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Mentes e Cérebros para Gestalt Terapeutas
Todd Burley, Ph.D.
A Gestalt terapia tem o privilégio de ter sido desenvolvida por indivíduos
dispostos a assimilar e integrar as emocionantes informações e teorias que
circulavam na psicologia em suas épocas. Uma possível acidental consequência
tem sido a de que a Gestalt Terapia tem se envolvido em paralelo com muitas das
grandes contribuições na revolução da psicologia experimental cognitivista e
neuropsicológica. Como um resultado, a teoria da Gestalt tem fornecido um
excelente enquadramento para a psicologia em geral e a psicologia experimental
vem paulatinamente fornecendo validação para muitos conceitos da Gestalt
terapia. Este artigo detalha algumas das importantes áreas de validação e a
evolução da atual teoria da Gestalt.
Até há pouco tempo, a psicologia foi um campo constituído por informações independentes que
tiveram algumas claras implicações umas nas outras. Clínicos frequentemente reclamam sobre a
irrelevância da psicologia experimental nos seus casos clínicos. Enquanto a fofoca viaja na velocidade da
luz, notícias reais circulam lentamente; infelizmente, o mesmo acontece com a ciência. Nas duas últimas
décadas houve uma explosão de informações clinicamente relevantes vindas de pesquisas psicológicas
laboratoriais ao redor do mundo e, infelizmente, pouco disso está chegando aos melhores clínicos
equipados para usar esta informação. Gestalt terapeutas tem tido mais do que um superficial interesse no
corpo como um todo, na mente da pessoa, em sua relação com o resto do campo e estão assim em uma
posição única para apreciar a importância do que vem acontecendo em laboratórios experimentais e para
usar a informação clinicamente. Imagine, por exemplo, ser capaz de condicionar o sistema imunológico
para manter a produção sem simulação de drogas ou ser capaz de manipular o sistema imunológico
estabelecendo um estado mental e de humor, como foi recentemente demonstrado por Greenberg e
Betancourt (1997).
Em 1956 em um simpósio sobre a teoria da informação no MIT, psicólogos começaram a cogitar a
ideia de que nós poderíamos realmente ver dentro da “caixa preta”. Desde o simpósio, cresceu a primeira
hesitante tentativa de pesquisa com novas metodologias, não com muita certeza no começo, e, talvez mais
guiada pela intuição do que por uma visão clara, mas desde então eles transformaram a psicologia, que
rapidamente se tornou um tecido ininterrupto em que processo, dinâmica, aprendizagem, cognição,
desenvolvimento, neurociência e suas relações com o maior campo são realmente parte de um grande
todo. Eles tem claramente mudado a fundação da psicoterapia de uma era de “dogmatismos” a qual o
Deus era a “intuição clínica” para uma base muito mais científica. De uma maneira muito real, esse
movimento forneceu a realização da metodologia que Fritz e Laura Perls usaram, reunindo e integrando
as ideias relevantes e úteis daquele tempo. De fato, foi desta maneira que eles e seus colegas, como
Hefferline e Goodman, criaram a base teórica que, para a minha maneira de pensar, forneceu a melhor
teoria geral disponível de psicologia, mas este é um assunto para outro artigo. Neste artigo, eu gostaria de
delinear algumas das maiores inovações que eu acredito que deveria informar e guiar a presente prática de
Gestalt terapia, porque é importante que ela não se torne um prisioneiro dos pensamentos do século XX,
da mesma maneira a psicanálise se tornou prisioneira dos pensamentos do século XIX.
Estrutura e Função Cerebral
Vamos começar com o cérebro. Percorremos um longo caminho desde os dias em que a psicologia
psicológica significava que nós sabíamos algo sobre os mecanismos de fome, sede e sexo. Infelizmente,
nós vimos pouquíssimos pacientes vindo aos nossos consultórios reclamando de sede! O atual
entendimento da neuropsicologia, contudo, é rico e prático. Imagine se você quiser que nós vamos pegar
o seu cérebro. Agora está no seu colo assim como o jornal que você está lendo recentemente. A dobra
central representa a linha de divisão entre os dois hemisférios, a parte inferior da página (a área mais
próxima de você) representa os lobos occipitais ou as áreas visuais do cérebro; o meio da página perto da
linha média representa o córtex somatossensorial (a área onde nós sentimos e representamos toque, dor,
pressão, posição e movimento), enquanto as áreas externas do meio da página representam os lobos
temporais ou auditivos; e a parte perto dos seus joelhos representa o lobo frontal ou as áreas responsáveis
por criar intenções, planos e ação e verificar se você fez o que você pretendia fazer. Então agora nós
temos um cérebro com as áreas que são responsáveis pela visão, informação somatossensorial, audição,
assim como planejamento, intenção, verificação e ação.
Cada uma das áreas do córtex mencionadas acima podem, por sua vez, serem dividida em três
áreas, as vezes chamada de áreas de projeção (pense em tela de projeção) que têm mais ou menos funções
paralelas independentemente do sentido ou do lobo. Estas áreas são para (a) receber informação dos
órgãos sensoriais (b) analisar e armazenar informação relativa a um particular sentido e (c) integrar
diferentes sentidos, como transformar informação visual em informação auditiva como você está fazendo
agora enquanto lê isto. Nos lobos frontais a projeção é para fora ao invés de ser para dentro. Em outras
palavras, os córtices visual, somatossensorial e auditivo são sistemas sensoriais ou de entrada, enquanto
os lobos frontais são sistemas de saída divididos em (a) área de controle motor bruto (desorganizado), (b)
controle motor e áreas de integração, e (c) áreas que executam as funções de presidir o cérebro pela
pretensão, planejamento e verificação se algum realizou as intenções.
Da mesma forma que duas pessoas têm funções corporais similares ou sistemas de órgãos, duas
pessoas não tem funções cerebrais similares. Para alguns de nós é muito fácil pensar em termos de
metáfora, enquanto para alguém com menor orientação auditiva, pode ser mais fácil pensar em termos de
movimento, gesto e outros usos do espaço. Saber da força sensorial particular do seu cliente permite que
você se comunique de uma maneira a intervir como terapeuta de um modo a abordar a experiência do seu
cliente, quer seja espacial, auditivo ou talvez visual. Eu suspeito que quando paciente e terapeuta
trabalham de um jeito incompatível, nós, como terapeutas, estamos propensos a ver o paciente como
resistente ou lento, quando na verdade fomos nós terapeutas que não notamos o melhor jeito de se
comunicar com aquela pessoa em particular.
Eu uma vez fui chamado para uma consulta no tratamento de um jovem homem por dois
dedicados psiquiatras analiticamente treinados que tinham conduzido quatro sessões por semana, por
aproximadamente três anos, sem ter nenhum resultado observável. Uma avaliação neuropsicológica do
paciente deixou claro que o seu lobo temporal esquerdo estava significativamente comprometido,
juntamente com o as áreas parietais. Desnecessário dizer que uma terapia baseada de forma verbal, forte e
dependente de metáforas e nuances de imagens verbais estavam muito perdidas para ele. A recomendação
feita foi a de que aquela terapia devia ser reorientada em relação a modalidades mais espaciais que seriam
mais sintonizadas com as forças somatossensoriais dele. Uma técnica que contaria muito mais com uma
linguagem concreta básica com ênfase em expressão facial, gestos, uso de metáforas espaciais e escultura
familiar.
Pare um momento agora e olhe ao redor do cômodo em que você está e note onde os seus olhos
repousam o olhar. Agora repare o que você “sente” enquanto você vê o que você esta olhando. Agora
você entrou em contato com outra importante parte do seu cérebro, o sistema límbico. Voltando para o
seu cérebro de jornal que foi citado anteriormente, o sistema límbico está localizado sob a linha entre os
dois lados do jornal e se estende por baixo em direção à área que nós identificamos como lobos
temporais. Lembre-se do antigo e frequentemente estudo citado de Olds e Milner (1954) e os centros de
prazer que identificaram em cérebros de ratos. Bem, aqui estão eles, entendido um pouco melhor depois
de anos de pesquisa. É com esta área do cérebro que os terapeutas estão falando quando eles perguntam
“Como você se sente em relação a isso?” ou “Note como você está afetado com o que recém aconteceu”.
Aqui é onde os sistemas de recompensas de excitação (entusiasmo), de positivismo (“eu gosto disso”) e
negativismo (“nojento”) estão localizados. Quando nós estamos tentando ajudar nossos clientes a “entrar
em contato com seus sentimentos”, estamos, na verdade, pedindo que eles notem o que podem ter deixado
de perceber ou no que têm dificuldade de articular e compartilhar: suas reações ao que eles sentem,
imaginam ou pensam.
O “congelamento” cognitiva e afetivo que nós podemos ver em pacientes com distúrbio de estresse
pós-traumático, quando são confrontados com duas alternativas bem desagradáveis (chamadas de esquiva
de duas vias em termos laboratoriais), está relacionado com as funções do sistema límbico. Esta área do
cérebro também desacelera o processo de habituação ou a taxa em que nós nos tornamos mais calmos e
menos ansiosos ou vigilantes com certos estímulos. Nós estamos descrevendo aqui a aceleração e
desaceleração do processo terapêutico e de dessensibilização responsáveis por uma quantidade de efeitos
associados com o resultado da psicoterapia. Sono, excitação, agressão e raiva também são respostas que
são facilitadas pelo sistema límbico.
O cérebro então é como um computador que funciona com três principais sistemas operacionais ou
de idiomas de uma só vez (informação somatossensorial, visual e auditiva) e vários outros secundários
(paladar e olfato, por exemplo). Outra maneira de pensar nisso é o de três computadores diferentes
entrelaçados trabalhando nos mesmos eventos a qualquer momento. Todos estes sentidos estão
envolvidos de alguma maneira em todas as experiências. Eu visualizo este sistema de processamento de
informação como o modelo mostrado na Figura 1, com a audição, visão e informação somatossensorial
representadas ao longo de três diferentes dimensões. Praticamente qualquer processo cognitivo desde
matemática até jurar ou evitar uma casca de banana pode ser feito por este maravilhoso sistema de
processamento de informação humano. Há uma quarta dimensão que, contudo, poderia ser representada
pelo brilho de qualquer ponto no espaço delineado pelas outras três dimensões e é o que nós vamos
chamar de componente visceral ou afetivo, ou seja, o sentimento que temos pela matemática, juramento
ou pela casca de banana, por exemplo. Portanto, como Karl Pribram disse por muitos anos, o
funcionamento do cérebro é como um holograma. Em outras palavras, qualquer experiência ou processo
não estão localizados em uma única e particular parte do cérebro; estão localizados e podem ser acessados
ou “associados” em qualquer lugar do sistema que tenha sido afetado por isto.
Não tem espaço e nem tempo para falar de todas as possíveis implicações para a psicoterapia aqui,
embora algumas ficarão claras posteriormente, mas o que é enfatizado é uma importante mudança no
pensamento sobre os clientes. Terapeutas frequentemente pensam e referem ao pensamento e o
sentimento como coisas diferentes e funções separadas. A pesquisa dos últimos anos em neurociência
deixa claro que este conceito é provavelmente muito antigo vindo das filosofias gregas e anteriormente
cristãs que separavam mente e corpo e sentimentos e pensamento. Deveria estar claro que “cognição” e
“sentimento” são de fato inseparáveis. Eles estão muito entrelaçados assim como os fios de uma corda.
Contudo, indivíduos podem variar em sua habilidade em articular sua experiência, ou sua vontade de
revelar que sua experiência é acessada. Pensamentos não ocorrem no cérebro sem sentimentos e
sentimentos não ocorrem sem pensamentos. Isso muda a forma como nós vamos ajudar as pessoas a
utilizar e acessar suas experiências e pode significar que nos aproximemos de indivíduos que vemos como
“insensíveis” (uma ideia bizarra neurologicamente!), mas que, com uma posição mais respeitosa, eles
possam experimentar: explorar, verdadeiramente, sua fenomenologia ao invés de dizer que eles não
conseguem por serem insensíveis.
Infelizmente, também há alguns mitos que foram ditos como verdades, não apenas na Gestalt
terapia, mas nas profissões de saúde mental num geral. A ideia mais gritante é a de que o hemisfério
esquerdo é linear (usualmente traduzido como menos valioso), enquanto o direito é criativo e artístico. É
difícil localizar onde o erro se originou, mas agora é parte do saber de “senso comum”. Pode ser que
tenha vindo de uma leitura pouco cuidadosa de Ornstein’s (1972) The Psychology of Consciousness (A
Psicologia da consciência, livro não traduzido para o Português), em que o autor, enquanto relatava a
literatura com precisão, talvez tenha feito algumas interpretações prematuras. É verdade que em níveis
altos, tanto o hemisfério direito, quanto o esquerdo processam informação de forma diferente, mas essas
diferenças mentem no fato que o hemisfério esquerdo é mais orientado em relação à informação auditiva,
enquanto o hemisfério direito é orientado em relação à informação espacial baseada em dados
somatossensoriais. O hemisfério esquerdo tende a assumir controle de tarefas “bem
aprendidas”/automatizadas, enquanto o direito é mais orientado a analisar estímulos novos e não
familiares. Assim, uma habilidade como a de leitura circula pelo cérebro dependendo da habilidade e
nível que a pessoa tem nesta tarefa. Habilidade matemática altamente teórica tende a depender muito do
hemisfério direito e criatividade, claro, depende do cérebro inteiro, dependendo se uma pessoa está
escrevendo um poema ou esboçando uma paisagem.
A Atual Teoria da Aprendizagem
Você deve se lembrar bem da teoria da aprendizagem como algo tão chato que fez com que você
pensasse em desistir da psicologia e que levou você a escolher o caminho do aconselhamento de casal e
familiar, o mestrado em trabalho social ou psiquiatria como um modo de se tornar um psicoterapeuta. Em
todo o caso, você não estava cem por cento interessado em começar uma prática resumida em ratos e
outros pequenos roedores inseguros. A teoria da aprendizagem é uma área onde alguns velhos conceitos
alcançaram nova relevância e que descobertas têm fortes implicações no jeito em que cada psicoterapia é
conduzida.
Vamos começar com um conceito bastante familiar: habituação. Habituação significa que, ao
longo do tempo e ao longo de uma série de experiências similares, a força ao responder estímulos
diminui. Esse conceito é de muitas formas, o santo padroeiro da terapia que não é particularmente dotado,
bem treinado ou muito investido no processo, mas, apesar disso, não é prejudicial ou tóxico para o cliente.
Revisando o mesmo material ou processo de forma repetida, inevitavelmente, em si mesmo, a terapia irá
levar a mudança em um nível de emoção ou talvez ainda na qualidade da emoção provocada. Assim, a
ansiedade é reduzida ao longo do tempo e devido à repetição de contato com alguma outra.
Frequentemente, a redução da ansiedade permite que o cliente considere alternativas das quais não tinha
consciência prévia. Provavelmente muitos dos efeitos positivos da psicoterapia não são causados
especificamente pela abordagem ou técnica de habituação. Muitos terapeutas comportamentais usam
habituação de maneira consciente e consequentemente podem ser mais eficaz quando for usada naquelas
questões terapêuticas que se rendem mais prontamente à habituação.
Em 1980, Solomon descreveu uma teoria da emoção que ele chamou de Teoria do Processo
Oponente. De uma forma simplificada a teoria funciona assim: processo A é o responsável afetivo de um
estímulo particular, como por exemplo, uma mágoa muito grande gerada por algo que alguém tenha nos
dito. Então, o Processo A é resposta de um estímulo. Agora o Processo A que foi posto em ação elicia um
processo que é uma resposta para a profunda mágoa que recém descrevemos. Este Processo B se opõe ao
Processo A. Então, é um efeito oposto da dor recém sofrida. Conforme o tempo passa e a mágoa começa
a se dispersar, eu começo a me sentir aliviado e bem, talvez até uma leve euforia. Agora algo interessante
acontece. O Processo B fica fortalecido com o uso, enquanto o Processo A fica fraco. Por exemplo, se
você está pulando de paraquedas, o Processo A seria medo e o Processo B seria euforia. Então, quanto
mais você pula de paraquedas, mais rapidamente o medo se torna euforia e então pular de paraquedas vai
se tornando mais divertido ao longo do tempo. Se você parar para pensar é complicado trabalhar o
consumo de drogas com o mesmo paradigma como se faz com a paixão. Respostas de violência
doméstica também são bons exemplos para serem descritos com este paradigma. Se os efeitos posteriores
forem fortemente agradáveis e positivos, como a vítima pode estar determinada a deixar a situação,
naquele momento, mesmo que esteja em um estado de alívio? Seria e aparentemente é que a vida real
requer uma enorme quantidade de autodisciplina para partir após uma reconciliação. Infelizmente,
terapeutas frequentemente falam às vítimas que não deixem o agressor lhes causar medo, mas tentam
reforçar sua autoestima e senso de empoderamento em vez de focar no processo propriamente dito.
Um importante aspecto da teoria da Gestalt terapia é o papel da consciência na aprendizagem,
porque descreve o que nós observamos como terapeutas, ao saber que a tomada de consciência está
associada à mudança. Nós também temos consciência de que as pessoas frequentemente passam um
pouco indiferentes com o que acontece em boa parte de suas vidas. Em outras palavras, as situações mais
difíceis da vida são frequentemente vividas de uma maneira um tanto desassociadas. Rescorla e Wagner
(1972) descreveram este processo, primeiramente observado por Perls e por várias gerações de Gestalt
terapeutas, com precisão matemática. Este não é o local para entrar nas complexidades da matemática,
mas sim nos conceitos que são um poderoso reforço da noção que a Gestalt tem da qualidade de tomada
de consciência e como isso se relaciona com o aprendizado e a mudança. Eles também podem ajudar a
aperfeiçoar a habilidade com a qual nós aplicamos os conceitos na psicoterapia. Em termos formais, o
modelo de Rescorla e Wagner diz que a aprendizagem acontece melhor quando estímulos
incondicionados estão surpreendendo, diferentemente de expectativas. O que nós notamos depende, em
grande medida, do que nós esperamos perceber. Então se algo acontece diferentemente do que estávamos
esperando, tendemos a notar e aprender novos processos. De fato, o grau de surpresa parece estar
associado com a quantidade da aprendizagem ou mudança que ocorreu. Isso não é uma surpresa para os
terapeutas experientes, mas saber como isso ocorre pode nos ajudar a sermos mais eficazes em ajudar os
nossos clientes a alcançar a tomada de consciência e a opção de mudança. Quando um terapeuta está
trabalhando com um cliente, é importante fornecer um elemento de surpresa a fim de ajudá-lo a aprender
uma maneira diferente de perceber e agir. Se você já observou o seu próprio trabalho ou o de outro
terapeuta notado por sua habilidade em gerar mudança, você notou que ele tem um jeito de ressaltar ou
trazer alguém à consciência. Perls em sua época e vários outros atuais terapeutas notados na nossa época
exibiram o mesmo modo de atrair, poderosamente, a atenção através de suas respostas, metáforas,
qualidades de contato, voltando os holofotes ao comportamento do cliente e vários outros métodos de
criar surpresa.
A teoria da aprendizagem explica uma dinâmica muito importante que faz com que vários
pacientes se afastem de serem capazes de provocar mudança. Paradigmas que evitam a fuga de
aprendizagem são tão estranhos que chegam ser quase assustadores, como uma replicação entre o
comportamento do seu cliente com o resto do campo. Este paradigma funciona mais ou menos assim: um
estímulo que em breve será uma situação muito desagradável. A pessoa se da conta em dado momento
que se ela reagir de certa maneira à situação desagradável pode ser prevenida. Por exemplo, uma pessoa
que cresceu em um lar onde discordar ou tomar uma posição sempre resultava em alguma situação
dolorosa como um castigo, repreensão emocional, ser ignorado ou até mesmo um “tratamento de
silêncio”, ela pode aprender que a melhor maneira de evitar tal situação é estabelecer uma relação
confluente naquele momento. A confluência, para esta pessoa, tem como recompensa, justamente, evitar a
dor e o desentendimento. Quando esta pessoa crescer e estiver com um novo cônjuge, ele ou ela pode não
saber que aquela situação de discordar ou tomar posição de algo não vai desencadear uma situação
dolorosa e ao invés disso, pode ser que crie uma situação positiva. Mudar é inimaginável, contudo, toda a
vez que a pessoa reestabelece a confluência, ela é reforçada por ter evitado a situação dolorosa que
esperava. Como dissemos antes, já que a mudança só ocorrerá se houver uma diferença entre a
expectativa e o que nós observamos, nenhuma mudança ocorrerá. Perls era prudente em seu entendimento
sobre essas situações, as quais ele chamava de “impasses”. No laboratório os únicos tratamentos que
pareciam funcionar eram (a) forçar a pessoa a ficar na situação sem depender dos seus meios de suporte
ou (b) fornecer conforto e segurança suficientes para que a pessoa possa experimentar com a conservação
de seus gestos confluentes. Isso parece muito similar com a abordagem de Perls em pedir ou prevenir a
pessoa de depender de seu estilo de enfrentamento habitual até que ela tenha a oportunidade de analisar a
diferença entre suas expectativas e observações.
Psicologia Cognitiva
Muitos terapeutas não estão muito informados sobre as descobertas verdadeiramente importantes
neste campo, o que de várias maneiras realizou o que Freud queria fazer com o seu trabalho e sonho, que
ele intitulou de “Projeto para uma Psicologia Científica”. Curiosamente, Fritz e Laura Perls, com sua
estranha habilidade de prever ideias promissoras de analistas (Jung, Reich), acadêmicos (Werthiemer,
Kofka, Kholer e posteriormente Lewin) e filósofos (Smuts) da época, agora parece que eles estavam no
caminho certo a respeito disso. Na verdade, de muitas maneiras, o trabalho de psicólogos cognitivos tem
sido uma confirmação de muitas ideias e conceitos de Perls que foram baseadas nas suas explorações
fenomenológicas menos rigorosas.
Agora está claro que significado é feito por cada organismo individual tendo como base sua parte
biológica e sua interação com o campo. Sensação não é um parecer do mundo real; é impactado pelo
mundo real e o que recebemos são sensações criadas. De certa forma, as sensações ficam entre nossas
experiências e o mundo real. Por causa dos estudos cruciais em detecção de sinal durante e depois da
Segunda Guerra Mundial, nós temos conhecimento de estados internos como ansiedade, as expectativas
ou o que uma pessoa foi conduzida a esperar, e de fato as recompensas por perceber de certas maneiras
desempenham um papel importante em nossa percepção. Observações cuidadosas de processos de
grandes grupos, assim como individuais, confirmam este entendimento. Nós tendemos a perceber o que
nós estamos predispostos a perceber.
Provavelmente uma das informações mais chocantes que emergiu da “revolução cognitiva” na
pesquisa psicológica é sobre quão distante da realidade as nossas memórias podem estar e frequentemente
de fato estão. Por exemplo, muito da visão real, audição e da memória tátil dura apenas aproximadamente
um quarto de segundo ou, no exterior, 4 segundos. Depois disso, nós dependemos da abstração do que
observamos e da reconstrução dos eventos baseados na abstração. Passado é a ideia de que nós
simplesmente temos que acessar uma memória que foi armazenada. Tem de ser reconstruído baseado em
um conjunto de abstrações! Por isso, não é de se admirar que nós raramente nos lembramos de coisas da
mesma forma que os outros lembram. Nós não apenas sentimos e percebemos de forma diferente, mas
nós reconstruímos um evento baseado em diferentes abstrações. Adiciona-se a isso os efeitos da atenção.
Por causa da habilidade limitada do cérebro de processar informação nós tendemos a prestar atenção e
armazenar coisas que parecem ser importantes para nós e não armazenar coisas que não parecem ser
importantes. Infelizmente, o que pode ser importante para mim pode não ser importante para você.
Quando nós falamos sobre memória, estamos falando sobre, em grande parte, o que os Gestalt
terapeutas chamam de fundo (que consiste em memória, fantasia, projeções do futuro, muitas percepções
e outros materiais que estão disponíveis a consciência, mas que não estão na figura atual). (Eu deveria
dizer entre parênteses que eu estou bem ciente de que há algumas teorias da Gestalt que vêm figura e
fundo como algo que está localizado fora da pessoa, e de fato, a aprendizagem e percepção dos teóricos
originais da Gestalt brincaram com estes conceitos por um bom tempo. Contudo, o trabalho de Luria
[1979], Vigotsky e muitos outros botaram essas noções para descansar por muitas décadas, mostrando
bem conclusivamente que o que parecia ser figura neste campo era, na verdade, um produto da
fenomenologia e da história individual. Talvez seja por esta razão e pela falta de familiaridade com a
história da psicologia experimental que há alguns que ainda erroneamente vêm Wertheimer, Kofka,
Kohler e outros como teóricos de campo, quando na verdade eles são teóricos da aprendizagem e da
percepção. Lewin, por óbvio, passou a desenvolver uma teoria de campo própria.).
Mas voltando para o nosso tópico, memória é parte do que, pelo menos, a grande maioria dos
Gestalt terapeutas consideraria fundo. Tulving (1985) surgiu com um jeito de descrever vários tipos de
experiência e memória que são extremamente úteis para os terapeutas. Ele identificou três tipos de
memória. A primeira ele chamou de memória episódica, que é composta por experiências pessoais. Ao
mesmo tempo em que está claro que essa é muito importante para a terapia, também é muito tentador
passar tempo e esforço excessivo aqui se o contar e recontar histórias faria o todo que é exigido da
terapia. Uma segunda classe do conhecimento é chamada de memória semântica. Essa é a representação
do conhecimento; descrição com palavras pode ser um bom exemplo. Mas Gestalt terapeutas
reconheceriam imediatamente a importância superordenada da terceira classe de memória proposta por
Tulving, memória procedural, ou a memória de como as coisas são feitas. Gestalt terapeutas deverão
chamar isto de memória processual. Uma ilustração simples mostrará a diferença entre trabalhar com a
memória procedural ou processual e trabalhar com a memória semântica ou episódica. Eu uma vez tive
uma cliente que não ia embora do meu consultório no fim da sessão. Alguns terapeutas me criticariam se
eu tratasse disso assumindo ou talvez até interpretando como “medo do abandono”. Eu poderia voltar nos
episódios da vida dela onde ela foi abandonada e trazer algum sentido ou entendimento para seu
sentimento nesta situação. Qualquer analista competente provavelmente faria isso e da mesma forma
Gestalt terapeutas deveriam fazer; pelo menos esta é a sabedoria conveniente do momento. Eu também
poderia ver isto como um déficit em habilidades sociais, certamente uma abordagem legitimada na terapia
mundial de hoje. Mas agora olhe para isto a partir da perspectiva da memória procedural e note como isso
parece muito mais algo que um Gestalt terapeuta faria. Desta perspectiva, eu posso olhar para isso de
forma a ver ela “fazendo” ou “sendo” nos termos fenomenológicos, existenciais e neurocientíficos. Ela
aparentemente não sabe como deixar algo inacabado e instável. Ela pode contar sobre o que ela
experiencia ou associa livremente em sua memória episódica, mas o trabalho importante aqui será em
como ela reage e está nesta situação, que por sua vez ajudará a criar alguma memória procedural. A
maioria das terapias são sobre a memória procedural, a qual é abordada pelas memórias semântica e
episódica. A pergunta importe é: esse é o caminho mais direto?
Para tornar as coisas mais difíceis no que diz respeito à memória em geral, há boas evidências de
que pessoas incorporam situações em memórias reconstituídas que podem não terem sido originadas na
própria pessoa. Como Loftus (e.g.,Loftus et AL., 1978) mostrou em vários estudos, uma simples pergunta
sobre a memória de alguém a respeito de um evento – na qual uma nova variável é introduzida a própria
pergunta – frequentemente faz com que a pessoa incorpore a sua memória os detalhes presentes na
pergunta. Mesmo com o fato de o Gestalt terapeuta assumir que a memória que foi contada a ele pelo
cliente é verdadeira, pode não refletir no que realmente aconteceu, foi sábio de fato.
Uma última confirmação. O Modelo de Ativação de Propagação, de Collins e Loftus (1975), de
como um estímulo ou ideia particular organizam no cérebro conceitos relacionados e os estudos com
técnicas de neuroimagem parecem suspeitos, assim como as conceituações da Gestalt sobre figura e fundo
e a maneira com que eles se relacionam entre si. Ambas as abordagens confirmam a noção de que a figura
organiza o fundo, enquanto o fundo organizado dá significado ao que é figural.
Conclusão
É, com certeza, reconfortante encontrar uma complementaridade tão próxima entre a teoria da
Gestalt terapia com atual pesquisa experimental na psicologia. Talvez isso explica, em partes, o senso
intuitivo que muitos de nós temos tido quando comparamos métodos de psicoterapia que a Gestalt terapia
tem, a qual é uma abordagem de processo complexa que parece encaixar em dados clínicos que nós
vemos muito mais de perto do que outros modelos. Pode ser a hora de pensar em devolver o favor àquela
teoria da Gestalt, que diz que há uma relação íntima com o campo, organismo e campo fenomenológico, e
pode de fato ter alguma força organizadora e explicativa na psicologia experimental em geral.
Referências
Collins, A. M., & Loftus, E. F. (1975), A spreading activation theory of semantic processing. Psycholog.
Rm., 82:407-428.
Greenberg, B. E. & Betancourt, H. (1997), Can thoughts influence the immune system? Toward a causal
model for mind-body connections. Unpublished Master's Thesis. Loma Linda, CA: Loma Linda
University, Department of Psychology.
Loftus, E. F., Miller, D. G., & Bums, H. J. (1978), Semantic integration of verbal information into a
visual memory. J. Exper. Psychol.: Human Learning, 4:19-31.
Luria, A. R. (1979), The Making of Mind. Cambridge, MA: Harvard University Press.
Olds, J. & Milner, P. (1954), Positive reinforcement produced by electrical stimulation of septa1 areas
and other regions of rat brain. J. Compar. Physiolog. Psychol., 47:419-27.
Ornstein, R. E. (1972), The Psychology of Consciousness. San Francisco: Freeman.
Rescorla, R. A. & Wagner, A. R. (1972), A theory of Pavlovian conditioning: Variations in the
effectiveness of reinforcement and nomeinforcement. In: Classical Conditioning 2: Currenf
Research and Theory, ed. A. H. Black & W. F. Prokasy. New York: Appleton-Century-Crofts.
Solomon, R. L. (1980), The opponent-process theory of acquired motivation: The costs of pleasure and
the benefits of pain. Amer. Psychol., 35:691-712.

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  • 1. Mentes e Cérebros para Gestalt Terapeutas Todd Burley, Ph.D. A Gestalt terapia tem o privilégio de ter sido desenvolvida por indivíduos dispostos a assimilar e integrar as emocionantes informações e teorias que circulavam na psicologia em suas épocas. Uma possível acidental consequência tem sido a de que a Gestalt Terapia tem se envolvido em paralelo com muitas das grandes contribuições na revolução da psicologia experimental cognitivista e neuropsicológica. Como um resultado, a teoria da Gestalt tem fornecido um excelente enquadramento para a psicologia em geral e a psicologia experimental vem paulatinamente fornecendo validação para muitos conceitos da Gestalt terapia. Este artigo detalha algumas das importantes áreas de validação e a evolução da atual teoria da Gestalt. Até há pouco tempo, a psicologia foi um campo constituído por informações independentes que tiveram algumas claras implicações umas nas outras. Clínicos frequentemente reclamam sobre a irrelevância da psicologia experimental nos seus casos clínicos. Enquanto a fofoca viaja na velocidade da luz, notícias reais circulam lentamente; infelizmente, o mesmo acontece com a ciência. Nas duas últimas décadas houve uma explosão de informações clinicamente relevantes vindas de pesquisas psicológicas laboratoriais ao redor do mundo e, infelizmente, pouco disso está chegando aos melhores clínicos equipados para usar esta informação. Gestalt terapeutas tem tido mais do que um superficial interesse no corpo como um todo, na mente da pessoa, em sua relação com o resto do campo e estão assim em uma posição única para apreciar a importância do que vem acontecendo em laboratórios experimentais e para usar a informação clinicamente. Imagine, por exemplo, ser capaz de condicionar o sistema imunológico para manter a produção sem simulação de drogas ou ser capaz de manipular o sistema imunológico estabelecendo um estado mental e de humor, como foi recentemente demonstrado por Greenberg e Betancourt (1997). Em 1956 em um simpósio sobre a teoria da informação no MIT, psicólogos começaram a cogitar a ideia de que nós poderíamos realmente ver dentro da “caixa preta”. Desde o simpósio, cresceu a primeira hesitante tentativa de pesquisa com novas metodologias, não com muita certeza no começo, e, talvez mais guiada pela intuição do que por uma visão clara, mas desde então eles transformaram a psicologia, que rapidamente se tornou um tecido ininterrupto em que processo, dinâmica, aprendizagem, cognição, desenvolvimento, neurociência e suas relações com o maior campo são realmente parte de um grande todo. Eles tem claramente mudado a fundação da psicoterapia de uma era de “dogmatismos” a qual o Deus era a “intuição clínica” para uma base muito mais científica. De uma maneira muito real, esse movimento forneceu a realização da metodologia que Fritz e Laura Perls usaram, reunindo e integrando as ideias relevantes e úteis daquele tempo. De fato, foi desta maneira que eles e seus colegas, como Hefferline e Goodman, criaram a base teórica que, para a minha maneira de pensar, forneceu a melhor teoria geral disponível de psicologia, mas este é um assunto para outro artigo. Neste artigo, eu gostaria de delinear algumas das maiores inovações que eu acredito que deveria informar e guiar a presente prática de Gestalt terapia, porque é importante que ela não se torne um prisioneiro dos pensamentos do século XX, da mesma maneira a psicanálise se tornou prisioneira dos pensamentos do século XIX. Estrutura e Função Cerebral Vamos começar com o cérebro. Percorremos um longo caminho desde os dias em que a psicologia psicológica significava que nós sabíamos algo sobre os mecanismos de fome, sede e sexo. Infelizmente, nós vimos pouquíssimos pacientes vindo aos nossos consultórios reclamando de sede! O atual entendimento da neuropsicologia, contudo, é rico e prático. Imagine se você quiser que nós vamos pegar
  • 2. o seu cérebro. Agora está no seu colo assim como o jornal que você está lendo recentemente. A dobra central representa a linha de divisão entre os dois hemisférios, a parte inferior da página (a área mais próxima de você) representa os lobos occipitais ou as áreas visuais do cérebro; o meio da página perto da linha média representa o córtex somatossensorial (a área onde nós sentimos e representamos toque, dor, pressão, posição e movimento), enquanto as áreas externas do meio da página representam os lobos temporais ou auditivos; e a parte perto dos seus joelhos representa o lobo frontal ou as áreas responsáveis por criar intenções, planos e ação e verificar se você fez o que você pretendia fazer. Então agora nós temos um cérebro com as áreas que são responsáveis pela visão, informação somatossensorial, audição, assim como planejamento, intenção, verificação e ação. Cada uma das áreas do córtex mencionadas acima podem, por sua vez, serem dividida em três áreas, as vezes chamada de áreas de projeção (pense em tela de projeção) que têm mais ou menos funções paralelas independentemente do sentido ou do lobo. Estas áreas são para (a) receber informação dos órgãos sensoriais (b) analisar e armazenar informação relativa a um particular sentido e (c) integrar diferentes sentidos, como transformar informação visual em informação auditiva como você está fazendo agora enquanto lê isto. Nos lobos frontais a projeção é para fora ao invés de ser para dentro. Em outras palavras, os córtices visual, somatossensorial e auditivo são sistemas sensoriais ou de entrada, enquanto os lobos frontais são sistemas de saída divididos em (a) área de controle motor bruto (desorganizado), (b) controle motor e áreas de integração, e (c) áreas que executam as funções de presidir o cérebro pela pretensão, planejamento e verificação se algum realizou as intenções. Da mesma forma que duas pessoas têm funções corporais similares ou sistemas de órgãos, duas pessoas não tem funções cerebrais similares. Para alguns de nós é muito fácil pensar em termos de metáfora, enquanto para alguém com menor orientação auditiva, pode ser mais fácil pensar em termos de movimento, gesto e outros usos do espaço. Saber da força sensorial particular do seu cliente permite que você se comunique de uma maneira a intervir como terapeuta de um modo a abordar a experiência do seu cliente, quer seja espacial, auditivo ou talvez visual. Eu suspeito que quando paciente e terapeuta trabalham de um jeito incompatível, nós, como terapeutas, estamos propensos a ver o paciente como resistente ou lento, quando na verdade fomos nós terapeutas que não notamos o melhor jeito de se comunicar com aquela pessoa em particular. Eu uma vez fui chamado para uma consulta no tratamento de um jovem homem por dois dedicados psiquiatras analiticamente treinados que tinham conduzido quatro sessões por semana, por aproximadamente três anos, sem ter nenhum resultado observável. Uma avaliação neuropsicológica do paciente deixou claro que o seu lobo temporal esquerdo estava significativamente comprometido, juntamente com o as áreas parietais. Desnecessário dizer que uma terapia baseada de forma verbal, forte e dependente de metáforas e nuances de imagens verbais estavam muito perdidas para ele. A recomendação feita foi a de que aquela terapia devia ser reorientada em relação a modalidades mais espaciais que seriam mais sintonizadas com as forças somatossensoriais dele. Uma técnica que contaria muito mais com uma linguagem concreta básica com ênfase em expressão facial, gestos, uso de metáforas espaciais e escultura familiar. Pare um momento agora e olhe ao redor do cômodo em que você está e note onde os seus olhos repousam o olhar. Agora repare o que você “sente” enquanto você vê o que você esta olhando. Agora você entrou em contato com outra importante parte do seu cérebro, o sistema límbico. Voltando para o seu cérebro de jornal que foi citado anteriormente, o sistema límbico está localizado sob a linha entre os dois lados do jornal e se estende por baixo em direção à área que nós identificamos como lobos temporais. Lembre-se do antigo e frequentemente estudo citado de Olds e Milner (1954) e os centros de prazer que identificaram em cérebros de ratos. Bem, aqui estão eles, entendido um pouco melhor depois de anos de pesquisa. É com esta área do cérebro que os terapeutas estão falando quando eles perguntam “Como você se sente em relação a isso?” ou “Note como você está afetado com o que recém aconteceu”. Aqui é onde os sistemas de recompensas de excitação (entusiasmo), de positivismo (“eu gosto disso”) e negativismo (“nojento”) estão localizados. Quando nós estamos tentando ajudar nossos clientes a “entrar em contato com seus sentimentos”, estamos, na verdade, pedindo que eles notem o que podem ter deixado
  • 3. de perceber ou no que têm dificuldade de articular e compartilhar: suas reações ao que eles sentem, imaginam ou pensam. O “congelamento” cognitiva e afetivo que nós podemos ver em pacientes com distúrbio de estresse pós-traumático, quando são confrontados com duas alternativas bem desagradáveis (chamadas de esquiva de duas vias em termos laboratoriais), está relacionado com as funções do sistema límbico. Esta área do cérebro também desacelera o processo de habituação ou a taxa em que nós nos tornamos mais calmos e menos ansiosos ou vigilantes com certos estímulos. Nós estamos descrevendo aqui a aceleração e desaceleração do processo terapêutico e de dessensibilização responsáveis por uma quantidade de efeitos associados com o resultado da psicoterapia. Sono, excitação, agressão e raiva também são respostas que são facilitadas pelo sistema límbico. O cérebro então é como um computador que funciona com três principais sistemas operacionais ou de idiomas de uma só vez (informação somatossensorial, visual e auditiva) e vários outros secundários (paladar e olfato, por exemplo). Outra maneira de pensar nisso é o de três computadores diferentes entrelaçados trabalhando nos mesmos eventos a qualquer momento. Todos estes sentidos estão envolvidos de alguma maneira em todas as experiências. Eu visualizo este sistema de processamento de informação como o modelo mostrado na Figura 1, com a audição, visão e informação somatossensorial representadas ao longo de três diferentes dimensões. Praticamente qualquer processo cognitivo desde matemática até jurar ou evitar uma casca de banana pode ser feito por este maravilhoso sistema de processamento de informação humano. Há uma quarta dimensão que, contudo, poderia ser representada pelo brilho de qualquer ponto no espaço delineado pelas outras três dimensões e é o que nós vamos chamar de componente visceral ou afetivo, ou seja, o sentimento que temos pela matemática, juramento ou pela casca de banana, por exemplo. Portanto, como Karl Pribram disse por muitos anos, o funcionamento do cérebro é como um holograma. Em outras palavras, qualquer experiência ou processo não estão localizados em uma única e particular parte do cérebro; estão localizados e podem ser acessados ou “associados” em qualquer lugar do sistema que tenha sido afetado por isto. Não tem espaço e nem tempo para falar de todas as possíveis implicações para a psicoterapia aqui, embora algumas ficarão claras posteriormente, mas o que é enfatizado é uma importante mudança no pensamento sobre os clientes. Terapeutas frequentemente pensam e referem ao pensamento e o sentimento como coisas diferentes e funções separadas. A pesquisa dos últimos anos em neurociência deixa claro que este conceito é provavelmente muito antigo vindo das filosofias gregas e anteriormente cristãs que separavam mente e corpo e sentimentos e pensamento. Deveria estar claro que “cognição” e “sentimento” são de fato inseparáveis. Eles estão muito entrelaçados assim como os fios de uma corda. Contudo, indivíduos podem variar em sua habilidade em articular sua experiência, ou sua vontade de revelar que sua experiência é acessada. Pensamentos não ocorrem no cérebro sem sentimentos e sentimentos não ocorrem sem pensamentos. Isso muda a forma como nós vamos ajudar as pessoas a utilizar e acessar suas experiências e pode significar que nos aproximemos de indivíduos que vemos como “insensíveis” (uma ideia bizarra neurologicamente!), mas que, com uma posição mais respeitosa, eles possam experimentar: explorar, verdadeiramente, sua fenomenologia ao invés de dizer que eles não conseguem por serem insensíveis. Infelizmente, também há alguns mitos que foram ditos como verdades, não apenas na Gestalt terapia, mas nas profissões de saúde mental num geral. A ideia mais gritante é a de que o hemisfério esquerdo é linear (usualmente traduzido como menos valioso), enquanto o direito é criativo e artístico. É difícil localizar onde o erro se originou, mas agora é parte do saber de “senso comum”. Pode ser que tenha vindo de uma leitura pouco cuidadosa de Ornstein’s (1972) The Psychology of Consciousness (A Psicologia da consciência, livro não traduzido para o Português), em que o autor, enquanto relatava a literatura com precisão, talvez tenha feito algumas interpretações prematuras. É verdade que em níveis altos, tanto o hemisfério direito, quanto o esquerdo processam informação de forma diferente, mas essas diferenças mentem no fato que o hemisfério esquerdo é mais orientado em relação à informação auditiva, enquanto o hemisfério direito é orientado em relação à informação espacial baseada em dados somatossensoriais. O hemisfério esquerdo tende a assumir controle de tarefas “bem
  • 4. aprendidas”/automatizadas, enquanto o direito é mais orientado a analisar estímulos novos e não familiares. Assim, uma habilidade como a de leitura circula pelo cérebro dependendo da habilidade e nível que a pessoa tem nesta tarefa. Habilidade matemática altamente teórica tende a depender muito do hemisfério direito e criatividade, claro, depende do cérebro inteiro, dependendo se uma pessoa está escrevendo um poema ou esboçando uma paisagem. A Atual Teoria da Aprendizagem Você deve se lembrar bem da teoria da aprendizagem como algo tão chato que fez com que você pensasse em desistir da psicologia e que levou você a escolher o caminho do aconselhamento de casal e familiar, o mestrado em trabalho social ou psiquiatria como um modo de se tornar um psicoterapeuta. Em todo o caso, você não estava cem por cento interessado em começar uma prática resumida em ratos e outros pequenos roedores inseguros. A teoria da aprendizagem é uma área onde alguns velhos conceitos alcançaram nova relevância e que descobertas têm fortes implicações no jeito em que cada psicoterapia é conduzida. Vamos começar com um conceito bastante familiar: habituação. Habituação significa que, ao longo do tempo e ao longo de uma série de experiências similares, a força ao responder estímulos diminui. Esse conceito é de muitas formas, o santo padroeiro da terapia que não é particularmente dotado, bem treinado ou muito investido no processo, mas, apesar disso, não é prejudicial ou tóxico para o cliente. Revisando o mesmo material ou processo de forma repetida, inevitavelmente, em si mesmo, a terapia irá levar a mudança em um nível de emoção ou talvez ainda na qualidade da emoção provocada. Assim, a ansiedade é reduzida ao longo do tempo e devido à repetição de contato com alguma outra. Frequentemente, a redução da ansiedade permite que o cliente considere alternativas das quais não tinha consciência prévia. Provavelmente muitos dos efeitos positivos da psicoterapia não são causados especificamente pela abordagem ou técnica de habituação. Muitos terapeutas comportamentais usam habituação de maneira consciente e consequentemente podem ser mais eficaz quando for usada naquelas questões terapêuticas que se rendem mais prontamente à habituação. Em 1980, Solomon descreveu uma teoria da emoção que ele chamou de Teoria do Processo Oponente. De uma forma simplificada a teoria funciona assim: processo A é o responsável afetivo de um estímulo particular, como por exemplo, uma mágoa muito grande gerada por algo que alguém tenha nos dito. Então, o Processo A é resposta de um estímulo. Agora o Processo A que foi posto em ação elicia um processo que é uma resposta para a profunda mágoa que recém descrevemos. Este Processo B se opõe ao Processo A. Então, é um efeito oposto da dor recém sofrida. Conforme o tempo passa e a mágoa começa a se dispersar, eu começo a me sentir aliviado e bem, talvez até uma leve euforia. Agora algo interessante acontece. O Processo B fica fortalecido com o uso, enquanto o Processo A fica fraco. Por exemplo, se você está pulando de paraquedas, o Processo A seria medo e o Processo B seria euforia. Então, quanto mais você pula de paraquedas, mais rapidamente o medo se torna euforia e então pular de paraquedas vai se tornando mais divertido ao longo do tempo. Se você parar para pensar é complicado trabalhar o consumo de drogas com o mesmo paradigma como se faz com a paixão. Respostas de violência doméstica também são bons exemplos para serem descritos com este paradigma. Se os efeitos posteriores forem fortemente agradáveis e positivos, como a vítima pode estar determinada a deixar a situação, naquele momento, mesmo que esteja em um estado de alívio? Seria e aparentemente é que a vida real requer uma enorme quantidade de autodisciplina para partir após uma reconciliação. Infelizmente, terapeutas frequentemente falam às vítimas que não deixem o agressor lhes causar medo, mas tentam reforçar sua autoestima e senso de empoderamento em vez de focar no processo propriamente dito. Um importante aspecto da teoria da Gestalt terapia é o papel da consciência na aprendizagem, porque descreve o que nós observamos como terapeutas, ao saber que a tomada de consciência está associada à mudança. Nós também temos consciência de que as pessoas frequentemente passam um pouco indiferentes com o que acontece em boa parte de suas vidas. Em outras palavras, as situações mais
  • 5. difíceis da vida são frequentemente vividas de uma maneira um tanto desassociadas. Rescorla e Wagner (1972) descreveram este processo, primeiramente observado por Perls e por várias gerações de Gestalt terapeutas, com precisão matemática. Este não é o local para entrar nas complexidades da matemática, mas sim nos conceitos que são um poderoso reforço da noção que a Gestalt tem da qualidade de tomada de consciência e como isso se relaciona com o aprendizado e a mudança. Eles também podem ajudar a aperfeiçoar a habilidade com a qual nós aplicamos os conceitos na psicoterapia. Em termos formais, o modelo de Rescorla e Wagner diz que a aprendizagem acontece melhor quando estímulos incondicionados estão surpreendendo, diferentemente de expectativas. O que nós notamos depende, em grande medida, do que nós esperamos perceber. Então se algo acontece diferentemente do que estávamos esperando, tendemos a notar e aprender novos processos. De fato, o grau de surpresa parece estar associado com a quantidade da aprendizagem ou mudança que ocorreu. Isso não é uma surpresa para os terapeutas experientes, mas saber como isso ocorre pode nos ajudar a sermos mais eficazes em ajudar os nossos clientes a alcançar a tomada de consciência e a opção de mudança. Quando um terapeuta está trabalhando com um cliente, é importante fornecer um elemento de surpresa a fim de ajudá-lo a aprender uma maneira diferente de perceber e agir. Se você já observou o seu próprio trabalho ou o de outro terapeuta notado por sua habilidade em gerar mudança, você notou que ele tem um jeito de ressaltar ou trazer alguém à consciência. Perls em sua época e vários outros atuais terapeutas notados na nossa época exibiram o mesmo modo de atrair, poderosamente, a atenção através de suas respostas, metáforas, qualidades de contato, voltando os holofotes ao comportamento do cliente e vários outros métodos de criar surpresa. A teoria da aprendizagem explica uma dinâmica muito importante que faz com que vários pacientes se afastem de serem capazes de provocar mudança. Paradigmas que evitam a fuga de aprendizagem são tão estranhos que chegam ser quase assustadores, como uma replicação entre o comportamento do seu cliente com o resto do campo. Este paradigma funciona mais ou menos assim: um estímulo que em breve será uma situação muito desagradável. A pessoa se da conta em dado momento que se ela reagir de certa maneira à situação desagradável pode ser prevenida. Por exemplo, uma pessoa que cresceu em um lar onde discordar ou tomar uma posição sempre resultava em alguma situação dolorosa como um castigo, repreensão emocional, ser ignorado ou até mesmo um “tratamento de silêncio”, ela pode aprender que a melhor maneira de evitar tal situação é estabelecer uma relação confluente naquele momento. A confluência, para esta pessoa, tem como recompensa, justamente, evitar a dor e o desentendimento. Quando esta pessoa crescer e estiver com um novo cônjuge, ele ou ela pode não saber que aquela situação de discordar ou tomar posição de algo não vai desencadear uma situação dolorosa e ao invés disso, pode ser que crie uma situação positiva. Mudar é inimaginável, contudo, toda a vez que a pessoa reestabelece a confluência, ela é reforçada por ter evitado a situação dolorosa que esperava. Como dissemos antes, já que a mudança só ocorrerá se houver uma diferença entre a expectativa e o que nós observamos, nenhuma mudança ocorrerá. Perls era prudente em seu entendimento sobre essas situações, as quais ele chamava de “impasses”. No laboratório os únicos tratamentos que pareciam funcionar eram (a) forçar a pessoa a ficar na situação sem depender dos seus meios de suporte ou (b) fornecer conforto e segurança suficientes para que a pessoa possa experimentar com a conservação de seus gestos confluentes. Isso parece muito similar com a abordagem de Perls em pedir ou prevenir a pessoa de depender de seu estilo de enfrentamento habitual até que ela tenha a oportunidade de analisar a diferença entre suas expectativas e observações. Psicologia Cognitiva Muitos terapeutas não estão muito informados sobre as descobertas verdadeiramente importantes neste campo, o que de várias maneiras realizou o que Freud queria fazer com o seu trabalho e sonho, que ele intitulou de “Projeto para uma Psicologia Científica”. Curiosamente, Fritz e Laura Perls, com sua estranha habilidade de prever ideias promissoras de analistas (Jung, Reich), acadêmicos (Werthiemer, Kofka, Kholer e posteriormente Lewin) e filósofos (Smuts) da época, agora parece que eles estavam no caminho certo a respeito disso. Na verdade, de muitas maneiras, o trabalho de psicólogos cognitivos tem
  • 6. sido uma confirmação de muitas ideias e conceitos de Perls que foram baseadas nas suas explorações fenomenológicas menos rigorosas. Agora está claro que significado é feito por cada organismo individual tendo como base sua parte biológica e sua interação com o campo. Sensação não é um parecer do mundo real; é impactado pelo mundo real e o que recebemos são sensações criadas. De certa forma, as sensações ficam entre nossas experiências e o mundo real. Por causa dos estudos cruciais em detecção de sinal durante e depois da Segunda Guerra Mundial, nós temos conhecimento de estados internos como ansiedade, as expectativas ou o que uma pessoa foi conduzida a esperar, e de fato as recompensas por perceber de certas maneiras desempenham um papel importante em nossa percepção. Observações cuidadosas de processos de grandes grupos, assim como individuais, confirmam este entendimento. Nós tendemos a perceber o que nós estamos predispostos a perceber. Provavelmente uma das informações mais chocantes que emergiu da “revolução cognitiva” na pesquisa psicológica é sobre quão distante da realidade as nossas memórias podem estar e frequentemente de fato estão. Por exemplo, muito da visão real, audição e da memória tátil dura apenas aproximadamente um quarto de segundo ou, no exterior, 4 segundos. Depois disso, nós dependemos da abstração do que observamos e da reconstrução dos eventos baseados na abstração. Passado é a ideia de que nós simplesmente temos que acessar uma memória que foi armazenada. Tem de ser reconstruído baseado em um conjunto de abstrações! Por isso, não é de se admirar que nós raramente nos lembramos de coisas da mesma forma que os outros lembram. Nós não apenas sentimos e percebemos de forma diferente, mas nós reconstruímos um evento baseado em diferentes abstrações. Adiciona-se a isso os efeitos da atenção. Por causa da habilidade limitada do cérebro de processar informação nós tendemos a prestar atenção e armazenar coisas que parecem ser importantes para nós e não armazenar coisas que não parecem ser importantes. Infelizmente, o que pode ser importante para mim pode não ser importante para você. Quando nós falamos sobre memória, estamos falando sobre, em grande parte, o que os Gestalt terapeutas chamam de fundo (que consiste em memória, fantasia, projeções do futuro, muitas percepções e outros materiais que estão disponíveis a consciência, mas que não estão na figura atual). (Eu deveria dizer entre parênteses que eu estou bem ciente de que há algumas teorias da Gestalt que vêm figura e fundo como algo que está localizado fora da pessoa, e de fato, a aprendizagem e percepção dos teóricos originais da Gestalt brincaram com estes conceitos por um bom tempo. Contudo, o trabalho de Luria [1979], Vigotsky e muitos outros botaram essas noções para descansar por muitas décadas, mostrando bem conclusivamente que o que parecia ser figura neste campo era, na verdade, um produto da fenomenologia e da história individual. Talvez seja por esta razão e pela falta de familiaridade com a história da psicologia experimental que há alguns que ainda erroneamente vêm Wertheimer, Kofka, Kohler e outros como teóricos de campo, quando na verdade eles são teóricos da aprendizagem e da percepção. Lewin, por óbvio, passou a desenvolver uma teoria de campo própria.). Mas voltando para o nosso tópico, memória é parte do que, pelo menos, a grande maioria dos Gestalt terapeutas consideraria fundo. Tulving (1985) surgiu com um jeito de descrever vários tipos de experiência e memória que são extremamente úteis para os terapeutas. Ele identificou três tipos de memória. A primeira ele chamou de memória episódica, que é composta por experiências pessoais. Ao mesmo tempo em que está claro que essa é muito importante para a terapia, também é muito tentador passar tempo e esforço excessivo aqui se o contar e recontar histórias faria o todo que é exigido da terapia. Uma segunda classe do conhecimento é chamada de memória semântica. Essa é a representação do conhecimento; descrição com palavras pode ser um bom exemplo. Mas Gestalt terapeutas reconheceriam imediatamente a importância superordenada da terceira classe de memória proposta por Tulving, memória procedural, ou a memória de como as coisas são feitas. Gestalt terapeutas deverão chamar isto de memória processual. Uma ilustração simples mostrará a diferença entre trabalhar com a memória procedural ou processual e trabalhar com a memória semântica ou episódica. Eu uma vez tive uma cliente que não ia embora do meu consultório no fim da sessão. Alguns terapeutas me criticariam se eu tratasse disso assumindo ou talvez até interpretando como “medo do abandono”. Eu poderia voltar nos episódios da vida dela onde ela foi abandonada e trazer algum sentido ou entendimento para seu
  • 7. sentimento nesta situação. Qualquer analista competente provavelmente faria isso e da mesma forma Gestalt terapeutas deveriam fazer; pelo menos esta é a sabedoria conveniente do momento. Eu também poderia ver isto como um déficit em habilidades sociais, certamente uma abordagem legitimada na terapia mundial de hoje. Mas agora olhe para isto a partir da perspectiva da memória procedural e note como isso parece muito mais algo que um Gestalt terapeuta faria. Desta perspectiva, eu posso olhar para isso de forma a ver ela “fazendo” ou “sendo” nos termos fenomenológicos, existenciais e neurocientíficos. Ela aparentemente não sabe como deixar algo inacabado e instável. Ela pode contar sobre o que ela experiencia ou associa livremente em sua memória episódica, mas o trabalho importante aqui será em como ela reage e está nesta situação, que por sua vez ajudará a criar alguma memória procedural. A maioria das terapias são sobre a memória procedural, a qual é abordada pelas memórias semântica e episódica. A pergunta importe é: esse é o caminho mais direto? Para tornar as coisas mais difíceis no que diz respeito à memória em geral, há boas evidências de que pessoas incorporam situações em memórias reconstituídas que podem não terem sido originadas na própria pessoa. Como Loftus (e.g.,Loftus et AL., 1978) mostrou em vários estudos, uma simples pergunta sobre a memória de alguém a respeito de um evento – na qual uma nova variável é introduzida a própria pergunta – frequentemente faz com que a pessoa incorpore a sua memória os detalhes presentes na pergunta. Mesmo com o fato de o Gestalt terapeuta assumir que a memória que foi contada a ele pelo cliente é verdadeira, pode não refletir no que realmente aconteceu, foi sábio de fato. Uma última confirmação. O Modelo de Ativação de Propagação, de Collins e Loftus (1975), de como um estímulo ou ideia particular organizam no cérebro conceitos relacionados e os estudos com técnicas de neuroimagem parecem suspeitos, assim como as conceituações da Gestalt sobre figura e fundo e a maneira com que eles se relacionam entre si. Ambas as abordagens confirmam a noção de que a figura organiza o fundo, enquanto o fundo organizado dá significado ao que é figural. Conclusão É, com certeza, reconfortante encontrar uma complementaridade tão próxima entre a teoria da Gestalt terapia com atual pesquisa experimental na psicologia. Talvez isso explica, em partes, o senso intuitivo que muitos de nós temos tido quando comparamos métodos de psicoterapia que a Gestalt terapia tem, a qual é uma abordagem de processo complexa que parece encaixar em dados clínicos que nós vemos muito mais de perto do que outros modelos. Pode ser a hora de pensar em devolver o favor àquela teoria da Gestalt, que diz que há uma relação íntima com o campo, organismo e campo fenomenológico, e pode de fato ter alguma força organizadora e explicativa na psicologia experimental em geral. Referências Collins, A. M., & Loftus, E. F. (1975), A spreading activation theory of semantic processing. Psycholog. Rm., 82:407-428. Greenberg, B. E. & Betancourt, H. (1997), Can thoughts influence the immune system? Toward a causal model for mind-body connections. Unpublished Master's Thesis. Loma Linda, CA: Loma Linda University, Department of Psychology. Loftus, E. F., Miller, D. G., & Bums, H. J. (1978), Semantic integration of verbal information into a visual memory. J. Exper. Psychol.: Human Learning, 4:19-31.
  • 8. Luria, A. R. (1979), The Making of Mind. Cambridge, MA: Harvard University Press. Olds, J. & Milner, P. (1954), Positive reinforcement produced by electrical stimulation of septa1 areas and other regions of rat brain. J. Compar. Physiolog. Psychol., 47:419-27. Ornstein, R. E. (1972), The Psychology of Consciousness. San Francisco: Freeman. Rescorla, R. A. & Wagner, A. R. (1972), A theory of Pavlovian conditioning: Variations in the effectiveness of reinforcement and nomeinforcement. In: Classical Conditioning 2: Currenf Research and Theory, ed. A. H. Black & W. F. Prokasy. New York: Appleton-Century-Crofts. Solomon, R. L. (1980), The opponent-process theory of acquired motivation: The costs of pleasure and the benefits of pain. Amer. Psychol., 35:691-712.