deficiente crescimento muscular correm maior risco de se tornarem sexualmente desviados por causa da sensação de inferioridade associada a isso. Seria um exemplo do fenômeno da “inferioridade orgânica” descrito pelo conhecido psiquiatra Alfred Adler: um rapaz pode desenvolver em si sentimentos de inferioridade por qualquer malformação ou atraso físico e, como se verá, é justamente um sentido de inferioridade juvenil devido ao aspecto físico, à estrutura corpórea, etc., que pode motivar o desenvolvimento da tendência homossexual. Mas talvez esta explicação dos resultados do famoso teórico seja excessivamente indireta. Talvez o fenômeno se deva simplesmente ao fato de que os homens com orientação homossexual têm menos tendência a fazer movimentos de certo tipo, praticando menos certos esportes, comendo mais ou ingerindo mais gorduras do que outros homens. Uma explicação deste gênero não seria nada surpreendente, por estar de acordo com os estilos de vida que encontramos em inúmeras pessoas com inclinação homossexual. O fato de as pessoas com desvios hormonais devido a perturbações funcionais das gônadas não darem necessariamente lugar a anomalias sexuais é outra indicação de que a causa da homossexualidade não deve ser procurada em anomalias dos hormônios sexuais. Por exemplo, as mulheres hermafroditas (que têm características físicas de ambos os sexos, devido a problemas genéticos) que são biologicamente (e geneticamente) femininas, apresentam um excesso do hormônio sexual masculino (testosterona) desde o estágio embrionário, sem que isso as predisponha a ser lésbicasxviii . Portanto, tudo parece indicar que os hormônios sexuais não são os culpados. Ora, como os cromossomos regulam a produção dos hormônios, a saúde hormonal das pessoas com tendência homossexual é sinal de normal funcionamento dos cromossomos sexuais. HEREDITARIEDADE Os cromossomos sexuais, estruturas moleculares extremamente complexas que contem os códigos genéticos transferíveis hereditariamente, podem ser examinados diretamente mediante
  • 17. 17 técnicas laboratoriais. Ora, os homens e as mulheres com orientação homossexual possuem os cromossomos normais, masculinos ou femininos, respectivamentexix . Isto significa que, em princípio, todos os órgãos e as funções relacionadas com a sexualidade, desde a anatomia dos órgãos aos centros sexuais do cérebro — e, portanto, toda a “infraestrutura” da sexualidade — são normais, do ponto de vista hereditário. A teoria de um desvio inato da sexualidade ou da preferência sexual não se confirma. Todavia, se houvesse suspeita de um eventual fator hereditário, ele só poderá ser um fator de predisposição, que facilitaria o desenvolvimento homossexual. Kallmann tinha em mente um fator deste tipo em 1958, para explicar os relevantes e interessantes resultados da sua investigação sobre gêmeos monozigóticos e dizigóticos (gêmeos verdadeiros e não-verdadeiros) masculinos com tendências homossexuaisxx . Ele descobriu que todos os gêmeos monozigóticos das pessoas tendencialmente homossexuais do seu grupo também tinham tendências homossexuais, embora não na mesma medida. Mas só 12% dos gêmeos dizigóticos de homens com orientação homossexual indicavam não ter interesses homossexuais. Os 100% de semelhança e concordância na homossexualidade entre os monozigóticos, que têm um património genético perfeitamente idêntico, não é um resultado comprovado por outros investigadores e parece ser uma consequência do todo de amostragem empregado por Kallmann. Desde 1960, há muitas notícias de pares de gêmeos univitelinos, examinados a fundo, em que um deles tem tendências homossexuais e o outro é heterossexualxxi . Além disso, há uma consciência crescente de que este tipo de investigações com gêmeos, embora fascinantes em si mesmas, não podem ser decisivas para verificar se uma propriedade ou característica da personalidade fica determinada hereditariamente. Dados como os de Kallmann também podem ser explicados pela educação e outros fatores ambientais, ou por fatores psicológicos, tais como o alto grau de identificação mútua, tão surpreendente entre os gêmeos. A concordância bastante elevada encontrada por Kallmann entre os dizigóticos (12%) sugere a importância deste tipo de influência, porque esta porcentagem é mais significativa neles do que entre irmãos não-gémeos embora os gêmeos dizigóticos difiram entre si na estrutura genética como qualquer par de irmãos não-gêmeos. Em outras palavras, a maior semelhança relativamente à homossexualidade nos dizigóticos não se deve a causas genéticas mas pode ter a ver com a identificação recíproca relativamente mais forte, comparada com a dos irmãos não-gêmeos, ou seja, a sua sensação de serem o alter ego um do outro, e o fato de serem tratados e considerados de maneira idêntica pelo ambiente em que vivem. No estudo de Kallmann existem ainda algumas lacunas, que não vêm agora ao caso: o leitor interessado pode consultar uma explicação detalhada referida na bibliografiaxxii . O ponto importante na análise que estamos realizando é esclarecer que dados como os de Kallmann e outros autores depois dele não podem ser usados como base para uma teoria da base genética da homossexualidade. Nem sequer fornecem indícios sólidos de fatores genéticos que tornem algumas pessoas mais propensas à homossexualidade. Portanto, não foram detectadas causas genéticas — sexual ou de outro tipo — que possam distinguir as pessoas com tendências homossexuais das outras. Alguns investigadores deixam em aberto a possibilidade teórica de que exista algum fator ainda desconhecido, de ordem genética ou hormonal, pelo menos para algum subgrupo de pessoas com tendências homossexuais. Suponho que essa posição tenha a ver com alguns homens homossexuais que impressionam por serem tão efeminados e algumas mulheres lésbicas de comportamento muito masculino. Mas esses investigadores também não atribuem influência decisiva àquele fator hipotético, reconhecendo que as causas principais não estão nos hormônios ou nos genes. Masters e Johnson defendem esta posiçãoxxiii . Estes investigadores, provenientes da escola de Kinsey, apesar de manifestarem claramente a opinião de que o comportamento homossexual seja normal e plenamente aceitável, escrevem palavras significativas:
  • 18. 18 É de importância vital que todos os profissionais no campo da saúde mental se lembrem de que o homem ou a mulher homossexual é homem ou é mulher por determinação genética e tem tendências homossexuais por preferência adquirida. Provavelmente para evitar a acusação de terem preconceitos, se apressam em acrescentar que a preferência heterossexual também não tem uma base genética: afirmação acrítica que pode ser refutada com facilidade. Contudo, o seu alerta “a todos os que trabalham no campo da saúde mental” acerca da homossexualidade como “comportamento adquirido” não deve ser esquecido, mesmo não aceitando a gaffe grosseiramente progressista acerca da heterossexualidade. A história da teoria da natureza homossexual como condição inata —isto é, “conatural”— é uma longa história. Esta teoria foi entrando em decadência e hoje já não resta praticamente nada. No livro Changing Homosexuality in the Male (“Mudar a homossexualidade masculina”) o psiquiatra L. J. Hatterer afirma isso sem ambiguidades: Os psiquiatras chegaram finalmente à conclusão de que os fatores genéticos, hereditários, constitucionais, glandulares e hormonais não têm nenhuma importância como causas da homossexualidadexxiv . Nos meios de comunicação social tem-se feito uma insistente propaganda de supostas descobertas de uma causa biológica da homossexualidade. Em 1991, anunciaram uma pretensa particularidade de uma minúscula região cerebral constatada em determinados homens homossexuaisxxv ; em 1993 divulgou-se que tinha sido descoberto um “gene da homossexualidade”xxvi . Pouco ou nada destas notícias sobrevive a uma análise mais atenta; pelo contrário, os resultados de investigações recentes, acerca de gêmeos, têm tornado cada vez mais improvável a explicação por mecanismos hereditáriosxxvii . Portanto, hoje em dia, se pode afirmar objetivamente que não há motivo para admitir a existência de um tipo de homossexualidade transmitida por via hereditária, ou causada por disfunções hormonais antes ou depois do nascimento; também não é provocada por perturbações do crescimento corpóreo, da constituição orgânica, da estrutura do cérebro, do sistema nervoso ou das glândulas. Seria me alongar de mais fazer aqui a enumeração completa das investigações científicas mais relevantes: bastam as conclusões gerais. Até que seja demonstrado de modo convincente que a pessoa com tendências homossexuais possui qualquer peculiaridade física, hereditária ou não, que não seja produzida pelo seu modo de vida, podemos admitir que há uma perfeita normalidade do ponto de vista biológico. E, à medida que o tempo passa, parece cada vez mais improvável que esta posição tenha de ser revista. “O meu avô também era homossexual”. “Também duas filhas da minha tia são”. Às vezes se ouvem explicações deste gênero da boca de alguém com este problema emocional. Isto não significa que naquelas famílias exista qualquer causa hereditária, tal como não podemos atribuir aos genes a responsabilidade pelo fato de o avô ou o tio serem católicos ou socialistas. Se a tendência homossexual se apresenta com certa frequência em certas famílias, normalmente também encontramos nessas famílias desequilíbrios nos papéis desempenhados pelos dois sexos: os filhos são educados de acordo com modelos insuficientes dos papéis sexuais e pode acontecer que estes, por sua vez, repitam o método educativo distorcido com os filhos. Nessas famílias, as mulheres podem se comportar com modos pouco femininos e educar as filhas de modo pouco feminino, facilitando assim o aparecimento de complexos de inferioridade de tipo homossexual. Mais tarde, essas moças podem ter dificuldade em aceitar os papeis sexuais, em geral, e, portanto, não serem capazes de educar — e de reconhecer — um menino como menino e uma menina como menina.
  • 19. 19 São válidas observações análogas em relação aos pais. Fora disto, a relação entre a família e a homossexualidade é muito ténuexxviii . NORMALIDADE Outro aspecto tem de ser também esclarecido. Suponhamos que tenha sido demonstrada uma causa genética ou física para a homossexualidade, por exemplo, uma particular conjunção de hormônios; isto não permitiria afirmar que a homossexualidade fosse normal. Tal fator, meramente hipotético, deveria ser necessariamente identificado como fator de disfunção ou doença. Seria um desvio dos cromossomos ou dos hormônios, uma disfunção do desenvolvimento fisiológico normal, uma infecção ou outra coisa desse tipo. É bom compreender bem isto, porque se poderia facilmente pensar que o ter nascido “assim” seria equivalente a ter uma tendência “natural”. SOMOS TODOS BISSEXUAIS? A ideia da “homossexualidade inata” é falsa. Mas haverá qualquer ponta de verdade na convicção de alguns psicólogos e psiquiatras de que todo o ser humano tenha uma disposição bissexual inata? No início, todos os homens e todas as mulheres teriam a mesma probabilidade de se desenvolverem em direção à homossexualidade ou à heterossexualidade e a evolução de cada indivíduo em um ou em outro sentido dependeria dos métodos educativos usados na família e, mais em geral, das influências de todo o ambiente social da infância. Esta é a opinião de Masters e Johnsonxxix ,e era a opinião do próprio Sigmund Freud. Contudo, a ideia de uma bissexualidade universal não é sustentável. Freud defendia a sua teoria com argumentos fisiológicos hoje obsoletos; além de que a sua teoria não estava isenta de equívocos, problema que não vamos abordar neste momento. Se fossem somente os hábitos educativos ou os costumes culturais a encaminhar a orientação de uma criança para a homossexualidade ou a heterossexualidade, ou para alguma opção intermediária, Deus (ou a natureza, se preferir) teria pendurado a sobrevivência do gênero humano de um fiozinho muito frágil. Bastaria ter existido certa moda cultural em qualquer sociedade primitiva a favor da homossexualidade, ou terem educado os filhos nessa direção, para provocar a extinção do gênero humano; e uma moda pode surgir a qualquer momento. Em contrapartida, vemos que em nenhum caso, na natureza, a propagação de uma espécie correu tal risco, nem encontramos exemplos de sobrevivência regulada com tanto descuido. No mundo animal a verdadeira homossexualidade, como se descreveu, não existe. Os animais podem se comportar de maneira homossexual, mas só no caso de ausência de um parceiro heterossexual ou por aquilo que se poderia chamar um erro de percepção ou de avaliação. De fato, os animais podem reagir sexualmente a determinadas características dos animais da sua espécie: formas, cores, movimentos. Em princípio, estas características correspondem ao sexo oposto, mas podem também constituir um estímulo se o animal encontrá-las em um indivíduo do mesmo sexo, especialmente na ausência de um parceiro heterossexual. Contudo, isto não é homossexualidade em sentido estritoxxx . A homossexualidade propriamente dita implica uma resposta frustrada aos estímulos do sexo oposto. Em suma: é como se a natureza (ou o seu Criador) tivesse sido tão desleixada com o homem — que é muito mais complicado e refinado que qualquer outro animal e é claramente o produto natural mais esplêndido— a ponto de, conferindo-lhe toda a complexidade anatômica, neurofisiológica e hormonal que regula a sobrevivência da espécie, ter descuidado justamente aquele último passo, que é a motivação sexual pelo sexo oposto. A natureza teria se esquecido de fazer com o homem aquilo que fez corretamente com os animais: implantar uma orientação heterossexual estável e duradoura no tempo?
  • 20. 20 A pergunta já é uma resposta. Por outro lado, a teoria da bissexualidade está em contradição com os fatos. A. Karlen, historiador da sexualidade, ao estudar a homossexualidade em outros tempos e em outras culturas, diferentes da nossa, escreve que o mais que se pode dizer é que a homossexualidade foi encarada pelas várias culturas com maior ou menor tolerância mas nunca como um fim desejável em si mesmoxxxi . O ser humano nunca sentiu a inclinação de educar os filhos para a homossexualidade: a esmagadora maioria das pessoas, em todas as culturas e em todos os tempos, sempre foi heterossexual. Por natureza, os seres humanos são atraídos pelo sexo oposto. Se assim não fosse, entre os numerosos povos que viveram ao longo dos séculos teria havido exceções, pelo menos alguma, à regra de a maioria ser heterossexual. E os antigos gregos? Parece que a concepção popular tenha necessidade de alguma pequena correção neste ponto. Os historiadores constatam que a cultura grega sempre foi substancialmente heterossexualxxxii . O comportamento homossexual — ou, melhor, a chamada pederastia, ou amor pelas crianças e adolescentes — esteve na moda em certos períodos e em certos círculos, mas não era certamente a expressão sexual preferida ou desejada pela maioria. Também se devem entender com certa proporção as descrições dos hábitos sexuais dos gregos apresentadas apenas por alguns poucos autores daquele tempo. É duvidoso que seja legítimo da nossa parte generalizar aquilo que os líricos gregos dizem, tal como não ficaríamos com uma imagem correta dos hábitos sexuais do nosso tempo estudando a literatura moderna. Tudo aquilo que é excêntrico e desviado adquire na literatura e na arte uma imagem mais marcada do que tem realmente na sociedade. A afirmação de que o ser humano se tornaria heterossexual em virtude dos métodos educativos, reprimindo a sua componente homossexual, igualmente forte, é impressionantemente artificiosa, especialmente sabendo como se dá habitualmente a escolha do objeto heterossexual. Pareceria muito mais exato dizer que o desenvolvimento para a heterossexualidade é um impulso automático e instintivo. Em certo momento, geralmente durante a adolescência, a atração para o sexo oposto é sentida como irresistível, mesmo por parte dos adolescentes educados em um clima sexualmente restritivo ou sem nenhuma educação sexual. Também é sintomático da base hereditária da heterossexualidade o fato de nunca se encontrarem pessoas jovens livres de tensões emotivas, de complexos de inferioridade e de frustrações internas — em outras palavras, jovens equilibrados e bem constituídos — que sintam atração pela homossexualidade. Os jovens não neuróticos são invariavelmente heterossexuais. A conclusão inevitável é que a heterossexualidade já está definida no patrimônio genético. Os cérebros do homem e da mulher diferem em virtude de processos embrionários de natureza hormonalxxxiii e provavelmente algumas destas estruturas cerebrais constituem a base biológica das profundas diferenças psicológicas no campo da sexualidadexxxiv . Também se podem deduzir alguns argumentos interessantes a favor do carácter inato da heterossexualidade a partir das investigações relativas ao desenvolvimento sexual de certos tipos de hermafroditas, isto é, pacientes com defeitos dos cromossomos sexuaisxxxv . UM ESTÁGIO TRANSITÓRIO BISSEXUAL Há uma variante da teoria da bissexualidade que é aceitável: diz respeito ao fato de os adolescentes passarem, durante o desenvolvimento para a maturidade biológica e psicológica, por um estágio no qual, durante certo tempo, podem sentir atração erótica por pessoas do mesmo sexo. Neste estágio, o desenvolvimento sexual ainda não está completo e ainda não amadureceu até à plena descoberta do seu objeto, o sexo oposto. E nesta fase de crescimento que vários objetos e situações, humanas e não humanas — crianças e pessoas adultas, mas também configurações
  • 21. 21 inanimadas e situações emotivamente excitantes — podem ser associadas na imaginação com o despertar de sensações eróticas, ainda indefinidas. A sexualidade de um adolescente neste estágio de desenvolvimento pode se chamar bissexual, embora a princípio haja bons motivos para lhe chamar “multissexual”. O desenvolvimento sexual dos homossexuais, tal como boa parte do desenvolvimento sobretudo emocional, ficou interrompido neste estágio intermediário. Isto não significa que cada adolescente deva passar claramente — nem sequer confusamente — pelos vários tipos possíveis de atração erótica nesta fase da vida. Talvez não mais de 30% dos adolescentes tenham a certa altura aquilo a que se poderiam chamar sensações homoeróticas. Nesta fase, os interesses eróticos dependem estreitamente do conjunto da personalidade e da emotividade do adolescente, das suas relações com os outros, da sua posição social e da sua autoimagem. Quando as fantasias, os interesses ou as práticas homoeróticas se desenvolvem, elas acabam por ser habitualmente superficiais e tendem a se desvanecer rapidamente logo que a atração física do sexo oposto se impõe à atenção do jovem que, em muitos casos, vive essa descoberta com uma atitude do tipo: “Isto é justamente o que eu estava procurando!”. No estágio de sexualidade indeterminada, os impulsos homoeróticos podem coexistir com o início da atração heterossexual. Em outros casos, o início dos interesses heterossexuais pode ficar bloqueado pela manifestação dos sentimentos homossexuais, especialmente se o adolescente se sente frustrado na sua primeira ocasião de amor heterossexual. Quando as potencialidades do sexo oposto foram plenamente descobertas, o processo é irreversível. Os “objetos” anteriores ficam simplesmente desprovidos de interesse, sem nenhuma aprendizagem imposta pelo mundo exterior mas simplesmente como consequência do próprio instinto sexual orientado e focalizado no seu fim.
  • 22. 22 4- A HOMOSSEXUALIDADE COMO TRANSTORNO PSÍQUICO Os primeiros estudos sistemáticos sobre a homossexualidade foram feitos no século XIX por autores como Krafft-Ebing e no início do século XX por Magnus Hirschfield, que interpretaram as suas observações à luz das teorias fisiológicas e biológicas dominantes naquele tempo. A noção de “terceiro sexo” ou de “sexo intermediário”, por exemplo, ganharam popularidade naquele período. Sigmund Freud foi o pioneiro das teorias da homossexualidade que enfatizavam a dos fatores psicológicos. Por exemplo, segundo ele, o rapaz com inclinações homossexuais deveria ter sofrido, quando criança, uma super-identificação com a mãe e deveria ter tido uma relação conflituosa com o pai; da mesma forma, a moça lésbica teria sofrido uma super-identificação com o pai e teria tido relações muito difíceis com a mãe. Freud procurou as causas na infância e, em particular, na relação entre pais e filhos. Para ele, a homossexualidade era essencialmente uma perturbação psíquica, talvez reforçada por condicionamentos biológicos ainda desconhecidos (sugeriu a hereditariedade). Um dos primeiros —e talvez o primeiro— a não acreditar na importância de qualquer predisposição hereditária foi um discípulo de Freud, Alfred Adler. Este autor fala pela primeira vez do complexo de inferioridade e apresentou a homossexualidade como consequência deste complexo, já em 1917xxxvi . As suas observações mostraram-lhe que as pessoas com tendências homossexuais têm invariavelmente sentimentos de inferioridade a respeito da sua masculinidade ou feminilidade. Um outro discípulo de Freud que acumulou uma impressionante experiência clínica com gente afetada por problemas psicossexuais e que descreveu algumas observações originais sobre os seus pacientes com tendências homossexuais foi Wilhelm Stekelxxxvii . Ele prognosticou que uma das causas da homossexualidade fosse o medo do sexo oposto. Confirmando as ideias de Freud a respeito de a homossexualidade ter origem em dinamismos psicológicos da infância, Stekel minimizou a importância da hipotética predisposição hereditária, mais ainda que Freud, e foi possivelmente o primeiro a classificar a homossexualidade como neurose. Além disso, discordou de Freud quanto às responsabilidades do famoso “complexo de Édipo” e indicou, em contrapartida, um conjunto de erros de educação das crianças, suscetíveis de levar à neurose homossexual. Também destacou o papel do pai frequentemente como mais importante que o papel da mãe na origem da homossexualidade masculina. Ressaltou o estilo caracteristicamente infantil da vida psicológica destes pacientes —encarando a homossexualidade como uma forma de “infantilismo psíquico”xxxviii — e evidenciou que a motivação homossexual está intrinsecamente ligada a sentimentos de infelicidade. Stekel acreditou, mais que Freud, na possibilidade de uma mudança radical da orientação homossexual, embora estivesse convencido de que só se conseguiria em casos relativamente raros. As suas observações influenciaram profundamente o pensamento dos seus discípulos. A segunda e terceira gerações de psicanalistas construíram sobre os fundamentos preparados pelos predecessores. Um elemento original foi introduzido pelo psiquiatra austríaco- americano E. Bergler, observando o chamado masoquismo psíquico de quem sofre este complexoxxxix . O impulso homossexual contém, segundo ele, uma espécie de auto-tormento, uma necessidade inconsciente de se sentir marginalizado e, em geral, de “colecionar” injustiças, situações desagradáveis e experiências que proporcionam sofrimento (como se diz de algumas pessoas que andam à procura de problemas). I. Bieber, psiquiatra norte-americano, e os seus colaboradores estimularam notavelmente as investigações psicológicas posteriores acerca da homossexualidade, com a sua extenso estudo
  • 23. 23 estatístico sobre a personalidade e os fatores psicológicos infantis na homossexualidade masculinaxl . Como já mencionado, são escassos os dados fisiológicos e biológicos. Bieber, e os seus sucessores, têm publicado com regularidade sobre certo número de fatores infantis mais ou menos específicos em homens com orientação homossexual. Estes fatores estão interligados e constituem um modelo identificável, que deve ser visto em estreita ligação com as causas deste processo. Esse modelo é constituído por relações interpessoais com o pai e a mãe, com os irmãos e o chamado grupo dos pares, e ainda por outros dados do desenvolvimento psíquico que não é difícil relacionar com o pensamento dos teóricos da moderna psicologiaxli . As estatísticas de Bieber e dos seus seguidores podem também ser utilizadas como base para a teoria da homossexualidade que se apresentará a seguir. Esse é o conjunto de dados mais confiável, tanto mais que as pesquisas incluíram uma grande variedade de subgrupos de pessoas inclinadas à homossexualidade e em várias nações. Esta teoria não surgiu de repente, mas é o resultado de um progresso gradual no estudo das neuroses e da homossexualidade, por parte de psicoterapeutas que utilizam técnicas psicanalíticas. O fundador desta teoria, o psiquiatra holandês Johan Leonard Arndt (1892-1965) reuniu uma grande variedade de observações e de conclusões dos teóricos precedentes, em particular de Adler e do seu próprio mestre, Stekel. O estudo de Arndt confirmou e completou algumas observações de Stekel, tais como: “Ele (o homossexual) é infeliz, sentindo-se condenado pelo destino ao sofrimento”; “nunca vi um homossexual feliz ou são”; “é uma eterna criança...em luta com o adulto”xlii . Introduzindo o princípio da autocompaixão, Arndt não anulou as observações dos seus antecessores, antes as completou numa síntese que integra também outros elementos relevantes de observação, recolhidos por autores contemporâneos das mais variadas orientações teóricas. O homossexual, dizia ele, tal como os outros pacientes neuróticos, se rege por uma estrutura interior que se comporta de maneira autônoma como o Eu infantil, uma criança forçada a ceder à autocompaixão. Depois de ter descoberto este mecanismo em muitos casos de neuroses sem manifestações claramente sexuaisxliii , Arndt foi percebendo gradualmente que isso era comum aos vários tipos de neuroses, e também o reconheceu nos homossexuaisxliv . Impressionado pela tendência dos neuróticos adultos a se lamentarem como crianças e pela sua persistência e resistência à mudança, Arndt recorreu à noção freudiana de “repressão” para explicar a fixação das reações de aflição e de autocompaixão da infância, tal como o seu carácter autônomo e repetitivo. Para Freud, o importante conceito de repressão estava intimamente ligado a uma outra noção essencial: a do inconscientexlv . Já na sua primeira publicação sobre a histeria, escrita em colaboração com Joseph Breuerxlvi , Freud lançou a hipótese de que as emoções fortes de reação às frustrações às vezes não são mentalizadas mas recalcadas à viva força, afastadas do nível consciente, mas conservando toda a sua carga emotiva no subconsciente. Breuer e Freud se referiam sobretudo às emoções de aflição, com as correspondentes manifestações de lágrimas, suspiros e raiva. Arndt identificou o núcleo da reação de aflição como autocompaixão, admitindo que essa emoção tivesse sido recalcada para o inconsciente, obrigando o neurótico a alimentar continuamente os impulsos de autocompaixão sem conseguir reconhecê-los como tais. A terapia desta condição deveria consistir, obviamente, em trazer para o nível consciente a autocompaixão inconsciente daquela “criança que existe por dentro e se queixa”. Deste modo, ela perderia o seu poder compulsivo sobre a mente. Comecei por aderir à teoria da repressão, de Arndtxlvii , mas o passar dos anos me levou a colocá-la cada vez mais em questão, até que acabei por abandoná-la. É inegável que a “repressão” pode explicar muitos fenómenos que se encontram habitualmente na psicoterapia; por exemplo, é bem notório o fenômeno da resistência a admitir a própria autocompaixão justamente no momento
  • 24. 24 em que esta se dá. Portanto, é possível dizer que qualquer coisa se opõe ao reconhecimento consciente da autocompaixão. Contudo, penso que essa “qualquer coisa” tenha bastante de “orgulho ferido”. Além disso, o processo de superação de uma neurose, concretamente de uma neurose homossexual, corresponde mais a um misto de conquista da própria autoconsciência e de luta generalizada contra o próprio infantilismo, uma vez reconhecido. Não é tanto o desbloqueio das repressões que é responsável pela mudança, mas a diminuição gradual sobre hábitos emocionais infantis profundamente enraizados, tais como a autocompaixão e as reações a ela associadas. A característica mais impressionante da personalidade neurótica é o estar centrada em si mesma e a autocompaixão é, talvez, o aspecto mais saliente dessa atitude geral. A conquista da maturidade emocional implica, sobretudo, uma diminuição do egocentrismo. Estou convencido de que a repetitividade neurótica e a resistência à mudança se compreendem melhor como efeitos da formação de um hábito ou como uma espécie de “psicodependência” da autocompaixão e de outras tendências intimamente ligadas a ela. Sem um esforço deliberado da parte da pessoa neurótica, destinado a tomar consciência de si mesma e a combater a autocompaixão, este impulso tenderá a procurar a própria satisfação, acabando por se reforçar. Superar uma neurose significa romper a prisão que aprisiona a pessoa na autocompaixão. A concepção freudiana de repressão para o inconsciente e o próprio conceito de inconsciente parecem excessivamente românticos e eu sou um dos que não acreditam no inconsciente freudiano, cuja existência ainda não encontrou prova experimentalxlviii . Na última década, muitos outros psicoterapeutas eminentes estudaram a homossexualidade de um ponto de vista psicodinâmico; as suas observações e muitas das suas concepções teóricas são contribuições altamente qualificadas, que não serão discutidas nas páginas seguintes. Alguns nomes proeminentes são os de Karen Horneyxlix , H. S. Sullivanl , o psiquiatra e neurologista francês Marcel Eckli e os psiquiatras de New York Charles Socarideslii e Lawrence Hattererliii . O livro de Hatterer merece uma menção especial, porque não descreve uma teoria geral mas um procedimento prático para a cura dos homossexuais do sexo masculino. Baseando-se na sua experiência com os pacientes, Hatterer apresenta bastantes exemplos de reações comportamentais e emotivas, tais como sensações de inferioridade, idealização do parceiro homossexual e tendência a se sentir como vítima. Estas e outras observações de fenômenos encontrados durante terapia têm um valor notável e se enquadram perfeitamente na teoria da autocompaixão. Os apoiantes da teoria que admite a homossexualidade como coisa normal afirmam que aquele que continuar a acreditar que se trata de uma condição de perturbação, mais especificamente de uma neurose (ou seja, um distúrbio emocional), vive ainda no passado; a ideia de que a perturbação possa ser superada, seria indício de uma mentalidade ainda mais retrógrada. No entanto, não se dão conta de que a sua posição é que está hoje ultrapassada pelo progresso da terapia, se mantendo presos à teoria de que a homossexualidade é inata, que é exatamente o ponto de vista do século passado. Os avanços no estudo das peculiaridades emocionais das pessoas que têm este problema e a sua identificação como neurose são recentes, tal corno alguns dos métodos de cura. Embora o conceito de neurose seja indispensável na prática clínica e se verifique um razoável consenso no diagnóstico das neuroses nos casos individuais, não foi ainda possível encontrar um instrumento objetivo de diagnóstico para medi-la. As tentativas com testes «objetivos» de carácter fisiológico e psicológico para distinguir os neuróticos dos não-neuróticos não tiveram até agora qualquer êxitoliv . Portanto, os investigadores têm de se valer da única prova “subjetiva” eficaz: o questionário que, nas palavras de um dos principais investigadores, “pode ser usado com segurança para distinguir claramente os sujeitos normais e os neuróticos”lv .
  • 25. 25 O que é certo é que, com os testes mais variados e nos países e grupos econômico-sociais mais diversos, os investigadores têm encontrado o mesmo resultado: os grupos homossexuais figuram em um nível nitidamente mais alto nas escalas que medem a neuroselvi . Esta correlação fornece uma boa prova científica a favor do carácter neurótico da homossexualidade, tanto é que estes estudos abrangeram grupos com acompanhamento clínico, ou que já haviam procurado alguma forma de psicoterapia, e pessoas razoavelmente integradas na vida sociallvii . Parece-me que o conjunto das investigações fisiológicas e psicológicas até agora publicadas indica, sem margem para dúvidas, que a interpretação mais adequada da homossexualidade é a de uma variante da neurose. O fato de aparentemente poucos especialistas de outras ciências humanas seguirem esta conclusão, aliás praticamente desconhecida da opinião pública, resulta da pressão das tendências libertárias favoráveis à homossexualidade, que eliminam sistematicamente qualquer voz discordante. A situação é ao mesmo tempo caricata e triste, porque foi precisamente nas últimas décadas que a atitude fatalista em relação à cura da homossexualidade se tornou, mais que nunca, injustificada. Este livro foi escrito depois de mais de vinte anos de estudos sobre a homossexualidade e depois de ter tratado mais de 225 homens homossexuais e um grupo de 30 mulheres lésbicas, seguindo os princípios da teoria da autocompaixão. Considero esta teoria, originalmente formulada por Arndt, muito mais que uma síntese nova, elaborada a partir de material antigo: é um efetivo progresso em relação às concepções anteriores. A correta compreensão da natureza deste mal é mais que um exercício académico: representa a esperança de que pessoas, prisioneiras do antigo preconceito de que a homossexualidade seja inata e imutável, possam ser ajudadas a se tornar emocionalmente mais maduras.
  • 26. 26 5-O COMPLEXO DE INFERIORIDADE HOMOSSEXUAL A criança é egocêntrica por natureza. Ela tem a impressão de que o seu “Eu” seja o centro e a coisa mais importante do mundo. É por isso que está, sobretudo, orientada sobre si própria ou, em outras palavras, tem um sentido muito forte da importância do Eu. Em consequência de estar voltada para si mesma, a criança se compara continuamente com os outros (com os outros tal como são mas, especialmente com os outros tal como os vê na concepção subjetiva que tem deles). Quando o resultado desta comparação é negativo, o que acontece frequentemente, a criança sente-se ferida: enganada, ofendida, menos estimada e objeto de menor respeito e apreço que as outras pessoas, reais ou imaginárias. Se a criança, com a sua grande necessidade de afeto e de apreço se sente suficientemente atendida, fica contente e feliz. Da mesma forma, fica contente quando se sente privilegiada em relação aos outros ou, pelo menos, é tratada ao mesmo nível pelas pessoas e pela vida. No entanto, como já se disse, a criança tem uma forte inclinação a se ver menos privilegiada, menos amada, colocada numa posição menos favorável. Precisamente por estar tão sedenta de apreço, a criança fica profundamente desiludida com qualquer falta de afeto ou de apreço, real ou imaginária. Nessas circunstâncias, tem a sensação de que o seu valor como pessoa diminuiu; tende então a se ver como inferior aos outros e, eventualmente, privada de valor. A importância inata do Eu, na criança, faz com que ela sobrevalorize certas experiências em que detectou menor estima e sobrevalorizar o significado de “ser” menos valiosa em certos aspectos particulares da personalidade. O fato de “ser inferior” em qualquer aspecto secundário da sua personalidade ou das condições de vida leva a criança rapidamente a se tornar, a seus próprios olhos, inferior em tudo. Para a criança, a ideia ou a própria imagem de “ser gorda”, “ser menos apreciada que um irmão”, “gaguejar um pouco”, “ser filha de pais de condição social humilde”, ou “ir mal na escola” atingem a pessoa em um todo. A criança sente-se, então, inferior sob todos os aspectos, como se a inferioridade parcial tivesse se alastrado sobre toda a personalidade. É por esta razão que ser apreciada sob um determinado aspecto da personalidade não exclui uma imagem inferior de si mesma em vários outros aspectos. Sentir-se inferior significa pensar que os outros não podem amá-la por falta de valor; que não a aceitam verdadeiramente, de modo que não tem verdadeiramente lugar entre eles. Algumas das reações emocionais que correspondem a esta perspectiva são: vergonha, solidão, autodesprezo e, naturalmente, tristeza ou raiva. A impressão de inferioridade pode ter origem nas comparações com os outros (a própria criança é a primeira a fazê-lo) e também das críticas, de modo especial dos pais e dos membros da família, em segundo lugar dos companheiros de jogo e de outras pessoas relevantes exteriores ao meio familiar, tais como os professores. Com o passar do tempo, quando a impressão de inferioridade é reforçada pela repetição de experiências externas ou internas entendidas pela criança (ou pelo adolescente, no caso que estamos estudando) como análogas às anteriormente sofridas, a impressão pode se tornar crônica. Transforma-se numa convicção profundamente enraizada acerca da própria identidade (o “Eu”), como um absoluto, uma imagem negativa de si que começa a viver por sua própria conta. Uma vez desencadeado, esse processo se toma resistente a novas experiências que o poderiam modificar e a novas aprendizagens. Este mecanismo é rígido e autônomo; todo o afeto e o apreço do mundo são incapazes de anulá-lo. É por isso que se chama complexo de
  • 27. 27 inferioridade. Para compreender melhor a peculiaridade deste fenômeno convém reparar numa importante reação emotiva que se desenvolve com o complexo de inferioridade e que é uma parte essencial dele; a reação emocional primária perante o Eu ofendido, numa criança ou em um adolescente: a compaixão por si mesmo. Se uma criança ou um adolescente, que acabou por se sentir inferior e não apreciado ou excluído, pudesse aceitar a sua condição desfavorável, a sua suposta menor importância, certamente se sentiria mal pela privação de amor, pelo desprezo, pelas deficiências que notou em si mesma mas, se aceitando efetivamente, o sofrimento diminuiria em pouco tempo, recuperaria o equilíbrio interior e o gosto pela vida. Por outro lado, numa criança, ou em um adolescente, esta reconciliação consigo mesma não é fácil, por causa do seu inato sentido da importância do próprio Eu. A relativização de si mesma não é uma das qualidades da criança. O Eu infantil reage com uma emoção centrada na própria pessoa e fica obsedado pela autocompaixão: “Causo pena! Não me querem, não me estimam, riem de mim, não querem me aceitar”, e por aí fora. E pensando em si próprio, vendo a si mesmo como uma pobre criatura, começa a ter uma intensa piedade por aquele ser sofredor. Sente piedade, tal como sentiria por outra pessoa que visse sofrer e merecesse dó. As afirmações “sou feio, impopular, fraco, não sirvo para nada, rejeitado, em desvantagem em relação ao meu irmão ou à minha irmã” implicam um “coitadinho de mim!”. A autocompaixão é a compaixão de si próprio. Talvez não haja experiência ou impressão mais eficaz para provocar a autocompaixão de uma criança do que a ideia “estou sozinha, sou menos apreciada”. A autocompaixão absorve cada vez mais a atenção da pessoa, suas energias mentais, o Eu quer se confortar a si mesmo com a autocompaixão que é essencialmente uma forma de amor: uma forma de amor de si mesmo. O Eu da criança quer tratar a si mesmo como um pobre coitadinho, como trataria outra pessoa nas mesmas circunstâncias. A autocompaixão fornece calor humano, consolo, quer proteger e mimar e se sente no direito de obter compensações confortantes. A autocompaixão se exprime nas palavras e nos lamentos interiores, nas lágrimas e suspiros; se manifesta claramente no tom queixoso da voz, na expressão do rosto e nas atitudes do corpo. Quase sempre a autocompaixão origina emoções de protesto, sob a forma de cólera, de hostilidade, de rebelião ou de amargura, sempre que a criança se sente tratada injustamente. Analisando melhor, parece evidente que aquilo que se designa popularmente como complexo de inferioridade (segundo a descrição de Adler) e exatamente a autocompaixão crônica de quem se sente inferior. Presto as minhas homenagens ao psicanalista holandês Johan Arndt por ter demonstrado o mecanismo desta emoção universal, e tão humana, que é a autocompaixão. Um caso de complexo de inferioridade é também um caso de autocompaixão crônicalviii . Sem ela, as sensações de inferioridade não teriam consequências negativas. Arndt chamou à autocompaixão das crianças e dos adolescentes “auto-dramatização”, porque a criança sente e vê a si mesma como uma personalidade importante, digna de compaixão: “O meu sofrimento é único”. A consciência de si torna-se consciência do “coitadinho de mim”. A CRIANÇAAUTO-COMPADECIDA NO ADULTO As expressões de autocompaixão (como o chorar, queixar, procurar conforto e consolo) podem aliviar e ajudar a assimilar as experiências que causaram a pena (o trauma). Crianças e
  • 28. 28 adolescentes que se sentem sozinhos com as suas sensações desagradáveis durante um longo período, em geral não abrem a alma a uma pessoa de confiança; se envergonham ou julgam que ninguém está em condições de compreendê-las. Como resultado, continuam a alimentar as suas autocompaixões. As crianças não param facilmente, depois de entrarem neste processo: isto vale para muitas emoções e comportamentos, como também para a autocompaixão das crianças e dos adolescentes. Depois de se sentirem tristes em si mesmas, tendem a perseverar nessa tristeza e até a cultivá-la, pois a autocompaixão tem este doce efeito inerente à lástima: o consolo. Pode ser muito gratificante se sentir como o pobre coitadinho, incompreendido, rejeitado e abandonado. Sob este aspecto a autocompaixão e a auto-dramatização têm qualquer coisa de ambivalente. Uma autocompaixão repetidamente alimentada pela criança e pelo adolescente pode gerar uma psicodependência de autocompaixão. Em outras palavras, se torna um hábito autônomo de íntima comiseração. Este estado emocional da mente é descrito pela expressão: “a criança (ou o adolescente) auto-compadecida no adulto”. A personalidade do “pobre de mim” da infância (ou da adolescência) sobrevive na mesma forma; toda a personalidade infantil permanece na pessoa. Há, portanto, três conceitos que geralmente se sobrepõem: complexo de inferioridade, criança no adulto e hábito de autocompaixão (chamado por vezes de “doença dos lamentos”). São estes descrições adequadas dos fenômenos que se verificam na mente de uma pessoa neurótica, isto é, afetada por variadas hesitações, emoções obsessivas, sentimentos imotivados de insegurança e conflitos interiores. As linhas gerais da personalidade neurótica correspondem às características descritas acima. Em primeiro lugar, observamos uma continuidade modelos de comportamento infantis e pueris. De certa maneira, a pessoa continua a ser, do ponto de vista psicológico, a criança ou adolescente de antigamente; mantendo-se os desejos concretos, as sensibilidades, as lutas e o modo de pensar das crianças. No entanto, o complexo não conserva no adulto todas as coisas da criança. O amadurecimento da pessoa só fica seriamente comprometido naquelas zonas onde as frustrações infantis intervieram, ou seja, onde a autocompaixão e o sentido de inferioridade tiveram origem. Nos outros campos, a pessoa pode ser psicologicamente amadurecida. Nos casos em que a “criança lamurienta” evalece, então toda a personalidade fica imatura, “infantil”. A homossexualidade é justamente um tipo de neurose. A pessoa que sofre este complexo leva dentro uma certa “criança que se auto-compadece”. Por isso é que Bergler observou: “Aos cinquenta anos o homem com inclinações homossexuais encontra-se, do ponto de vista emocional, nos anos da adolescência”lix . Uma segunda característica da neurose é a tendência à autocompaixão — habitualmente manifesta, mas em algumas pessoas é mais reservadas — tão imensamente descrita por Arndt. O neurótico grave manifesta de modo muito evidente a necessidade de se compadecer; parece continuamente à procura de motivos de autocompaixão — e ele consegue —; talvez sentindo-se cronicamente objeto de injustiça, ou sempre frustrado e sempre sofredor por qualquer coisa. Os seus lamentos podem consistir em qualquer coisa negativa: sentimentos de desilusão, de ter sido deixado só, de ser incompreendido, de falta de estima, de carência de amor, de incapacidade física, de dor, etc. É como se a mente do neurótico não pudesse passar sem a sensação de autocompaixão, de auto-dramatização; por isso, esta situação pode ser vista como uma “psicodependência” ou como
  • 29. 29 — o que é o mesmo — um mecanismo compulsivo de compaixão. O resultado é que, no neurótico, a confiança da pessoa em si mesma, a segurança e a alegria de viver ficam seriamente comprometidas. Uma outra característica frequente do neurótico é um desejo infantil de atenção, de aprovação e de simpatia, além de uma tendência geral à autoafirmação. A expectativa de estima e de calor da criança que tem por dentro, é inesgotável e gira à volta da pessoa como na criança propriamente dita. De muitos modos, este Eu infantil pode procurar ser importante, interessante, atraente para os outros, estar no centro das atenções tanto na vida real como na imaginação. É preciso mencionar como último aspecto a atitude mental egocêntrica. Uma grande parte da consciência psíquica pode estar ocupada, ou girar em torno, do infantil “coitadinho de mim!”. Para usar uma comparação: a “criança compadecida que está no adulto” mima e cuida de si mesma como uma criancinha carinhosa acariciaria uma boneca que trata como algo que merece compaixão. Todo o sentimento de amor pelas outras pessoas, baseado em um interesse genuíno por elas, é bloqueado por uma atitude neurótica compulsiva centrada sobre si própria e que se desenvolve mais ou menos espontaneamente. O COMPLEXO DE INFERIORIDADE HOMOSSEXUAL São inúmeros os tipos de complexo de inferioridade e as variantes da “criança auto- compadecida do passado, conservada no interior”. Um deles é o complexo de inferioridade homossexual. Portanto, à parte o sintoma concreto de um certo tipo de apetite sexual, a homossexualidade não é um fenômeno isolado mas se integra no conjunto dos problemas da neurose. Como já mencionado anteriormente, os sentimentos de inferioridade podem se manifestar em muitos setores da chamada esfera da personalidade individual. A criança ou adolescente perturbado por fantasias e atrações homoeróticas tem uma impressão de inferioridade em relação à sua identidade sexual ou “identidade de gênero”, isto é, o fato de ser rapaz ou moça. O rapaz sente- se inferior comparado com os outros rapazes em relação às suas qualidades de homem: resistência, espírito decidido, atitudes desportivas, audácia, força ou aspecto masculino. Uma moça sente-se inferior comparada com as outras moças quanto à feminilidade nos interesses, comportamentos ou aspecto físico. Esta regra pode ter variantes, mas as linhas gerais são inconfundíveis. Um elemento fundamental desta impressão de inferioridade é a consciência de não pertencer realmente ao mundo dos homens ou das mulheres, de não ser um rapaz, (homens) ou uma moça (mulheres). Na maior parte dos casos, esta autoimagem de inferioridade aparece na pré-puberdade e na puberdade, entre os oito e os dezesseis anos, com um pico entre os doze e os dezesseis. O adulto com orientação homossexual irá conservar o característico tipo infantil do “Eu auto-compadecido”, com o seu cortejo de antigas fantasias e frustrações e a sua concepção pueril das pessoas do mesmo sexo. O ponto de partida é uma autoimagem de inferioridade, concretamente, a de não pertencer ao mundo dos homens ou das mulheres. Às vezes, estas sensações são plenamente conscientes: a criança pode expressá-las, como aquele rapaz de dez anos que mais de uma vez se lamentava com a mãe, quando lhe falava contrariado do seu relacionamento com os outros rapazes da escola: “sou mesmo tão fraco!” (contou-me a mãe, quando veio para discutirmos a homossexualidade do filho). Outros jovens podem ter as mesmas sensações sem verbalizá-las claramente; e podem se dar conta
  • 30. 30 somente depois de alguns anos: “Olhando para trás, me dou conta de que sempre me senti deslocada e pouco atraente, comparada com as outras moças”, observava uma mulher lésbica, “mas nunca tinha me dado conta disso”. Mais ou menos conscientes, as crianças e os adolescentes sofrem por este sentido de inferioridade que os corrói por dentro. Muitas vezes têm vergonha de admitir diante de si próprios este sofrimento, porque o reconhecimento consciente da inferioridade pode ser uma experiência desagradável, que ofende o Eu, o amor próprio, ou a importância do Eu infantil. Os sentimentos de inferioridade de uma criança ou de um adolescente podem distorcer a sua imagem das outras pessoas, algumas das quais podem lhes parecer superiores. No caso do rapaz, outros rapazes podem parecer mais masculinos ou mais fortes. No caso da moça, outras moças e algumas mulheres podem parecer mais femininas, mais belas, mais engraçadas, mais próximas do ideal feminino. Neste modo de ver podem ter mais importância as características físicas dos outros; em outros casos, prevalecem as atitudes e os comportamentos; mas, de uma forma ou de outra, as pessoas do mesmo sexo, em particular algumas delas, são idealizadas e até idolatradas. Uma certa idealização das pessoas do mesmo sexo é normal durante a pré-adolescência e a adolescência. Os rapazes da mesma idade são admiradores dos desportistas, heróis, aventureiros, pioneiros: homens cheios de coragem, de força e de sucesso social. Sentem-se atraídos pelos exemplos de homens dominadores: o vigor masculino e a audácia são tidos em grande apreço. Por isso pode acontecer que admirem rapazes um pouco maiores, que são já “mais homens” que eles, e os queiram imitar. Pela sua parte, as moças têm um particular interesse pelos atributos de graça e feminidade das outras moças e mulheres mais maduras: admiram os dotes femininos para as relações sociais, a graça feminina. MASCULINIDADE E FEMINILIDADE: ESTEREÓTIPOS CULTURAIS? Nesta altura não podemos deixar de fazer um inciso para comentar algumas considerações sobre uma convicção relativamente comum, que pretende pôr de lado as ideias tradicionais de masculinidade e feminilidade e os correspondentes “papéis” como simples produtos da cultura. Segundo esta opinião, a cultura tradicional já teria ficado obsoleta e portanto seria já desaconselhável “doutrinar” as crianças com os estereótipos dos vários papéis ligados ao sexo. Na realidade, saber se os modelos de masculinidade e de feminilidade são naturais não é uma questão decisiva para a explicação da homossexualidade que estamos a apresentar. Efetivamente, os sentimentos homossexuais provêm de a pessoa se sentir deficiente na própria masculinidade e/ou feminilidade, tal como é entendida pela criança (ou pelo adolescente) na sua comparação com os outros. Portanto, em sentido estrito, é irrelevante se a masculinidade ou a feminilidade são relativas ao contexto cultural ou são parte da herança biológica da pessoa, ou ainda ambas as coisas ao mesmo tempo. Contudo, a hipótese, admitida hoje por alguns, da equivalência dos sexos pode confundir um juízo correto acerca dos comportamentos sexualmente desviados. Além disso, os sistemas educativos que resultam dessa concepção igualitária dos rapazes e das moças põem gravemente em perigo o seu desenvolvimento emocional saudável e, especialmente, o seu desenvolvimento sexual. A teoria da equivalência é insustentável. Em todas as culturas e em todos os tempos e em todo o mundo, os homens e as mulheres diferem entre si em várias dimensões fundamentais do comportamento. A interpretação mais plausível desta constatação de fato está na hereditariedade.