Segunda aula do curso "Lacan e a Psicanálise: interlocuções com a contemporaneidade", conduzido pelo psicanalista Alexandre Simões (MInas Gerais, Brasil).
Sintoma, Clínica e Contemporaneidade - Jornada do Parlêtre 2013
Lacan e as Clínicas
1. Lacan e a Psicanálise:interlocuções com a contemporaneidade Tema: Lacan e suas clínicas. Coordenação Alexandre Simões ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
2. Atualmente, vem sendo retomada a discussão sobre uma divisão interna ao ensino de Jacques Lacan a ponto de se falar (apesar de haver algumas pequenas diferenças nas designações) em uma ‘Primeira Clínica’ e em uma ‘Segunda Clínica’ de Lacan ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
3. Antes de prosseguirmos, é válido visualizarmos algumas propostas de periodização do itinerário de Jacques Lacan: Primeira proposta: Terceira proposta Segunda proposta: Jacques-Alain Miller, em torno de 1982 Jacques-Alain Miller, em 1986-87 Jean-Claude Milner, em seu livro A obra clara, em 1996 ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
4. Estas periodizações tem algumas especificidades: Primeira proposta (de Miller) Terceira proposta (de Miller) Segunda proposta (de Milner) Recorre a um critério clínico (axiomas que fundam a experiência clínica); Duplicidade de planos em Lacan: Primeira Clínica de Lacan, Segunda Clínica de Lacan Recorre a um critério histórico, apontando para um desdobramento teórico; Divisão tripla do percurso de Lacan: Imaginário, Simbólico, Real Recorre a um critério epistemológico, uma vez que o que conta para Milner é a posição de Lacan frente a uma teoria da ciência; Bipartição do percurso: Primeiro Classicismo e Segundo Classicismo
5. A primeira clínica é mais conhecida e difundida. Tende a coincidir com o que é mais visível nos seminários e escritos iniciais de Jacques Lacan (dos anos 50 ao final dos anos 60) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
6. A segunda clínica é mais difusa, menos discernível . . . Ela coincide com o último decênio da vida e do ensino de Jacques Lacan (1970 a 1981) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
7. Todavia, de forma alguma, esta divisão temporal é delineada de modo cristalino pelo próprio Lacan Os elementos que constituem aquilo que, posteriormente, foi chamado de primeira e segunda clínicas estão onipresentes, com distintos contornos e intensidades, tal qual um interjogo barroco ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
8. Em suma, a clínica lacaniana não tem contornos inevitavelmente rígidos e o que se constrói a partir dela não se mostra imutável. Os alicerces, os conceitos (também as formas de construí-los e formalizá-los) das duas clínicas são distintos. Notemos que estabelecem relações complexas entre si. Notemos que estabelecem relações complexas entre si. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
9. Vale ainda sublinhar que a prática clínica da psicanálise não é linear e nem mesmo progressiva. Por isso, não é plausível pensar que ao longo da condução de uma análise parte-se daquilo que é vigente na Primeira Clínica e segue-se em direção ao que é manifesto na Segunda Clínica de Lacan. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
10. Para se compreender melhor a ambiência das duas clínicas, é relevante notar que há distintos níveis de formulações em Lacan: Temos as formulações que mostram mais vigor na cena temporal em que o próprio Lacan desenvolveu a maior parte de seu ensino (dialogam, portanto, com os modos de produção da vida, do corpo e dos laços-socais que aí se colocavam); b) Em outra medida, temos um conjunto menor de formulações que tem mais efetividade na nossa atualidade (a cena de um mundo globalizado, em que as coordenadas edípicas - verticalizadas, hierarquizadas - já não são tão hegemônicas quanto antes) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
11. Em alguma proporção, podemos dizer que os dois momentos do ensino de Lacan funcionam como planos de problemáticas distintas ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
12. No ensino que Lacan estabelece entre os anos 50 e o final dos anos 70 do século passado, o sentido emana (é produzido) por uma estrutura. Notemos que não é o psicanalista, nem mesmo o analisando que engendram o sentido, mas o sentido brota de um lugar: o lugar do Outro (este lugar advém ao longo da associação livre, entrecortada pelos sonhos, atos falhos e chistes). => Império do Significante Ex.: a análise do Homem dos Ratos -> perspectiva do deciframento ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
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14. Lacan pós-70: propõe a tese do ‘desabonamento do inconsciente’ (que vem a ser um congênere da formulação ‘o Outro não existe’) => indecifrável
15. Nesse sentido, a Segunda Clínica, comporta um ‘para-além de Freud’, no que tange especialmente à superação de seu viés edípico. Temos, assim, uma Clínica Borromeana, na qual as considerações sobre o parlêtre e o gozo vão gradativamente se sobrepondo ao cenário do Sujeito ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
16. É importante estarmos atentos aos efeitos práticos desta chamada segunda clínica de Lacan ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
17. As implicações amplas de uma Clínica do Gozo: Primeiramente, é imprescindível que consideremos que atualmente estamos vivendo, mais do que anteriormente, em um momento de gozo dissidente e desregrado. Alguns exemplos bastante notáveis disso são as intervenções da biotecnologia no corpo, as toxicofilias, o flerte com a experiência-limite em alguns esportes ditos ‘radicais’, os ditames estéticos em prol do upgrade do corpo, os sintomas devastadores: na vinculação com a escola/educação (anomias), a delinquência juvenil, as doenças psicossomáticas. Em cada um desses acontecimentos, é notável o limite da palavra face à tenacidade do gozo.
19. Uma breve nota sobre o gozo: O gozo é um acontecimento que não se delimita a um aspecto da vida, da conduta de cada um, do corpo ou do sintoma. Ele está em todos os lugares; esta é a chamada positividade do gozo. Desta forma, o gozo pode ser temperado. Cada vez menos compreende-se o propósito da análise em termos de atravessamentos (atravessamento do Édipo, do sintoma, do Pai, do fantasma), e passa-se a problematizá-lo em termos quantitativos: face a um mais ou um menos, ao invés daquilo que sempre falta. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
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21. Este deslocamento do lugar do psicanalista nota-se em Lacan na medida em que ele relativiza suas construções acerca do inconsciente simbólico face ao inconsciente real;ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
22. Enfim, busca-se aqui, com mais ênfase do que no período inicial (anos 50 ao final dos 60) a responsabilização do ser falante no seu próprio sofrimento (notemos que isto não é a mesma coisa de se dizer que o paciente é responsável pelo seu sofrimento) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
23. Lembremos: uma clínica baseada na primazia do Simbólico é fortemente calcada no passado ( o passado é revelador, é palco de descobertas, como se fosse portas que se abrem para outras portas) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
24. Segunda Clínica de Lacan: ... o pai é uma falta para todos ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
25. Façamos um paralelo entre as clínicas: Clínica Inicial de Lacan: O neurótico tem Pai; O psicótico não tem Pai; O perverso produz uma versão do Pai (daí, a pèreversion); A Clínica que foi se desdobrando da Inicial: O Pai é ausente, precário no ser falante; ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
26. Prosseguiremos no próximo encontro com o tema Seminário 1 (Os escritos técnicos de Freud): o psicanalista e a linguagem Até lá! Acesso a este conteúdo: www.alexandresimoes.com.br ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.